aÇores - estudo sobre as necessidades de medicina hiperbÁrica

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UNIVERSITAT DE BARCELONA FACULTAT DE MEDICINA AÇORES ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA HIPERBÁRICA Luís Mendes Cabral MASTER EN MEDICINA SUBAQUÀTICA I HIPERBÀRICA 2005

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Page 1: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

UNIVERSITAT DE BARCELONA

FACULTAT DE MEDICINA

AÇORES

ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA HIPERBÁRICA

Luís Mendes Cabral

MASTER EN MEDICINA SUBAQUÀTICA I HIPERBÀRICA

2005

Page 2: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

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Resumo: Este trabalho pretendeu estudar as realidades que servem de base à

medicina subaquática e hiperbárica no Arquipélago dos Açores. Decidiu-se caracterizar o

número de mergulhadores, o tipo de mergulhos, os dados relativos à actuação em situações

de emergência, bem como o estudo das patologias referenciáveis para oxigenoterapia

hiperbárica. Para tal, promoveu-se um inquérito às entidades que promovem o mergulho nos

Açores, analisou-se as especificidades do Arquipélago em matéria de assistência aos

acidentes disbáricos, bem como o número de doentes referenciáveis para tratamento

hiperbárico. Efectuou-se um levantamento do enquadramento jurídico nacional e

internacional do mergulho e da medicina hiperbárica. Os dados permitiram elaborar um

plano regional para a medicina subaquática e hiperbárica e tecer considerações sobre a sua

implementação.

Palavras chave: Medicina Subaquática e Hiperbárica; Açores; Mergulho; Câmara

hiperbárica; Oxigenoterapia hiperbárica; OHB

Abstract: The intention of this work was to study, in the region of the Azores, the

realities on which sub aquatic and hyperbaric medicine is based. It was decided to do a

survey of the number of divers, the typology of the dives, data concerning performance in

emergency situations, as well as a study of pathologies referential to hyperbaric oxygen

therapy. To achieve that end, a questionnaire was sent to entities that promote the diving in

the Azores. The specificities of the Archipelago, regarding assistance in the case of dysbaric

accidents, as well as the number of patients referential to hyperbaric treatment, was analyzed

through direct research. A survey was carried out regarding the national and international

guidelines for diving and hyperbaric medicine. A regional plan for sub aquatic and

hyperbaric medicine was elaborated from the data obtained along with considerations for its

implementation.

Keywords: Diving and Hyperbaric medicine; Azores; Dive; Hyperbaric chamber;

Hyperbaric oxygen; OHB

Page 3: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

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Resumen: Este trabajo pretendió estudiar las realidades que sirven de base a la

Medicina Subacuatica e Hiperbárica, en el archipiélago de las Azores. Se a decidido

caracterizar el número de buceadores, las características de las inmersiones, los datos

relativos a la actuación en situaciones de urgencia, así como el estudio de las patologías

referenciales para oxigenoterapia hiperbárica. Para ello, se promovió una encuesta a las

entidades relacionadas con el buceo en las Azores, se analizo las características especificas

del archipiélago en materia de asistencia a los accidentes disbáricos, así como el número de

pacientes con indicación de tratamiento hiperbárico. Se efectuó una exploración de los

protocolos jurídicos nacionales e internacionales del buceo y de la medicina hiperbárica. Los

datos permitirán elaborar un plan regional para la medicina subacuática e hiperbárica y hacer

consideraciones sobre su implementación.

Palabras clave: Medicina Subacuatica e Hiperbárica; Azores; Buceo; cámara

hiperbárica; oxigenoterapia hiperbárica; OHB

Page 4: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

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O autor gostaria de agradecer ao seus pais e à

Direcção do Hospital do Divino Espírito Santo

todo o apoio, durante a realização deste estudo.

Page 5: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

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Índice....................................................................................................................................................INTRODUÇÃO ! 6

D ...........................................................................................................................................EFINIÇÃO DO TEMA! 6D .....................................................................................................................................................ELIMITAÇÃO! 6L ...............................................................................................................OCALIZAÇÃO NO TEMPO E NO ESPAÇO! 7J ................................................................................................................................USTIFICAÇÃO DA ESCOLHA! 7O ........................................................................................................................................BJECTIVOS A ATINGIR ! 8D .......................................................................................................................................EFINIÇÃO DE TERMOS! 8INDICAÇÃO DA M .........................................................................................................................ETODOLOGIA! 11

.....................................................................................................................................DESENVOLVIMENTO ! 12

R ..................................................................................................................................EVISÃO DA LITERATURA! 12....................................................................................................................................................Geografia! 12

...................................................................................................................................Mergulho nos Açores! 15..........................................................................................................................Sistema Regional de Saúde! 16

..............................................................................................................Câmaras hiperbáricas nos Açores ! 16......................................................................................................................................................Hospital da Horta ! 16

.................................................................................................................................Clube Naval de Ponta Delgada ! 17.............................................................................................................................................................Fotiy Krylov ! 18

...................................................................................................................................................Legislação ! 20.....................................................................................................................................................Mergulho amador ! 20

..............................................................................................................................................Mergulho Profissional ! 22.................................................................................................................................................Legislação Europeia ! 22

..............................................................................................Actuação em situação de acidente disbárico ! 25..............................................................................Oxigenoterapia Hiperbárica como tratamento médico ! 27

.........................................................................................................................................O futuro da OHB! 30A ...................................................................................................................................PLICAÇÃO DO MÉTODO! 32

.................................................................................................Questionário aos promotores de mergulho! 32....................................................................................................................Definição do conteúdo do questionário ! 32

.............................................................................................................................................Amostra e Amostragem! 41..........................................................................................................................Escolha da metodologia de recolha ! 41

...................................................................................................................................................Trabalho de campo ! 41..........................................................................................................................Registo Informático da Informação ! 42

................................................................................................................Carta à Força aérea Portuguesa! 42...............................................................................................................Cartas às transportadoras aéreas ! 42

..................................................................................................................Cartas aos Hospitais Regionais ! 42C ........................................................................................................................ONSTRUÇÃO DE ARGUMENTOS! 43A ............................................................................................................PRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS! 44

..................................................................................Número de entidades relacionadas com o mergulho! 44..........................................................................................................................Número de mergulhadores! 45

..................................................................................................................................Número de mergulhos! 46.........................................................................................................................................Tipo de mergulho! 48

....................................................................................................................................Cursos de mergulho ! 48..............................................................................................................................Segurança no mergulho ! 49

...........................................................................................................Descrição dos acidentes decorridos ! 49...........................................................................................................Transferência de doentes inter-ilhas ! 49

..............................................................................Transferência de doentes para o continente Português! 52..............................................................................................................Doentes referenciáveis para OHB ! 52

........................................................................................................Hospital do Divino Espírito Santo (S. Miguel)! 52.......................................................................................................................Hospital do Santo Espírito (Terceira) ! 54

..........................................................................................................................................Hospital da Horta (Faial)! 55.......................................................................................................Apresentação dos custos de instalação ! 55

I ............................................................................................................................NTERPRETAÇÃO DOS DADOS! 55

...................................................................................................................................................CONCLUSÕES ! 58

..............................................................................................................................................................ANEXOS ! 64

................................................................................................................................................BIBLIOGRAFIA! 99

Page 6: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

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1 Introdução1.1 Definição do tema

Apesar de existirem registos com milhares de anos sobre a exploração do meio

subaquático, através do mergulho em apneia, não é senão em meados do século XIV que se

iniciam as tentativas de explorar os oceanos através de artefactos que permitiam “levar ar”

ao fundo dos mares. Durante quatro séculos foram-se desenvolvendo as técnicas e os

artefactos foram evoluindo, principalmente em meio militar, mas foi apenas em 1946 através

de Jacques-Yves Cousteau e Emile Gagnan, que se iníciou a comercialização dos “Self

Contained Underwater Breathing Apparatus”, popularizando a actividade desportiva do

mergulho. Com o desenvolvimento industrial no século XIX, surgiram as construções

subaquáticas em meio pressurizado. Foram nessas construções que começaram a surgir os

problemas relacionados com a descompressão dos trabalhadores, iniciando-se o estudo da

patologia hiperbárica. Paul Bert, no final do século XIX, efectuou vários estudos sobre o

oxigénio em meio hiperbárico e abriu as portas à medicina hiperbárica, que se foi

desenvolvendo durante o século XX. A medicina subaquática e hiperbárica é uma

especialização médica que se dedica ao estudo da actividade humana em meio aquático e

concomitantemente, por afinidade, em ambientes com pressão superior à pressão

atmosférica.

1.2 Delimitação

Os campos de investigação, em ambas as áreas, estão a abrir novas perspectivas de

estudo e a medicina hiperbárica está a consolidar-se como um tratamento cientificamente

validado em várias patologias médicas. As câmaras hiperbáricas deixaram de ser apenas para

o tratamento das enfermidades disbáricas, decorrentes da prática do mergulho, passando os

acidentes de mergulho a ser a patologia rara em diversos centro de medicina hiperbárica no

mundo. Esta mudança foi também fruto da crescente preocupação com o financiamento da

saúde, percebendo-se logo à partida que a manutenção da medicina subaquática e

consequentemente das chamadas “câmaras de descompressão”, não seria viável sem uma

utilização regular do equipamento de forma a garantir a sua funcionalidade e manutenção.

Assim, percebeu-se que os centro de medicina subaquática e hiperbárica tinham que se

Page 7: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

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centrar principalmente na componente de medicina hiperbárica, para manter a estrutura

funcionante aquando da necessidade do tratamento de uma patologia disbárica.

1.3 Localização no tempo e no espaço

A Região Autónoma dos Açores atravessa uma fase de desenvolvimento sócio-

económico marcado, sustentado na promoção do turismo relacionado com a beleza natural

das ilhas. As paisagens subaquáticas do Arquipélago também estão incluídas nesta

promoção, começando-se a notar já, os efeitos quantitativos dessa aposta.

De forma paralela, devido ao progressivo envelhecimento populacional, existe um

aumento anual da incidência das patologias que beneficiam da medicina hiperbárica, facto a

que os Açores também estão sujeitos.

Por se pretender que o trabalho seja um documento base para se discutir o presente e

planear o futuro, limitou-se o estudo a uma curta retrospectiva da actividade do mergulho

nos Açores, focando principalmente o ocorrido no último ano.

1.4 Justificação da escolha

Foi com objectivo de contribuir para o desenvolvimento seguro das actividades

subaquáticas nos Açores e incrementar a divulgação da medicina hiperbárica em Portugal,

que se decidiu investir na formação pessoal em Medicina Subaquática e Hiperbárica. Assim

sendo, o trabalho final só poderia ser sobre um tema que tivesse directamente relacionado

com o Arquipélago e a sua realidade ao nível do mergulho.

Com um vasto campo de investigação praticamente inexplorado, não existiam no

entanto dados fiáveis sobre a realidade do mergulho nos Açores. Desta forma resolveu-se

começar exactamente pela base e efectuar um levantamento exaustivo da situação actual.

Começar pelo mais básico poderia parecer, numa primeira avaliação, algo limitado e de

pouca importância, mas como é impossível analisar ou projectar sobre uma questão

específica, como é o mergulho e a sua segurança, sem ter as bases e uma noção concreta

sobre a realidade em que estamos a trabalhar, foi decidido iniciar este estudo.

A medicina subaquática é uma especialização médica emergente nos países que

apostam no mergulho não apenas como actividade de lazer, mas essencialmente como

actividade geradora de um fluxo turístico específico. A Região Autónoma do Açores, como

destino de mergulho turístico e científico por excelência necessita do desenvolvimento desta

Page 8: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

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especialização médica de forma a garantir a expansão e o acompanhamento logístico desta

actividade.

Além da importante vertente da medicina subaquática a medicina hiperbárica faz

todo o sentido num Hospital em que se pretende praticar uma medicina diferenciada,

científica e moderna tendo em conta a relação custo/benefício. Mais que uma tecnologia do

passado que procurava solucionar miraculosamente os problemas para os quais a medicina

não tinha resposta, a OHB afirma-se hoje em dia, como um complemento moderno dos

tratamentos hospitalares fundamentada em modelos fisiológicos concretos e minuciosamente

explicados. Numa época em que a rentabilidade dos hospitais é uma preocupação crescente e

em que os custos dos tratamentos, cada vez mais especializados, são cada vez maiores é

lógico que se invista numa tecnologia simples, com resultados concretos e que permite

reduzir os encargos financeiros dos tratamentos, internamento e prestação de cuidados

continuados sem aumentar o risco de iatrogenia.

O título “Açores – estudo sobre as necessidades de Medicina Hiperbárica” surge

assim como o único título possível, não só por razões de ligação afectiva às ilhas, mas como

necessidade técnica premente nesta fase do desenvolvimento turístico do Arquipélago.

1.5 Objectivos a atingir

Foi um objectivo deste trabalho reunir os dados actuais da actividade no arquipélago,

fazendo o levantamento possível da realidade em cada ilha, de forma a elaborar um plano

das infra-estruturas necessárias para um correcto acompanhamento dos mergulhadores e dos

doentes com necessidade de tratamento com oxigenoterapia hiperbárica. Justificar a

implementação de uma rede regional de medicina subaquática e hiperbárica, só era possível

se se fizesse acompanhar de dados concretos. Dessa necessidade nasceu este trabalho.

1.6 Definição de termos

De forma a harmonizar o entendimento sobre este trabalho, principalmente por se

tratar de uma matéria com alto um grau de especificação, é necessário explicar o conceito de

alguns termos:

Atmosfera designa a camada de ar que envolve a terra, desde o nível do mar até ao

espaço. É também uma unidade de medida; “uma atmosfera é a pressão da atmosfera

terrestre ao nível do mar, aproximadamente 760 mmHg. A abreviação é atm.

Page 9: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

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Pressão atmosférica define a pressão do meio circundante a uma determinada

altitude numa determinada localização.

Acidente de mergulho é o termo utilizado para explicar qualquer patologia ou

traumatismo resultante da actividade do mergulho. Podem ser patologias disbáricas ou não

disbáricas.

Doenças disbáricas são o conjunto das patologias relacionadas com o efeito das

alterações de pressão no organismo. Ex: Doença descompressiva.

Doenças não disbáricas são o conjunto das patologias não condicionadas pelo efeito

das alterações de pressão no organismo. Ex: Lesões por animais aquáticos.

Barotraumatismo é o acidente de mergulho disbárico dependente das alterações do

volume do gás. Ex: barotraumatismo do ouvido.

Doença descompressiva é o termo usado para descrever os acidentes de mergulho

dependentes da dissolução dos gases. Gases presentes na atmosfera, como o nitrogénio

(78%) são absorvidos pelo sangue e tecidos durante o decurso do mergulho. O seu nível de

saturação depende do tipo de tecido e da profundidade do mergulho. A eliminação desses

gases é feita de forma lenta e conforme as características de cada tecido. Através de

patamares de descompressão, em que se dá tempo aos tecidos mais lentos de se libertarem

do gás acumulado, evita-se a sua saída de forma demasiado rápida, com formação de bolhas

nos tecidos ou sangue, no fenómeno muitas vezes descrito como “a abertura da garrafa de

champanhe”. Ex: “Bends”.

“Bends” Caracteriza uma forma de doença de descompressão com sintomatologia

principalmente articular. Dores e impotência funcional de uma ou várias articulações, após a

permanência em ambiente pressurizado são típicas.

SCUBA são as siglas de “Self Contained Underwater Breathing Apparatus”, ou

aparelho autónomo de respiração subaquática.

Oxigenoterapia hiperbárica (OHB) é um método usado para tratar patologias

médicas usando pressão mais alta que a pressão atmosférica local dentro de uma câmara

hiperbárica, respirando oxigénio a uma pressão mais alta que a pressão atmosférica local.

Pressão da sessão, pressão parcial do oxigénio e duração da sessão devem ser reguladas

segundo as mais recentes indicações.

Page 10: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

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Câmara de terapia hiperbárica é um espaço fechado, pressurizado, capaz de

acomodar uma ou mais pessoas, mantendo condições de habitabilidade, com o propósito de

proporcionar tratamento médico. Existem dois tipos de câmaras terapêuticas:

• Câmaras “multiplace” têm dois ou mais compartimentos e permitem o acesso

do pessoal técnico, pacientes e equipamento enquanto mantêm pressão no

compartimento principal. Devem proporcionar acomodação para duas ou

mais pessoas, incluindo o assistente.

• Câmaras “monoplace” são espaços fechados de compartimento único

desenhados para um único paciente. Não permitem o acesso directo ao

paciente durante o tratamento.

Sistema hiperbárico consiste na(s) câmara(s) hiperbárica(s) incluindo todo o

equipamento de suporte (fornecimento de gás e energia, etc.).

Unidade hiperbárica consiste no sistema hiperbárico enquadrado num espaço

próprio dentro de um edifício, com o respectivo pessoal (técnico e médico) com uma

organização administrativa. Podem existir dois tipos de unidades hiperbáricas, as

enquadradas num hospital ou as criadas em edifício próprio com funcionamento

independente. De qualquer forma em qualquer unidade hiperbárica deve existir uma área

dedicada e equipada para assistir a situações médicas de emergência.

Centro de medicina hiperbárica é uma unidade hiperbárica que executa OHB,

tratamentos adicionais, acompanhamento e vigilância das condições médicas dos pacientes.

Um centro de medicina hiperbárica tem que estar fisicamente localizado ou funcionalmente

ligado a um hospital. Os centros devem ser categorizados segundo a sua capacidade de tratar

pacientes que requerem cuidados intensivos.

Sessão hiperbárica é um período de elevação da pressão acima da pressão ambiental

atmosférica, dentro de uma câmara hiperbárica terapêutica, com o propósito de tratar um

paciente. Inclui os tratamentos quando respirando oxigénio, ar ou misturas de gases.

Tratamento hiperbárico consiste no total (uma ou mais) de sessões hiperbáricas,

conforme prescrito.

Paciente é qualquer pessoa que padeça de uma condição médica e que ocupe um

lugar na câmara hiperbárica, durante o tratamento hiperbárico, com o propósito de alterar o

curso natural da sua enfermidade. Esta definição inclui pessoas que recebem tratamento

Page 11: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

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hiperbárico profilático e aquelas que são “sujeitos controle” em ensaios clínicos para

oxigenoterapia hiperbárica.

Director médico é o médico nomeado, responsável por todas as funções

desenvolvidas no centro hiperbárico.

Médico hiperbarista é o responsável pela actividade clínica relacionada com os

tratamentos hiperbáricos.

Enfermeiro hiperbarista é o responsável pela implementação prática dos cuidados

durante o tratamento hiperbárico.

Supervisor é o responsável por toda a segurança durante a sessão hiperbárica.

Assistente é o responsável, na medida das suas qualificações, pelos cuidados directos

com o paciente dentro das câmaras “multiplace” no decorrer das sessões.

Operador de câmara é responsável pela operação segura da câmara de acordo com

procedimentos de operação.

Técnico de manutenção é o responsável pela manutenção e reparação do

equipamento de acordo com as normas em vigor.

1.7 Indicação da Metodologia

Para um conhecimento global do estado actual da realidade do mergulho nos Açores

escolheu-se, para a elaboração deste trabalho, o contacto directo com as entidades que

pudessem estar ligadas, de alguma forma, com a actividade ou que, pudessem conter dados

que influenciassem qualquer decisão que fosse tomada na área. Operadores turísticos de

mergulho, empresas de mergulho profissional, Direcção Regional do Turismo, os três

Hospitais da Região, a Força Aérea Portuguesa (responsável pela evacuação de doentes

inter-ilhas) e as companhias aéreas, responsáveis pelo transporte de doentes para o

continente Português, foram as entidades contactadas. A cada uma foi pedido que

contribuíssem, nas suas respectivas áreas, fornecendo as informações necessárias sobre o

mergulho recreativo ou profissional, a transferência dos acidentados do mergulho e a

quantificação dos doentes referenciáveis para a oxigenoterapia hiperbárica.

Page 12: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

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2 Desenvolvimento2.1 Revisão da literatura

2.1.1 GeografiaSituado em pleno Oceano Atlântico, a cerca de duas horas de voo de Lisboa (cerca de

1.641 km ou 886 milhas náuticas) e cinco horas de voo da costa oriental Norte Americana

(cerca de 3.900 km), os Açores desenvolvem-se no paralelo de Lisboa (39º Oeste) com as

latitudes de 39º43’/36º55’ N.

As nove ilhas têm uma superfície total de 2325 Km2 e uma Zona Económica

Exclusiva de 984300 km2. As suas áreas variam entre os 745 km2 (ilha de São Miguel) e 17

km2 (ilha do Corvo).

O cone vulcânico do Pico na ilha do mesmo nome, que atinge os 2351 m, é a maior

altitude dos Açores e de Portugal. A população da Região é de 241.763 habitantes (censo de

2001).

Localizado numa área anticiclónica, banhado por um ramo quente da Corrente do

Golfo, o arquipélago tem um clima temperado marítimo, sem grandes oscilações da

Figura 2.1 - Mapa das ilhas dos Açores

Page 13: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

13

temperatura média anual e mantém a temperatura da água do mar muito agradável durante

todo o ano, o que proporciona aos adeptos das actividades ligadas ao mar a possibilidade de

as praticarem tanto no Verão como no Inverno. Integrado desde sempre em Portugal, o

arquipélago dos Açores é uma Região Autónoma, com Assembleia legislativa e Governo

próprios.

As nove ilhas do arquipélago estão divididas em três Grupos: O Grupo Oriental

formado por São Miguel e Santa Maria, o Grupo Central formado pelas ilhas Terceira,

Graciosa, São Jorge, Pico e Faial, e o Grupo Ocidental formado pelas ilhas das Flores e

Corvo.

São Miguel, a maior ilha do arquipélago dos Açores, tem uma superfície de 744,6

Km2, com 65 km de comprimento e 16 km de largura máxima. A ilha é composta por dois

maciços vulcânicos separados por uma cordilheira central de baixa altitude. O ponto mais

alto, Pico da Vara, com 1080m, situa-se no maciço oriental. As grandes crateras das Sete

Cidades, Fogo e Furnas apresentam maravilhosas lagoas de águas cristalinas. Está situada a

25º 30’ de longitude oeste e 37º 50’ latitude norte.

Recortada por baías profundas, a ilha de Santa Maria tem 96,9 Km2 de superfície,

com 17 km de comprimento e 9,5 km de largura máxima. A um planalto de baixa altitude

segue-se uma área acidentada que tem no Pico Alto, com 590 m., a maior altitude. Está

situada a 28º 08’ de longitude oeste e a 37º 43’ de latitude norte.

Ilha Área (km2) Área (milhas2) PopulaçãoSão Miguel 745 293 131.609Santa Maria 97 37 5.578Terceira 400 148 55.833Graciosa 61 24 4.780São Jorge 244 95 9.674Pico 445 173 14.806Faial 173 67 15.063Flores 141 55 3.995Corvo 17 7 425TOTAL 2325 899 241.763

Tabela 2.1 - Área e população dos Açores (Censos 2001)

Page 14: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

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De forma elíptica, a Terceira tem uma superfície de 400,3 Km2, com 29 km de

comprimento e 17,5 km de largura máxima. Um planalto com a saliência suave da serra do

Cume, domina a extremidade ocidental. A zona central é marcada pela grande e baixa cratera

da caldeira de Guilherme Moniz e por númerosas crateras com pequenas lagoas, enquanto a

leste se ergue um cone vulcânico com ampla caldeira, a serra de Santa Bárbara, com a

altitude máxima da ilha, 1023 m. Está situada a 27º 10’ de longitude oeste e a 38º 40’ de

latitude norte.

De forma oval, a Graciosa tem 60,7 Km2 de superfície, com 12,5 km de

comprimento e 8,5 km de largura máxima. Pouco montanhosa, plana e baixa na área norte e

nordeste, eleva-se lentamente até à altitude de 398 m no Pico Timão, localizado no centro.

Está situada a 28º 05’ de longitude oeste e a 39º 05’ de latitude norte.

Ilha alongada que com 56 km de comprimento apenas 8 km de largura máxima, São

Jorge tem uma área de 243,7 Km2. Criada por sucessivas erupções vulcânicas em linha

recta, de que restam crateras, a sua plataforma ventral tem a altitude média de 700 m, com o

ponto mais elevado a 1067m. A costa, escarpada e quase vertical, sobretudo a norte, é

interrompida por pequenas superfícies planas costeiras – as fajãs. Está situada a 28º 33’ de

longitude oeste e a 38º 24’ de latitude norte.

Desenvolvendo-se em torno do vulcão, com 2351 metros de altitude, que lhe dá o

nome, a ilha do Pico tem uma forma oblonga – 42 km de comprimento e 15,2 de largura – a

Figura 2.1- Mapa das Ilhas dos Açores

Tabela 2.2 - Distância entre as ilhas dos Açores

Milhas náuticas (1 Milha = 1,852 metros)Santa Maria - Vila do Porto

57 S. Miguel - Ponta Delgada145 90 Terceira - Angra do Heroísmo191 142 48 Graciosa - Santa Cruz184 132 48 38 S. Jorge - Velas180 140 52 42 9 Pico - S. Roque190 152 65 45 18 12 Pico - Madalena195 154 70 46 20 16 4 Faial - Horta327 279 190 150 144 144 135 138 Flores - Sta. Cruz336 283 192 150 149 149 140 144 13 Corvo

Page 15: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

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superfície total de 444,8 Km2. Um planalto com cones vulcânicos secundários termina junto

do mar em altas falésias enquanto a área mais baixa, a oeste, tem declives moderados. Está

situada a 28º 20’ de longitude oeste e a 38º 30’ de latitude norte.

Com a forma de um pentágono irregular e a área de 173,1 Km2, a ilha do Faial tem

21 km de comprimento e 14 km de largura máxima. Dominada pelo cone vulcânico da

Caldeira, que se espraia em declives suaves interrompidos por formações vulcânicas

secundárias, a ilha tem a sua altitude máxima no Cabeço Gordo, com 1043 m.

De forma trapezoidal a ilha das Flores tem uma superfície de 141,0 Km2, com o

comprimento de 17 km e 12,5 km de largura máxima. A sua plataforma central, que se

desenvolve entre os 500 e os 600 metros de altitude, tem no Morro Alto, com914 metros a

maior elevação. Está situada a 21º 59’ de longitude oeste e a 39º 25’ de latitude norte.

Ilha de forma oval, com a área de 17,1 km2, tendo de comprimento 6,5 km e de

largura 4km, o Corvo é a mais pequena ilha do Arquipélago dos Açores. Constituída pelo

afloramento de um cone vulcânico tem a altitude máxima de 718 metros. Está situada a 31º

05’ de longitude oeste e 39º 40’ de latitude norte.

2.1.2 Mergulho nos AçoresAo contrario de outras regiões onde o mergulho a grandes profundidades em apneia e

posteriormente com aparelho autónomo de respiração são parte da tradição das pessoas que

dependem do mar como meio de sustento, a Região Autónoma dos Açores nunca apresentou

uma história de mergulho ligado à exploração em massa dos recursos subaquáticos das ilhas.

A modalidade foi introduzida na Região principalmente por questões recreativas, existindo

naturalmente um pequeno nicho de pessoas ligadas ao mar que se aproveitaram dos novos

recursos para rentabilizar os seus negócios. Ao longos das últimas duas décadas verificou-se

o desenvolvimento da actividade do mergulho nos Açores num padrão irregular, em surtos.

Provavelmente por se tratar de uma actividade restrita a um número pequeno de

mergulhadores locais, as decisões importantes na área foram tomadas em épocas que a

modalidade se notabilizou por questões pessoais, publicitárias ou de interesse turístico,

voltando a cair numa fase de esquecimento logo em seguida. Fruto disso foi o processo de

aquisição das câmaras hiperbáricas presentemente na Região, ou o investimento que se

efectuou para dotar os Clubes Navais das ilhas de equipamentos de mergulho.

Page 16: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

16

2.1.3 Sistema Regional de SaúdeO Governo Regional dos Açores garante o acesso gratuito e universal à assistência

médica. Neste sentido a Região dispõe de quinze centros de saúde e três hospitais. Os três

Hospitais encontram-se na ilhas de S. Miguel, Terceira e Faial enquanto os centros de saúde

estão organizados pelos concelhos existentes garantindo uma acesso rápido da população aos

cuidados de saúde primários. Os hospitais da região ainda são deficitários de algumas

especialidades médicas pelo que existe necessidade de transferir doentes de uns para os

outros e para o continente Português. O casos de radioterapia, cirurgia torácica ou cirurgia

pediátrica, são exemplos desta realidade. Parece existir vontade politica de dotar o Hospital

do Divino Espírito Santo em Ponta Delgada dos meios integrantes de uma unidade de

cuidados terciários e assim tornar a região autónoma em questões de saúde. Mas tal realidade

só se prevê num futuro a médio prazo.

2.1.4 Câmaras hiperbáricas nos Açores Apesar de não ter tido os efeitos desejados e de se encontrar longe das necessidades

hoje existentes existiu um esforço em 1989 por parte do Governo Regional do Açores para

dotar a região dos meios necessários para garantir a segurança dos mergulhadores

acidentados. Foram disponibilizadas verbas aos Clubes Navais de Ponta Delgada e da Horta

no sentido destes se dotarem de duas câmaras hiperbáricas. Os fundos foram usados de

forma diferente por cada clube e segundo critérios próprios, não coordenados pelo Governo.

Desta iniciativa ficaram duas câmaras hiperbáricas na região e a experiência

adquirida pelo pessoal técnico no manuseamento dos acidentes de mergulho.

2.1.4.1 Hospital da HortaO Hospital da Horta tem instalada uma câmara hiperbárica, propriedade do Clube

Naval da Horta, adquirida há quinze anos pela Secretaria Regional do Turismo para

responder a requisitos internacionais para a segurança no mergulho com escafandro

autónomo. O centro de medicina hiperbárica é coordenado pelo Dr. Luís Quintino Duarte. A

equipa é ainda constituída por dois outros médicos, ambos com curso de Medicina

Subaquática e Hiperbárica pela Universidade de Barcelona, e voluntários que

complementam a operação da câmara durante os longos períodos de tratamento.

Page 17: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

17

O Hospital da Horta já

tratou 20 casos, 1 sobrepressão

pulmonar, 6 “Bends” sendo os

restantes de patologia Neurológica.

Desde o mergulhador que não fez

adequadamente os patamares de

descompressão, passando por

outros que possuíam uma condição

física inadequada para o mergulho

e até alunos de mergulho que

tiveram um azar durante a sua

aprendizagem. Apenas um destes casos não foi, infelizmente, coroado de sucesso (descrição

no anexo V). Para além disso a Câmara tem servido para formação nos Cursos de mergulho,

e formação de operadores de Câmara (Curso TDI), todos os acidentes ou pretensos dos

Açores têm contactado este Centro.

2.1.4.2 Clube Naval de Ponta Delgada

A câmara hiperbárica do Clube Naval de Ponta Delgada encontra-se desactivada. Foi

adquirida no ano de 1989 com fundos do Governo Regional do Açores, através da Secretaria

do Turismo de forma a desenvolver o turismo subaquático nos Açores.

Por decisão do Clube Naval de Ponta Delgada foi instalada nas sua sede, longe do

Hospital de Ponta Delgada. Após se ter

investido na formação de pessoal

técnico para a sua operacionalidade e

terem iniciado os tratamentos a

acidentes de mergulho rapidamente se

percebeu a dificuldade de efectuar

tratamentos a acidentes disbáricos

numa câmara sem antecâmara, (que

não possibilita a entrada e saída dos

profissionais de saúde). Segundo o que Figura 2.4 -Exterior da câmara do C.N.P.D.

Figura 2.2- Exterior da câmara do Hospital da Horta

Page 18: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

18

se conseguiu apurar nos registos

incompletos, entre 1993 e 1998 foram

tratados quatro pacientes resultantes de

acidentes de mergulho. Um de S. Miguel,

um da Terceira, um da Graciosa e um de

Santa Maria.

Por indefinição do enquadramento

jurídico da actuação e responsabilização

médica durante o tratamento em

equipamento e instalações extra-

hopitalares, pela indefinição da situação laboral dos profissionais de saúde e dos técnicos e

pela inoperacionalidade do sistema a câmara foi desactivada, apesar de ainda constar das

listas internacionais e nacionais de câmaras em funcionamento.

2.1.4.3 Fotiy Krylov

Está estacionado à saída do porto de Ponta Delgada o rebocador “Fotiy Krylov” da

empresa Grega “Tsvaliris”. Esta empresa

internacional dedica-se ao salvamento

de vidas e propriedade no mar bem

como proteger o ambiente marinho da

poluição causada por acidentes.

Esta companhia está disponível para

rapidamente deslocar assistência

especializada a qualquer casualidade em

qualquer ponto do mundo. Possui seis

rebocadores espalhados estrategicamente de forma a configurar uma rede mundial de apoio

marítimo.

Todas as partes envolvidas – incluindo navio, carga, tripulação e as populações

costeiras mais próximas – são potenciais clientes do grupo.

A empresa compromete-se a manter uma rede global moderna, através do

posicionamento estratégico dos seus meios de salvamento, além de cooperação amistosa

Figura 2.3 -Interior da cãmara do C.N.P.D.

Figura 2.5 - Navio rebocador "Fotiy Krylov"

Page 19: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

19

com as entidades regionais de salvamento,

promovendo uma melhoria constante na

sua capacidade de responder rapidamente

e eficientemente ás emergências

marítimas.

A bordo do navio encontram-se duas

câmaras hiperbáricas, uma com

capacidade para 2 pessoas deitadas ou

quatro sentadas, mais assistente, e outra

“monoplace” de transporte.

As câmaras encontram-se em bom estado de conservação e aparentemente funcionais

pelo que o seu uso em caso de necessidade “in

extremis” poderia ser considerado.

Existe permanentemente um médico a

bordo do navio, de origem russa tal como a

restante tripulação.

Através de uma visita de estudo ao navio,

não foi possível apurar o seu nível de

conhecimento em medicina subaquática e

hiperbárica, por dificuldades do próprio em

comunicar em Inglês.

As tabelas apresentadas encontravam-se em russo pelo que foi difícil perceber a sua

actualidade e funcionalidade. A tripulação

encontra-se em comissões de serviço de

aproximadamente 6 meses o que torna

difícil o contacto permanente de referencia

e intercambio com esse profissional.

O comandante do navio aceitou o

acompanhamento por um profissional de

saúde Português em caso de uso da câmara

para um acidentado local, referindo ser

Figura 2.6 - Exterior da câmara hiperbárica "Fotiy Krylov"

Figura 2.8- Câmara de transporte "Fotiy Krylov"

Figura 2.7 -Interior da câmara hiperbárica "Fotiy Krylov"

Page 20: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

20

necessário encontrar um enquadramento jurídico para os tratamentos caso esses

acontecessem.

A activação desse meio de socorro está dependente de uma chamada para o armador

do navio, que após se ter tentado o contacto não definiu quais os honorários requeridos para

os tratamentos.

2.1.5 LegislaçãoEm Portugal existem, à data, 21 Decretos Lei ligados de forma directa ou indirecta à

regulamentação da actividade do mergulho. No entanto, são dois os Decretos Lei nucleares

que regulamentam a actividade de mergulho amador e de mergulho profissional.

A legislação sobre o mergulho profissional, por necessidade da marinha Portuguesa e

por interesse dos grupos profissionais foi revista aproximadamente há 10 anos pelo Decreto

lei 12/94 de 15 de Janeiro de 1994 sendo publicada em seguida a Portaria nº 876/94 de 30 de

Setembro de 94 que regulamenta a “inaptidão e a certificação de aptidão médica para o

mergulhador profissional.”

Pelo contrário a legislação sobre o mergulho amador reporta à década de 60,

concretamente ao Decreto lei 48365 de 2 de Maio de 1968, e embora exista uma discussão

em fase avançada sobre a alteração ao diploma em vigor, com uma proposta consensual em

fase final de aprovação, as sucessivas indefinições no Governo Português sobre a tutela do

mergulho desportivo têm bloqueado o seu avanço. Os interesses não concordantes das

entidades envolvidas na discussão levam a crer que a proposta a aprovar venha no sentido de

adequar a lei aos usos e costumes actuais do mergulho em Portugal, sem ter em conta a

regulamentação Europeia que está a ser elaborar.

Segundo a lei em vigor, no que diz respeito à medicina subaquática e hiperbárica é

interessante realçar os seguintes pontos da lei vigente:

2.1.5.1 Mergulho amador O Decreto lei 48365 de 2 de Maio de 1968 regulamenta a prática de mergulho

desportivo em Portugal. Deste decreto lei salientam-se os seguintes pontos.

Para iniciar um curso de mergulho o candidato, com idade não inferior a 17 anos,

deverá apresentar à escola um atestado médico comprovando possuir robustez física e

mental que lhe permita a prática do mergulho amador, que tem os aparelhos respiratório e

Page 21: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

21

cardiovascular normais com capacidade funcional dentro dos limites fisiológicos, o sistema

nervoso normal e o aparelho auditivo e vias aéreas superiores normais, assim como perfeita

permeabilidade nasotubária, acompanhado de radiografia pulmonar e electrocardiograma

com os respectivos relatórios.

Só serão consideradas idóneas as escolas que possuam material e pessoal de

primeiros socorros e necessária assistência médica durante a execução da parte prática dos

cursos, conforme o que se segue:

Na piscina:

•Possibilidade de fazer comparecer rapidamente um médico ou um enfermeiro

conhecedores da fisiopatologia de mergulho, conforme a gravidade do caso;

•Existência de um ressuscitador mecânico, ou, pelo menos, de um aparelho de

respiração artificial;

•Existência de uma farmácia de socorro, com os seguintes medicamentos e material:

Lobelina ( ampolas ) .................................... 3Coramina (ampolas ) .................................... 3Cardiazol-efedrina (ampolas ) ...................... 3Pautopon ( ampolas ) .................................... 3Adrenalina ( ampolas ) .................................. 3Largactil ( ampolas ) ..................................... 3Otofurazona ( frasco ) ................................... 1Efedrina ( gotas ) ( frasco ) ........................... 1Seringa, agulhas e pinças ( esterilizadas ) .... VáriasÁlcool ( frasco ) ............................................ 1Algodão hidrófilo ( maço ) ........................... 1Mercurocromo ( frasco ) ............................... 1Apósitos para pensos ......................................Vários

No mar:

• Existência de embarcações ou barco de apoio com aparelho de respiração artificial

e farmácia de socorro focada na alínea anterior;

• Para mergulhos superiores a 40 m de profundidade, existência de um barco

equipado com câmara de recompressão individual;

Page 22: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

22

• Presença de um médico ou, pelo menos, de um enfermeiro conhecedor da

fisiopatologia de mergulho;

Na prática do mergulho amador no mar e a partir dos 40m, inclusivé, além da

presença de um monitor, é obrigatório dar satisfação às condições de segurança exigidas

durante a execução da parte prática dos cursos.

Todos mergulhadores de nacionalidade Portuguesa são obrigados a possuir um

documento designado por «Caderno de mergulho», onde deve estar registado resultado dos

exames médicos anuais. Não é especificado que tipo de exame é necessário ou quais são os

médicos com formação para efectua-lo.

Aos turistas estrangeiros com permanência no País inferior a 60 dias é permitido o

livre exercício do mergulho amador desde que, em substituição do “caderno de mergulho” e

do livrete do material, apresentem ás autoridades marítimas um documento comprovativo de

que estão qualificados para aquela actividade, passado pelo país de origem, ficando, no

entanto, sujeitos às restantes disposições aplicáveis a nacionais.

Antes de iniciar o curso qualquer escola deverá enviar á Direcção-Geral da Marinha

os nomes do médico e enfermeiro que prestarão assistência no curso.

2.1.5.2 Mergulho ProfissionalO mergulho profissional é regulado pelo Decreto lei 12/94 de 15 de Janeiro de 1994.

Deste decreto lei são destacadas as seguintes obrigações:

Para efectuar o curso de mergulhador profissional o individuo deverá ter no mínimo

18 e no máximo 40 anos de idade à data do início do curso.

Deve ser apresentado um certificado de aptidão psico-física, comprovativo da

capacidade para exercer a prática de mergulho profissional nos termos da Portaria nº 876/94

de 30 de Setembro - “Inaptidão e certificação da aptidão médica e entidades competentes no

âmbito do mergulho profissional”.

2.1.5.3 Legislação EuropeiaEstão a ser preparados a nível europeu pela European Diving Technology Committee

(EDTC) e European Committee for Hyperbaric Medicine (ECHM) documentos reguladores

tanto da actividade do mergulho como da medicina hiperbárica, que se espera venham a

substituir e harmonizar as diferentes leis nacionais. Qualquer um dos dois documentos

Page 23: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

23

encontra-se em fase avançada e aguarda-se a sua implementação. As referencias às normas

que se estão a desenvolver são as seguintes:

• EN 14467 (Regulamentação sobre os centros de mergulho)

• EN 14413-1 (Define o Instrutor de nível 1)

• EN 14413-2 (Define o Instrutor de nível 2)

• EN 14153-1 (Define o Praticante de nível 1)

• EN 14153-2 (Define o Praticante de nível 2)

• EN 14153-3 (Define o Praticante de nível 3)

De importância para a realização deste trabalho são as directrizes sobre a criação de

centros de medicina hiperbárica e a formação necessária para neles trabalhar. Destacam-se os

seguintes itens:

As Câmaras hiperbáricas e o equipamento interno devem cumprir com a norma EN

14931.

O pessoal adstrito a um centro de medicina hiperbárica poderá ser adaptado de

acordo às condições particulares. No entanto o número de pessoas integrantes do quadro

total do centro deve ser o suficiente para providenciar em qualquer caso, pelo menos as

seguintes pessoas e profissões para cada sessão de tratamento hiperbárico:

Centros com câmara “multiplace”

• 1 Director médico;

• 1-3 Médicos hiperbaristas;

• 1 Enfermeiro;

• 1 Operador de câmara;

Um centro de medicina hiperbárica hospitalar deve garantir assistência 24 horas por

dia e deve oferecer tratamento adequado para todos os tipos de doença, incluindo aquelas

requerendo cuidados intensivos dentro da câmara.

MédicosOs médicos serão classificados e autorizados, segundo o plano de estudos indicado, a

executar as seguintes funções:

Page 24: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

24

EnfermeirosOs enfermeiros podem receber a formação na própria instituição a partir do director

médico.

Todos os centros de medicina hiperbárica hospitalar devem ter uma equipa

permanente de enfermeiros com horário completo ou parcial dependendo das necessidades

do serviço.

Uma ou duas pessoas não serão suficientes para garantir um serviço 24 horas por dia,

pois as estadias prolongadas dentro da câmara a que têm que se sujeitar (quando se usa uma

câmara “multiplace”) deixa-as incapazes de descompressões nas próximas horas. É

necessária uma equipa completa de enfermagem trabalhando em turnos.

AcompanhantesOs Acompanhantes poderão vir de diferentes profissões ligadas à actividade

subaquática e hiperbárica, tais como:

• Mergulhadores desportivos ou comerciais;

• Auxiliares de acção médica, estudantes de medicina, paramédicos ou

assistentes;

• Outras profissões não relacionadas com acção médica, (apesar de ser

preferível que se relacionem).

A sua educação e treino pode ser completada na própria instituição hiperbárica.

Operadores de câmaraAs funções de um operador de câmara de um centro com câmaras “multiplace” são:

I Médico examinador de

mergulhadores

25 horas teóricas + 3 horas práticas

IIa Médico de medicina do mergulho O acima descrito + 30 horas teóricas adicionais +

10 horas práticasIIb Médico de medicina hiperbárica 60 horas teóricas + fase prática (5 diferentes casos

clínicos com as diferentes indicações terapêuticas)III Consultor de medicina subaquática e

hiperbárica

Necessita de definição adicional

Tabela 2.3 – Plano de estudos da formação em medicina subaquática e hiperbárica

Page 25: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

25

• Operação de equipamento interno e externo à câmara;

• Controle e operação dos mecanismos para compressão e descompressão,

assim como de admissão de oxigénio ou das misturas gasosas;

• Pequenas reparações ou intervenções técnicas devido a problemas que podem

ocorrer ocasionalmente e para os quais não é necessária a intervenção de

pessoal técnico altamente especializado.

Como os operadores de câmara são responsáveis pelo comando da operação das

câmaras “multiplace” a sua presença é absolutamente essencial em todas os centro

hospitalares ou autónomos com câmaras “multiplace”. É requerido um operador de câmara

permanente, com horário parcial ou a tempo inteiro, dependente das necessidades do centro.

TécnicosO centro hiperbárico necessita de pessoal técnico especializado que tem como

funções controlar e verificar a câmara, os circuitos pneumáticos, as reservas de gás ou ar

comprimido, os compressores e o resto das partes técnicas do centro.

Como resumo, a equipa mínima para sessões hiperbáricas em câmaras “multiplace” é

constituída por três pessoas:

• Médico hiperbarista;

• Assistente de câmara;

• Operador de câmara;

2.1.6 Actuação em situação de acidente disbáricoVários organismos internacionais se dedicaram a estabelecer normas para a actuação

em caso de acidente disbárico, provavelmente baseados nas vastas publicações do final do

século XX, fruto da experiência da Marinha Americana, Britânica e de empresas privadas

ligadas ao mergulho internacional.

É consenso que o tempo de actuação é o factor mais preponderante nesta situação.

Em segundo lugar vêm a experiência e familiarização da equipa de socorro com a patologia

e em terceiro lugar a facilidade de acesso ao Centro Hiperbárico. Existe uma crescente

preocupação junto dos organismos internacionais que estão ligados ao mergulho na actuação

inicial em caso de acidente.

Page 26: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

26

Dos protocolos das organizações internacionais, o protocolo definido pela “Divers

Alert Network” (DAN) é de extrema facilidade de ensino e de lógica aplicação, possuindo as

características necessárias para se tornar no protocolo “standard” em todas as situações

emergentes. O uso de oxigénio normobárico a 100% promove uma desnitrogenação precoce

e “ganha” tempo durante o transporte para o centro hiperbárico.

Existe a nível mundial uma relativa carência de câmaras hiperbáricas o que obriga a

efectuar transportes às vezes por grandes distâncias para obter o tratamento hiperbárico. Tal

situação não é a desejável pois o tempo óptimo de tratamento está nas seis primeiras horas

após o acidente, tal como se poderá concluir pela observação do gráfico 2.1

Além do atraso no tratamento o tipo de transporte é um eventual problema pois, o

transporte aéreo não é o recomendado nestes casos porque uma diminuição adicional na

pressão atmosférica poderá agravar a situação clínica do doente. Aceita-se actualmente o

transporte aéreo a uma altitude não superior a 300 metros, mas existem poucos dados

científicos que corroborem esta realidade.

Gráfico 2.1– Eficácia da terapêutica de recompressão em função do tempo segundo sintomatologia inicial (Bennett and Elliott´s, Physiology and Medicine of diving, 5th Edition, pag. 618)

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

0-2 2.1-6 6.1-12 12.1-24 >24Tempo entre o aparecimento dos sintomas e a recompresão

Fracç

ão d

e m

ergulh

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s co

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lívio

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sinto

mas

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Dor

Sintomas neurológicos ligeiros

Sintomas neurologicos graves

Page 27: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

27

2.1.7 Oxigenoterapia Hiperbárica como tratamento médico

A Medicina Hiperbárica é uma especialidade médica com vários anos de evolução e

que tem registado importantes desenvolvimentos nos últimos anos. Como todas as práticas

em medicina, tem as suas indicações precisas, as suas doses recomendadas e o tempos de

acção bem definidos. Rege-se, como as restantes áreas médicas, por critérios de

experimentação e comprovação cientifica, tendo já feito prova da sua verdadeira utilidade

clínica.

O efeitos da oxigenação hiperbárica fazem-se sentir no corpo humano através de dois

mecanismos básicos. O efeito mecânico resultante da elevação da pressão ambiental,

responsável pelas alterações volumétricas dos gases no interior do corpo e o efeito

solumétrico do aumento da dissolução do oxigénio na circulação.

Com a elevação da pressão parcial, o oxigénio, adquire propriedades medicinais

potenciadas sendo possível a sua utilização para alterar processos fisiopatológicos, tal como

qualquer outra droga.

Efeito mecânico

Conforme a lei de Boyle-Mariotte, o gás contido nas cavidades ocas do organismo

(aparelho respiratório, seios para-nasais, ouvido médio, tracto digestivo, bexiga) e qualquer

bolha gasosa dissoluta em meio líquido, sofre uma variação geométrica de volume

inversamente proporcional à pressão absoluta.

Enquanto as variações não controladas e não desejadas podem ser causa de

baurotraumatismos principalmente nas actividades subaquáticas, alterações volumétricas

induzidas e controladas podem ser usadas para resolver algumas patologias médicas. Em

qualquer situação de embolia gasosa (iatrogénica, barotraumática ou traumática), a

compressão do organismo dentro de uma câmara hiperbárica vai provocar uma redução do

volume da bolha gasosa permitindo novamente o fluxo sanguíneo e transportando a bolha até

à circulação pulmonar onde é libertada.

Efeito solumétrico

Colocar um paciente numa câmara hiperbárica a 3.0 ATA a respirar oxigénio a 100 %

aumenta o oxigénio no sangue cerca de 22 vezes (PaO2 2.200 mmHg). Este aumento no

transporte de oxigénio não se faz pelo aumento da saturação da hemoglobina mas pelo

Page 28: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

28

aumento da dissolução do oxigénio no plasma. Desta forma é possível manter um organismo

vivo sem hemoglobina apenas com plasma em circulação, conforme demonstrou, em

experiências efectuadas com porcos, Ito Boerema, o grande impulsionador da medicina

hiperbárica moderna.

A hiperóxia capilar por capilaridade em difusão simples, transfere o oxigénio por

gradiente a todos os territórios isquémicos do organismo. É assim possível um efeito

terapêutico em todas as doenças em que exista um fenómeno de hipoxia tecidular local ou

generalizado.

Existem vários efeitos fisiológicos da oxigenoterapia hiperbárica e que justificam os

resultados clínicos observáveis. Todos eles colaboram para a resolução imediata e a longo

prazo da situação clínica adjacente e protegem o organismo da formação de radicais livres de

oxigénio, tornando secundária a preocupação generalizada e pouco informada dos efeitos

adversos do oxigénio a altas pressões parciais.

Efeito de Robin-Hood

Em situações fisiológicas ditas normais, o organismo responde com uma

vasoconstrição ao aumento da pressão parcial de oxigénio (PaO2) capilar. Esta resposta

serve como mecanismo protector e funciona de modo expressivo em tecido são. Se o tecido

estiver danificado ou sofrer de hipoxia, esta resposta já não se observa. Assim, durante a

OHB, verifica-se uma maior perfusão dos tecidos lesados do que nos sãos, num claro efeito

de sequestração de sangue, o que justifica o nome escolhido.

Estimulo da angioneogenese e neocolagenização

Em situações experimentais e em verificação “in vivo” a OHB promove a formação

de exuberante tecido de granulação em tecidos que tinham este mecanismo frenado ou

lentificado. São exemplos destas patologias a microangiopatia diabética, tecidos irradiados,

arteriopatias em estados avançados e transtornos tróficos em situações sistémicas: Doença de

Crohn, fenómeno de Raynaud). Além da neocolagenização, o tratamentos com os repetidos

ciclos de hiperóxia/hipoxia aumenta o gradiente tecidual necessário para a libertação dos

factores endócrinos necessários à formação de novos vasos sanguíneos.

Activação da actividade fagocítica dos polimorfo nucleares (PMN)

Page 29: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

29

Conclui-se por vários estudos experimentais bem fundamentados, que o oxigénio

aumenta a capacidade fagocítica dos PMN e que funciona sinergicamente com vários

antibióticos no combate a patogénios aeróbios.

Acção bactericida e bacteriostática

Por definição os agentes anaeróbios não suportam ambientes ricos em oxigénio.

Pode-se então controlar e eliminar estes organismos através da OHB, pois além do efeito

tóxico directo do oxigénio muitas toxinas por eles produzidas são inactivadas, sendo este

último efeito por vezes mais importante que o primeiro (Ex: Toxina alfa do Clostridium

Difficile).

Eliminação rápida da carboxihemoglobina

Nos casos de intoxicação por monóxido de carbono (CO) forma-se uma ligação entre

a hemoglobina e o CO (Carboxihemoglobina) 240 vezes mais estável que a ligação

hemoglobina oxigénio. Isto impede o transporte de oxigénio para os tecidos e provoca

isquémia por hipoxia. A OHB além de corrigir a hipoxia baixa a meia vida da

carboxihemoglobina de 520 minutos para 23 minutos (O2 a 100% a 3 ATM)

Assim sendo, e através dos critérios reconhecidos internacionalmente da medicina

baseada na evidência, foram definidas três classes (indicações preferenciais, indicações

coadjuvantes e indicações experimentais) para enquadrar as indicações da oxigenoterapia

hiperbárica.

As indicações preferenciais dizem respeito às patologias em que o único tratamento

correcto é a oxigenoterapia hiperbárica. As indicações coadjuvantes são aquelas em que o

tratamento em câmara hiperbárica é fundamental para aumentar o efeito e acelerar o

tratamento convencional e as indicações experimentais são aquelas patologias que aguardam

classificação nas duas classes acima descritas, mas que ainda não existem artigos científicos

baseados em estudos duplamente cegos que comprovem a sua indicação.

Na tabela 2.4 enumeram-se as patologias médicas que se enquadram nas três classes.

Como poderá ser facilmente constatado existe um número de patologias médicas com

indicação para oxigenoterapia hiperbárica, para que um Hospital de médias dimensões

considere a criação de uma estrutura de tratamento hiperbárico, pelo menos equiparada a

uma Unidade de Medicina Hiperbárica (U.M.H.). Apesar do elevado investimento inicial

(que seria injustificado se apenas servisse para a assistência aos acidentes de mergulho), uma

Page 30: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

30

U.M.H. integrada num hospital de médias dimensões pode ser rapidamente rentabilizada,

pois permite uma redução considerável no tempo de internamento e nos gastos hospitalares

dos doentes que beneficiam deste tipo de tratamento.

2.1.8 O futuro da OHBA OHB passou por períodos conturbados em que, por um uso abusivo, pouco

científico, das indicações da OHB se criou uma imagem de descrédito da terapêutica, fruto

da inconsistência dos resultados nessas indicações, ou pelo aparecimento de “charlatães”

que aproveitaram o sucesso das verdadeiras indicações da terapia, para propor curas

milagrosas usando métodos terapêuticos fisiologicamente infundados.

Com a sedimentação da medicina experimental e aparecimento da medicina baseada

na evidência, foi possível balizar as indicações da OHB, segundo critérios científicos e

mostrar a sua verdadeira utilidade nas indicações correctas. Com a imposição da necessidade

de artigos científicos credíveis para validar uma terapêutica, os centros que se dedicavam ao

tratamento com oxigénio hiperbárico, começaram a desenvolver estudos no sentido de

acompanhar essa tendência. E apesar da dificuldade em efectuar ensaios duplamente cegos,

nesta área, trabalhos de reconhecido valor científico começaram a surgir, sendo que muitos

outros estão em andamento.

Preferenciais Coadjuvantes ExperimentaisIntoxicação por monóxido de

carbono

Intoxicação por cianídrico

Acidentes disbáricos

(acidentes de mergulho)

Embolismo gasoso

Gangrena gasosa

Osteomielite crónica

refractária

Lesões rádio-induzidas

Traumatismos dos tecidos

moles

Síndromes compartimentais

Infecções necrotizantes

Atrasos na cicatrização

Pé diabético

Enxertos cutâneos

Doença de Crohn

Cistite hemorrágica

Encefalopatia anóxica

Esclerose múltipla

Surdez súbita

Oclusão vascular da retina

Tabela 2.4 - Patologias referenciáveis à Oxigenoterapia hiperbárica

Page 31: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

31

Assim, foi possível definir as indicações preferenciais da OHB, as indicações de

terapia coadjuvante e as indicações experimentais da terapêutica.

Enquanto as indicações preferenciais e as coadjuvantes já estão bem apoiadas por

ensaios clínicos fundamentados, o campo das indicações experimentais representa um

manancial de oportunidades de pesquisa durante os próximos anos. Das áreas com maior

número de trabalhos destacam-se as pesquisas que estudam o mecanismo das lesões

provocadas por isquemia aguda. Está provado que o oxigénio hiperbárico pode promover um

restabelecimento funcional dos tecidos que sofreram isquemia, principalmente dos tecidos

em penumbra isquémica. Assim, no tratamento do enfarte agudo do miocárdio, tal como

provou o estudo HOT MI, a OHB usada como tratamento coadjuvante, reduz a mortalidade e

a morbilidade pós enfarte bem como na encefalopatia anóxica, onde existem referencias

bibliográficas que descrevem o restabelecimento de funções sensitivas e motoras.

É importante referir que se trata de uma tecnologia segura, que funciona sobre

princípios fisiológicos simples estando praticamente livre de efeitos secundários

importantes. Para de evitar erros do passado a experimentação nesta área, no continente

Europeu está a ser dirigida por um centro coordenador designado por Oxynet fruto do

programa COST B14 “HBO Therapy” (Cooperation in Science and Technology) da

Comissão Europeia. Vários outros estudos estão em curso e prevê-se que as indicações

sejam alargadas. Das linhas em que presentemente se está a desenvolver investigação, ficam

aqui alguns exemplos:

• Intoxicação crónica por monóxido de carbono tratada com e sem

oxigenoterapia hiperbárica.

• Oxigenotoxigenoterapia hiperbárica como terapia coadjuvante na doença de

Crohn fistulizada refractária

• Oxigenoterapia hiperbárica no tratamento multidisciplinar do trauma do

membro superior

• Oxigenoterapia hiperbárica no tratamento do atraso de crescimento

intrauterino

• Tratamento da distrofia reflexa simpática com ooxigenotxigenoterapia

hiperbárica.

Page 32: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

32

• Oxigenotoxigenoterapia hiperbárica no tratamento agudo das queimaduras

agudas

2.2 Aplicação do método

Devido ao número elevado e à heterogeneidade de entidades a contactar decidiu-se

ter uma abordagem diferente para cada tipo de entidades. Assim os centros de mergulho

foram solicitados a preencher um inquérito, às transportadoras aéreas e à Força Aérea

Portuguesa enviou-se um pedido de especificações, aos Hospitais Regionais pediu-se

colaboração institucional e à Direcção Regional do Turismo requisitou-se o envio da

listagem dos operadores.

2.2.1 Questionário aos promotores de mergulhoAs diferentes etapas seguidas no processo de elaboração e implementação do

questionário, consistiram nos seguintes passos, ordenados de forma sequencial:

• Definição do conteúdo do questionário

• Definição da amostra

• Escolha da metodologia de recolha

• Trabalho de campo

• Registo informático da informação

2.2.1.1 Definição do conteúdo do questionárioComo já foi referido anteriormente o inquérito aos centros de mergulho teve como

principal objectivo a caracterização do mergulho com escafandro autónomo nos Açores.

Procurou-se responder a perguntas consideradas básicas no planeamento, promoção e

segurança da actividade, tendo em conta as sua especificidades. Quanto mergulhadores são?

Quantas empresas trabalham na actividade? Que tipo de mergulho promovem? Que questões

de segurança são tidas em conta?

A versão final do questionário foi o resultado de várias reformulações, após terem

sido consultada uma pequena amostra de operadores de mergulho turístico, pessoal

familiarizado com a temática e pessoal leigo na matéria, de forma a garantir a melhor

compreensão possível do texto.

O questionário (Anexo I) é composto por duas partes:

Page 33: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

33

1. Carta introdutória

Sabendo que as primeiras impressões são determinantes na decisão de uma boa

cooperação, houve a preocupação de aplicar uma aparência simples e convidativa. Além

disso, para aumentar o nível de adesão e dar ao questionário um cariz mais institucional, foi

pedida a colaboração do Núcleo de Formação Pessoal do Hospital do Divino Espírito Santo,

na pessoa do seu director médico, que permitiu que o documento fosse impresso em folha

oficial timbrada do Hospital e assinou o mesmo em conjunto com o autor.

Por não existirem garantias sobre o tipo de actividade marítima que algumas

empresas desenvolviam, foi incluído em preambulo, na carta enviada, um paragrafo a

solicitar que devolvessem o questionário em branco caso não exercessem actividade

relacionada especificamente com o mergulho.

Assim, para as entidades com actividades relacionadas com o mergulho, a carta

iníciou-se pela a identificação das entidades que levaram a cabo o inquérito, deixando um

apelo à colaboração por parte do responsável da entidade. Clarificou-se o objectivo da

realização do inquérito e declarou-se a confidencialidade dos dados obtidos.

Foi mencionado também na carta introdutória que na eventualidade de não ser

possível encontrar os números de uma forma precisa, (por ausência de registos, por exemplo)

a mais aproximada estimativa deveria ser enviada.

2. Inquérito

As perguntas, por questões de facilidade de compreensão, foram agrupadas em cinco

secções, isto é, em blocos com tema homogéneo:

• Identificação

• Mergulhos

• Curso de mergulho

• Segurança

• Observações e sugestões

Foram dispostas numa sequencia lógica, ocupando apenas uma página. A opção de

ocupar apenas uma página foi tomada para demonstrar que a realização do inquérito seria

simples e rápida, bem como facilitar o seu envio por Fax caso fosse essa a modalidade

escolhida para responder. Tentou-se não reduzir a letra demasiado, deixando espaços

Page 34: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

34

razoáveis para as respostas e organizou-se o documento de forma a ter uma aparência

agradável.

A clareza do “layout” proveniente do encadeamento lógico, bem como o facto de na

maior parte das questões, apenas ser necessário responder sim ou não, foram factores que

contribuíram para a facilidade e rapidez do preenchimento. Segundo a estimativas prévias o

preenchimento não deveria demorar mais de 10 minutos. O questionário foi constituído por

cinquenta e três questões, e apesar de parecer um pouco longo, este número reflecte as

perguntas essenciais para os fins pretendidos.

A motivação para o seu preenchimento centrou-se na aparência estética atraente, na

rapidez e simplicidade das respostas, numa lógica fácil de entender e o não

comprometimento da entidade que responde, nomeadamente nos campos financeiros e

jurídicos.

Para além destes aspectos de ordem genérica, outros cuidados de ordem técnica

estiveram envolvidos na definição e formulação das questões, disto são exemplos:

• A identificação das secções, perguntas e variáveis;

• A fundamentação e clarificação dos conceitos que estão por trás de cada

variável;

• A definição do tipo de resposta desejável em cada pergunta.

Segue-se a identificação e justificação da inclusão no questionário, de cada uma das

variáveis, bem como a clarificação dos conceitos que lhes estão subjacentes, por pergunta,

designando-as por P seguido do número sequencial, pela ordem que aparece no inquérito.

Identificação

Empresa – Denominação comercial ou institucional usada pelo conjunto de pessoas

ligadas à promoção da actividade. Essencial para identificação e listagem das entidades

contactadas.

Ano de início de actividade – Variável que define a antiguidade das empresas e

permite ter a noção do número de novas empresas fundadas nos anos abrangidos pelo estudo.

Responsável – Define a pessoa responsável pela representação da empresa ou

entidade institucional. Dado meramente informativo a nível do estudo mas que permite obter

Page 35: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

35

um contacto pessoal, em caso de surgirem dúvidas ou necessidades de esclarecimento

adicional aos questionários.

Contacto telefónico – Meio rápido e directo para, novamente entrar em contacto com

a empresa ou entidade institucional. Dado meramente informativo a nível do estudo mas que

permite o contacto, em caso de surgirem dúvidas ou necessidades de esclarecimento

adicional aos questionários.

Morada – Forma de contactar novamente com a empresa ou entidade institucional.

Dado meramente informativo a nível do estudo mas que permite o contacto, em caso de

surgirem dúvidas ou necessidades de esclarecimento adicional aos questionários. Utilidade

no cruzamento da informação inicial obtida, para a exclusão de empresas duplicadas ou

encerradas.

Código Postal – Permite identificar o local e o nível de urbanização da área de

influência da entidade que responde ao questionário.

Endereço Web – Indicador de sofisticação e apetência turística, é a forma mais fácil e

rápida de encontrar informação institucional sobre uma entidade. Transmite de forma não

científica uma ideia sobre o grau de actividade e desenvolvimento da empresa.

E-mail – Meio rápido de entrar novamente em contacto com a empresa ou entidade

institucional. Dado meramente informativo a nível do estudo mas que permite o contacto, em

caso de surgirem dúvidas ou necessidades de esclarecimento adicional aos questionários.

Mergulhos

Conjunto de dados essenciais para a caracterização da actividade da empresa ou

entidade institucional, que permitem a análise da evolução da actividade nos últimos cinco

anos, o tipo de mergulho efectuado e a distribuição da actividade por meses do ano.

Número de mergulhadores em 2004 - Elemento chave para conhecer o número de

praticantes que se dedicam ao mergulho. Pretendia-se com esta questão apurar o número de

pessoas que através da entidade identificada nas questões supracitadas, efectuaram

mergulhos no ano de 2004. Para não tornar a resposta ao questionário, por si, um estudo

elaborado e difícil de obter ao sujeito que responde ao questionário, limitou-se a questão do

número de mergulhadores ao ano de 2004, considerando que, apenas um ano é o suficiente

para caracterizar o rácio entre mergulhadores locais e turistas.

Page 36: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

36

Locais (P1) – A contabilização do total de indivíduos habitantes nos Açores, que

efectuam de forma regular mergulho com escafandro autónomo era um dos objectivos a que

se propunha esta investigação, na sua concepção inicial. Na impossibilidade de obter um

número oficial exacto, a partir de uma entidade reguladora do mergulho em Portugal, por

não cumprimento da legislação em vigor por parte dos mergulhadores (obrigatoriedade de

registo de actividade na Capitania), o inquérito às entidades que possuem compressores de

enchimento de garrafas de ar comprimido, pareceu ser a forma mais directa de obter uma

aproximação dos números pretendidos. Foi tido em conta que muitos centros não têm registo

da actividade no que diz respeito ao mergulhadores “da casa” e que alguns mergulhadores

possuem as suas próprias estações de enchimento.

Turistas(P2) – Por se ter constatado que o turismo tem sofrido um incremento

considerável nos últimos cinco anos nos Açores, considerou-se importante caracterizar o

reflexo que tal aumento teve na actividade do mergulho turístico, através da contabilização

do número de turistas que aproveitam a sua estadia no Açores para conhecer a beleza

subaquática das ilhas.

Idade mínima (P3.1) – Este item liga-se mais a aspectos estatísticos e pretende saber

qual o grau de cumprimento da lei Portuguesa pelos diferentes agentes de mergulho, devido

à limitação dos 17 anos para início da prática do mergulho.

Idade máxima (P3.2) – Este item liga-se mais a aspectos estatísticos e prende-se com

a curiosidade, de registar a idade do mergulhador mais velho, nos Açores em 2004.

Número de mergulhos por ano 2000-2004 (P4, P5, P6, P7, P8) – Sem dúvida a

informação de maior importância de todo o trabalho, pois pretendia-se contabilizar o número

de imersões que se realizou, tanto no conjunto, como em cada um dos grupos de ilhas. A

escolha por um quadro em que eram introduzidos por baixo do ano o número de mergulhos

registados foi a fórmula mais simples encontrada para a resposta a esta pergunta.

Distribuição de mergulhos por mês JAN a DEZ (P9, P10, P11, P12, P13, P14, P15,

P16, P17, P18, P19, P20) - Através da elaboração de um segundo quadro resposta em que se

pedia o seu preenchimento através do número ou da percentagem aproximada por mês do

total do ano de 2004, tentou-se ter a noção da sazonalidade no mergulho nos Açores. A

opção da apresentação por percentagem foi com o objectivo de facilitar a resposta aos

organismos que não possuíssem registo por meses da sua actividade.

Page 37: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

37

Em quantos locais efectuam mergulho (P21) – A caracterização da mobilidade

pareceu necessária, pois através destes resultados e o seu cruzamento com os dados

seguintes poder-se-á extrapolar sobre a organização e dimensão da empresa e da capacidade

de se deslocar a vários “spots” para realizar as suas saídas.

Distância da costa do local mais distante (P22) – Mais um indicador da capacidade

organização e dimensão da empresa, sendo também um factor a ter em conta quando

existirem situações de emergência.

Profundidade máxima dos mergulhos (P23) – Factor de risco no aparecimento de

patologias relacionadas com o mergulho, em combinação com outros pontos do questionário

transmite o grau de importância dado pelos operadores a questões de segurança.

Profundidade média dos mergulhos (P24) – Factor de risco no aparecimento de

patologias relacionadas com o mergulho, em combinação com outros pontos do questionário

transmite o grau de importância dado pelos operadores a questões de segurança.

Duração média dos mergulhos (P25) – Factor de risco no aparecimento de patologias

relacionadas com o mergulho, em combinação com outros pontos do questionário transmite

o grau de importância dado pelos operadores a questões de segurança.

Efectuam mergulho de carácter profissional (P26) – Informação discriminativa da

actividade da entidade, pois pretendia-se diferenciar as empresas que efectuam mergulho

profissional das empresas que apenas se dedicam à actividade turística. Os dados podem ser

utilizados também como um indicador qualitativo, do risco, ou da eventual gravidade de um

acidente de mergulho, tendo em conta a empírica maior exposição aos factores de risco da

actividade profissional.

Efectuam mergulho com misturas de gases? (P26) – Sabendo que o mergulho com

misturas enriquecidas em oxigénio ou hélio necessitam de uma maior preparação teórico-

prática dos mergulhadores e a sua utilização prende-se, em situações normais, com o atingir

uma maior profundidade no mergulho, existindo um aumento do risco de acidentes se as

misturas de gases respiratórios não forem utilizadas da forma devida ou por pessoal não

especializado, pretendeu-se conhecer quantas empresas tinham capacidade para trabalhar

nesta área.

Page 38: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

38

Realizam mais que um mergulho por dia? (P27) - Factor de risco no aparecimento de

patologias relacionadas com o mergulho, em combinação com outros pontos do questionário

transmite o grau de importância dado pelos operadores a questões de segurança.

Já registaram algum acidente de mergulho? Se sim descreva-os no verso do

documento. (P28) – Não existindo bases de dados de acesso facilitado sobre as ocorrências

na área do mergulho, pretendeu-se através do inquérito directo às entidades ligadas á

actividade fazer um levantamento sobre o número e o tipo de acidentes de mergulho

ocorridos nos Açores. Teve-se em conta que alguns centros de mergulho onde ocorreram

acidentes, já não se encontram em actividade e que os registos obtidos podem corresponder a

uma pequena fracção dos acidentes decorridos. Posteriormente pretendia-se completar e

cruzar a informação obtida com os dados pedidos ao Hospital da Horta.

Cursos de mergulho

Conjunto de dados sobre a formação e o grau de aperfeiçoamento da entidade no que

respeita ao acompanhamento técnico dos seus mergulhadores. Alguns dos dados foram

introduzidos de forma a saber se os requisitos legais sobre a formação de mergulhadores

estavam a ser cumpridos.

O centro é filiado na FPAS? (P29) – A Federação Portuguesa de Actividades

Subaquáticas reclama a representação da CMAS em Portugal. Como o programa de

formação da CMAS legalizado em Portugal pertence à FPAS, qualquer entidade que

pretenda leccionar cursos da CMAS, tem que o fazer através da FPAS. O processo de

legalização dos cursos PADI seguiu um procedimento diferente. Pretendeu-se através desta

questão, cruzando a informação com a questão seguinte, saber se os cursos administrados

seguiam os processos legais.

Qual o organismo internacional que dá apoio aos cursos? (P30) – Existem diversos

organismos internacionais com programas de formação heterogéneos que dão maior ou

menor importância a questões de segurança. Ter um conhecimento sobre o panorama do

ensino nos Açores é parte fundamental na avaliação da actividade.

Número de cursos de mergulho por ano (P31) – O grau de actividade de formação

pareceu ser um bom indicador do crescimento da actividade a nível dos mergulhadores

locais, permitindo uma previsão geral, não exacta da prevalência e incidência do mergulho

local.

Page 39: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

39

Número de alunos por curso (P32) - O grau de actividade de formação pareceu ser

um bom indicador do crescimento da actividade a nível dos mergulhadores locais,

permitindo uma previsão geral, não exacta da prevalência e incidência do mergulho local.

Número de instrutores da escola (P33) – Provavelmente o melhor indicador da

dimensão da entidade questionada. Previa-se que a actividade nos Açores estava ligada

maioritariamente a empresas unipessoais, o que se pretendeu confirmar com esta questão.

Nível máximo de curso ministrado (P34) – Reflecte em conjunto com outras questões

o tipo de formação e profissionalismo da escola pois um nível de curso ministrado exige

uma formação maior do monitor e um dispêndio maior de meios.

É exigido o exame médico-desportivo? (P35) – Por Decreto Lei Nacional é

obrigatório a realização de um exame médico-desportivo para a frequência de um curso de

mergulho. A questão pretendia saber se as escolas controlam e incentivam a realização desse

exame.

Existe acompanhamento por pessoal de saúde? (P36) – É definido por decreto lei

nacional a obrigatoriedade da presença de um médico ou enfermeiro no local de realização

dos cursos. Muitas entidades desconhecem esse facto e não o cumprem. Pretendeu-se

averiguar o grau de conhecimento da lei de cada inquirido.

Segurança

Módulo de perguntas relacionado com a preocupação e organização de cada entidade

no que respeita à segurança do mergulho. Por ser uma área muitas vezes descuidada e sem

procedimentos estandardizados, mas que influi de forma decisiva sobre o desfecho de um

acidente de mergulho, tentou-se verificar a preparação e o grau de prontidão de cada

entidade.

Existe Kit de primeiros socorros? (P37) – Instrumento básico no socorro a pequenos

acidentes, presente em qualquer entidade que considere questões de segurança importantes.

Pretendeu-se avaliar se existiam preocupações mínimas de segurança, para além do facto de

ser obrigatório por Decreto Lei.

Existe Kit de administração de Oxigénio a 100% ? (P38) – Instrumento de elevada

importância no socorro a acidentados decorrentes da actividade do mergulho, sendo que a

Page 40: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

40

sua ausência poderá influenciar negativamente no desfecho da situação. Embora não seja por

lei obrigatório, deverá fazer parte de qualquer centro ou grupo de pessoas que se dedique ao

mergulho de forma regular.

Existe seguro para acidentes de mergulho? (P39) – Não sendo obrigatório por lei, há

que ter em conta que apenas um seguro específico para tratamentos de acidentes de

mergulho cobre as despesas decorrentes de tal situação. A não exigência de seguro individual

aos mergulhadores, deveria ser complementada com um seguro colectivo.

É exigido seguro aos mergulhadores? (P40) – Não sendo obrigatório por lei, o seguro

individual é a melhor forma de garantir as despesas decorrentes de acidentes de mergulho,

principalmente nos cidadãos oriundos de outros países. Em conjunto com a pergunta anterior

permite encontrar o grau de preocupação de cada entidade , no que respeita ao planeamento

de situações emergentes.

Quantas pessoas têm curso de suporte básico de vida? (P41) – O Suporte básico de

vida é a actuação imediata a ser aplicada em caso de acidente, enquanto não chega a ajuda

especializada. Serve para “ganhar tempo” e permite reduzir as sequelas posteriores, se bem

efectuado. Pode ser o único “instrumento” disponível para a correcta assistência a um

mergulhador em necessidade.

Existe plano de evacuação de acidentes? (P42) – Como patologia rara e diferenciada

o acidente de mergulho exige um tratamento diferenciado na sua abordagem, pois muitas

vezes requer a deslocação para locais diferentes dos habituais em outro tipo de emergência

médica. Esta questão reflecte as expectativas das diferentes entidades no serviço de

emergência médica do estado e o grau de participação na divulgação da diferenciação do

acidentado de mergulho.

Qual o centro de medicina hiperbárica de referencia mais próximo? (P43) – O

simples conhecimento do centro de medicina hiperbárica mais próximo e o seu

funcionamento são conceitos básicos que se pretendeu avaliar com esta pergunta.

Observações e sugestões (P44) – Neste módulo de resposta aberta procurou-se deixar

espaço para esclarecimentos adicionais ou para sugestões, verificando assim o interesse e

envolvimento nesta problemática e o grau de aceitação do questionário.

Page 41: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

41

2.2.1.2 Amostra e Amostragem

Devido à dimensão reduzida do Arquipélago e pelas facilidades de comunicação

existentes nos dias de hoje, em vez de limitar o estudo a uma amostra significativa e tirar as

conclusões sobre o universo estatístico, resolveu-se enviar um questionário a todas as

empresas e entidades que aparecessem relacionadas com o mergulho nos Açores.

A “Internet” foi o primeiro local em que se efectuaram as pesquisas para construir

uma base de dados das entidades a contactar, pela facilidade de obtenção dos dados e por a

actividade do mergulho amador estar intimamente ligada ao turismo, com a publicidade

inerente neste meio. A existência de alguns “sites” portugueses relacionados com o mergulho

onde se listam as companhias que operam de forma turística na região foi a pedra inicial da

construção da base de dados, sendo a informação complementada com dados de “sites”

estrangeiros Nos “sites” de organismos oficiais pouca informação útil foi encontrada, sendo

que a “página Web” da Direcção Regional de Turismo apresenta uma lista incompleta e

desactualizada. Foram adicionados alguns contactos fornecidos pelos operadores da ilha de

S. Miguel, bem como contactos pessoais de pessoas dentro da actividade.

Assim foi possível a elaboração de uma lista com cinquenta e cinco entidades

contendo todas as empresas e pessoas que foram referidas nos meios anteriormente descritos.

2.2.1.3 Escolha da metodologia de recolhaPela dispersão geográfica das ilhas do arquipélago a modalidade de inquérito por

entrevista não foi a escolhida por se tornar demasiado demorada e dispendiosa, não

garantindo a resposta, devido à sazonalidade de funcionamento de algumas das empresas.

Por se ter envolvido o Núcleo de Formação do Hospital do Divino Espírito Santo de

forma a conferir um cariz institucional ao projecto, ficou definido que os inquéritos seriam

distribuídos por envelope timbrado do Hospital, sendo enviados por correio simples às

entidades resultantes da lista inicial.

2.2.1.4 Trabalho de campo Foi dado um prazo de cinco dias para que o inquérito fosse respondido, através do

envelope de devolução gratuita. Ao fim de dez dias sem qualquer resposta foram iniciados

contactos telefónicos de forma a saber o estado da resposta ou o motivo da não resposta.

Page 42: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

42

2.2.1.5 Registo Informático da InformaçãoO registo informático das variáveis foi feito utilizando o software Excel, tendo-se

criado para o efeito um ficheiro de dados, processo levado a cabo em três passos:

preparações preliminares, definições das variáveis no computador e inserção de dados.

A última questão (P44), observações e sugestões, foram registadas numa tabela em

Word e alvo de análises de conteúdo, num processo autónomo (anexo VI).

Para além das variáveis contidas no próprio questionário, foram criadas outras, por

transformação ou associação das já existentes, para servirem de base ao cálculo de alguns

indicadores. É o caso das variáveis relacionadas com a segurança em que se agruparam

alguns dos itens de forma a retirar mais informações.

2.2.2 Carta à Força aérea PortuguesaO Sistema Regional de Saúde está organizado de forma a usar os meios aéreos

estacionados na Base Aérea nº 4 na Ilha Terceira para efectuar os transportes sanitários de

emergência em todo o arquipélago. Em caso de necessidade de evacuação de um acidentado

de mergulho de uma das ilhas são os meios aéreos desta base que serão postos em

funcionamento. A carta (anexo II) pretendeu averiguar quais os meios aéreos disponíveis, as

suas limitações de voo e o tempo de deslocação entre ilhas.

2.2.3 Cartas às transportadoras aéreasEstá previsto no sistema Regional de Saúde a evacuação de doentes graves para os

hospitais do continente Português. Devido à potencial gravidade das lesões dos acidentes

disbáricos e a falta de meios na região para os tratar, a evacuação para Lisboa poderá ser a

única solução. Pretendeu-se saber em que condições se poderá efectuar essa evacuação tendo

em conta as especificidades do acidentado através de uma carta enviada (anexo III).

2.2.4 Cartas aos Hospitais RegionaisActualmente a justificação económica de um centro de medicina hiperbárica, não se

prende com a assistência aos acidentes de mergulho, mas ao uso diário das instalações para

efectuar sessões de oxigenoterapia hiperbárica. Obter os dados das patologias com possível

referenciação para tratamento hiperbárico através dos Hospitais do Sistema Regional de

Saúde, pareceu ser a forma mais directa de resolver a questão. Assim foi enviada uma carta

(anexo IV) à direcção clínica de cada unidade com o pedido de ser distribuída uma cópia,

Page 43: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

43

aos directores de serviço das especialidades que pudessem beneficiar com a aplicação de

oxigenoterapia hiperbárica. Pretendeu-se também avaliar o grau de preocupação de cada

unidade com esta problemática, bem como o seu grau de conhecimento na matéria. Pelo

facto de o Hospital do Divino Espírito Santo em Ponta Delgada ter iniciado em 2001 o

sistema de codificação pelo ICD-9, a este hospital foram solicitados os números segundo

esses códigos referentes às patologias referenciáveis para oxigénio terapia hiperbárica

(anexo VII).

2.3 Construção de argumentos

O total desconhecimento sobre a realidade do mergulho nos Açores, contribui de

forma negativa para a subvalorização das questões relativas com o mergulho e a sua

importância no desenvolvimento turístico da região. A ideia de que é uma actividade sazonal

limitada a um pequeno número de mergulhadores locais, parece estar a ser ultrapassada. A

quantificação destes dados é necessária para se poder discutir seriamente este assunto.

Estatisticamente existe um risco inerente à actividade do mergulho, mesmo que se

cumpram todas as regras elementares de segurança. Quanto mais essa actividade se

desenvolve numa região, aumentando o número de praticantes da mesma, maior é o risco de

acidentes. É também do conhecimento geral que o aumento da actividade turística no

mergulho conduz ao inevitável aumento da concorrência no sector, com diminuição da

margem de lucro, levando os operadores a facilitar nas medidas de segurança para

rentabilizar o seu negócio. Pretende-se demonstrar o aumento da actividade nos Açores, bem

como o descuido pontual nas considerações de segurança.

A assistência ao mergulhador acidentado tem que ser rápida e eficiente. Apenas a

oxigenoterapia hiperbárica tem resultados satisfatórios no tratamento do acidente

descompressivo.

O estacionamento dos meios de salvamento e evacuação na base das Lajes, na Ilha

Terceira, condiciona de forma marcada o planeamento de evacuações de acidentes disbáricos

nos Açores pois, além do tempo de ligação do local do acidente para o centro de medicina

hiperbárico mais próximo, deve ser tido em consideração o tempo de chegada do meio aéreo

ao local do acidente. Através de estimativas dos tempos gastos nas várias fases por que passa

um acidentado de mergulho até ao início do tratamento é possível estabelecer um limite a

Page 44: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

44

partir do qual é preferível ter meios mais próximos para dar assistência ao acidente do que

contar com o sistema de evacuações.

Segundo a definição encontrada em normativas Europeias recentes, provenientes do

programa COST B14, um Centro de Medicina Subaquática e Hiperbárica é uma unidade

funcional de um hospital onde existe uma câmara hiperbárica e pessoal técnico especializado

na administração oxigenoterapia hiperbárica (O.H.B.). É assim claramente definido que uma

câmara hiperbárica isolada, fora da dependência de um Hospital não faz qualquer sentido e

que poderá, inclusive, constituir um risco para quem nela for colocado.

Como a rentabilidade e manutenção do centros de medicina hiperbárica passa pelos

tratamentos de oxigenoterapia hiperbárica efectuados, nos Açores parece existir um número

suficiente de doentes que justificam a opção de investir na criação desses centros. Com este

estudo pretendeu-se encontrar os números destas patologias em cada Hospital Regional e

efectuar uma estimativa do uso da câmara.

2.4 Apresentação e análise dos dados

2.4.1 Número de entidades relacionadas com o mergulhoO primeiro resultado relevante e condicionante dos restantes resultados foi a

esclarecimento do número de empresas relacionadas com actividades de mergulho.

Gráfico 2.2 – Entidades relacionadas com o mergulho nos Açores

0

2

4

6

8

10

12

14

Sant

a Mar

ia

São Mig

uel

Terceira

Pico

S. Jo

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Gracio

saFa

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Flore

s

Corv

o

Inicialmente apontadas Actualmente no activo

Mergulho profissional Responderam ao questionário

Page 45: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

45

O recurso ao contacto telefónico com as entidades, para esclarecimentos sobre

endereços e estado da resposta aos questionários, permitiu saber dentro de cada ilha o estado

das outras entidades ligadas ao mergulho e assim excluir algumas empresas inicialmente

tidas como activas, mas que já não apresentavam actividade regular ou que se dedicavam a

outro tipo de actividades marítimas.

Das cinquenta e cinco entidades inicialmente apontadas, foram incluídas no estudo

trinta, excluindo assim vinte e quatro entidades que se concluiu já não efectuarem mergulho

com escafandro autónomo e uma entidade que efectua os mergulhos através de um outro

centro presente no estudo. Apenas quatro das entidades excluídas o foram por devolverem o

envelope sem qualquer conteúdo.

Do total de entidades elegíveis para este trabalho, não responderam ao questionário

três, conforme demonstra o quadro de resultados. Seis das entidades contactadas declararam

não efectuar mergulho com fins turísticos, exercendo actividade meramente profissional ou

científica. Entendeu-se tratar os dados destas entidades de forma independente, para não

enviesarem os dados gerais devido à especificidade e número de mergulhos efectuados por

tais empresas. Do total de empresas no activo, 24 (80%) são anteriores a 2000. Durante o

intervalo do estudo surgiram em 2002 três novas empresas, em 2003 duas e em 2004 uma.

2.4.2 Número de mergulhadoresO número total de mergulhadores no Açores em 2004 foi de 2515. É interessante

notar que a grande maioria de

mergulhadores são turistas (78%), sendo

que os mergulhadores locais (485)

representam apenas 19% do total da região.

Os mergulhadores profissionais (63) apesar

de serem em pouco número (3%)

contribuem de forma decisiva para o total

de mergulhos pois efectuam vários

mergulhos por dia e durante todo o ano. A

média geral de idades é de 37 anos, com o

mergulhador mais novo apresentando 14

anos e o mais velho 71 anos de idade.

Locais19%

Turistas78%

Profissionais3%

Gráfico 2.3 - Distribuição dos mergulhadores por tipo

Page 46: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

46

2.4.3 Número de mergulhosO número total de mergulhos recreativos tem vindo a aumentar nos últimos anos nos

Açores, com uma marcada

subida a partir de 2001. Em

2000 o valor total andou na

casa dos 6011 mergulhos e

desde então tem-se registado

acréscimos anuais de 6,72%

em 2001, de 17,55% em

2002, de 9,93% em 2003 e

de 13,20% em 2004. Assim

chegou-se em 2004 a 9384

mergulhos. Apesar deste aumento, a média de mergulhos por centro de mergulho tem

aumentado de forma mais modesta, (597 em 2002 para 634 em 2004) manifestando o

aparecimento de mais empresas e uma maior distribuição dos mergulhadores pelas diferentes

entidades.

A sazonalidade do mergulho é uma tendência observável também nos Açores. Apesar

de se manter um número

razoável de mergulhos na

chamada época baixa, os

meses de Junho, Julho,

Agosto e Setembro,

representam 78,4% do

total dos mergulhos. As

ilhas que mais contribuem

para a concentração dos

mergulhos nos meses de

verão são o Corvo e S.

Jorge sendo que as ilhas de Santa Maria e S. Miguel mostram uma maior dispersão desta

actividade ao longo dos meses. Em complementaridade, os mergulhos de carácter

profissional foram em 2004 aproximadamente 5145.

0

1500

3000

4500

6000

7500

9000

10500

12000

13500

15000

2000 2001 2002 2003 2004

Grupo OrientalGrupo CentralGrupo OcidentalProfissionaisTotal

Gráfico 2.4 - Total de mergulhos nos Açores

0

5

10

15

20

25

30

Janeiro

Fevereiro

Março

Abril

Maio

Junho

Julho

Agosto

Setembro

Outubro

Novembro

Dezembro

Perc

en

tag

em

po

r m

ês

Gráfico 2.5 - Distribuição por mês dos mergulhos

Page 47: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

47

O número destes mergulhos tem-se mostrado estáveis notando-se inclusive

crescimento negativo em 2003 (-2,1%) e apenas ligeiramente positivo em 2004 (4,5%).

Como era previsível, esta classe de mergulhadores contribui de forma decisiva para os

mergulhos registados no Inverno com 47,8% dos mergulhos efectuados fora dos meses de

época alta (Junho, Julho, Agosto, Setembro).

Analisando os dados por ilhas verifica-se que S. Miguel lidera o número de

mergulhos efectuados em 2004, com 2859 mergulhos seguido da Terceira e Pico com 1500

mergulhadores cada. A ilha de São Jorge com 34 mergulhos é a ilha dos Açores com menos

actividade em 2004. A análise da evolução individual demonstra uma diferença nas

tendências por ilha.

S. Miguel com 300%, Pico 200%, Santa Maria 36%, S. Jorge 34% e Corvo 20% são

as ilhas que registaram aumentos do número de mergulhos de 2000 para 2004. A Graciosa

também faz parte deste número, com um aumento da ordem dos 1000%, em grande parte

devido à realização do XIII FotoSub (Concurso Nacional de Fotografia Subaquática) 2004

na ilha. A ilha Terceira apresenta uma tendência de estabilização, sem alteração do número

de mergulhos de 2000 para 2004. Com tendência negativa aparecem as ilhas das Flores com

-38% e a ilha do Faial com -36% de mergulhos.

Gráfico 2.6 - Distribuição dos mergulhos por ilha

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

2000 2001 2002 2003 2004

Santa MariaS.MiguelTerceiraS. JorgePicoGraciosaFaialFloresCorvo

Page 48: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

48

2.4.4 Tipo de mergulhoEfectuou-se novamente uma separação entre as entidades de mergulho profissional e

o mergulho recreativo.

Assim as empresas de mergulho turístico nos Açores têm aproximadamente 341

locais de mergulho numa média de 18 locais por empresa. A distância à costa dos locais de

mergulho é em média de 8 milhas náuticas, sendo o local mais longe a 44 milhas da costa. A

profundidade máxima dos mergulhos, em número absoluto é de 45 metros sendo a média das

diversas companhias 35 metros. A profundidade média de mergulho mais profunda registada

foi de 27 metros sendo a média 19 metros. O tempo total de imersão médio ronda os 40

minutos. 18 empresas (86%) organizam a sua actividade de forma a efectuarem mais que um

mergulho por dia. Das 21 empresas, 5 (24%) já registaram algum tipo de acidente de

mergulho (anexo V)

No que diz respeito ao mergulho profissional os mergulhadores deslocam-se a 159

locais numa média de 38 locais por empresa. A distância à costa dos locais de mergulho é em

média de 15 milhas náuticas, sendo o local mais longe a 45 milhas da costa. A profundidade

máxima dos mergulhos, em número absoluto é de 70 metros sendo a média das diversas

companhias 44 metros. A profundidade média de mergulho mais profunda registada foi de

30 metros sendo a média geral de 19 metros. O tempo total de imersão médio ronda os 71

minutos, com o maior tempo sendo 300 minutos. Todas as empresas organizam a sua

actividade de forma a efectuarem mais que um mergulho por dia. Das 6 empresas, 2 (33%)

usam mistura de gases nos seus mergulhos e 2 (33%) já registaram algum tipo de acidente de

mergulho (anexo V).

2.4.5 Cursos de mergulhoDas 21 entidades de mergulho recreativo em funcionamento 4 não efectuam cursos

de mergulho, pelo que foram eliminadas deste capitulo. Apenas 7 (41%) das empresas são

associadas da Federação Portuguesa de Actividades Subaquáticas. A distribuição das

empresas que leccionam, pelos organismos internacionais que dão apoio aos cursos de

mergulho é a seguinte: PADI – 13 (77%) CMAS – 7 (41%) TDI – 1 (6%). Duas empresas

declararam pertencer a dois organismos simultaneamente. Existem 31 instrutores nas

empresas de mergulho recreativo da Região, numa média de 1 (1,48) instrutor por escola. No

questionário, 9 empresas declararam ter apenas 1 instrutor.

Page 49: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

49

2.4.6 Segurança no mergulhoComo o questionário não previa inicialmente a diferenciação entre as empresas de

mergulho recreativo e as empresas de mergulho profissional, nas questões de segurança,

estas serão tratadas em conjunto. Das 27 entidades 2 (7%) não possuem sequer caixa de

primeiros socorros e também 7 (26%) não possuem Kit de administração de Oxigénio a

100%. No referente a seguros 6 (22%) empresas não têm seguro para acidentes de mergulho

e apenas 12 (44%) exigem seguro aos mergulhadores. Do total de entidades 3 (11%)

admitiram não possuir ninguém na empresa com conhecimentos de Suporte Básico de Vida.

Afirmaram ter plano de evacuações de acidentes 16 (59%) empresas. Não identificaram o

Hospital da Horta como o centro de medicina hiperbárica mais próximo 3 (11%) entidades.

2.4.7 Descrição dos acidentes decorridosFoi pedido às entidades contactadas que enumerassem e descrevessem os acidentes

de mergulho ocorridos durante as suas actividades. Das 30 entidades, actualmente no activo,

7 acusaram a ocorrência de acidentes, relatando-os de forma sumária e 1 enviou dois relatos

de acidentes ocorridos no Arquipélago e que pelas sua dimensão ou pelas suas

consequências, foram alvo de notícia em órgãos de comunicação social regionais (1) ou

foram alvo de relatórios de ocorrência (1).

Os acidentes descritos no anexo V, vão desde a falha no equipamento manuseado

com consequências para o seu operador, aos acidentes descompressívos, passando pelos

barotraumatismos dentários e sinusais. Estes dados demonstram que o padrão de gravidade

dos acidentes de mergulho nos Açores é semelhante ao que se registam nos locais onde se

realizam mergulho e que apesar de ser uma actividade segura, os acidentes têm uma

probabilidade estatística de acontecer e aumentam com o incremento da actividade.

Inclui-se no estudo as descrições dos acidentes ocorridos na ilha das Flores e Terceira

(anexos VI e VII) enviados por uma das entidades, não pela descrição mediática do modo de

ocorrência dos mesmos, mas pela exemplaridade das consequências de um sistema de

emergência ineficaz ou ausente.

2.4.8 Transferência de doentes inter-ilhas

Segundo os dados obtidos da Força Aérea Portuguesa existem duas aeronaves que

integram o dispositivo da Base Aérea N°4, estacionada. na Terceira.

Page 50: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

50

O helicóptero SA-330 PUMA e o avião C-212 AVIOCAR efectuam o transporte

inter-ilhas em caso de necessidade de evacuação de doentes e são activadas através da

coordenação da Unidade de evacuações aéreas do Hospital do Santo Espírito em Angra do

Heroísmo.

Estas aeronaves não dispõem de sistema de pressurização pelo que a altitude de

cabine coincide com a altitude de voo. A altitude mínima a que poderão ser efectuados os

voos entre ilhas é, caso as condições meteorológicas o permitam, de 100 m de dia e 150 m à

noite.

A aeronave C-212 Aviocar no período nocturno, por limitação dos sistemas de

iluminação das restantes pistas, só pode utilizar as pistas das Lajes (Terceira), Ponta Delgada

(São Miguel), Santa Maria e Horta (Faial). A aeronave SA-330 Puma pode operar. tanto de

dia como à noite, em todos os aeródromos da Região, ou a partir de outros heliportos e

locais, com condições.

Gráfico 2.7 - Tempo de vôo inter-lhas C-212 Aviocar

STA

MARIALPAZ

PTA

DELGADA

LPPD

LAJES

LPLA

GRACI

OSALPGR

SÃO

JORGELPSJ

PICO

LPPI

HORTA

LPHR

FLORE

SLPFL

CORV

OLPCR

STA MARIA

LPAZ

51 142 185 177 181 191 318 324

00:25 01.11 01:32 01:28 01:30 01:35 02:39 02:42

PTA DELGADA

LPPD

51 95 137 131 137 150 273 278

00:25 00:47 01:08 01:05 01:08 01:15 02:27 02:19

LAJES

LPLA

142 95 47 51 63 77 194 196

01:11 00:47 00:23 00:25 00:31 00:38 01:34 01:38

GRACIOSA

LPGR

185 137 47 27 38 48 145 147

01:32 01:08 00:23 00: 13 00:19 00:24 01:12 01:13

SÃO JORGE

LPSJ

177 131 51 27 12 26 140 148

01:28 01:05 00:25 00:13 00:06 00:06 01:08 01:14

PICO

LPPI

181 137 63 38 12 13 136 141

01:30 01:08 00:31 00:19 00: 06 00:06 01:08 01:10

HORTA

LPHR

191 150 77 48 26 13 124 131

01:38 01:15 00:38 00:24 00:13 00:06 01:02 01:05

FLORES

LPFL

318 273 194 145 140 136 124 14

02:39 02:17 01:37 01:12 01:10 01:08 01:02 00:07

CORVO

LPCR

324 278 196 147 148 141 131 14

02:42 02:19 01:38 01:13 01:14 01:10 01:05 00:07

Page 51: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

51

Relativamente ao vento o C- 212 Aviocar está limitado a um máximo de intensidade

de 35Kts, caso a direcção deste seja coincidente com a pista. Porém se a direcção do vento

for perpendicular à pista a intensidade máxima admissível será reduzida para 20 Kts.

Os Helicópteros SA-330 Puma estão limitados a um máximo de intensidade de vento

de 45 Kts, este limite pode ser reduzido até 30 Kts, dependendo da direcção do vento em

relação à pista.

Ambas as aeronaves têm raio de acção para efectuar o transporte entre qualquer ilha,

tendo presente o referido anteriormente. A distância entre aeródromos e o correspondente

tempo de voo para cada aeronave são apresentados nas tabelas.

Nenhuma destas aeronaves dispõe de sistema para fornecimento de oxigénio ao

paciente, normalmente esse oxigénio é providenciado pela equipa médica que faz o

acompanhamento.

STA

MARIALPAZ

PTA

DELGADA

LPPD

LAJES

LPLA

GRACI

OSALPGR

SÃO

JORGELPSJ

PICO

LPPI

HORTA

LPHR

FLORE

SLPFL

CORV

OLPCR

STA MARIA

LPAZ

51 142 185 177 181 191 318 324

00:20 00:55 01:15 01:10 01.10 01:15 02:08 02:09

PTA DELGADA

LPPD

51 95 137 131 137 150 273 278

00:20 00:40 00:55 00:55 00:55 01 :00 01:49 01:50

LAJES

LPLA

142 95 47 51 63 77 194 196

00:55 00:40 00:20 00:20 00:30 00:31 01:18 01:18

GRACIOSA

LPGR

185 137 47 27 38 48 145 147

01:15 00:55 00:20 00: 15 00:20 00:20 00:58 01:00

SÃO JORGE

LPSJ

177 131 51 27 12 26 140 148

01:10 00:55 00:20 00:15 00:10 00:10 00:56 01:00

PICO

LPPI

181 137 63 38 12 13 136 141

01:10 00:55 00:30 00:20 00: 10 00:10 00:55 00:55

HORTA

LPHR

191 150 77 48 26 13 124 131

01:15 01:00 00:31 00:20 00:10 00:10 00:50 00:52

FLORES

LPFL

318 273 194 145 140 136 124 14

02:08 01:49 01:18 00:58 00:56 00:55 00:50 00:10

CORVO

LPCR

324 278 196 147 148 141 131 14

02:09 01:50 01:18 01:00 01 :00 00:55 00:52 00:10

Gráfico 2.8 - Tempo de vôo inter-lhas SA-330 Puma

Page 52: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

52

Na análise dos quadros de tempos de voo entre ilhas deve ser tido também em conta

os seguintes tempos aproximados:

• Chegada ao Hospital ou Centro de Saúde - 40 minutos;• Espera pelo atendimento - 20 minutos;• História clínica e exames complementares de diagnóstico - 30 minutos;• Tempo até decisão de activação do meio aéreo - 30 minutos;• Rolagens e autorizações de decolagem – 40 minutos• Preparação meio aéreo - 10 minutos;• Colocação do acidentado no meio aéreo - 20 minutos;• Colocação do acidentado na câmara - 30 minutos.

Assim se prevê aproximadamente 3 horas de tempo “morto” a adicionar aos tempos

de deslocação efectiva, compatível com os dados obtidos de actuações semelhantes

anteriores (acidente na ilha das Flores em 1998, anexo VI).

2.4.9 Transferência de doentes para o continente PortuguêsA SATA internacional informou através de fax que “o máximo diferencial de

pressurização dos Airbus é de 8.4 PSI. O que significa que num voo normal entre os Açores

e Lisboa, a altitude de cabine dos nossos aviões anda na casa dos 6000 pés ± 2000 mts de

altitude dentro da cabine” Esse valor é francamente acima do pretendido em caso de

necessidade de evacuação de um acidente disbárico. A juntar a este facto, não existem voos a

todas as horas o que aumenta o tempo “morto” na assistência ao acidente disbárico para

valores superiores aos desejados.

2.4.10Doentes referenciáveis para OHB

2.4.10.1Hospital do Divino Espírito Santo (S. Miguel)O Hospital do Divino Espírito Santo é o maior hospital da região servindo a ilha de

S. Miguel e de Santa Maria, bem como alguns casos evacuados dos outros hospitais, num

total de cerca de 137.000 habitantes.

Este Hospital é praticamente autónomo em todas as áreas de actuação estando em

falta duas especialidades de intervenção em urgência, (cirurgia cardiotorácica e pediátrica) e

algumas áreas de diferenciação dentro das especialidades como é o caso de cirurgia hepática.

Integrado numa infra-estrutura nova, inaugurada em 2000, possui uma unidade de cuidados

intensivos com capacidade para dez pacientes.

Page 53: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

53

Quando se deu início ao levantamento dos dados, em vez da pesquisa individual por

serviço ou por processo único, foi sugerido que se usasse o serviço de codificação do

hospital, por este sistema apresentar maior facilidade, fiabilidade e disponibilidade.

O Hospital de Ponta Delgada iniciou o seu processo de codificação através do ICD-9

em 2001. Apesar de ainda não cobrir todas as especialidades existentes no Hospital, por uma

Procedimentos ICD-9 2000 2001 2002 2003 2004(Jun)Revisão de amputação 84.3 2Revisão de enxerto cutâneo livre 86.60-6 4 23 18 16Revisão de enxerto pediculado 86.70-5 31 30 20 12Excisão de tecido para enxerto 86.91 2Condições clínicas Actinomicose 039.0-4 1Ferida/úlcera diabética 250.7 24 42 19Doença de Buerger 443.1 7 6 9 2Doença vascular periférica 443.9 6 2Isquémia arterial superior 444.21 3 3 2 3Isquémia arterial inferior 444.22 3 11 18 18 14Úlcera de insuficiência arterial 447.2 1Varicose com úlcera de estase 454.0 6 5 4 2Varicose com úlcera e inflamação 454.2 2 26 16 14 4Osteomielite mandibular 526.4 3 1 1 1Osteoradionecrose mandibular 526.89 1Úlcera de decúbito 707.0 2 4 5 2Úlcera crónica(excepto decúbito) 707.1 6 13 12 6Úlcera crónica (não especificada) 707.8-9 1 4 4Fasceíte necrotizante 729.4 24Osteomielite crónica 730.0-9 5 3 3 5Gangrena diabética 785.4 1 18 45 20 18Isquémia traumática 900-04 1 1 1Lesão por esmagamento 927-28 5Queimaduras termais agudas 940-49 1 25 32 26 15Infecção do coto de amputação 997.62 1 1Total 8 157 233 201 149

Tabela 2.5 - Doentes referenciáveis à Oxigenoterapia hiperbárica

Page 54: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

54

feliz casualidade as especialidades com mais peso nos doentes referenciáveis para

Oxigenoterapia hiperbárica, como é o caso da cirurgia vascular e a cirurgia plástica, já estão

introduzidas no sistema e os seus dados são de fácil e rápido acesso. Apesar de não se obter

números de todas as patologias referenciáveis constantes do quadro resumo, por não

codificação de alguns sectores do Hospital, como é o caso do Serviço de Urgência, onde o

autor se recorda de ter prestado assistência a 4 intoxicações por monóxido de carbono, que

não vêm referenciadas, o quadro resumo apresenta a seguinte configuração:

Alguns dos números

parecem querem revelar um

de f i c i en t e p roces so de

codificação ou uma omissão de

casos nos anos anteriores, pois

estatisticamente não parece

razoável crer, por exemplo, que

em 2004 vinte e quatro pacientes

foram tratados por fasceíte

necrotizante e que nos anos

anteriores nenhuma ocorrência tenha sido registada.

No entanto o número total de pacientes referenciáveis ao longo dos últimos 3 anos,

juntamente como os dados preliminares de 2004 (primeiro semestre) parecem querer indiciar

uma média anual de 200 doentes, ou seja aproximadamente 16 doentes por mês.

2.4.10.2Hospital do Santo Espírito (Terceira)Não foi obtida qualquer resposta deste hospital pelo que, os números dos doentes

referenciáveis para oxigenoterapia hiperbárica apenas poderão ser extrapolados por

equiparação dos dados do Hospital de Ponta Delgada, tendo em conta as populações que

servem cada um dos Hospitais. O número real será inevitavelmente inferior ao extrapolado

pois o Hospital de Angra do Heroísmo não possui a especialidade de Cirurgia Plástica, uma

das grandes “utilizadoras” da oxigenoterapia hiperbárica. Assim se o Hospital do Divino

Espírito Santo servindo uma população de 137.000 pessoas, têm em média 16 doentes por

mês para OHB, o Hospital do Santo Espírito servindo uma população de 56.000 pessoas

teria aproximadamente 6 pessoas por mês.

0

50

100

150

200

250

2000 2001 2002 2003 2004(Jun)

Gráfico 2.9 - Número de doentes potencialmente referenciáveis para OHB

Page 55: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

55

2.4.10.3Hospital da Horta (Faial)Não foi obtida qualquer resposta deste hospital pelo que, os números dos doentes

referenciáveis para oxigenoterapia hiperbárica apenas poderão ser extrapolados por

equiparação dos dados do Hospital de Ponta Delgada, tendo em conta as populações que

servem cada um dos Hospitais. O número real será inevitavelmente inferior ao extrapolado

pois o Hospital da Horta não possui as especialidades de Cirurgia Vascular e de Cirurgia

Plástica, as grandes “utilizadoras” da oxigenoterapia hiperbárica. Assim se o Hospital do

Divino Espírito Santo servindo uma população de 137.000 pessoas, têm em média 16

doentes por mês para oxigenoterapia hiperbárica, o Hospital da Horta servindo uma

população de 49.000 pessoas teria aproximadamente 6 pessoas por mês.

.11 Apresentação dos custos de instalaçãoDe forma a evitar especulações e conceitos errados, sobre o custo da implementação

de sistemas hiperbáricos na Região e para que se pudesse discutir o assunto abertamente,

resolveu-se incluir neste trabalho uma projecção de custos de aquisição e instalação do

equipamento necessário, com base num pedido de informação geral a uma empresa líder de

mercado na área que produz os equipamentos adequados aos tratamentos hiperbáricos

hospitalares.

Os preços indicados apenas servem como indicadores da grandeza dos valores em

causa e um orçamento concreto deverá ser pedido para se apurar os valores reais. Conforme

o anexo V temos o Pacote base que inclui o sistema de tratamento médico hiperbárico para

seis pessoas com antecâmara para 2 pessoas, a estação de controlo compacta, o sistema de

extinção de incêndios, o sistema de ar comprimido baixa pressão e o sistema de oxigénio

pelo montante aproximado de 290.860,00 Euro sem IVA. A manutenção anual, incluindo re-

certificação anual, custará cerca de 23.000,00 Euro. A mesma câmara na versão de apenas 4

pacientes, com ante câmara para duas pessoas e o mesmo volume de fornecimento tem um

preço para o pacote base aproximado de 260.000,00 Euro e de manutenção anual um custo

de cerca de 19.000,00 Euro.

2.2 Interpretação dos dados

Um conhecimento integral do que foram os últimos quatro anos, principalmente nas

ilhas mais distantes de S. Miguel, tornou-se por vezes difícil, quer pelas alterações

Page 56: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

56

permanentes nas empresas, quer pela sazonalidade da actividade, tal como ficou provado

pelo que se foi inquirindo nos contactos telefónicos. As rápidas e recentes mudanças no tipo

de turismo que se efectua nos Açores, levaram a que algumas empresas alterassem o seu

padrão de funcionamento, dedicando-se mais à observação de cetáceos e passeios marítimos.

O mergulho nos Açores, ao exemplo de outras regiões, demonstra um padrão sazonal

nos meses de verão principalmente na actividade de mergulho recreativo.

Com a excepção de S. Jorge a distribuição dos mergulhos por ilha segue um padrão

não proporcional, mas semelhante ao da densidade demográfica. A maioria das empresas no

sector situam-se em S. Miguel. As preocupações de segurança das empresas são na

globalidade aceitáveis, havendo necessidade no entanto de efectuar acções de formação, com

simulacros de acidentes, no sentido de esclarecer sobre a melhor actuação em caso de

qualquer eventualidade. No entanto, na actualidade, essa preparação esbarra na incapacidade

do Sistema Regional de Saúde em tratar os acidentes descompressivos oriundos do grupo

oriental e ocidental.

Poderá considerar-se para efeitos de planeamento que qualquer acidente que ocorra

numa ilha que envolva mais que duas horas de tempo de voo efectivo de transferência (às

quais se adiciona as três horas de tempo “morto” posteriormente encontrado) se aproxima de

forma não desejável do limite das seis horas tidas como ideais para o início do tratamento

hiperbárico. Conclui-se assim que em caso de acidente descompressivo com necessidade de

tratamento hiperbárico, a evacuação aérea deve limitar-se a transferências dentro do mesmo

agrupamento geográfico do arquipélago.

Desta forma não são suficientes as estruturas actuais de assistência aos acidentes

descompressivos, quer pelo aumento da actividade recreativa, quer pela inadequação dos

meios aéreos para responder rapidamente, em caso de acidente de descompressão, caso estes

ocorram no Grupo Oriental ou Ocidental.

A esta realidade acresce o facto da existirem aproximadamente 16 doentes por mês,

no Hospital do Divino Espírito Santo, referenciáveis para tratamento hiperbárico, o que só

por si, justifica a criação de um centro de medicina hiperbárica. Tendo em conta que um

doente efectua pelo menos 20 sessões de oxigenoterapia hiperbárica, ocupando um lugar na

câmara durante um mês (5 dias por semana durante 4 semanas) para os 16 doentes por mês é

necessário efectuar 2 sessões de tratamento por dia com 8 pessoas em cada sessão, numa

Page 57: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

57

câmara “multiplace” para 8 pessoas. São estes tratamentos que vão permitir a rentabilização

financeira da câmara e a “profissionalização” dos técnicos dedicados ao seu funcionamento,

criando assim uma estrutura fundamentada, não sujeita às oscilações típicas de estruturas

montadas baseando-se apenas na dedicação dos intervenientes.

Page 58: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

58

3 ConclusõesNão existe qualquer registo oficial minimamente actualizado das entidades

relacionadas com o mergulho nos Açores sendo necessário recorrer a “sites” estrangeiros de

empresas de turismo para obter as referências mais recentes. Numa Região que se pretende

turística, tal facto tem que mudar.

Não foi possível encontrar qualquer outro levantamento sobre a realidade do

mergulho nos Açores ou qualquer estatística sobre a actividade. É no mínimo estranho, ter-se

elaborado, de forma fundamentada, planos e investimentos no sector sem estes dados.

Na sua maioria as empresas foram receptivas ao estudo e apoiaram a iniciativa, o que

demonstra interesse dos operadores na problemática e vontade de participar na resolução das

limitações.

Existe um aumento real do número de mergulhos efectuados na Região. Segundo os

dados apurados a ideia de que se trata de uma actividade com pouca expressão, ligada

principalmente aos mergulhadores locais, deve ser abandonada pois a grande maioria dos

mergulhadores são turistas e o seu número tem vindo a aumentar todos os anos.

A actividade profissional do mergulho nos Açores, apesar de pouco conhecida,

regista um número de imersões anuais superiores aos registados por cada grupo de ilhas da

região. A sua caracterização é mandatória nos próximos tempos para se garantir a segurança

destes mergulhadores.

A actual infra-estrutura de apoio ao mergulhadores é insuficiente e está

desactualizada. O apoio aos acidentes disbáricos não está garantido no grupo Oriental e

Ocidental. Parece existir também um défice de conhecimentos teóricos, em patologias

disbáricas, nos médicos da região. Estas situações predispõem a que situações reversíveis e

tratáveis, se tornem em lesões graves e permanentes.

O Hospital do Divino Espírito Santo têm um número suficiente de doentes

potencialmente referenciáveis a tratamento de oxigenoterapia hiperbárica para justificar a

instalação, manutenção e rentabilidade de um Centro de Medicina Hiperbárica nas suas

instalações.

Não é possível tecer qualquer consideração sobre a funcionalidade e rentabilização

de um centro de medicina hiperbárica nos Hospitais da Horta(Faial) e do Santo Espírito

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(Terceira,) pela falta de colaboração dos mesmos neste estudo. É certo, no entanto, que uma

câmara hiperbárica no hospital da Horta (Faial) é fundamental para a correcta assistência aos

acidentes disbáricos no grupo Central.

Preconiza-se assim, para uma distribuição racional e económica dos meios o

seguinte Sistema Regional de Medicina Subaquática e Hiperbárica.

• Um Centro de Medicina Hiperbárica no Hospital de Ponta Delgada

• Um Centro de Medicina Hiperbárica no Hospital da Horta

• Um sistema hiperbárico no Centro de Saúde das Lajes das Flores

• Uma câmara de transporte localizada na Base Aérea 4, na Ilha Terceira

O Centro de Medicina Hiperbárica do Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta

Delgada, deverá assegurar o tratamento dos acidentes disbáricos provenientes da ilhas São

Miguel, Santa Maria e Terceira, garantir os tratamentos de oxigenoterapia hiperbárica aos

doentes provenientes do grupo oriental e efectuar os exames de aptidão para mergulho

amador e profissional. Este centro garantirá as situações de inactivação do Centro de

Medicina Hiperbárica do Hospital da Horta e a manutenção da câmara de transporte

localizada na Base aérea 4, na Ilha Terceira.

Figura 3.1 - Mapa dos Açores com o número de mergulhos em 2004 e o raio de acção das futuras unidades de assistência aos acidentes disbáricos

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A câmara hiperbárica a ser

adquirida deverá ter uma

capacidade mínima para 8 pessoas,

possuir uma antecâmara de

descompressão e ser de uma

empresa que garanta qualidade e

manutenção de todo o sistema.

Tendo em conta que se trata do

equipamento mais dispendioso de

todo o sistema a decisão de

aquisição da câmara, com a consequente contratação da empresa vencedora para a instalação

e manutenção periódica do equipamento, é uma decisão que deverá ser tomada tendo em

conta não só os aspectos económicos, mas também os critérios de segurança e fiabilidade

exigidos neste tipo de equipamentos. É importante garantir que se trata de um sistema

médico com características hospitalares e não um sistema de mergulho adaptado à realidade

hospitalar.

O Centro de Medicina Hiperbárica do Hospital da Horta deverá assegurar o

tratamento dos acidentes disbáricos provenientes da ilhas Faial, Pico, S. Jorge Graciosa e

Terceira, bem como garantir o funcionamento e manutenção do sistema hiperbárico no

Centro de Saúde de Santa Cruz das Flores em caso de emergência. Deve garantir os

tratamentos de oxigenoterapia hiperbárica aos doentes provenientes do Grupo Central e

Ocidental, bem como efectuar os exames de aptidão para mergulho amador e profissional.

Este centro garantirá as situações de inactivação do Centro de Medicina Hiperbárica do

Hospital do Divino Espírito Santo (Ponta Delgada).

Apesar dos cálculos teóricos sobre os números justificativos nos apresentarem cerca

de 6 pacientes por mês para tratamento hiperbárico, o desconhecimento da realidade do

hospital, as dimensões da câmara e as suas especificações deverão ser definidas com os

responsáveis pelo seu funcionamento.

O Sistema Hiperbárico no Centro de Saúde de Santa Cruz das Flores servirá como

unidade de emergência em caso de acidente disbárico no grupo ocidental devendo ser

activado e coordenado por um dos centros de medicina hiperbárica da Região, isso enquanto

Figura 3.2 - Exemplo das instalações de um centro de medicina hiperbárica (Hospital da Marinha - Lisboa)

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um dos médicos com formação em medicina hiperbárica se desloca para o local num dos

meios de evacuação equipados com a câmara de transporte.

A câmara a instalar neste

centro de saúde, poderá ser a câmara

em uso no Hospital da Horta, após as

devidas aprovações do Clube Naval

da Horta e as remodelações

necessárias para o desempenho da

novas funções. Seria necessário

garantir formação técnica a uma

equipa no centro de saúde para que,

coordenados por um médico dos

centros de medicina hiperbárica,

dessem início ao tratamento necessário.

A câmara de transporte deverá estar localizada na Base aérea 4, na ilha Terceira,

sendo colocada no interior do meio de transporte escolhido quando se activar o sistema de

evacuação por patologia disbárica. Poderá ser utilizada para evacuar acidentes da própria

ilha, caso se consiga formar uma equipa com os conhecimentos necessários para manter o

doente estável durante o transporte para o centro de medicina hiperbárica mais conveniente .

Seria importante verificar a

possibilidade técnica de adaptar, a

câmara que se encontra no Clube

Naval de Ponta Delgada para fins

de apoio a mergulhos pontuais e

específicos, instalada num barco de

apoio como é o caso dos trabalhos

profissionais ou científicos.

Por indefinição em relação ao

número de tratamentos hiperbáricos

potenciais, pela falta de pessoal com interesse na área, pela sua distância em relação às ilhas

de S. Miguel e Faial, por ter facilidade de aceso aos meios aéreos de evacuação com a

Figura 3.3 - Interior de uma câmara hiperbárica destinada a tratamentos médicos

Figura 3.4 - Exemplo de câmara de transporte (Base Naval do Alfeite - Montijo)

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possibilidade de se criar a unidade móvel de transporte de doentes disbáricos, a instalação de

um centro de medicina hiperbárica no Hospital do Santo Espírito na Terceira, representa um

custo que não trará benefícios acrescidos e encarecerá todo o projecto, pelo que a sua

instalação é desaconselhada por agora.

A formação específica, nesta área, dos técnicos de saúde que trabalham nas unidades

de cuidados primários, deverá ser um dos pontos prioritários, após a adequação do sistema

aos novos moldes.

Fica a ideia que com um investimento público baixo, é possível dotar a Região dos

equipamentos necessários, sendo importante, no entanto, garantir o acréscimo orçamental

para as despesas de manutenção e operacionalidade dos sistemas. Segundo as análises de

alguns centros públicos, os custos diários de operação dos sistemas no que respeita a

remunerações do pessoal, material gasto e gases utilizados, é suplantando pelos benefícios

fornecidos pela terapia no contexto do orçamento global. Na esfera do orçamento público a

rentabilidade de um centro de medicina hiperbárica deve ser enquadrada no contexto do

orçamento dos gastos com tratamentos, mas também no orçamento do gastos com medicina

preventiva. No domínio privado existem vários centros em países da Europa que registam

uma actividade económica positiva, quando inseridos numa rede de acordos com os sistemas

de saúde do pais.

O Centro de Medicina hiperbárica do Hospital da Marinha em Lisboa, por exemplo,

têm como fontes de rendimento os acordos com os subsistemas de saúde, e os honorários

das consultas de aptidão para o mergulho, o que permite manter dois sistemas hiperbáricos

com capacidade para cerca de 40 pessoas em simultâneo.

O custo deste projecto, poderá ser ainda menor se forem tomadas iniciativas por parte

do Governo Regional que garantam o recurso a financiamentos comunitários, como é o

programa Saúde XXI ou ao apoio dos Estados Unidos da América, quer na instalação dos

equipamentos, quer em protocolos de formação de pessoal, através do acordo da base das

Lajes, o que proporciona um financiamento exterior elevado ao mesmo tempo que se

controla os custos locais. A correcta gestão dos quadros de pessoal a trabalhar nos centros de

medicina hiperbárica, através da articulação com outros serviços já existentes reduzirá

também os gastos de operacionalidade e proporcionará a elasticidade necessária na gestão de

pessoal.

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Não é de desprezar também que, no contexto do início dos preparatórios do curso de

medicina na Universidade dos Açores no seu pólo de Ponta Delgada, se criará no Hospital do

Divino Espírito Santo um ambiente académico propício para o aparecimento de projectos de

investigação universitária na área médica. A medicina subaquática e hiperbárica é uma área

com grande potencial, muito relacionada com os Açores, quer pela sua situação geográfica,

quer pelo seu potencial subaquático. Desta forma, o Hospital do Divino Espírito Santo e a

Universidade dos Açores poderiam desenvolverem projectos conjuntos de investigação e

notabilizar-se numa área especifica do conhecimento médico.

A utilização da câmara hiperbárica a bordo do “Fotiy Krylov” não é recomendada

pela indefinição da sua capacidade de resposta a uma situação destas. Existem também

questões do foro jurídico sobre a responsabilidade médica, a bordo de um navio não

Português, bem como a questão do financiamento do tratamento. Durante a fase de projecto

e implementação de todo o sistema o uso da câmara abordo do rebocador “Fotiy Krylov”

apenas deve ser considerada no apoio a intervenções de mergulho profissional e em casos de

acidente grave, em que não exista outras alternativas.

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4 Anexos

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Anexo I – Questionário dirigido aos centros de mergulho

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__________________________________________________________________________Hospital do Divino Espírito Santo

Grotinha – Arrifes

9500-370 – Ponta Delgada

_____________________Telefone: 296 203 000 _Fax: 296 203 090___________________

Assunto: Realização de estudo estatístico

Exmo. Sr.

O contacto da empresa de V. Exa. encontra-se em diversas bases de dados como sendo uma empresa operadora de mergulho, na Região Autónoma dos Açores. Se tal dado for incorrecto por favor devolva o envelope disponibilizado, sem qualquer conteúdo de forma a evitar futuros contactos desnecessários. Se tal informação estiver correcta, leia por favor a seguinte carta.

O Hospital de Divino Espírito Santo, através do seu Núcleo de Formação Profissional em cooperação com o Dr. Luís Mendes Cabral no âmbito do Mestrado em Medicina Subaquática e Hiperbárica da Universidade de Barcelona, vem desta forma solicitar a colaboração de V. Exa. no projecto de tese que está a ser desenvolvido, que terá como título: “Açores – estudo sobre as necessidades de Medicina Hiperbárica”

Para tal, e como representante da empresa mergulho, gostaríamos que respondesse ao questionário em anexo, contribuindo assim para um estudo estatístico da evolução e do estado actual do mergulho nos Açores.

Na impossibilidade total de se encontrar exactamente os números pedidos, a sua mais aproximada estimativa é fundamental para o sucesso do estudo. Garantimos desde já que os dados apenas serão utilizados para o estudo e que não serão revelados dados individuais, apenas dados estatísticos globais das empresas participantes.

De salientar que, a adesão do centro de V. Exa. ao estudo através da devolução do respectivo questionário, pode ser fundamental para desbloquear o impasse a que chegamos a nível da medicina hiperbárica no Açores pelo que peço a V. Exa. que dispense alguns minutos para a sua elaboração.

A recepção da informação até ao final do ano é essencial para a inclusão da mesma no estudo, pelo que solicitávamos a devolução do questionário até dia 15 de Janeiro de 2005.

Agradecendo desde já toda a disponibilidade demonstrada, estamos ao dispor de V. Exa. através dos contactos da nossa Instituição para o esclarecimento de qualquer dúvida.

Atenciosamente,

O responsável médico do NFP

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Questionário sobre a realidade do mergulho no Açores

Identificação

Empresa………………………………....…………………Ano de início de actividade……...Responsável……………………………………Contacto telefónico………………………….Morada………………………………………………………………..C. Postal………………Endereço Web……………………………………..E-mail……………………………………

MergulhosNúmero de mergulhadores em 2004: Locais..…..Turistas.…..Idades (mín-máx)…………….Número de mergulhos por ano

2000 2001 2002 2003 2004

Distribuição de mergulhos por mês*Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

* Indique o número ou a percentagem aproximada por mês do total de 2004

Em quantos locais efectuam mergulho.……….Distancia da costa do local mais distante.…...Profundidade máxima dos mergulhos……..….Profundidade média dos mergulhos.....………Duração média dos mergulhos…….…..Efectuam mergulho de carácter profissional ?……....Efectuam mergulho com misturas de gases?.….Realizam mais que um mergulho por dia ? …Já registaram algum acidente de mergulho?...…(se sim, descreva-os no verso do documento)

Cursos de mergulhos

O centro é filiado na FPAS?......Qual o organismo internacional que dá apoio aos cursos....…Número de cursos de mergulho por ano……………..Número de alunos por curso……….….Número de instrutores da escola………………..Nível máximo de curso ministrado…….…...É exigido o exame médico-desportivo?.....Existe acompanhamento por pessoal de saúde ? ....

Segurança

Existe kit de primeiros socorros?….Existe Kit de administração de Oxigénio a 100% ?……..Existe seguro para acidentes de mergulho?…É exigido seguro aos mergulhadores?…….…...Quantas pessoas têm curso de suporte básico de vida?...Existe plano de evacuação de acidentes?..............Qual o centro de medicina hiperbárica de referencia mais próximo? …………………………

Observações e sugestões:

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Anexo II – Carta dirigida à Força Aérea Portuguesa

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__________________________________________________________________________Hospital do Divino Espírito Santo

Grotinha – Arrifes

9500-370 – Ponta Delgada

_____________________Telefone: 296 203 000 _Fax: 296 203 090___________________

Centro Coordenador de Busca e Salvamento das LajesBase Aérea nº 49760-277 Praia da Vitória

Assunto: Colaboração em estudo científico

Exmo. Sr.

O Hospital de Divino Espírito Santo, através do seu Núcleo de Formação Profissional em cooperação com o Dr. Luís Mendes Cabral no âmbito do Mestrado em Medicina Subaquática e Hiperbárica da Universidade de Barcelona, vem desta forma solicitar a colaboração de V. Exa. no projecto de tese que está a ser desenvolvido, que terá como título: “Açores – estudo sobre as necessidades de Medicina Hiperbárica”

Para tal, como entidade que garante a evacuação e transporte de doentes dos inter-ilhas, gostaríamos que esclarecesse algumas questões de ordem técnica, respeitantes ao transporte de acidentados de mergulho.

Devido ao facto da patologia ser causada pelas alterações da pressão atmosférica e posteriores alterações poderem agravar o quadro clínico, gostaríamos de saber qual a pressurização máxima, ou seja altura simulada mínima a que pode ser submetida a cabine dos aviões e helicópteros nos voos entre os principais aeroportos Açorianos. Em caso de se tratarem de cabines não pressurizadas, qual a altitude mínima que poderá ser efectuada na ligações entre as ilhas partindo do principio que os acidentados de mergulho não deverão ultrapassar os 300 metros de altitude.

Para o estudo é necessário saber também as limitações operacionais dos aviões e helicópteros, quer a nível de raio de acção, quer de condições atmosféricas ou de luminosidade, pois tendo em conta que o acidentado de mergulho deve ser tratado nas primeiras 6 horas após o acidente, qualquer factor que pudesse por em causa o transporte do doente, pode ser o justificativo para a instalação de uma câmara hiperbárica nos locais de difícil operacionalidade, como poderia ser por exemplo as Flores.

Seria importante saber também qual a capacidade, em termos de total de horas, do fornecimento dos vossos sistemas de Oxigénio tendo em conta um débito de 15 litros por min. Como será obvio tal débito só será aplicado se o sistema de renovação de ar puder fazer face à acumulação de oxigénio na cabine.

Agradecendo desde já toda a disponibilidade demonstrada,

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Anexo III – Carta dirigida à SATA Internacional

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__________________________________________________________________________Hospital do Divino Espírito Santo

Grotinha – Arrifes

9500-370 – Ponta Delgada

_____________________Telefone: 296 203 000 _Fax: 296 203 090___________________

SATA Internacional Av. Infante D. Henrique, 55

9504-528 Ponta Delgada

Assunto: Colaboração em estudo científico

Exmo. Sr.

O Hospital de Divino Espírito Santo, através do seu Núcleo de Formação Profissional em cooperação com o Dr. Luís Mendes Cabral no âmbito do Mestrado em Medicina Subaquática e Hiperbárica da Universidade de Barcelona, vem desta forma solicitar a colaboração de V. Exa. no projecto de tese que está a ser desenvolvido, que terá como título: “Açores – estudo sobre as necessidades de Medicina Hiperbárica”

Para tal, como entidade que garante a evacuação de doentes dos Açores para Portugal continental, gostaríamos que esclarecesse algumas questões de ordem técnica, respeitantes ao transporte de acidentados de mergulho.

Devido ao facto da patologia ser causada pelas alterações da pressão ambiente e posteriores alterações poderem agravar o quadro clínico, gostaríamos de saber qual a pressurização máxima, ou seja altura mínima simulada a que pode ser submetida a cabine dos diferentes aviões da vossa companhia nos voos entre os principais aeroportos Açorianos e Lisboa e se tal altitude pode ser assegurada durante todo o voo, partindo do princípio que se trata de uma ligação comercial.

Seria importante saber também qual a capacidade, em termos de total de horas, do fornecimento dos vossos sistemas de Oxigénio tendo em conta um débito de 15 litros por min. Como será obvio tal débito só será aplicado se o sistema de renovação de ar puder evitar a acumulação de oxigénio na cabine.

Agradecendo desde já toda a disponibilidade demonstrada,

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Anexo IV – Carta dirigida aos Hospitais da Região

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__________________________________________________________________________Hospital do Divino Espírito Santo

Grotinha – Arrifes

9500-370 – Ponta Delgada

_____________________Telefone: 296 203 000 _Fax: 296 203 090___________________

Exmo. Sr. Director Clínico

Assunto: Realização de estudo estatístico

Exmo. Sr. Dr.

O Hospital de Divino Espírito Santo, através do seu Núcleo de Formação Profissional em cooperação com o Dr. Luís Mendes Cabral no âmbito do Mestrado em Medicina Subaquática e Hiperbárica da Universidade de Barcelona, vem desta forma solicitar a colaboração de V. Exa. no projecto de tese que está a ser desenvolvido, que terá como título: “Açores – estudo sobre as necessidades de Medicina Hiperbárica”

Para tal, se não encontrar qualquer inconveniente, gostaria que se dignasse fazer chegar esta carta aos directores de serviço de Cirurgia Plástica, Medicina Interna, Cirurgia Geral, Cirurgia Plástica, Urgências, Ortopedia, Oncologia, Gastrenterologia, Otorrinolaringologia, Oftalmologia e Neurologia (os que existirem no Hospital) de forma a se poderem recolher os dados necessários para justificar, ou não, a instalação de uma Unidade de Medicina Hiperbárica.

A Medicina Hiperbárica é uma área médica em franca evolução e que tem registado importantes desenvolvimentos nos últimos anos. É uma especialização muito peculiar, pois além de necessitar uma formação específica, para poder ser aplicada é indispensável um centro de medicina hiperbárica, contendo uma câmara hiperbárica, um sistema de administração de gases respiratórios e pessoal técnico (médico, enfermeira e condutor de câmara) com formação em sistemas hiperbáricos.

Como todos os medicamentos em medicina, tem as suas indicações precisas, as suas doses recomendadas e o tempos de acção bem definidos. Rege-se, como as restantes áreas médicas, por critérios de experimentação e comprovação cientifica, tendo já feito prova da sua verdadeira utilidade clínica.

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O seu principio de funcionamento é muito simples e fisiológico, sendo que por aumento da pressão total do ar inspirado se conseguem aumentos de oxigenação dos tecidos da ordem das 23 vezes registando-se durante uma sessão de oxigenoterapia hiperbárica pressões parciais de Oxigénio arterial (PaO2) de cerca de 2300 mmHg.

Através dos critérios da medicina baseada na evidência, foram definidas três classes (indicações preferenciais, indicações coadjuvantes e indicações experimentais) para enquadrar as indicações da oxigenoterapia hiperbárica. As indicações preferenciais dizem respeito às patologias em que o único tratamento correcto é a oxigenoterapia hiperbárica, as indicações coadjuvantes são aquelas em que o tratamento em câmara hiperbárica é fundamental para aumentar o efeito e acelerar o tratamento convencional e as indicações experimentais são aquelas patologias que beneficiam do tratamento, mas que aguardam classificação nas duas classes acima descritas, por não existirem artigos científicos com estudos duplamente cegos que comprovem cientificamente a sua indicação.

O seguinte quadro enumera as patologias médicas que se enquadram nas três classes.

Preferenciais Coadjuvantes ExperimentaisIntoxicação por monóxido de carbono

Intoxicação por cianídrico

Acidentes disbáricos (acidentes de mergulho)

Embolismo gasoso

Gangrena gasosa

Osteomielite crónica refractária

Lesões rádio-induzidas

Traumatismos dos tecidos moles

Síndromes compartimentais

Infecções necrotizantes

Atrasos na cicatrização

Pé diabético

Enxertos cutâneos

Doença de Crohn

Cistite hemorrágica

Encefalopatia anóxica

Esclerose múltipla

Surdez súbita

Oclusão vascular da retina

Assim, caso V. Ex.ª considere de interesse para o Serviço que coordena, gostaria de poder contar com o fornecimento de dados estatísticos gerais dos últimos 4 anos relativos ao número de doentes eventualmente referenciáveis, tendo em conta as patologias acima descritas como indicações para a oxigenoterapia hiperbárica. Se possível agradeceria que juntasse algumas palavras de apoio e os comentários que este assunto lhe possa merecer.

Com os mais cordiais cumprimentos,

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Anexo V – Descrições de acidentes de mergulho (Questionários)

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Entidade 15

Durante um trabalho subaquático, em que uma traqueia de uma garrafa que servia

para encher balões, para transporte de peças de madeira de um navio, rebentou, provocando

uma forte onda de choque, tendo como consequência perfuração de tímpano do operador da

garrafa e tonturas na sua companheira de mergulho. O acidentado foi de imediato levado ao

Hospital não tendo consequências graves deste acidente.

Entidade 24

1 – Mergulho mal planeado, mergulhadores desceram abaixo dos 50 metros e não

reservaram ar para a descompressão. Resultado: Um mergulhador ficou com sintomas de

acidente de descompressão e foi tratado em câmara hiperbárica.

2- Após um mergulho normal uma mergulhadora sentiu sintomas de acidente de

descompressão. Foi tratada preventivamente com O2 durante cerca de 20 minutos, ingeriu

líquidos (cerca de 2 litros de água) e foi transportada ao Hospital onde fez mais uma hora de

O2. Visto terem desaparecido todos os sintomas considerou-se como tratada embora ficasse

em vigilância durante mais 24 horas.

Entidade 38

Um “bends” moderado devido a cansaço no ano de 1992. Após 5 dias de mergulhos

diários. O computador de mergulho nada acusou. Tratamento em câmara hiperbárica sem

sequelas.

Entidade 37

O único acidente de mergulho registado foi por doença descompresiva. Mergulhador

experiente com mais de 300 mergulhos registados. No seu primeiro mergulho de suas férias

a uma profundidade de 25 mts tudo normal com um patamar de descompressão não

obrigatória aos 3 mts, 3 min tudo normal. Éramos 7 mergulhadores na mesma imersão.

Depois de terminado o mergulho ainda dentro da água, os mergulhadores preparavam-se

para subir à embarcação quando o mergulhador em questão se segura no barco referindo

sentir-se tonto e sem força. Nisto o guia de mergulho tirou-o da água e colocou-o na posição

de segurança administrado O2 100% 25lts/min com máscara a pedido.

Em seguida chamada telefónica para bombeiros a pedir uma ambulância para a

chegada ao porto, e lá estava. A administração de O2 nunca foi interrompida até ao hospital.

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O acidentado só foi evacuado para um hospital com câmara hiperbárica no dia seguinte.

Depois de 2 tratamentos hiperbáricos o mergulhador encontra-se bem. Segundo pareceu a

embolia estava alojada no joelho. O mergulhador tinha seguro de mergulho em dia da FPAS.

Também sua caderneta de mergulho vistoriada. Acidente deu-se em Junho de 2003. Tendo

em conta a profundidade 25 mts máximo de tempo total de imersão foi de 30 min e mais 7

pessoas com o mesmo perfil, todos com mais de 48 horas de intervalo antes do mergulho é

caso para dizer que há que ter em conta que não acontece só aos outros, estamos todos

sujeitos.

Entidade 23

No mês de Maio de 2004, 2 mergulhadores locais alugaram equipamento a esta

empresa e efectuaram um mergulho a 54 metros, não fizeram descompressão e finalizaram o

mergulho por 35 minutos a cerca de 25 metros.

Facto este que os levou a serem assistidos no centro de saúde. A médica de serviço

após uma noite hospitalizados e com todos os sintomas de doença descompressão, deu-lhe

alta pela manhã para que circulassem pelas ruas a “apanhar ar”. Foi então que alguns colegas

mergulhadores entraram em contacto com o único médico com formação nesta área que

rapidamente accionou os meios de emergência, sendo que pelas 13:00h os jovens já estavam

a ser assistidos no Hospital, onde pelo menos um, chegou a este Hospital “in extremis”!!!

Entidade 39

Sobrepressões pulmonares e doenças descompressivas não existiram, mas houve

baurotraumatismos vários a nível dentário, sinusal, cólicas do escafandrista e do ouvido, sem

contudo haver nenhum que fosse grave.

Houve também um acidente de perda de capacidade de raciocínio por hipotermia, por

insistente teimosia em não comunicar a sensação de frio, levada a cabo por uma

mergulhadora local, que depois até confessou desconhecer a sinalética adequada para

comunicar essa condição.

Entidade 45

Em 1993 o nosso instrutor de mergulho passou o fim de semana dentro da câmara de

descompressão. Sentiu picadas nas pernas após um mergulho normalíssimo de apenas 20

mts. Por precaução foi para a câmara. Mais tarde concluiu-se que a causa teria sido a

acumulação de muitos mergulhos que embora tecnicamente bem executados foram no

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entanto acumulando ao longo de vários meses, como a gota de água que faz transbordar o

copo.

Na noite anterior o mergulhador em questão teria também tomado uns copos a mais o

que provavelmente também não ajudou.

Conclusão: Felizmente ficou bom e ainda hoje mergulha.

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Anexo VI – Descrição do acidente de mergulho ocorrido na Ilha das Flores em 1998

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Acidente das Flores (Valério, Z; Franco, C (1998), Acidente de mergulho nas Flores,

Notícias do mar, Agosto de 1998, pág 27)

Uma subida mal controlada, durante uma aula de um curso de mergulho com

escafandro autónomo, na ilha das Flores, colocou entre a vida e a morte uma jovem de 18

anos. A subida causou uma embolia gasosa arterial, que lhe provocou uma paragem cardíaca

e a fez entrar em estado de coma. Foi transportada de urgência num Aviocar para o hospital

da Horta, na ilha do Faial, onde se encontra a câmara hiperbárica mais próxima do local do

acidente e mais tarde foi transferida para a Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital de

Ponta Delgada, em S. Miguel, onde continuava em estado de coma vários dias depois do

acidente.

No dia 29 de Julho, Marina Lopes, já com alguma experiência de mergulho,

participava numa das aulas práticas de mar de um curso de mergulho com escafandro,

quando se deu o acidente. O exercício que tinha que fazer era desequipar-se no fundo, a

cerca de 5 metros de profundidade, deixar a garrafa fechada e nadar até à superfície, para

depois voltar a mergulhar em apneia e voltar a equipar-se no fundo. Um exercício que já

tinha feito perfeitamente, mais de uma vez, em aulas anteriores.

Ao sinal do monitor para subir, e ao contrário do que é ensinado, a jovem, por algum

motivo, disparou para a superfície e percorreu os cinco metros sem libertar o ar dos pulmões.

Apesar da distância não ser grande, é preciso não esquecer que é perto da superfície que a

variação de pressão é mais acentuada. Estes cinco metros até à superfície representam uma

diminuição de pressão de meia atmosfera. Isto quer dizer que o volume de ar “dentro do

pulmões aumentou em 50%. A consequência foi um acidente de sobrepressão pulmonar, do

qual resultou um embolismo gasoso arterial (a entrada de bolhas de ar na circulação

sanguínea arterial) que interrompeu o fornecimento de sangue a determinadas zonas do

cérebro, podendo daí resultar lesões cerebrais irreversíveis.

O acidente deu-se às 15:15h e o estado de coma aconteceu de imediato. A evacuação

aérea foi pedida sem perda de tempo à Base das Lajes, fazendo entrar em alerta não só o

dispositivo da Horta, o mais próximo, mas também a câmara hiperbárica do Clube Naval de

Ponta Delgada (as duas únicas câmaras de descompressão existentes nos Açores) pois

durante algum tempo não se soube se o Aviocar seguiria para o Faial ou para Ponta Delgada.

O Aviocar chegou às Flores às 18:20h e partiu às 19:00h. A mergulhadora viria a chegar ao

Page 81: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

81

Hospital da Horta cinco horas depois do acidente, o que, apesar da razoável prontidão da

evacuação, foi considerado um período de tempo muito grande pelo clínico que a assistiu,

uma vez que em acidentes deste tipo é recomendado que o tratamento em câmara hiperbárica

comece nos primeiros 30 minutos após o acidente.

Ao fim de sete horas na câmara de descompressão, o problema da embolia gasosa

estava resolvido e nada mais havia a fazer no que respeita. ao. tratamento hiperbárico.

Continuando em coma com delicados problemas respiratórios decorrentes da sobrepressão

pulmonar e lesões profundas provocadas pelo largo período de demora até entrar na câmara

de descompressão da Horta, a jovem foi então transferida para a Unidade de Cuidados

Intensivos do Hospital de Ponta Delgada.

Um acidente deste tipo, nas circunstâncias em que este ocorreu e com o

desenvolvimento que teve, levanta sempre algumas questões e alguma controvérsia.

A primeira questão é saber o que terá levado a mergulhadora a subir sem libertar o ar

dos pulmões. Era uma situação controlada de exercício, que era" já tinha sido feito com

êxito, e não uma situação de emergência. Além disso era uma pessoa que estava à vontade

dentro de água, uma vez que já teria feito cerca de 50 mergulhos e estava a fazer o curso

apenas para ficar legalizada.

Há quem ponha em causa este tipo de exercícios por encerrarem algum perigo,

particularmente nos primeiros metros de profundidade. Mas outros consideram que o

exercício é útil e deve continuar a ser feito. Afinal, aprender a manobrar o colete também

pode encerrar riscos e hoje já ninguém usa esse argumento para não incluir nos cursos essa

peça fundamental do equipamento. Para a FPAS, a função da escola é preparar o melhor

possível o mergulhador para lidar com os potenciais riscos da actividade.

Mas afinal porque razão Marina Lopes, já com alguma. experiência e perfeitamente à

vontade nas condições do de mergulho exercício, teria subido sem expirar Poderá ter

bloqueado a glote? Na opinião da generalidade dos médicos isso não pode acontecer mas a

verdade é que vem mencionado nos manuais. Conhecemos um caso passado num exame

para Monitor Nacional, portanto com mergulhador experiente com provas dadas, em que

num exercício idêntico se viu impedido de subir por não conseguir expirar

A verdade é que deixar de fazer o exercício liberta a escola do risco de se confrontar

com um acidente destes, mas isso significa deixar o mergulhador sem preparação para uma

Page 82: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

82

subida deste tipo. E não vale a pena dizer que estas situações nunca acontecem. Em princípio

não acontecem, se tudo for correctamente planeado e executado, mas nós, por mais

cuidadosos e experientes que sejamos, estamos sempre sujeitos ao erro. Seja o que for que

motivou o acidente é preciso que a massificação do mergulho não nos faça esquecer que esta

continua a ser uma actividade com riscos, mesmo que não queiramos olhar para eles.

Um outro acidente acontecido no ano passado, também nos Açores, embora com

características completamente diferentes, teve também consequências graves. Neste caso não

se verificou a sobrepressão pulmonar também houve uma demora de cinco horas entre o

aparecimento dos sintomas do acidente e a entrada na câmara de descompressão.

Do relatório deste acidente, à laia de conclusão, sai um conjunto de recomendações

de grande pertinência quanto aos procedimentos a tomar nestes casos, que podem ter uma

importância acrescida em locais mais isolados, como algumas ilhas dos Açores.

Uma dessas recomendações é estabelecer contactos com os hospitais e centros de

saúde da região por todos os meios disponíveis, sensibilizando para a necessidade de um

diagnóstico correcto e urgente.

Depois é importante transmitir a informação necessária para que sejam tomadas as

medidas necessárias, particularmente o envio para a câmara de descompressão mais

próxima, salientando que este é o único meio de tratamento possível.

Todas as fases de deslocação do mergulhador acidentado devem ser acompanhadas

por um médico, uma vez que podem surgir complicações.

Finalmente, considerando o crescente número de praticantes, é urgente alertar os

responsáveis pela saúde para a necessidade de formação específica na área da medicina

hiperbárica, de forma a facilitar o diagnóstico correcto e a adopção das medidas adequadas

em tempo útil.

Page 83: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

83

Anexo VII – Descrição do acidente de mergulho ocorrido na Ilha Terceira em 1998 e seu tratamento

Page 84: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

84

RELATÓRIO DO ACIDENTE DE MERGULHO OCORRIDO EM 98/04/16

Ocorrência:Pelas 15h10 deu entrada, um mergulhador com sintomas de acidente de

descompressão, após ter efectuado o perfil de mergulho abaixo representado.

08h30 ± 5’ ± 5’ ± 5’ 10h30

30 m

± 25’ ± 25’ ± 25’ ± 25’

Observações:

Os valores afixados são baseados em informações recolhidas, uma vez que não ficou

claro se o mergulhador possuía os necessários meios de controle dos mesmos. Efectuou os

mergulhos sozinho, não houveram patamares de descompressão e desconhecemos se foram

respeitadas velocidades de subida, o que não nos parece provável dados os poucos

conhecimentos demonstrados. Pela natureza do mergulho, julgamos ter havido bastante

esforço físico.

Numa consulta da tabela Buehlmann 86. publicada pela FPAS, verifica-se não

estarem sequer contemplados valores que permitam analisar o perfil a partir do segundo

mergulho, o que se revelou sintomático da gravidade do acidente em questão.

Sintomatologia:

Antes da recompressão Depois da recompressãoEntorpecimento dos membros inferiores Entorpecimento dos membros inferioresDificuldade em manter-se de pé Dificuldade em manter-se de péUma pupila mais dilatada que a outra Retenção urinária

Dores nas costas

Quadro clínico:

Page 85: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

85

Após terminar tratamento hiperbárico, o doente foi transportado para o Hospital de Ponta Delgada com os sintomas descritos no quadro anterior.Seguiu algaliado, uma vez que se mantinha a situação de retenção urinária.

Descrição:

Pelas 08h30, o mergulhador iniciou uma série de quatro mergulhos sucessivos

(conforme perfil acima). Os intervalos de superfície foram apenas o suficiente para trocar de

garrafa, terminando o ciclo por volta das 10h30.

A subida para o barco após o quarto mergulho, já não foi fácil, tendo sentido depois

grandes dificuldades em permanecer de pé. Já apresentava sintomas: dores abdominais e

entorpecimento das pernas, com falta de acção muscular. (Embora pareça inacreditável.

havia um quinto mergulho previsto. utilizando para o efeito a garrafa que ainda permanecia

cheia na embarcação, o que comprova a total ausência de conhecimentos).

Rumou a terra, dirigindo-se de seguida para o hospital, onde chegou por volta das

11h00; só passado algum tempo (demasiado???), lhe foi diagnosticada doença provocada por

acidente de descompressão. Foi posto a respirar 02, e iniciaram contactos para que fosse

submetido a tratamento em câmara hiperbárica.

Do Hospital da Horta, ilha do Faial, receberam a informação de que a Câmara

Hiperbárica ali existente, se encontrava indisponível (o único operador existente, um médico

daquele hospital, estava ausente da ilha). Decidiram enviá-lo para Ponta Delgada.

O helicóptero da Força Aérea Portuguesa que o transportou, aterrou às 14h00, após

um voo foi feito a uma altitude de 1000 pés, e em que respirou sempre 02. Foi conduzido em

auto-maca para o hospital.

Pelas 15h00, foi recebido na secretaria do Clube Naval um telefonema do serviço de

urgências do hospital, informando que iriam enviar um doente para tratamento na câmara

hiperbárica. Dado conhecimento ao operador de câmara, este de imediato accionou o

sistema, de forma a iniciar o processo de recompressão logo após a recepção: avisados os

operadores e verificado o equipamento.

Cerca das 15h15, chegou a ambulância transportando o mergulhador. Vinha em

maca, acompanhado pela esposa e pelos dois maqueiros. De estranhar que não estivesse

Page 86: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

86

igualmente acompanhado por um médico ou paramédico, uma vez que havia sido enviado

pelo serviço de urgências. Não veio a respirar 02.

Feito um rápido diagnóstico com base nos sintomas, concluímos ser do foro

neurológico (tipo II). Foi introduzido na câmara, acompanhado pelo operador, (o

aconselhável seria um médico ou paramédico, mas tal não foi possível). A 15h23 iniciava a

descida para o patamar de -18 metros, respirando 02.

Após 10 minutos a essa profundidade, afirmou sentir algumas melhorias, (poucas).

Permaneceu mais 35 minutos nessas condições, ao fim dos quais, mais uma vez, declarou

sentir melhorias. Segundo o diagrama de diagnóstico, e com base nestes dados, foi então

decidido iniciar o programa de tratamento constante da tabela 6 US Navy (tabela 62).

Entretanto, foi-lhe dada a beber bastante água, o que veio por a descoberto um novo sintoma:

retenção urinária.

Como não conseguimos a presença de um médico no local, estabeleci contacto

telefónico com o Centro de Medicina Hiperbárica do Hospital da Marinha Portuguesa, em

Lisboa. Ali, forneceram-me o contacto via telemóvel do médico daquele centro. a quem

liguei de imediato.

Descrita a situação, o médico concordou com a tabela aplicada, dado ser esta a

indicada para casos com implicações do foro neurológico. Recomendou a execução de uma

extensão aos -18 metros e outra aos -9 metros, e a algaliação imediata do doente. Aconselhou

também que caso não obtivéssemos resultados positivos, fosse feita no dia seguinte uma

nova recompressão de manutenção a -15 metros, por 90 minutos, com 02, e que, se possível,

fosse enviado para Lisboa, onde teriam outros meios terapêuticos com mais possibilidades

de êxito, nomeadamente a recompressão com uma mistura de Heliox.

Obs. - Por razões de segurança, alguns elementos da equipa deslocaram-se à empresa

Ar Líquido, de onde trouxeram uma garrafa de 02, para ficar como reserva.

Para proceder à algaliação, era obviamente necessária a presença de um paramédico.

Contactado pelo elemento da Direcção deste Clube Naval, Dr. João, o serviço de urgências

do hospital de Ponta Delgada declinou essa responsabilidade afirmando tratar-se de uma

situação anormal para a qual não tinha qualquer procedimento pré-definido.

Page 87: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

87

Só o facto de termos na equipa um paramédico, nos permitiu resolver o problema. O

enfermeiro, com a ajuda de um médico no local, conseguiu o material adequado e orientou

do exterior da câmara o operador acompanhante, que procedeu à algaliação, sem a

experiência de um profissional, mas com reconhecido sucesso. Foi então possível reatar a

administração de líquidos com a frequência aconselhável.

Já no final do segundo patamar a -18 metros, sem melhoras sensíveis. tentei novo

contacto com o médico do hospital da Marinha, para eventual reavaliação da situação. Como

não foi possível, contactei o DAN, (Divers Alert Network), nos EU. Descrita a situação ao

médico, este confirmou o diagnóstico e referiu a tabela aplicada como correcta, apenas

recomendando duas extensões no patamar de -9 metros, em vez de uma só. Foi igualmente

de opinião que. caso o doente não recuperasse, o enviasse-mos para Lisboa.

Durante o segundo patamar a -9 metros, com a situação clínica estacionária,

compareceu no local, a título particular, um médico. Pneumologista que connosco tem

colaborado. Com a ajuda do acompanhante, efectuou alguns testes, (limitados por estar

impossibilitado de contactar directamente com o doente). Todavia, e devido à falta de

formação específica, não foram conclusivos, pelo que estabeleci novo contacto, desta vez

para o Diving Desease Research Center, em Inglaterra. Novamente se confirmou a gravidade

do acidente, com implicações do foro neurológico. Os exames e tratamentos aconselhados,

nomeadamente administração de fluidos por via intravenosa, eram impossíveis.

Reconfirmaram a aplicação do tratamento em curso e igualmente aconselharam ser mais

seguro enviar o acidentado para Lisboa. Questionados sobre as possíveis implicações de um

voo com aquelas características, foram de opinião de que. após o tratamento efectuado, a

situação clínica não se agravaria, salientando as possibilidades de êxito do tratamento com

outros meios, de que não dispomos neste local.

Já no quarto patamar a -9 metros, fiz o ultimo contacto, desta vez para o Centro de

Medicina Hiperbárica da Universidade de Florida, nos Estados Unidos. onde trabalha uma

operadora de câmara nossa conhecida, de origem portuguesa. Em conjunto com um médico

ali presente, reconfirmou como correcta a nossa actuação, e orientou-nos na execução de

alguns testes, (articulação sequencial de algarismos), no sentido de tentar determinar se a

lesão estava perfeitamente determinada, ou se havia alguma afectação ao nível do cérebro.

Feitos os testes. o resultado foi negativo. Aconselhou igualmente o transporte para Lisboa.

Page 88: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

88

Mais tarde, perto do final da recompressão, tivemos a presença de um outro médico,

Pneumologista que habitualmente nos apoia. Inteirou-se do estado do doente e prontificou-se

a fazer alguns exames após a saída da câmara, já no hospital.

Cerca das 00h30, depois de nove horas de recompressão, os ocupantes da câmara

chegaram à superfície. O doente foi transportado para o Hospital em automaca, que já o

aguardava, onde foi de novo observado. Ficou a aguardar o transporte para Lisboa, estimado

para as 06h30.

Informados os médicos da Marinha em Lisboa, de que iriam receber o paciente, e da

sua situação clínica.

Pelas 06h15, contactei o comandante do Boeing 737 da TAP em que seguiria,

solicitando a manutenção da pressão de cabine o mais próximo possível do nível do mar.

Após algumas questões sobre a possibilidade de agravamento dos sintomas durante a

viagem, que o poderiam levar inclusivamente a recusar transportar o doente, este acedeu,

informando que a pressão máxima permitida pelo aparelho, era a equivalente a 2700 pés.

Pelas 06h40 saiu do Aeroporto João Paulo II em direcção a Lisboa, acompanhado por

um paramédico.

Considerações finais

Embora tenha sido aplicada a terapia indicada para a doença de descompressão em

causa, os resultados obtidos não foram satisfatórios, obrigando pela primeira vez, ao envio

do mergulhador para o Centro de Medicina Hiperbárica da Marinha Portuguesa, em Lisboa.

Um facto foi de importância relevante: Decorreram cerca de cinco horas desde o fim

do mergulho (e início dos sintomas), até que o mergulhador acidentado fosse recomprimido,

o que reduz bastante as hipóteses de sucesso do tratamento.

Para além disso, o acompanhamento médico foi muito deficiente, provavelmente por

falta de informação, e sobretudo, formação específica, dos profissionais de saúde,

contribuindo para as dificuldades sentidas por este grupo de operadores. de câmara

hiperbárica.

Em jeito de resumo, e para que se possa tirar algum resultado positivo desta

experiência, enumeramos algumas acções que julgamos ser necessário desenvolver, o mais

urgente possível:

Page 89: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

89

1 - Estabelecer contactos com os hospitais e centros de saúde da região, talvez até por

meios governamentais, de forma a que se consiga sensibilizar os profissionais para a

necessidade de um diagnóstico correcto e urgente.

2 - Transmitir a informação necessária para que as medidas adequadas sejam

tomadas. nomeadamente o desencadear do processo de envio imediato para a câmara de

recompressão mais perto, salientando ser este o único meio de tratamento desta doença.

3 - E cada vez maior o numero de praticantes desta actividade, muitos dos quais sem

os conhecimentos adequados, o que aumenta sem duvida o risco de ocorrência destes

acidentes. Assim. convém alertar os responsáveis pelo sector da saúde para a necessidade de

formação específica na área da Medicina Hiperbárica.

4 -Algaliar um doente sem que sequer algum dia o tenhamos visto fazer, não é tarefa

fácil, mesmo com a orientação de um paramédico. Desta vez tudo correu bem. mas, e se

estivéssemos a braços com um pneumotórax, um colapso cardíaco. uma perfuração dos

tímpanos, ou outro problema que não dispensasse o médico, que fazer?

A assistência médica ao paciente dentro da câmara pode, em circunstâncias graves.

estabelecer a diferença entre a vida e a morte. Com as limitações técnicas que o nosso

equipamento apresenta, tal não é possível. Uma vez iniciada a recompressão, ninguém pode

lá entrar, ou de lá sair, sem interrupção do ciclo, o que poderá agravar decisivamente os

sintomas.

Aqui, compete-nos alertar a direcção deste Clube Naval, para a necessidade de se

procurar uma via através da qual se possa proceder à aquisição de uma nova câmara

hiperbárica, dotada de antecâmara.

Ficamos a aguardar.

Ponta Delgada, 22 de Abril de 1998

L.M.P.R.Instrutor CMAS M 1

Page 90: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

90

Anexo VIII – Comentários e sugestões (Questionários)

Page 91: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

91

Entidade 32

Achamos que há necessidade de mais câmaras hiperbáricas no Arquipélago. O

turismo subaquático é uma realidade, já tem muita importância económica/turística, e está

numa fase crescente no nosso pais. Além do mais, cada vez mais as câmaras hiperbáricas são

utilizadas como terapêutica noutras especialidades ligadas à saúde. Apesar da câmara

existente na Horta, apesar do plano de emergência (nosso) elaborado ao detalhe, da

comunicação com o pessoal de saúde, na eventualidade de um acidente descompressivo, o

sinistrado só dá entrada na câmara hiperbárica, passadas ± 2 horas na melhor das hipóteses.

Entidade 41

Esta empresa possui também um contrato com o Agente do rebocador Russo que está

baseado no ancoradouro de PDL e que possui médicos especializados e duas câmaras

hiperbáricas a bordo e possui heliporto também.

Entidade 53

Mudem a lei.

Entidade 52

É imperioso a existência de uma câmara hiperbárica no hospital de S. Miguel, não só

por razões de segurança dos mergulho amador e profissional, mas também para assegurar

tratamentos às várias doenças que beneficiam com o mesmo, nomeadamente tratamento e

cicatrização de feridas a diabéticos, ossificação de fracturas a pessoas idosas, entre outros. A

câmara hiperbárica não pode ser vista como tratamento de acidentes de mergulho.

Entidade 55

Esta entidade mantêm uma equipa de mergulhadores para fazer face à sua valência de

socorros a náufragos. Efectua mergulhos praticamente em toda a ilha, quer a partir de terra,

quer recorrendo ao uso de uma embarcação que possui para o efeito. Os seus mergulhadores

têm efectuado diversas especializações designadamente: Salvamento, Busca e recuperação,

navegação subaquática, mergulho nocturno, administração de O2, etc.

Entidade 15

Os mergulhos efectuados por esta entidade são realizados sempre que se organizam

trabalhos subaquáticos, ou quando há necessidade de alguma fiscalização ou inventariação.

Page 92: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

92

São ocorrências planeadas e normalmente concentradas no tempo. Por exemplo 2 meses

seguidos de mergulhos (2 por dia) e posteriormente o resto do ano sem imersões.

Entidade 46

É urgente a disponibilidade de uma câmara hiperbárica na ilha de S. Miguel, de

forma a aumentar a qualidade do produto que é o mergulho turístico. Um acordo entre o

C.N.P.D. que possui uma câmara desactivada e o Hospital seria bem pensado por forma a

aproveitar os recursos existentes.

Entidade 24

É essencial a reactivação da câmara hiperbárica de São Miguel e a manutenção da

câmara do Faial. Seria bom criar sistema regional para evacuação de sinistrados nas ilhas

sem os meios de tratamento adequados.

Entidade 23

Nos centros de saúde da ilha não existem muitos médicos com formação mínima

nesta área. Segundo o nosso conhecimento, só um médico tem essa formação.

Entidade 31

Muito importante mais médicos de medicina hiperbárica.

Entidade 39

Muito obrigado pela iniciativa. Bem haja.

Entidade 45

Câmara de descompressão no Hospital e médicos devidamente especializados.

Page 93: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

93

Anexo IX – Proposta de fornecimento dos sistemas hiperbáricos preconizados

Page 94: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

94

x2114aDIVER+HYPERBARIC MEDICAL

TREATMENT SYSTEMHAUX-STARMED 2000/5,5

Sept 2003PAGE 1

TECHNICAL OFFER +

SCOPE OF DELIVERY

FOR DIVER +HYPBERBARIC MEDICAL TREATMENT SYSTEM

TYPE

H A U X - S T A R M E D 2000/5,5 Main- chamber capacity: 6 persons

Ante-chamber capacity: 2 sitting persons

for

AZOREN ISLANDS

by

HAUX-LIFE-SUPPORT GMBH Karlsbad

Page 95: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

95

x2114aDIVER+HYPERBARIC MEDICAL

TREATMENT SYSTEMHAUX-STARMED 2000/5,5

Sept 2003PAGE 1

Pacote base:

1. Sistema de tratamento médico hiperbárico, Haux Starmed 2000/5.52. Estação de controlo compacta4. sistema de extinção de incêndios6. Sistema de ar comprimido baixa pressão7. Sistema de oxigénio8. Documentação

Pelo montante de 290.860,00 Euro, IVA não incluído

Adicionais:

3. sistema de monitorização por TV � � 4.490,00 Eurox. sistema de ar condicionado 9.950,00 Euro5. sistema computorizado de controlo 23.750,00 Euro

9. Manutenção anual, incluindo re-certificação anual, cerca de 23.000,00 Euro

Todos os preços sem IVA.

Na manutenção anual encontram-se incluídos os sobresselentes necessáriosá operação regular da câmara, para um máximo de 50 a 100 sessões anuais.

A mesma câmara na versão de apenas 4 pacientes, com ante câmara paraduas pessoas e o mesmo volume de fornecimento tem um preço para o pacotebase de 260.000,00 Euro. Os valores para os adicionais mantêm-se osmesmos e a manutenção anual terá um custo de cerca de 19.000,00 Euro.

Page 96: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

96

Anexo X – Códigos de procedimentos e diagnósticos a partir dos quais é possível uma referência à medicina

hiperbárica

Page 97: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

97

Códigos de procedimentos e diagnósticos a partir dos

quais é possível uma referência à medicina hiperbárica

(Kindwall, Eric; Whelan, Harry; Hyperbaric Medicine Pratice, 2nd Edition Revised; USA:

Best Publishing Company; 2002; pág 150)

Procedimentos ICD-9Mandibulectomia 76.41Reimplantação de tecido separado 84.2Revisão de amputação 84.3Revisão de enxerto cutâneo livre 86.60-6Revisão de enxerto pediculado 86.70-5Excisão de tecido para enxerto 86.91Condições clínicas Actinomicose 039.0-4Gangrena gasosa 040.0Aspergilose 117.3Mucormicose 117.7Ferida/úlcera diabética 250.7Oclusão vaso retiniano 362.30Oclusão vaso central 362.31Surdez transitória isquémica 388.02Doença de Raynaud 443.0Doença de Buerger 443.1Doença vascular periférica 443.9Isquémia arterial superior 444.21Isquémia arterial inferior 444.22Úlcera de insuficiência arterial 447.2Varicose com úlcera de estase 454.0Varicose com úlcera e inflamação 454.2Osteomielite mandibular 526.4Osteoradionecrose mandibular 526.89Cistite radica 595.82Gangrena de Fournier 608.83Úlcera de Meleney 686.09Úlcera de decúbito 707.0Úlcera crónica (excepto decúbito) 707.1Úlcera crónica (não especificada) 707.8-9Fasceíte necrosante 729.4Osteomielite crónica 730.0-9Gangrena diabética 785.4Isquémia traumática 900-904Lesão por radiação tardia 909.2Lesão por esmagamento 927-928Queimaduras termais agudas 940-949Embolismo gasoso 958.0Síndrome compartimental 958.8Intoxicação por CO 986.0

Page 98: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

98

Intoxicação por cianídrico 987.7Inalação de fumo 987.9Mordedura de "Loxosceles reclusa" 989.5Lesão tecidular por radiação 990.0Lesão por congelamento 991.0-3Embolismo gasoso 991.1Doença dos "caissons" (disbarismos) 993.3Complicação de enxerto 996.52Embolismo gasoso 996.7Complicação de reimplantação 996.93Complicação do coto de amputação 997.6Infecção do coto de amputação 997.62Outras complicações 997.69

Page 99: AÇORES - ESTUDO SOBRE AS NECESSIDADES DE MEDICINA  HIPERBÁRICA

99

5 Bibliografia

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