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Acórdãos TRL Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa Processo: 9218/2007-6 Relator: GRANJA DA FONSECA Descritores: DENOMINAÇÃO SOCIAL ERRO CONFUSÃO Nº do Documento: RL Data do Acordão: 29-11-2007 Votação: UNANIMIDADE Texto Integral: S Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: CONFIRMADA A DECISÃO Sumário: 1 – A denominação Fórum Olímpico Portugal não é proibida por lei pois que não põe em causa o direito exclusivo do Autor (Comité Olímpico de Portugal) sobre a divisa, o emblema ou a bandeira olímpicas, e a palavra “olímpico” não causa erro ou confusão com as expressões “jogos olímpicos” ou “olimpíadas”. 2 – A Carta Olímpica Internacional, sendo embora vinculativa para o Autor, não vincula o Estado Português, pois que não faz parte integrante do ordenamento jurídico português, nos termos e para efeitos do artigo 8º da Constituição da República. 3 – A denominação “Fórum Olímpico Portugal” não é enganadora não só porque dá a conhecer de forma clara a natureza associativa da pessoa colectiva que identifica mas também porque não sugere actividade diferente da que constitui o objecto social do Réu. 4 – Também as denominações do Autor e do Réu, embora ambas incluam a expressão “Olímpico de Portugal”, não são susceptíveis de confusão ou de erro, segundo a opinião de um homem médio de diligência normal, pois que, quer numa, quer na outra denominação, resulta claro qual o seu âmbito, qual a sua actividade, bem como a sua diferenciação em termos de impressão de conjunto. 5 – Igualmente se não verifica violação do princípio da verdade, na vertente de utilização de expressão com apropriação ilegítima pelo Réu de instituição cuja nome ou significado seja de salvaguardar por razões

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Acórdãos TRL Acórdão do Tribunal da Relação de LisboaProcesso: 9218/2007-6

Relator: GRANJA DA FONSECA

Descritores: DENOMINAÇÃO SOCIALERRO

CONFUSÃO

Nº do Documento: RL

Data do Acordão: 29-11-2007

Votação: UNANIMIDADE

Texto Integral: S

Meio Processual: APELAÇÃO

Decisão: CONFIRMADA A DECISÃO

Sumário: 1 – A denominação Fórum Olímpico Portugal não éproibida por lei pois que não põe em causa o direitoexclusivo do Autor (Comité Olímpico de Portugal)sobre a divisa, o emblema ou a bandeira olímpicas, e apalavra “olímpico” não causa erro ou confusão com asexpressões “jogos olímpicos” ou “olimpíadas”.2 – A Carta Olímpica Internacional, sendo emboravinculativa para o Autor, não vincula o EstadoPortuguês, pois que não faz parte integrante doordenamento jurídico português, nos termos e paraefeitos do artigo 8º da Constituição da República.3 – A denominação “Fórum Olímpico Portugal” não éenganadora não só porque dá a conhecer de formaclara a natureza associativa da pessoa colectiva queidentifica mas também porque não sugere actividadediferente da que constitui o objecto social do Réu.4 – Também as denominações do Autor e do Réu,embora ambas incluam a expressão “Olímpico dePortugal”, não são susceptíveis de confusão ou deerro, segundo a opinião de um homem médio dediligência normal, pois que, quer numa, quer na outradenominação, resulta claro qual o seu âmbito, qual asua actividade, bem como a sua diferenciação emtermos de impressão de conjunto.5 – Igualmente se não verifica violação do princípio daverdade, na vertente de utilização de expressão comapropriação ilegítima pelo Réu de instituição cujanome ou significado seja de salvaguardar por razões

institucionais e culturais.6 – A reprodução, no site do Réu, dos anéis olímpicose do sinal identificador dos Jogos Olímpicos dePequim, a realizar em 2008, serve para ilustração dotema de notícias ou artigos de opinião ali transcritos,pelo que se não poderá inferir deste facto que o Réupretende usar em seu benefício os sinais olímpicos,designadamente como sinais distintivos seus, uma vezque tem um logótipo do Autor ou dos anéis olímpicosou da bandeira olímpica, insusceptível de se confundircom os mesmos.7 – Como também se não pode inferir qualquerintenção do Réu pretender enganar o público e causarconfusão, nem tão pouco beneficiar da notoriedadereconhecida ao Autor, pelo que inexiste qualquerutilização abusiva dos símbolos olímpicos pelo Réu.G.F.

Decisão Texto Integral: Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa:1.COMITÉ OLÍMPICO DE PORTUGAL intentou a presente acçãodeclarativa, sob a forma de processo ordinário, contraFÓRUM OLÍMPICO PORTUGAL, pedindo que (i) sejadeclarada a nulidade da denominação social do Réu,Fórum Olímpico Portugal, ou, se assim não seentender, (ii) a sua anulação e, em qualquer dos casos,(iii) cumulativamente, que (a) seja ordenado ocancelamento do registo da denominação do Réu, juntodo Registo Nacional das Pessoas Colectivas; (b) sejao Réu condenado a abster-se de utilizar a expressão“Fórum Olímpico Portugal”, bem como a utilizar,imitar ou reproduzir, no todo ou em parte, narespectiva denominação, no nome de domínioregistado, no conteúdo do site da Internet, ou por outraforma de divulgação que possa induzir o público emerro ou confusão, as expressões “Jogos Olímpicos” e“Olimpíadas”; (c) seja o Réu condenado a abster-se deutilizar, imitar ou reproduzir por qualquer meio ou

forma de divulgação, nomeadamente no site daInternet, qualquer dos sinais olímpicos, i.e., osemblemas, divisa, hino e símbolos olímpicos e ossinais distintivos do Autor; (d) seja o Réu condenado aeliminar e retirar todas as referências à denominaçãoe/ou expressão “Fórum Olímpico Portugal”, bem comotodos os sinais olímpicos e sinais distintivos do Autor,em toda e qualquer publicidade, no nome de domínio,site ou referências na Internet, e em quaisquer outrasformas de divulgação; (e) seja o Réu condenado apagar ao Autor, uma sanção pecuniária compulsória,por cada dia de atraso na eliminação de todas asreferências, conforme peticionado em d), de valor afixar pelo Tribunal segundo critérios de razoabilidade.

Fundamentando a sua pretensão, alegou o Autor que oRéu utiliza na sua denominação expressão proibidapor lei, já que as expressões “Jogos Olímpicos” e“Olimpíadas” (ou de parte destas) está exclusivamentereservada por lei, em Portugal, ao Autor, ComitéOlímpico de Portugal, nos termos do disposto noartigo 3º do Decreto-Lei nº 1/82, de 4 de Janeiro,sendo tal utilização feita com apropriação ilegítima daexpressão “olímpico”, a qual confere ao Autor umsignificado único e próprio, conferindo-lhe a suaprópria identidade enquanto instituição nacionalolímpica, enquanto Comité Olímpico Nacional (CON)reconhecido pelo Comité Olímpico Internacional(COI).Assim, a utilização da expressão “olímpico” nadenominação do Réu viola o princípio da verdade,visto a denominação Fórum Olímpico de Portugal serenganadora e poder induzir em erro o público em geralquanto à actividade que o Réu prossegue (e, maisespecificamente à actividade que não podeprosseguir). Viola também os princípios da novidade eda exclusividade, uma vez que as denominações doAutor e Ré são praticamente idênticas, quer em termos

Autor e Ré são praticamente idênticas, quer em termosvisuais e figurativos, quer em termos fonéticos,existindo ainda uma forte semelhança ideológica ouconceptual, sendo que o único vocábulo distinto dadenominação do Réu – Fórum – não confere à mesmaa dissemelhança necessária relativamente àdenominação do Autor, além de que não é o elementodominante da denominação do Réu.O Réu utiliza ilegalmente os sinais olímpicos, os quaisreproduz no seu site.

O Réu contestou, alegando haver impossibilidadejurídica de declaração de nulidade ou anulação da suadenominação, com os fundamentos invocados peloAutor, pois a consequência jurídica prevista na leipara a violação dos princípios consagrados nos artigos32º e 33º do Regime do Registo Nacional de PessoasColectivas (RRNPC), aprovado pelo Decreto-Lei n.º129/98, é a declaração de perda do direito ao uso dadenominação, como resulta do artigo 60º daquelediploma legal.Por outro lado, é inadequado o meio processualescolhido pelo Autor para obter o efeito jurídicoprevisto na lei, pois se, por mera hipótese, o pedido doAutor relativo à denominação social do Réucorrespondesse à solução prevista na lei, ou seja adeclaração de perda do direito ao uso denominação,então este Tribunal seria incompetente para o efeito,pois o artigo 60º do RRNPC é inequívoco quandoprevê que cabe ao RNPC declarar tal perda quando severificar terem sido violados os princípiosconsagrados nos artigos 32º e 33º daquele regimejurídico.Alega, ainda, o Réu que a utilização da denominaçãoFÓRUM OLÍMPICO DE PORTUGAL não constitui utilização deexpressão proibida por lei, nem importa violação dosprincípios da verdade, da novidade e da exclusividade,sendo que a reprodução no site do Réu dos anéisolímpicos e do sinal identificador dos jogos olímpicos

olímpicos e do sinal identificador dos jogos olímpicosque se irão realizar em Pequim, em 2008, verifica-separa ilustração do tema de notícias ou de artigos deopinião ali transcritos, à semelhança do que, como édo domínio público, acontece nos meios decomunicação social escrita e na televisão, no caso dotema abordado serem os Jogos Olímpicos ou asOlimpíadas, não pretendendo usar em seu benefício ossinais olímpicos.

Na réplica, o Autor opôs-se à procedência dasexcepções invocadas pelo Réu e pediu para seremtidos como não escritos os artigos 1º a 15º dacontestação, concluindo como na petição inicial.

No saneador, conheceu-se da alegada inadequação doprocesso para obter o efeito jurídico pretendido, adeclaração de nulidade ou anulação da denominaçãoda Ré, tendo-se decidido inexistir qualquerinadequação do presente processo. E foi proferidadecisão de mérito, tendo a acção sido julgadaimprocedente e, consequentemente, absolvida a Ré dopedido.

Inconformado, recorreu o Autor, finalizando a doutaalegação com as seguintes conclusões:1ª – A sentença recorrida, além de ser parcialmentenula nos termos do artigo 668º, n.º 1, alínea c) doCPC, viola as normas constantes dos artigos 3º, n. os 1e 2 do DL n.º 1/82, de 4 de Janeiro, artigos 32º, n. os1, 2 e 4, alíneas b) e d), 33º e 36º, todos do DL n.º129/98, de 13 de Maio, que institui o Regime Jurídicodo Registo Nacional de Pessoas Colectivas (adianteapenas RRNPC), artigo 9º do Código Civil e artigos323º, alíneas a) e b) e 334º do Código da PropriedadeIndustrial.2ª – Com efeito, o M. mo Juiz a quo, ao reconhecer, nafundamentação da sentença, que, em Portugal, oRecorrente assume um papel de referência no

desempenho do ideal olímpico, a tal ponto que lheforam transferidas competências da AdministraçãoPública Desportiva, está a enunciar as razõeshistóricas, patrióticas, institucionais e culturais quejustificam a salvaguarda do nome do Recorrente deapropriações ilegítimas, seja pelo Recorrido, seja porqualquer outra entidade.3ª – Consequentemente, em termos lógicos, não pode oM. mo Juiz a quo vir, depois, concluir que, no casosub judice, não se vislumbra nenhuma das razõeselencadas na alínea e) do n.º 4 do artigo 32º doRRNPC que justifiquem a salvaguarda do nome doRecorrente de qualquer apropriação ilegítima, paranegar provimento ao peticionado pelo Recorrente, combase na alínea e) do n.º 4 do artigo 32º do RRNPC.4ª – Pelo que, no que respeita à parte da sentença quese pronuncia sobre “da utilização de expressão comapropriação ilegítima de instituição cujo nome ousignificado seja de salvaguardar por razõesinstitucionais e culturais” a mesma é nula nos termosdo artigo 668º, n.º 1, alínea c) do CPC, por haveroposição entre os respectivos fundamentos e asubsequente decisão.5ª – Nos termos do artigo 1º do DL n.º 1/82, de 4 deJaneiro, é reconhecido ao Recorrente o direitoexclusivo ao uso da divisa, do emblema e da bandeiraolímpicos, bem como a competência exclusiva paraautorizar a realização das provas desportivas com finsolímpicos.6ª – Acrescentam os n. os 1 e 2 do artigo 3º doreferido diploma, é proibido o uso, para finsdesportivos, comerciais, industriais ou políticos, dadivisa, do emblema e da bandeira olímpicos, bemcomo das expressões “Jogos Olímpicos” e“Olimpíadas”, sendo que essa proibição abrange aimitação e a reprodução, no todo, em parte ou comacréscimo, da divisa, do emblema e da bandeira

olímpicos, ou das expressões, de modo que possamcriar erro ou confusão com estes.7ª – Com efeito, e dando pleno cumprimento aodisposto no artigo 9º do Código Civil, a determinaçãodo conteúdo e do sentido do artigo 3º do DL n.º 1/82,de 4 de Janeiro, não pode, de forma alguma, deixar deser feita à luz da Carta Olímpica Internacional, fontecom base na qual o legislador português adoptou oreferido diploma, conforme resulta da leitura dorespectivo preâmbulo.8ª – Até porque, ao contrário do que considerou o M.mo Juiz a quo, o Estado português está vinculado àCarta Olímpica Internacional, porquanto este diplomainternacional faz parte integrante do ordenamentojurídico português, nos termos e para os efeitos doartigo 8º, n.º 1 da Constituição da RepúblicaPortuguesa.9ª – Em segundo lugar, o dever de obediência à CartaOlímpica Internacional resulta também do n.º 1 in finedo artigo 25º da Lei de Bases do Desporto (Lei n.º30/2004, de 21 de Julho), vigente à data daconstituição do ora Recorrido, concretamente quandoo legislador fixou o dever do ora Recorrente respeitaros “(...) princípios e normas vertidos na CartaOlímpica Internacional).10ª – Sucede que, por força do parágrafo 1.3 do Textode Aplicação das Regras 7-14 da Carta OlímpicaInternacional, “quando exista lei nacional, marcaregistada ou outro instrumento jurídico que garanta aprotecção legal do símbolo olímpico ou qualquer outrapropriedade em favor de um CON, este só poderáusufruir de tal tutela sempre que conforme com aCarta Olímpica e instruções recebidas do COI”.11ª – Desta forma, a tutela da protecção legal dasexpressões “Jogos Olímpicos” e “Olimpíadas”,enquanto “propriedades olímpicas”, conferidas pela leiportuguesa – o DL n.º 1/82, de 4 de Janeiro – ao ora

Recorrente, terá necessariamente de ser exercida emconformidade com a Carta Olímpica Internacional.12ª – E a forma como essa tutela deve ser exercidaestá claramente identificada no n.º 3 do artigo 3º doDL n.º 1/82, de Janeiro, a saber: só quando o ComitéOlímpico de Portugal autorizar o uso das expressões“Jogos Olímpicos” e “Olimpíadas”, por escrito emediante decisão por si regularmente tomada, é queesse uso deixa de ser proibido.13ª – Por conseguinte, no caso concreto, e na medidaem que não dispõe de qualquer autorização do oraRecorrente, o ora Recorrido incorre na proibiçãoprevista no n.º 2 do artigo 3º do DL n.º 1/82, de 4 deJaneiro, ou seja, está a utilizar uma expressão proibidapor lei, in casu, a expressão “Olímpico”.14ª – Na denominação do Recorrido está reproduzidaintegralmente parte de uma das expressões cujautilização é proibida por lei – “Olímpico”.15ª – Acresce que essa reprodução da expressão“Olímpico”, em consonância com os fins prosseguidospelo Recorrido, reproduzidos na sentença recorrida afls. 486 e 487 dos autos, remete claramente para oMovimento Olímpico relacionado com os JogosOlímpicos, ao contrário do que entende o Tribunal aquo.16ª – Assim, a reprodução da expressão “Olímpico”na denominação do ora Recorrido nunca poderá deixarde acarretar uma confusão ou erro com a própriaexpressão, pois é a sua total reprodução.17ª – Segundo, a actual alínea b), do n.º 4, do artigo32º do RRNPC, das firmas e denominações não podemfazer parte expressões proibidas por lei.18ª – Consequentemente e atento o supra exposto, oTribunal a quo deveria ter declarado a nulidade dadenominação do Recorrido.19ª – Acresce que, de acordo com a actual alínea d)do mencionado n.º 4 do artigo 32º do RRNPC, das

denominações não podem fazer parte expressões quedesrespeitem ou se apropriem ilegitimamente deinstituições cujo nome ou significado seja desalvaguardar por razões institucionais, culturais ououtras atendíveis.20ª – Ora, atendendo à comprovada e inegávelimportância que o Comité Olímpico de Portugal –reconhecida, quer pelo Tribunal a quo nafundamentação da sentença, quer pelo próprioRecorrido – não pode ser permitida a apropriaçãoilegítima da expressão “olímpico” pelo Recorrido, aqual confere ao ora Recorrente um significado único epróprio.21ª – De facto, é de salvaguardar o nome de umainstituição que não só representa Portugal nas maisdiversas iniciativas, como nalguns casos específicosexerce algumas das competências que inicialmenteeram cometidas à Administração Pública Desportiva.22ª – Ora, a utilização ilegítima, na denominação doRecorrido, da expressão “Olímpico” e o facto de talpermitir que o Recorrido beneficie da notoriedade donome do Recorrente, compreende a violação damencionada alínea d) do n.º 4 do artigo 32º doRRNPC.23ª – Pelo que, em consequência, também por estefundamento, deveria o Tribunal a quo ter declarado anulidade da denominação do Recorrido.24ª – Por outro lado, a denominação do Recorridopode induzir em erro o público em geral quanto àactividade que prossegue, independentemente do queestabelecem os seus Estatutos.25ª – Contrariamente, ao que parece ser oentendimento do M. mo Juiz a quo, o que estáverdadeiramente em causa é a denominação doRecorrido e não os seus estatutos.26ª – É verdade que a expressão latina “Forum”,“foro” em língua Portuguesa, também pode significar

“jurisdição” ou “competência”.27ª – Pelo que, ao contrário do que entendeu o M. moJuiz a quo, a denominação “Fórum Olímpico Portugal”pode causar, no público em geral, a ideia de que oRecorrido está vocacionado e autorizado, temjurisdição ou competência para se dedicar àsactividades prosseguidas pelo Recorrente, o qualexerce em Portugal competências específicas eexclusivas no que respeita ao Movimento Olímpico,conforme resulta da factualidade já provada.28ª – Por outro lado, dada a similitude dasdenominações ora em questão, o público poderá serlevado a crer, erroneamente, que o comprovadoestatuto e notoriedade do Recorrente são detidas peloora Recorrido.29ª – Pelo que, a denominação “Fórum OlímpicoPortugal” viola ainda o estipulado no artigo 36º e nosn. os 1 e 2 do mesmo artigo 32º do RRNPC, devendotambém por esta razão, o Tribunal a quo tê-ladeclarado nula.30ª – No que respeita ao princípio da novidade dasdenominações, haverá susceptibilidade de confusão ouerro sempre que se verifique uma situação em que umsinal possa ser tomado por outro, o que implica queuma pessoa colectiva seja tomada por outra pessoacolectiva.31ª – Haverá também susceptibilidade de confusão ouerro quando o público possa considerar que háidentidade entre as realidades que os sinais – nestecaso as denominações – visam distinguir ou que existeuma relação de grupo entre duas entidades.32ª – Para haver susceptibilidade de indução dopúblico em confusão ou erro, os sinais em confrontodevem ser semelhantes.33ª – A semelhança pode ser gráfica, fonética ouintelectual ou ideológica, na qual o risco de confusãoou erro surge da associação de ideias por os sinais em

confronto serem passíveis de suscitar a mesmaimagem ou sugestão.34ª – Sucede que o consumidor médio nunca sedefronta com os dois sinais, um perante o outro, nomesmo momento: a comparação que entre eles podefazer não é simultânea, mas sucessiva, pelo que é amemória do primeiro que existe quando o segundoaparece, sendo apenas as semelhanças que ressaltam.35ª – Por isso, é por intuição sintética e não pordissecação analítica, como erroneamente fez oTribunal a quo, que deve proceder-se à comparaçãodas denominações e/ou firmas.36ª – Acrescente-se que essa comparação deve serfeita pela semelhança que resulta do conjunto doselementos que constituem a denominação/firma e nãopelas diferenças que poderiam oferecer os diversospormenores considerados isolada e separadamente.37ª – Os juízos sobre a distinção e a nãosusceptibilidade de confusão ou erro devem ter emconta o tipo de pessoa, o seu domicílio ou sede, aafinidade ou proximidade das suas actividades e oâmbito territorial destas.38ª – No presente caso, quer o Recorrente, quer oRecorrido, são (i) associações civis, (ii) sediadas emLisboa, (iii) indicam estatutariamente a sua actividaderelacionada com o Movimento Olímpico e (iv)prosseguem o seu objectivo em todo o territórionacional.39ª – Relativamente às denominações em confronto,consideras numa perspectiva global, estas sãopraticamente idênticas, quer em termos visuais efigurativos, quer em termos fonéticos.40ª – Por outro lado, ao contrário do que manifesta oTribunal a quo, entre as denominações em confronto éevidente uma forte semelhança ideológica ouconceptual.41ª – Acrescente-se que os elementos comuns das

denominações em confronto – Olímpico e Portugal –são, de facto, os elementos prevalentes que chamam aatenção do público.42/43ª – Ora, as denominações do Recorrente eRecorrido, apreciadas no seu conjunto global, são, nãosó, praticamente iguais e, como tal, confundíveis,como a sua semelhança leva o público a crer que oRecorrente e o Recorrido se encontram interligados,relacionados, o que não é verdade.44ª – De acordo com tudo o supra exposto, aocontrário do que entende o Tribunal a quo, oRecorrido pode ser confundido, ou pelo menosrelacionado ou associado ao Recorrente não apenas naperspectiva do “imbecil ou de fraca inteligência”,como refere o M. mo Juiz a quo na sentença recorrida,mas também na perspectiva do homem médio, dopúblico medianamente informado e esclarecido, masnão especialista em desporto ou no Olimpismo.45ª – Acrescente-se que, no juízo de confundibilidade,devem afastar-se quaisquer riscos de confusão sobre areputação ou crédito das entidades em causa, a fim deque não haja o benefício ilegítimo do aproveitamentode um nome adquirido e construído por outrem.46ª – Tal risco verifica-se igualmente in casu atenta areconhecida notoriedade, prestígio, reputação e créditodo Recorrente na sociedade portuguesa e a pretensãodo Recorrido se “colar” à imagem do Recorrente ebeneficiar, consequentemente, desses atributos,provocando confusão no público.47ª – Acrescente-se que o vocábulo/expressão“Olímpico” encontra-se legal e exclusivamentereservado ao Recorrente, nos termos e condições jáexplanadas supra e consagradas no DL n.º 1/82, de 4de Janeiro.48ª – Desta forma, a denominação “Fórum OlímpicoPortugal” viola o Princípio da Novidade e/ou daExclusividade, consagrado nos n. os 1 e 2 do artigo

33º do RRNPC.49ª – Pelo que, por estes motivos, sempre deveria oTribunal a quo ter anulado a denominação “FórumOlímpico Portugal”.50ª – Por fim, como é reconhecido pelo Tribunal a quona fundamentação da sentença recorrida, a fls 487 dosautos, o sítio da Internet do Réu reproduz em váriasdas suas páginas, nos termos documentados a fls. 233a 268 dos autos, o símbolo olímpico que é compostopelos cinco anéis, em uma ou várias cores, tal comodefinido pela Carta Olímpica Internacional (cfr. Regra8 dessa Carta).51ª – Além da reprodução do símbolo olímpico, comoigualmente refere o Tribunal a quo na fundamentaçãoda sentença recorrida (fls. 487), no seu sítio daInternet, o Recorrido reproduz ainda, sem autorizaçãodo Recorrente e do Comité Olímpico Internacional, “ossinais distintivos” da titularidade daqueles.52ª – A reprodução desses sinais viola não só odisposto na Carta Olímpica Internacional e no Tratadode Nairobi de 1981, como, a nível interno, oestabelecido no DL n.º 1/82, de 4 de Janeiro e na Leide Bases do Desporto.53ª – Por outro lado, conforme prova documental juntaaos autos, os sinais olímpicos reproduzidos no sítio daInternet do Recorrido encontram-se ainda protegidosquer a título de direitos de autor, quer a nível dedireitos de propriedade industrial.54ª – Conforme se demonstrou, o Recorrido nãoreproduz os sinais supra referidos para “ilustração dotema de notícia ou de artigos de opinião transcritos,como erroneamente entendeu o Tribunal a quo.55ª – Por último, refira-se que o nome de domínioregistado pelo Recorrido – www.forumolimpico.org/contém igualmente a expressão “Olímpico”, cujautilização de acordo com tudo o alegado nestearticulado, lhe está vedada.

56ª – Pelo que o Recorrido, além de violar as normasconsagradas no RRNPC por ter registado adenominação “Fórum Olímpico Portugal”, com a suaactuação, isto é, ao criar e reproduzir no seu sítio daInternet os sinais olímpicos, viola não só o DL n.º1/82, de 4 de Janeiro e a Lei de Bases do Desporto,como comete ainda crime e contra – ordenaçãoprevistos nos artigos 323º, alíneas a) e b) e 334º,alínea b), todos do Código de Propriedade Industrial.

O Recorrido contra – alegou, defendendo a bondadeda decisão recorrida.

2.Na primeira instância, consideraram-se provados, poracordo e documentos, os seguintes factos:1º - O Comité Olímpico de Portugal é uma associaçãode direito privado, sem fins lucrativos, constituída em26 de Outubro de 1909 e cuja missão principalconsiste em fomentar e proteger o MovimentoOlímpico e que até 07 de Abril de 1993 se designavaComité Olímpico Português.2º - Nessa data (07.04.93) e por escritura públicaoutorgada no 8º Cartório Notarial de Lisboa, foramalterados os respectivos Estatutos, bem como adenominação desta instituição, para a actual, ComitéOlímpico de Portugal (cfr. doc. de fls. 51).3º - O Movimento Olímpico tem como objectivo, entreoutros, a consagração do desporto enquantoimpulsionador da união mundial, cuja realizaçãomáxima é alcançada com a prossecução dos JogosOlímpicos.4º - O Movimento Olímpico agrupa, sob a autoridadesuprema do Comité Olímpico Internacional (COI),federações desportivas internacionais, ComitésOlímpicos Nacionais (CON), os Comités deOrganização dos Jogos Olímpicos, associaçõesnacionais, atletas, clubes, treinadores, árbitros,

nacionais, atletas, clubes, treinadores, árbitros,

técnicos, e demais pessoas ou organizações queaceitem reger-se pelas disposições da Carta Olímpica(cfr. certificado de tradução da Carta Olímpica de fls.52 a 181).5º - A Carta Olímpica consiste na codificação dosPrincípios Fundamentais do Olimpismo, Regras eNormas de Aplicação adoptados pelo COI, regula aorganização, acção e operação do MovimentoOlímpico e estabelece as condições para a celebraçãodos Jogos Olímpicos (cfr. “Introdução à CartaOlímpica” – doc. de fls. 52 a 181).6º - O critério de participação no Movimento Olímpicoé o reconhecimento pelo COI que tem, assim, entremuitas outras, a competência para reconhecer eoutorgar a qualidade de Comité Olímpico Nacional(CON) às organizações cuja actividade estejarelacionada com a sua função, ou seja, a promoção doMovimento Olímpico no respectivo país e eminterligação com os demais (cfr. 6º PrincípioFundamental e artigo 3.º, n.º 1, ambos da CartaOlímpica de fls. 52 a 181).7º - O Autor a quem foi reconhecida e atribuída aqualidade de CON, além de se reger pelos respectivosestatutos, pelo regulamento geral e pela legislaçãoportuguesa aplicável, deve, obrigatoriamente, respeitoaos princípios e normas constantes da Carta Olímpica,designadamente no que se refere aos direitos eobrigações adstritas enquanto CON.8º - Em Portugal, o Autor Comité Olímpico dePortugal assume um papel de referência nodesempenho do ideal olímpico e dos princípios domovimento olímpico, com fins e competênciaspróprias, mas também exclusivas.9º - Conforme resulta dos Estatutos do ComitéOlímpico de Portugal, elaborados de acordo com osprincípios da Carta Olímpica e aprovados pelo COI, oAutor tem como fins, entre outros:

a) - Divulgar, desenvolver e defender o MovimentoOlímpico e o Desporto em geral, em conformidadecom a Carta Olímpica;b) - Promover o gosto pela prática desportiva comomeio de formação do carácter, de defesa da saúde, doambiente e de coesão e integração social; (...)d) - Promover a observância da ética desportiva nascompetições e nas relações entre os agentesdesportivos; (...)f) - Participar obrigatoriamente nos Jogos Olímpicos eorganizar e dirigir em exclusivo a respectiva delegaçãonacional; (...)h) - Representar, nas matérias das suas atribuições, asfederações desportivas nacionais junto do Governo eorganismos oficiais; i) - Promover a difusão dos valores do Olimpismo nosprogramas de ensino da educação física e desporto nosestabelecimentos escolares e universitários;j) - Incentivar e apoiar a formação de AgentesDesportivos;k) - Apoiar as actividades da Academia Olímpica, doMuseu Olímpico; (...)l) - Cooperar com organismos governamentais ou nãogovernamentais, em quaisquer actividades desportivas,que não estejam em contradição com a CartaOlímpica;m) - Coordenar com as Federações os programas depreparação Olímpica;n) - Participar, juntamente com as entidades públicasou privadas, na obtenção de gestão de fundosdestinados ao apoio a programas de desenvolvimentoda alta competição e da preparação olímpica (...) (cfr.doc. de fls. 182 a 201).10º - No Regulamento Geral do Comité Olímpico dePortugal encontram-se reguladas, nas diversas alíneasdo artigo 6.º, as respectivas competências,consagrando-se, entre outras, as seguintes:

a) - Desenvolver, ou apoiar, iniciativas conducentes àdifusão e prestígio do ideal olímpico, bem como aodesenvolvimento do gosto pelo Desporto, em especialjunto da juventude;b) - Contribuir, em colaboração com autoridadespúblicas, para a difusão do Olimpismo nos programasde ensino da educação física e do desporto nasinstituições escolares e universitárias; (...)f) - Colaborar com organismos públicos ou privadospara a adopção de uma política nacional de desportoem consonância com o ideal olímpico;g) - Definir critérios de selecção dos atletas a integrara representação de Portugal nos Jogos Olímpicos, bemcomo noutras competições patrocinadas pelo COI; (...)i) - Determinar a composição, organização e direcçãodas missões nacionais participantes nos Jogos enoutras competições, e assegurar a respectivainscrição; (...)k) - Assegurar as relações com o COI, os Comitésnacionais estrangeiros e as respectivas associaçõeseuropeia e mundial, bem como com os Comités deorganização dos jogos Olímpicos e de outrascompetições (...)” (cfr. doc. de fls. 202 a 216).11º - O Comité Olímpico de Portugal assumiu, aolongo dos seus 97 anos de existência, uma posição deautoridade máxima no que respeita às regras erequisitos dos atletas olímpicos portugueses,definindo, assim, os critérios de selecção de quais osatletas que integram a representação de Portugal nosJogos Olímpicos, organizando e dirigindo emexclusivo a delegação nacional.12º - O Comité Olímpico de Portugal tem competênciaexclusiva para constituir, organizar e dirigir adelegação portuguesa participante nos JogosOlímpicos e nas competições multidesportivaspatrocinadas pelo Comité Internacional Olímpico,colaborando na sua preparação e estimulando a prática

das actividades representadas naqueles.13º - O Comité Olímpico de Portugal mantémactualizado o registo dos desportistas olímpicosportugueses.14º - Recentemente foram transferidas competênciasda Administração Pública Desportiva para o ComitéOlímpico de Portugal, por via do “Contrato - Programade Desenvolvimento Desportivo n.º 48/2005 –execução do Programa de Preparação Olímpica paraos Jogos Olímpicos de Pequim 2008” (publicado noDiário da República - II Série, n.º 70, de 11 de Abrilde 2005) celebrado entre o Instituto de Desporto dePortugal e o Comité Olímpico de Portugal.15º - Ao abrigo deste contrato – programa, o ComitéOlímpico de Portugal passa a superintender, a dirigir ea realizar a gestão do Programa de PreparaçãoOlímpica para os Jogos Olímpicos de Pequim 2008,procedendo à contratualização dos meios financeirosque lhe serão disponibilizados, com as federaçõesdesportivas, nos termos definidos pelo próprio ComitéOlímpico de Portugal.16º - Para tanto, o Comité Olímpico de Portugalrecolheu o acordo das federações desportivasnacionais envolvidas e assumiu, em exclusivo, aresponsabilidade pela direcção e gestão do Programade Preparação Olímpica.17º - Por escritura de 20 de Julho de 2004, lavrada no18º Cartório Notarial de Lisboa, foi constituída aAssociação denominada Fórum Olímpico Portugal, oraRéu (cfr. doc. de fls. 231-232).18º - São fins do Réu, entre outros, os seguintes:a) - Promover o estudo e a investigação acerca doolimpismo em geral e nos países de língua oficialportuguesa em particular [(alínea a) dos mencionadosestatutos];b) - Estimular a crescente participação dos jovens eminiciativas de cooperação para a promoção do

olimpismo [(alínea d) dos mencionados estatutos];c) - Cooperar com o Comité Olímpico de Portugal eAcademia Olímpica em projectos de interesse comum[(alínea h) dos mencionados estatutos].19º - Nem o Autor nem o COI deram qualquerautorização para a utilização das expressões“olímpico” ou “olimpismo”, por parte do Réu.20º - Igualmente, a autorização para a utilização dasmencionadas expressões não foi concedida (nemexcepcionada) por nenhum acto, legislativo ouadministrativo, do Governo Português.21º - A anunciada intenção de “cooperação” com oAutor também não foi objecto de qualquer discussãocom o mesmo até à data, ou de qualquer manifestaçãogovernamental no sentido de existir tal necessidade.22º - O Réu faz divulgação da sua existência e dasactividades que prossegue, através da Internet, tendoregistado, para o efeito, o seguinte nome de domínio:forumolimpico.org.23º - Este site da Internet reproduz em várias das suaspáginas, nos termos documentados a fls. 233 a 268, osímbolo olímpico que é composto pelos cinco anéis,em uma ou várias cores, tal como definido pela CartaOlímpica (cfr. Regra 8 dessa Carta).24º - As cinco cores dos anéis são obrigatoriamente oazul, o amarelo, o preto, o verde e o vermelho, eaparecem numa disposição específica, tal comodefinido na Carta Olímpica, ou seja, da esquerda paraa direita, os anéis azul, preto e vermelho estãosituados em cima e os anéis amarelo e verde estãosituados em baixo.25º - Além da reprodução do símbolo olímpico, o sitedo Réu reproduz ainda, sem autorização do Autor e doCOI os “sinais distintivos” da titularidade destes queaqui se reproduzem:

26º - O “lay out” (imagem) do Fórum Olímpico dePortugal, que se encontra a fls. 233 é seguinte:

27º - O Réu apresenta a sua Associação através dasigla/símbolo FOP, como se verifica da imagem acimareproduzida e como se encontra documentados emvárias das páginas do documento de fls. 233 a 268.3.Sendo o objecto do recurso delimitado pelasconclusões do recorrente, salvo se outras forem deconhecimento oficioso, as questões que importaapreciar e decidir são as seguintes:a) – Se a sentença é nula por violação do disposto naalínea c) do n.º 1 do artigo 668º CPC;b) – Se a denominação do Réu constitui expressãoproibida por lei;c) Se essa mesma denominação viola os princípios daverdade, novidade e exclusividade;d) – Se a mesma denominação constitui apropriaçãoilegítima de Instituição cujo nome seja de salvaguardarpor razões institucionais e culturais;e) – Se o Réu utiliza como seus os sinais olímpicos.3.1.O Recorrente invoca a nulidade parcial da sentença

O Recorrente invoca a nulidade parcial da sentençapor contradição ou oposição entre os respectivosfundamentos e a subsequente decisão, na parte em quese pronuncia sobre a utilização de expressão comapropriação ilegítima de instituição cujo nome ousignificado seja de salvaguardar por razõesinstitucionais e culturais.

Não existe, porém, nenhuma contradição entre osfactos dados como provados na sentença emencionados pelo Recorrente nas suas alegações (Fls.484, 485, in fine, e 486) e a conclusão, na mesmasentença, de que não se verifica nenhuma razão deíndole patriótica, institucional, cultural ou outraatendível que justifique, no caso em apreço, aaplicação da proibição do artigo 32º, n.º 4, alínea e) doRRNPC.

Na verdade, o facto de se reconhecer na sentença que,(i) em Portugal, o Recorrente assume um papel dereferência no desempenho do ideal olímpico e dosprincípios do movimento olímpico, bem como (ii) umaposição de autoridade máxima no que respeita àsregras e requisitos dos atletas olímpicos portugueses,definindo ainda os critérios de selecção de quais osatletas que integram a representação de Portugal aosJogos Olímpicos, organizando e dirigindo emexclusivo a delegação nacional, (ii) que o mesmo temcompetência exclusiva para constituir, organizar edirigir a delegação portuguesa participante nos JogosOlímpicos e nas competições multidesportivaspatrocinadas pelo Comité Olímpico Internacional (...)e que (iv) recentemente foram transferidascompetências da Administração Pública Desportivapara o Comité Olímpico de Portugal, esse facto nãopermite retirar, sem mais, a conclusão pretendida peloRecorrente de que isso constitui, precisamente, aenunciação das razões históricas patrióticas,institucionais e culturais que justificam a salvaguarda

institucionais e culturais que justificam a salvaguarda

do nome do Recorrente de apropriações ilegítimas.

Na verdade, são necessários a apreciação e um juízoespecíficos acerca da verificação, em concreto, dedesrespeito ou de apropriação ilegítima do Recorrentecom base numa das razões a que se refere o artigo 32º,n.º 4, alínea e) do RRNPC, o que foi feito peloTribunal a quo.

A este propósito, considerou a sentença recorrida queo Autor não foi objecto de apropriação ilegítima peladenominação do Réu e que, além disso, as atribuiçõesdo Autor, ora Recorrente, não são afectadas pelo factode o Réu se denominar “Fórum Olímpico de Portugal”,pois por certo as continuará a desempenhar, assimcomo todos os agentes desportivos e as autoridadescontinuarão a identificar o Autor como «ComitéOlímpico de Portugal» e a saber-se relacionar com omesmo naquilo que se refere à esfera de actuaçãodeste último.

Ainda a este respeito, considera a sentença que “nãose admite, nem por mera hipótese, que a ameaça desanções da Comissão Executiva do «Comité OlímpicoInternacional» sobre o Autor, de acordo com a CartaOlímpica Internacional, possa constituir fundamento oujustificação para a consideração de uma razão deíndole patriótica, institucional, cultural ou outraatendível que justifique, no caso em apreço, aaplicação da proibição do artigo 32º, n.º 4, alínea e),do RRNPC.

Na sentença, foi, portanto, apreciada a eventualverificação, em concreto, da situação prevista noartigo 32º, n.º 4, alínea e) do RRNPC e justificada,com as razões referidas nos dois parágrafosantecedentes, a conclusão de que não existe violaçãodaquela norma.

Inexiste, assim, a alegada contradição entre os factosdados como provados e a conclusão da sentença sobrea não violação do artigo 32º, n.º 4, alínea e) doRRNPC, razão pela qual a sentença se não encontraferida da nulidade parcial invocada pelo Recorrente.3.2.Nas suas doutas alegações, partindo do pressupostoque a legislação em vigor atribui em exclusivo aoComité Olímpico de Portugal o direito a incluir na suadenominação o vocábulo “olímpico”, por tal palavraconstituir, em seu entender, uma reprodução de parteda expressão “Jogos Olímpicos”, começa a Recorrentepor considerar que a denominação Fórum OlímpicoPortugal viola expressamente os n. os 1 e 2 doDecreto – Lei n.º 1/82, de 4 de Janeiro.

Saber se a denominação do Réu constitui expressãoproibida por lei é, pois, a 1ª questão que importadilucidar.

A alínea c) do n.º 4 do artigo 32º, do DL 129/98, de 13de Maio, que aprovou o regime do Registo Nacionalde Pessoas Colectivas (RRNPC), prescreve que dasfirmas e denominações não podem fazer parte“expressões proibidas por lei (...)”.

Também o preâmbulo do DL n.º 1/82, de 4 de Janeiro,refere que, “há largos anos vêm o Comité OlímpicoInternacional e o Comité Olímpico Portuguêspugnando por medidas que coíbam o uso generalizadodos símbolos olímpicos, por forma a evitar o seuaviltamento mediante utilização indiscriminada e areservá-los às actividades estritamente relacionadascom o movimento olímpico”.

Assim, “teve eco entre nós essa pretensão numdespacho do então Ministro da Educação Nacional de7 de Dezembro de 1949 e, posteriormente, no DL n.º

7 de Dezembro de 1949 e, posteriormente, no DL n.º

41.784, de 6 de Agosto de 1958, que reconheceram aoComité Olímpico Português o direito ao uso, no País,dos símbolos olímpicos”.

Não obstante, “vem-se sentindo a necessidade deexplicitar o conteúdo desse direito (...)”, pelo que “opresente decreto – lei visa prosseguir esse objectivo,em ordem a contribuir para o prestígio do movimentoolímpico, evitando utilizações dos seus símbolos quedeturpem a sua mensagem de fraternidade humana”

“Para tanto, proíbem-se os usos que lesem aqueledireito exclusivo e prevêem-se adequadas sanções querodeiem de eficácia tal proibição”.Consubstanciando tais objectivos, o artigo 1ºreconhece um direito exclusivo do Comité OlímpicoPortuguês (antiga designação do Autor) ao uso dadivisa, do emblema e da bandeira olímpicos, bemcomo a competência exclusiva para autorizar arealização de provas desportivas com fins olímpicos.

O n.º 1 artigo 3º consagra a proibição do uso, para finsdesportivos, comerciais , industriais ou políticos, dadivisa, do emblema e da bandeira olímpicos, bemcomo das expressões «Jogos Olímpicos» e«Olimpíadas», abrangendo o n.º 2 deste artigo aproibição da imitação e da reprodução, no todo, ou emparte ou com acréscimo, da divisa, do emblema e dabandeira olímpicos, ou das (aludidas) expressões, demodo que possam criar erro ou confusão com estes.

Reportando-nos ao caso concreto, é patente que adenominação “Fórum Olímpico Portugal” não põe emcausa o direito exclusivo do Autor (Comité Olímpicode Portugal), sobre a divisa, o emblema ou a bandeiraolímpicos, tal como se encontram definidos no artigo2º do DL n.º 1/82.

Na verdade, tal denominação, por um lado, não inclui

Na verdade, tal denominação, por um lado, não inclui

as expressões «Jogos Olímpicos» ou «Olimpíadas»,sendo certo que, por outro lado, o vocábulo«Olímpico», que consta da denominação do Réu, nãopode ser considerado, por si só, uma imitação oureprodução susceptível de criar erro ou confusão coma divisa, o emblema ou a bandeira olímpicas.

Por sua vez, atendendo ao disposto no artigo 3º, n.º 2do DL 1/82, a utilização da palavra «olímpico» sópoderá ser proibida na medida em que cause erro ouconfusão com as expressões «jogos olímpicos» ou«olimpíadas».

Como muito bem realça o Réu, é abusivo pretender,como faz o Autor, que o cumprimento daquela normalegal exija que a utilização de uma qualquer expressãonão seja confundível com parte da expressão «JOGOS

OLÍMPICOS».

Com efeito, “a lei proíbe que a expressão utilizada,sendo imitação ou reprodução, no todo, em parte, oucom acréscimo, da divisa, do emblema e da bandeiraolímpicos ou das expressões «JOGOS OLÍMPICOS» ou«OLIMPÍADAS», cause erro ou confusão, (na parte queora interessa), com estas, não com parte delas (o que,aliás, só será possível com a primeira, que é compostapor duas palavras)”.

Perguntar-se-á, então, se a palavra «Olímpico» éconfundível ou susceptível de causar erro com aexpressão «Jogos Olímpicos».

A sentença considerou que a resposta a esta questãonão poderia deixar de ser negativa e, em nossoentender, com toda a razão, confrontando o significadoda expressão “Jogos Olímpicos” e do vocábulo“Olímpico”.

«Jogos Olímpicos» é a expressão que designa as

«Jogos Olímpicos» é a expressão que designa as

grandes manifestações desportivas internacionais quese realizam de quatro em quatro anos numa cidade domundo escolhida para o efeito, abrangendo as maisdiversas modalidades, para cumprimento do idealolímpico do Barão Pierre de Coubertin, que seinspirou nos jogos que de quatro em quatro ano serealizavam na cidade grega de Olímpia, na antigaGrécia.

«Olímpico», no singular, é um adjectivo relativo aoOlimpo ou à cidade grega de Olímpia ou, ainda, aoideal olímpico.

O problema do Autor é que considera “EXPRESSÕES

OLÍMPICAS”, (sobre as quais afirma ser detentor detodos os direitos, em Portugal), todas as expressõesque representem uma relação, associação ou qualqueroutro vínculo com os Jogos Olímpicos ou com omovimento Olímpico», designadamente a palavra«OLÍMPICO”.

Ora o DL n.º 1/82 não prevê tamanha amplitude nosdireitos conferidos ao Autor nem proíbeincondicionalmente expressões que não as previstas noartigo 3º.

Aceitar-se a tese defendida pelo Recorrente, nas suasdoutas conclusões, (como já havia sustentado nosarticulados), equivaleria a atribuir em exclusivo aoComité Olímpico Português não o que o legisladorentendeu (cfr. art. 1º do Decreto-Lei nº 1/82), mas odireito exclusivo, erga omnes, sobre o vocábulo“Olímpico”!

Desse modo, nenhuma outra entidade, fosse ela umapessoa colectiva do tipo lucrativo, associativo, oumesmo um organismo da administração pública,poderia, em Portugal, utilizar o vocábulo “Olímpico”,ou mesmo “Olímpica!” (cfr. informação da Srª

ou mesmo “Olímpica!” (cfr. informação da Srª

Directora do Registo Nacional das Pessoas Colectivasa fls. 401).

Exemplificando, citam-se, nessa informação, váriassociedades comerciais e pessoas colectivas sem finslucrativos que na sua denominação utilizam osvocábulos “Olímpico”, “Olímpica”, “Olímpicos” e“Olímpicas”, algumas delas constituídas há dezenas deanos, relativamente às quais, a vingar a tese do Autor,caberia também ao RRNPC declarar a perda do direitoao uso da respectiva denominação.

A não ser que todas estas entidades tivessem sidoexpressamente autorizadas por escrito e mediantedecisão regularmente tomada pelo Comité Olímpicode Portugal (doravante COP), como estabelece ocitado n.º 3 do artigo 3º, do DL 1/82, também aquelasdenominações violariam a lei porque incluem os ditosvocábulos que, por serem, no entendimento do Autor,reprodução das expressões “Jogos Olímpicos” e“Olimpíadas”, seriam da exclusividade do ComitéOlímpico de Portugal.

Parece-nos, com efeito, que a interpretação defendidapelo Autor quanto ao n.º 2 do artigo 3 do DL 1/82 nãotem qualquer suporte face às regras estabelecidas noartigo 9º do Código Civil, como também porquetotalmente afastada da realidade dos factos.

É certo que a Carta Olímpica Internacional prevê aprotecção das expressões «Jogos Olímpicos» e«Olimpíadas», entre outras consideradas expressõesolímpicas mas não especificadas, contemplando umaprotecção mais ampla do que a prevista no Decreto-Lei n.º 1/82.

Sucede, porém, que a CARTA OLÍMPICA INTERNACIONAL,sendo embora vinculativa para o Autor (cf. artigo 25ºda Lei de Bases do Desporto), não vincula o Estado

da Lei de Bases do Desporto), não vincula o Estado

Português, já que, ao contrário do pretendido peloAutor, não faz parte integrante do ordenamentojurídico português, nos termos e para os efeitos doartigo 8º, n.º 1, da Constituição da RepúblicaPortuguesa, não podendo, por isso, servir defundamento jurídico dos pedidos formulados peloAutor, como procuraremos demonstrar.

Preceitua o artigo 8º, n.º 1, da Constituição que asnormas e os princípios de direito internacional geral oucomum fazem parte integrante do direito português.

Este preceito estabelece, pois, um regime de«recepção automática» das normas e princípios de“direito internacional geral” que assim beneficia deuma cláusula geral de recepção plena, sendo tal direitoincorporado como «parte integrante do direitoportuguês», sem necessidade de observância dasregras ou formas constitucionais específicas devinculação do Estado ao direito internacional(aprovação, ratificação, publicação). Basta que setrate efectivamente de regras de direito internacional eque sejam gerais ou comuns. A primeira condiçãoexclui naturalmente as regras sem carácter jurídico; asegunda condição exclui as normas de DIP que nãopossuam carácter geral, isto é, que não possamreclamar-se de qualidade de vinculação em relação àgeneralidade dos países.

Normas de DIP geral são as normas consuetudinárias(«costume internacional») de âmbito geral, mesmo quese encontrem positivadas em instrumentosinternacionais de âmbito universal (Carta da ONU);princípios de DIP geral são os princípios fundamentaisgeralmente reconhecidos no direito interno dos Estadose que, em virtude da sua radicação generalizada naconsciência jurídica das colectividades, acabam poradquirir sentido normativo no plano do direito

adquirir sentido normativo no plano do direito

internacional (exemplo: princípio da boa – fé; cláusularebus sic stantibus; proibição do abuso de direito;princípio da legítima defesa, etc).

Estas normas e princípios do direito internacionalcomum são parte integrante do direito português com oconteúdo e a extensão que possuem no plano jurídico– internacional, vigorando como tal na ordeminterna(1).

Ora, tendo em conta os ensinamentos dosconstitucionalistas citados, é por demais evidente, quea Carta Olímpica Internacional não pode considerar-secomo direito internacional geral ou comum.

E nem sequer por força do disposto nos restantesnúmeros do artigo 8º da Constituição (não invocadospelo Recorrente) se poderá considerar que a CartaOlímpica Internacional faz parte integrante doordenamento jurídico português, porquanto (i) não setrata de uma convenção internacional regularmenteratificada ou aprovada pelo Estado Português; (ii) nãose trata de um conjunto de normas emanadas dosórgãos competentes das organizações internacionais deque Portugal seja parte; e (iii) não se trata dedisposições de tratados que regem a União Europeianem de normas emanadas das suas instituições, noexercício das respectivas competências.

Carece, por isso, de fundamento a afirmação doRecorrente de que a Carta Olímpica Internacional fazparte integrante do ordenamento jurídico português.

Deste modo, quando o artigo 25º, n.º 1 da Lei deBases do Desporto determina que a actividade doRecorrente deve respeitar, entre outras, as normas daCarta Olímpica Internacional, isso não significa (poisnão teria cobertura constitucional) que o Estado

Português esteja vinculado a essas normas.

O Autor também não demonstra a existência dequalquer registo, de âmbito nacional ou internacional,que lhe confira a titularidade do direito exclusivosobre a palavra «Olímpico».

Acresce que, o facto do Réu ter como objecto oestudo e a investigação do olimpismo em geral e nospaíses de expressão portuguesa em particular não éproibido por qualquer norma legal nem está legalmenteacometido em exclusivo ao Autor.

Em caso algum, em face da legislação vigente emPortugal e, concretamente, do DL n.º 1/82, ainvestigação ou a divulgação do olimpismo - já não arealização de provas desportivas com fins olímpicos,por exemplo - podem ser considerados um exclusivodo Autor.

Deste modo, a utilização pelo Réu da denominação«Fórum Olímpico de Portugal» autorizada peloRRNPC não constitui utilização de expressão proibidapor lei.3.3.No artigo 32º, n. os 1 e 2 do RRNPC encontra-seconsagrado o denominado princípio da verdade quetem em vista a certificação de que as firmas edenominações das sociedades (ou Associações, comosucede, in casu) não contenham elementos que possaminduzir em erro sobre a identificação, natureza ouactividade do respectivo titular.

O artigo 36º do RRNPC estipula uma regra especialno que respeita às associações e fundações,determinando o seu n.º 1 que “as denominações dasassociações (...) devem ser compostas por forma a dara conhecer a sua natureza associativa ou institucional,respectivamente, podendo conter siglas, expressões de

respectivamente, podendo conter siglas, expressões defantasia ou composições.

E acrescente o nº 2:“Podem, todavia, ser admitidas denominações semreferência explícita à natureza associativa ouinstitucional, desde que correspondam a designaçõestradicionais ou não induzam em erro sobre a naturezada pessoa colectiva”.

Em face dos normativos transcritos, parece não haverdúvidas que a denominação “Fórum Olímpico dePortugal” dá a conhecer suficientemente a naturezaassociativa do Réu.

O vocábulo “Fórum” significa “local onde se fazemdebates”, “centro de diversas actividades, geralmentede índole cultural”.

Traduzindo a ideia de um centro de actividades,geralmente de índole cultural, tal vocábulocorresponde a uma designação tradicionalmenteutilizada nas denominações da pessoa colectiva dotipo associativo (existem centenas de registos deassociações inscritas que o incluem”.Aliás, a análise dos registos existentes no RNPC como vocábulo «Fórum» (cfr. doc. de fls. 412-413)permite constatar que as pessoas colectivas que outilizam são, por um lado, na esmagadora maioria, detipo associativo e, por outro lado, sempre que,excepcionalmente, pessoas colectivas de outro tipoutilizam aquele vocábulo, esse tipo está evidenciadopela utilização de outra expressão ou abreviaturaadequada, designadamente da abreviatura “L. da”,comumente identificada com as sociedades por quotas,ou identificação de actividade profissionalincompatível com a natureza associativa.

A denominação «Fórum Olímpico de Portugal» dá,portanto, a conhecer de forma clara a natureza

portanto, a conhecer de forma clara a naturezaassociativa da pessoa colectiva que identifica, pelo

que não é, neste aspecto, enganadora.

Aliás, o Autor, nas suas doutas alegações, reconheceque a denominação Fórum Olímpico Portugal éenganadora, não por induzir em erro sobre a naturezajurídica de pessoa colectiva, mas porque pode induzirem erro sobre a actividade que prossegue.

Mas será que a denominação é enganadora, porqueinduz em erro quanto à actividade que o Réuprossegue e mais especificamente à actividade quenão pode prosseguir?

O Réu tem como actividade principal «promover oestudo e a investigação acerca do olimpismo em gerale nos países de língua portuguesa em particular”,actividade esta que não é ilegal(2) e que, comoresulta, a contrario, do artigo 1º do DL n.º 1/82, não éda competência exclusiva do Autor.

Como atrás se referiu, o princípio da verdadepretende, no essencial, salvaguardar o erro sobre aidentificação, a natureza ou a actividade do titular dadenominação, designadamente, quanto a esta última,evitar a sugestão de actividade diferente do queconstitui o objecto social (artigo 32º, n. os 1 e 2, doRRNPC).

Nada disso se passa no caso em apreço.

Não sendo a denominação do Réu enganadora no querespeita à respectiva natureza jurídica, também não o équanto ao respectivo escopo.

Não se verifica, por isso, violação do princípio, daverdade com a utilização pelo Réu, da denominação«Fórum Olímpico de Portugal» autorizada pelo RNPC.3.4.E violará a denominação o princípio da novidade e da

E violará a denominação o princípio da novidade e da

exclusividade?

Nos termos do disposto no n.º 1 do artigo 33º doRRNPC, as firmas e denominações devem ser distintase não susceptíveis de confusão ou erro com asregistadas ou licenciadas no mesmo âmbito deexclusividade, mesmo quando a lei permita a inclusãode elementos utilizados por outras já registadas, oucom designações de instituições notoriamenteconhecidas.

O princípio da novidade das firmas e denominações,ainda que aplicável a todo o tipo de pessoa colectivapor força do disposto no nº 1 do artigo 33º do RRNPC,tem vindo a ser, por razões evidentes, objecto departicular estudo da doutrina e de decisões judiciais,em matéria de direito comercial, isto é, do confrontoentre firmas e denominações de sociedadescomerciais.

Porém, afigura-se incontroverso que os ensinamentosdoutrinais e jurisprudenciais em matéria da firma sãoaplicáveis, com as necessárias adaptações, aouniverso das pessoas colectivas de tipo associativo,como sucede no caso em apreço.

Como refere Carlos Olavo(3), “o critério da distinçãoentre firmas radica-se antes de mais na eventualidadede indução em confusão ou erro”.

“Só se puder haver confusão ou erro entre doiscomerciantes, é que existe perigo para o própriocomerciante e para o público em geral”.

“Haverá susceptibilidade de confusão ou erro sempreque se verifique uma situação em que um sinal sejatomado por outro, o que implica que uma sociedadepossa ser tomada por outra sociedade”.

Acrescenta ainda o mesmo autor que “haverá tambémsusceptibilidade de confusão ou erro quando o públicopossa considerar que há identidade entre as realidadesque os sinais visam distinguir ou que existe umarelação entre essas realidades, verbi gratia, aexistência de uma relação de grupo entre duassociedades, quando tal relação não exista”.

Para haver susceptibilidade de indução do público emconfusão ou erro, os sinais em confronto devem sersemelhantes.

A semelhança pode ser gráfica, fonética ou intelectualou ideológica, na qual o risco de confusão ou errosurge da associação de ideias por os sinais emconfronto serem passíveis de suscitar a mesmaimagem ou sugestão.

Sucede que o consumidor médio nunca se defrontacom os dois sinais, um perante o outro, no mesmomomento; a comparação que entre eles pode fazer nãoé simultânea, mas sucessiva.

Consequentemente, a comparação que define asemelhança verifica-se entre um sinal e a memória quese possa ter do outro.

Com efeito, se os dois sinais são comparados umperante o outro, são as diferenças que ressaltam, masquando dois sinais são vistos sucessivamente é amemória do primeiro que existe quando o segundoaparece, pelo que, nesse momento, apenas assemelhanças ressaltam.

Por isso, é por intuição sintética e não por dissecaçãoanalítica que deve proceder-se à comparação dasdenominações/firmas.

Essa comparação deve ser feita pela semelhança que

Essa comparação deve ser feita pela semelhança que

resulta do conjunto dos elementos que constituem adenominação/firma e não pelas diferenças quepoderiam oferecer os diversos pormenoresconsiderados isolados e separadamente.

No juízo sobre a distinção e a insusceptibilidade deconfusão ou erro é de considerar, além do mais, o tipode pessoa, o seu domicílio ou sede, a afinidade ouproximidade das suas actividades e o âmbito territorialdestas (art. 33º, nº 2 do DL nº 129/98). Estascircunstâncias devem ser consideradas, porém,meramente adjuvantes ou instrumentais, não podendoser vistas como absolutas em si mesmas, pois que ocerne da questão é sempre aferir da confundibilidade.Tais circunstâncias podem ser de todo em todoirrelevantes tanto porque pode não haver a mínimasemelhança entre os dizeres das firmas como porquepode haver toda a semelhança. Nestes casos é comoque desinteressante estar a analisar essascircunstâncias adjuvantes.

Para aferir da confundibilidade impõe-se, portanto,uma apreciação do conjunto das firmas, não dosrespectivos elementos parcelares (4). Esta afirmação,contudo, deve ser vista em termos convenientes,importando considerar sempre que o que releva é onúcleo fundamental da firma, não os aditamentoslegalmente impostos ("L. da", "SA", "Sucessores") ouas indicações genéricas referentes ao tipo deactividade exercida(5).

A susceptibilidade de confusão, de outro lado, deveser apurada em função do homem médio e não dotécnico do sector, isto é, segundo a opinião de umhomem médio de diligência normal(6).

Reportando-nos, então, ao caso concreto, há que ver seexiste semelhança e confundibilidade entre a

existe semelhança e confundibilidade entre a

denominação do Réu e a denominação do Autor.Anote-se, desde logo, que o Autor não tem o direitoexclusivo sobre o uso do vocábulo “Olímpico”, comonão tem qualquer direito exclusivo sobre a palavra“Portugal”.

Igualmente não tem qualquer direito exclusivo sobre aexpressão “Olímpico de Portugal”, que não seja o quelhe advém do princípio da exclusividade dasdenominações, quanto à sua denominação “ComitéOlímpico de Portugal”.

E não tendo esses exclusivos, seria necessário quealguém, com a diligência média, (não sendo, por isso,relevante a susceptibilidade de confusão por parte deum cidadão menos diligente), pudesse confundir“Fórum Olímpico Portugal” com “Comité Olímpico dePortugal”.

Comparadas as denominações – “Fórum Olímpico dePortugal” e “Comité Olímpico de Portugal” – não secomunga da opinião de que “o homem médio, que useda normal diligência que põe nos seus actos, julgueque as duas aludidas denominações são a mesmaentidade, da mesma forma que não confunde aassociação “Fórum do Desporto Português” com“Confederação do Desporto de Portugal” ou com o“Instituto do Desporto de Portugal” (cfr. fls. 408).

Com efeito, atendendo às duas denominações emconfronto, verifica-se que ambas incluem a expressão“Olímpico de Portugal”, diferindo no 1º vocábulo.

Este, em qualquer dos casos, é o que nas respectivasdenominações dá a conhecer a natureza associativadas pessoas colectivas a que respeitam.

Mas os aludidos vocábulos “Comité” e “Fórum”,

reflectindo ambos a natureza associativa do Autor e

do Réu, traduzem conceitos diferenciados.

“Fórum”, palavra latina, significa a praça pública naantiga Roma, onde se realizavam os actos maisimportantes da vida do povo romano, e queactualmente tem assumido os significados de localonde se fazem debates, centro de diversas actividades,geralmente de índole cultural ou discursos de umdeterminado assunto por especialistas(7). Traduz umconceito totalmente distinto do vocábulo “Comité” quesignifica “junta ou comissão que delibera ou dirige pormandato de muitos, delegação”(8).

Ademais, a expressão “Olímpico de Portugal” só fazverdadeiro sentido quando directamente ligada aosvocábulos que a antecedem e qualificam: o “Fórum”,associação privada essencialmente vocacionada para oestudo e investigação sobre o olimpismo, e o“Comité”, pessoa colectiva de utilidade pública quetem como escopo fundamental a divulgação, odesenvolvimento e a defesa do movimento olímpico edo desporto em geral, a quem a lei reconheceexpressamente o direito exclusivo ao uso da divisa, doemblema e da bandeira olímpicos, bem como acompetência exclusiva para autorizar a realização deprovas desportivas com fins olímpicos.

Quer numa, quer na outra denominação, resulta claroqual o seu âmbito, qual a sua actividade, bem como asua diferenciação em termos de impressão deconjunto.

É assim pouco provável que o homem médio, com anormal diligência, confunda “Fórum Olímpico dePortugal” e “Comité Olímpico de Portugal”, tomandouma entidade pela outra.

Como salientou o Recorrido, a palavra «Fórum» não é

Como salientou o Recorrido, a palavra «Fórum» não éum elemento subalterno na denominação do Réu, não

apenas porque (i) inicia essa mesma designação, mas,em especial, porque (ii) é uma palavra foneticamenteforte, de fácil pronunciação e distinta das utilizadasmais frequentemente, o que lhe assegura ficar, comfacilidade, na memória de quem a lê ou ouvepronunciar.

Acresce, no caso em apreço, que o prestígio e anotoriedade pública do Comité Olímpico de Portugalsão tais, designadamente pelas frequentes referênciasque lhe são feitas nos meios de comunicação socialportuguesa, não apenas desportivos, que um cidadãomédio com uma diligência normal não fará confusãoentre a denominação “Fórum Olímpico de Portugal» ea denominação «Comité Olímpico de Portugal».

Encontra-se, assim, afastada a possibilidade deconfusão ou de erro, na identificação do Autor e doRéu.3.5.Pergunta-se agora se o Réu terá utilizado expressãocom apropriação ilegítima de instituição cujo nome ousignificado seja de salvaguardar por razõesinstitucionais e culturais.

Dispõe a alínea e) do artigo 32º do RRNPC, que dasfirmas e denominações não podem fazer parte“expressões que desrespeitem ou se apropriemilegitimamente de símbolos nacionais, personalidades,épocas ou instituições cujo nome ou significado sejade salvaguardar por razões históricas, patrióticas,científicas, institucionais, culturais ou outrasatendíveis”.

Segundo o Autor, a lei pretende aqui prevenir que umaqualquer Sociedade ou Associação possa beneficiar(ilegitimamente) do prestígio e notoriedade de umnome adquirido e construído por outrem.

nome adquirido e construído por outrem.

Aderindo à tese do Réu, considera a sentença queaquilo que “se pretende com aquele preceito legal ésalvaguardar (é essa a expressão da lei), por razõeshistóricas, patrióticas, científicas, institucionaisculturais ou outras atendíveis - já não da confusão quepode ser gerada com a eventual violação do princípioda novidade -, símbolos nacionais, personalidades,épocas ou instituições que tenham sido desrespeitadasou objecto de apropriação ilegítima numa firma oudenominação.

Analisando a referida norma, parece-nos, salvo odevido respeito, ser esta a interpretação correcta.

Não existindo, manifestamente, desrespeito, in casu,importa, então, saber se estaremos perante umaapropriação ilegítima.Quando se abordou, designadamente, a eventualviolação do artigo 3º do Decreto-Lei n.º 1/82 e aeventual violação dos princípios da verdade e danovidade, concluiu-se não existir apropriaçãoilegítima.

Mas, ainda que assim não fosse, seria necessário, paraaplicar tal proibição, que existisse uma razão de índolehistórica, patriótica, científica, institucional, culturalou outra atendível que justificasse a protecção legal.

E não se vislumbra qual seja.

As atribuições do Autor não são afectadas pelo factode o Réu se denominar “Fórum Olímpico de Portugal”,pois, por certo, que as continuará a desempenhar,assim como os agentes desportivos e as autoridadescontinuarão a identificar o Autor como o “ComitéOlímpico Nacional” e a saber relacionar-se com omesmo naquilo que se refere à esfera de actuaçãodeste último.

deste último.

Também se não pode admitir que a ameaça de sançõesda Comissão Executiva do “Comité OlímpicoInternacional” sobre o Autor, de acordo com a CartaOlímpica Internacional possa constituir fundamento oujustificação para a consideração de uma razão deíndole patriótica, institucional, cultural ou outraatendível que justifique, no caso em apreço, aaplicação da proibição do artigo 32º, n.º 4, alínea e) doRRNPC.

Não se verifica, pois, violação do princípio daverdade, na vertente de utilização de expressão comapropriação ilegítima pelo Réu de instituição cujonome ou significado seja de salvaguardar por razõesinstitucionais e culturais.3.6.Considera seguidamente o Recorrente que o simplesfacto do Réu utilizar, sem qualquer tipo de autorizaçãopor parte do Autor, o “Símbolo Olímpico” na páginasdo seu site na Internet consubstancia igualmente umaviolação da (i) Carta Olímpica Internacional; (ii) dasmais variadas legislações e actos internacionais e (iii)da legislação portuguesa (o referido DL de 1982 e aLei de Bases do Desporto).

Como decorre dos documentos de fls. 415 a 420 e járesultava também do documento junto pelo Autor afls. 233 a 268, a reprodução, no site do Réu, dos anéisolímpicos e do sinal identificador dos Jogos Olímpicosque se irão realizar em Pequim, em 2008, serve parailustração do tema de notícias ou de artigos de opiniãoali transcritos, à semelhança do que, como é dodomínio público, acontece nos meios de comunicaçãosocial escrita e na televisão, no caso de o temaabordado serem os Jogos Olímpicos ou asOlimpíadas.

Parece-nos que deste facto se não possa inferir que o

Réu pretenda usar em seu benefício os sinaisolímpicos, designadamente como sinais distintivosseus, uma vez que tem um logótipo bem diferente dologótipo do Autor ou dos anéis olímpicos ou dabandeira olímpica, insusceptível de se confundir comos mesmos.

De tais factos não se pode, igualmente, inferirqualquer intenção deste pretender enganar o público ecausar confusão, nem tão pouco intenção de beneficiarda notoriedade reconhecida ao Autor, existindo, aliás,um item no Menu do site do Réu com referências aoComité Olímpico de Portugal suficientementeesclarecedor quanto à sua distinta personalidadejurídica e competências no âmbito do olimpismo (cfr.fls. 254).

Aliás a reprodução dos sinais olímpicos verifica-senoutros sites que abordam a temática do olimpismo(fls. 421 a 432), podendo-se, por isso, verificar quenão há qualquer “colagem” do Réu a tais sinais, osquais se destinam apenas a ilustrar o tema de notíciasou de artigos de opinião ali transcritos.

Apesar dos símbolos olímpicos estarem legalmenteprotegidos, o certo é que, pelo menos os cinco anéisolímpicos, são, em boa verdade, um patrimóniouniversal cuja reprodução, excepto em casos deutilização com benefício próprio para o utilizador, nãodeve ser indiscriminadamente limitada.

Inexiste, pois, qualquer utilização abusiva dossímbolos olímpicos por parte do Réu.6.Pelo exposto, na improcedência da apelação, confirma-se a sentença recorrida.Custas pelo apelante.

Lisboa, 29 de Novembro de 2007.

Manuel F. Granja Rodrigues da FonsecaFernando Pereira RodriguesFernanda Isabel Pereira______________________1 - Gomes Canotilho e Vital Moreira, Constituição da República Portuguesa,

Anotada, Volume I, 254.2 - Neste sentido se pronunciou a Procuradoria Geral da República junto dasVaras e Juízos Cíveis de Lisboa (cfr. doc. de fls. 321 a 350, maxime a fls.349).3 - Propriedade Industrial, Almedina, Coimbra, 1997, 122.

4 - Oliveira Ascensão, Direito Comercial, Volume II, 101.5 - Oliveira Ascensão, Direito Comercial, Volume II, 89 e 91.6 - Brito Correia, Direito Comercial, 1º Volume, 103; Oliveira Ascensão,Direito Comercial, Volume II, 103.7 - Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.

8 - Ibidem.