ações civis admissíveis no processo do trabalho

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Ações civis admissíveis no processo do trabalho Das tutelas de urgência previstas no Código de Processo Civil e o Processo do Trabalho Embora o princípio do devido processo legal deva ser observado, existem situações em que o direito postulado não pode aguardar o normal desenrolar do processo, por isso, para evitar o perecimento do direito há as chamadas tutelas de urgência, que tem a finalidade de resguardar, antecipar ou impedir dano ao direito. A CLT trata das tutelas de urgência nos incisos IX e X do artigo 659, quando prevê a possibilidade de o Juiz do Trabalho conceder liminar, antes da decisão final, a fim de evitar a transferência abusiva do empregado, ou para reintegrar dirigente sindical. Entretanto, entende a doutrina que na verdade se trata de tutela antecipada uma vez que se concede a própria tutela de mérito antes da sentença. O Código de Processo Civil, fonte subsidiária do Processo do Trabalho cf. art. 769 da CLT, consagrou o princípio da fungibilidade das tutelas de urgência. Por tal princípio, fica o Juiz possibilitado de conceder medida de urgência no lugar de outra postulada quando presentes os requisitos, cf. §7º, do art. 273 do CPC, ou seja, se o autor pede provimento cautelar, mas estão presentes os requisitos da tutela antecipada, o Juiz poderá conceder o provimento antecipatório. No mesmo sentido, o art. 489 do CPC ratificou o princípio estendendo-o até mesmo às ações rescisórias. O Tribunal Superior do Trabalho por sua vez, consagrou o princípio na Súmula 405. Da tutela antecipada no Processo do Trabalho A tutela antecipada consiste na concessão da pretensão formulada pelo autor antes do julgamento definitivo do processo, ou seja, antes da formação do título executivo judicial. Desta forma, alguns ou todos os efeitos que somente poderiam ser observados ao final do processo são antecipados, cf. Luiz Guilherme Marinoni. Este instituto, previsto no CPC, é aplicável ao processo trabalhista haja vista a compatibilidade com o direito processual trabalhista. Tem como requisitos: a. O requerimento do autor: este deve requerer, não podendo o juiz concedê-la de ofício, entretanto, há autores que, com

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Ações civis admissíveis no processo do trabalho

Das tutelas de urgência previstas no Código de Processo Civil e o Processo do Trabalho

Embora o princípio do devido processo legal deva ser observado, existem situações em que o direito postulado não pode aguardar o normal desenrolar do processo, por isso, para evitar o perecimento do direito há as chamadas tutelas de urgência, que tem a finalidade de resguardar, antecipar ou impedir dano ao direito. A CLT trata das tutelas de urgência nos incisos IX e X do artigo 659, quando prevê a possibilidade de o Juiz do Trabalho conceder liminar, antes da decisão final, a fim de evitar a transferência abusiva do empregado, ou para reintegrar dirigente sindical. Entretanto, entende a doutrina que na verdade se trata de tutela antecipada uma vez que se concede a própria tutela de mérito antes da sentença.

O Código de Processo Civil, fonte subsidiária do Processo do Trabalho cf. art. 769 da CLT, consagrou o princípio da fungibilidade das tutelas de urgência. Por tal princípio, fica o Juiz possibilitado de conceder medida de urgência no lugar de outra postulada quando presentes os requisitos, cf. §7º, do art. 273 do CPC, ou seja, se o autor pede provimento cautelar, mas estão presentes os requisitos da tutela antecipada, o Juiz poderá conceder o provimento antecipatório. No mesmo sentido, o art. 489 do CPC ratificou o princípio estendendo-o até mesmo às ações rescisórias. O Tribunal Superior do Trabalho por sua vez, consagrou o princípio na Súmula 405.

Da tutela antecipada no Processo do Trabalho

A tutela antecipada consiste na concessão da pretensão formulada pelo autor antes do julgamento definitivo do processo, ou seja, antes da formação do título executivo judicial. Desta forma, alguns ou todos os efeitos que somente poderiam ser observados ao final do processo são antecipados, cf. Luiz Guilherme Marinoni. Este instituto, previsto no CPC, é aplicável ao processo trabalhista haja vista a compatibilidade com o direito processual trabalhista. Tem como requisitos:

a. O requerimento do autor: este deve requerer, não podendo o juiz concedê-la de ofício, entretanto, há autores que, com base nos arts 765 e 791 da CLT, na função social do processo trabalhista e na hipossuficiência do trabalhador, afirmam que nos casos em que o autor estiver sem advogado o juiz poderá conceder a tutela antecipada ainda que não requerida;

b. Prova inequívoca: existência de prova capaz de convencer juiz da verossimilhança da alegação;

c. Verossimilhança da alegação: é a plausibilidade, a probabilidade de serem possíveis ou reais as alegações;

Há ainda, cf. incisos I e II, art. 273, CPC, requisitos alternativos para a concessão da tutela antecipada, quais sejam, que haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação (periculum in mora) ou que fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu. A tutela antecipada pode ser concedida em todas as espécies de provimento, antes da citação do réu, antes da sentença, na própria sentença ou

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após esta. Possui natureza de decisão interlocutória, assim, no caso de indeferimento da antecipação de cautela, o autor poderá impugná-lo através de agravo de instrumento, entretanto, poderá ainda, no processo do trabalho, utilizar o mandado de segurança, caso presentes os requisitos do mesmo, e o recurso ordinário, caso a tutela seja concedida na sentença (cf. Súmula 414, TST). Em relação à execução da tutela antecipada no processo trabalhista, a regra da possibilidade de irreversibilidade do provimento não pode se constituir em óbice à efetivação da medida, uma vez que a Lei atribui responsabilidade objetiva ao autor em caso de reforma de decisão que causou dano à parte contrária.

Nos casos de tutela antecipada em obrigação de fazer, de não fazer e de dar, assim como no processo civil, o Juiz do Trabalho poderá fixar multa diária para os casos de descumprimento da ordem judicial. O TST, em relação a reintegração de empregado em sede de antecipação de tutela, uniformizou sua jurisprudência nas OJ nº142 e 65 denotando a possibilidade de execução da obrigação de fazer antes do trânsito em julgado da sentença.

A tutela antecipada em relação à Fazenda Pública é vedada, cf. a Lei 9494/97, entretanto, há a possibilidade de concessão em razão dos princípios constitucionais do acesso à justiça e efetividade bem como nas condenações em valores até 60 salários mínimos, nas quais não há a necessidade de precatório.

É aplicável ainda ao processo do trabalho a tutela antecipada inibitória, espécie que independe da existência de dano, pois tem caráter preventivo, basta a probabilidade do ilícito, sendo cabível nos casos de condutas antissindicais, discriminatórias na relação de emprego, contra cláusulas abusivas e no interdito proibitório em caso de greve.

Medidas Cautelares no Processo do Trabalho

A tutela cautelar faz parte do gênero tutelas de urgência, tendo o objetivo de resguardar direito ou resultado útil no processo, dessa forma, regra geral, não se destinam à satisfação do direito, mas a sua satisfação. Desse modo, sua natureza é acessória. Tem como características: acessoriedade e provisoriedade (é acessória de ação principal e subsiste enquanto houver necessidade de resguardar pretensão, art. 796, CPC), instrumentalidade (não é um fim em si mesmo, sua finalidade é garantir o resultado de outro processo), revogabilidade (pode ser revogada ou até mesmo substituída por outra medida, ou seja, não forma coisa julgada formal), fungibilidade (são fungíveis entre si, ou seja, presentes os requisitos o Juiz poderá substituir o pedido de uma medida cautelar por outra) e autonomia (embora seja acessória de um processo principal, o processo cautelar tem existência própria, sua finalidade pode ser realizada independentemente da procedência do processo principal).

De acordo com a doutrina, são pressupostos da ação cautelar:

a. Periculum in mora: destina-se a resguardar um direito que não pode esperar a tramitação regular do processo;

b. Fumus boni iuris: é a admissibilidade do direito a ser resguardado.

O poder geral de cautela do Juiz do Trabalho está consubstanciado no artigo 798 do CPC, que, além de possibilitar medidas de ofício e a requerimento das partes com a finalidade de

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preservar o processo de eventuais danos, alude às chamadas medidas cautelares inominadas, não enumeradas pela lei processual civil, mas que podem ser utilizadas desde que presentes os requisitos.

Espécies de Medidas Cautelares

Há as típicas ou nominadas (previstas no CPC como o arresto, o sequestro, o protesto, etc.) e as inominadas ou atípicas (não previstas no CPC). Dentre as cautelares nominadas, são aplicáveis ao processo trabalhista: arresto, sequestro, busca e apreensão, exibição, produção antecipada de provas, justificação, protesto e atentado. Podem ainda ser denominadas preparatórias (quando ainda não existe uma ação principal ajuizada) e incidentais (quando proposta no curso de uma ação principal).

Do procedimento das cautelares no processo do trabalho

A ação cautelar tem seu procedimento definido pelo CPC, conforme a Instrução Normativa 27/05 do TST, este deverá ser seguido por ser ação de rito especial. A competência para julgar a ação cautelar no âmbito trabalhista será do juízo onde tramita a causa principal, se incidental, ou no juízo competente para julgar a causa principal, se preparatória (art. 800, CPC). No caso de recurso do processo principal, a ação cautelar deverá ser proposta no Tribunal competente para julgar o recurso, cabendo ao Presidente do Tribunal de origem decidir o pedido de medida cautelar em recurso extraordinário ainda pendente de juízo de admissibilidade, conforme se extrai das Súmulas 634 e 635do STF. Uma vez realizado o juízo de admissibilidade, a competência para decidir a cautelar será do Ministro relator do recurso ou do Presidente do TST, caso ainda não tenha havido a distribuição ao relator.

Os requisitos da petição inicial da cautelar estão contidos nos incisos I a V do artigo 801 do CPC. Não se exige a citação do réu, entretanto, em razão da autonomia, no processo do trabalho a cautelar deverá indicar o valor da causa e individualizar o pedido (art. 840, §1º, CLT).

Recebida a inicial, havendo pedido liminar, deverá ser apreciado de plano, pois visa antecipação do pedido da cautelar. O juiz, com base no art. 804, poderá conceder a tutela liminarmente, após justificativa prévia ou até mesmo sem a oitiva do requerido. Da decisão que concede ou indefere a liminar não cabe recurso no âmbito trabalhista (decisão interlocutória), entretanto a jurisprudência aponta para a possibilidade de impetração de mandado de segurança caso esteja presente ilegalidade ou abuso de poder do magistrado. Decidida a liminar, o requerido será citado para contestar no prazo de 5 dias a contar da citação, que não precisa ser pessoal. Não contestando, será considerado revel, o que acarretará na presunção de veracidade dos fatos alegados pelo requerente e o julgamento em 5 dias. Contestando, o Juiz do Trabalho designará data para audiência de instrução para produção de provas, exceto se entender não ser necessário, levando o feito à julgamento imediatamente.

Caso a cautelar seja preparatória, a parte deverá propor a ação em 30 dias sob pena de perda da eficácia da medida cautelar (art. 806 CPC). Mesmo indeferida a cautelar, a parte poderá propor a ação principal, exceto se indeferida pelo reconhecimento de prescrição ou

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decadência. Os autos do procedimento cautelar serão apensados aos da ação principal. O requerente possui responsabilidade objetiva por danos causados ao requerido oriundos da execução da medida, assim, ocorrendo um dos casos elencados nos incisos I a IV do art. 811 do CPC, o requerente indenizará o requerido independentemente de culpa. Da decisão do processo cautelar cabe recurso ordinário ao TRT.

Das medidas cautelares em espécie

Arresto: a mais usada na Justiça do Trabalho, consiste na apreensão de bens do devedor para a garantia de uma futura execução por quantia certa. Para sua concessão a dívida tem que ser provada literalmente como líquida e certa e documentalmente em algum dos casos elencados no art. 813, CPC. No processo do trabalho a prova literal corresponde aos títulos executivos judiciais e extrajudiciais previstos no art. 876, CLT e a sentença que ainda não transitou em julgado, todavia a jurisprudência tem aceitado a apresentação de documentos que comprovem o inadimplemento de verbas trabalhistas. Procedente o arresto, se converterá em penhora, cessando pelo pagamento, novação ou transação.

Sequestro: objetiva a apreensão e guarda de um bem para evitar seu perecimento até que se decida sobre sua posse ou propriedade. Os bens passíveis de sequestro estão dispostos no art. 822 do CPC. O bem apreendido ficará sob a guarda de depositário nomeado pelo juiz. Aplicam-se subsidiariamente as regras do arresto ao sequestro.

Da busca e apreensão: objetiva a captura de bem ou pessoa quando houver receio de dano, em relação à Justiça Trabalhista, devido a sua competência, só é cabível em relação a coisas, exceto no caso de testemunhas, pelo tempo necessário para que preste depoimento.

Exibição: medida cautelar preparatória que visa a exibição judicial de coisa móvel ou documento para propositura de futura ação judicial (art. 844, CPC). Utilizado no processo trabalhista quando empregado necessita de exibição de documento em posse do empregador por exemplo.

Da produção antecipada de provas: objetiva a produção de determinada prova, antes da propositura da ação, por conta do risco de não mais vir a existir à época da instrução. Pode ser o interrogatório da parte, a inquirição de testemunha e o exame pericial. É muito comum no processo do trabalho, sobretudo nas questões referentes a insalubridade e periculosidade.

Da justificação: objetiva justificar a existência de fato ou de relação jurídica, sendo compatível com o processo do trabalho, mas pouco utilizada.

Protestos notificações e interpelações: são procedimentos não contenciosos que objetivam a conservação de direitos.

Do atentado: objetiva preservar a dignidade do processo e também prevenir danos processuais que possam trazer a ineficácia do provimento final. Tem natureza incidental.

Bibliografia

SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. 2ª São Paulo: Ltr, 2009.