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Page 1: Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo ... · impressos modelo 98 emitidos pela Recorrente, nos meses de Maio a Agosto de 2007 (cfr. doc. n." 2 junto à contestação),

Texto Integral

Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo Processo: 01099/11Data do Acordão: 09-05-2012Tribunal: 2 SECÇÃORelator: LINO RIBEIRODescritores: FALSIDADE DO TÍTULO EXECUTIVOSumário: I - A falsidade do título executivo, a que se refere a alínea c) do nº 1

do art. 204º do CPPT, é apenas a que resulta de desconformidade entre o título executivo e a base fáctico-documental cuja atestação nele se exprime, declarando-se nele o que na realidade não foi praticado pelo oficial público ou se não passou de modo a poder ser objecto das percepções do oficial público. II - Por isso, a falsidade do documento não se confunde com a inexistência da obrigação nele materializada ou incorporada.

Nº Convencional: JSTA000P14113Nº do Documento: SA22012050901099Data de Entrada: 02-12-2011Recorrente: A..., LDARecorrido 1: INST DA VINHA E DO VINHO, IPVotação: UNANIMIDADEAditamento:

Texto Integral: Acordam na Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo 1.1. A……, Lda com sinais nos autos, interpõe recurso jurisdicional da sentença do Tribunal Administrativo e Fiscal de Viseu, que julgou improcedente a oposição que deduziu à execução fiscal nº 2704200701001558 que corre termos nos Serviços de Finanças de Tondela para cobrança de taxas de promoção e juros de mora relativos ao período de Maio a Agosto de 2006. Nas alegações, conclui o seguinte: s) O presente recurso vem interposto da sentença proferida pelo Tribunal Administrativo e Fiscal de Viseu que julgou improcedente a oposição à execução, por erro na forma de processo e fundamento manifestamente improcedente, não tendo sido, alegadamente, invocado nenhum dos fundamentos elencados no nº 1 do artigo 204º do CPPT. b) A pretensão de oposição à execução da A…… respeita o elenco taxativo do nº 1 do artigo 204.º do CPPT, bem como a pretensão por si deduzida tem viabilidade e concludência, razão pela qual não é manifesta a sua improcedência. c) Na petição de oposição que dá causa aos presentes autos - entre outros vícios e nulidades então apontadas pela A…… foi invocada a falsidade do título executivo que subjaz aos autos de execução (cf. artigos 18 a 28 da petição inicial). d) Esse fundamento é, desde logo, expressamente enquadrável numa das alíneas do nº 1 do artigo 204º do CPPT, em concreto, na respectiva alínea c). e) Nos presentes autos ocorre uma desconformidade entre o título executivo e a base fáctico-documental que este exprime, que pode influir nos termos da execução.

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f) Ao julgar que, in casu, se verifica fundamento manifestamente improcedente e erro na forma de processo, o Tribunal a quo violou o disposto no artigo 204º, n.º 1, alínea c) do CPPT. 1.2 Nas contra-alegações o Instituto da Vinha e do Vinho, concluiu o seguinte: a) A ora Recorrente requereu ao Tribunal que declarasse extinto o processo de execução fiscal n.º 2704 2007 01001558, instaurado no serviço de finanças de Viseu para cobrança coerciva de € 222.804,92 devidos ao IVV alegando, entre outros vícios, a falsidade do título executivo. b) A sentença recorrida indeferiu acertadamente aquela pretensão, considerando que «a petição inicial de oposição à execução fiscal deveria ter sido alvo de rejeição liminar por “não ter sido alegado algum dos fundamentos admitidos no nº 1 do artigo 204º, e, ou, de ser “manifesta a improcedência” - nos termos das alíneas b) e c) do nº 1 do citado artigo 209.° do Código de Procedimento e de Processo Tributário» - cfr. sentença recorrida (cit.). c) De acordo com a legislação aplicável, a taxa de promoção deve ser paga até ao último dia do mês seguinte àquele em que a taxa se torna exigível, mediante o preenchimento e entrega mensal no IVV do impresso de autoliquidação, aprovado pelo próprio IVV, o impresso Modelo 98 (clr. artigo 4.°, n.º 1, alínea b) do Decreto-Lei n.º 119/97, de 15 de Maio). d) É a Recorrente - e não o IVV, ora Recorrido - quem autoliquida e procede ao pagamento das taxas de promoção devidas ao IVV nos termos legais, declarando, no impresso Modelo 98, qual a natureza a natureza dos produtos vínicos que produz/comercializa para efeitos da determinação da taxa aplicável. e) Sendo a declaração, liquidação e pagamento dos tributos em apreço da inteira responsabilidade da ora Recorrente, se as afirmações constantes do título executivo são falsas (designadamente quanto à categoria dos produtos sujeitos ou isentos da taxa de promoção), deve-o a ora Recorrente às suas próprias declarações, já que o IVV se limitou a constatar os valores em dívida por esta inscritos nos impressos de autoliquidação que entregou. f) Como tem entendido a jurisprudência dos Tribunais superiores «a falsidade do título executivo, fundamento de oposição à execução fiscal vertido na alínea c) do nº 1 do artigo 204º do CPPT, é a que decorre da discrepância entre o título executivo e os conhecimentos ou outros instrumentos de cobrança que nele se diz estarem-lhe subjacentes» (Acórdão do STA de 13 de Janeiro de 2010, proferido no recurso n." 0667/09). g) In casu, os valores em dívida foram apurados relativamente aos impressos modelo 98 emitidos pela Recorrente, nos meses de Maio a Agosto de 2007 (cfr. doc. n." 2 junto à contestação), pelo que inexiste qualquer desconformidade entre o teor do título executivo e a base fáctica documental cuja atestação nele se exprime, pelo que se tem por respeitado o disposto no artigo 372.°, n.º 2 do Cc. h) Ainda que assim não se entendesse, nos termos do artigo 204.°, nº1, alínea c) do CPPT, só é fundamento de oposição à execução a

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falsidade do título executivo «quando possa influir nos termos da execução» a qual deverá ser aferida «em função da actuação da entidade que dirige o processo de execução fiscal deve desenvolver (como, por exemplo, o montante dos bens a penhorar)» devendo ainda ser apreciada «na perspectiva do executado e as possibilidades que a lei lhe confere, de forma a entender-se que tal influência ocorre sempre que possam ser afectados os seus direitos de defesa (por exemplo, a indicação errada da proveniência da dívida, que pode afectar a possibilidade de serem invocados fundamentos de oposição à execução, como estar paga a obrigação tributária, estar prescrita ou haver duplicação de colecta», o que não sucede in casu - cfr. Jorge Lopes de Sousa, (Lisboa, 2007) S, Código de Procedimento e de Processo Tributário, II Volume, p. 358, (cit.). i) É notória a inexistência de fundamento para a dedução da presente oposição, pelo que a sentença recorrida não merece qualquer censura, devendo ser mantida. 1.3. O Ministério Público não emitiu parecer. 2. Dá-se por reproduzido o teor dos documentos constantes de fls. 31 a 71 dos autos. 3. Considerando as conclusões formuladas pela recorrente nas respectivas alegações, são dois os pontos da sua discordância com a sentença recorrida: (i) a falsidade do título executivo é um dos fundamentos de oposição à execução fiscal, expressamente enquadrável na alínea c) do artigo 204º do CPPT, pelo que não existe erro na forma de processo; (ii) existe desconformidade entre o título executivo e a base fáctico-documental que ele exprime, susceptível de influir nos termos da execução. Relativamente à primeira questão, a argumentação da recorrente está desfocada daquilo que na verdade se decidiu na sentença recorrida. Em parte alguma se disse que a falsidade do título executivo não é fundamento da oposição. Bem pelo contrário, aí se diz que «a falsidade do título constitui fundamento de oposição à execução fiscal quando possa influir nos termos da execução – nos termos da alínea c) do nº 1 do artigo 204º do Código de Procedimento e de Processo Tributário». Quando a sentença alude ao “erro na forma de processo” fá-lo reportando-se a outros fundamentos da oposição invocados pela recorrente, como a falta de requisitos essenciais do título, em que se diz que deveria ter sido deduzida perante o órgão de execução fiscal, ou sobre a validade do acto administrativo contido na notificação aludida no título, que só pode ser objecto de impugnação. Em relação à falsidade do título, a sentença conheceu do mérito, concluindo que, para efeitos de oposição, a falsidade consiste na discordância entre os seus termos formais e a realidade do acto de liquidação, o que não se verifica no caso, já que a recorrente não alega sequer que a certidão da dívida sofra de alguma discrepância entre os seus termos e o teor do acto administrativo subjacente. Portanto, a questão fulcral em recurso consiste em saber se ocorre a falsidade do título executivo que a recorrente alegou como

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fundamento da oposição à execução fiscal que contra si corre nos Serviços de Finanças de Tondela. Ora, esta questão já foi decidida neste Tribunal em processos em que as partes e os fundamentos invocados são em tudo iguais ao presente. Com efeito, nos recentes acórdãos de 21/3/2012 (rec. nº 1119/11) e de 26/4/2012, (rec. nº 1058/11), considerou-se que a argumentação da recorrente tem a ver com a inexistência de facto tributário, ilegalidade que deve ser invocada em impugnação judicial, e não com a falsidade do titulo, uma vez que esta falsidade consiste na desconformidade do seu conteúdo face à realidade certificada, «não sendo falso o titulo que reflecte correctamente o suporte de ondefoi extraído, ainda que o conteúdo desse suporte seja, porventura, inverídico». E efectivamente, assim é. Diz a recorrente nas suas alegações de recurso: “ (…) Pois que a certidão dada à execução pelo IVV e que serve de título aos presentes autos de execução peremptoriamente afirma que «o vinho em causa foi movimentado sem ter sido paga a taxa de promoção devida ao IVV». Ora, tal como apontado pela A…… na petição que dá causa aos presentes autos, «o título executivo emanado do IVV atestacomo tendo sido objecto da sua percepção factos que na realidade não o foram. De parte nenhuma do processo administrativo é lícito retirar a conclusão constante do título executivo segundo a qual «o vinho em causa foi movimentado sem ter sido paga a taxa de promoção devida ao Instituto da Vinha e do Vinho [...] Não há no processo administrativo qualquer evidência de que o vinho em falta tenha sido comercializado com destino a consumo. O que origina, ao menos, a dúvida fundada sobre se não se trata, conforme a oponente afirma, de vinho expedido para o mercado único como matéria-prima. (…).” Nos termos da alínea c) do nº 1 do art. 204º do CPPT, a falsidade do título executivo, quando possa influir nos termos da execução, é fundamento da oposição à execução. Todavia, segundo o entendimento que vem sido feito pela jurisprudência do STA, a falsidade do título executivo, a que se refere esta norma é apenas a que resulta de desconformidade entre o título executivo e a base fáctico-documental cuja atestação nele se exprime (cfr. ac. do STA de 13/1/2010, rec. nº 0667/09). Ora, naquele discurso, o que a recorrente vem dizer é que em parte nenhuma do processo administrativo é licito retirar a conclusão constante do titulo executivo segundo o qual o vinho em causa foi movimentado sem ter sido paga a taxa de promoção devida ao IVV e que não há no processo administrativo qualquer evidência de que o vinho em falta tenha sido comercializado com destino a consumo. Masisto tem que ver tão só com hipotética inexistência do facto tributário, ilegalidade que, a existir, se enquadra na impugnação judicial e não nos termos da alínea c) do nº 1 do art. 204º do CPPT. Diz o nº 2 do artigo 372º do Código Civil que «o documento é falso, quando nele se atesta como tendo sido objecto da percepção da autoridade ou oficial público qualquer facto que na realidade se não verificou, ou como tendo sido praticado pela entidade responsável

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qualquer acto que na realidade o não foi». Como se vê, o conceito de falsidade do documento resume-se em se declarar nele o que na realidade não foi praticado pelo oficial público ou se não passou de modo a poder ser objecto das percepções do oficial público. O título executivo é inequivocamente um documento escrito, ou seja, um objecto representativo duma declaração, que constitui prova legal para fins executivos (cfr. arts. 362º, 371º e 376º, nº 2 do CCv), tendo a declaração nele representada por objecto o facto constitutivo do direito de crédito. Tal documento dá corpo a um direito exequível, mas, enquanto título, goza de autonomia relativamente à obrigação exequenda, que não pode, em princípio, ser questionada na acção executiva. Ora, a recorrente considera que no processo administrativo não há qualquer evidência de que o vinho em falta tenha sido comercializado com destino a consumo e por isso mesmo o título executivo é falso quanto a esse facto. Mas, a falsidade do documento não se confunde com a inexistência da obrigação nele materializada ou incorporada. A falsidade é a formação do documento de maneira diferente da verdade. E sobre isso nenhum facto foi invocado, designadamente que o título é forjado, que o seu contexto, data ou assinatura, são viciados, ou que a entidade emitente não atesta com verdade os factos de que se apercebe, existindo desconformidade entre o título e os conhecimentos ou outros instrumentos de cobrança que nele se referem. Se não há prova que o vinho se destinou ao consumo, então o acto tributário incorporado no título padece de erro nos pressupostos de facto. Mas, não se pode dizer que a alegada divergência entre a realidade e o acto tributário que está subjacente aos instrumentos de cobrança constitui falsidade do título. Tal alegação, a comprovar-se, constituir vício não do título, mas do acto de liquidação subjacente àqueles instrumentos, afectando a sua legalidade, por erro nos pressupostos de facto. Ante o que fica dito, podemos concluir que o recurso é de improceder. 4. Pelo exposto, acordam em negar provimento ao recurso e confirmar a sentença recorrida. Custas pelo recorrente. Lisboa, 9 de Maio de 2012. - Lino Ribeiro (relator) – Dulce Neto – Ascensão Lopes.