aÇÕes constitucionais
TRANSCRIPT
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BERNARDO PIMENTEL SOUZA
DAS AES
CONSTITUCIONAIS
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T E M R I O
TOMO I AES DE CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE
CAPTULO I TEORIA GERAL DO CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE
CAPTULO II AO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE
CAPTULO III AO DECLARATRIA DE
CONSTITUCIONALIDADE
CAPTULO IV ARGUIO DE
DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO
FUNDAMENTAL
CAPTULO V AO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSO
CAPTULO VI REPRESENTAO INTERVENTIVA
OU AO DIRETA INTERVENTIVA
CAPTULO VII RECLAMAO CONSTITUCIONAL
TOMO II REMDIOS CONSTITUCIONAIS
CAPTULO I HABEAS CORPUS
CAPTULO II HABEAS DATA
CAPTULO III MANDADO DE SEGURANA
CAPTULO IV MANDADO DE INJUNO
CAPTULO V AO POPULAR
CAPTULO VI AO CIVIL PBLICA
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NOTA DO AUTOR
O presente compndio rene os apontamentos escritos para as aulas da
disciplina "Direito Constitucional III Controle de Constitucionalidade e Aes
Constitucionais", lecionada no Curso de Direito da Fundao Universidade
Federal de Viosa UFV.
Alm da exposio terica das diversas aes constitucionais, tambm
foram lanadas observaes prticas provenientes da experincia adquirida na
qualidade de assessor de ministros do Superior Tribunal de Justia e do
Supremo Tribunal Federal, de 1995 a 1999, e no posterior exerccio da
advocacia por mais de dois lustros.
No tocante distribuio dos captulos, foram inseridos em dois tomos,
tendo em vista a pertinncia temtica de cada um. O primeiro tomo versa sobre
as aes relacionadas ao controle de constitucionalidade: a ao direta de
inconstitucionalidade, a ao declaratria de constitucionalidade, a arguio de
descumprimento de preceito fundamental, a ao de inconstitucionalidade por
omisso, a representao interventiva e a reclamao constitucional.
J o segundo tomo dispe sobre dispe sobre os remdios
constitucionais, tambm denominados writs constitucionais, quais sejam:
habeas corpus, mandado de segurana, habeas data, mandado de injuno e
ao popular. Em virtude da importncia do instituto e da pertinncia temtica
com os remdios constitucionais, foi acrescentado ao final do segundo tomo
um captulo especfico destinado ao estudo da ao civil pblica.
Por fim, as inovaes da Lei n 12.562 foram expostas no captulo
especfico destinado ao estudo da representao interventiva ou ao direta
interventiva.
Setembro de 2012.
Bernardo Pimentel Souza
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TOMO I
AES DE CONTROLE
DE CONSTITUCIONALIDADE
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CAPTULO I
TEORIA GERAL DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
1. CONCEITO E PRINCPIOS NORTEADORES
Os artigos 60, 2, e 97 da Constituio Federal consagram os
princpios da rigidez constitucional e da supremacia da Constituio como os
dois alicerces interdependentes que sustentam, justificam e explicam o controle
de constitucionalidade das normas jurdicas, desde as emendas
constitucionais, as leis em geral, at os atos normativos do poder pblico, como
as medidas provisrias presidenciais e os regimentos internos em geral.
Em virtude do princpio da supremacia, a Constituio est no pice do
ordenamento jurdico e o fundamento de validade de todas as normas
jurdicas, as quais s podem subsistir e integrar o ordenamento jurdico se
compatveis com a Constituio. A incompatibilidade de emenda, de lei ou de
ato normativo do poder pblico implica nulidade da norma jurdica e a
consequente excluso do ordenamento jurdico, desde o respectivo ingresso
(da emenda, da lei ou do ato normativo no ordenamento jurdico)1.
J o princpio da rigidez constitucional significa que a Constituio s
pode ser modificada mediante processo legislativo complexo, formalista e
rigoroso, marcado pela necessidade de iniciativa qualificada e da aprovao da
mudana do texto constitucional por deciso de pelo menos trs quintos dos
parlamentares, em dois turnos distintos de votao em cada uma das Casas do
Congresso Nacional.
Em suma, o controle de constitucionalidade a verificao de
compatibilidade das normas jurdicas vista da Constituio, sob pena de
insubsistncia no ordenamento jurdico, em razo da supremacia da
Constituio e da rigidez constitucional.
2. OBJETO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE: EMENDAS
CONSTITUIO, LEIS EM GERAL E ATOS NORMATIVOS DO PODER
PBLICO
luz do artigo 97 da Constituio Federal, o controle de
constitucionalidade pode ter como objeto lei ou ato normativo do Poder
Pblico. A clusula constitucional sub examine alcana as emendas
Constituio, as leis complementares, as leis ordinrias, as leis delegadas, as
medidas provisrias, os decretos legislativos, as resolues, os regimentos
1 No obstante, a regra do efeito ex tunc ou retroativo no absoluta; em hipteses excepcionais, o
reconhecimento da inconstitucionalidade pode ter efeito ex nunc, a partir de ento (do reconhecimento da inconstitucionalidade), como autoriza o artigo 27 da Lei n 9.868, de 1999.
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internos e os demais atos normativos genricos e abstratos provenientes
do poder pblico2.
Sob outro prisma, o controle de constitucionalidade alcana toda e
qualquer lei, e no apenas a lei federal; as leis estaduais, municipais e
distritais tambm podem, portanto, ser objeto de controle de
constitucionalidade. Alis, at mesmo as Constituies estaduais podem ser
objeto de controle em relao Constituio Federal. Enfim, as diferentes
normas jurdicas estaduais, distritais e municipais so passveis de controle de
constitucionalidade.
Ademais, o controle de constitucionalidade no se d apenas em relao
Constituio Federal; tambm h controle de constitucionalidade vista das
Constituies estaduais e at mesmo luz da Lei Orgnica do Distrito Federal,
no que tange s leis estaduais, municipais e distritais, conforme o caso. Sem
dvida, h lugar para o controle das normas jurdicas locais em face da
Constituio Federal, das Constituies estaduais e da Lei Orgnica do Distrito
Federal, conforme o caso.
amplssimo, portanto, o objeto de controle de constitucionalidade, mas
varivel conforme o sistema de controle (concentrado ou difuso) e a espcie de
ao ajuizada (ao direta de inconstitucionalidade, ao declaratria de
constitucionalidade, ao de arguio de descumprimento de preceito
fundamental etc.). No obstante, o controle de constitucionalidade no chega
ao exagero de contemplar a incompatibilidade dos atos normativos luz das
leis, de medida provisria e de normas equiparadas s leis. Assim, por
exemplo, se o decreto regulamentador expedido pelo Presidente da Repblica
contrariar primeiro a lei federal ensejadora do ato normativo, no h controle de
constitucionalidade, porquanto o vcio de ilegalidade, e no de
inconstitucionalidade; s h controle de constitucionalidade se o decreto
presidencial contrariar diretamente a Constituio Federal.
3. ESPCIES DE INCONSTITUCIONALIDADE: FORMAL E MATERIAL
O controle de constitucionalidade pode ter lugar em razo de duas
espcies de vcios de inconstitucionalidade: a inconstitucionalidade formal e a
inconstitucionalidade material.
A inconstitucionalidade formal est relacionada ao desrespeito s
exigncias previstas na Constituio para a produo legislativa. a
desconsiderao das formalidades que compem o processo legislativo, quer
em relao iniciativa, discusso, votao, sano, promulgao ou
publicao da norma jurdica3. Por exemplo, uma lei complementar
2 Por exemplo, os decretos regulamentadores expedidos pelo Presidente da Repblica, quando
diretamente contrrios Constituio Federal. 3 Em abono, merece ser prestigiada autorizada lio da melhor doutrina: A inconstitucionalidade formal
implica na desobedincia aos requisitos, ao processo, enfim, de elaborao. Se a lei no resultou da observncia dos ditames traados pela Constituio para a sua feitura, no merece ser aplicada pelo
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sancionada, promulgada e publicada aps a aprovao por maioria simples em
uma das Casas do Congresso, sem a observncia, portanto, da formalidade
estampada no artigo 69 da Constituio. Outro exemplo: uma emenda
constitucional aprovada, promulgada e publicada vista de projeto subscrito
por apenas um senador, sem a observncia, portanto, da formalidade arrolada
no inciso I do artigo 60 da Constituio Federal4. Em suma, a
inconstitucionalidade formal diz respeito ao vcio que contamina o processo
legislativo.
J a inconstitucionalidade material est relacionada ao prprio contedo
da Constituio: o disposto no bojo, no fundo, no interior de preceito
constitucional no observado, com o consequente conflito entre a norma
jurdica e o dispositivo constitucional sob o aspecto substancial. Com efeito, a
inconstitucionalidade material se d em razo do descompasso do prprio teor
da norma jurdica com o texto constitucional, no que tange matria tratada
pelo constituinte. Por exemplo, uma emenda constitucional que restabelece a
forma unitria de Estado consagrada na Carta de 1824, com a consequente
extino da forma federativa de Estado, em desrespeito ao disposto no artigo
60, 4, inciso I, da Constituio de 1988. Outro exemplo: uma lei passa a
permitir a aquisio de imvel pblico mediante usucapio, em afronta ao
disposto nos artigos 183, 3, e 191, pargrafo nico, ambos da Constituio5.
Tanto a inconstitucionalidade formal quanto a inconstitucionalidade
material ou substancial ensejam o controle de constitucionalidade e a posterior
excluso da norma jurdica incompatvel do ordenamento jurdico.
4. ESPCIES DE CONTROLE DE CONSTITUCINALIDADE:
PREVENTIVO E REPRESSIVO
O controle de constitucionalidade pode ser preventivo e repressivo. H
duas espcies de controle, portanto, no direito brasileiro: o controle durante o
magistrado, por no constituir verdadeiramente uma lei. (CAIO MRIO DA SILVA PEREIRA. Instituies de direito civil. Volume I, 12 ed., 1991, p. 148). 4 Eis alguns exemplos colhidos na jurisprudncia: Provimento de Tribunal de Justia que probe os juzes
de se ausentarem das comarcas, sob pena de perda dos subsdios: matria reservada Lei Complementar. Procedncia da ao direta para declarar a inconstitucionalidade formal do provimento impugnado (ADI n 3.053/PA, Pleno do STF, Dirio da Justia de 17 de dezembro de 2004, p. 32). O desrespeito clusula de iniciativa reservada das leis, em qualquer das hipteses taxativamente previstas no texto da Carta Poltica, traduz situao configuradora de inconstitucionalidade formal, insuscetvel de produzir qualquer conseqncia vlida de ordem jurdica. A usurpao da prerrogativa de iniciar o processo legislativo qualifica-se como ato destitudo de qualquer eficcia jurdica, contaminando, por efeito de repercusso causal prospectiva, a prpria validade constitucional da lei que dele resulte (ADI n 2.364/AL MC, Pleno do STF, Dirio da Justia de 14 de dezembro de 2001, p. 23). 5 Eis alguns exemplos colhidos na jurisprudncia: Por outro lado, procede, tambm, a argio de
inconstitucionalidade material do artigo 3 da mesma Lei Distrital, porquanto ele determina que, nos novos cargos de fiscal tributrio, haja o aproveitamento dos servidores dos cargos extintos de tcnico tributrio, sem, portanto, a prvia aprovao em concurso pblico de provas ou de provas e ttulos como exige, para a investidura, que no mais se limita primeira, de cargo ou emprego pblico, o disposto no inciso II do artigo 37 da Constituio (ADI n 1.677/DF, Pleno do STF, Dirio da Justia de 28 de maro de 2003, p. 61). H, porm, vcio de inconstitucionalidade material, pois o inciso III do 3 artigo 18 da lei contm requisito relativo a limites mnimo e mximo de idade, para nomeao de Advogado a cargo de Magistrado de Tribunal Estadual, no prevista no inciso IV do artigo 144 da Constituio Federal (RP n 1.202/MG, Pleno do STF, Dirio da Justia de 5 de dezembro de 1986, p. 24.079).
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processo legislativo, antes do ingresso da norma jurdica no ordenamento,
denominado controle preventivo; e o controle aps o ingresso da norma no
ordenamento jurdico, depois da promulgao e da publicao da norma
jurdica, denominado controle repressivo.
O controle preventivo pode ser realizado pelo Poder Legislativo, por
meio das Comisses de Constituio e Justia da Cmara e do Senado,
durante a tramitao dos projetos nas respectivas Casas, pelo Poder
Executivo, porquanto o Presidente da Repblica pode opor veto jurdico aos
projetos de lei em razo de inconstitucionalidade, e tambm pelo Poder
Judicirio, quando acionado por congressista na defesa de direitos subjetivos
provenientes do processo legislativo disciplinado na Constituio6. Nas trs
hipteses, portanto, h controle de constitucionalidade preventivo, j que
realizado durante o processo legislativo, vale dizer, antes do ingresso da norma
jurdica no ordenamento.
J o controle repressivo tem lugar depois do ingresso da norma no
ordenamento jurdico. Em regra, o controle de constitucionalidade repressivo
realizado pelo Poder Judicirio, tanto de forma difusa quanto de forma
concentrada. No controle difuso todos os juzes e tribunais tm competncia
para a anlise de compatibilidade das normas jurdicas luz das Constituies
Federal e Estaduais, nos julgamentos dos casos concretos, em processos que
versam sobre direitos subjetivos. J o controle concentrado tem lugar apenas
no Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Justia, para a aferio de
compatibilidade das normas jurdicas luz das Constituies Federal e
Estaduais em sede de aes originrias da competncia da Corte Suprema e
dos Tribunais de Justia, conforme o caso.
A despeito de a regra ser o controle de constitucionalidade repressivo
realizado pelo Poder Judicirio, de forma difusa e concentrada, tambm h o
controle de constitucionalidade repressivo exercido pelo Poder Legislativo. Por
exemplo, as medidas provisrias podem ser rejeitadas no Congresso em razo
6 CONSTITUCIONAL. MESA DO CONGRESSO NACIONAL. SUBSTITUIO DO PRESIDENTE.
MANDADO DE SEGURANA. LEGITIMIDADE ATIVA DE MEMBRO DA CMARA DOS DEPUTADOS EM FACE DA GARANTIA DO DEVIDO PROCESSO LEGISLATIVO. HISTRIA CONSTITUCIONAL DO PODER LEGISLATIVO DESDE A ASSEMBLIA GERAL DO IMPRIO. ANLISE DO SISTEMA BRASILEIRO BICAMERALISMO. CONSTITUIO DE 1988. INOVAO - ART. 57 5. COMPOSIO. PRESIDNCIA DO SENADO E PREENCHIMENTO DOS DEMAIS CARGOS PELOS EQUIVALENTES EM AMBAS AS CASAS, OBSERVADA A ALTERNNCIA. MATRIA DE ESTRITA INTERPRETAO CONSTITUCIONAL. COMPETNCIA DESTE TRIBUNAL. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAR NORMA INTERNA - REGIMENTO DO SENADO FEDERAL - PARA INTERPRETAR A CONSTITUIO. SEGURANA CONCEDIDA. (MS n 24.041/DF, Pleno do STF, Dirio da Justia de 11 de abril de 2003, p. 28). CONSTITUCIONAL. PODER LEGISLATIVO: ATOS: CONTROLE JUDICIAL. MANDADO DE SEGURANA. PARLAMENTARES. I. - O Supremo Tribunal Federal admite a legitimidade do parlamentar - e somente do parlamentar - para impetrar mandado de segurana com a finalidade de coibir atos praticados no processo de aprovao de lei ou emenda constitucional incompatveis com disposies constitucionais que disciplinam o processo legislativo. II. - Precedentes do STF: MS 20.257/DF, Ministro Moreira Alves (leading case) (RTJ 99/1031); MS 20.452/DF, Ministro Aldir Passarinho (RTJ 116/47); MS 21.642/DF, Ministro Celso de Mello (RDA 191/200); MS 24.645/DF, Ministro Celso de Mello, D.J. de 15.9.2003; MS 24.593/DF, Ministro Maurcio Corra, D.J. de 08.8.2003; MS 24.576/DF, Ministra Ellen Gracie, "D.J." de 12.9.2003; MS 24.356/DF, Ministro Carlos Velloso, D.J. de 12.9.2003. (MS n 24.667/DF AgRg, Pleno do STF, Dirio da Justia de 23 de abril de 2004, p. 8).
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de inconstitucionalidade formal e material. Outro exemplo: vista do artigo 49,
inciso V, da Constituio, as leis delegadas podem ser sustadas pelo
Congresso em razo de inconstitucionalidade formal e material.
Enfim, embora o controle de constitucional repressivo resida na
competncia do Poder Judicirio, no o de forma exclusiva, j que o Poder
Legislativo tambm tem competncia para rejeitar e sustar algumas normas
jurdicas contaminadas por inconstitucionalidade.
5. CONTROLE REPRESSIVO DE CONSTITUCIONALIDADE
JURISDICIONAL: CONTROLE DIFUSO E CONTROLE CONCENTRADO
5.1. INTRODUO
Em linhas gerais, h dois tipos de controle jurisdicional de
constitucionalidade das leis e dos atos normativos do poder pblico no Brasil: o
controle difuso e o controle concentrado. Com efeito, o sistema de controle de
constitucionalidade brasileiro ecltico, misto, hbrido, por conter dois
diferentes mtodos de controle de constitucionalidade7. Vale ressaltar que os
dois sistemas foram introduzidos no direito brasileiro em momentos distintos:
primeiro foi consagrado o modelo estadunidense de controle difuso, com a
promulgao da Constituio de 1891; mais de meio sculo depois, com a
promulgao da Emenda n 16, de 1965, Constituio de 1946, houve a
introduo do modelo denominado austraco-kelseniano de controle
concentrado, a partir do julgamento em abstrato da compatibilidade das leis e
dos atos normativos luz da Constituio. Desde a Emenda n 16, de 1965,
portanto, ambos os modelos coexistem no direito brasileiro.
O controle difuso tambm denominado controle por via de defesa e
controle por via de exceo, porquanto tem lugar em processos que versam
sobre a defesa de direitos subjetivos e exercido por todos os juzes e
tribunais, sem distino.
O controle difuso de constitucionalidade realizado incidentalmente8,
como verdadeira questo prejudicial, inserida no bojo de causa que o objeto
principal de processo em tramitao perante juzo de primeiro ou algum
7 No mesmo sentido, na doutrina: ADHEMAR MACIEL. Observaes sobre o controle de
constitucionalidade. O Direito. 1998, p.180; BARBOSA MOREIRA. Comentrios. Volume V, 7 ed., 1998, p. 33; CELSO BASTOS. Comentrios. Volume IV, tomo III, 1997, p. 18; ERNANE FIDLIS. O controle. Revista dos Tribunais, volume 661, p. 30; JOS AFONSO DA SILVA. Curso. 16 ed., 1999, p. 555 e 556; PAULO BONAVIDES. Curso. 8 ed., 1999, p. 293; e VICENTE GRECO FILHO. Direito. Volume II, 11 ed., 1996, p. 376 e 377. A propsito, merece ser prestigiado o pronunciamento do Ministro CARLOS VELLOSO: Temos, pois, os dois tipos de controle de constitucionalidade, o que possibilita ao Supremo Tribunal Federal realizar o equilbrio entre ambos, explorando as vantagens e minimizando as desvantagens de um e de outro, o que faz do sistema misto brasileiro um dos mais avanados e democrticos do mundo. (Supremo Tribunal Federal. Revista Del Rey, nmero 12, p. 18) (grifos aditados). 8 Vale dizer, incidenter tantum.
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tribunal, para o julgamento de caso concreto9. o que se d nos processos de
mandado de segurana, de ao civil pblica, de habeas corpus, quando o
julgamento do pedido depende da anlise de compatibilidade de alguma norma
jurdica em relao Constituio. Um exemplo pode facilitar a compreenso
da teoria exposta: imagine-se um processo de mandado de segurana
impetrado por contribuinte, para o efeito de se ver livre de tributo cuja
legislao de regncia considerada inconstitucional (pelo impetrante), a
despeito da expedio do boleto de cobrana pela autoridade tributria
municipal e depois enviado ao endereo do impetrante. Antes de julgar o
pedido de segurana procedente, para dispensar o contribuinte do
recolhimento da exao e determinar que autoridade municipal no cobre o
tributo em relao ao impetrante no exerccio fiscal sob julgamento, o juiz
primeiro precisa resolver a questo prejudicial relativa alegada
inconstitucionalidade da lei de regncia do tributo. S ento, vista da soluo
da questo prejudicial, poder (o juiz) julgar se o pedido de segurana
procedente ou improcedente, conforme a lei seja inconstitucional ou
constitucional, respectivamente10. Outro exemplo: imagine-se a impetrao de
9 A propsito, autorizadas doutrina e jurisprudncia sustentam que o juiz de primeiro grau no chega a
declarar a inconstitucionalidade da lei, como ocorre nos diversos tribunais, em razo da competncia exclusiva conferida pelo artigo 97 da Constituio de 1988; o juiz de primeiro grau apenas afasta a aplicao da lei que considerar inconstitucional: A diferena que o magistrado de primeiro grau no declara nenhuma inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, apenas afasta a sua aplicao e decide a causa segundo o seu convencimento (JOO BATISTA DE ALMEIDA. A proteo jurdica. 2000, p. 246; no h o grifo no original). Assim, na jurisprudncia: Somente aos Tribunais (rgos judicirios colegiados) compete a declarao incidental de inconstitucionalidade de lei (total ou parcial). Somente os Tribunais podem declarar incidentalmente a inconstitucionalidade de lei ou dispositivo de lei. Ao Juzo de 1 Grau, no. Se se entender que a lei ofende a Constituio ele apenas deixa de aplic-la. (Apelao n. 1999.01.00.048552-4/MG, 1 Turma do TRF da 1 Regio; no h o grifo no original). No obstante, h precedente da Corte Suprema em prol da tese segundo a qual o prprio juiz de primeiro grau tambm tem competncia para a efetiva declarao da inconstitucionalidade da lei: O controle de constitucionalidade por via incidental se impe toda vez que a deciso da causa o reclame, no podendo o juiz julg-la com base em lei que tenha por inconstitucional, seno declar-la em prejudicial, para ir ao objeto do pedido. (RE n. 89.553/GO, 1 Turma do STF; sem os grifos no original). Refora o voto do Ministro RAFAEL MAYER: De qualquer modo, o controle de constitucionalidade, por via incidental, se impe toda vez que a deciso da causa reclame, necessariamente, o equacionamento dessa premissa, no podendo o Juiz julgar com base em lei que tem por inconstitucional, seno tem o dever de assim declar-la em prejudicial para ir ao objeto do pedido, sob pena de denegar a prestao jurisdicional. (no h o grifo no original). Ainda que muito interessante a discusso acerca da competncia do juiz de primeiro grau para declarar efetivamente a inconstitucionalidade da lei ou apenas negar a sua aplicao ao caso concreto, a vexata quaestio est restrita ao plano acadmico, sem nenhuma implicao sob o enfoque pragmtico, j que ambas as correntes reconhecem que o prprio juiz a quo tem competncia
para afastar desde logo a lei considerada inconstitucional no julgamento do caso concreto em primeira instncia, sem necessidade da instaurao de incidente, muito menos qualquer outra atuao prvia do tribunal. Por mais interessante que seja, trata-se de debate puramente acadmico, porquanto os resultados prticos de ambas as correntes so exatamente os mesmos. Feita a ressalva da ausncia de consequncia de ordem pragmtica, j possvel concluir que, do ponto de vista acadmico, a primeira tese parece ser a melhor: tudo indica que o artigo 97 da Constituio e os artigos 480 e 481 do Cdigo de Processo Civil permitem a concluso de que apenas os tribunais tm competncia para a declarao formal da inconstitucionalidade das leis e atos normativos; ao juiz de primeiro grau cabe apenas o afastamento no caso concreto, quando deixa de aplicar a lei ou o ato normativo espcie, mas sem a declarao formal da inconstitucionalidade. 10
Colhe-se exemplo semelhante na jurisprudncia: RECURSO ORDINRIO EM MANDADO DE SEGURANA. DECLARAO DE INCONSTITUCIONALIDADE EM SEDE DE MANDAMUS. POSSIBILIDADE. PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS DA LIVRE INICIATIVA E INCENTIVO CULTURA. ARTS. 170 E 216 DA CF/88. INTERPRETAO. PROPORCIONALIDADE. OCORRNCIA. EXIGNCIA DE REGULAMENTAO. ART. 4 DA LEI N 2.519/96. REVOGAO. LEI ESTADUAL N 4.161/03. COISA JULGADA. IDENTIDADE DE AES. INEXISTNCIA. 1. Para apreciar o writ, o magistrado
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habeas corpus, para o fim de relaxamento de priso, ao fundamento de que a
lei de regncia do crime inconstitucional, em razo de vcio formal. Para o
julgamento do writ e a concesso da ordem de soltura, primeiro preciso saber
se a lei de tipificao do crime inconstitucional, ou no. Trata-se de questo
prejudicial necessria para o desate da causa.
A suscitao da inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo pode ser
dar at mesmo de ofcio por qualquer juiz, desembargador ou ministro
competente para julgar a causa, quando for necessrio o exame da
compatibilidade da lei ou do ato normativo de regncia do caso concreto, para
decidir a espcie sub iudice.
No mais das vezes, portanto, os julgamentos proferidos em controle
difuso s tm efeitos ex tunc e inter partes. No obstante, o Supremo Tribunal
Federal pode, em grau de recurso extraordinrio, de recurso ordinrio ou em
julgamento de outra via processual de controle difuso, modular o efeito do
reconhecimento da inconstitucionalidade, para que seja ex nunc ou a partir de
determinado momento que garanta maior segurana jurdica11. Ademais, o
Senado tambm pode, com fundamento no artigo 52, inciso X, da Constituio,
aprovar resoluo para ampliar o alcance subjetivo de julgamento definitivo
proferido pelo Supremo Tribunal Federal em sede de controle difuso, a fim de
que terceiros tambm sejam alcanados, com a produo, portanto, de efeito
erga omnes.
Vale ressaltar, todavia, que a resoluo do Senado retira a eficcia da
norma jurdica, mas no a revoga nem a exclui do ordenamento jurdico; a
norma subsiste no ordenamento jurdico, mas sem eficcia alguma, at mesmo
em relao a terceiros. S o Supremo Tribunal Federal, em sede de controle
concentrado, pode reconhecer a nulidade de norma jurdica proveniente da
inconstitucionalidade, com o condo de excluir desde logo a lei ou o ato
normativo inconstitucional do ordenamento jurdico. A competncia do Senado
prevista no inciso X do artigo 52 da Constituio autoriza apenas a suspenso
da eficcia de norma jurdica julgada inconstitucional pelo Supremo Tribunal
Federal em sede de controle difuso. Para a revogao de alguma lei ou ato
normativo e a excluso, em definitivo, da respectiva norma do ordenamento
jurdico, os Senadores precisam instaurar o processo legislativo adequado,
vista dos artigos 59 a 69 da Constituio, conforme a espcie da norma
necessariamente examina o embase jurdico do ato praticado pela Administrao Pblica, a fim de, posteriormente, julgar a ocorrncia ou no de violao do direito lquido e certo do particular. Em conseqncia, inexiste bice para a declarao incidental de inconstitucionalidade da lei analisada, ainda que em ao mandamental. Precedentes. (RMS n 19.524/RJ, 2 Turma do STJ, Dirio da Justia de 26 de setembro de 2005, p. 272). 11
Cf. artigo 27 da Lei n 9.868, de 1999: Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razes de segurana jurdica ou de excepcional interesse social, poder o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois teros de seus membros, restringir os efeitos daquela declarao ou decidir que ela s tenha eficcia a partir de seu trnsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado. vista do preceito, tambm aplicvel ao controle difuso por fora da interpretao analgica, o Supremo Tribunal Federal pode afastar a regra do efeito ex tunc e determinar a produo do efeito ex nunc ou, ainda, a partir de outro momento (cf. RE n 500.171/GO EDcl, Pleno do STF, Dirio da Justia Eletrnico de 2 de junho de 2011).
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jurdica. A hiptese prevista no artigo 52, inciso X, portanto, no implica
revogao de norma jurdica nem excluso do ordenamento jurdico, mas
apenas ineficcia erga omnes, a partir da resoluo senatorial.
Em suma, o controle difuso se d em processos que versam sobre litgios
concretos submetidos jurisdio dos juzes de primeiro grau e dos tribunais
em geral, a fim de que possam realizar, at mesmo de ofcio, o exame da
compatibilidade das leis e dos atos normativos luz das Constituies Federal
e do respectivo Estado-membro12, de forma incidental, para o julgamento das
causas relativas a direitos subjetivos, com efeitos ex tunc e inter partes13.
Em contraposio, o controle concentrado s tem lugar no Supremo
Tribunal Federal e nos Tribunais de Justia, mediante julgamento de aes de
competncia originria daquelas Cortes, motivo pelo qual tambm
denominado controle por via de ao. Com efeito, vista dos artigos 102,
inciso I, alnea a, 103 e 125, 2, da Constituio Federal, reforados pela Lei
n 9.868, de 1999, o controle concentrado exercido por via de ao perante
o Supremo Tribunal Federal e os Tribunais de Justia, respectivamente.
No que tange s caractersticas do controle concentrado, a questo
constitucional a questo principal da ao e do respectivo pedido:
principaliter. No mais das vezes, os julgamentos proferidos em controle
concentrado tm efeitos ex tunc, erga omnes e vinculante. Em outros termos,
os julgamentos realizados em controle concentrado geralmente tm efeito
retroativo, desde o ingresso da norma no ordenamento jurdico, alcana as
pessoas em geral, at mesmo os terceiros em relao ao processo, e
obrigatrio para todas as pessoas jurdicas e rgos do Poder Executivo, tanto
da administrao direta quanto da indireta, bem como para todos os juzes e
tribunais do pas. So, em suma, as caractersticas do controle concentrado e
das respectivas aes, quais sejam: ao direta de inconstitucionalidade, ao
declaratria de constitucionalidade, ao de arguio de descumprimento de
preceito fundamental, ao de inconstitucionalidade por omisso e ao de
representao interventiva.
5.2. RESERVA DE PLENRIO
Ainda em relao ao controle repressivo de constitucionalidade
jurisdicional, h dois aspectos que merecem destaque: a reserva de plenrio e
o reconhecimento da inconstitucionalidade condicionado votao por maioria
absoluta.
12
No Distrito Federal, a Lei Orgnica do Distrito Federal. 13
De acordo, na doutrina: ADA GRINOVER. Controle de constitucionalidade. Revista de Processo, volume 90, p. 11 e 14; BARBOSA MOREIRA. Comentrios. Volume V, 7 ed., 1998, p. 31, 33 e 34; CELSO BASTOS. Comentrios. Volume IV, tomo III, 1997, p. 82; ERNANE FIDLIS. O controle. Revista dos Tribunais, volume 661, p. 29; JOS AFONSO DA SILVA. Curso. 16 ed., 1999, p. 556 e 559; MANUEL ALCEU AFFONSO FERREIRA. Do processo nos tribunais. 1974, p. 158 e 159; PAULO BONAVIDES. Curso. 8 ed., 1999, p. 279, nota 19; e VICENTE GRECO FILHO. Direito. Volume II, 11 ed., 1996, p. 377 e 378.
-
No que tange reserva de plenrio, a exigncia s tem lugar nos
julgamentos realizados nos tribunais, tanto no controle difuso quanto no
controle concentrado. Em contraposio, no controle de constitucionalidade
efetuado por juiz de primeiro grau , de natureza difusa, portanto , no h a
incidncia da regra da reserva de plenrio, porquanto o julgamento da questo
prejudicial referente inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo objeto da
demanda da competncia do prprio juiz de primeiro grau14. Em suma, a
regra da reserva de plenrio s aplicvel aos julgamentos proferidos nos
tribunais, tanto difuso quanto concentrado.
A reserva de plenrio a regra consagrada no artigo 97 da Constituio
Federal, por fora da qual apenas os Plenrios e os rgos Especiais dos
Tribunais podem declarar a inconstitucionalidade das leis e dos atos
normativos, em carter definitivo, nos julgamentos proferidos tanto em controle
difuso quanto em controle concentrado. Com efeito, vista da combinao dos
artigos 93, inciso XI, e 97 da Constituio Federal, alm dos Plenrios dos
Tribunais, os respectivos rgos Especiais tambm tm competncia para a
declarao de inconstitucionalidade das leis e dos atos normativos em carter
definitivo, nos Tribunais com mais de vinte e cinco Juzes, Desembargadores
ou Ministros, conforme a composio e a natureza de cada Corte Judiciria.
14
A propsito, autorizadas doutrina e jurisprudncia sustentam que o juiz de primeiro grau no chega a declarar a inconstitucionalidade da lei, como ocorre nos diversos tribunais, em razo da competncia exclusiva conferida pelo artigo 97 da Constituio de 1988; o juiz de primeiro grau apenas afasta a aplicao da lei que considerar inconstitucional: A diferena que o magistrado de primeiro grau no declara nenhuma inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, apenas afasta a sua aplicao e decide a causa segundo o seu convencimento (JOO BATISTA DE ALMEIDA. A proteo jurdica. 2000, p. 246; no h o grifo no original). No mesmo sentido, na jurisprudncia: Somente aos Tribunais (rgos judicirios colegiados) compete a declarao incidental de inconstitucionalidade de lei (total ou parcial). Somente os Tribunais podem declarar incidentalmente a inconstitucionalidade de lei ou dispositivo de lei. Ao Juzo de 1 Grau, no. Se se entender que a lei ofende a Constituio ele apenas deixa de aplic-la. (Apelao n. 1999.01.00.048552-4/MG, 1 Turma do TRF da 1 Regio; no h o grifo no original). No obstante, h precedente da Corte Suprema em prol da tese segundo a qual o prprio juiz de primeiro grau tambm tem competncia para a efetiva declarao da inconstitucionalidade da lei: O controle de constitucionalidade por via incidental se impe toda vez que a deciso da causa o reclame, no podendo o juiz julg-la com base em lei que tenha por inconstitucional, seno declar-la em prejudicial, para ir ao objeto do pedido. (RE n. 89.553/GO, 1 Turma do STF; sem os grifos no original). Refora o voto do Ministro RAFAEL MAYER: De qualquer modo, o controle de constitucionalidade, por via incidental, se impe toda vez que a deciso da causa reclame, necessariamente, o equacionamento dessa premissa, no podendo o Juiz julgar com base em lei que tem por inconstitucional, seno tem o dever de assim declar-la em prejudicial para ir ao objeto do pedido, sob pena de denegar a prestao jurisdicional. (no h o grifo no original). Ainda que muito interessante a discusso acerca da competncia do juiz de primeiro grau para declarar efetivamente a inconstitucionalidade da lei ou apenas negar a sua aplicao ao caso concreto, a vexata quaestio est restrita ao plano acadmico, sem nenhuma implicao sob o enfoque pragmtico, j que ambas as correntes reconhecem que o prprio juiz a quo tem competncia para afastar desde logo a lei considerada inconstitucional no julgamento do caso concreto em primeira instncia, sem necessidade da instaurao de incidente, muito menos qualquer outra atuao prvia do tribunal. Por mais interessante que seja, trata-se de debate puramente acadmico, porquanto os resultados prticos de ambas as correntes so exatamente os mesmos. Feita a ressalva da ausncia de consequncia de ordem pragmtica, j possvel concluir que, do ponto de vista acadmico, a primeira tese parece ser a melhor: tudo indica que o artigo 97 da Constituio e os artigos 480 e 481 do Cdigo de Processo Civil permitem a concluso de que apenas os tribunais tm competncia para a declarao formal da inconstitucionalidade das leis e atos normativos; ao juiz de primeiro grau cabe apenas o afastamento no caso concreto, quando deixa de aplicar a lei ou o ato normativo espcie, mas sem a declarao formal da inconstitucionalidade.
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Alm da previso no artigo 97 da Constituio Federal, o princpio da
reserva de plenrio tambm est consagrado no enunciado vinculante n 10 da
Smula do Supremo Tribunal Federal, de forma a impedir a declarao da
inconstitucionalidade e o afastamento da incidncia das leis e dos atos
normativos em geral pelas prprias Turmas, Cmaras e Sees dos diversos
Tribunais, com usurpao da competncia constitucional conferida ao Plenrio
ou ao rgo Especial, ainda que de forma indireta ou transversa. Por oportuno,
vale conferir o teor do preciso enunciado sumular vinculante n 10: Viola a
clusula de reserva de plenrio (CF, artigo 97) a deciso de rgo fracionrio
de tribunal que, embora no declare expressamente a inconstitucionalidade de
lei ou ato normativo do poder pblico, afasta a sua incidncia, no todo ou em
parte.
Sem dvida, rgos fracionrios como Turmas, Cmaras, Sees e
Grupos de Cmaras dos Tribunais no tm competncia para a declarao de
inconstitucionalidade propriamente dita nem para o afastamento da incidncia
das leis e os atos normativos considerados inconstitucionais, sem o prvio
julgamento da questo no Plenrio ou no rgo Especial dos respectivos
Tribunais. Reconhecida a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo em
controle difuso exercido nos rgos fracionrios dos Tribunais, o julgamento
deve ser suspenso na Turma, Cmara, Seo ou Grupo de Cmaras, com a
instaurao do incidente de inconstitucionalidade previsto nos artigos 480,
481, caput, in fine, e 482, caput e pargrafos, todos do Cdigo de Processo
Civil, a fim de que a questo constitucional seja submetida ao Plenrio ou ao
rgo Especial do respectivo Tribunal, tendo em vista a regra estampada no
artigo 97 da Constituio Federal15.
No obstante, a regra consubstanciada na necessidade da submisso
da arguio da inconstitucionalidade ao Plenrio ou ao rgo Especial dos
Tribunais comporta exceo, conforme revela o pargrafo nico do artigo 481
do Cdigo de Processo Civil, aplicvel quando j h precedente especfico do
Plenrio da Corte Suprema ou do Pleno ou rgo Especial do prprio Tribunal
sobre a mesma questo constitucional. Na excepcional hiptese do pargrafo
nico do artigo 481 do Cdigo de Processo Civil, as Turmas, Cmaras, Sees
e Grupos dos Tribunais tm competncia para o julgamento imediato, com a
declarao de inconstitucionalidade desde logo, sem necessidade da
transferncia da questo para o Plenrio ou rgo Especial do respectivo
Tribunal. Com efeito, s possvel o julgamento imediato e definitivo no rgo
fracionrio, com a declarao da inconstitucionalidade ou o afastamento da
incidncia da lei ou do ato normativo, quando j existe precedente do Plenrio
do Supremo Tribunal Federal ou do Pleno ou rgo Especial do prprio
Tribunal, a ser evocado como fundamento no posterior julgamento realizado na
15
Da a concluso: o denominado incidente de inconstitucionalidade o incidente processual que tem lugar no curso dos julgamentos realizados em controle difuso de constitucionalidade nos rgos fracionrios dos Tribunais, cujo escopo a transferncia da questo constitucional das Turmas, Cmaras, Sees ou Cmaras Reunidas rumo ao Plenrio ou rgo Especial.
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Turma, na Cmara, na Seo ou no Grupo de Cmaras, conforme o caso.
Trata-se de importante exemplo de aplicao dos princpios constitucionais da
economia e da celeridade processuais, em homenagem ao artigo 5, inciso
LXXXIV, sem desrespeito nem prejuzo ao artigo 97 da Constituio.
5.3. MAIORIA ABSOLUTA
Ainda vista do artigo 97 da Constituio Federal, a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo s pode ser declarada pelo voto
da maioria absoluta dos magistrados que integram o rgo jurisdicional mximo
do Tribunal16, vale dizer, do Plenrio ou do rgo Especial, conforme o artigo
93, inciso XI, da Constituio. Trata-se de formalidade que comum aos
controles difuso e concentrado: pouco importa a natureza do controle em
julgamento; a inconstitucionalidade s pode ser declarada aps deliberao da
maioria absoluta17.
Maioria absoluta o primeiro nmero inteiro logo aps a metade dos
componentes do Pleno ou do rgo Especial do Tribunal18 e no metade
mais um. No Supremo Tribunal Federal, por exemplo, Corte composta por onze
Ministros, tem-se a maioria absoluta pelo voto de seis Ministros no mesmo
rumo, com igual opinio sobre a questo constitucional em julgamento. o que
bem estabelece o artigo 173 do Regimento Interno da Corte Suprema.
Vale ressaltar que a exigncia da maioria absoluta para a declarao de
inconstitucionalidade no se confunde com a exigncia do quorum
constitutivo, isto , o quorum mnimo indispensvel para a simples realizao
do julgamento. Um exemplo pode facilitar a compreenso da teoria: no
Supremo Tribunal Federal, o quorum constitutivo de julgamento no Plenrio
acerca de matria constitucional de oito Ministros. Basta, todavia, a maioria
absoluta para a declarao de inconstitucionalidade. Por conseguinte, a
16
De acordo, na doutrina: JOS CRETELLA JNIOR. Comentrios Constituio. 3 ed., 1992, p. 3.040: Determina a regra jurdica constitucional que, do mesmo modo que a lei, poder todo ato normativo do poder pblico ser declarado inconstitucional pelo voto da maioria absoluta dos membros (no dos presentes) integrantes do colegiado julgador do antema argido. (no h o grifo no original). 17
No demais ressaltar que o raciocnio exposto no texto no aplicvel na hiptese de controle difuso exercido em juzo de primeiro grau de jurisdio, porquanto o julgamento se d de forma monocrtica, o que afasta, evidncia, a regra consagrada no artigo 97 da Constituio. 18
Com igual opinio, na doutrina: BARBOSA MOREIRA. Comentrios ao Cdigo. Volume V, 7 ed., 1998, p. 45; CELSO RIBEIRO BASTOS. Comentrios Constituio. Volume IV, tomo III, 1997, p. 81; e MRIO GUIMARES. O juiz e a funo jurisdicional. 1958, p. 374: Maioria absoluta, ensina-se geralmente, a metade mais um. A definio falha, porm, quando o nmero de votantes fr mpar 11, por exemplo. Qual, ento, a maioria absoluta? Seis ou sete? Viu-se o Supremo Tribunal Federal, vrias vzes, em face dessa dificuldade e decidiu que maioria absoluta de 11 seis. Exigir que fsse sete, seria fazer prevalecer, sbre o voto dos seis juzes que votaram num sentido, a opinio dos cinco, que ficaram derrotados. Maioria absoluta , pois, mais rigorosamente definido, a representada pelo nmero imediatamente superior metade. Ainda no mesmo sentido, na jurisprudncia: RE n 68.419/MA, Pleno do STF, Dirio da Justia de 15 de maio de 1970, p. 1.981: Maioria absoluta. Sua definio, como significando metade mais um, serve perfeitamente quando o total nmero par. Fora da, temos que recorrer verdadeira definio, a qual, como advertem SCIALOJA e outros, deve ser esta, que serve, seja par ou mpar o total: maioria absoluta o nmero imediatamente superior metade. Assim, maioria absoluta de quinze so oito, do mesmo modo que, de onze (nmero de juzes do Supremo Tribunal), so seis, e sobre isso no se questiona, nem se duvida aqui. (no h o grifo no original).
-
declarao de inconstitucionalidade depende do voto de seis Ministros19. o
que se infere do disposto nos artigos 143, pargrafo nico, e 173 do Regimento
Interno da Corte Suprema.
Outro exemplo: vista do pargrafo nico do artigo 172 do Regimento
Interno do Superior Tribunal de Justia, para a realizao do julgamento pela
Corte Especial h necessidade da presena de dois teros dos respectivos
membros. Como a Corte Especial composta por quinze Ministros20, o quorum
constitutivo de dez Ministros. No obstante, a inconstitucionalidade pode ser
declarada pelo voto da maioria absoluta dos componentes da Corte Especial.
Por conseguinte, o quorum deliberativo para a declarao da
inconstitucionalidade de oito Ministros, vale dizer, primeiro nmero inteiro
aps a metade dos quinze Ministros integrantes da Corte Especial. Sem
dvida, para a declarao da inconstitucionalidade, entretanto, basta a maioria
absoluta: oito Ministros contrrios lei ou ao ato normativo do poder pblico.
Por fim, vale ressaltar que a maioria absoluta exigncia constitucional
apenas para a declarao da inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo
do poder pblico. A declarao da constitucionalidade dispensa a formao da
maioria absoluta, em virtude da presuno da constitucionalidade das leis e
dos atos normativos. S a quebra da presuno da constitucionalidade que
depende da formao da maioria absoluta do Plenrio ou do rgo Especial do
Tribunal, conforme o caso. A declarao da constitucionalidade, todavia, pode
se dar pela maioria simples ou relativa; no h desrespeito algum ao artigo 97
da Constituio, portanto, na eventualidade de um julgamento declaratrio de
constitucionalidade ser tomado por maioria simples ou relativa.
5.4. CONTROLE REPRESSIVO DE CONSTITUCIONALIDADE
JURISDICIONAL: CONTROLE CONCENTRADO
A competncia originria prevista no inciso I do artigo 102 da Constituio
Federal significa que o Supremo Tribunal Federal julga em primeiro e nico
grau de jurisdio, porquanto o julgamento ocorre apenas e diretamente no
mbito da Corte Suprema, sem que a causa tenha sido antes decidida por
nenhum outro tribunal, nem por juzo de primeiro grau.
A principal competncia originria do Supremo Tribunal Federal diz
respeito ao processamento e julgamento das cinco aes de controle
concentrado de constitucionalidade, quais sejam: a ao direta de
inconstitucionalidade (de lei ou ato normativo federal ou estadual)21; a ao
19
Assim, na doutrina: SYDNEY SANCHES. Aspectos processuais do controle de constitucionalidade. 1996, p. 69: No Supremo Tribunal Federal, integrado por onze ministros, o julgamento se realiza com quorum (mnimo) de oito e a constitucionalidade ou inconstitucionalidade somente se declara se num ou noutro sentido se tiverem manifestado seis Ministros (art. 173 do RISTF) (no h o grifo no original). de seis, a maioria absoluta dos juzes do Supremo Tribunal para declarar a invalidade de leis atentatrias da Constituio (RP n 106/GO, Pleno do STF, Dirio da Justia de 27 de setembro de 1951, p. 2.989; no h o grifo no original). 20
Cf. Emenda Regimental n 9, de 2008. 21
Cf. artigo 102, inciso I, letra a, e artigo 103, caput, ambos da Constituio.
-
declaratria de constitucionalidade (de lei ou ato normativo federal)22; a ao
de arguio de descumprimento de preceito fundamental (de leis e atos
normativos federais, estaduais, municipais anteriores Constituio de 1988 e
de leis e atos normativos municipais incompatveis com a Constituio
vigente)23; a ao direta de inconstitucionalidade por omisso24; a ao
direta de inconstitucionalidade interventiva, tambm denominada ao de
interveno e representao interventiva25.
Com efeito, so cinco as aes que integram o controle concentrado de
constitucionalidade da competncia originria do Supremo Tribunal Federal.
No obstante, alm do controle concentrado de constitucionalidade exercido
em virtude das citadas aes arroladas na competncia originria do Supremo
Tribunal Federal, vale ressaltar que a Corte Suprema tambm exerce controle
difuso, em julgamento de recursos ordinrio e extraordinrio, previstos nos
incisos II e III do mesmo artigo 102 da Constituio, respectivamente26.
Por fim, alm do concreto concentrado de constitucionalidade da
competncia do Supremo Tribunal Federal, vale ressaltar que tambm h o
controle concentrado de constitucionalidade da competncia dos Tribunais de
Justia dos Estados e do Distrito Federal27. Da a concluso: o controle
concentrado de constitucionalidade no est restrito ao Supremo Tribunal
Federal; e o Supremo Tribunal Federal no exerce apenas controle
concentrado, mas tambm realiza controle difuso de constitucionalidade.
22
Cf. artigo 102, inciso I, letra a, e artigo 103, caput, ambos da Constituio. 23
Cf. artigo 102, 1, da Constituio. 24
Cf. artigo 103, 2, da Constituio. 25
Cf. artigo 36, inciso III, primeira parte, combinado com o artigo 34, inciso VII, e artigo 127, inciso IV, tambm da Constituio Federal. 26
No que tange aos recursos ordinrio e extraordinrio, constam de obra especfica: cf. BERNARDO PIMENTEL SOUZA. Dos recursos constitucionais. 2 ed., Saraiva, 2013. 27
Cf. artigo 35, inciso IV, e 125, 2, ambos da Constituio Federal.
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CAPTULO II
AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
1. PRECEITOS CONSTITUCIONAIS E LEGAIS DE REGNCIA
A ao direta de inconstitucionalidade est consagrada no artigo 102,
inciso I, alneas a e p, 2, e no artigo 103 da Constituio Federal, bem
como na Lei n 9.868, de 1999, diploma que dispe sobre o processo e o
procedimento no Supremo Tribunal Federal. So, em suma, os preceitos
constitucionais e legais de regncia da ao direta de inconstitucionalidade,
tambm denominada ao direta de inconstitucionalidade genrica ou
representao de inconstitucionalidade.
2. ESCOPO E ADMISSIBILIDADE
A ao direta de inconstitucionalidade integra o controle concentrado de
constitucionalidade. Trata-se de ao de competncia do Supremo Tribunal
Federal, adequada para a impugnao de leis e atos normativos federais e
estaduais considerados incompatveis com a Constituio Federal, conforme se
infere do artigo 102, inciso I, alnea a. H, portanto, julgamento in abstracto na
Corte Suprema, para a verificao da compatibilidade em tese de lei ou ato
normativo federal ou estadual luz da Constituio Federal, sem estar
relacionado a caso concreto algum28.
Em contraposio, a ao direta de inconstitucionalidade no
admissvel para impugnar leis e atos normativos municipais incompatveis com
a Constituio Federal, como bem revela o enunciado n 10 da Smula do
Tribunal de Justia da Paraba: No ordenamento jurdico nacional,
inadmissvel Ao Direta de Inconstitucionalidade de Lei Municipal em conflito
com a Constituio Federal. Na mesma esteira, a ao direta de
inconstitucionalidade tambm no admissvel para impugnar leis e atos
normativos distritais provenientes da competncia legiferante de ndole
municipal29, quando contestadas luz da Constituio Federal, como bem
assentou o Supremo Tribunal Federal por meio do enunciado sumular n 642:
No cabe ao direta de inconstitucionalidade de lei do Distrito Federal
derivada da sua competncia legislativa municipal. Em ambas as hipteses, a
via processual adequada a ao de arguio de descumprimento de preceito
fundamental, na qual h lugar para impugnao de leis e atos normativos
municipais e distritais de natureza municipal, quando contestados luz da
Constituio Federal. Da a assero: apenas as leis e atos normativos
28
No obstante, aps o julgamento definitivo realizado no Plenrio do Supremo Tribunal Federal, todos os casos concretos pendentes nas diversas instncias administrativas e judiciais so alcanados pela deliberao proferida no controle abstrato. 29
Com efeito, em razo da natureza hbrida do Distrito Federal, o 1 do artigo 32 da Constituio Federal revela a coexistncia de competncias legislativas estaduais e municipais.
-
federais, estaduais e distritais de natureza estadual podem ser discutidos em
sede de ao direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal.
Por fim, a admissibilidade da ao direta de inconstitucionalidade
pressupe que as leis e os atos normativos federais, estaduais e distritais de
natureza estadual estejam em vigor. Na eventualidade da revogao da lei ou
do ato normativo objeto da ao direta de inconstitucionalidade, o respectivo
processo deve ser extinto, com fundamento no artigo 267, inciso VI, do Cdigo
de Processo Civil, em razo da superveniente ausncia de interesse
processual ou, na linguagem forense, por perda de objeto. Sem dvida, na
eventualidade de revogao superveniente, as leis e os atos normativos saem
do ordenamento jurdico, motivo pelo qual no h interesse processual para a
discusso em tese, em controle concentrado de constitucionalidade, de
natureza abstrata. Da o acerto do enunciado sumular n 7 aprovado pela Corte
Superior do Tribunal de Justia de Minas Gerais: Julga-se prejudicada a ao
direta de inconstitucionalidade que tem por objeto a inconstitucionalidade de
norma que revogada supervenientemente representao. Eventuais
repercusses individuais anteriores revogao das leis e dos atos normativos
podem ser objeto de processos subjetivos, com o controle in concreto, no juzo
de origem ou no tribunal competente, mas no em sede de ao direta de
inconstitucionalidade.
3. PRAZO PARA A PROPOSITURA: INEXISTNCIA
A ao direta de inconstitucional no est sujeita a prazo, como bem
assentou o Plenrio do Supremo Tribunal Federal em 1963, ao aprovar o
enunciado sumular n 360: No h prazo decadencial para a representao de
inconstitucionalidade prevista no art. 8, pargrafo nico, da Constituio
Federal.
Ad argumentandum tantum, embora tenha sido aprovada em 1963, a
orientao jurisprudencial sumulada subsiste luz da Constituio de 1988,
como tambm j decidiu com acerto o Plenrio da Corte Suprema30.
4. LEGITIMIDADE ATIVA
A ao direta de inconstitucionalidade somente pode ser ajuizada por
legitimado ativo autorizado vista do artigo 103 da Constituio Federal: o
Presidente da Repblica; a Mesa do Senado; a Mesa da Cmara dos
Deputados; as Mesas das Assembleias Legislativas dos Estados e a Mesa da
Cmara Legislativa do Distrito Federal; os Governadores dos Estados e do
30
Sem dvida, o Supremo Tribunal Federal prestigia o enunciado sumular n 360 mesmo luz da Constituio de 1988, como bem revela a ementa do seguinte precedente do Plenrio da Corte O ajuizamento da ao direta de inconstitucionalidade no esta sujeito a observncia de qualquer prazo de natureza prescricional ou de carter decadencial, eis que atos inconstitucionais jamais se convalidam pelo mero decurso do tempo. Smula 360. Precedentes do STF. (ADI n 1.247 MC, Pleno do STF, Dirio da Justia de 8 de setembro de 1995, p. 28.354).
-
Distrito Federal; o Procurador-Geral da Repblica; o Conselho Federal da
Ordem dos Advogados do Brasil; partido poltico com representao no
Congresso Nacional; e confederao sindical ou entidade de classe de mbito
nacional.
No obstante, as Mesas das Assembleias Legislativas dos Estados e da
Cmara Legislativa do Distrito Federal, os Governadores dos Estados e do
Distrito Federal, as confederaes sindicais e as entidades de classe nacionais
s tm legitimidade ativa para ajuizar aes diretas de inconstitucionalidade
que versem sobre os respectivos direitos e atribuies institucionais, com a
demonstrao da pertinncia temtica.
Em contraposio, o Presidente da Repblica, as Mesas do Senado e da
Cmara dos Deputados, o Procurador-Geral da Repblica, o Conselho Federal
da Ordem dos Advogados do Brasil e os partidos polticos com representao
no Congresso Nacional tm legitimidade ativa ampla, independentemente da
pertinncia temtica das aes que propem com os respectivos direitos e
atribuies institucionais.
5. DESISTNCIA DA AO PROPOSTA: IMPOSSIBILIDADE
A ao direta de inconstitucionalidade no passvel de desistncia. A
propsito, vale conferir o artigo 5 da Lei n 9.868, de 1999: Art. 5 Proposta a
ao direta, no se admitir desistncia. Por conseguinte, ainda que o autor
da ao veicule pedido de desistncia, o processo subsiste e julgado na
Corte Suprema, porquanto versa sobre questo de ordem pblica: a
problemtica da inconstitucionalidade de leis ou de ato normativo federal ou
estadual luz da Constituio Federal.
6. FUNGIBILIDADE DAS VIAS DE CONTROLE CONCENTRADO DE
CONSTITUCIONALIDADE: POSSIBILIDADE
Ao contrrio do que pode parecer vista da Lei n 9.868, de 1999, a
ao direta de inconstitucionalidade, a ao de arguio de descumprimento de
preceito fundamental, a ao de inconstitucionalidade por omisso e as outras
espcies que integram o controle concentrado de constitucionalidade da
competncia originria do Supremo Tribunal Federal podem ser convertidas na
via adequada. No obstante, a fungibilidade depende da existncia na via eleita
de todos os requisitos de admissibilidade da via adequada, como a legitimidade
ativa, por exemplo31.
31
De acordo, na jurisprudncia: 1. AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. Impropriedade da ao. Converso em Argio de Descumprimento de Preceito Fundamental - ADPF. Admissibilidade. Satisfao de todos os requisitos exigidos sua propositura. Pedido conhecido como tal. Aplicao do princpio da fungibilidade. Precedentes. lcito conhecer de ao direta de inconstitucionalidade como argio de descumprimento de preceito fundamental, quando coexistentes todos os requisitos de admissibilidade desta, em caso de inadmissibilidade daquela. (ADI n 4.180/DF MC REF, Pleno do STF, Dirio da Justia eletrnico de 15 de abril de 2010). Aes Diretas de Inconstitucionalidade (ADI n. 875/DF, ADI n. 1.987/DF, ADI n. 2.727/DF e ADI n. 3.243/DF). Fungibilidade entre as aes diretas de
-
7. PETIO INICIAL
A petio inicial da ao direta de inconstitucionalidade deve seguir o
disposto no artigo 3 da Lei n 9.868, de 1999, e na Resoluo n 421, de 2009,
cujo artigo 18 torna obrigatria a propositura de forma eletrnica32.
A petio inicial da ao direta de inconstitucionalidade deve ser
endereada ao Supremo Tribunal Federal, mais especificamente, ao Ministro-
Presidente da Corte, competente para a distribuio ao Ministro-Relator que
conduzir o processo at o julgamento final pelo Plenrio e ser o primeiro a
votar.
vista do artigo 3, inciso I, da Lei n 9.868, de 1999, a petio inicial da
ao direta de inconstitucionalidade deve conter a precisa indicao do
dispositivo da lei ou do ato normativo impugnado e os fundamentos jurdica do
pedido em relao a cada uma das impugnaes.
A petio inicial tambm deve conter o pedido, com suas
especificaes, tendo em vista o disposto no artigo 3, inciso II, da Lei n
9.868, de 1999. Deve o autor, portanto, indicar, com preciso, os artigos,
incisos, alneas e pargrafos da lei ou do ato normativo em relao aos quais
formula pedido de declarao de inconstitucionalidade.
Ainda em relao aos pedidos que podem ser formulados na petio
inicial, na eventualidade de risco de dano irreparvel ou de difcil reparao em
razo da aplicao da norma impugnada, o autor tambm pode requerer a
concesso de medida cautelar in limine litis, para suspender a lei ou ato
normativo tachado de inconstitucional, at o julgamento definitivo do processo
da ao direta de inconstitucionalidade.
A despeito da exigncia estampada no artigo 258 do Cdigo de
Processo Civil, prevalece a orientao jurisprudencial segundo a qual no h
indicao de valor da causa na petio inicial da ao direta de
inconstitucionalidade33.
No que tange aos documentos eletrnicos que devem instruir a petio
inicial, o inteiro teor da lei ou do ato normativo impugnado deve ser
apresentado desde logo com a petio inicial, conforme se infere do pargrafo
inconstitucionalidade por ao e por omisso. (ADI n 875/DF, Pleno do STF, Dirio da Justia eletrnico de 29 de abril de 2010). 32
Art. 18. As classes processuais Reclamao (RCL), Ao Direta de Inconstitucionalidade (ADI), Ao Declaratria de Constitucionalidade (ADC), Ao Direta de Inconstitucionalidade por Omisso (ADO), Argio de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) e Proposta de Smula Vinculante (PSV) passam a ser processadas, exclusivamente, no sistema eletrnico do STF (e-STF ). (sem os grifos no original). 33
Alis, o Pleno do Tribunal de Justia Gacho j decidiu, unanimidade, ser irrelevante a no-indicao do valor da causa em ao direta de inconstitucionalidade, por no se tratar de processo com valor patrimonial (ADIn n 596001057, rel. Des. Eliseu Gomes Torres, julgada em 04.11.96). (trecho extrado do parecer do Procurador-Geral de Justia ANTONIO CARLOS DE AVELAR BASTOS, referente ao processo n 70004911012, do Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul).
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nico do artigo 3 da Lei n 9.868, de 1999, combinado com os artigos 18 e 19
da Resoluo n 421, de 200934.
Ainda em relao aos documentos eletrnicos que devem instruir a
petio, a inicial deve estar acompanhada de instrumento de procurao em
prol do advogado constitudo para a causa. Na verdade, predomina a
orientao jurisprudencial ex vi da qual a procurao deve ser especfica para a
causa, com a outorga de poder especial para a propositura da ao direta de
inconstitucionalidade35. E mais, tambm prevalece a jurisprudncia contrria
aplicao do artigo 284 do Cdigo de Processo Civil em relao ao processo
da ao direta de inconstitucionalidade36.
Se a petio inicial for inepta, sem fundamentao ou revelar a
manifesta inadequao da via eleita, compete ao prprio Ministro-Relator
proferir deciso monocrtica de indeferimento liminar da petio, com
fundamento no artigo 4 da Lei n 9.868, de 1999. O indeferimento liminar da
petio inicial da ao direta de inconstitucionalidade se d mediante deciso
monocrtica, e no por sentena. Da o cabimento do recurso de agravo
interno ou regimental, no prazo de cinco dias.
Em contraposio, se a petio inicial estiver em termos, ou seja, apta,
h a admisso pelo Ministro-Relator, o qual determina o processamento
segundo algum dos trs ritos existentes na Lei n 9.868, de 1999, quais sejam:
o procedimento abreviado do artigo 12, quando h veiculao de pedido de
medida cautelar na petio inicial e h convenincia do julgamento definitivo do
prprio mrito desde logo; o procedimento cautelar dos artigos 10 e 11,
quando h veiculao de pedido de medida cautelar na petio inicial, mas no
conveniente o julgamento definitivo de forma sumria; o procedimento
ordinrio dos artigos 6, 7, 8 e 9, quando no h veiculao de pedido de
medida cautelar na petio inicial.
8. PROCEDIMENTO ABREVIADO
O artigo 12 da Lei n 9.868 dispe sobre o procedimento abreviado
destinado ao julgamento sumrio do prprio mrito de forma definitiva.
Com efeito, formulado pedido acautelatrio na petio inicial, o Ministro-
Relator, vista da relevncia da matria e da importncia do julgamento para a
34
Art. 18. As classes processuais Reclamao (RCL), Ao Direta de Inconstitucionalidade (ADI), Ao Declaratria de Constitucionalidade (ADC), Ao Direta de Inconstitucionalidade por Omisso (ADO), Argio de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) e Proposta de Smula Vinculante (PSV) passam a ser processadas, exclusivamente, no sistema eletrnico do STF (e-STF ). Pargrafo nico. Os processos das classes citadas no caput tero suas informaes disponibilizadas no stio do STF. Art. 19. Cabe a todos os proponentes e autores das classes processuais citadas nesta Resoluo, preencherem dados dos campos marcados como obrigatrios, inclusive o assunto, utilizando a tabela unificada de assuntos do Poder Judicirio. (sem os grifos no original). 35
de exigir-se, em ao direta de inconstitucionalidade, a apresentao, pelo proponente, de instrumento de procurao ao advogado subscritor da inicial, com poderes especficos para atacar a norma impugnada. (ADI n 2.187/BA QO, Pleno do STF, Dirio da Justia de 12 de dezembro de 2003, p. 62). 36
Cf. ADI n 259/DF, Pleno do STF, Dirio da Justia de 19 de fevereiro de 1993.
-
ordem social e a segurana jurdica, pode, aps a prestao das informaes,
no prazo de dez dias, pelas autoridades pblicas responsveis pela iniciativa,
aprovao, sano, promulgao e publicao da lei ou do ato normativo
impugnado, e a manifestao do Advogado-Geral da Unio e do Procurador-
Geral da Repblica, sucessivamente, no prazo de cinco dias, submeter o
processo diretamente ao Plenrio do Supremo Tribunal Federal, que ter a
faculdade de julgar definitivamente a ao.
Veiculado pedido acautelatrio na petio inicial e adotado o
procedimento abreviado pelo Ministro-Relator, portanto, os Ministros da Corte
Suprema tm a faculdade de proferirem imediato julgamento definitivo sobre o
mrito da causa, desde que presentes na sesso plenria pelo menos oito
Ministros e que ao menos seis votem no mesmo diapaso, com a formao da
necessria maioria absoluta, porquanto o julgamento sob o rito abreviado est
submetido s regras estampadas nos artigos 22 e 23 da Lei n 9.868, de 1999.
9. PROCEDIMENTO CAUTELAR
Se o autor da ao direta de inconstitucionalidade formular pedido de
medida cautelar e o Ministro-Relator no julgar conveniente o processamento
pelo rito abreviado, deve adotar o procedimento previsto nos artigos 10 e 11 da
Lei n 9.868, de 1999, aps admitir a petio inicial.
vista do artigo 10, admitida a petio inicial, o Ministro-Relator
determina a expedio de ofcio s autoridades pblicas responsveis pela
iniciativa, aprovao, sano, promulgao e publicao da lei ou do ato
normativo objeto da ao, para que possam prestar informaes em cinco dias.
Em caso excepcional de urgncia, entretanto, o Ministro-Relator pode at
mesmo dispensar a oitiva das autoridades pblicas e submeter o pedido de
medida cautelar desde logo ao Plenrio da Corte.
No que tange ao Advogado-Geral da Unio e ao Procurador-Geral da
Repblica, no h necessidade de citao e de intimao para que o pedido de
medida cautelar seja submetido ao Plenrio da Corte. No obstante, se julgar
indispensvel a citao do Advogado-Geral da Unio e a interveno do
Procurador-Geral da Repblica antes de submeter o pedido acautelatrio ao
Plenrio, o Ministro-Relator pode conceder prazo de trs dias para que possam
apresentar a contestao e o parecer, respectivamente.
Dispensadas as oitivas pelo Ministro-Relator ou decorridos os prazos,
com ou sem a apresentao das informaes, da contestao e do parecer, o
pedido acautelatrio submetido ao Plenrio da Suprema Corte, desde que
presentes na sesso pelo menos oito Ministros. o quorum constitutivo
previsto nos artigos 10 e 22 da Lei n 9.868, de 1999, para o incio e a
realizao do julgamento. Em seguida, h a deliberao sobre o pedido
acautelatrio, com a concesso da medida se assim votarem pelo menos seis
Ministros, porquanto o artigo 10 tambm estabelece o quorum deliberativo: a
-
medida cautelar na ao direta ser concedida por deciso da maioria absoluta
dos membros do Tribunal. O quorum constitutivo (de pelo menos oito Ministros
presentes na sesso plenria) no se confunde com o quorum deliberativo (de
pelo menos seis Ministros com igual concluso)37.
Para evitar dano irreparvel ou de difcil reparao, portanto, os
Ministros da Suprema Corte podem conceder medida cautelar para suspender
lei ou ato normativo tachado de inconstitucional, at o julgamento definitivo do
processo da ao direta de inconstitucionalidade.
Concedida a medida cautelar, a parte dispositiva do julgamento deve ser
publicada em seo especial do Dirio Oficial da Unio e do Dirio da Justia
da Unio, no prazo de dez dias, com a posterior adoo do procedimento
ordinrio dos artigos 6 a 9 da Lei n 9.868, de 1999, tudo nos termos do caput
do artigo 11 do mesmo diploma: Art. 11. Concedida a medida cautelar, o
Supremo Tribunal Federal far publicar em seo especial do Dirio Oficial da
Unio e do Dirio da Justia da Unio a parte dispositiva da deciso, no prazo
de dez dias, devendo solicitar as informaes autoridade da qual tiver
emanado o ato, observando-se, no que couber, o procedimento estabelecido
na Seo I deste Captulo.
Como o julgamento tem natureza temporria, a medida acautelatria
suspensiva da lei ou do ato normativo impugnado tem efeito ex nunc, a partir
da publicao da ata do julgamento proferido pelo Supremo Tribunal Federal38,
sem atingir, por enquanto, as relaes jurdicas constitudas antes do
julgamento concessivo da medida cautelar, em homenagem ao princpio da
segurana jurdica. a regra (ex nunc) estampada no 1 do artigo 11 da Lei
n 9.868, de 1999, mas que comporta exceo (ex tunc): 1 A medida
cautelar, dotada de eficcia contra todos, ser concedida com efeito ex nunc,
salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lhe eficcia retroativa.
Em virtude da suspenso da lei ou do ato normativo por fora da medida
acautelatria concedida, passa a ser aplicvel a legislao anterior acaso
existente, salvo expressa manifestao em sentido contrrio39.
37
A propsito da distino entre o quorum constitutivo e o quorum deliberativo, h precisa lio na literatura jurdica portuguesa: FERNANDO AMNCIO FERREIRA. Manual dos recursos em processo civil. Coimbra, Editora Almedina, 2000, p. 214. 38
De acordo, na jurisprudncia: TERCEIRA QUESTO DE ORDEM - AO DECLARATRIA DE CONSTITUCIONALIDADE - PROVIMENTO CAUTELAR - PRORROGAO DE SUA EFICCIA POR MAIS 180 (CENTO E OITENTA) DIAS - OUTORGA DA MEDIDA CAUTELAR COM EFEITO EX NUNC (REGRA GERAL) - A QUESTO DO INCIO DA EFICCIA DO PROVIMENTO CAUTELAR EM SEDE DE FISCALIZAO ABSTRATA DE CONSTITUCIONALIDADE - EFEITOS QUE SE PRODUZEM, ORDINARIAMENTE, A PARTIR DA PUBLICAO, NO DJe, DA ATA DO JULGAMENTO QUE DEFERIU (OU PRORROGOU) REFERIDA MEDIDA CAUTELAR, RESSALVADAS SITUAES EXCEPCIONAIS EXPRESSAMENTE RECONHECIDAS PELO PRPRIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - PRECEDENTES (RCL 3.309-MC/ES, REL. MIN. CELSO DE MELLO, v.g.) - COFINS E PIS/PASEP - FATURAMENTO (CF, ART. 195, I, "B") - BASE DE CLCULO - EXCLUSO DO VALOR PERTINENTE AO ICMS - LEI N 9.718/98, ART. 3, 2, INCISO I - PRORROGAO DEFERIDA. (ADC n 18/DF MC QO 3, Pleno do STF, Dirio da Justia Eletrnico de 17 de junho de 2010, sem o grifo no original) 39
Cf. artigo 11, 2, da Lei n 9.868, de 1999.
-
Por fim, no que tange ao alcance do julgamento, o 1 do artigo 11 da
Lei n 9.868 tambm revela que a deliberao plenria dotada de eficcia
contra todos, vale dizer, erga omnes.
10. PROCEDIMENTO ORDINRIO
Em regra, o processo da ao direta de inconstitucionalidade segue o
rito previsto nos artigos 6 a 9 da Lei n 9.868, de 1999, com a admisso da
petio inicial, a expedio de ofcio para a prestao de informaes pelas
autoridades pblicas das quais emanou a norma impugnada, o deferimento e o
indeferimento de pessoas como amicus curiae, a citao do Advogado-Geral
da Unio, a intimao do Procurador-Geral da Repblica, o lanamento de
relatrio e o pedido de dia pelo Ministro-Relator.
10.1. ADMISSO DA PETIO INICIAL E INFORMAES
Admitida a petio inicial pelo Ministro-Relator, h a expedio de ofcio
dirigido s autoridades das quais emanou a lei ou o ato normativo impugnado,
a fim de que possam prestar informaes no prazo de trinta dias, tudo nos
termos do artigo 6 da Lei n 9.868, de 1999.
10.2. INGRESSO DE AMICUS CURIAE
O artigo 7 da Lei n 9.868 veda o ingresso de terceiros no processo da
ao direta de inconstitucionalidade. Da a impossibilidade de assistncia,
oposio, chamamento ao processo, denunciao da lide, nomeao autoria,
institutos jurdicos incompatveis com o processo da ao direta de
inconstitucionalidade.
No obstante, o 2 do artigo 7 da Lei n 9.868 autoriza o Ministro-
Relator a abrir vista e colher manifestaes de entidades e pessoas, a fim de a
questo constitucional a ser submetida ao Plenrio seja examinada sob todos
os prismas. Da a possibilidade da manifestao do denominado amicus curiae.
Em suma, amicus curiae a entidade ou pessoa autorizada a ingressar
no processo com a finalidade de auxiliar o Tribunal, tendo em vista
conhecimentos especficos teis para a correta prestao jurisdicional, como
bem revela o artigo 7, 2, da Lei n 9.868, de 1999. No , portanto, o
amicus curiae, real terceiro com interesse jurdico no desate da causa, mas
simples amigo da corte, como colaborador informal da Corte.
10.3. CITAO DO ADVOGADO-GERAL DA UNIO
Alm da requisio de informaes s autoridades pblicas
responsveis pela iniciativa, aprovao, sano, promulgao e publicao da
lei ou do ato normativo impugnado na petio inicial, o Ministro-Relator tambm
-
determina a citao do Advogado-Geral da Unio, a fim de defender a norma
tachada de inconstitucional.
vista do 3 do artigo 103 da Constituio Federal, do artigo 4, inciso
IV, da Lei Complementar n 73, de 1993, e do artigo 8 da Lei n 9.868, de
1999, portanto, o Advogado-Geral da Unio deve ser citado para defender as
leis e os atos normativos impugnados nas aes diretas de
inconstitucionalidade, no prazo de quinze dias40.
10.4. INTERVENO DO PROCURADOR-GERAL DA REPBLICA
Alm da legitimidade ativa para a propositura da ao direta de
inconstitucionalidade, o Procurador-Geral da Repblica tambm deve intervir
nos demais processos instaurados por fora de aes diretas de
inconstitucionalidade ajuizadas por outros legitimados ativos, na qualidade de
custos legis, em cumprimento ao disposto no 1 do artigo 103 da Constituio
Federal e do artigo 8 da Lei n 9.868, de 1999.
Em suma, quando no for o autor da ao direta de
inconstitucionalidade, o Procurador-Geral da Repblica deve ser intimado
pessoalmente, a fim de que possa emitir parecer no prazo de quinze dias.
10.5. LANAMENTO DO RELATRIO, PEDIDO DE DIA E
JULGAMENTO EM SESSO PLENRIA
Decorridos todos os prazos previstos nos artigos 6, 7 e 8 da Lei n
9.868, de 1999, o Ministro-Relator deve elaborar o relatrio, com a exposio
das informaes, das manifestaes, da contestao, do parecer ministerial,
dos pontos controvertidos e, ao final, pedir dia para julgamento ao Ministro-
Presidente da Corte Suprema, tudo nos termos do artigo 9 daquele diploma.
Com efeito, o pedido de dia para julgamento cabe ao Ministro-Relator,
porquanto no h a figura de Ministro-Revisor no processo da ao direta de
inconstitucionalidade.
40
Assim, na jurisprudncia: FUNO CONSTITUCIONAL DO ADVOGADO-GERAL DA UNIO - A funo processual do Advogado-Geral da Unio, nos processos de controle de constitucionalidade por via de ao, eminentemente defensiva. Ocupa, dentro da estrutura formal desse processo objetivo, a posio de rgo agente, posto que lhe no compete opinar e nem exercer a funo fiscalizadora j atribuda ao Procurador-Geral da Repblica. Atuando como verdadeiro curador (defensor legis) das
normas infraconstitucionais, inclusive daquelas de origem estadual, e velando pela preservao de sua presuno de constitucionalidade e de sua integridade e validez jurdicas no mbito do sistema de direito, positivo, no cabe ao Advogado-Geral da Unio, em sede de controle normativo abstrato, ostentar posio processual contrria ao ato estatal impugnado, sob pena de frontal descumprimento do munus indisponvel que lhe foi imposto pela prpria Constituio da Repblica. Precedentes. (ADI n 1.254/RJ AgRg, Pleno do STF, Dirio da Justia de 19 de setembro de 1997, p. 45.530, sem o grifo no original). AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE ATUAO DO ADVOGADO-GERAL DA UNIO. Consoante dispe o 3 do artigo 103 da Constituio Federal, cumpre ao Advogado-Geral da Unio o papel de curador da lei atacada, no lhe sendo dado, sob pena de inobservncia do mnus pblico, adotar posio diametralmente oposta, como se atuasse como fiscal da lei, qualidade reservada, no controle concentrado de constitucionalidade perante o Supremo, ao Procurador-Geral da Repblica. (ADI n 2.906/RJ, Pleno do STF, Dirio da Justia Eletrnico de 28 de junho de 2011, sem o grifo no original).
-
Aps a incluso em pauta, h o julgamento em sesso plenria do
Supremo Tribunal Federal, desde que presentes pelo menos oito Ministros,
em cumprimento ao disposto no artigo 22 da Lei n 9.868, de 1999. o quorum
constitutivo para o incio e a realizao do julgamento.
Em seguida, h a prolao dos votos pelos Ministros presentes na
sesso plenria. O resultado depende da formao da maioria absoluta em prol
da inconstitucionalidade ou da constitucionalidade de cada preceito impugnado.
O quorum deliberativo, portanto, corresponde a seis Ministros.
No obstante, se no for alcanada a maioria absoluta em razo da
ausncia de um ou mais Ministros, o julgamento deve ser suspenso pelo
Ministro-Presidente, para aguardar o comparecimento do(s) Ministro(s)
ausente(s), tudo nos termos do artigo 23 da Lei n 9.868, de 1999.
Findo o julgamento, o Ministro-Presidente proclamar a
constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo
conforme os votos de pelo menos seis Ministros.
11. EFEITOS DO JULGAMENTO DEFINITIVO
11.1. EX TUNC, ERGA OMNES E VINCULANTE
Em regra, os julgamentos definitivos proferidos nas aes diretas de
inconstitucionalidade tm efeitos ex tunc, erga omnes e vinculante, tendo em
vista o disposto no artigo 102, 2, da Constituio Federal.
O efeito ex tunc significa que a deciso retroage para atingir a lei ou o
ato normativo ab ovo, ou seja, desde o incio41. H, todavia, a exceo prevista
no artigo 27 da Lei n 9.868, de 1999, quando o Supremo Tribunal Federal,
pelo voto de dois teros (vale dizer, oito Ministros), pode restringir os efeitos
daquela declarao ou decidir que ela s tenha eficcia a partir de seu trnsito
em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.
J o efeito erga omnes significa que a deciso alcana a todos, tanto as
partes quanto os terceiros.
Por fim, o efeito vinculante diz respeito obrigatoriedade da deciso, a
qual deve ser obedecida tanto pelos demais rgos do Poder Judicirio quanto
pelos rgos e entidades das administraes direta e indireta42, em todas as
esferas: federal, estadual, distrital e municipal. Eventual descumprimento ou
desrespeito enseja ao de reclamao constitucional perante o Supremo
Tribunal Federal, ao tambm da competncia originria da Corte Suprema,
adequada para preservar a competncia e garantir a autoridade das
41
De acordo, na jurisprudncia: - A declarao de inconstitucionalidade, no entanto, que se reveste de carter definitivo, sempre retroage ao momento em que surgiu, no sistema de direito positivo, o ato estatal atingido pelo pronunciamento judicial (nulidade ab initio). que atos inconstitucionais so nulos e
desprovidos de qualquer carga de eficcia jurdica (RTJ 146/461). (ADI n 1.434/SP MC, Pleno do STF, Dirio da Justia de 22 de novembro de 1996, p. 45.684, sem o grifo no original). 42
Vale dizer, autarquias, fundaes pblicas, empresas pblicas e sociedades de economia mista.
-
respectivas decises, conforme o disposto nos artigos 102, inciso I, letra l, e
103-A, 3, da Constituio Federal. Vale ressaltar, todavia, que o efeito
vinculante no alcana nenhuma das Casas do Poder Legislativo, as quais
preservam o poder legiferante de forma integral, motivo pelo qual h lugar para
a aprovao de emenda constitucional para modificar o texto objeto do
julgamento no Supremo Tribunal Federal.
11.2. REPRISTINAO
Em regra, a revogao de uma norma revogadora de norma pretrita
no revigora a primeira lei revogada, salvo disposio em contrrio na norma
ulterior que implicou a revogao da norma revogadora da norma primitiva. No
mais das vezes, portanto, no h repristinao.
O problema surge quando a lei ou ato normativo julgado inconstitucional
implica revogao de lei ou ato normativo anterior. Da o questionamento: h
repristinao na eventualidade da revogao de lei ou ato normativo por lei ou
ato normativo superveniente julgado inconstitucional?
A questo enseja resposta positiva, como bem assentou o Tribunal de
Justia de Santa Catarina ao aprovar o enunciado sumular n 17: A deciso
que declara a inconstitucionalidade de uma norma porque nula ex tunc, alcana
todos os atributos que uma lei constitucional seria capaz de congregar,
inclusive torna ineficaz a clusula expressa ou implcita de revogao da
disposio aparentemente substituda, mantendo vigente, como se alterao
no tivesse havido, a legislao anterior, qual se confere efeitos
repristinatrios43-44.
12. RECORRIBILIDADE DO JULGAMENTO DEFINITIVO
12.1. RECURSO DE EMBARGOS DE DECLARAO: CABIMENTO
vista do artigo 26 da Lei n 9.868, de 1999, o acrdo prolatado em
ao direta de inconstitucionalidade s pode ser impugnado mediante
embargos declarao, nico recurso cabvel para questionar eventual erronia
no julgamento proferido pelo Plenrio do Supremo Tribunal Federal. No
43
Cf. Uniformizao de Jurisprudncia na Apelao n. 2005.030499-6, Dirio da Justia Eletrnico n 116, de 18 de dezembro de 2006, p. 1. 44
De acordo, na jurisprudncia da Corte Suprema: - A declarao de inconstitucionalidade in abstracto, considerado o efeito repristinatrio que lhe inerente (RTJ 120/64 - RTJ 194/504-505 - ADI 2.867/ES, v.g.), importa em restaurao das normas estatais revogadas pelo diploma objeto do processo de controle normativo abstrato. que a lei declarada inconstitucional, por incidir em absoluta desvalia jurdica (RTJ 146/461-462), no pode gerar quaisquer efeitos no plano do direito, nem mesmo o de provocar a prpria revogao dos diplomas normativos a ela anteriores. Lei inconstitucional, porque invlida (RTJ 102/671), sequer possui eficcia derrogatria. A deciso do Supremo Tribunal Federal que declara, em sede de fiscalizao abstrata, a inconstitucionalidade de determinado diploma normativo tem o condo de provocar a repristinao dos atos estatais anteriores que foram revogados pela lei proclamada inconstitucional. Doutrina. Precedentes (ADI 2.215-MC/PE, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Informativo/STF n 224, v.g.). (ADI n 3.148/TO, Pleno do STF, Dirio da Justia Eletrnico de 27 de setembro de 2007 e Revista Tribunal de Jurisprudncia, volume 202, p. 1.048).
-
obstante, os embargos declaratrios somente so cabveis para questionar
omisso, contradio e obscuridade no julgamento, conforme revelam os
incisos I e II do artigo 535 do Cdigo de Processo Civil.
12.2. RECURSO DE EMBARGOS INFRINGENTES: INADEQUAO
Os embargos infringentes so tradicional espcie recursal adequada
para a impugnao de acrdo majoritrio proferido nos tribunais ptrios.
No que tange ao cabimento contra acrdo prolatado em ao direta de
inconstitucionalidade, o artigo 6 da Lei n 4.337, de 1964, autorizava a
interposio do recurso de embargos infringentes contra acrdo proferido em
representao de inconstitucionalidade45, com, no mnimo, trs votos
divergentes.
Com o advento da Emenda Constitucional n 7, de 1977, o Supremo
Tribunal Federal passou a ter competncia para legislar sobre direito
processual. o que se infere do 3, alnea c, do artigo 119 da Carta de
1967, com a redao dada pela Emenda n 7: O regimento interno
estabelecer: omissis; c) o processo e o julgamento dos feitos de sua
competncia originria ou recursal e da arguio de relevncia da questo
federal.
Em 1980, o Supremo Tribunal Federal elaborou e aprovou o respectivo
Regimento Interno. O artigo 333, inciso IV, do Regimento, cuidava do
cabimento do recurso de embargos infringentes contra acrdo proferido em
ao direta de inconstitucionalidade, in verbis: Cabem embargos infringentes
deciso no unnime do Plenrio ou da Turma: omissis; IV que julgar a
representao de inconstitucionalidade.
Por fora da Emenda Regimental n 2, de 1985, o pargrafo nico do
artigo 333 passou a ter a seguinte redao: O cabimento dos embargos, em
deciso do Plenrio, depende da existncia, no mnimo, de quatro votos
divergentes, salvo nos casos de julgamento criminal em sesso secreta.
Com o advento da Constituio de 1988, o Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal foi recepcionado, quando passou a ter fora de lei
federal46. Com efeito, ao contrrio do que pode parecer primeira vista, o fato
45
Vale ressaltar que a atual ao direta de inconstitucionalidade nada mais do que a antiga representao de inconstitucionalidade, com nova denominao, porquanto a Constituio de 1988 conferiu novo ttulo ao instituto jurdico em estudo, embora tenha preservado o tradicional nomen iuris no artigo 125, quando tratou da representao de inconstitucionalidade da competncia originria dos Tribunais de Justia. 46
Assim, na jurisprudncia: ADIN n 29/RS EI, Pleno do STF, RTJ, volume 133, p. 959; e ADIN n 171/MG EI, Pleno do STF, RTJ, volume 160, p. 31. Como bem concluiu o eminente Ministro SEPLVEDA PERTENCE no julgamento do MS n 21.290/BA EDcl, bvio que o Regimento tem hierarquia de lei, enquanto no revogado por outra lei. Em sentido semelhante, na doutrina: VICENTE GRECO FILHO. Direito. Volume II, 11 ed., 1996, p. 391, nota 45: O Supremo Tribunal Federal perdeu a competncia anmala de legislar sobre os processos de sua competncia, mas permanece o Regimento Interno em vigor, com natureza de lei federal at que outra norma desse nvel o derrogue ou modifique. Ainda em sentido semelhante, tambm na doutrina: ANDR RAMOS TAVARES. Curso de direito
-
de o artigo 96, inciso I, alnea a, da Constituio de 1988 ter limitado a
competncia legislativa dos tribunais, no revogou os artigos do Regimento de
1980 de ndole processual47, porquanto o instituto da recepo confere
sustentao jurdica s normas infraconstitucionais em vigor antes do advento
da nova Constituio, compatveis com a ordem constitucional posterior.
Como o Supremo Tribunal Federal tinha competncia para legislar sobre
direito processual quando elaborou o Regimento de 1980, os preceitos
regimentais de cunho processual no foram revogados pela Constituio de
1988. Assim, alm de vigentes, os dispositivos passaram a ter fora de lei
federal, atual via legislativa idnea para tratar de direito processual, nos termos
do artigo 22, inciso