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1 AÇO INOXIDÁVEL NA CONSTRUÇÃO E REABILITAÇÃO SUSTENTÁVEIS M. J. Correia M. M. Salta Inv. Auxiliar Inv. Coordenadora LNEC LNEC Lisboa; Portugal Lisboa; Portugal [email protected] [email protected] RESUMO O bom desempenho do aço inoxidável na construção é já patente nas diversas aplicações em todo o mundo. Contudo, a informação e experiência existente deverá ser analisada de forma integrada, contribuindo para a harmonização de procedimentos, para que se beneficie das potencialidades da vasta gama de ligas de aço inoxidável existente uma vez que a eficiência de uma dada solução é determinada não só pela sua compatibilidade com o meio ambiente como também pela qualidade da conceção e da construção. A presente comunicação visa a transferência de conhecimentos fundamentais para uma eficiente utilização do aço inoxidável, que é essencial para a durabilidade, sustentabilidade e resiliência da construção. Em particular, abordará a avaliação do desempenho do aço inoxidável e a melhoria de conhecimento para mitigação das suas vulnerabilidades específicas visando o consequente aumento da resistência aos principais mecanismos de deterioração. 1. INTRODUÇÃO A indústria da construção está a ser desafiada a contribuir para o desenvolvimento sustentável e resiliente de um mundo em permanente evolução e, em particular, a convergir para as prioridades de crescimento inteligente, sustentável e inclusivo estabelecidas pela União Europeia. A implementação de estratégias social e ambientalmente responsáveis, em simultâneo assegurando a sua viabilidade económica, constituem desafios prioritários para o setor da construção, que deverá encetar iniciativas de investigação multidisciplinar e de inovação objetivando tomadas de decisão informadas, eficientes e resilientes. A qualidade, a durabilidade e a capacidade adaptativa do património construído, visando a otimização de desempenho bem como o prolongamento do seu tempo de vida, constituem no contexto atual os desafios quotidianos devidos a necessidades frequentes de remediação e requisitos crescentes do setor da construção. A sustentabilidade e resiliência às ações climáticas da construção requerem a utilização otimizada, eficiente e robusta de materiais duráveis. Nesta conjuntura surgem oportunidades para o desenvolvimento e aplicação de novos materiais ou de soluções otimizadas integrando materiais correntes, tal como o aço inoxidável, que constituem alternativas competitivas desde que o custo inicial seja ponderado em simultâneo com os benefícios da sua utilização ao longo do tempo de vida útil duma estrutura.

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1

AÇO INOXIDÁVEL NA CONSTRUÇÃO E REABILITAÇÃO SUSTENTÁVEIS

M. J. Correia M. M. Salta

Inv. Auxiliar Inv. Coordenadora

LNEC LNEC

Lisboa; Portugal Lisboa; Portugal

[email protected] [email protected]

RESUMO

O bom desempenho do aço inoxidável na construção é já patente nas diversas aplicações em todo o mundo. Contudo, a

informação e experiência existente deverá ser analisada de forma integrada, contribuindo para a harmonização de

procedimentos, para que se beneficie das potencialidades da vasta gama de ligas de aço inoxidável existente uma vez

que a eficiência de uma dada solução é determinada não só pela sua compatibilidade com o meio ambiente como

também pela qualidade da conceção e da construção. A presente comunicação visa a transferência de conhecimentos

fundamentais para uma eficiente utilização do aço inoxidável, que é essencial para a durabilidade, sustentabilidade e

resiliência da construção. Em particular, abordará a avaliação do desempenho do aço inoxidável e a melhoria de

conhecimento para mitigação das suas vulnerabilidades específicas visando o consequente aumento da resistência aos

principais mecanismos de deterioração.

1. INTRODUÇÃO

A indústria da construção está a ser desafiada a contribuir para o desenvolvimento sustentável e resiliente de um mundo

em permanente evolução e, em particular, a convergir para as prioridades de crescimento inteligente, sustentável e

inclusivo estabelecidas pela União Europeia.

A implementação de estratégias social e ambientalmente responsáveis, em simultâneo assegurando a sua viabilidade

económica, constituem desafios prioritários para o setor da construção, que deverá encetar iniciativas de investigação

multidisciplinar e de inovação objetivando tomadas de decisão informadas, eficientes e resilientes.

A qualidade, a durabilidade e a capacidade adaptativa do património construído, visando a otimização de desempenho

bem como o prolongamento do seu tempo de vida, constituem no contexto atual os desafios quotidianos devidos a

necessidades frequentes de remediação e requisitos crescentes do setor da construção.

A sustentabilidade e resiliência às ações climáticas da construção requerem a utilização otimizada, eficiente e robusta de

materiais duráveis. Nesta conjuntura surgem oportunidades para o desenvolvimento e aplicação de novos materiais ou

de soluções otimizadas integrando materiais correntes, tal como o aço inoxidável, que constituem alternativas

competitivas desde que o custo inicial seja ponderado em simultâneo com os benefícios da sua utilização ao longo do

tempo de vida útil duma estrutura.

M. J Correia e M. M. Salta, Aço inoxidável na construção e reabilitação sustentáveis

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A implementação eficiente e robusta de novos materiais ou sistemas construtivos contribuirá necessariamente a longo

prazo para reduzir os enormes impactos sociais, ambientais e económicos correntemente associados às atividades

relativas à manutenção do património construído.

Uma construção sustentável e robusta implica necessariamente a utilização de materiais adequados às funções e

condições de exposição previstas. Em particular, soluções integrando o aço inoxidável poderão permitir atingir longos

tempos de vida útil, em ambientes especialmente agressivos, minimizando em simultâneo os impactos da construção

através da utilização de soluções eco eficientes.

A durabilidade e desempenho do aço inoxidável estão intrinsecamente dependentes da sua adequabilidade e utilização

informada, que deverá ser baseada em indicadores mensuráveis e regulamentação específica pretendendo a minimização

dos custos e a maximização dos benefícios associados à sua aplicação.

O desenvolvimento e implementação de práticas construtivas sustentáveis envolvem a otimização de soluções duráveis,

sem significativas necessidades de manutenção. Deste modo, é essencial tirar o máximo proveito da variedade das

propriedades disponíveis e mitigar as vulnerabilidades específicas do aço inoxidável.

Esta comunicação documenta tais vulnerabilidades e identifica formas correntes para a sua mitigação. Em particular, a

mitigação da corrosão deverá integrar o projeto de construção ou reabilitação em toda a sua extensão, desde a seleção

dos materiais até ao detalhe. Esta mitigação é especialmente relevante em elementos de ligação e juntas e em

geometrias específicas que impliquem o contacto com diferentes ligas ou que favoreçam condições ambientais

diferenciadas. Todos estes pormenores potenciam a ocorrência de corrosão localizada que, por sua vez, poderá vir a

comprometer a durabilidade e robustez duma dada solução com aço inoxidável.

2. PREVENÇÃO E MITIGAÇÃO DA CORROSÃO

No setor da construção os custos diretos associados à corrosão são consideráveis, mesmo que normalmente não sejam

contabilizados os custos indiretos e consequentes impactos sociais e ambientais das ações de manutenção e reparação

das estruturas em muitos dos casos após pouco tempo de serviço. A deterioração do património construído tem um

impacto significativo na sociedade, bem como na conservação dos recursos disponíveis e na segurança dos seus

utilizadores. Deste modo, a prevenção e a mitigação da corrosão terão necessariamente consequências diretas na

durabilidade, eficiência e robustez da construção e assim contribuirão para a sua sustentabilidade.

A utilização de ligas de aço inoxidável constitui uma medida preventiva da corrosão com excelente desempenho, ainda

que em alguns dos casos não tenha sido otimizada de acordo com o estado de conhecimento atual. Neste contexto,

importa rever o estado da arte e identificar soluções integrando o aço inoxidável que possam ser benéficas para o setor

da construção, nomeadamente no âmbito da construção e reabilitação sustentáveis, e que favoreçam a sua convergência

com as prioridades identificadas na União Europeia.

A prevenção da corrosão no betão armado e a mitigação da corrosão em estruturas metálicas e em elementos

compósitos com funções estruturais constituirão o principal objeto de abordagem nesta comunicação, integrando o

presente conhecimento e identificando áreas com potencial de inovação e desenvolvimento no que se refere à utilização

eficiente e robusta do aço inoxidável no setor da construção.

2.1Prevenção da corrosão no betão armado

2.1.1 Aço inoxidável no betão

A corrosão do aço das armaduras é a causa mais comum da deterioração das estruturas de betão armado. Este

mecanismo de deterioração, devido às graves consequências a si associadas, tem sido objeto de ampla investigação no

sentido de se desenvolverem alternativas que ofereçam uma maior durabilidade e desempenho das construções.

Atualmente considera-se que é essencial a aplicação de medidas de prevenção da corrosão nas estruturas de betão

armado, que devem ser adotadas desde a fase do projeto, no que se refere à conceção e à adoção de composições de

betão e recobrimentos adequados ao meio de exposição, até à fase de construção da estrutura, através da aplicação de

M. J Correia e M. M. Salta, Aço inoxidável na construção e reabilitação sustentáveis

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práticas construtivas adequadas. Medidas preventivas adicionais são igualmente fundamentais e determinantes no

desempenho das estruturas durante a sua vida em serviço, sendo especialmente recomendável a sua adoção em

estruturas expostas em ambientes de elevada agressividade para as quais se pretenda longa vida em serviço.

Neste âmbito, destaca-se a utilização de armaduras de aço inoxidável que tem assumido nos últimos anos uma

importância crescente face ao seu bom comportamento à corrosão [1] permitindo a construção de estruturas que podem

atingir facilmente uma vida útil superior a 100 anos sem necessidade de manutenção significativa.

O exemplo de maior longevidade reporta-se a um pontão no México construído com aço inoxidável 1.4301, entre 1937

e 1941, que atualmente mantém um bom estado de conservação ao contrário de outro adjacente, construído

posteriormente na década de 60 com aço não ligado que, devido ao avançado grau de deterioração do betão armado, já

não se encontra em uso [2].

Nos últimos anos tem-se assistido a uma expansão da utilização de armaduras de ligas de aço inoxidável austenítico e

austeno-ferrítico, com diversos exemplos de aplicação em todo o mundo, havendo já suporte adequado em documentos

normativos [3]-[6]. Contudo, a utilização do aço inoxidável no betão armado pelas competentes entidades gestoras e

empresas do setor da construção beneficiará da existência de um documento regulador europeu que se encontra em

preparação [7].

A principal desvantagem apontada ao uso do aço inoxidável no betão armado continua a ser o seu elevado custo,

relativamente ao custo do aço não ligado. Com o propósito de minorar esta desvantagem, têm sido desenvolvidas novas

ligas de aço inoxidável mais económicas utilizando o manganês como elemento estabilizador da austenite [8]. A

avaliação da resistência à corrosão e a caracterização das propriedades do aço inoxidável estão subjacentes a estes

desenvolvimentos, registando-se neste domínio um grande potencial de inovação.

Na seleção de uma liga de aço inoxidável deverá ser ponderada a agressividade ambiental, a resistência à corrosão, e os

requisitos de tempo de vida previstos. No que se refere ao projeto, na prática registam-se algumas alterações na

conceção de estruturas de betão armado duráveis sendo admitidas alterações nos requisitos de durabilidade do betão,

tais como redução da espessura do recobrimento do betão e aumento da espessura da fissuração admissível na superfície

do betão [9]. Estas alterações ao serem adotadas, considerando a especificidade dos requisitos nacionais (anexo nacional

EN 1992-1-1:2004 [6]), em paralelo com a adequada utilização do aço inoxidável, poderão contribuir para o

desenvolvimento de soluções eco eficientes na reabilitação do património construído.

Adicionalmente, a construção e a reabilitação deverão integrar metodologias harmonizadas de modelação e avaliação de

desempenho durante o ciclo de vida das estruturas. Assim, o conhecimento resultante da recolha sistemática de

informação, no que concerne os processos de degradação e o comportamento estrutural do aço inoxidável, contribuirá

para o estabelecimento de indicadores de desempenho, calibração de modelos e para o desenvolvimento de métodos,

modelos e ferramentas essenciais para inovar no setor da construção através da utilização eficiente do aço inoxidável.

2.1.2 Resistência à corrosão do aço inoxidável no betão

Duma forma geral o aço inoxidável revela uma excelente resistência à corrosão localizada no betão. Esta é evidenciada

por referências a valores de teores críticos de cloreto mais de 10 vezes superior aos determinados para o aço não ligado

[1]. Mesmo em situações de eventual carbonatação do betão em simultâneo com a presença de cloretos, apesar do seu

teor crítico sofrer uma redução apreciável, o aço inoxidável apresenta uma resistência à corrosão superior à do aço não

ligado.

Também a maioria das novas ligas produzidas com baixo conteúdo em níquel tem revelado boa resistência à corrosão,

apesar de ligeiramente inferior à exibida pelas ligas austeníticas convencionais especialmente sob condições muito

agressivas que envolvam a ação simultânea de iões cloreto e da carbonatação do betão [1],[10],[11].

Uma outra vantagem na utilização do aço inoxidável no betão é a reduzida suscetibilidade à ocorrência de corrosão

uniforme, com a consequente diminuição das forças expansivas resultantes dos produtos de corrosão e redução

significativa de fissuração e delaminação do betão.

M. J Correia e M. M. Salta, Aço inoxidável na construção e reabilitação sustentáveis

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Inúmeros fatores têm sido referidos como sendo críticos para a resistência à corrosão por picada do aço inoxidável no

betão, nomeadamente a composição química e microestrutura da liga e respetiva adequabilidade às condições

ambientais e a condição superficial da armadura. Em particular, o aumento de rugosidade, a diminuição de pH e a

soldadura registam efeitos adversos na resistência à corrosão do aço inoxidável no betão [1],[12],[13]. Os mecanismos

de ação destes fatores são normalmente correlacionados com as propriedades dos filmes de passivação, cuja estabilidade

determina a elevada resistência à corrosão do aço inoxidável.

A corrosão localizada também pode ser potenciada por condições de exposição diferenciadas, tais como a formação de

microambientes em fendas [13]. Consequentemente, a fissuração do betão por degradação química associada a reações

de natureza expansiva aumentará a suscetibilidade do aço inoxidável a corrosão localizada, designadamente à corrosão

intersticial.

Um outro fator crítico no desempenho destas ligas é a ação de tensões que podem, em simultâneo com condições que

promovam a suscetibilidade à corrosão, provocar a ocorrência de corrosão sob tensão. O risco de corrosão sob tensão, já

demonstrado especialmente para ligas de elevado teor em manganês em meio alcalino [14], constituiu ainda objeto de

investigação para a melhoria de conhecimento necessária neste domínio.

Em particular, na reabilitação em que se determine a utilização seletiva do aço inoxidável, ainda que previsivelmente

que não seja grave, é atualmente recomendável que seja evitada a ligação entre o aço inoxidável e o aço não ligado, pois

os estudos disponíveis na literatura não são consensuais quanto ao risco associado às consequências dos efeitos

galvânicos, especialmente no que se refere à sua influência na resistência à corrosão do aço não ligado no betão.

2.2Mitigação da corrosão em estruturas metálicas

A degradação dos metais nas estruturas metálicas também pode comprometer o seu desempenho e, em casos mais

graves comprometer a função e/ou segurança da estrutura. Assim, o conhecimento dos processos e mecanismos de

degradação das ligas metálicas, em condições normais de funcionamento, bem como das suas causas mais comuns e

consequências, é essencial para se definirem medidas que garantam a durabilidade e o bom desempenho das estruturas

durante o seu tempo de vida útil [15].

A fadiga e corrosão, como principais mecanismos de degradação das estruturas de aço, devem estar bem patentes na

conceção de estruturas novas e na reabilitação das estruturas existentes. Neste contexto é essencial a utilização de

ferramentas de caracterização e previsão dos efeitos dos mecanismos de degradação na integridade das estruturas, sendo

então fundamental o conhecimento destes processos.

Em particular, os impactos sociais, económicos e ambientais dos danos por corrosão e dos sistemas de proteção que são

essenciais para a preservação duma estrutura metálica podem justificar, em certas circunstâncias de especial

agressividade ou de acesso limitado, a implementação de medidas preventivas adicionais da corrosão. O aço inoxidável

pode surgir então como alternativa ao aço não ligado para elementos ou estruturas para os quais se pretenda um longo

tempo de vida com pouca manutenção ou que sejam construídos em ambientes especialmente agressivos.

2.2.1 Construir em aço inoxidável

O aço inoxidável forma espontaneamente na sua superfície uma fina camada de óxidos, estável e aderente na maioria

dos ambientes, que proporciona uma barreira protetora eficaz e que confere a este tipo de aços uma excelente resistência

à corrosão, não sendo necessária nem recomendável a aplicação de outros meios de proteção correntes em estruturas

metálicas.

Aplicações típicas incluem coberturas, fachadas, elementos estruturais, elementos compósitos, sistemas de fixação e

equipamento diverso. O aço inoxidável proporciona várias geometrias e acabamentos e permite beneficiar da supressão

da necessidade de revestimentos protetores e de significativa manutenção. As ligas austeníticas são as mais

comummente utilizadas no setor da construção, se bem que em ambientes particularmente agressivos sejam

recomendáveis as ligas austeno-ferríticas (duplex). As ligas ferríticas também podem ser adequadas, em particular para

utilização em interiores.

M. J Correia e M. M. Salta, Aço inoxidável na construção e reabilitação sustentáveis

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O desenvolvimento de um projeto com aço inoxidável rege-se por requisitos específicos Europeus harmonizados

[16],[17]. Contudo, dada a sua aplicação geral a diferentes formas e materiais de construção, é necessária com

frequência a especificação de requisitos adicionais específicos para um projeto em particular. Estes requisitos

específicos estão na base de práticas construtivas informadas e eficientes com aço inoxidável integrando produtos de

elevada qualidade e potenciando a sua durabilidade nas diferentes fases construtivas.

Apesar de os procedimentos serem de aplicação genérica, as diferentes propriedades, a relevância do acabamento e as

próprias práticas construtivas implicam especificações adicionais para que se garanta uma utilização durável, eficiente e

robusta do aço inoxidável. Em particular, os produtos [18]-[21] encontram-se ao abrigo de especificações

harmonizadas, porém a diversidade de ligas [22] e acabamentos existentes obriga a que a resistência à corrosão e

necessidades de manutenção (limpeza) sejam integradas com a função e as condições de exposição ambiental para que

se otimize a utilização do aço inoxidável.

O aço inoxidável pode ser especialmente suscetível a mecanismos de corrosão localizada, nomeadamente corrosão por

picada, corrosão intersticial, corrosão galvânica e corrosão sob tensão especialmente a temperaturas elevadas. O projeto

e detalhe de sistemas integrando o aço inoxidável deverão ser cuidados para que se previna a existência de fendas e a

retenção de detritos e humidade, sendo aconselhável potenciar diferentes formas de limpeza natural. Falha na soldadura

poderá comprometer o desempenho do aço inoxidável e em particular a sua resistência à corrosão, devendo assim os

procedimentos e consumíveis de soldadura ser regulados por requisitos específicos e a ligação ser executada por mão-

de-obra qualificada, integrando um conjunto de processos de tratamento superficial e de inspeção.

Um outro fator especialmente relevante no projeto e detalhe é a prevenção da corrosão galvânica que pode ter graves

consequências, especialmente para a liga menos nobre. O risco de corrosão galvânica aumenta tanto com o aumento da

diferença de potencial entre as ligas em contacto elétrico como com o aumento da proporção relativa dos componentes

do par. Em particular, não se devem utilizar fixações de ligas menos nobres em contacto com elementos de aço

inoxidável. O recurso a sistemas de isolamento é recomendável sempre que não se possa evitar a utilização de diferentes

ligas metálicas.

O aço inoxidável requer também precauções durante fabricação, transporte e aplicação para que se evitem danos,

marcas e manchas superficiais que possam afetar a capacidade autoregeneradora do filme de passivação protetor.

Ferramentas, acessórios e maquinaria devem ser específicos ou devidamente cuidados para que se previna a

contaminação com outros materiais evitando os respetivos efeitos e consequente aumento de vulnerabilidade à

deterioração localizada do aço inoxidável.

3. CONCLUSÕES

O setor da construção necessita do desenvolvimento e utilização de materiais com bom desempenho, tal como o aço

inoxidável, que permitam a construção de estruturas duráveis e robustas por um longos tempos de vida com baixos

requisitos energéticos. Contudo, são necessários documentos reguladores harmonizados e ainda a melhoria do

conhecimento sobre a durabilidade e ciclo de vida das soluções integrando as diferentes ligas de aço inoxidável para que

as entidades relevantes façam escolhas mais sustentáveis e robustas para as suas estruturas.

De facto para que o setor da construção se alinhe com as atuais prioridades da União Europeia é crucial explorar as

potencialidades das propriedades dos materiais para simultaneamente inovar e melhorar o desempenho de soluções de

construção e reabilitação promissoras. A especificação da liga de aço inoxidável para a obtenção de estruturas duráveis,

sustentáveis e robustas deverá ser simplificada pelo desenvolvimento de documentos específicos harmonizados.

Apesar de existirem ou estarem atualmente em desenvolvimento normas Europeias e documentos integrando

recomendações para a utilização do aço inoxidável na construção, a inexistência de normas específicas para apoio à

conceção de soluções construtivas particulares dificulta a tomada de decisão das entidades relevantes para

implementação de novas soluções que, sob determinadas circunstâncias, numa perspetiva de custos diretos de

construção são ainda mais onerosas.

M. J Correia e M. M. Salta, Aço inoxidável na construção e reabilitação sustentáveis

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As condicionantes enumeradas constituem entraves à inovação e desenvolvimento do setor da construção

nomeadamente no que se refere à utilização eficiente e informada de materiais duráveis, tal como o aço inoxidável,

integrando todos os benefícios a si associados.

4. REFERÊNCIAS

[1] Correia, M. J.; Ramón Nóvoa, X.; Salta, M. M., “Smart & green structural and repair materials: TR 1 – Stainless

steel rebars”, LNEC, Lisbon, 2012.

[2] ARMINOX, Pier in Progreso, Mexico: Evaluation of the Stainless Steel Reinforcement, March 1999,

www.arminox.com.

[3] BS 6744:2001 + A2:2009 -“Stainless steel bars for the reinforcement of and use in concrete. Requirements and test

methods”.

[4] ASTM A955/A955M-04 – “Deformed and plain stainless steel bars for concrete reinforcement”.

[5] EN 10088-5:2009 –“Stainless steels. Technical delivery conditions for bars, rods, wire, sections and bright

products of corrosion resisting steels for construction purposes”.

[6] EN 1992-1-1:2004 – “Eurocode 2: Design of concrete structures – Part 1-1: General rules and rules for buildings”.

[7] ECISS/TC19/SC1/WG6 preliminary European standard draft.

[8] EC-HIPER Project -“Increased infrastructure reliability by developing a low cost and high performance stainless

steel rebars”, GDR1-2000-25601, EC, HIPER Project final report, 2005.

[9] EN 206: 2013- “Concrete. Specification, performance, production and conformity”.

[10] García-Alonso, M. C. et al., “Corrosion behaviour of innovative stainless steels in mortar”, Cement and Concrete

Research, 37, 2007, pp. 1562-1569.

[11] García-Alonso, M. C. et al., “Corrosion behaviour of new stainless steels reinforcing bars embedded in concrete”,

Cement and Concrete Research, 37, 2007, pp. 1463-1471.

[12] Correia, M. J.; Fonseca, I. T. E.; Salta, M. M., “Corrosion resistance evaluation of welded stainless steels in

concrete”; MEDACHS 10, La Rochelle, 28-30 April 2010.

[13] Correia, M. J.et al., “Corrosion resistance of stainless steel reinforcements in cracked concrete”; MEDACHS 08,

LNEC, Lisbon, 2008.

[14] Correia, M. J. e Salta, M. M., “Stress corrosion cracking of austenitic stainless steel alloys for reinforced

concrete”; Advanced Materials Forum III - Materials Science Forum 514-516, 2006,pp. 1511.

[15] Correia, M. J. et al., “DURATINET Technical guide - Maintenance and repair of transport infrastructures: Part III

- Steel structures”, Vol 2 - Deterioration, 1st ed., LNEC, Lisbon, 2012, ISBN 978-972-49-2237-9.

[16] EN 1993-1-4:2006 - “Eurocode 3: Design of steel structures - Part 1-4: General rules - Supplementary rules for

stainless steels”.

[17] EN 1090-2:2008+A1:2011 – “Execution of steel structures and aluminium structures. Technical requirements for

steel structures”.

[18] EN 10088-4:2009 – “Stainless steels. Technical delivery conditions for sheet/plate and strip of corrosion resisting

steels for construction purposes”.

[19] EN 10088-5:2009–“Stainless steels. Technical delivery conditions for bars, rods, wire, sections and bright

products of corrosion resisting steels for construction purposes”.

[20] EN 10297-2:2005 – “Seamless circular steel tubes for mechanical and general engineering purposes. Technical

delivery conditions. Stainless steel”.

[21] EN 10296-2:2005–“Welded circular steel tubes for mechanical and general engineering purposes. Technical

delivery conditions. Stainless steel”.

[22] EN 10088-1:2014 –“Stainless steels. List of stainless steels”.