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7872 AÇÕES AFIRMATIVAS: A INCLUSÃO DAS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO AFFIRMATIVE ACTIONS: THE INCERTION OF PEOPLE WITH SPECIAL NEEDF AT THE JOB MARKET Ivana Aparecida Grizzo Ragazzi RESUMO O presente estudo objetiva tratar da inclusão das pessoas portadoras de deficiência no mercado de trabalho, tendo em vista que sempre foram alijadas pela sociedade. Sua inserção tem respaldo na atual Constituição Federal, assim como, nas leis infraconstitucionais, que lhe deram efetividade. Destaca-se a importância das ações afirmativas, como instrumento de efetivação do princípio da igualdade. A Lei nº 7.853, de 24 de novembro de 1989 e seu Decreto Regulamentar nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999 e, especialmente, a Lei nº 8.213/91, Art. 93, que contempla a reserva de vagas às pessoas portadoras de deficiência na esfera privada, balizaram a política para a inclusão destas e guardam pertinência com os valores defendidos nos organismos internacionais. Analisa-se, a despeito de todo aparato legal existente, o número considerável de pessoas portadoras de deficiência, em idade ativa para o mercado de trabalho, que estão desempregadas. Observa-se, de outra banda, que a efetiva inclusão no mundo do trabalho, através do sistema de cotas, não deve se dar apenas para cumprimento da lei, mas deve ser fruto de uma conscientização social, refletindo uma postura cidadã. PALAVRAS-CHAVES: INCLUSÃO NO MERCADO DE TRABALHO, PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA, RESERVA DE VAGAS, OPORTUNIDADES, DIGNIDADE. ABSTRACT This study aims to concern with the inclusion of people with disabilities into the labor market being that they have always been let aside by society. Their inclusion has support in the current Federal Constitution, as well as in the infra-constitutional laws, which gave it effectiveness. It shows the relevance of the affirmative actions, as a tool for effectiveness of the equality principle. The Law nº 7.853 of November 24, 1989 and its Regulatory Decree nº 3.298 of December 20, 1999 and particularly the Law nº 8.213/91, Art 93, which includes the reservation of places for people with disabilities in Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.

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AÇÕES AFIRMATIVAS: A INCLUSÃO DAS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO

AFFIRMATIVE ACTIONS: THE INCERTION OF PEOPLE WITH SPECIAL NEEDF AT THE JOB MARKET

Ivana Aparecida Grizzo Ragazzi

RESUMO

O presente estudo objetiva tratar da inclusão das pessoas portadoras de deficiência no mercado de trabalho, tendo em vista que sempre foram alijadas pela sociedade. Sua inserção tem respaldo na atual Constituição Federal, assim como, nas leis infraconstitucionais, que lhe deram efetividade. Destaca-se a importância das ações afirmativas, como instrumento de efetivação do princípio da igualdade. A Lei nº 7.853, de 24 de novembro de 1989 e seu Decreto Regulamentar nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999 e, especialmente, a Lei nº 8.213/91, Art. 93, que contempla a reserva de vagas às pessoas portadoras de deficiência na esfera privada, balizaram a política para a inclusão destas e guardam pertinência com os valores defendidos nos organismos internacionais. Analisa-se, a despeito de todo aparato legal existente, o número considerável de pessoas portadoras de deficiência, em idade ativa para o mercado de trabalho, que estão desempregadas. Observa-se, de outra banda, que a efetiva inclusão no mundo do trabalho, através do sistema de cotas, não deve se dar apenas para cumprimento da lei, mas deve ser fruto de uma conscientização social, refletindo uma postura cidadã.

PALAVRAS-CHAVES: INCLUSÃO NO MERCADO DE TRABALHO, PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA, RESERVA DE VAGAS, OPORTUNIDADES, DIGNIDADE.

ABSTRACT

This study aims to concern with the inclusion of people with disabilities into the labor market being that they have always been let aside by society. Their inclusion has support in the current Federal Constitution, as well as in the infra-constitutional laws, which gave it effectiveness. It shows the relevance of the affirmative actions, as a tool for effectiveness of the equality principle. The Law nº 7.853 of November 24, 1989 and its Regulatory Decree nº 3.298 of December 20, 1999 and particularly the Law nº 8.213/91, Art 93, which includes the reservation of places for people with disabilities in

Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.

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the private sphere, determining the policy for the inclusion of these people and guarding relevance with the values defended in the international organizations. It analyzes, in spite of all existing legal apparatus, the considerable number of people with disabilities in active age for the job market, who are unemployed. On the other hand, it shows that the effective inclusion in the labor world through the quota system should not be given only to accomplish the law, but it must be the fruit of a social awareness, reflecting a citizen attitude.

KEYWORDS: INCLUSION IN THE LABOR MARKET, PERSON WITH DISABILITY, VACANCY RESERVE, OPPORTUNITIES, DIGNITY.

1 INTRODUÇÃO

Abordar-se-á as ações afirmativas como meio de efetivação dos direitos sociais, dentro os quais, será destacado o direito ao trabalho. Esclareça-se, desde já, que a análise desse direito se restringe ao aspecto material, não sendo possível, por razões de foco, tratar também de aspectos processuais.

A atual Constituição Federal, em muito, contribuiu para mudança e reconhecimento da posição de destaque dessas pessoas portadoras de deficiência, rechaçando a velha e enrustida visão assistencialista, como forma de resgate de sua dignidade. Ressalta-se que essa transformação está diretamente ligada a sua condição de cidadão, dando-lhe alicerces necessários e desejáveis para mudar de pólo nessa relação, passando de mero espectador, para protagonista que escreve a própria história.

Na seqüência, o reconhecimento e tutela dos direitos das pessoas portadoras de deficiência, na edição de leis e tratados.

Também, será estudada a influência direta dos organismos internacionais e tutela de direitos das pessoas portadoras de deficiência, na edição de leis.

Será investigada a edição da Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, bem como seu Decreto Regulamentar de nº 3.289, de 20 de dezembro de 1999, que representam a primeira expressão para efetivação dos direitos das pessoas portadoras de deficiência protegidos na Constituição de 1988. Inolvidável, nesse sentido, o avanço trazido pela edição da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre os planos de benefícios da previdência social e introduz o sistema de cotas de emprego para pessoas portadoras

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de deficiência, impondo um percentual de seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência.

Será abordada, também, a previsão constitucional elencada no Art. 37, inc. VIII, da Constituição Federal, que prevê percentual de 20% (vinte por cento) de reserva de vagas às pessoas portadoras de deficiência, na esfera pública, regulamentada pela Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, Art. 5º, § 2º, estabelecendo seus critérios de admissão.

Indagar-se-á a causa da existência de número expressivo de pessoas sem colocação profissional, a despeito da existência de leis protetivas e incidentes, ensejadoras da inclusão das pessoas portadoras de deficiência, no mercado de trabalho.

Igualmente será observada, a falta de consciência da sociedade, em especial do setor empresarial, que em maioria esmagadora enxerga a questão das cotas, como simples previsão legal a cumprir.

Um dos objetivos do presente estudo é demonstrar que o trabalho é a extensão da vida e, como direito à vida é a base de tudo e de todos, nenhum ser dele deve ser privado, sob pena de lhe ser retirado o direito à igualdade de oportunidades que se transmuda em respeito ao princípio da dignidade a que fazem jus. Na medida que todos têm oportunidade de trabalho, e esse é reconhecido, apreciado e valorizado, podemos dizer, com plena convicção, que isso é reflexo do verdadeiro Estado Democrático de Direito, que prestigia a dignidade como valor certo e inviolável.

Por fim, mostraremos que, apesar da realidade de exclusão, há empresas bem posicionadas, como a Serasa, que espelham o oposto do quadro nacional existente, pois acreditam nas pessoas portadoras de deficiência, enquanto seres humanos que trabalham e produzem (não empregam para cumprir a Lei de Cotas, ou por piedade, mas, sobretudo por ter plena consciência de seu papel social) e assim, são exemplos a serem seguidos.

1. AÇÕES AFIRMATIVAS E O DIREITO DO TRABALHO DA PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA

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1.1 Origem

Existe consenso doutrinário, no sentido de que a origem das ações afirmativas se deu nos Estados Unidos, país que, indubitavelmente, empregava políticas totalmente discriminatórias a estrangeiros, índios, imigrantes, especialmente negros, uma vez que em relação a esses, a título de exemplo, ainda que nascidos naquele país, mas com descendência africana era negada a cidadania americana.

Como contextualiza Paulo Lucena de Menezes:

Um dos grandes significados da decisão proferida no referido caso Brown v. Board of Education of Topeka foi o de endossar o descontamento dos negros norte-americanos com o racismo existente, o que colaborou para o florescimento de vários movimentos em favor dos direitos humanos, a maioria revestia-se ainda de índole pacifista. Desse modo, a partir do final da década de 1950, as organizações como a NAACP (National Association for the Advancement of Colored People), expandem suas atividades, no mesmo diapasão que líderes da envergadura de Martin Luther King Jr.[1]

No início da década de 1960 foi empregada pela primeira vez a expressão ações afirmativas, em um cenário de lutas, pelos direitos dessas pessoas totalmente marginalizadas, que buscavam reconhecimento de seus direitos civis, notadamente visando a conceder oportunidades às pessoas no âmbito do trabalho.

Assim, foi dada a Ordem Executiva nº 10925, de 06 de março de 1961 (onde foi empregada a expressão pela primeira vez, em um texto oficial), comandada pelo Presidente John Fitzgerald Kennedy, que já, atento ao problema, e consciente da necessidade de promover a igualdade criou um órgão repressor e fiscalizador da discriminação no mercado de trabalho.[2]

Com a morte de Kennedy, seu sucessor Lyndon Johnson, em julho de 1964, promoveu com a Ordem Executiva nº 11.246, impondo legalmente, a criação de programas federais, implantando efetivamente essas políticas, proibindo a discriminação ou segregação, como forma de garantir a igualdade de oportunidade àqueles de origem das minorias raciais e deficientes físicos, dando-lhes condições, principalmente no momento de uma colocação do mercado de trabalho, a fim de proporcionar igualdade de oportunidades.

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Não podemos deixar de citar um homem que fez história e deixou registrada sua luta no combate à não discriminação. Martin Luther King, que arduamente, também defendeu com afinco a não discriminação, objetivando o fim da diferença e indiferença dispensadas à raça negra, para gerar oportunidades a essas pessoas, através de políticas de emprego, por exemplo. Em meio a essa luta em 1968, foi assassinado, todavia seu ideal de justiça permaneceu.

Segundo Renata Malta Vilas-Boas:

O discurso proferido por Johnson na Howard University, em Washington, tornou-se marcante. Eis que em um dado momento afirmou que não se podia pegar alguém que esteve preso pelos pés durante muito tempo e colocá-lo na linha de largada e, simplesmente, dizer ‘pronto, agora vá competir com os outros!’.[3]

A origem da necessidade de aplicação das ações afirmativas, remonta na sociedade liberal-capitalista que, ingenuamente, defendia a idéia de neutralidade estatal na vertente social do trabalho e sua a não interferência, pois acreditavam, que bastaria para que todos gozassem de condições de igualdade, desenvolvimento digno e justo, julgando que bastava a igualdade formal.

Na verdade, a igualdade formal é insuficiente. Pertinente o posicionamento de Eliana Franco Neme:

O necessário então, não é o princípio da igualdade, mas o princípio da diferença, que onde a determinação é a que a fim de tratar as pessoas igualitariamente, de proporcionar uma genuína igualdade de oportunidades, a sociedade dever dar mais atenção àqueles com menos dotes inatos e aos oriundos de posições sociais menos favoráveis.[4]

Reforçando o entendimento de que o pensamento retrógrado liberal é totalmente descontextualizado e puramente formal, sem atingir o problema em seu âmago, sem resolvê-lo, carecendo os Estados de medidas positivas para se chegar a uma forma de efetiva equalização social, as assertivas do Ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Benedito Gomes Barbosa assevera:

De especial importância, nesse sentido, é o tratamento jurídico do problema da igualdade. Na maioria das nações pluriétnica, e as pluriconfessionais, o abstencionismo

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estatal se traduz na crença de que a mera introdução nas respectivas Constituições de princípios e regras asseguradoras de uma igualdade formal perante a lei de todos os grupos étnicos componentes da nação, seria suficiente para garantir a existência de sociedades harmônicas, onde seriam assegurados a todos, independentemente de raça, credo, gênero ou origem nacional, efetiva igualdade de acesso ao que comumente se tem como conducente ao bem-estar individual e coletivo.[5]

Paulatinamente essa postura de não interferência, onde se acreditava que bastava dar a todos igualdade de oportunidades, formalmente falando foi perdendo espaço e vivenciado que não era suficiente, porém, teria que existir uma postura positiva do Estado, para, assim criar igualdade de condições a todos, extirpando as discriminações até imperceptíveis, as de fundo cultural, proporcionando concreta igualdade positivada nas Cartas Políticas.

As ações afirmativas são atualmente adotadas em diversos países da Europa, Ásia, África, etc. O que, por si só, não é suficiente. Vale as lições de Sidney Pessoa Madruga:

O princípio da não-discriminação, como visto, embora seja matéria consagrada em vários instrumentos no direito internacional de proteção dos direitos humanos, não atende per si, a todos os reclamos das minorias. Assim, não basta que as discriminações sejam combatidas. O princípio isonômico não se restringe a vedar discrímenes. É preciso mais. Necessita-se efetivar o mandamento constitucional. Torna-se possível não só ao cidadão comum ver realizado os preceitos jurídico-formais já estabelecidos, como ainda pôr em prática o que a Constituição taxou como substancialmente igualitário.[6]

Ainda que a realidade aponte para a exclusão social das pessoas portadoras de deficiência, há um número significativo de normas de conteúdo afirmativo em seu favor, não ocorrendo o mesmo com as demais minorias.[7]

O núcleo desse ordenamento jurídico é a Lei Federal nº 7.853/89 e, seu regulamento, o Decreto nº 3.289/99 que, em conjunto dispõem sobre a política nacional para integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Essa lei instituiu a Coordenadoria Nacional para Integração do Deficiente (CORDE).

No que tange ao trabalho das pessoas portadoras de deficiência, em esfera pública, a Lei Federal nº 8112/90, pelo seu Art. 5º, § 2º, regulamentando o Art. 37, inc.

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VIII da Constituição Federal, estabeleceu até 20% (vinte por cento) dos cargos dos empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência.

Na seara da autonomia privada, a Lei Federal nº 8.213 de 24 de julho de 1991, em seu Art. 93, estabelece um percentual a ser aplicado para empresas, que contém em seus quadros funcionais 100 (cem) empregados ou mais.[8]

1.2 Conceito

Várias são as definições dadas às ações afirmativas, mas a vertente doutrinária, no presente estudo nos parece mais pertinente, o que nos mostra grandes pensadores preocupados com o tema e contextualizando-o.

Maria Aparecida Gugel:

Ação afirmativa é, portanto, a adoção de medidas legais e de políticas públicas que objetivam eliminar as diversas formas e tipos de discriminação que limitam oportunidades de determinados grupos sociais.[9]

Para Carmen Lúcia Antunes Rocha em brilhante exposição:

Por ela afirma-se uma fórmula jurídica para se provocar uma efetiva equalização social, política, econômica e segundo o Direito, tal como assegurado formal e materialmente no sistema constitucional democrático. A ação afirmativa é então, uma forma jurídica para se superar o isolamento ou a diminuição social a que se acham sujeitas minorias.[10]

É preciso que destaquemos que a ação afirmativa não tem apenas o objetivo de prevenir a discriminação, mas existe seu duplo caráter, qual seja o compensatório e o distributivo, bem explanado nas palavras de Sidney Madruga:

[...] a discriminação positiva não tem apenas o escopo de prevenir a discriminação, na medida em que, possui duplo caráter, qual seja o reparatório (corrigir injustiças

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praticadas no passado) e o distributivo (melhor repartir, no presente, a igualdade de oportunidades), direcionadas, principalmente, para as áreas da educação, da saúde e do emprego.[11]

No entanto, muito mais vital que o conceito, podemos dizer que é a sua operalização, que se dará prestigiando grupos de pessoas, através de ações estatais ou não, como o das pessoas portadoras de deficiência, índios, negros, mulheres, judeus, que historicamente estiveram em franca desvantagem com os demais, não podendo, nesse passo, se valerem de seus direitos em todos os quadrantes a que fazem jus.

1.3 A Reserva de Vagas para Pessoa Portadora de Deficiência Prevista na Constituição Federal: Art. 37, inc. VIII

A obrigatoriedade constitucional estampada na Carta Política de 1988, quanto à reserva de vagas aos cargos e empregos públicos, à pessoa portadora de deficiência se traduz no direito à igualdade e sua inclusão social através do trabalho.

Há estimativa, de acordo com dados da ONU (Organização das Nações Unidas), que cerca de 10% (dez por cento), da população mundial, são pessoas portadoras de deficiência, sendo notória a dificuldade de colocação no mercado de trabalho.

Estabelece o Art. 37, inc. VIII da Constituição Federal:

Art. 37: [...].

VIII – A lei reservará percentual de cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá critérios de sua admissão.

A Lei Federal nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, Art. 5º, § 2º, regulamentou o Art. 37, inc. VIII, da Constituição Federal, que estabelece a reserva de cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência, como o regime Jurídico dos Servidores Públicos da União, das autarquias e das fundações públicas federais, prevendo a matéria, no Art. 5º, § 2º:

Art. 5º: [...].

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§ 2º – Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de se inscrever em concurso público para provimento de cargos cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso.

A edição da Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, estabeleceu a cerca do apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sob a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - CORDE, instituindo tutela jurisdicional de interesses difusos ou coletivos, disciplinando, ainda, a atuação do Ministério Público, que estabelece crimes e dá outras providências.

A Lei nº 7.853/89 estabelece em seu Art. 2º:

Art. 2º: Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação e à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem estar, social e econômico.

Parágrafo único – [...].

III – na área da formação profissional e do trabalho:

[...]

d) a adoção de legislação específica que discipline a reserva de mercado, em favor das pessoas portadoras de deficiência, nas entidades da Administração Pública e do setor privado, e que regularmente a organização de oficinas e congêneres integradas ao mercado de trabalho, e a situação nelas, das pessoas portadoras de deficiência (negrito nosso).

É bom que se destaque que, embora com a edição da norma que regulamentasse a reserva de vagas em concursos públicos, existiam muitas dúvidas e desrespeito ao direito dos portadores de deficiência, já que cada edital regulava a matéria de modo diferente, uma vez que, deixavam de estipular o critério para convocação, deixando à espera os portadores de deficiência, o que efetivamente não ocorria com os não portadores que, convocados, assumiam seu cargo normalmente.[12]

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Outro ponto a destacar é que o Decreto nº 3.298/99 determina, também, o respeito à reserva mínima de 05%, sendo certo que este percentual não for alcançado, arrendondar-se- a para o próximo número inteiro.

Contrariamente do que se pode imaginar, ainda diante das normas acima destacadas, que prestigiam os direitos das pessoas portadoras de deficiência, há uma tímida participação no mercado de trabalho, por conta de falta de fiscalização, estímulos e instituições que viabilizem, de forma efetiva sua habilitação, reabilitação e inserção no mercado de trabalho.

1.4 O Art. 93 da Lei nº 8.213/91: Uma Ação Afirmativa

Em consonância com a ação afirmativa, nosso país adotou o sistema de cotas ou de reserva legal, a fim de propiciar a efetiva inclusão das pessoas portadoras de deficiência no mercado formal de trabalho, sendo salutar, os dizeres de Gláucia Gomes Vergara Lopes:

O sistema de reserva legal de cotas é o mecanismo compensatório utilizado para inserção de determinados grupos sociais, facilitando o exercício de direitos sociais, facilitando o exercício dos direitos ao trabalho, educação, à saúde, ao esporte, etc. É uma forma de ação afirmativa com intuito de tentar promover a igualdade e o equilíbrio de oportunidades entre os diversos grupos sociais (grifo nosso).[13]

O sistema de cotas ou reserva legal para a pessoa portadora de deficiência, no âmbito das empresas privadas, está previsto na Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991 (que dispõe sobre planos da Previdência Social).[14] Referido artigo estabelece:

Art. 93: A empresa com 100 (cem) empregados está obrigada a preencher de 02% (dois por cento) a 05% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoa portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção:

I – até 200 empregados 2%

I – de 201 a 500 3%

III – de 501 a 1000 4%

V – de 1001 em diante 5%

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§ 1º – A dispensa de trabalhador reabilitado de deficiente habilitado ou de deficiente habilitado do final do contrato por prazo determinado de mais de 90(noventa dias), e a imotivada, no contrato por prazo indeterminado, só poderá ocorrer após a contratação de substituto de condição semelhante.

§ 2º – O Ministério do Trabalho e da Previdência Social deverá gerar estatísticas sobre o total de empregados e as vagas preenchidas por reabilitados e deficientes habilitados fornecendo-as quando solicitadas, aos sindicatos ou entidades representativas dos empregados.

Vale trazer a baila que com a edição da Convenção da OIT, nº 159, de 1983, é que foi determinada a obrigação de países signatários instituírem uma política nacional sobre a reabilitação profissional e emprego das pessoas portadoras de deficiência, com o claro objetivo de fazer nascer oportunidades a essas pessoas, a fim de inseri-las no mercado de trabalho, inclusive com vale registrar a incorporação dos princípios da referida Convenção, em nossa Lei Maior, precisamente no artigo Art. 7º, inc. XXXI, que destaca a “ proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência”.

Como já retro descrito, em 24 de outubro de 1989, é publicada a Lei nº 7.853, que traz em seu Art. 2º, inc. III, a obrigatoriedade para que os órgãos e entidades da administração pública direta e indireta dispensassem tratamento prioritário à área de formação profissional e do trabalho, notadamente com legislação específica, estabelecendo o instrumento da reserva de vagas para pessoas portadoras de deficiência.[15]

O interesse e preocupação com o trabalho das pessoas portadoras de deficiência, fizeram nascer a já citada Lei nº 8.213/91, com destaque no Art. 93, que fez previsão ao sistema de reserva legal de vagas às pessoas portadoras de deficiência e beneficiários reabilitados na iniciativa privada, conhecida como Lei de Cotas.

Se nos reportarmos ao caput do Art. 93, da Lei nº 8.213/91, não podemos deixar de registrar que a expressão empresa engloba todas as pessoas jurídicas de direito privado, quais sejam, sociedades, associações e fundações e não somente as sociedades empresariais, como universidades e colégios.

Olney Queiroz Assis e Lafayette Pozzoli:

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A finalidade da norma é outra, tem o sentido de alcançar todas as pessoas jurídicas de Direito privado que mantêm relação de emprego. Onde se lê ‘empresa’ entenda ‘empregador’, pois que a relação de emprego não se dá entre empregado e empresa, mas sim entre empregado e empregador.[16]

Apesar da referida obrigatoriedade legal na admissão de pessoas portadoras de deficiência, muitos empresários se escusavam em cumpri-la, uma vez que não havia o conceito legal definindo quem seria considerada pessoa portadora de deficiência.

O Decreto nº 3.298/99, em seu Art. 4º, nos trouxe a definição de pessoa portadora de deficiência e os §§ 2º e 3º do Art. 36, pessoa portadora de deficiência habilitada, concluindo-se, desse modo, que o sistema de reserva legal está intimamente ligado ao conceito de habilitação.

Outro fato importante, é que a deficiência mental precisa se manifestar antes de completos os 18 anos, como destaca a legislação infraconstitucional.

O foco no qual se concentra a reserva de mercado para as pessoas portadoras de deficiência, sistema de cotas, que é previsto no Decreto nº 3.298/99 (com redação alterada pelo Decreto nº 5.296, de 02 de dezembro de 2004), impõe rol restritivo em seu Art. 70.

São, dessa maneira, consideradas pessoas portadoras de deficiência física aquelas que possuem alguma alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, que poderá acarretar o comprometimento da função física a apresenta-se sob a forma de paraplegia; paraparesia, monoplegia; monopresia; tetraplegia; tetraparesia; triplegia; triparesia; hemiplegia; hemiparesia; ostomia; amputação ou ausência de membro; paralisia celebral; nanismo; membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidade estéticas e as que não acarretam dificuldades para o desempenho de funções.

Destacamos algumas formas, nas quais são consideradas pessoas portadoras de deficiência física aquelas que apresentam alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano e, conseqüentemente, comprometimento da função física.[17]

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Foi o Decreto nº 3.296/04 que também considerou o nanismo e a ostomia como hipóteses de deficiência. Destacando-se que esta consiste na intervenção cirúrgica para construção de canal de comunicação entre um órgão interno e o exterior (como a colostomia, ileostomia e urostomia). E aquele, por sua vez, dá-se por desenvolvimento corporal insuficiente.

A título de esclarecimento a reabilitação profissional, por exemplo, o fornecimento de aparelho de prótese, órtose, assim como instrumentos de auxílio, que possibilitem na ajuda da locomoção dessas pessoas, quando da perda ou redução da capacidade funcional.

Preceitua o Art. 17, parágrafo segundo do Decreto nº 3.298/99:

Art. 17, parágrafo segundo: Para efeito no disposto neste artigo, toda pessoa que apresente redução funcional devidamente diagnosticada por equipe multiprofissional terá direito a beneficiar-se dos processos de reabilitação necessários para corrigir ou modificar seu estado físico, mental ou sensorial, quando este constitua obstáculo para sua integração educativa, laboral e social.

Referido decreto não limita o tipo de atividade poderá ser desenvolvida, não impedindo que a pessoa possa desenvolver atividade diversa da atestada pela previdência social.

Se agirmos diferente, estaríamos retirando dessas pessoas o direito à sociabilidade. E, o trabalho espelha bem esta característica humana, depois dele, normalmente, acontecem outras formas de socialização, como o lazer, participação de grupos políticos, atividades religiosas, etc.

Como bem destaca Olney Queiroz Assis e Lafayette Pozzoli:

O princípio da igualdade de direitos entre as pessoas com e sem deficiência significa que as necessidades de todo indivíduo são de igual importância e que devem constituir a base do planejamento social, e todos os recursos devem ser empregados e forma a garantir oportunidade igual a cada indivíduo. Todas as políticas referentes à deficiência devem assegurar o acesso das pessoas portadoras deficiência a todos os serviços da comunidade.[18]

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Se descumprir a Lei, a empresa poderá ser autuada administrativamente e ainda, os administradores e gerentes poderão incorrer na hipótese tipificada no Art. 8º, da Lei n. 7.853/89, que prevê o crime de reclusão.

Ao auditor fiscal incumbe a tarefa de fiscalizar o cumprimento do referido Termo. Em não cumprido, deverá encaminhar relatório ao Delegado Regional do Trabalho para remessa ao Ministério Público do Trabalho e esse passará a um processo investigatório, no qual, a empresa é convidada a firmar Termo de ajuste de conduta, com prazo razoável, (01 a 02 anos), para cumprimento de preenchimento de vagas sob pena de multa que será revertida ao Fundo de Amparo ao Trabalhador, fundo este previsto na Lei nº 7.853/89.

Não podemos deixar de registrar que o § 1º, do Art. 93, da Lei nº 8.213/91, determina como condição certa para a dispensa do empregado portador de deficiência, englobando tanto na incidência de contratação por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias, como na por prazo indeterminado, a contratação de substituto em condições semelhantes.[19]-[20]

Concordamos com a vedação legal, em cumprimento a Lei nº 8.213/91, que exige a existência de liame empregatício, pois se admitíssimos tal possibilidade, enfatizaríamos a manutenção precária de uma relação de trabalho, perpetuando uma situação existente onde a pessoa portadora de deficiência, a despeito de estar desenvolvendo um trabalho, não poderia valer-se de direitos constitucionalmente consagrados que são assegurados aos trabalhadores não portadores de deficiência. Fato este, que vai na contra mão da história e não representa uma sociedade inclusiva.

2. O Valor Social do Trabalho e Princípio da Igualdade e Não-Discriminação

A conotação da palavra trabalho, ao longo da história, sofreu várias modificações. O conceito da palavra trabalho, etimologicamente falando, origina-se da palavra latina tripaliare, que significa martirizar, ou ainda tripalium, instrumento com três estacas que era utilizado para tortura. Mais tarde, do latim extraímos tripaliu, do neolatim travaglio, travail, trabajo e, assim, trabalho.

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Na antiguidade, valorizava-se somente o saber e a cultura, enquanto que o trabalho, que a princípio era escravo, poderia ser comprado a preço vil, sendo associado a algo degradante, sem qualquer estima, utilizado totalmente descomprometido com a dignidade do homem, percorrendo assim, um longo caminho até o reconhecimento do trabalho, como direito social.

O trabalho, além de um meio de subsistência, está intimamente ligado ao bem maior que é a vida[21], permitindo a sociabilidade e integração social dos indivíduos. Na sociedade moderna, a pessoa portadora de deficiência que não tem acesso ao mercado de trabalho está excluída do convívio social e, por conseguinte, de viver, por sua considerável e notória importância, sendo importante registrarmos, neste diapasão Christiani Marque:

É inquestionável, portanto, que o trabalho é elemento essencial à vida. Logo, se a vida é o bem jurídico mais importante do ser humano e o trabalho é vital à pessoa humana, deve-se respeitar a integridade do trabalhador em seu cotidiano, pois atos adversos vão, por conseqüência, atingir a dignidade da pessoa humana [...]. O trabalho não é somente o emprego da força física, mas também atividade de pesquisar, investigar, dirigir e planejar e tantas outras funções que se multiplicam com a criação e produtividade do ser humano. É a forma fundamental de subsistência, mais simples e elementar. Trabalha-se com a força física e intelectual; esses dois elementos estão sempre juntos, porém pode ocorrer preponderância de um, a ponto de se dizer que o trabalho é manual ou intelectual. E isso não cria qualquer diferença em termos de proteção.[22]

A Lei Maior disciplina em seu Título I, Art. 1º IV, os princípios fundamentais do Estado brasileiro, dentre eles o labor : “os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa” (grifo nosso).

O trabalho é um direito fundamental social e encontra-se previsto no Art. 6º da Constituição Federal que estabelece:

Art. 6º: São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (grifo nosso).

Flávia Piovesan esmiúça, explicando:

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O texto de 1988 ainda inova, ao alargar a dimensão dos direitos e garantias, incluindo no catálogo de direitos fundamentais não apenas os direitos civis e políticos, mas também os direitos sociais (ver Capítulo II do Título II da Carta de 1988). Trata-se da primeira Constituição brasileira a integrar, na declaração de direitos, os direitos sociais, tendo em vista que as Constituições anteriores às normas relativas a esses direitos encontram-se dispersas no âmbito da ordem econômica e social, não constando do título dedicado aos direitos e garantias.[23]

Também, estabelece e determina o valor social do trabalho, José Afonso da Silva, quando assevera:

A Constituição declara que a ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais. Ter como base o primado do trabalho significa pôr o trabalho acima de qualquer outro fator econômico, por entender que nele o homem se realiza com dignidade. Ter como objetivo o bem estar e justiça sociais quer dizer que as relações econômicas e sociais do país, para gerarem o bem-estar, hão que propiciar o trabalho e condição de vida, material, espiritual e intelectual, adequada ao trabalhador e sua família, e que a riqueza produzida no país, para gerar justiça social, há de ser equanimemente distribuída.[24]

Se enquadrando com o valor social, que está intimamente ligado ao princípio da dignidade humana e igualdade, há também o princípio da não-discriminação, disciplinado no Art. 3º, inc. IV, que objetiva promover o bem social de todos, sem preconceitos e quaisquer formas de discriminação, dando a todos oportunidades de trabalho, não se justificando qualquer diferença de tratamento baseando-se na raça, cor, religião, sexo, etc.

Como bem acrescenta Álvaro Ricardo de Souza Cruz:

Uma sociedade calcada neste princípio é necessariamente pluralista e inclusiva, pois deve garantir/estimular a participação de todos, aproveitando as diferentes cosmovisões e experiências humanas, reconhecendo/desenvolvendo o potencial de cada cidadão.[25]

A Constituição Federal de 1988 cuidou de garantir o princípio da igualdade de forma mais ampla possível, pois constitui alicerce de todos os direitos constitucionais, especialmente no que tange às pessoas portadoras de deficiência, não por considerá-los iguais, mas tendo em vista, justamente as limitações que suportam, levando-se em conta suas diferenças.

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Em assim, considerando, o legislador delegou-lhes proteção especial, para a garantia da efetiva igualdade, uma vez que há correlação lógica entre fator de discrímen e a desiquiparação procedida.[26]

No entanto, no que tange à pessoa portadora de deficiência, vivemos em uma sociedade totalmente preconceituosa que, na grande maioria, a enxerga como doente e coitada. No entanto, o ser humano é digno de respeito e consideração, independentemente de ser ou não portador de deficiência.

Na verdade, não temos consciência que nossa capacidade é limitada (sendo ou não portadoras de deficiência), e nos esquecemos que, o tempo é inexorável para todos, sem exceção e assim, fatalmente, todo ser humano terá, no futuro suas funções reduzidas e até mesmo comprometidas.

Com sabedoria José Pastore:

Os-não portadores de deficiência ignoram que, com o passar da idade, os seres humanos, eles inclusive, terão as suas funções reduzidas afinal. A degenerecência dos órgãos e a velhice formam o destino de todos nós. Ademais, ninguém está livre de, a qualquer momento, passar a ter uma limitação de ordem física, sensorial ou mental. No fundo, todos os seres vivos terão de conviver com algum tipo de deficiência ao longo de suas vidas.[27]

Portanto, ante todas as assertivas acima, é preciso incluir e não discriminar, valorizando o trabalho, como valor social, que percorreu um longo caminho até atingir o seu devido posto, qual seja, de essência e de vida; estando, intimamente entrelaçado com essa.

No que tange à pessoa portadora de deficiência, o Estado, deve materializar as leis existentes para lhes conceder oportunidades de trabalho, o fazendo, desde a simples prática de modificação e adaptação do meio social, transpondo barreiras, para que tenham acesso ao trabalho, à escola, ao teatro, enfim, a todos os segmentos sociais, para que de excluídas passem a ser incluídas, bem como exigindo, através, dos órgãos competentes o cumprimento das normas existentes.

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Por conseguinte, ante o abordado, não há dúvidas que, oportunidades necessitam ser concedidas a estas pessoas, para que possam trabalhar e se incluir no seio social, exercendo sua cidadania e resgatando sua dignidade a elas inerentes.

2 ESTUDO DE UM CASO: EMPRESA SERASA – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

2.1 Exemplo a Ser Seguido para a Inserção da Pessoa Portadora de Deficiência no Mercado de Trabalho

Apesar da existência da proteção constitucional, como já declinamos, para a inserção das pessoas portadoras de deficiências no mercado de trabalho, sabemos que a sua concretização está muito aquém do desejado, com a falta de oportunidade e até mesmo com a falta de cumprimento legal, mais especificamente no que se refere à Lei de Cotas (Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991).

Existem no Brasil, de acordo com dados do IBGE, Censo 2000, cerca de 24,5 milhões de brasileiros portadores de deficiência. Desse montante, 15,22 milhões, em idade ativa para o trabalho, que compreende a faixa etária de 15 a 59 anos de idade, apenas 11% (onze por cento), estão inseridas no mercado de trabalho.

Em detrimento do desemprego ser uma realidade que afeta a todos nós e, até ser uma dificuldade mundial, que não atinge tão somente as pessoas portadoras de deficiência, se compararmos a taxa de desemprego dessas pessoas em relação àquelas, resta claro a diferença existente, principalmente, pelo notório preconceito e ignorância por parte da sociedade como do setor empresarial.[28]É lamentável, mas é uma realidade fática.

O exemplo mencionado da empresa privada Serasa, deve servir de parâmetro para o Brasil, porque, além de cumprir a Lei de Cotas, também, transforma, sociabiliza, incluindo as pessoas portadoras de deficiência no mercado de trabalho que, diretamente contribuem para o aumento de riqueza do país e ainda, de quebra, cumpre sua função social da propriedade.[29]

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Isto, por conta de que não devemos nos esquecer, que as empresas, tendo em vista o que estabelece o Art. 5º, inc. XXIII, da Constituição Federal, também têm que cumprir a função social, uma vez que inexiste direito absoluto sobre a propriedade.

Felizmente, iniciou-se uma mudança de pensamento e posicionamento social, ainda que de forma tímida, com nova visão, no sentido de que as pessoas portadoras de deficiência são tão produtivas quanto as não; quiçá em determinados casos, até mais. O que nos leva à conclusão que falar em deficiência não é dizer incapacidade.

A Serasa é uma empresa que atua na área de análise e informação para liberação de operações de crédito, destacando-se, que tem representatividade nacional e internacionalmente e, constitui-se em uma sociedade por ações de capital fechado.

É cediço, trazer à baila, que seu serviço possui a liderança nacional, com 59% (cinqüenta e nove por cento), de participação no mercado de informações, bem como, na América Latina, a Serasa é a maior empresa em informações e análises econômico-financeiras.

Esta empresa, através de seu programa de empregabilidade para Pessoas Portadoras de Deficiência, mostra efetivamente que, não cumpre simplesmente a Legislação, no que se refere à Lei de Cotas, mas, antes de tudo, viabiliza a transformação do cotidiano destas pessoas, acreditando nas suas potencialidades, colocando-as no mercado de trabalho, transformando sua realidade social, deixando assim, de serem excluídos, para serem incluídos e de quebra, teremos o crescimento econômico do país, pois, tornam-se consumidoras.

O Programa de Empregabilidade de Pessoas Portadoras de Deficiência foi implantado na Serasa no ano de 2001, com objetivo de propiciar qualificação profissional e assim, com reais possibilidades de efetivarem um emprego. Seu Programa é desenvolvido dentro da empresa, pela gerência Corporativa Social da Diretoria de Desenvolvimento Humano e Organizacional, que recruta e seleciona pessoas portadoras de deficiência, a fim de desenvolverem atividades profissionais, tendo em vista suas aptidões e potenciais.

A Serasa prima, em seu programa de empregabilidade, para que se proporcione às pessoas qualificação profissional, a fim de, efetivamente competir no mercado de trabalho.

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Há duas formas que são utilizadas no processo de empregabilidade, quais sejam:

a) como ser Serasa: pessoas portadoras de deficiência que tenham certificado do ensino médio, podem se inscrever no Site Serasa e, a partir do momento que seu perfil se encaixe nas vagas disponíveis, serão chamadas para fazer entrevista. Na hipótese de admissão terão assegurados: salário, assistência médica, odontológica, vale-refeição, vale-transporte, seguro de vida em grupo e também terão direito ao Programa de Participação de Resultados. É interessante, destacar, que as pessoas admitidas passam a ter a denominação de como ser Serasa.

b) como estagiário: aqui se enquadram as pessoas portadoras de deficiência que tenham concluído curso universitário nas áreas de administração, economia ou afim, com mais de 18 (dezoito) anos, se inscrevem semestralmente no processo de triagem. Se selecionados, terão treinamento de 480 (quatrocentos e oitenta horas) em sala de aula e em locais diversificados dentro da própria empresa e receberão: bolsa-auxílio, assistência médica, odontológica, vale-refeição, vale-transporte e seguro de vida em grupo. Se, decorridos seis meses e aprovados em duas avaliações que serão realizadas, acontece a efetivação na empresa, ou outras que estejam necessitando, indicadas pela Serasa.

Destaque-se, que existe a elaboração de orçamento anual, para investimento no referido programa e assim, nos fica latente a intenção da empresa, em realmente investir para no desenvolvimento profissional das pessoas e, conseqüentemente, no crescimento econômico da empresa.

Para termos idéia que a empresa realmente acredita e aposta na produtividade das pessoas portadoras de deficiência, por exemplo, há softwares de voz para cegos, lupa eletrônica para aqueles que tenham baixa visão, disponibilidade de intérprete de Libras (Linguagem Brasileira de Sinais) para as pessoas que têm deficiência auditiva, impressoras em braile, cão guia, etc.

O que também nos causou bastante admiração, é que o prédio da empresa é o único inteiramente adaptado para todos os tipos de deficiência e foi construído para esse fim, tendo, assim, recebido certificado da NBR nº 9050 (Acessibilidade e Edificações Mobiliário, Espaços e Equipamentos Urbanos) da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnica, da Fundação Carlos Alberto Vanzolini.

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Este programa de empregabilidade serviu de exemplo para inúmeras empresas brasileiras, tais como as instituições financeiras Banco Itaú S/A, Unibanco, ABN – Amro e Banco HSBC Bank Brasil.

O reconhecimento de sucesso da empresa Serasa é tamanho, que em 2003, firmou parceria com a ONU – Organização das Nações Unidas (por meio da Agência UNV – United Nations Volunteers, órgão de voluntariado das Nações Unidas), a fim de ser implantado nas empresas que desejarem, ratificando, assim, a eficácia do programa.

Dessa maneira, um voluntário da UNV/ONU, preparado e capacitado pelo Programa de Empregabilidade, permanece seis meses onde deseja incorporar o programa criando uma turma de pessoas portadoras de deficiência, ocorrendo o mesmo com as empresas que desejarem fazer o mesmo.

Visando difundir a idéia da importância da inclusão social de pessoas portadoras de deficiência, através do trabalho, a Serasa criou o Fórum Serasa de Empregabilidade de Pessoas Portadoras de Deficiência, com empresas parceiras, e, este acontece trimestralmente, sendo certo que para sua realização conta com as contribuições do Ministério Público do Trabalho, Federação Brasileira de Bancos, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Secretaria Municipal da Pessoa Portadora de Deficiência e Mobilidade Reduzida de São Paulo e da ONG Workability Internacional.

De acordo com o Relatório Corporativo Serasa 2006, a empresa conta com 2.300 funcionários, sendo que desses 115 são pessoas portadoras de deficiência.

A posição da empresa em termos de empregabilidade da pessoa portadora de deficiência é tamanha que, contratou também duas funcionárias com Síndrome de Down, sendo certo, que uma, qual seja, a Associação para o Desenvolvimento Integral do Down, acompanha o desenvolvimento do trabalho das referidas funcionárias, destacando-se que uma trabalha no setor de digitação e a outra auxilia a organização dos jornais diários.

Vale trazer o depoimento (dentre tantos), de um cadeirante, Sr. José Braga, que trabalha no setor de televendas, funcionário da Serasa que bem espelha a satisfação e o reconhecimento que a empresa proporciona as pessoas portadoras de deficiência:

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A Serasa dá oportunidade a todos, sem fazer distinções de qualquer espécie. Esta foi a empresa que realmente abriu as portas às pessoas com deficiência, agindo com responsabilidade social, não apenas preocupada em atender uma cota.

Por algumas considerações trazidas nesse tópico, podemos ter a certeza do compromisso da Serasa, que vai muito além do cumprimento legal das cotas, pois ante tudo que trouxemos até agora, é clara e notória sua posição e conscientização em termos de responsabilidade social, via empregabilidade, onde o mais importante é o ser humano, sua valorização; pois acreditamos que o trabalho é o veículo de socialização e inclusão social, que resgata a dignidade das pessoas portadoras de deficiência, muitas vezes perdida e desprestigiada.

2.2 CONCLUSÃO

As Ações Afirmativas foram o início do reconhecimento de segmentos sociais que, sempre segregados, possuíam o direito de inserção no mercado de trabalho. Restou evidente o grau de dificuldade que as pessoas portadoras de deficiência encontram em serem incluídas socialmente, com a notória discriminação existente que atravessaram os séculos.

No entanto, a perseguida e idealizada igualdade entre os homens, que defendiam e julgavam serem suficientes, não aconteceu e, na medida em que as leis foram normatizadas, foi necessário a igualdade substancial se opor à formal, para diminuir as diferenças sócio-econômicas existentes.

A despeito de todo aparato legal existente em nossa Constituição, que disciplina, em todo seu corpo, proteção às pessoas portadoras de deficiência, existem dificuldade de inclusão social, posto que não estamos preparados para lidar com o diferente, como também, a maioria esmagadora da sociedade, ainda o encara como doente e improdutivo.

Ainda hoje existe muito preconceito, no entanto, não se pode negar que está se iniciando uma mudança, inclusive com empresas (a bem da verdade, poucas, dentro da extensão e produção que este país concretiza), que são exemplo de consciência e de responsabilidade social, aplicando integralmente o princípio estabelecido no Art. 3º da

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Constituição Federal, que prega uma sociedade livre, justa e solidária, com a promoção do bem estar de todos, sem qualquer discriminação.

No Brasil, como visto, a Magna Carta de 1988 direcionou proteção às pessoas portadoras de deficiência, em todo o corpo de seu texto constitucional, iniciando uma mudança substancial que se cristalizou através da edição de leis mais específicas, com a previsão legal de reservas de vagas às pessoas portadoras de deficiência em sede pública e privada.

É preciso ter uma atitude aberta e de responsabilidade social, já que somos membros de uma mesma coletividade e ninguém determina nossas condições de vida e sim, elas se impõem.

O estudo da empresa Serasa é um exemplo de cidadania e respeito às pessoas portadoras de deficiência, onde não há lugar para o preconceito, ignorância ou discriminação, que restringe nossa visão da verdadeira realidade.

Como demonstrado, a Serasa é uma empresa politicamente correta, que tem plena consciência de seu papel na sociedade, pois, emprega pessoas portadoras de deficiência, não simplesmente para efeito de cumprimento de cotas, mas para assumir seu papel na sociedade, ela nem prestigia e nem pretere qualquer cidadão, mas apenas o integra, o inclui socialmente.

Por fim, certo é que a responsabilidade da inclusão das pessoas portadoras de deficiência no mercado de trabalho não é somente dos empresários e do Poder Público: todos têm o dever de contribuir para essa inclusão, respeitando a diversidade e divulgando sua importância! Foi isso que se pretendeu aqui.

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[1] MENEZES, Paulo Lucena de. A ação afirmativa: affirmative action no direito Norte-Americano. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 87. Em maio de 1954 – em uma decisão histórica, no caso Brown contra a Secretaria de Educação, a Suprema Corte dos Estados Unidos emitiu determinação segundo a qual as escolas segregadas eram inconstitucionais. O nome no caso, Brown, é o de Oliver Brown, um negro, que iniciou um processo quando sua filha de sete anos, Linda, teve sua matrícula negada em uma escola primária só para brancos na pequena cidade de Topeka, Kansas, no meio-oeste dos Estados Unidos, onde eles viviam. Disponível em: <http://www.usinfo.state.gov>. Acesso em 09 mar. 2008.

[2] ANDERSON, Terry H. The pursuit of fairness: a history of affirmative action. New York: Oxford University Press, 2004, p. 145. Cabe citar, O presidente John Fitzgerald Kennedy, em uma coletiva de imprensa, discute sobre empregabilidade igualitária e sua concreta necessidade, ante condutas discriminatória existentes, após dois dias após assinar a Ordem Executiva em março de 1961, na Casa Branca, em Boston, Estados Unidos.

[3] VILAS-BOAS, Renata Malta. Ações afirmativas e o princípio da igualdade. Rio de Janeiro: América Jurídica, 2003, p. 33.

[4] NEME Eliana Franco. Ações Afirmativas e inclusão social. Bauru:EDITE, 2005, p.298.

[5] BARBOSA, Joaquim Benedito Gomes. Ação afirmativa & princípio constitucional da igualdade. Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 36.

[6] MADRUGA, Sidney Pessoa. Discriminação positiva: ações afirmativas e a realidade brasileira. Brasília: Brasília Jurídica, 2005, p. 53.

[7] CRUZ, 2003, p. 248.

[8] Ibidem, mesma página.

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[9] GUGEL, Maria Aparecida. Pessoas com deficiência e o direito ao concurso público. Goiânia: UCG, 2006, p. 57.

[10] ROCHA, Carmen Lúcia de Antunes. Ação Afirmativa: o conteúdo democrático do princípio da igualdade jurídica. São Paulo: Malheiros, 1996, p. 88.

[11] MADRUGA, 2005, p. 59.

[12] FÁVERO, Eugênia Augusta Gonzaga. Dos Direitos das Pessoas com deficiência: garantia de igualdade na diversidade. 2.ª ed. Rio de Janeiro. WVA, 2004, p. 131: “No entanto, entendemos que tal dispensa é equivocada. O que deve garantir que os aprovados em concurso tenham a aptidão plena necessária para o exercício de determinada função, são as provas e exigências do concurso. Assim, as pessoas com deficiência, e outras que não conseguirem alcançar as notas mínimas necessárias, estão automaticamente eliminadas. Ainda, tendo ou não a reserva, não se pode impedir que alguém com deficiência se inscreva em um concurso para qual se exige aptidão plena, e tente provar que possui qualificações necessárias (exemplo: pessoas que usam prótese em perna e que conseguem excelente nível de adaptação, podem perfeitamente fazer testes físicos de corrida, salto, etc.). Portanto, não há razões para que a reserva não seja observada, já que esta não dispensa o candidato a alcançar nota mínima exigida no concurso”.

[13] LOPES, 2005, p. 93.

[14] Há que se destacar, que a Lei nº 3.807, de 26/08/1960, qual seja, Lei Orgânica da Previdência Social, estabelecia em seu Art. 55, a reserva de cargos para empregados readaptados ou reeducados profissionalmente. Seu Art. 55, estabelecida: “As empresas que dispuserem de 20(vinte) ou mais empregados serão obrigadas a reservar de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) de cargos, para atender aos casos de readaptação ou reeducados profissionalmente, na forma que o regulamento desta lei dispuser. Parágrafo único – O Instituto Nacional de Previdência Social emitirá certificado individual definindo profissões que poderão ser exercidas pelo segurado reabilitado profissionalmente, o que não impedirá de exercer outras para as quais se julguem capacitados. (redação dada pela Lei 5.890, de 08 de junho de 1973)”. Infelizmente, o citado dispositivo não chegou a ser regulamentado, bem como foi incisivo, no sentido de obrigatoriedade na contratação das pessoas portadoras de deficiência, para desse modo, preencher os percentuais legais indicados na Lei nº 8.213/91, e, não somente reservar as vagas. Só dessa maneira, iniciou-se a real e efetiva incorporação das pessoas portadoras de deficiência no mercado formal de trabalho, com justo resgate de sua dignidade.

[15] Art. 2º: Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico [...]. Inc. III – na área da formação profissional e do trabalho: [...] d) a adoção de legislação específica que discipline a reserva de mercado de trabalho, em favor das pessoas portadoras de deficiência, nas entidades da Administração Pública e do setor privado e que regulamente a organização de oficinas

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e congêneres ao mercado de trabalho, e a situação, nelas, das pessoas portadoras de deficiência (negrito nosso).

[16] ASSIS; POZZOLI, 2005, p. 353.

[17] FÁVERO, 2004, p. 30-31: “[...] paraplegia: perda total das funções motoras dos membros inferiores; paraparesia: perda parcial das funções motoras dos membros inferiores; monoplegia: perda total das funções motoras de um só membro (podendo ser membro superior ou inferior); monoparesia: perda parcial das funções motoras de um só membro (podendo ser superior ou inferior), tetraplegia: perda total das funções motoras dos membros inferiores e superiores; tetraparesia: perda parcial das funções motoras dos membros inferiores e superiores; triplegia: perda total das funções motoras em três membros; triparesia: perda parcial das funções motoras em três membros; hemiplegia: perda total das funções motoras de um hemisfério do corpo (direito ou esquerdo); hemiparesia: perda parcial das funções motoras de um hemisfério do corpo (direito ou esquerdo); amputação: perda total de determinado segmento de um membro (superior ou inferior); paralisia cerebral: lesão de uma ou mais áreas do sistema nervoso central, tendo como conseqüência alterações psicomotoras, podendo ou não causar deficiência mental. E, ainda, quanto à deficiência auditiva: perda moderada (25-50 Db): uso de prótese auditiva para dificuldade de audição funcional;auditiva, também, explicita: inclui as disacusiais, que são problemas auditivos real perda moderada (25-50 Db): uso de prótese auditiva para dificuldade de audição funcional;relacionados a sons comuns),que podem ser leves, moderadas, severas ou profunda. Ou ainda, é a perda parcial ou total bilateral, e vinte e cinco decibéis (db) ou mais, resultante da média aritmética do audiograma, aferida nas freqüências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000 Hz. Implica: perda moderada (25-50 Db): uso de prótese auditiva para dificuldade de audição funcional; perda severa (51-90 Db): uso de prótese auditiva para pequenas alterações da fala; perda profunda (acima de 91 Db): resíduos auditivos não-funcionais para a audição; não há indicação de hipótese auditiva; alterações maiores na linguagem e na fala”.

[18] ASSIS; POZZOLI, 2005, p. 328.

[19] RECURSO DE REVISTA REINTEGRAÇÃO DEFICIENTE FÍSICO EMPRESA COM MAIS DE 100 (CEM) EMPREGADOS ART. 93 DA LEI Nº 8.213/91 O v. acórdão regional observou a disposição do Art. 93 da Lei nº 8.213/91, que obriga a empresa com 100 (cem) ou mais empregados a preencher de 02% (dois por cento) a 05% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas. Na hipótese vertente está registrado que a Reclamada possui mais de 100 (cem) empregados em seu quadro. O dispositivo refere a quantidade de empregados na empresa, e não em cada estabelecimento, como quer fazer crer a Reclamada. Ressalte-se, por oportuno, que o § 1º do preceito estabelece garantia indireta de emprego, pois condiciona a dispensa do trabalhador reabilitado ou deficiente habilitado à contratação de substituto que tenha condição semelhante. Trata-se de limitação ao direito potestativo de despedir, motivo pelo qual, uma vez não cumprida a exigência legal, devida é a reintegração no emprego. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS O Tribunal Regional deferiu a verba honorária tão-só com fundamento no princípio da sucumbência, a despeito de o Autor não estar assistido pelo seu sindicato. São indevidos os honorários advocatícios, à luz da Orientação Jurisprudencial nº 305 da C. SBDI-1 e da Súmula nº 219/TST.

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[20] RR – 44352/2002-900-04-00 – Relator: GMALB – DJ 14/12/2007 – RECURSO DE REVISTA. DISPENSA DO EMPREGADO PORTADOR DE DEFICIÊNCIA FÍSICA PERMANENTE. REINTEGRAÇÃO NO EMPREGO. Interposto à deriva dos requisitos traçados no Art. 896 da CLT, não merece conhecimento o recurso de revista.

[21] MIRANDA, 1933, 1 vol., p. 59. O autor ressalta o valor do trabalho, como uma das condições de vida, assim expressando-se corresponde, não só ao fim superior, mas direito eterno e inalienável da humanidade; seria o exercício pleno, regular e livre desse direito que a sociedade devia assentar a sua constituição e a humanidade o seu destino.

[22] MARQUES, 2007, p. 21.

[23] PIOVESAN, 1997, p. 61.

[24] SILVA, 2005, p. 758.

[25] CRUZ, 2003, p. 127.

[26] MELLO, 2004, p. 37.

[27] PASTORE, 2000, p. 20.

[28] As informações obtidas para elaboração do presente capítulo encontram-se disponível no Relatório Anual do Serasa ano 2006, (assim como no site: <http://www.serasa.com.br>), que nos foi gentilmente cedido, por ocasião da realização do Fórum anual sobre Empregabilidade, que ocorreu em 03/07/2007, no qual, também, participaram do evento as seguintes colegas de mestrado: Juliana Izar Soares da Fonseca Segalla, Cristiane Ribeiro da Silva e Letícia Jean Arantes Daré.

[29] Censo 2000. Disponível em: <http://www1.ibge.gov.br/censo/default.php>. Acesso em: 25 fev. 2008.