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Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal AdministrativoProcesso: 01488/14Data do Acordão: 14-01-2015Tribunal: 2 SECÇÃORelator: ANA PAULA LOBODescritores: COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL ADMINISTRATIVO

MATÉRIA DE FACTOMATÉRIA DE DIREITOINSUFICIÊNCIA DA MATÉRIA DE FACTO

Sumário: I – Não cabe na competência deste Supremo Tribunal Administrativo analisar a questão de facto, excepto se os factos levados ao probatório não forem bastantes para alicerçar uma solução jurídica do litígio, situação em que o tribunal recorrido haverá de completar a matéria de facto provada.II – Não se verifica uma insuficiência da matéria de facto possível de ultrapassar pela anulação do julgamento com a ampliação da matéria de facto se não foram alegados factos cuja prova, ainda que indiciária nos procedimentos cautelares, fundamente o direito invocado.

Nº Convencional: JSTA000P18453Nº do Documento: SA22015011401488Data de Entrada: 09-12-2014Recorrente: ASSOCIAÇÃO SINDICAL DOS JUÍZES PORTUGUESESRecorrido 1: INSTITUTO DA SEGURANÇA SOCIAL, IPVotação: UNANIMIDADE

Aditamento:

Texto Integral

Texto Integral: Recurso JurisdicionalDecisão recorrida – Tribunal Tributário de Lisboa. de 30 de Setembro de 2014.Julgou improcedente a presente providência e, em consequência absolveu do pedido a requerida. Acordam nesta Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo:

A ASSOCIAÇÃO SINDICAL DOS JUÍZES PORTUGUESES, veio interpor o presente recurso da sentença supra mencionada, proferida no processo cautelar nº 1645/14.7BELRS por si instaurado em representação e defesa dos direitos e interesses individuais legalmente protegidos da sua associada, auditora de Justiça, A…………….., contra o Instituto da Segurança Social, I.P. onde formulou o pedido cautelar de lhe ser reconhecido o direito à contribuição obrigatória para a Segurança Social, nos termos em que opera para os trabalhadores que exercem funções públicas, para efeitos de atribuição do subsídio de parentalidade, na

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dependência da acção comum de reconhecimento de direito ou interesse legítimo em matéria tributária, tendo, para esse efeito formulado, a final da sua alegação, as seguintes conclusões:

1. A associada da Recorrente não aufere quaisquer outros rendimentos para além dos que percebe hoje da Direção Geral da Administração da Justiça, pelo que, caso não lhe seja reconhecido o seu direito, o único rendimento que aufere não lhe permitirá, face à ausência de disponibilidade para o trabalho após o parto, garantir a subsistência do seu agregado familiar, ou mesmo que o consiga, representará tal esforço, uma diminuição drástica da sua qualidade de vida;

2. A sobrevivência e a diminuição da qualidade de vida são, assim valores de impossível quantificação, não sendo, assim, prejuízos de quantificação minimamente precisa, sendo, por isso, enquadráveis no Conceito de lesão irreparável, conforme defendido de forma unânime pela jurisprudência que versa sobre a matéria;

3. Não pretende a Recorrente o pagamento de uma verba pecuniariamente determinável, mas antes e tão-só o reconhecimento de um direito que lhe permitirá, junto das instâncias próprias, obter o eventual pagamento de um subsídio, pelo que mesmo que a ação principal proceda, o que, aliás, se espera, certo é que tal hipótese não evitará a produção dos prejuízos que se pretendem acautelar através da procedência do presente meio cautelar, porquanto, quando for proferida decisão final, há muito que se encontra em crise a subsistência e diminuição da qualidade de vida da associada da Recorrente e do seu agregado familiar;

4. Entendimento contrário é, aliás, inconstitucional por violação do princípio da tutela judicial efetiva, consagrado nos artigos 20°, n°s 1 e 5, e 266°, nº 4, da CRP;

5. O requisito relativo à verificação de lesão irreparável encontra-se, assim, preenchido no caso em apreço, devendo, por isso, a douta sentença recorrida ser revogada e substituída por outra que decrete a procedência do presente meio cautelar, demonstrado que está também o preenchimento dos restantes pressupostos.

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Requereu a revogação da sentença recorrida.

O recorrido, Instituto da Segurança Social, I.P., considerando que deve ser integralmente mantida a sentença recorrida, apresentou contra-alegações que culminam com as seguintes conclusões:

1. Vem a recorrente interpor recurso da sentença proferida do tribunal a quo por considerar que existe erro nos pressupostos de direito, com fundamento no facto de ter sido feita prova nos autos de que a associada está perante uma situação de justo receio de lesão irreparável do direito que alega, pois não aufere outros rendimentos para além dos que percebe da Direção Geral da Administração da Justiça, e após o parto não conseguirá garantir o sustento do seu agregado familiar, ou mesmo que o consiga, tal representará uma diminuição da sua qualidade de vida.

2. Sucede que, como se concluiu na douta sentença recorrida, a recorrente não fez, e agora em sede de recurso, não demonstra em que medida se encontra preenchido o requisito da lesão irreparável de que depende a procedência da presente providência cautelar.

3. Competia à recorrente fazer prova da ausência de outros rendimentos, provenientes do trabalho, de capitais, prediais, bolsas, apoios sociais, tal como a ausência de património mobiliário, designadamente, contas bancárias (à ordem e/ou a prazo), certificados de aforro, ações, fundos de investimento e outros bens mobiliários, quer da associada quer do seu agregado familiar.

4. Não comprovando a ausência de rendimentos, nem tão pouco os encargos e despesas mensais que teria de suportar e que se revelam alegadamente superiores ao rendimento que disporá após o parto, não poderia ser exigido ao tribunal a quo que fosse proferida decisão diferente da prolatada.

5. Termos em que, inverificado o pressuposto do justo receio de lesão irreparável, previsto no n.° 6 do artigo 147.° do C.P.P.T., deverá manter-se a decisão recorrida nos seus precisos termos.

Foi emitido parecer pelo Magistrado do Ministério Público no sentido da confirmação da sentença recorrida.

A sentença recorrida considerou provados os seguintes

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factos:

A. A associada da requerente, enquanto auditora de justiça do XXX Curso Normal de Formação para a Magistratura Judicial, assinou um Contrato de Formação com o Centro de Estudos Judiciários (CEJ), do qual consta, na sua Cláusula 6ª, que “O primeiro outorgante, não se constituindo como entidade empregadora pública, no âmbito do presente contrato, não está sujeito às obrigações constantes dos artigos 55° e 56° da Lei n° 4/2007, de 16 de janeiro, que aprova as bases gerais do sistema de segurança social”. — cfr. fls. 17 a 19 dos autos.

B. Por força do entendimento da Autoridade Tributária e Aduaneira (ATA), expresso no ofício proferido no âmbito do proc. n° 2013000294, passou a ser efectuada retenção de IRS à associada da requerente.(cfr. fls. 20 a 24 e 25 dos autos).

C. No ano de 2013, o CEJ não fez à associada da requerente qualquer desconto obrigatório para a Segurança Social (cfr. fls. 25 e 32 a 35 dos autos).

D. Através do ofício n° 144/2013-GD, de 15-11-2013 o Instituto da segurança social, IP, comunicou ao CEJ o seguinte: “O Centro de Estudos Judiciários, pela celebração de contratos de formação com os auditores de justiça não assume a qualidade de entidade empregadora ainda que sejam abonadas determinadas quantias, a título de compensação de despesas ou de bolsas de formação, da mesma forma que não se atribui a qualidade de beneficiários aos candidatos a magistrados, destinatários da formação.

E. Com efeito, não se verificando a existência de exercício actividade profissional, não é devido o enquadramento na Segurança Social, por não se encontrarem presentes os pressupostos da relação jurídica contributiva”. — cfr- fls. 26 dos autos.

F. Em 10-07-2014 a associada da requerente encontrava-se grávida, sendo a data prevista para o parto o dia 10-11-2014 (cfr. fls. 27 e 28 dos autos).

G. Através do despacho n° 10444/2014 do Conselho Superior da Magistratura, publicado na II série do Diário da República, nº 154, de 12-08-2014, a associada da

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requerente foi nomeada juíza de direito em regime de estágio, com efeitos reportados a 16-07-2014.

Questões objecto de recurso:

1- reconhecimento cautelar do direito à contribuição obrigatória para a Segurança Social, nos termos em que opera para os trabalhadores que exercem funções públicas, para efeitos de atribuição do subsídio de parentalidade.

Inserindo-se na esfera da competência do Supremo Tribunal Administrativo a interpretação dos conceitos jurídicos, considera-se que foi a interpretação de «lesão

irreparável» o factor determinante e fundamento do recurso.Estamos num procedimento cautelar com estrutura e a funcionalidade próprias, cuja decisão, com funções conservatórias ou antecipatórias, ocorre após uma análise sumária das questões colocadas. Por se tratar de um processo cautelar para reconhecimento de um direito em matéria tributária, obtém ele enquadramento no disposto no artº 147º, nº 6 do Código de Procedimento e Processo Tributário. A matéria de facto indiciariamente dada como provada e, que a recorrente nem sequer questionou, não faz qualquer menção à situação económica concreta da recorrente nem antes nem aquela que se verificará após a situação do parto. Desconhecemos a composição do agregado familiar da recorrente, as receitas e despesas do mesmo, bem como a alteração que irá sofrer em virtude do referido evento, se a recorrente deixará de exercer as suas funções, actualmente de juíza de direito em regime de estágio, durante algum período a seguir ao nascimento do seu filho, se haverá alteração na sua remuneração, etc.Por outro lado sabemos que desde 16 de Julho de 2014 passou a ter enquadramento na Segurança Social ainda que o período entre essa data e o nascimento do seu filho não lhe permita beneficiar de qualquer subsídio de parentalidade.A situação que se seguirá ao nascimento do seu filho, aparentemente, e como referido na acção e no recurso, desenrolar-se-á com o percebimento de uma remuneração, igual ou mesmo superior ao montante mensal que recebeu durante o período em que foi auditora de Justiça pelo que se não entende que alegue, como fez

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na petição inicial, que sem o subsídio de parentalidade «não poderá fazer face ás despesas do dia a dia, para a sua subsistência e do seu filho, passando a depender da ajuda de familiares e amigos para o efeito, o que já não sucede desde o momento em que terminou o curso, com 23 anos, (...) e sofrerá uma diminuição drástica do seu nível de vida», sendo que o subsídio de parentalidade é por sua própria natureza temporário. O referido subsídio, é atribuído ao pai e ou à mãe, com vista a substituir o rendimento de trabalho perdido, durante o período de licença por nascimento de filho, incluindo: - subsídio parental inicial- subsídio parental inicial exclusivo da mãe- subsídio parental inicial exclusivo do pai- subsídio parental inicial de um progenitor em caso de impossibilidade do outro.Desconhecendo qual era o nível de vida da Srª Juíza representada pela recorrente antes do nascimento do seu filho, desconhecendo as alterações em termos remuneratórios que se sucederão a esse nascimento, desconhecendo os, pelo menos previsíveis, encargos acrescidos que esse nascimento comportará, desconhecendo os rendimentos do agregado familiar bem como os encargos deste, desconhecendo-se que subsídio parental será recebido pelo pai da criança, e quais as respetivas licenças, faltas e dispensas não retribuídas nos termos do Código do Trabalho ou de períodos equivalentes que serão gozadas pela representante da recorrente, não é possível afirmar que previsivelmente o não percebimento de subsídio de parentalidade será causa de lesão irreparável, o que é diverso de se poder admitir que cause lesão dado que sempre o dito subsídio representaria um acréscimo patrimonial.Não cabe na competência deste Supremo Tribunal Administrativo analisar a questão de facto, excepto se os factos levados ao probatório não forem bastantes para alicerçar uma solução jurídica do litígio, situação em que o tribunal recorrido haverá de completar a matéria de facto provada. Mas, face aos factos alegados não pode dizer-se que estamos perante uma insuficiência da matéria de facto possível de ultrapassar pela anulação do julgamento com a ampliação da matéria de facto porque esta só pode alargar-se com base nos factos alegados e, nenhum dos factos antes mencionados foi alegado.Com efeito, a causa de pedir constante da petição inicial resume-se a argumentação teórica sobre se a representada da recorrente, tendo em conta os deveres a

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que está sujeita durante o período de vigência do contrato de formação que firmou com o CEJ deve ou não ser equiparada, para efeitos de descontos para a Segurança Social a trabalhador público, indicando como factos apenas, o contrato de formação firmado com o CEJ. Além disso, sempre se anotará que não há uma evidência da existência do direito invocado na esfera jurídica da representada da recorrente, ainda que apenas de prognose baseada em aparências, e, não a decisão definitiva sobre o direito do caso, pelo que é prematuro tecer considerações sobre a sua violação. Não nos deparamos com uma aparência da existência do direito manifesta, indubitável, irrefutável, sem margem para quaisquer dúvidas, clara num primeiro olhar para qualquer jurista. Como se refere no acórdão do STA de 25/8/2010, processo n.º 637/10, disponível em www.dgsi.pt “(…) Porque as evidências não se demonstram, nunca é evidente a ilegalidade do acto fundada em vícios cuja apreciação implique demonstrações, ou seja, raciocínios complexos através dos quais se transite de um inicial estado de dúvida para a certeza de que o vício afinal existe”. Pelo contrário, trata-se da configuração de um direito não declarado expressamente na lei e que a representada da recorrente pretende ver construído a partir dos deveres que lhe são acometidos no contrato de formação retirando deles, que não da global relação jurídica em causa que contém cláusula expressa derrogatória desse pretenso direito – cláusulas 4ª, 5ª e 6ª do contrato de formação - , a conformação de um direito reconhecido aos trabalhadores públicos que celebraram um contrato de trabalho público e não um contrato de formação.

A sentença recorrida que assim concluiu, não enferma, pois, de qualquer erro de julgamento.Improcede, pois, o recurso.

DeliberaçãoTermos em que acordam os Juízes da Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo em negar provimento ao recurso, e confirmar a sentença recorrida.

Custas pela recorrente.

(Processado e revisto com recurso a meios informáticos (art. 131º

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nº 5 do Código de Processo Civil, ex vi artº 2º Código de

Procedimento e Processo Tributário).

Lisboa, 14 de Janeiro de 2015. – Ana Paula Lobo(relatora) – Dulce Neto – Ascensão Lopes.

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