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Page 1: Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo ... · nulidades praticadas no processo de execução fiscal, no artº 165º do CPPT que indica como as mais graves nulidades

Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal AdministrativoProcesso: 0613/14Data do Acordão: 18-06-2014Tribunal: 2 SECÇÃORelator: ANA PAULA LOBODescritores: NULIDADE

PRAZO DE ARGUIÇÃOPROCESSO DE EXECUÇÃO FISCALFALTAELEMENTOS ESSENCIAIS DO ACTOPENHORA

Sumário: I – A nulidade da penhora é uma nulidade processual, como qualquer outra que seja praticada no processo de execução fiscal que, não sendo uma das mencionadas no artº 165º, pese embora assim a haja denominado o recorrente, apenas tem um tratamento de nulidade relativa ou anulabilidade, devendo contra ela ser apresentada, em 10 dias, reclamação.II – Não estamos face a uma nulidade do negócio jurídico invocável a todo o tempo, por contender com a substância de uma relação jurídica ou de uma nulidade do acto tributário em que a falta de algum dos seus elementos essenciais afecta a respectiva validade em resultado de qualquer desconformidade com a lei, regras e princípios aplicáveis seja à sua prática ou nascença, seja aos seus efeitos. III – O que se nos depara é uma nulidade processual cujo regime legal de arguição, consta do disposto nos artº 276º e 277º do Código de Procedimento e Processo Tributário.

Nº Convencional: JSTA000P17640Nº do Documento: SA2201406180613Data de Entrada: 26-05-2014Recorrente: A...Recorrido 1: FAZENDA PÚBLICAVotação: UNANIMIDADE

Aditamento:

Texto Integral

Texto Integral: Recurso JurisdicionalDecisão recorrida – Tribunal Administrativo e Fiscal de Loulé. 01 de Abril de 2014

Acordam nesta Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo:

A………………., veio interpor o presente recurso da decisão supra mencionada, proferida no âmbito do Processo de Impugnação n.° 665/12.0 BEPNF, tendo, para esse efeito formulado, a final da sua alegação, as

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seguintes conclusões:

1.ª O que está em causa no presente recurso é a decisão do Tribunal recorrido que indeferiu liminarmente a reclamação que perante ele o recorrente deduziu contra um acto administrativo da AT, consistente na decisão de penhora de diversos prédios urbanos de um prédio misto, sem que este tivesse sido também penhorado, praticado em sede de execução fiscal, que reputa de nulo;

2.ª Considerou o Tribunal “a quo” que, mesmo fundando-se na nulidade do acto administrativo “reclamado”, deveria o recorrente ter deduzido a “reclamação” no prazo de 10 dias, contados da notificação do mesmo acto, prazo esse que não admite excepções, pelo que indeferiu liminarmente o recurso por intempestivo, sem conhecer da questão de fundo, ou seja, da invocada nulidade;

3.ª Com tal decisão violou o Tribunal “a quo” um dos mais elementares e caros princípios do nosso ordenamento jurídico-administrativo, segundo o qual os actos administrativos feridos de nulidade não produzem quaisquer efeitos jurídicos, são invocáveis a qualquer tempo, por qualquer interessado e podendo a nulidade ser declarada também a qualquer tempo por qualquer órgão administrativo ou pelo Tribunal;

4.ª Se o acto administrativo impugnado contenciosamente é nulo, logo inexistente, não há, sequer, que o considerar para, com fundamento na sua notificação ao interessado, se considerar o início de qualquer prazo;

5.ª- A decisão recorrida violou o art.° n.° 276.º CPPT interpretado com recurso ao que se dispõe no n.° 1 do art.° 9.° do CC, no sentido de que a “reclamação” contenciosa não está sujeita a qualquer prazo, quando fundada na nulidade do acto administrativo reclamado e tendo em vista o que se dispõe no n.° 3 do art..° 102.°, n.° 3 do CPPT o n.° 1 do art.° 58.° do CPTA e os n.°s 1 e 2 do art.° 134.° do CPA.

6.ª Assim e em consequência, deve o presente recurso ser considerado procedente, revogando-se a decisão recorrida e ordenando-se que o processo baixe ao Tribunal recorrido para que este conheça da questão de fundo, caso este Venerando Supremo Tribunal Administrativo não decida conhecer oficiosamente da nulidade, decretando

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desde logo a nulidade das penhoras com o seu consequente levantamento.

Foi emitido parecer pelo Magistrado do Ministério Público considerando dever o recurso ser julgado procedente.

Mostram-se provados, os seguintes factos com relevo para a decisão de ambos os recursos:

1 .° - Em 31 de Maio de 2012 o recorrente foi citado para a execução, após realização das penhoras em causa neste recurso;

2.° - O recorrente apresentou em 21 de Janeiro de 2014 reclamação contra as penhoras efectuadas que considera nulas.

Questão objecto de recurso:

1- Prazo da reclamação das decisões do órgão da execução fiscal

Não há dúvida nos presentes autos de que o reclamante tomou conhecimento das penhoras que agora qualifica de nulas em Maio de 2012. Apresentou diversas reclamações quanto a elas, por diversos fundamentos que foram já indeferidas.No início do corrente ano, ano e meio depois de tomar conhecimento dessas penhoras, vem o recorrente invocar a sua nulidade com fundamento em estarmos perante prédios mistos e haverem apenas sido penhorados os prédios urbanos que os compõem, sem, simultaneamente terem sido penhorados os prédios rústicos que integram cada um desses prédios mistos. Mais sabemos que não é juridicamente possível desafectar a parte rústica de cada prédio urbano penhorado, que com ele forma uma unidade predial, classificada pelo registo predial, na descrição predial, como prédio misto, em dissintonia, aliás, com a classificação legal do Código Civil que apenas conhece prédios rústicos e prédios urbanos e atribuiu uma ou outra natureza, aos tais prédios mistos tendo em conta o critério de destinação ou afectação económica como claramente decorre do disposto no nº2 do art. 204º do Código Civil:

“Entende-se por prédio rústico uma parte delimitada do solo e as construções nele existentes que não tenham

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autonomia económica, e por prédio urbano qualquer edifício incorporado no solo, com os terrenos que lhe sirvam de logradouro”.O artº 277º do CPPT é claro em estabelecer que o prazo de reclamação é de 10 dias após a notificação da decisão.Invocando a violação de todos os princípios jurídicos pretende o recorrente estar em face de uma nulidade invocável a todo o tempo. Acontece que está expressamente estabelecido um regime aplicável às nulidades praticadas no processo de execução fiscal, no artº 165º do CPPT que indica como as mais graves nulidades praticadas nesse processo e, portanto insanáveis, a falta de citação e a falta de requisitos do título executivo. Porém, mesmo estas só poderão ser arguidas até ao trânsito em julgado da decisão final.A nulidade da penhora é uma nulidade processual, como qualquer outra que seja praticada no processo de execução fiscal que, não sendo uma das mencionadas no artº 165º, pese embora assim a haja denominado o recorrente, apenas tem um tratamento de nulidade relativa ou anulabilidade, devendo contra ela ser apresentada, em 10 dias, reclamação. As nulidades processuais – cf., in, Manuel de Andrade, Noções Elementares de Processo Civil, 1979, p. 176 – «apenas determinam uma invalidação mais ou menos extensa de actos processuais como sanção ao desvio do formalismo processual seguido em relação ao formalismo processual prescrito na lei». Não estamos face a uma nulidade do negócio jurídico invocável a todo o tempo, por contender com a substância de uma relação jurídica ou de uma nulidade do acto tributário em que a falta de algum dos seus elementos essenciais afecta a respectiva validade em resultado de qualquer desconformidade com a lei, regras e princípios aplicáveis seja à sua prática ou nascença, seja aos seus efeitos. O que se nos depara é uma nulidade processual cujo regime legal de arguição, consta do disposto nos artº 276º e 277º do CPPT e que foi apresentada depois de terminado esse prazo, fazendo precludir o direito à eventual correcção do rito processual que se entende violado. Todas as nulidades processuais praticadas no processo de execução fiscal que não tenham cabimento no disposto no artº 165º do CPPT, como esta não tem, para poderem ser apreciadas haverão de ser presentes ao órgãos de execução fiscal no prazo de 10 dias.Deste modo, nada há a censurar à decisão recorrida que, por isso, se confirma.

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Deliberação

Termos em que acordam os Juízes da Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo em negar provimento ao recurso e confirmar a decisão recorrida.

Custas pelo recorrente.(Processado e revisto com recurso a meios informáticos (art. 131º nº 5 do Código de Processo Civil, ex vi artº 2º Código de Procedimento e Processo Tributário).

Lisboa, 18 de Junho de 2014. – Ana Paula Lobo (relatora) – Dulce Neto – Ascensão Lopes.

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