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Acompanhamento Arqueológico Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor Relatório Final Março 2015

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Acompanhamento Arqueológico Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor Relatório Final Março 2015

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

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Ficha Técnica

Promotor

Direcção Regional de Cultura do Norte (DRCN)

Empreitada

Soalvap

Execução dos trabalhos arqueológicos

Archeo'Estudos, Lda.

Coordenação

Paula Barreira Abranches

Arqueólogo

Bruno Miguel Silva Magalhães

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

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Índice

Introdução ............................................................................................................................................................ 4

Enquadramento histórico ..................................................................................................................................... 7

Descrição do projeto .......................................................................................................................................... 10

Metodologia ....................................................................................................................................................... 11

Descrição dos trabalhos e principais resultados obtidos ................................................................................... 12

Proteção de estruturas arqueológicas durante o acompanhamento.................................................................. 38

A muralha e a barbacã do castelo de Castelo Melhor ....................................................................................... 39

Espólio recolhido................................................................................................................................................ 45

Conclusões e perspetivas futuras ...................................................................................................................... 47

Referências bibliográficas .................................................................................................................................. 48

ANEXO 1: Cartografia ........................................................................................................................................ 49

ANEXO 2: Ficha de sítio .................................................................................................................................... 58

ANEXO 3:Pareceres Tutela ............................................................................................................................... 61

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

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Introdução

O acompanhamento arqueológico desenvolvido no castelo de Castelo Melhor, no âmbito da empreitada

dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” promovida pela Direção Regional de

Cultura do Norte (DRCN), encontra-se determinado no respetivo Caderno de Encargos, no ponto 1.4. das

Condições Técnicas Especiais.

O castelo de Castelo Melhor está classificado como Imóvel de Interesse Público pelo decreto nº 28/82,

DR, 1ª série, nº 47 de 26 de fevereiro de 1982, possuindo ZEP pela Portaria 336/2011, DR, 2ª série, nº 27, 8 de

fevereiro de 2011, estando afeta à DRCN pela Portaria nº 829/2009, DR, 2ª série, nº 163 de 24 de agosto de

2009.

Os trabalhos tiveram como proponente a empresa Archeo’Estudos, Investigação Arqueológica, lda. e

realizaram-se ao abrigo da Lei 107/01 de 8 de setembro (Lei do Património Cultural) e do disposto no Decreto

Lei nº 164/2014 datado de 4 de novembro.

Figura 1. Implantação do castelo (seta laranja) sobranceiro a Castelo Melhor, a partir da capela de S. Gabriel.

A obra alvo de acompanhamento localiza-se no castelo de Castelo Melhor, freguesia de Castelo Melhor,

concelho de Vila Nova de Foz Côa, distrito da Guarda (figura 1). O local tem como acesso principal a EN222, a

partir de onde, ao quilómetro 218, se entra em Castelo Melhor. A partir daí, o acesso está bem visível e, a partir

da igreja matriz, é feito em subida íngreme.

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

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O acompanhamento arqueológico teve como base cartográfica a Carta Militar de Portugal, folha nº 141,

à escala 1:25000, dos Serviços Cartográficos do Exército, sendo que o castelo apresenta uma altitude máxima

de 447 metros (figura 2). A freguesia de Castelo Melhor localiza-se imediatamente a norte, enquanto o Vale da

Sapata estende-se para oeste, o lugar do Carrascal para este e o lugar do Seixo, uma pequena elevação com a

altitude máxima de 379 metros, imediatamente a sul. O castelo de Castelo Melhor implanta-se assim num

cabeço destacado na paisagem e é dominado, a noroeste, norte e nordeste, por várias elevações, sendo a de S.

Gabriel a que mais se destaca, com altitude máxima 652 metros. A oeste, sul e este é possível observar o

terreno por várias dezenas de quilómetros, sendo, inclusive, visível Espanha a este e sudeste. Em dias de

melhor visibilidade são também observáveis as áreas mais altas da Serra da Estrela a sudoeste.

Figura 2. O castelo de Castelo Melhor (seta laranja) na Carta Militar de Portugal, folha nº 141, à escala 1:25000.

Geologicamente, o sítio insere-se, na carta Geológica de Portugal à escala 1:500000 (figura 3), no

Complexo Xisto-Grauváquico do super grupo do Douro-Beiras, enquadrável no Câmbrico Médio e Inferior. Esta

área é delimitada a noroeste e norte pela Formação do Quartzito Armoricano, com a presença de quartzitos,

conglomerados e xistos. Esta formação enquadra-se no Ordovícico Inferior.

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

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Figura 3. Castelo Melhor (seta laranja) na Carta Geológica de Portugal, à escala 1:500000 (o verde mais claro representa o Complexo Xisto-Grauváquico, enquanto o verde mais escuro representa a Formação do Quartzito

Armoricano).

Todos os momentos da obra, inseridos nas diferentes fases de acompanhamento arqueológico, foram

alvo de ações técnicas consideradas essenciais e necessárias para procedermos ao correto e exaustivo registo

dos vestígios encontrados e/ou reconstruídos, particularmente através do seu registo fotográfico. No geral, foi

efetuado o levantamento fotográfico dos momentos de obra que suscitaram um maior interesse de registo.

Os trabalhos descritos neste relatório decorreram entre 2 de dezembro de 2014 e 16 de janeiro de

2015.

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Enquadramento histórico

Bem antes da fundação de Castelo Melhor, a primeira referência a comunidades cristãs estruturadas

naquela zona é feita no Paroquial Suévico, redigido entre 572 e 582, quando é referida, na Diocese de Viseu, a

paróquia de Caliabria, localizada no Monte Calabre (sobranceiro à margem sul do rio Douro), em Almendra

(Barroca, 2008/2009), a poucos quilómetros de Castelo Melhor. Calábria iria ganhar uma importância crescente

na região nos anos que se seguiram, sendo elevada mesmo a sede de Diocese, pelo menos a partir de 633

(Barroca, 2008/2009), embora outros autores refiram essa possibilidade alguns anos antes (Cosme, 2002).

É provável que a Diocese ainda existisse aquando da invasão muçulmana, em 711, não tendo, no

entanto, sobrevivido muito mais tempo (Barroca, 2008/2009). Posteriormente, é apenas referida em 1171,

quando o povoado abandonado de Calábria é doado por Fernando II ao Bispado de Ciudad Rodrigo (Cosme,

2002; Barroca, 2008/2009). Na realidade, à ocupação muçulmana em toda a área geográfica em que se insere

este trabalho, apenas pode ser imputado um testemunho arqueológico evidente: a cisterna muçulmana de

Castelo Rodrigo, atribuível ao século X, inícios do XI. Tudo o resto que diz respeito àqueles anos de ocupação é

ainda bastante desconhecido, apesar de vários documentos nos informarem sobre os avanços e recuos de

cristãos e muçulmanos naquela área geográfica (Barroca, 2008/2009).

A fundação de Castelo Melhor resulta da reorganização do território de Riba Côa feita pelo rei de Leão,

Afonso IX, já nas primeiras décadas do século XIII (Lima e Rodrigues, 1998). Com efeito, grosso modo entre

1171 e 1296/97, a zona do Riba Côa esteve sob domínio leonês (Barroca, 2008/2009), tendo os foros e

costumes daquela vila sido outorgados em 1209 (?) (Barroca, 2008/2009; Rosas e Barroca, 2000). Por esta

altura, Castelo Melhor encontrava-se numa zona de fronteira importantíssima e bastante instável. É neste campo

de ação que se enquadra o castelo de Castelo Melhor, quando os monarcas leoneses dotam de estruturas

militares defensivas os principais e mais antigos núcleos de povoamento aí localizados (Barroca, 2008/2009).

A 12 de setembro de 1297, com o Tratado de Alcanices, foi incluído nas vilas do Riba Côa do reino de

Portugal, depois da troca entre vários castelos e lugares ocupados naquela zona, por diversas vilas e castelos

raianos (Moreno, 1997). No ano seguinte os seus foros, usos e costumes foram confirmados por D. Dinis (Lima e

Rodrigues, 1998; Rosas e Barroca, 2000).

O castelo apresenta uma pequena cerca de contorno ovalado com cerca de 90 x 70 metros, construída

em alvenaria de xisto, sempre à mesma cota, no interior da qual se localizaria a povoação (Barroca, 2008/2009;

Lima e Rodrigues 1998; Mathias, 2000; Rosas e Barroca, 2000). A única porta de entrada encontra-se voltada a

noroeste, próximo da qual, para norte, se destaca uma grande torre troncocónica posteriormente adossada à

muralha, no seu exterior (Barroca, 2008/2009; Lima e Rodrigues, 1998; Rosas e Barroca, 2000). Mais uma vez,

esta estrutura enquadra-se num tipo de construção de torreões semicirculares, observado, para esta época de

domínio leonês, na zona de Riba Côa, em oposição aos torreões de planta quadrada, observados em todos os

castelo de iniciativa portuguesa a ocidente do Côa (Barroca, 2008/2009). Este torreão deverá ter sido construído

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

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na sequência da tentativa de melhoramento dos mecanismos de defesa do castelo de Castelo Melhor, ou por

Afonso IX (1188-1230) ou já por Fernando III (1230-1252) (Barroca, 2008/2009).

Barroca (2008/2009) refere ainda que, apesar da construção do castelo se enquadrar cronologicamente

em época Românica, nunca deverá ter tido torre de menagem, ao contrário de outros castelos daquele âmbito

regional, como os de Ranhados, Marialva, Longroiva (os três no concelho de Mêda) ou Sortelha (no concelho de

Sabugal), todos eles apresentando aquele que é o mais simbólico e importante contributo Românico no que diz

respeito à arquitetura militar.

D. Dinis terá melhorado profundamente o sistema de entrada no castelo, sendo possível que a porta de

arco apontado aí localizada seja já o resultado dessas obras (Lima e Rodrigues, 1998; Rosas e Barroca, 2000).

Barroca (1998) refere mesmo que a intervenção de D. Dinis em Castelo Melhor se circunscreveu apenas à

reformulação integral da porta de entrada, conservando o restante recinto amuralhado intacto. A porta passou a

estar enquadrada por dois torreões de planta quadrangular, conservando-se ainda o sistema de porta, munida

de uma herse ou rastrilho, uma grade de descida vertical patente nos encaixes laterais (Barroca, 2008/2009).

Estas obras de D. Dinis no castelo de Castelo Melhor enquadram-se num desígnio de maior atenção dada às

fortificações de fronteira em zonas mais vulneráveis, como é o caso das de Riba Côa, mas também do Alto

Alentejo e Beira Interior (Barroca, 1998). No total, estão documentadas obras de D. Dinis em 57 fortificações, a

maior parte entre 1288 e 1315, e com grande peso para as fortificações ao longo da raia (Barroca, 1998).

A partir desta altura, não muito depois da assinatura do tratado de Alcanices, o castelo terá iniciado a

sua decadência devido à perda da sua importância estratégica para Almendra. Terá existido um abandono

progressivo do povoado intramuros, formando-se um arrabalde no sopé do cabeço fortificado, em torno da Igreja

de S. Salvador (Lima e Rodrigues, 1998; Rosas e Barroca, 2000). Neste contexto, e apesar de estarem

documentadas obras nas defesas do castelo de Castelo Melhor a 10 de março de 1383 (Barroca, 2008/2009), o

mesmo terá sido gradualmente abandonado.

Com efeito, a vila de Castelo Melhor aparece já em 1320-1321 incorporada no termo de Castelo

Rodrigo, sem qualquer tipo de autonomia municipal, o que demonstra, particularmente na perda de estatuto,

uma clara evidência de decadência (Lima e Rodrigues, 1998; Rosas e Barroca, 2000). A isto não terá sido alheia

a perda de importância para uma aldeia do termo como era o caso de Almendra, de implantação aberta e com

melhores relações regionais, que acaba por se tornar cabeça de concelho. Nesse particular, entre os anos de

1527 e 1532 é disso sintomático o número de moradores ou famílias existentes em cada um dos locais: 230 em

Almendra e 32 em Castelo Melhor (Lima e Rodrigues, 1998). Nesta altura, já Castelo Melhor e Almendra, que

eram duas vilas durante o reino de Leão, são agora uma só no reino de Portugal.

Por outro lado, principalmente ao longo do século XV, as adaptações à pirobalística originam uma série

de reformas Góticas e Tardo-Góticas nos castelos da raia. Na zona entre Miranda do Douro e Sabugal são

várias as reformas em vários castelos (por exemplo, nos de Freixo de Espada à Cinta, Longroiva, Pinhel ou

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

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Castelo Rodrigo), embora Castelo Melhor já não sofra qualquer tipo de alteração (Barroca, 2008/2009). Este é

mais um sintoma de que a sua importância estratégica se esvaziava rapidamente (Barroca, 2008/2009).

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Descrição do projeto

No âmbito da empreitada dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor”,

promovida pela Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN), as Condições Técnicas Especiais do respetivo

Caderno de Encargos, referem que este trabalho pretende preencher as lacunas de alvenaria nos panos de

muralha, isto é, proceder ao restauro e reintegração de sete zonas (Z2, Z3, Z4, Z6, Z7, Z8 e Z9) da muralha do

castelo que se encontram derrubadas (Anexo 1). Desta forma, pretende-se a integração de novas unidades de

alvenaria de xisto em cor, textura, dimensões e acabamento semelhantes aos elementos existentes. Para além

disso, é referido que a execução deste trabalho deve respeitar o alinhamento das fiadas já existentes. Deve ser

também dada especial atenção aos tipos de argamassa utilizados, bem como às formas de travamento a

introduzir, sendo que, sempre que for verificada a existência de elementos irrecuperáveis ou irreversivelmente

danificados, deverão ser substituídos. Por outro lado, deverá ser garantida a total estabilidade de todos os

elementos remanescentes, sendo proporcionada segurança para trabalhos posteriores e para o espaço público

envolvente. Desta forma, as diferentes tarefas respeitantes à obra deverão precaver a salvaguarda do aprumo

das paredes remanescentes, sem que sejam danificadas de alguma forma ou alteradas nas suas caraterísticas.

Assim os trabalhos a desenvolver nesta empreitada, no que à reconstrução da muralha diz respeito,

referem-se:

• à remoção, limpeza, transporte a depósito e seriação para posterior utilização de todo o material que

constituiu os derrubes identificados;

• ao restauro/reconstituição dos troços de muralha com recurso aos materiais removidos e aplicação da

técnica de construção da muralha existente;

• à reintegração de unidades de alvenaria na colmatação de lacunas nos paramentos da muralha

assinalados. A reintegração deverá obedecer à técnica de construção primitiva e simultaneamente a

consolidação da zona da muralha. Os materiais a utilizar na reintegração deverão ser em tudo idênticos

aos existentes;

• à limpeza, restauro e consolidação das muralhas, incluindo remoção da vegetação;

• à limpeza e remoção de todos os detritos existentes na cisterna, incluindo o transporte a depósito;

• aos trabalhos de acompanhamento arqueológico para identificação, registo e salvaguarda de eventuais

vestígios arqueológicos existentes no subsolo.

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Metodologia

As condições Técnicas Especiais dos ‘Trabalhos de conservação e restauro das muralhas’ do castelo

de Castelo Melhor, redigidas pela Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN), referem, no ponto 1.3., que a

equipa de trabalho deve ser composta por um Arqueólogo, cuja presença durante os trabalhos de

acompanhamento arqueológico visam a identificação, registo e salvaguarda de eventuais vestígios

arqueológicos existentes no subsolo que possam aparecer durante os trabalhos a realizar.

Os trabalhos de acompanhamento arqueológico foram, assim, realizados de forma presencial e a tempo

inteiro, tendo em vista os pontos assinalados no capítulo anterior. Para além disso, foram acompanhados a

tempo inteiro todos os trabalhos de movimentação de terra ou limpeza para a melhor sustentação das

reconstruções.

O registo arqueológico de campo seguiu as recomendações do modelo desenvolvido por Edward Harris

(1979). Os trabalhos atrás referidos implicaram um levantamento fotográfico exaustivo e detalhado da área de

implantação do projeto e de toda a sua área envolvente, particularmente as reconstruções, que foram

sistematicamente fotografadas antes e depois de acontecerem. Foram também sinalizadas nas próprias

fotografias quais as pedras utilizadas em cada uma das reconstruções. Os registos fotográficos foram efetuados

em fotografia digital. Finalmente, dada a implantação geográfica do local, foi tida em atenção a possível

existência de gravuras nas pedras utilizadas durante todos os trabalhos de reconstrução.

Para o conjunto de trabalhos realizados no âmbito deste acompanhamento arqueológico foi adotado o

acrónimo CCM.14 [=Trabalhos de conservação e restauro das muralhas – Castelo de Castelo Melhor,

Acompanhamento Arqueológico, 2014]. Todas as informações respeitantes à área em estudo foram mantidas

em reserva científica do Arqueólogo responsável até à produção do relatório final, sendo posteriormente

depositadas na filial da Archeo’Estudos, Lda., sita na Rua da Igreja, 226, 4415.937 Seixezelo, aguardando a

indicação, por parte da tutela, do local de depósito definitivo.

No final dos trabalhos, o presente Relatório Final, onde são descritos os resultados decorrentes do

acompanhamento arqueológico descrito, é entregue à DRCN, em papel e CD-ROM.

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

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Descrição dos trabalhos e principais resultados obtidos

Zona 2

Apesar de estar prevista de início a reconstrução da zona 2, a mesma não foi realizada dadas as

péssimas condições de segurança existentes no local e a consequente possibilidade de novo derrube durante a

sua reconstrução. Desta forma, optou-se pelo derrube controlado de algumas das pedras da muralha que

apresentavam maior perigo de queda naquela zona (figuras 4 e 5), procedendo-se depois à vedação do local,

quer no exterior da muralha, por baixo da área em perigo, quer no coroamento da muralha, onde foi proibida a

passagem.

Figura 4. Zona 2 antes da destruição das áreas mais inseguras (assinaladas a azul).

Figura 5. Zona 2 tal como ficou depois de finalizadas as recomendações da DRCN.

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Zona 3

A reconstrução da zona 3 teve lugar entre 15 de dezembro de 2014 e 6 de janeiro de 2015. Foi iniciada

com a limpeza do derrube da muralha para que a sua reconstrução partisse de uma base segura (figuras 6 e 7).

Figura 6. Aspeto geral da zona 3 aquando do início do acompanhamento, onde é visível o derrube da muralha.

Figura 7. Trabalhos de escavação do derrube da muralha no início da reconstrução

A estratigrafia identificada na zona 3 foi a seguinte:

[301] – Derrube da muralha. Estrato de terra castanho claro, pouco compacto, relativamente homogéneo, sem

material arqueológico, com algumas raízes e com bastante pedra de pequeno, médio e grande porte;

[302] – Muralha;

[304] – Reconstrução da muralha, anterior à realizada e descrita neste trabalho (figura 9). É visível na zona de

coroamento da muralha, uma vez que não está alinhada com a muralha [302] (largura máxima = 1,96 metros;

comprimento máximo = 6,28 metros; altura máxima = 1,24 metros). A destruição da muralha [302] aconteceu

precisamente no parte mais central dessa reconstrução realizada em época indeterminada;

[305] – Rocha base;

Depois de terminada foi atribuída à reconstrução da muralha (largura máxima = 1,76 metros;

comprimento máximo = 4,09 metros; altura máxima = 3,52 metros) a UE [303]. Nas figuras 8 e 9 é apresentada

a zona 3 antes e depois da reconstrução.

Nesta zona 3 foram recolhidos fragmentos de cerâmica comum, escória e um possível fragmento de

patela de jogo (ver capítulo do Espólio). No final da reconstrução da zona 3, e mais uma vez como recomendado

pela DGPC, em reunião de obra do dia 15 de dezembro, a área superior da muralha reconstruída foi tapada com

terra.

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

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Figura 8. Aspeto geral da zona 3 antes do início da reconstrução da muralha.

Figura 9. Aspeto geral da zona 3 depois da reconstrução da muralha [302]. São também assinaladas as reconstruções [303] e [304].

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Zona 4

A zona 4 era constituída por dois pequenos tramos no coroamento da muralha: o 4.1. (figuras 10 e 11) e

o 4.2. (figuras 12 e 13). A sua reconstrução foi efetuada entre 12 e 15 de dezembro de 2014.

Figura 10. Aspeto geral da zona 4.1. antes do início da reconstrução da muralha.

Figura 11. Aspeto geral da zona 4.1. depois da reconstrução da muralha (assinalada a amarelo).

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

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A estratigrafia identificada na zona 4 foi a seguinte:

[401] – Derrube da muralha no tramo 4.1. Estrato de terra castanho, pouco compacto, relativamente

homogéneo, onde foram recolhidos 5 fragmentos de cerâmica comum da mesma peça (ver capítulo do espólio)

e com alguma pedra de pequeno e médio porte;

[402] – Muralha;

[404] – Derrube da muralha no tramo 4.2. e idêntico à UE [401]. Estrato de terra castanho, pouco compacto,

relativamente homogéneo, sem qualquer tipo de material arqueológico e com alguma pedra de pequeno e médio

porte;

Depois de terminadas foram atribuídas as UE’s [403] e [405] às reconstruções no tramo 4.1. (largura

máxima = 1,59 metros; comprimento máximo = 2,74 metros; altura máxima = 0,92 metros) e 4.2. (largura

máxima = 1,91 metros; comprimento máximo = 3,30 metros; altura máxima = 1,02 metros), respetivamente.

Figura 12. Aspeto geral da zona 4.2. antes do início da reconstrução da muralha.

Figura 13. Aspeto geral da zona 4.2. depois da reconstrução da muralha (assinalada a amarelo).

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No final da reconstrução da zona 4, e tal como noutras zonas, a área superior da muralha reconstruída

foi tapada com terra (figuras 14 e 15).

Figura 14. Aspeto final em planta da reconstrução na zona 4, tramo 4.1. Figura 15. Aspeto final em planta da reconstrução na zona 4, tramo 4.2

Zona 6

A reconstrução da zona 6 foi realizada entre os dias 9 e 16 de dezembro (figuras 16 a 21). No dia 9 de

dezembro foi iniciada a limpeza do derrube da muralha, de forma a que a reconstrução começasse a partir da

base da muralha ainda não destruída ou, à sua falta, da rocha base (figuras 16 e 17).

Figura 16. Aspeto geral da zona 6 aquando do início do acompanhamento, onde é visível o derrube da muralha.

Figura 17. Trabalhos de escavação do derrube da muralha no início da reconstrução.

A estratigrafia identificada na zona 6 foi a seguinte:

[601] – Derrube da muralha. Estrato castanho claro, heterogéneo, pouco compacto, sem material arqueológico e

com bastante pedra de pequeno e médio porte;

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[602] – Muralha;

[604] – Rocha base;

Depois de terminada foi atribuída a UE [603] à reconstrução da muralha nesta zona (largura máxima =

2,50 metros; comprimento máximo = 8,30 metros; altura máxima = 2,10 metros).

Desta forma, a estratigrafia identificada nesta zona era bastante simples, apesar de ser o maior tramo

de muralha a reconstruir. Nesta zona foi recolhido algum material arqueológico (ver capítulo do espólio).

No final da reconstrução da zona 6, e tal como recomendado pela DGPC em reunião de obra do dia 15

de dezembro, a área superior da muralha reconstruída foi tapada com terra (figura 21).

Figura 18. Aspeto geral da muralha na zona 6 antes da reconstrução.

Figura 19. Aspeto final depois da reconstrução da muralha na zona 6 (reconstrução assinalada a amarelo).

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

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Figura 20. Aspeto geral do alçado da muralha na zona 6 depois da reconstrução. Figura 21. Aspeto geral final em planta da reconstrução da muralha na zona 6.

Zona 7

A reconstrução da zona 7 foi realizada entre os dias 4 e 9 de dezembro (figuras 22 a 25). Tal como na

zona anterior, numa primeira fase foi feita a limpeza do derrube da muralha de forma a conseguir-se uma base

compacta de assentamento para a sua reconstrução.

Figura 22. Pormenor do alçado da muralha na zona 7 antes da reconstrução. Figura 23. Trabalhos de remoção do derrube da muralha na zona 7.

A estratigrafia identificada na zona 7 foi a seguinte:

[701] – Derrube da muralha. Estrato de terra castanha clara, granulosa, relativamente heterogénea, pouco

compacta e com muita pedra de pequeno, médio e grande porte;

[702] – Muralha;

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Depois de terminada foi atribuída a UE [703] à reconstrução da muralha (largura máxima = 2,03 metros;

comprimento máximo = 6,12 metros; altura máxima = 2,10 metros) nesta zona.

Desta forma, a reconstrução assentou na base da muralha ainda não destruída, não tendo sido então

necessária a escavação até outro tipo de base mais maciça. Mais uma vez, a estratigrafia revelou-se bastante

simples. Nesta zona não foi recolhido qualquer tipo de material arqueológico. A área superior da muralha

reconstruída foi, no final, tapada com terra.

Figura 24. Aspeto geral do alçado da muralha na zona 7 depois da reconstrução.

Figura 25. Aspeto geral da muralha na zona 7 depois da reconstrução (assinalada a amarelo).

A reconstrução assentou na base da muralha ainda não destruída, não tendo sido então necessária a

escavação até outro tipo de base mais maciça. A estratigrafia revelou-se bastante simples. Nesta zona não foi

recolhido qualquer tipo de material arqueológico. A área superior da muralha reconstruída foi, no final, tapada

com terra (figuras 24 e 25).

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Zona 8

A reconstrução da zona 8 teve lugar entre os dias 5 e 10 de dezembro (figuras 26 a 31). Tal como nas

duas zonas anteriores, foi primeiramente realizada a limpeza do derrube da muralha na área onde iria ser

iniciada a reconstrução de forma a atingirmos uma boa base de assentamento.

Figura 26. Pormenor do alçado da muralha na zona 7 antes da reconstrução. Figura 27. Trabalhos de remoção do derrube da muralha na zona 7.

A estratigrafia identificada na zona 8 foi a seguinte:

[801] – Derrube da muralha. Estrato de terra castanho escuro, granuloso, relativamente heterogéneo, pouco

compacto e com bastante pedra de pequeno, médio e grande porte.

[802] – Muralha;

Depois de terminada foi atribuída a UE [803] à reconstrução da muralha (largura máxima = 1,80 metros;

comprimento máximo = 4,75 metros; altura máxima = 1,86 metros) nesta zona.

Mais uma vez, a reconstrução deste tramo de muralha teve como base parte da muralha que não tinha

sido ainda totalmente destruída. Na limpeza do derrube [801] foi recolhido um fragmento de cerâmica comum

(Ver capítulo do espólio). Tal como nas restantes zonas, também a reconstrução aqui realizada foi no final

tapada com terra à superfície (figura 31).

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

22

Figura 28. Aspeto geral da muralha na zona 8 antes da reconstrução.

Figura 29. Aspeto geral da muralha na zona 8 depois da reconstrução (assinalada a amarelo).

Figura 30. Aspeto final da muralha na zona 8 depois da reconstrução. Figura 31. Plano final do topo da reconstrução na zona 8 .

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Zona 9

De início, a zona 9 era uma das zonas a reconstruir (figura 32). No entanto, os volumes de reparação

não foram incluídos nesta empreitada por limitação financeira, como aliás é referido no mapa de trabalhos do

projeto de obra.

Figura 32. Aspeto geral da muralha na zona 9. Esta zona não foi reconstruída.

Outras áreas reconstruídas

Para além das zonas anteriormente referidas, descritas no mapa de trabalhos de derrubes da muralha

do castelo de Castelo Melhor, outras existiram que, não estando referidas no dito mapa, foram reconstruídas,

segundo indicações da DRCN durante a obra. São as zonas às quais atribuímos os números 1, 10, 11, 12 e 13.

Zona 1

Os trabalhos na zona 1 realizaram-se entre os dias 4 e 9 de dezembro. Esta zona corresponde

genericamente à zona da entrada do castelo, onde foram reconstruídas três secções que numerámos de 1.1.,

1.2. e 1.3. (figuras 33 a 39).

A zona 1.1. foi de fácil reconstrução, uma vez que não foi necessária a escavação de uma base para o

seu assentamento; a própria muralha não se encontrava derrubada até ao alicerce (figuras 33 e 34).

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

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Figura 33. Aspecto da zona da entrada 1.1., antes da reconstrução. Figura 34. Aspecto da zona da entrada 1.1., depois da reconstrução (assinalada a amarelo).

Também a secção 1.2. assentava na própria muralha, pelo que também não foi necessário escavar a

sua base de assentamento (figuras 35 e 36).

Figura 35. Aspecto da zona da entrada 1.2., antes da reconstrução. Figura 36. Aspecto da zona da entrada 1.2., depois da reconstrução (assinalada a amarelo).

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

25

Finalmente, na secção 1.3. foi necessário proceder à limpeza da sua base de forma a conseguirmos um

arranque de reconstrução que não cedesse facilmente no futuro (figuras 37 a 39).

Figura 37. Aspecto da zona da entrada 1.3., antes da reconstrução. Figura 38. Aspecto da zona da entrada 1.3., aquando do início dos trabalhos de limpeza.

Figura 39. Aspecto da zona da entrada 1.3., depois da reconstrução (assinalada a amarelo).

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

26

No geral, a estratigrafia identificada na zona 1 foi a seguinte:

[101] – Derrube da muralha registado na secção 1.3. Representa um estrato castanho, relativamente

homogéneo, pouco compacto, onde foi recuperado 1 fragmento de cerâmica comum e bastante pedra de

pequeno, médio e grande porte. A pedra do derrube aqui recolhida foi reaproveitada na sua reconstrução;

[102] – Muralha registada nas 3 secções desta zona 1;

Depois de terminadas foram atribuídas às reconstruções as UE’s: [103] – secção 1.1. (largura máxima =

0,79 metros; altura máxima = 1,50 metros); [104] – Reconstrução da muralha na secção 1.2. (largura máxima =

1,44 metros; altura máxima = 1,93 metros); [105] – reconstrução da muralha na secção 1.3. (largura máxima =

1,09 metros; altura máxima = 1,75 metros).

Zona 10

Os trabalhos de reconstrução na zona 10 tiveram lugar entre os dias 2 de dezembro de 2014 e 8 de

janeiro de 2015. Esta zona corresponde, genericamente, à área que circunda a torre troncocónica localizada a

nordeste do castelo, onde foram reconstruídas três secções numeradas como 10.1., 10.2. e 10.3. (figuras 40 a

49).

Na secção 10.1., localizada no encontro entre a muralha e a torre, foi apenas necessária a reconstrução

de uma área pequena (figuras 40 e 41).

Figura 40. Secção 10.1. antes do início da reconstrução. Figura 41. Secção 10.1. depois da reconstrução (assinalada a amarelo).

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27

Na secção 10.2. foi necessário proceder-se a uma pequena limpeza na área da sua base, naquele que

era parte do derrube correspondente à sua destruição (figuras 42 e 43).

Figura 42. Secção 10.2. antes do início da reconstrução. Figura 43. Secção 10.2. depois da reconstrução (assinalada a amarelo).

Finalmente, na secção 10.3. foi necessário escavar uma base mais segura e regular de forma a

conseguirmos um arranque de reconstrução com um assentamento a partir da rocha base (figuras 44 e 45).

Figura 44. Secção 10.3. durante a reconstrução.

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

28

Figura 45. Secção 10.3. depois da reconstrução (assinalada a amarelo).

No geral, a estratigrafia identificada na zona 10 foi a seguinte:

[1001] – Derrube da muralha registado nas secções 10.2. e 10.3.; estrato castanho, pouco compacto,

heterogéneo, de grão grosso, com pouca potência; com bastantes inclusões vegetais e com alguma pedra de

pequeno e médio porte. Não foi recolhido qualquer tipo de material arqueológico;

[1002] – Muralha registada nas 3 secções;

[1003] – Torre do castelo registada nas secções 10.1. e 10.2.;

[1007] – Rocha base;

Depois de terminadas foras atribuídas às reconstruções desta zona as UE’s: [1004] – reconstrução da

muralha na secção 10.1. (largura máxima = 0,51 metros; altura máxima = 1,80 metros); [1005] – reconstrução da

muralha na secção 10.2. (largura máxima = 0,93 metros; altura máxima = 3,47 metros); [1006] – reconstrução da

muralha na secção 1.3. (largura máxima = 15,22 metros; altura máxima = 0,86 metros).

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

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Zona 11

Os trabalhos na zona 11 decorreram entre 18 de dezembro de 2014 e 6 de janeiro de 2015 (figuras 46 a

49). Esta zona corresponde a uma pequena destruição na base da muralha, numa zona de difícil acesso. Foi

necessária uma pequena escavação de forma a eliminar-se o derrube da muralha e para que, mais uma vez, a

base da reconstrução arrancasse de solo compacto. Neste caso, assentou na rocha base.

Figura 46. Aspecto da limpeza do derrube na zona 11. Figura 47. Aspecto da reconstrução da zona 11.

A estratigrafia identificada na zona 11 foi a seguinte:

[1101] – Derrube da muralha; estrato castanho, friável, relativamente homogéneo, sem qualquer tipo de material

arqueológico e com alguma pedra de pequeno e médio porte;

[1102] – Muralha;

[1103] – Rocha base;

Depois de terminada foi atribuída à reconstrução desta zona a UE [1104] (largura máxima=2,86m;

altura máxima=3,29m).

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

30

Figura 48. Aspeto da zona 11 antes do início da sua reconstrução.

Figura 49. Aspeto final da zona 11, depois da reconstrução (assinalada a amarelo).

Zona 12

Os trabalhos na zona 12, localizada imediatamente à direita da entrada do castelo, decorreram entre os

dias 8 de dezembro de 2014 e 14 de janeiro de 2015. Esta zona corresponde a duas reconstruções da muralha

com alguma envergadura (12.1. e 12.2.), onde foi necessária a escavação junto à base da muralha, de forma a

que o seu alicerce ficasse bem sustentado (figuras 50 a 53). Eram, no entanto, derrubes diferentes: o primeiro,

desde o coroamento até ao alicerce da muralha e, o segundo, junto ao alicerce da muralha numa extensão de

cerca de 20 metros.

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

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Figura 50. Zona 12.1. antes da reconstrução.

Figura 51. Zona 12.1. depois da reconstrução (assinalada a amarelo).

Figura 52. Zona 12.2. antes da reconstrução.

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

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Figura 53. Zona 12.2. depois da reconstrução (assinalada a amarelo).

A estratigrafia identificada na zona 12 foi a seguinte:

[1201] – Derrube da muralha identificado nas reconstruções 12.1. e 12.2. Estrato de terra castanho, pouco

compacto, relativamente homogéneo, de grão médio, com alguma pedra de pequeno e médio porte e onde foi

recuperado um fragmento de mó;

[1202] – Muralha;

[1203] – Rocha base;

Depois de terminada foram atribuídas às reconstruções nesta zona as UE’s: [1204] – reconstrução

12.1. (largura máxima = 1,92 metros; comprimento máximo = 4,78 metros; altura máxima = 2,76 metros); [1205]

– Reconstrução 12.2. (largura máxima = 0,38 metros; comprimento máximo = 20,40 metros; altura máxima =

3,50 metros).

Tal como noutras zonas, também a reconstrução 12.1. foi no final tapada com terra à superfície.

Zona 13

Os trabalhos na zona 13, localizada entre as zonas 4 e 6, decorreram entre os dias 6 e 12 de janeiro de

2015. Esta zona corresponde a cinco pequenas reconstruções da muralha (13.1., 13.2., 13.3., 13.4. e 13.5.),

junto ao cubelo existente a sudoeste (figuras 54 a 63). Nas reconstruções 13.1., 13.2. e 13.5. foi necessária a

escavação junto à base da muralha, de forma a que o seu alicerce ficasse bem sustentado.

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

33

Figuras 54 e 55. Zona 13.1. antes e depois da reconstrução (assinalada a amarelo).

Figuras 56 e 57. Zona 13.2. antes e depois da reconstrução (assinalada a amarelo).

Figuras 58 e 59. Zona 13.3. antes e depois da reconstrução (assinalada a amarelo).

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

34

Figuras 60 e 61. Zona 13.4. antes e depois da reconstrução (assinalada a amarelo).

Figuras 62 e 63. Zona 13.5. antes e depois da reconstrução (assinalada a amarelo).

A estratigrafia identificada na zona 13 foi a seguinte:

[1301] – Derrube da muralha identificado nas reconstruções 13.1., 13.2. e 13.5. Estrato de terra castanho

escuro, granuloso, relativamente heterogéneo, pouco compacto e com bastante pedra de pequeno, médio e

grande porte;

[1302] – Muralha;

[1303] – Rocha base;

Depois de terminadas foram atribuídas às reconstruções nesta zona as UE’s: [1304] – reconstrução

13.1. (largura máxima = 0,23 metros; comprimento máximo = 7,99 metros; altura máxima = 0,54 metros); [1305]

– reconstrução 13.2. (largura máxima = 1,38 metros; altura máxima = 1,06 metros); [1306] – reconstrução 13.3.

(largura máxima = 1,30 metros; altura máxima = 1,92 metros); [1307] – reconstrução 13.4. (largura máxima =

0,97 metros; altura máxima = 1,27 metros); [1308] – reconstrução 13.5. (largura máxima = 1,40 metros;

comprimento máximo = 1,79 metros; altura máxima = 1,53 metros).

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

35

Não foi recolhido qualquer tipo de material arqueológico associado à limpeza e reconstrução desta

zona. Tal como nas restantes zonas, também a reconstrução aqui realizada foi no final tapado com terra à

superfície, nas reconstruções onde foi possível fazê-lo.

Áreas reconstruídas interiores à muralha sem denominação atribuída

Entre os dias 15 e 16 de janeiro foram reconstruídos três segmentos interiores da muralha. O primeiro

entre as zonas 8 e 9 (figuras 64 e 65); o segundo entre as zonas 1 e 10 (figuras 66 e 67); e o terceiro junto ao

cubelo da zona 13 (figuras 68 e 69). Em qualquer destas reconstruções não foi necessária escavação.

Figuras 64 e 65. Reconstrução interior da muralha, entre as zonas 8 e 9, antes e depois da reconstrução (assinalada a amarelo).

Figuras 66 e 67. Reconstrução interior da muralha, entre as zonas 1 e 10, antes e depois da reconstrução (assinalada a amarelo).

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

36

Figuras 68 e 69. Reconstrução interior da muralha, junto à zona 13, antes e depois da reconstrução (assinalada a amarelo).

Áreas de empréstimo de pedra

Durante o período em que foram realizadas todas as reconstruções atrás descritas, foram utilizadas

várias áreas de empréstimo que podemos resumir em duas áreas gerais: a área da pedreira localizada no

interior do castelo (figuras 70 e 71) e todas as restantes áreas onde tínhamos pedra de estruturas derrubadas no

interior do castelo (figuras 72 e 73). Neste particular eram normalmente utilizadas as pedras provenientes dos

derrubes da muralha que estavam a ser reconstruídos ou, em alternativa, de outros muros derrubados no interior

da mesma.

Figuras 70 e 71. Aspeto geral da pedreira localizada no interior do castelo.

Figuras 72 e 73. Recolha de pedras para a reconstrução das muralhas em áreas onde eram localizadas estruturas derrubadas no interior da muralha.

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

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Limpeza

Tal como descrito no mapa de trabalhos para esta empreitada de conservação e restauro das muralhas

do castelo de Castelo Melhor, estava também prevista a limpeza da sua cisterna. Nesse sentido, no dia 15 de

dezembro de 2014 foi realizada a limpeza da vegetação que se encontrava no seu interior e que cobria já por

completo toda a sua base (figuras 74 a 77). Por baixo da vegetação deverá existir ainda uma camada

considerável de pedra. Não foi possível aferir exatamente qual a quantidade de pedra existente até à base da

cisterna.

Figura 74. Interior da cisterna antes da limpeza. Figura 75. Limpeza da cisterna.

Figura 76. Escadas de acesso à cisterna, depois da limpeza da vegetação. Figura 77. Aspeto geral da cisterna depois da limpeza da vegetação.

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

38

Proteção de estruturas arqueológicas durante o acompanhamento

Durante o acompanhamento arqueológico foi necessário proceder à proteção de duas estruturas

existentes no caminho de passagem, na área norte do interior do castelo (figuras 78 e 79). Esta ação ficou a

dever-se ao facto daquela área servir como caminho de passagem para a máquina que era utilizada para o

transporte da pedra até às reconstruções. Desta forma, e com o intuito da afetação das ditas estruturas ser a

menor possível, ambas foram cobertas com geotêxtil e terra durante todo o período de reconstrução (figuras 78

e 79).

Figuras 78 e 79. Aspeto geral das estruturas protegidas durante o início da obra.

No final da empreitada as estruturas foram novamente descobertas e deixadas como estavam antes da

ação aqui descrita. De igual modo, todos os caminhos utilizados foram de novo arranjados, de forma a que o

impacto visual fosse o menor possível.

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

39

A muralha e a barbacã do castelo de Castelo Melhor

A muralha

A muralha recuperada durante os trabalhos atrás descritos é um dos poucos vestígios que atualmente

restam do castelo de Castelo Melhor, apesar de apresentar bastantes tramos em muito mau estado de

conservação. De facto, já Michael Mathias, aquando de uma pequena intervenção arqueológica realizada no

interior do castelo no ano de 2000, refere que o seu estado de conservação “…é mau, existem fissuras nas

paredes da porta, buracos no interior, brechas de vários metros de largura e danos nas fundações…”, afirmando

ainda que “…parece que há séculos não levou intervenção alguma” (Mathias, 2000:287). Já na altura o

investigador alertava para a necessidade de uma intervenção urgente no castelo, de forma a travar a sua

destruição e a criar condições de segurança para os visitantes (Mathias,2000).

Originalmente, a muralha foi quase totalmente construída com os xistos localmente abundantes, com

algumas inclusões de quartzos, cujos filões são também observáveis por entre a rocha base local. Quanto ao

ligante utilizado, carateriza-se como uma terra argilosa, com pequenas inclusões de xistos, quartzos, fragmentos

cerâmicos, material de construção e até pequenos fragmentos de escória.

Um olhar mais próximo e atento aos panos de muralha do castelo de Castelo Melhor explicam, pelo

menos até certo ponto, algumas das irregularidades facilmente observáveis na sua planta. E o fator que mais

terá influenciado essa irregularidade terá sido o acentuado declive existente um pouco por toda a área onde a

muralha foi construída. Nesse sentido, facilmente se percebe que a muralha ora assente no solo geológico, ora

na rocha base. A preferência por esta última é particularmente observável em determinadas inflexões,

propositadamente executadas de forma a um determinado tramo da muralha assentar diretamente nos maciços

de rocha base. A zona 4, localizada a sudoeste, é um exemplo perfeito de uma dessa inflexões (figura 80); já

quase a sul, é observável um outro exemplo de uma inflexão bem mais pronunciada (figura 81).

Poderemos então concluir que, pelo menos uma das razões que terá contribuído para a irregularidade

da planta da muralha do castelo de Castelo Melhor, terão sido os declives abruptos localizados por toda a área e

a preocupação em ultrapassar a pouca sustentabilidade desses mesmos declives, através do assentamento da

base da muralha nos maciços de rocha base mais próximos.

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

40

Figura 80. Zona 4. É observável uma ligeira inflexão na muralha de forma a ter como sustentação a rocha base. Figura 81. Inflexão pronunciada da muralha de forma a conseguir assentamento no maciço de rocha base.

Finalmente, aquando do início do acompanhamento arqueológico, eram já observáveis algumas

reconstruções da muralha. Um bom exemplo é aquele localizado na zona 3. Aqui, para além da reconstrução

realizada no âmbito deste trabalho – e já descrita atrás, uma reconstrução mais antiga é observável ao longo de

pelo menos 6,28 metros no interior da muralha (figuras 82 e 83).

Figura 82. Zona 4, onde é observável uma reconstrução da muralha (assinalada a azul) anterior à descrita atrás. Figura 83. Zona 4, onde é observável a mesma reconstrução da figura anterior, desalinhada da muralha original.

A barbacã

A muralha e tudo o que se localiza no seu interior não são, no entanto, os únicos vestígios daquilo que

foi o castelo de Castelo Melhor. A barbacã é outro dos vestígios que nos parece evidente e que continua a

persistir à destruição dos vários séculos que passaram desde a sua construção. Com efeito, apesar de quase

desconhecida na atualidade, ela é referida por Leal (1903 in Mathias 2000), por exemplo, que descreve, nas

Notícias Archeológicas, a fortaleza de Castelo Melhor como um castelo com barbacan. Já o próprio Mathias

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

41

(2000) refere que, entre a porta do castelo e a torre existente a norte, se conservam restos de um muro baixo,

exterior, de reforço da muralha. Refere ainda que estruturas semelhantes encontram-se em frente das muralhas

a sul do castelo, provavelmente associadas à barbacã (Mathias, 2000).

Quanto à estrutura identificada por Michael Mathias a norte, não a conseguimos reconhecer naquele

local específico. No entanto, a prospeção que realizámos no terreno evidenciou uma estrutura que se encaixa na

caraterização tradicional de uma barbacã, tendo sido identificada junto à muralha do castelo entre as

reconstruções nas zonas 3 e 8 (figuras 87 a 94).

A oeste da muralha do castelo estes vestígios são já evidentes, a partir da zona 3 (figura 84 a 86). Para

norte/noroeste, apenas uma intervenção arqueológica poderia dar-nos mais informações sobre o tema. Aqueles

vestígios são, assim, observados a partir da zona 3, com início no local onde foi registada uma estrutura em

forma de um pequeno “torreão” semiretangular, com a distância máxima da muralha de cerca de 8,35 metros.

Esta estrutura representa uma inflexão da própria barbacã, que aproveita um maciço de rocha base para se

desenvolver a partir daí em direção a sudoeste, solução que, como vimos atrás, é também observável na

muralha e tem como objetivo dar uma base mais consistente às estruturas.

Figura 84. Vestígios do alinhamento da barbacã a oeste (delimitados a amarelo), com um pequeno “torreão” ao fundo (a azul), que aproveita um maciço de rocha como base.

Figura 85. Pormenor do “torreão” em perfil, cuja estrutura ainda persiste relativamente bem delimitada.

Esta estrutura, que poderia ter funcionado como área de observação/vigilância, por exemplo, tem um

fantástico domínio visual sobre o vale onde se desenvolve a povoação de Castelo Melhor, isto é, desde

norte/noroeste, até oeste e sudoeste.

A partir da zona do pequeno “torreão” descrito, a barbacã desenvolve-se para sudoeste com cerca de

3,50 metros de distância máxima à muralha, chegando à zona 4 com cerca de 3,30 metros. Seguindo para sul, a

barbacã apresenta a sua menor distância à muralha na zona do cubelo sudoeste da muralha, com cerca de 2,15

metros. Aí, e uma vez que a muralha inflete para o seu interior, a distância à barbacã aumenta bastante,

chegando a apresentar a distância máxima de 6,30 metros, já em direção à zona 6, localizada a sul. A partir

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

42

daqui a distância máxima à muralha diminui de novo, com cerca de 3,27 metros junto à zona 6, 3,20 metros junto

à zona 7 e, entre as zonas 7 e 8, com 2,85 metros, onde termina com cerca de 2,80 metros de distância máxima.

Os vestígios claros da barbacã terminam assim junto à zona 8, a sudeste, apesar de, em frente à zona 9 existir

um pequeno vestígio de uma estrutura que poderá ainda pertencer-lhe. Mais uma vez, apenas uma intervenção

arqueológica poderia dissipar dúvidas. Mais para norte não foram identificados quaisquer vestígios da barbacã.

Isto poderá significar que ela não existiu nessas áreas; no entanto, como estas são as áreas mais agricultáveis

junto à muralha, é possível que esteja nessas áreas mais destruída.

Figura 86. Planta do castelo de Castelo Melhor, onde estão assinalados os troços da barbacã identificados no terreno durante o acompanhamento arqueológico

15

092

0.0

0 m

N

89750.00 mE

Implantaçao do castelo de Castelo Melhor

Castelo

estruturas arqueológicas identificadas no ano 2000

Acompanhamento Arqueológico dos "Trabalhos de Conservação e Restauro das Muralhas de Castelo Melhor"

Cisterna Barbacã Torreão

0 10m5

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

43

Figura 87. Em primeiro plano, vestígios do alinhamento da barbacã a oeste, junto à zona 4. É visível uma interrupção, sob a forma de derrube, assim como a sua continuação em segundo plano.

Figura 88. Vestígios da barbacã junto ao cubelo localizado a sudoeste.

Figura 89. Em primeiro plano, vestígios do alinhamento da barbacã a sul, junto à zona 6.Mais uma vez, é visível uma interrupção, sob a forma de derrube, e a sua continuação em segundo plano.

Figura 90. Alçado da barbacã.

Figuras 91 e 92. Alçados da barbacã.

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

44

Para além disso, foi identificado em frente à zona 7, a sul, outro “torreão” (figuras 93 e 94), em tudo

idêntico ao anteriormente descrito. Mais uma vez, é aproveitado o maciço de rocha base para o qual é feita uma

inflexão na barbacã, sendo que apresenta também uma planta semiretangular com a distância máxima à

muralha de cerca de 7,80 metros. Tal como o “torreão” descrito a este, tem um domínio visual incrível, na

continuação do vale da povoação de Castelo Melhor, precisamente onde era visualmente perdido pelo “torreão”

anterior. Isto demonstra um planeamento prévio óbvio na sua construção como apoio essencial à estrutura

amuralhada.

Figura 93. Limites da barbacã e respetivo “torreão” junto à zona 7 (limites exteriores assinalados a amarelo) e vestígio de muro posterior de separação de propriedades (assinalado a azul).

Figura 94. Pormenor do alçado do “torreão” junto à zona 7.

De assinalar ainda que, apesar do aparelho ser um pouco mais “tosco” quando comparado com o

aparelho da muralha, o ligante utilizado é idêntico, caraterizando-se como uma terra argilosa com pequenas

inclusões de xistos e quartzos, para além de pequenos fragmentos de material de construção.

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

45

Espólio recolhido

Durante o acompanhamento arqueológico realizado no âmbito dos “Trabalhos de conservação e

restauro das muralhas de Castelo Melhor” foram recolhidas 19 peças arqueológicas, sendo 16 fragmentos

cerâmicos, 1 fragmento de mó, 1 possível soleira de porta e 1 fragmento de escória (tabela 1).

Tabela 1. Espólio recolhido durante o acompanhamento arqueológico da reconstrução das muralhas de Castelo Melhor.

Nº Saco Zona UE Material Descrição 1 1 (1.3.) [101] Cerâmica

comum - Fragmento de bojo indeterminado com pasta alaranjada; - Fragmento de asa de recipiente indeterminado com pasta alaranjada (figura 95.6);

2 8 [801] Cerâmica comum

- Fragmento de bordo indeterminado de cerâmica fina vermelha/alaranjada com carena; - Fragmento de bojo indeterminado com engobe de tonalidade bege/alaranjada e pasta cinza clara (figura 95.5);

3 6 [601] Cerâmica - Fragmento de tegulae de pequenas dimensões (figura 95.1); 4 6 [601] Xisto - Soleira com encaixe de porta (?) (figura 97); 5 1 (1.3.) [101] Cerâmica

comum - Fragmento de fundo indeterminado com engobe de tonalidade bege/alaranjada e paste cinza clara (figura 95.9);

6 Recolha de superfície Cerâmica comum

- Fragmento de bojo de talha (?) com pasta vermelha alaranjada; - Fragmento de bojo de recipiente indeterminado com pasta vermelha/alaranjada; - Fragmento de bojo de recipiente indeterminado com pasta vermelha/alaranjada e decoração geométrica (figura 95.7);

7 4 [401] Cerâmica comum

- 5 fragmentos de cerâmica comum pertencentes ao mesmo recipiente indeterminado com pasta negra e engobe vermelho/alaranjado (figura 95.4);

8 6 [601] Cerâmica comum

- Fragmento de fundo e bojo de alguidar (?) com engobe e pasta de cor vermelha/alaranjada (figura 95.8);

9 12 [1201] Granito - Fragmento de mó circular (figura 96); 10 Recolha de superfície Escória - Fragmento de escória recolhido durante a prospeção junto à zona 9, no

interior da muralha do castelo (figura 95.3); 11 3 [301] Cerâmica - Patela de jogo (?) (figura 95.2);

É de salientar a cerâmica recolhida, com 14 pequenos fragmentos de cerâmica comum (figura X), 1

fragmento de tegulae (figura X) e 1 possível patela de jogo (figura x). De entre o espólio recolhido, de destacar a

presença de tegulae, normalmente associada à cobertura de habitações de época romana. Apesar de serem

necessários mais elementos arqueológicos e melhor contextualizados para comprovarmos uma presença

anterior à conhecida em Castelo Melhor, já Mathias (2000) referia a recolha de tegulae em local próximo do

castelo.

É também importante de referir a completa ausência de faiança, o que está de acordo com a

progressiva perda de importância e abandono de que o castelo foi alvo depois da assinatura do tratado de

Alcanices.

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

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Figuras 95. Espólio cerâmico e escória recolhidos durante o acompanhamento arqueológico.

Figuras 96. Fragmento de mó.

Figuras 97. Possível soleira de porta.

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Conclusões e perspetivas futuras

A fundação de Castelo Melhor resulta da reorganização do território de Riba Côa feita pelo rei de Leão

nas primeiras décadas do século XIII, quando aquele local se encontrava numa zona de fronteira bastante

instável. A 12 de setembro de 1297, com o Tratado de Alcanices, foi incluído nas vilas do Riba Côa do reino de

Portugal. O castelo apresenta uma cerca de contorno ovalado, cuja única porta de entrada se encontra a

noroeste. A pouca distância, a norte, destaca-se uma grande torre troncocónica posteriormente adossada à

muralha. Não muito depois da assinatura do tratado de Alcanices o castelo terá iniciado a sua decadência,

devido à sua perda de importância estratégica e administrativa.

O objetivo essencial dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” foi, a

nosso ver, plenamente conseguido. Foram restauradas 5 das zonas previstas (zonas 3, 4, 6, 7 e 8), para além

de outras 5 zonas que não estavam inicialmente previsto serem restauradas (zonas 1, 10, 11, 12 e 13) e ainda

três pequenos abatimentos no interior da muralha. Foi ainda feita a limpeza da vegetação no interior da cisterna

e tomaram-se medidas para a proteção de estruturas arqueológicas existentes no interior das muralhas

enquanto se desenvolviam os trabalhos de reconstrução. Infelizmente, e dadas as limitações financeiras e de

recursos ficou ainda trabalho por fazer, nomeadamente nas zonas 2 e 9, que deverão ser incluídas numa futura

empreitada.

Efetivamente, a muralha agora restaurada é um dos poucos vestígios que atualmente restam do castelo

de Castelo Melhor. Foi quase totalmente construída com os abundantes xistos locais, com algumas inclusões

quartzíticas. Os grandes declives existentes no cabeço onde se localizada o castelo de Castelo Melhor são o

fator principal da irregularidade da muralha que, em vários tramos, faz desvios ou inflexões de forma a assentar

em maciços de rocha base. Por outro lado, foram ainda identificadas algumas reconstruções bem mais antigas

que aquelas que são descritas neste relatório.

Outra estrutura do castelo que foi possível conhecer melhor durante o acompanhamento arqueológico

foi a barbacã. É bem visível junto à muralha numa grande extensão pelo menos entre sul e oeste, onde foram

identificados dois pequenos torreões que lhe pertencerão e que terão servido para observação/vigilância. Ainda

assim, a barbacã necessita urgentemente de um estudo mais aprofundado e de trabalhos de conservação e

restauro, para além de merecer uma verdadeira intervenção arqueológica de forma a ser caraterizada como

estrutura importante que é e cujo atual estado de preservação adivinha excelentes resultados para o

conhecimento de uma estrutura medieval como esta.

Finalmente, o espólio recolhido foi escasso não permitindo grandes conclusões, até porque ou se

encontrava descontextualizado ou em níveis de derrube das muralhas. Desta forma, apenas uma intervenção

arqueológica de fundo permitirá caraterizar de forma fidedigna os vários níveis ocupacionais existentes no local.

Seixezelo, 12 de Março 2015

Acompanhamento arqueológico dos “Trabalhos de conservação e restauro das muralhas de Castelo Melhor” Relatório final

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Referências bibliográficas

Barroca, M. J. 1998. D. Dinis e a arquitetura militar Portuguesa. Revista da Faculdade de Letras: História, 15, p.

801-822.

Barroca, M. J. 2008/2009. De Miranda do Douro ao Sabugal – Arquitectura militar e testemunhos arqueológicos

Medievais num espaço de fronteira. Portugália, Nova série, Vol. XXIX-XXX, p. 193-252.

Cosme, S. M. R. 2002. Entre o Côa e o Águeda. Povoamento nas épocas romana e alto-medieval. Dissertação

de Mestrado em Arqueologia. Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Harris, E. 1979. Principles of archaeological stratigraphy. London, Academic Press. Lima e Rodrigues, 1998

Mathias, M. 2000. O projecto: o castelo de Castelo Melhor Vila Nova de Foz Côa, Distrito da Guarda –

Investigação arqueológica e estudo de conservação/recuperação. Actas das I Jornadas da Beira

Interior. Beira Interior – História a Património, p. 287-300.

Rosas, L. M. C.; Barroca, M. J. 2000. Do Douro Internacional ao Côa. As raízes de uma fronteira. CD-ROM, IDH-

FLUP.

Carta Militar de Portugal, folha nº 141, à escala 1:25000. Serviços Cartográficos do Exército.

Carta Geológica de Portugal, folha norte. Escala 1:500000 Lisboa, Serviços Geológicos de Portugal, 1992.

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ANEXO 1: Cartografia

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ANEXO 2: Ficha de sítio

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ANEXO 3:Pareceres Tutela

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