aço brasil: uma viagem pela indústria do aço

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Até ser finalizado, o livro Aço Brasil: uma viagem pela indústria do aço, realizadocom recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura, atravessou um longo percurso.Primeiramente, foi realizada extensa pesquisa sobre a história do setor do aço brasileiro,sendo consultada bibliografia referente ao tema e ainda periódicos que tratavamdo assunto. Somados a isso, foram realizadas 23 entrevistas com lideranças dosetor e especialistas na área, a fim de compreender e ampliar o conhecimento daspeculiaridades da indústria do aço. Documentos estatais também foram pesquisadospara o esclarecimento das políticas governamentais estabelecidas ao longo dos anospara a produção do aço no país. A partir do material coletado foi possível desenvolverum texto que contasse a história da indústria do aço no Brasil desde a épocacolonial até os dias atuais. O livro percorre todo esse período, tendo como foco aatividade siderúrgica, sem deixar de lado o contexto político, social e econômicovivenciado pelo Brasil.

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  • Belo Horizonte, Novembro de 2013

    AoBrasiluma viagem pela indstria do ao

  • 9apresentao

    At ser finalizado, o livro Ao Brasil: uma viagem pela indstria do ao, realizado com recursos da Lei Federal de Incentivo Cultura, atravessou um longo percurso.

    Primeiramente, foi realizada extensa pesquisa sobre a histria do setor do ao brasi-leiro, sendo consultada bibliografia referente ao tema e ainda peridicos que trata-vam do assunto. Somados a isso, foram realizadas 23 entrevistas com lideranas do

    setor e especialistas na rea, a fim de compreender e ampliar o conhecimento das

    peculiaridades da indstria do ao. Documentos estatais tambm foram pesquisados

    para o esclarecimento das polticas governamentais estabelecidas ao longo dos anos

    para a produo do ao no pas. A partir do material coletado foi possvel desen-volver um texto que contasse a histria da indstria do ao no Brasil desde a poca

    colonial at os dias atuais. O livro percorre todo esse perodo, tendo como foco a

    atividade siderrgica, sem deixar de lado o contexto poltico, social e econmico

    vivenciado pelo Brasil.

    As mudanas ocorridas no pas nesses mais de 510 anos foram muitas. Ao longo

    desse perodo a produo de ao se estabeleceu e se desenvolveu, alcanando hoje

    um padro internacional de excelncia. Se antes as empresas do setor tinham uma

    produo pequena e mais voltada para o mercado interno, no sendo capazes de

    produzir artigos mais elaborados, atualmente o cenrio muito diferente. Elas so

    capacitadas e possuem tecnologia avanada, estando aptas a produzir o ao que o

    pas demanda. O livro procura assim abordar diversos aspectos dessas mudanas

    vivenciadas pela indstria do ao com o objetivo de enriquecer o conhecimento

    sobre o assunto.

    Escritrio de Histrias

  • 11agradecimentos

    Grande foi o desafio de escrever um livro sobre a histria do ao no Brasil. O pe-rodo era extenso e o tema bastante complexo, mas para realizar essa empreitada

    contamos com o suporte tcnico de conhecedores do setor que nos brindaram com

    os seus depoimentos e a eles gostaramos de agradecer:

    Albano Chagas Vieira Diretor Superintendente da Votorantim;

    Alexandre de Campos Lyra Diretor Geral da Vallourec;

    Antnio Delfim Netto Ex-Ministro da Fazenda;

    Boaventura Mendona DAvila Filho - Scio-Diretor da Setepla Tecnometal En-genharia Ltda;

    Clnio Guimares - Presidente da Aperam South America;

    Cristina Yuan - Diretora de Assuntos Institucionais do Instituto Ao Brasil;

    Ethienne Vidaurre Poubel Engenheiro Metalrgico aposentado que trabalhou no BNDES, no Instituto Ao Brasil, no Consider e no grupo Gerdau;

    Fabiano Jos Horcades Pegurier - Professor do Ibmec;

    Fred Woods de Lacerda - Ex-secretrio geral do Instituto Ao Brasil;

    Germano Mendes de Paula - Professor Associado do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlndia (UFU);

    Horacdio Leal Barbosa Filho Diretor Executivo da Associao Brasileira de Metalurgia, Materiais e Minerao;

    Ivo Alves Ribeiro editor do caderno Empresas do jornal Valor Econmico, edi-tor de indstria e infraestrutura;

    Jos Armando de Figueiredo Campos - Presidente do Conselho de Administrao da ArcelorMittal Brasil;

    Jorge Luiz Ribeiro de Oliveira CEO da ThyssenKrupp Companhia Siderrgica do Atlntico;

    Jorge Gerdau Johannpeter - Presidente do Conselho de Administrao do Grupo Gerdau;

    Luiz Andr Rico Vicente Ex-Presidente da Gerdau;

    Marco Polo de Mello Lopes - Presidente Executivo do Instituto Ao Brasil;

    Marcus Vincius Pratini de Moraes Ex-Ministro a Indstria e Comrcio;

    Maria Slvia Bastos Marques Ex-Presidente da CSN e atual Presidente da Em-presa Olmpica;

    Paulo Villares Ex-proprietrio da Aos Villares;

    Rudolf Robert Buhler Ex-Diretor Tcnico do Instituto Ao Brasil;

    Vilmar Ferreira - Presidente do Grupo Ao Cearense;

    Wilson Nlio Brumer Ex-Presidente da Usiminas e atual Scio da GRP Ges-to de Recursos e Participaes.

  • 13amilcar de castro

    Dobrar o ao

    Com arte

    Cortar o ao

    Com arte

    Domar o ao

    Com arte,

    Com arte Amilcar de Castro fez do ao matria malevel e, com ao ele

    comps obras nicas que se integram perfeitamente ao concretismo das cidades,

    ao urbano nosso de cada dia, por onde ns os mortais, transitamos e vivenciamos o

    cotidiano emoldurado por suas esculturas de ao.

    Neste livro que narra a histria do ao no Brasil, rendemos nossa homena-gem ao artista Amilcar de Castro. Abrimos cada uma das cinco partes do livro com

    imagem de uma de suas obras, instaladas em Belo Horizonte. Duas delas modelam

    os espaos pblicos da Pampulha e do Sion e as outras trs identificam as instituies

    Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, Cmara Municipal de Belo Hori-zonte e Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais.

    Contando com arte a histria do ao, a nossa homenagem a Amilcar de Castro.

    Escritrio de Histrias

  • NEVES, Osias Ribeiro; CAMISASCA, Marina Mesquita

    Ao Brasil : uma viagem pela indstira do ao

    Belo Horizonte: Escritrio de Histrias, 2013.

    192 p.

    ISBN 978-85-87981-48-6

    1-Ao 2-Histria 3-Memria 4-Indstria

    Av. Brasil, 1831, Salas 411 e 412 - Bairro FuncionriosBelo Horizonte - MG - CEP 30140-002

    Telefone: (31) 3262-0846www.escritoriodehistorias.com.breh@escritoriodehistorias.com.br

  • Coordenao grfica e editorial

    Osias Ribeiro Neves

    Redao Final

    Marina Camisasca

    Osias Ribeiro Neves

    Reviso de contedo

    Rudolf Robert Buhler

    Entrevistas

    Marina Camisasca

    Osias Ribeiro Neves

    Redao

    Lusa Gontijo

    Marina Camisasca

    Osias Ribeiro Neves

    Thiago Enes

    Reviso

    Slvia Maria Cardoso Goulart

    Coordenao de pesquisa histrica, documental e iconogrfica

    Marina Camisasca

    Projeto grfico, diagramao e tratamento de imagens

    Aline Pereira (Silpe Design)

    Capa

    Instituto Ao Brasil

    Assessoria Jurdica

    Drummond e Neumayr Advocacia

    Gesto Financeira e Prestao de Contas

    Artmanagers - Drummond Consultores Associados

    Fotos

    Acervo Instituto Ao Brasil / Acervo do Senado Federal / Acervo da Cmara dos Deputados

    Acervo Fundao ArcelorMittal / Arquivo Pblico do DF / Arquivo Pblico Mineiro

    Aline Pereira / Isabella Verdolin Neves / Osias Ribeiro Neves / Ricardo Avelar

    Denise Ricardo / Dreamstime / Istock / Photos / SXC

  • Parte 1 Antecedentes histricos do ao no Brasil

    O despertar do Brasil 21As primeiras iniciativas na produo de ferro 26

    A produo de ao na Colnia 26

    O perodo imperial 34

    O Brasil Repblica e a produo do ao 39O Brasil do trem de ferro 39

    O Brasil Repblica e a indstria 43

    Os conturbados anos 20 e o surgimento da Cia Siderrgica Belgo-Mineira 49A Revoluo de 30 e as grandes mudanas no pas 56

    Os primeiros sinais de mudana 56

    O avano industrial e siderrgico 58

    A construo da Usina de Monlevade pela Belgo-Mineira 60

    O Estado Novo (1937 1945) e o desenvolvimento da siderurgia brasileira 62

    Criao do Plano Siderrgico Nacional 62

    Criao da CSN - Companhia Siderrgica Nacional 64

    Criao da Companhia Vale do Rio Doce 67

    Criao da Acesita 68

    Criao da ABM Associao Brasileira de Metalurgia, Materiais e Minerao 69

    A entrada do Brasil na 2 Guerra Mundial e a deposio de Vargas 70

    Parte 2 Impulso Desenvolvimentista: de Dutra ao golpe

    A gesto de Eurico Gaspar Dutra 75Os primeiros anos da dcada de 1950 77O retrato de Vargas de volta parede 80A instalao da Mannesmann em Belo Horizonte 84Juscelino Kubitscheck, presidente desenvolvimentista 88Braslia de ao, concreto e arte 92O incio dos anos 60 e as mudanas no Brasil 96

    Jnio Quadros e a crise poltico-institucional 98

    Criao do IBS Instituto Brasileiro de Siderurgia 99As cidades que se desenvolveram em torno do ao 102

    Joo Monlevade (MG) 102

    Ipatinga e Timteo (MG) 103

    Volta Redonda (RJ) 104

    Cubato (SP) 105

  • Parte 3 Golpe civil-militar, crescimento e crises

    O ano de 1964 109Os reflexos da mudana de regime na economia e na indstria do ao 110

    A atuao do Consider 113

    O perodo do Milagre Econmico 116

    A atuao do IBS 119

    Os anos 1980, as crises econmicas e os movimentos pela redemocratizao do pas 124Antecedentes 124

    A crise: PIB negativo e inflao crescente 126

    O setor siderrgico na dcada de 1980 127

    O movimento pelas Diretas J e o fim do regime de exceo 130

    O governo Sarney e o Plano Cruzado 131

    Parte 4 Mudanas poltico-econmicas e o setor de ao

    O desastroso Plano Brasil Novo 137

    A desregulamentao da economia e a abertura internacional 139

    Privatizao e reestruturao da indstria siderrgica 142

    O impeachment de Collor e o governo Itamar Franco 146

    As privatizaes no governo Itamar Franco 147

    Plano Real a nova aposta do pas 150

    O governo FHC e as mudanas na indstria do ao 152

    Sustentabilidade e o setor do ao 156

    Parte 5 Novos tempos para a indstria do ao

    Os governos de Lula e Dilma 165 A guinada para o social e preservao da poltica econmica 165

    A poltica industrial dos governos Lula e Dilma 167

    O papel do BNDES 169

    Setor de ao no incio do sculo XXI 172Ao, um segmento cclico 176

    Nem a crise tira o otimismo da siderurgia brasileira 180Os prximos anos: os desafios do setor siderrgico 186

    Dados Consolidados do Setor do Ao - Ano 2012 188

  • Parte1Antecedentes histricos do ao no Brasil

  • Obra de Amilcar de Castro localizada no Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais. Licenciado por inARTS.com.

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  • A carruagem estaciona junto oficina na Rua dos Ferradores em pleno centro do Rio de Janeiro. O ferreiro termina o servio em um dos carros em manuteno e atende ao cocheiro. A demanda do chegante pelo conserto no eixo das rodas e pela troca das ferraduras do animal que empresta sua fora motriz ao carro. O servio na carruagem, vinda de Portugal, no poder ser executado em virtude da falta de ferro para reparar a pea. O motivo a proibio da instalao de fbricas de ferro na Colnia desde 1785 e os importados no mais atendiam aquecida demanda.

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  • 21Antecedentes histricos do ao no Brasil Parte 1

    Jean-Baptiste Debret, Guaratuba, 1827.

    1 Em 1798 a Colnia contabilizava uma po-pulao de 3.250.000, formada por brancos, ndios, pardos e negros, esses representavam 41% do contingente populacional. Em 1819, a populao aumen-tou 35%, chegando a 4.396.000, sendo que os brancos representavam 56%. (SIMONSEN, Ro-berto. Histria econmi-ca do Brasil (1500/1820). So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969. p.271.

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    lico]

    Estamos no incio do sculo XIX e a Famlia Real desembarca no Rio, trazendo o

    Prncipe Regente de Portugal, sua esposa e filhos, sua me, a rainha Maria I, a Louca,

    a nobreza e ainda um contingente estimado em 15 mil pessoas. Contam que, para

    abrigar a Famlia Real e parte da corte, escolheram-se as melhores casas da cidade,

    marcando-as com as iniciais PR, o que significava Prncipe Regente, mas que - no

    popular - foi traduzida para Ponham-se na Rua. O acrscimo populacional na ci-dade do Rio de Janeiro foi de 20% de uma s vez, fato que mudaria em definitivo a

    sociedade local, que, alm de se adaptar nova realidade da Colnia como centro

    decisrio do governo portugus, teve de ajudar a acomodar a Corte e se preparar

    para vivenciar mudanas no dia a dia.

    Projetos como abertura de vias mais largas, construo de habitaes, criao de novos

    espaos urbanos, bem como a implementao da infraestrutura de servios, levariam

    formao institucional do Brasil como nao de lngua portuguesa nas Amricas.

    Essas mudanas faziam do Rio de Janeiro uma cidade em ebulio expansionista. Era

    preciso criar condies para atender populao que crescia desde o final do sculo

    XVIII e, com a transferncia da Famlia Real, essa realidade ganhava novo contorno e

    as necessidades ampliavam-se exponencialmente.1

    O despertar do Brasil

  • Ao Brasil: uma viagem pela indstria do ao22

    A realeza trouxe consigo, alm da cultura portugue-sa, seus hbitos dirios, que muitas vezes no se

    adequavam ao clima do Rio de Janeiro. Vieram

    tambm o tesouro nacional, bibliotecas intei-ras com milhares de livros, acervos, utens-lios domsticos, louas, ferramentas, objetos

    de arte, joias, mveis de arruar, entre eles,

    liteiras, traquitanas, berlindas e carruagens.

    Chegaram ainda a criadagem e muitos pro-fissionais, como costureiras, alfaiates, bar-beiros, cozinheiros, religiosos, funcionrios

    da Corte, militares e oficiais especializados

    em forjaria. O que eles encontraram foi uma

    cidade pobre e desorganizada, uma urbaniza-o catica e, mesmo diante da beleza natural do

    Rio de Janeiro, o modus vivendi chocava os chegan-tes, que deixaram Lisboa e a cidade do Porto diante

    da ameaa de invaso por Napoleo Bonaparte: Jean-Baptiste Debret, Carlota Joaquina e D. Joo VI. Viagem Pitoresca e Histria ao Brasil, 1835.

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    Johann Moritz Rugendas, Vista da Igreja So Bento, Rio de Janeiro/RJ.

  • 23Antecedentes histricos do ao no Brasil Parte 1

    Em 1808, o Rio de Janeiro tinha apenas 75 logradouros pblicos, sendo 46 ruas, quatro travessas, seis becos e dezenove largos. Os nomes das ruas ajudam a explicar sua atividade: Praia do Sapateiro (atual Praia do Flamengo), Rua dos Ferradores (atual Alfndega), Rua dos Pescadores (Visconde de Inhama) e Rua dos Latoeiros (Gonalves Dias). A via principal era a Rua Direita, atual Primeiro de Maro. Ali ficava a casa do governador, a alfndega e, mais tarde, o Convento do Carmo, a Casa da Moeda e o prprio Pao Real.2

    Louis Claude Desaulces de Freycinet, Vista da sala de espetculos da Praa do Rocio (atual Praa Tiradentes, Rio de Janeiro). Viagem ao redor do mundo. Paris, 1825.

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    ]portos s naes amigas aumentou em mais de 100% o

    movimento de embarcaes. Ruas do centro ganharam

    lojas de artigos franceses, perfumarias, tabacarias, joa-lherias e demais estabelecimentos que atendiam elite

    portuguesa. A mudana de hbitos no vestir e no com-portamento dos moradores com a presena de tantos

    europeus no Brasil era visvel. A pequena elite se alinha-va aos costumes oriundos do outro lado do Atlntico.

    Entre 1808 e 1820, o Brasil se estruturou com a criao

    do Banco do Brasil,3 do Jardim da Aclimao, futuro Jar-dim Botnico, da Imprensa Rgia e do Arquivo Central,

    A escolha pelo Brasil aconteceu por motivos evidentes:

    alm de ser a maior Colnia em termos territoriais e de

    se localizar geograficamente fora do alcance de Napo-leo, era a que proporcionava maior lucro Coroa, ge-rado pela intensa explorao de seus recursos naturais.

    Na Colnia das Amricas, os portugueses poderiam es-truturar uma nova vida, mais prxima possvel dos pa-dres vividos em sua terra natal.

    As aes imediatas tomadas pelo Prncipe Regente mu-dariam definitivamente o da Colnia. A abertura dos

    2 GOMES, Laurentino. 1808, Como uma rai-nha louca, um prncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleo e mudaram a Histria de Portugal e do Brasil. So Paulo: Plane-ta, 2008. p. 161.

    3 O Banco do Brasil serviu de suporte s medidas econmicas adotadas por Dom Joo VI, entre elas a proibio do ouro em p como moeda. Criou a moeda de prata de 960 ris (o Pataco), carimbando e cunhando novamente moedas estrangeiras com peso de 27 g, cuja cotao girava entre 750 e 800 ris; uniformizou o meio circulante, colocan-do o carimbo de escude-te em todas as moedas com mesmo material e peso que tinham valores diferentes; emitiu notas ao portador com valores acima de 30.000 ris, que so consideradas as primeiras cdulas de di-nheiro do Brasil. (http://www.brasil.gov.br/linha-dotempo/epocas/1808/a-familia-real-portuguesa-no-brasil#0. Acesso em 5 de junho de 2013.)

  • Ao Brasil: uma viagem pela indstria do ao24

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    onde se reuniu boa parte dos documentos que retrata-vam a Colnia, como mapas, projetos, entre outros. Foi

    criada ainda a Biblioteca Real com mais de 60 mil livros

    trazidos de Portugal, a escola Militar e a de Belas Artes;

    as academias de Medicina, da Marinha, de Desenho, de

    Pintura e de Escultura.

    O Brasil entrou na moda como polo de pesquisa e de

    interesse da comunidade internacional. Pesquisadores

    naturalistas, que detinham os conhecimentos de botni-ca, geologia, zoologia, geografia e mineralogia empreen-deram diversas expedies ao Brasil, fazendo narrativas

    importantes sobre a flora, a fauna, a geografia e as rique-zas brasileiras, que se tornaram verdadeiras obras de arte

    e que nos encantam at hoje por suas belas e completas

    descries e ilustraes. A chegada e a permanncia da

    Famlia Real significaram o despertar da nao e assenta-ram as bases para a construo do Brasil.

    Frederico Guilherme Briggs, Vista do Rio de Janeiro (detalhe), litografia, 1837. Coleo Geyer, Rio de Janeiro/RJ.

    Jardim Botnico de Belo Horizonte/MG.

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  • 25Antecedentes histricos do ao no Brasil Parte 1

    J. Steinmann, Largo do Pao, in: Souvenirs de Rio de Janeiro, 1834.

    Os atos de D. Joo VI demonstravam a sua inteno de aqui fundar, sem restries, esse imprio. A abertura dos portos, a revogao da lei que proibia indstrias no Brasil, a fundao do nosso pri-meiro Banco, a iseno de direitos para as matrias-primas, de que necessitasse a indstria nacional, a iseno de imposto para novas culturas de especiarias e lavouras s margens das novas estradas, a introduo de colonos estrangeiros e a extenso aos aliengenas do direito de propriedade e outros, o fomento minerao do ouro e do ferro, a abertura de novas estradas, a concesso aos lavrado-res do privilgio de no serem executados na propriedade de seus engenhos, fbricas e lavouras e somente em uma parte de seus rendimentos. (Alvar de 21 de janeiro de 1809), tudo isso, foram demonstraes inequvocas de to elevado desgnio.4

    4 SIMONSEN, Roberto. Histria econmica do Brasil (1500/1820). So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969. p.432-433.

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  • Ao Brasil: uma viagem pela indstria do ao26

    As primeiras iniciativas na produo de ferroA produo de ao na ColniaAs primeiras iniciativas de produo de ferro na Colnia datam de 1532, quando

    Martim Afonso de Sousa nobre e militar portugus fundou a primeira vila do pas,

    a Vila de So Vicente5. Tal fato caracterizou o incio do processo de colonizao do

    Brasil. Parte do povoamento da capitania de So Vicente ocorreu devido procura

    dos colonos por ouro, prata e metais preciosos. Essa procura tambm foi essencial

    para descentralizar a colonizao e o povoamento da faixa litornea da Colnia,

    criando novas vilas pelo restante do territrio, at ento despovoado.

    Para sua capitania, o portugus Martim Afonso trouxe o mestre Bartolomeu Fernan-des, ferreiro contratado por Portugal com o intuito de suprir as necessidades desse

    metal para a expedio e para a Colnia. Por um perodo de aproximadamente dois

    anos, o ferreiro Bartolomeu se incumbiu da feitura de faces, enxadas, machados,

    anzis e ferramentas de todo o tipo, necessrias para os trabalhos rurais e para a

    montagem dos primeiros engenhos de acar, principal atividade econmica do in-cio da colonizao. Junto com alguns homens, Bartolomeu era capaz de produzir

    cerca de 100 kg de ferro em um nico dia. Ao final do contrato, o ferreiro fixou re-sidncia em So Paulo, tornando-se proprietrio do stio de Jeribs e instalando em

    Santo Amaro a primeira forja para produo de ferro no pas.

    Posteriormente, por volta de 1589, o bandeirante Afonso Sardinha deu incio in-dustrializao do ferro no Brasil. Ele e seu filho, que tambm se chamava Afonso

    Sardinha, encontraram minrio de ferro enquanto estavam procura de ouro e metal

    aos ps da Serra de Araoiaba, atual Morro de Ipanema, situado no estado de So

    Paulo. Sardinha era mestre na arte da fuso de metais, trabalhou na reduo do mi-nrio na atual regio de Sorocaba e acabou transmitindo o ofcio ao filho. Versados

    em minerao, pai e filho construram, no ano de 1591, uma pequena forja, que se

    tornou a primeira usina siderrgica reconhecida no Brasil6, prxima ao rio de Jeriba-tiba. Esse episdio s ocorreu nos EUA, segundo maior produtor mundial de ao da

    atualidade, no ano de 1646.

    O empreendimento dos Sardinhas representou o incio da indstria do ferro, mas,

    sem prosperar, encerrou suas atividades em aproximadamente 1628. O ferro pro-

    5 Tratava-se de uma homenagem a So

    Vicente Mrtir, um dos santos padroeiros

    de Lisboa, capital de Portugal. A homenagem

    ocorreu, porque 22 de janeiro o dia de So

    Vicente Mrtir.

    6 Reconhecido pela Associao Mundial de

    Produtores de Ao.

    Rocha bruta com minrio de ferro.

    [Pho

    tos]

  • 27Antecedentes histricos do ao no Brasil Parte 1

    7 A Sesmaria foi um instituto jurdico portu-gus que normatizava a distribuio de terras destinadas produo.

    8 IGLESIAS, Francisco. Carlos Bracher - Do ouro ao ao. Rio de Janeiro: Salamandra, 1992.

    Antiga forjaria.

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    duzido por eles no chegava fase lquida, sendo apenas transformado em ferro

    malevel, aquecido por carvo de madeira. Contudo o empreendimento conferiu a

    Afonso Sardinha o ttulo de Fundador da Siderurgia Brasileira.

    A partir do encerramento das atividades dessa usina, a siderurgia brasileira estagnou

    durante um perodo que durou at o sculo seguinte. Na regio onde a siderurgia

    teve incio com Afonso Sardinha, a produo de ferro foi reiniciada por Domingos

    Pereira Ferreira, em 1765, aps receber uma carta de sesmaria7. Domingos ergueu

    instalaes no Vale das Furnas, acima dos fornos construdos por Sardinha. Naquela

    poca, sua produo diria era de 60 kg de ferro coado ou gusa. A produo ocorreu

    por oito anos e, em 1772, a pequena fbrica foi desativada.

    Na Colnia, a falta de incentivo prevalecia. A Coroa portuguesa se ocupava uni-camente da arrecadao de impostos, com uma viso estritamente tributarista8.

    O descaso com o aprimoramento da infraestrutura era percebido quando agentes

    fiscais eram enviados Colnia em vez de engenheiros qualificados. Alm disso,

    [Pho

    tos]

    Lazarus Ercker. Formas para forja. Gravura, Sec. XVII.

  • Ao Brasil: uma viagem pela indstria do ao28

    Morro do Pilar/MG.

    as medidas oficiais cuidavam basicamente do ouro,

    interditando qualquer atividade industrial. Por conse- quncia do Pacto Colonial9, eixo da poltica mercanti-lista vigente na poca, cabia Colnia produzir ape-nas matria-prima, a ser transformada em produto final

    na Metrpole, fato que tambm desestimulava a inds-tria colonial. Graas descoberta de minrio de ferro

    na regio central da Capitania de Minas Gerais e sua

    explorao imediata, em meados do sculo XVIII, D.

    Rodrigo Jos de Meneses, Governador da Capitania,

    requereu Corte autorizao para a implantao de

    novas fbricas voltadas produo do material met-lico, a fim de obter implementos necessrios s ativi-dades de lavra. Apesar dos argumentos econmicos e

    9 Exclusividade eco-nmica entre o Brasil

    Colnia e sua Metrpole, Portugal.

    tcnicos - a regio era rica em reservas de minrios de

    ferro de alta qualidade e de florestas naturais para a

    fabricao de carvo vegetal - a resposta do Reino foi

    negativa. A solicitao, alm de negada, originou uma

    ordem da Rainha D. Maria I, datada de 1795, que no

    s tornava ilegal a instalao de novas fbricas produ-toras de ferro metlico na Colnia, como tambm

    mandava desativar as existentes. Tal medida foi tomada

    principalmente devido precoce industrializao que

    acontecia na regio das Minas Gerais. O alvar assina-do pela rainha permitia que a regio se dedicasse ape-nas explorao do minrio e s atividades elementa-res, o restante deveria ser importado, o que geraria um

    comrcio intenso e lucrativo para Portugal.

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  • 29Antecedentes histricos do ao no Brasil Parte 1

    10 e 11 SIMONSEN, Roberto. Histria econmica do Brasil (1500/1820). So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969. p. 446.

    A partir do alvar de D. Maria I, a explorao de me-tais se revelou insatisfatria. S era explorado o que

    se encontrava na superfcie, pois no havia recursos fi-nanceiros e tcnicos suficientes para a explorao de

    subsolos, at mesmo por conta da falta de engenheiros

    qualificados para o servio. Alm disso, a construo de

    estradas era proibida nessa poca, o que dificultava ain-da mais a explorao e o transporte das mercadorias. O

    descaso da Corte Portuguesa era somado carncia de

    lideranas empresariais com disponibilidade financeira

    para esse tipo de empreendimento, alm da escassez de

    mo de obra.

    Entretanto, o movimento renovador portugus levou

    Dom Joo VI a assumir o comando de Portugal como

    Prncipe Regente em 1792. Foi ele o responsvel por

    editar diversas cartas rgias ligadas ao negcio do ferro,

    como nos conta Roberto Simonsen: Em 19 de agosto

    de 1799, uma Carta Rgia ordenava ao Governador da

    Capitania Paulista, Bernardo Jos de Lorena, que insta-lasse, em local adequado, uma fbrica de ferro, a ex-pensas da Fazenda Real, e que o ferro produzido fos-se vendido com 10% apenas acima do seu custo.10 O

    mesmo autor narrou que a fbrica, por inabilidade de

    seus montadores, no conseguiu funcionar.

    A partir da Carta Rgia de 1799, que suspendeu as proi-bies da Rainha e estimulou a criao de fbricas e o

    processamento de ferro, pequenas forjas - ferrarias uti-lizando mtodo africano em cadinho, originrio da

    minerao de ouro - foram abertas. Que havia ferro,

    prova-o o fato de o governo real ter resolvido, em 1811,

    a instalao, em Minas, de uma fbrica de espingardas

    e baionetas.11

    Aps a chegada da Famlia Real no Rio de Janeiro, a

    produo de ferro e a instalao de fbricas ganharam

    espao. A primeira ao direcionada ao desenvolvi-mento da indstria siderrgica brasileira foi a iseno

    de tributos sobre as matrias-primas destinadas produ-

    o de ferro metlico. Alm disso, iniciativas pioneiras

    e de resultados significativos, porm sem continuidade,

    foram acontecendo aos poucos. Foi o caso da incipiente

    siderurgia em Minas, empreendida pelo Intendente C-mara no Morro do Pilar, em 1808.

    As cartas rgias funcionaram principalmente como ins-trumento da poltica econmica do agora Reino Unido

    de Portugal e Algarves. Por meio delas, D. Joo VI fazia

    concesses, estimulava a criao de fbricas e inves-tia dinheiro do errio Real em atividades produtivas e

    de infraestrutura. Ao mesmo tempo, trazia profissionais

    experientes e mais preparados para alavancar as ativida-des produtivas de que o Reino Unido carecia, inclusive

    para a produo de ferro. Frederico Luz Guilherme de

    Varnhagen foi o primeiro deles.

    Valerio Vieira. Pic-nic no alto do Itacolomy, 1891.

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  • Ao Brasil: uma viagem pela indstria do ao30

    Foi uma Carta Rgia datada de 10 de outubro de 1808 que autorizou Manuel Ferreira da Cmara, o Intendente Cmara, a utilizar recursos da Real Ex-trao de Diamantes, para criar uma indstria de ferro na regio do Serro Frio. A localidade escolhida foi o Morro do Gaspar Soares, no arraial de Morro do Pilar, situado no atual municpio de Conceio do Mato Dentro, em Minas Gerais. Desde o incio, o empreendimento no obteve xito em virtude de diversos fatores, como a escolha do local marcado pela escassez de gua, a construo deficiente das instalaes, entre outros. Entretanto foi construdo, no Morro do Pilar, o primeiro alto-forno do Brasil, sendo fundido gusa lquido pela primeira vez no Brasil, aproximadamente em 1813.12

    No mesmo perodo, foram construdas a Fbrica Patritica, erguida pelo Baro Eschwege em Con-gonhas, em 1812, e a Fbrica de So Joo do Ipa-nema, em So Paulo, pelo Coronel Varnhagen. A usina do Baro de Eschwege possua melhor lo-calizao, contudo a mo de obra desqualificada para as funes era um problema. Mesmo sendo

    12 Entre 1815 e 1821, a usina de Morro do Pilar produziu 6.863 arrobas de ferro, o equivalente

    a 100,8 toneladas, a um custo mdio de 6.450

    ris a arroba. Contudo, no mercado, o preo

    mdio da arroba era de 2.000 ris, o que torna-va o empreendimento

    deficitrio. Embora o In-tendente Cmara fosse minerador, metalurgista

    e mecnico, a usina no prosperou e funcionou

    at 1831, quando foi liquidada e seus bens

    foram vendidos.

    13 NEVES, Osias Ri-beiro; NEVES, Isabella Verdolin; CAMISASCA,

    Marina Mesquita. GMMLE: 50 anos da

    histria da metalurgia e da minerao em Minas Gerais. Belo Horizonte: Escritrio de Histrias,

    2011, p. 24.

    contrrio utilizao de escravos na produo, Eschwege no teve escolha e acabou empregando negros africanos no trabalho. Em 1821, o alemo deixou o Brasil e, um ano depois, a usina encer-rou as atividades.13 J Frederico Varnhagen foi en-carregado pelo governo de elaborar um projeto siderrgico no Rio Ipanema, prximo a Soroca-ba, regio que j havia sido explorada por Afonso Sardinha no sculo XVI. No entanto, revelia de Varnhagen, o governo contratou uma equipe sue-ca, chefiada por Carl Gustav Hedberg, para dirigir a futura empresa. Hedberg foi nomeado diretor daquela indstria, mais tarde denominada Real Fbrica de So Joo de Ipanema e Varnhagen pas-

  • 31Antecedentes histricos do ao no Brasil Parte 1

    14 GOMES, Francisco de Assis Magalhes. Histria da siderurgia no Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1983. p. 61.

    15 BOHOMOLETZ, Miguel de Lima. Breve histrico da indstria brasileira do ao. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janei-ro - Coordenao dos Programas de Ps-gra-duao em Engenharia, 1999. p IV.

    16 Entre 1815 e 1821 foram fabricados em Ipanema: 16.085 arrobas de ferro em barra, 12.589 de fonte moldada e 18.087 de fonte em lingotes. Verificouse um grande dficit nesse perodo. (SIMONSEN, Roberto. Histria econmica do Brasil (1500/1820). So Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969. p. 448.)

    17 IGLESIAS, Francis-co. Carlos Bracher - Do ouro ao ao. Rio de Janeiro: Salamandra, 1992. p. 19.

    sou a ser membro da Junta administrativa do es-tabelecimento como representante dos acionistas. As divergncias entre Hedberg e Varnhagen co-mearam logo no incio dos trabalhos, quando se discutia o programa da fbrica. O primeiro queria construir quatro fornos pequenos, j o segundo era a favor de se comear com dois altos-fornos. Em 1814, quando as instalaes foram conclu-das, j haviam sido gastos 120 contos de ris, mas a produo atingira somente 200 arrobas. Em face do enorme prejuzo, o governo decidiu despedir a equipe sueca e entregou a direo dos trabalhos a Varnhagen. Os suecos se retiraram sem maiores dificuldades e o novo diretor tomou posse no dia

    21 de fevereiro de 1815.14 S ento, em 1818, foi colocado em funcionamento o forno n 1 da fbri-ca de Ipanema, o segundo alto-forno do Brasil, o que levou melhoria das finanas da empresa15. Varnhagen empregou ndios no trabalho e utili-zou madeira diretamente no forno, no lugar do carvo. No entanto ele abandonou a direo da usina em junho de 1821 e, no ano seguinte, ru-mou para a Europa. Apesar de sua sada, Ipane-ma operou at 1895 e, no perodo imperial, foi o nico estabelecimento siderrgico existente fora de Minas Gerais.16 Apesar do impulso no comeo do sculo XIX, a siderurgia pouco se desenvolveu durante a monarquia.17

    Umas das primeiras fbricas de ao do Brasil, a de Ipanema, localizada em Sorocaba/SP.

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  • Ao Brasil: uma viagem pela indstria do ao32

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    Ao Brasil: uma viagem pela indstria do ao

    Fbrica de ao Ipanema, vista interna. Sorocaba/SP.

  • 33Antecedentes histricos do ao no Brasil Parte 1

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    Fornos externos, fbrica de ao Ipanema, Sorocaba/SP.

    Fbrica de ao Ipanema, Sorocaba/SP. Fbrica de ao Ipanema, Sorocaba/SP.

  • Ao Brasil: uma viagem pela indstria do ao34

    18 BAER, Werner. Siderurgia e desenvol-vimento brasileiro. Rio

    de Janeiro: Zahar, 1970. p. 78-79.

    D. Pedro I. D. Pedro II.

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    O perodo imperial

    Durante o Imprio, perodo que vai da Independncia do

    Brasil (1822) Proclamao da Repblica (1889), a inds-tria do ao ainda era formada por pequenas produes em

    forjarias, conforme nos informa o relatrio de Eschwege:

    Existiam em 1821 cerca de 30 forjas em Minas Gerais,

    com uma produo de 100 a 400 arrobas cada cerca de

    120 toneladas por ano. Em 1864 havia, em funcionamen-to, 120 forjas, produzindo 1.550 toneladas anualmente.

    Os mtodos usados, no entanto, eram primitivos. De 30

    indstrias observadas na regio das nascentes do rio Doce,

    em 1879, sete usavam forjas do mtodo italiano; as res-tantes usavam as velhas tcnicas de cadinho africano.18

    Entretanto, no mesmo perodo, aconteceram movimen-tos importantes, que marcariam a indstria do ao do

    Brasil no sculo XX. Entre eles, a presena do jovem

    engenheiro francs Jean Antoine Felix Dissandes de

    Monlevade, que aportou em terras brasileiras em 1817

    e por aqui ficou, o nascimento do complexo industrial

    do Baro de Mau e a criao da Escola de Minas de

    Ouro Preto, na cidade de mesmo nome.

    Nesse cenrio de tecnologia ultrapassada e pro-duo em pequena escala, ferramentas e outros

    implementos de ferro, bem como produtos aca-bados produzidos principalmente na Inglater-ra, chegavam ao Imprio com melhor qualida-de e preos mais baixos que a produo local.

  • Jean Monlevade

    Jean Monlevade trabalhou com o experiente alemo Eschwege em diversos projetos

    ligados indstria do ferro e depois se aventurou nesse segmento, associando-se ao

    Capito Luiz Soares de Gouveia na construo de um alto-forno em Caet, Minas

    Gerais, empreendimento que no obteve sucesso e foi logo abandonado. Seu desti-no estava sendo delineado e seria dele o inaugural empreendimento na regio que

    hoje denominada Vale do Ao. Foi em So Miguel do Piracicaba que ele adquiriu

    terras do Governo da Provncia, construiu e deu incio produo de ferro em for-jas catals, usando mo de obra escrava. Produziu ferramentas para a agricultura e

    para o garimpo e sua fbrica prosperou, tornando-se uma das mais importantes do

    setor. Aps o seu falecimento em 1872, a usina passou por grandes dificuldades.

    Era difcil escoar a produo e, com o fim da escravido poucos anos depois, fal-tou mo de obra, o empreendimento entrou em declnio e as propriedades foram

    vendidas para a Companhia Nacional de Forjas e Estaleiros do Baro de Mau.

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    Escola de Minas de Ouro Preto

    Criada em 1876, a Escola de Minas tornou-se um marco do ensino superior e

    tambm do desenvolvimento da minerao e da metalurgia no pas. Estabeleci-da aps a anlise criteriosa de condies e de aproveitamento, sua instalao

    sucedeu por encomenda do prprio Imperador Dom Pedro II ao professor de

    Mineralogia, Geologia e Botnica da Escola Normal Superior de Paris, o francs

    Claude Henri Gorceix, responsvel tambm pela estrutura do curso e direo da

    escola, onde ainda lecionava Geologia, Fsica e Qumica. Gratuidade do ensino,

    limitao do nmero de alunos e de idade para o ingresso na escola, bolsas de

    estudo, duplo exame de admisso, perodo letivo de dez meses, provas mensais

    de diversas matrias, constantes exerccios prticos, trabalhos em laboratrios,

    exames de fim de ano abrangendo toda a matria, excurses de final de semana

    e viagens cientficas durante as frias, foram, em sntese, as linhas definidoras

    traadas por Gorceix para o ensino da Escola de Minas de Ouro Preto.19

    35Antecedentes histricos do ao no Brasil Parte 1

    19 BARROS, Geraldo Mendes. Histria da siderurgia no Brasil: sculo XIX. Belo Hori-zonte: Imprensa Oficial, 1989. p. 198.

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    Ouro Preto/MG.

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  • Ao Brasil: uma viagem pela indstria do ao36

    H. Gastineau, Usina siderrgica inglesa do Sc. XIX. Gravura de H. W. Bond, Londres, 1830.20 O advogado e economista Manuel

    Alves Branco fez carreira de sucesso na poltica.

    Alm do Ministrio da Fazenda, ocupou outros

    cargos de destaque no imprio. A Tarifa Alves

    Branco no resistiu por muito tempo e, em 1860, a Inglaterra pres-

    sionou e foi atendida. Seus produtos voltaram

    a ter o privilgio nas exportaes para o Brasil, o que levou

    muitos empresrios a ter seus empreendimentos

    prejudicados, entre eles o Baro de Mau. Os interesses ingleses

    falaram mais alto e inte-resses esprios dentro

    do prprio governo imperial derrubaram as

    taxas protecionistas e interromperam a Era

    Mau.

    Era um desestmulo queles que se aventuravam na produo frrea em seus modestos estabele-cimentos, sem nenhuma proteo. Um acordo entre Portugal e Inglaterra garantia direitos iguais entre eles, para o abastecimento de manufatura-dos ao Imprio do Brasil. A mudana de cen-rio s aconteceu em 1844 com a criao, pelo ento Ministro da Fazenda, Manuel Alves Bran-co, da Tarifa Alves Branco20, que aumentou a taxa de importao da casa dos 15% para os 30% e para 60%, se existissem produtos simila-res no Brasil. Essa foi a primeira ao de substi-

    tuio das importaes praticada no Brasil, que, de certa forma, retirava dos ingleses o privilgio que detinham na comercializao com o Imp-rio. Mais de trs mil itens importados passaram a receber tarifao alfandegria mais alta e esse foi o estmulo que os empresrios nacionais pre-cisavam para ampliar seus mercados e moderni-zar suas atividades. Como consequncia, a me-dida penalizou a classe mais abastada do Imp-rio, consumidora de produtos importados, assim como seus fornecedores, as empresas importado-ras que viram seus custos se elevarem.

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  • 37Antecedentes histricos do ao no Brasil Parte 1

    21 BECCARI, Alfio. Baro de Mau: o personagem-smbolo da era da indstria no Brasil. Caminhos do Trem: Origens. Histria Viva, v.1, Duetto Edito-rial. p. 52.

    Baro de Mau

    As proezas de Mau impulsionaram a histria do Brasil. Assim, no por acaso, ele ainda hoje cele-brado como o patrono dos transportes, pois foi ele quem construiu a primeira estrada de ferro nacional, antes mesmo da antiga Central do Brasil, e implantou o primeiro estaleiro naval do pas, em Niteri, no Rio de Janeiro. Alm disso, Mau criou uma empresa de navegao a vapor no Rio Amazonas, para evitar a internacionalizao da regio, da qual j se falava na poca. Construiu tambm a primeira fbrica de gs do pas, instalando uma rede de iluminao pblica com mais de trs mil lampies e outros tantos terminais residenciais na cidade do Rio de Janeiro. Criou um sistema de bondes sobre trilhos puxados por burros, e instalou fundies, para livrar o Brasil das dispendio-sas importaes de maquinaria pesada. Mau no via limites. Esprito inquieto, fez o Brasil passar da fase agrcola industrial e depois, no contente, mergu-lhou no mundo das finanas. Nesse campo, sua maior faanha foi a criao do Banco Mau que, com a parceria de financistas ingleses, marcou sua presena em importantes capitais do sul do continente, como Buenos Aires, Montevideo e tambm na Europa, em Londres e Paris, e nos Estados Unidos, onde operava com o nome de banco Mau, Mac Gregor & Cia.21

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    S. A. Sisson, Manuel Alves Branco. Litografia P&B, In: Galeria dos Brasileiros Illustres: os contemporaneos (Vol. 1). Rio de Janeiro, 1861.

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    Alm de contribuir com o aumento da arrecada-o, majorando os impostos sobre as importaes, a Tarifa Alves Branco estimulou o surgimento de fbricas e empreendimentos no Imprio e foi esse cenrio que possibilitou o crescimento do ousado empreendedor Irineu Evangelista da Silva, o Baro de Mau. Ele se enveredou tambm pela siderurgia, ao construir o complexo industrial Estabelecimento de Fundio e Estaleiros da Ponta dAreia, em Ni-teri, no Rio de Janeiro, para produzir ferro e bron-ze. O local deixou de ser um estaleiro decadente para se transformar em uma moderna fbrica.

    S. A. Sisson, Baro de Mau. Litografia P&B, In: Galeria dos Brasileiros Illustres: os contemporaneos (Volume 1). Rio de Janeiro, 1861.

  • 22 Aos 12 de outubro de 1876, tendo o seu primeiro regulamento aprovado pelo Decre-

    to n 6.026, de 6 de novembro de 1875,

    foi a Escola de Minas solenemente instalada em Ouro Preto, ento

    capital da Provncia de Minas Gerais, na Casa

    da Rua das Mercs, hoje Padre Rolim, 167,

    onde atualmente funcio-na o Educandrio Santo Antnio. Em 1897, com

    a mudana da Capital do Estado para Belo

    Horizonte, foi a sede da Escola transferida para o palcio dos governa-

    dores. Disponvel em: http://www.em.ufop.br/

    em/inauguracao.php. Acesso em 22 de julho

    de 2013..

    23 Texto extrado do discurso de inaugura-o de Henri Gorceix por ocasio da inau-

    gurao da Escola de Minas de Ouro Preto, em 12 de outubro de 1876 Disponvel em:

    http://www.em.ufop.br/em/inauguracao.php.

    Acesso em 22 de julho de 2013. O passeio de Gorceix por Ouro Preto de fundo imaginrio, mas baseado em fatos

    verdadeiros, como a criao da Escola de

    Minas; seu discurso na inaugurao da Escola

    de Minas; seu retorno Frana, quando do Ex-

    lio do amigo Dom Pedro II; e sua volta ao Brasil

    a convite do Presidente Crispim Jacques Bias

    Fortes, para criar esco-las agrcolas.

    Maro de 1896. O engenheiro francs Claude Henri Gorceix circula pelas ruas de Ouro Preto, acompanhado de um de seus ex-alunos. Relembra aspectos da capital da Provncia de 20 anos atrs, quando da inaugurao da Escola de Minas22, criada por ele e onde foi diretor e professor at outubro de 1891. Logo depois decidiu retornar Frana, aps o exlio do amigo Dom Pedro II. Agora, de volta ao Brasil a convite do Presidente do Estado de Minas Gerais, Crispim Jacques Bias Fortes, ele tem por objetivo instalar escolas agrcolas no Estado. Em seu passeio pela cidade, que o acolheu por tanto tempo e que mereceu dele inmeros artigos, notadamente ligados geologia, minerao, metalurgia, entre outros, ele se encanta como da primeira vez em que ali esteve. Era como se o tempo tivesse parado e, no fosse o trem que o trouxe dessa vez do Rio de Janeiro, tudo parecia estar no mesmo lugar. Entre as recordaes lhe vm as primeiras impresses e, com elas, um trecho de sua fala do discurso de inaugurao da Escola de Minas em 12 de outubro de 1876: O papel do ferro na indstria moderna tal, que a supremacia pertencer nao que produzir a maior quantidade deste metal, e sob este ponto-de-vista, pas algum to rico de esperanas como o Brasil. Todas as provncias deste vasto Imprio tm minas deste metal; porm, em nenhuma delas, as jazidas so to importantes como na provncia de Minas, onde formam notvel parte do solo.23

    Palcio do Governador em Ouro Preto/MG, 1866.

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  • 39Antecedentes histricos do ao no Brasil Parte 1

    Baronesa, a primeira locomotiva do Brasil.

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    O Brasil Repblica e a produo do ao

    O Brasil do trem de ferroNa segunda metade do sculo XIX, o trem era sinal de progresso. Alm de encurtar

    as distncias, facilitava o livre comrcio por meio da circulao de mercadorias,

    modernizava as cidades e o intercmbio entre elas e, sobretudo, abria novos merca-dos e permitia a circulao da informao pelos jornais da poca. O Brasil carecia

    de transporte para conectar seu extenso territrio, escoar a produo agrcola nos

    portos, distribuir as mercadorias e os insumos para as fbricas que surgiam e ainda

    suprir os centros urbanos, que comeavam a se formar, alm de facilitar a circulao

    de pessoas entre localidades de maneira mais segura, rpida e confortvel.

  • Ao Brasil: uma viagem pela indstria do ao40

    Durante o reinado de Dom Pedro II, houve a implanta-o das ferrovias no Brasil. A primeira iniciativa, data de

    1835, quando o governo imperial autorizou a constru-o de uma estrada de ferro ligando o Rio de Janeiro s

    provncias de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul e da

    Bahia. Mais tarde, Dom Pedro II contratou o engenheiro

    alemo Jlio Frederico Koeler para construir uma linha

    frrea entre a capital federal e a residncia de vero da

    famlia imperial em Crrego Seco, todavia nenhuma das

    estradas vingou. A primeira estrada de ferro no pas foi

    construda por iniciativa privada, pelas mos do em-presrio Irineu Evangelista de Sousa, o Baro de Mau,

    inaugurada em 30 de abril de 1854.

    De 1854 at 1889, alm do empreendimento do Baro

    de Mau, outras empresas de transporte ferrovirio sur-giram, entre elas, a Companhia Estrada de Ferro Pedro

    II, a Companhia Paulista de Estradas de Ferro, a Compa-nhia Ituana de Estradas de Ferro, a inglesa The Porto Ale-

    gre and New Hamburg Brazilian Railway, a Estrada de

    Ferro Central da Bahia e a Estrada de Ferro Centro-Oeste

    de Minas. No mesmo perodo, vrias estradas de fer-ro foram construdas nas mais diversas regies do pas,

    ligando cidades brasileiras, conectando o interior s

    capitais das provncias, e as provncias capital do Im-prio e aos portos do Rio de Janeiro, Santos e Salvador,

    os mais importantes da poca. Estradas como Recife ao

    Cabo (1858), Calada a Paripe na Bahia (1860), Santos

    a Jundia (1867), So Paulo ao Rio de Janeiro (1867),

    Unio dos Palmares a Macei (1871), Jundia a Cam-pinas (1872), Porto Alegre a So Leopoldo (1874), Por-to Novo-RJ Leopoldina-MG (1874), Sorocabana, que

    ligava So Paulo Sorocaba (1875), Centro-Oeste de

    Minas (1881), Paranagu a Morretes no Paran (1883),

    Estrada de Ferro Dona Tereza Cristina em Santa Cata-rina (1884) e, Estrada de Ferro do Corcovado (1884).

    Criaram-se ainda conexes entre as linhas instaladas e

    muitas outras extenses.

    S. A. Sisson, litografia sobre papel, In: lbun do Rio de Janeiro Moderno, c.1860.

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    ira]

  • 41Antecedentes histricos do ao no Brasil Parte 1

    Era um grande negcio, para investidores nacionais e estrangeiros, construir estradas de ferro no Brasil. que o governo assegurava, com base na legislao de 1857, juros de 7% sobre o custo esti-mado da ferrovia. Assim, a companhia sabia que, independentemente do resultado, o investimento teria um retorno garantido. Se trabalhasse com dficit, receberia a diferena; caso o saldo fosse supe-rior a 8%, repartiria o excedente com o Estado, e se excedesse a 12% por trs anos, deveria reduzir as taxas cobradas. O privilgio dos juros garantidos vigorava pelo prazo de concesso da ferrovia, que oscilava entre 50 e 90 anos. No final dos primeiros 30 anos, no entanto, o governo se reservava o direito de resgatar a empresa, pagando conforme o estipulado no termo da concesso.24

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    Estao ferroviria de General Carneiro/MG.

    24 CASTRO, Ana Clia. As ferrovias do caf. Histria Viva,So Paulo: 2008, v.1, p. 38-40.

    O Brasil imperial contou com muito capital estrangeiro

    para a construo das suas ferrovias. Os ingleses fi-nanciaram a ligao entre Santos e Jundia, idealizada

    por Baro de Mau, assim como as ferrovias da Cana

    no nordeste e as de integrao, nos estados do sudes-te. Contudo, a prpria sequncia da estrada de ferro

    Santos-Jundia foi feita com capital nacional, como a

    maioria das estradas de ferro do Estado de So Paulo.

    A origem desse capital vinha dos fazendeiros do caf,

    que expandiam sua rede de investimentos para as es-tradas de ferro, para as indstrias e para o mercado

    financeiro.

  • Ao Brasil: uma viagem pela indstria do ao42

    Escola de Minas de Ouro Preto/MG.

    Estao Tefilo Otoni/MG, caminho de ferro Minas-Bahia.

    O auge ferrovirio, simultaneamente verificado em vrios pases, configurava uma nova fronteira de investimentos entreaberta pela Inglaterra s vsperas da Grande Depresso. Elas ofereciam uma dupla soluo para a economia em crise, criando a um s tempo oportunidades de investimento altamente lucrativas e um amplo mercado externo para as indstrias britnicas de ao e carvo e equipamentos.25

    25 CASTRO, Ana Clia. As ferrovias do caf.

    Histria Viva,So Paulo: 2008, v.1, p.40-41

    26 SIMONSEN, C. Ro-berto, Evoluo indus-trial do Brasil e outros

    estudos. So Paulo: Editora da Universidade

    de So Paulo, 1973. p. 16.

    27 Id., p.16.

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    ]Partiu tambm de Dom Pedro II o mais importante pas-so para o desenvolvimento da siderurgia no Brasil no

    sculo XIX, quando escolheu pessoalmente o enge-nheiro francs Claude Henri Gorceix para organizar

    a Escola de Minas de Ouro Preto, que formaria e trei-naria gelogos e metalurgistas. Tornou-se uma escola

    pioneira, a primeira desse gnero na Amrica Latina.

    No perodo de 1880 a 1890, o Brasil teve o primeiro

    surto industrial, entretanto essa expanso privilegiou

    pouco a siderurgia, que representava apenas 3% do

    capital envolvido na indstria, enquanto o setor tx-til, o maior setor industrial, contabilizava 60%. Em

    1880 e 1884 foram fundadas 150 indstrias, (...) de

    1885 a 1889, 248 estabelecimentos industriais, (...) e,

    no ltimo ano da monarquia (1889), existiam no pas

    acima de 636 estabelecimentos industriais.26 Esse de-

    senvolvimento tinha por sustentao a prosperidade

    mundial, que fez crescer a exportao de caf e trouxe

    mais capital para o pas. De 1890 a 1895, foram fun-dadas 452 fbricas no pas.27

  • 43Antecedentes histricos do ao no Brasil Parte 1

    O Brasil Repblica e a indstria

    O golpe militar que levou instalao da Repblica em

    1889 seria apenas o primeiro de outros que marcariam a

    histria do Brasil no sculo XX. O imperador D. Pedro II

    foi destitudo do poder e a Famlia Real imediatamente

    banida do pas sem a menor cerimnia. Assumiu o poder

    o Marechal Deodoro da Fonseca, heri da Guerra do Pa-raguai28, que sequer comungava dos ideais republicanos.

    A segunda constituio brasileira, a primeira republica-na29, foi redigida e promulgada em 1891. A nova Carta

    extinguiu o regime monrquico, deu incio ao sistema

    presidencialista com a chefia do executivo nas mos

    do Presidente da Repblica e tornou o Brasil um pas

    laico, retirando o catolicismo como religio oficial. A

    Federao passou a ser organizada em estados no lugar

    das provncias, cujos presidentes eram eleitos por um

    perodo de quatro anos, sem possibilidade de reeleio,

    atravs de voto aberto e franqueado a todos os homens

    alfabetizados e maiores de 21 anos, esquema adotado

    tambm para as eleies dos deputados e senadores.

    Foi institudo o Supremo Tribunal Federal como guar-dio das Leis e dos atos do Executivo e do Legislativo. A

    prpria Constituinte manteve o Marechal Deodoro da

    Fonseca no poder como o primeiro presidente eleito, mas este renunciou, assumin-do ento o seu vice, Floriano Peixoto, que tambm no era republicano. Floriano

    governou com mo de ferro, e seus comandados censuraram a imprensa, perse-guiram polticos, prenderam civis, praticaram torturas e execues.

    As mudanas ocorridas no Brasil que abandonou o regime imperial para se tor-nar uma Repblica, bem como a promulgao da carta constitucional e, princi-palmente, a instalao da Escola de Minas de Ouro Preto - mais tarde da Esco-la Politcnica em So Paulo30 - influenciaram o quadro da produo de ao

    no pas. Uma das iniciativas empresariais mais importantes foi a criao da Usi-na Esperana, em Itabirito (MG). O renovado interesse na produo de fer-ros e ao, criado pela Escola de Ouro Preto, estimulou uma substancial quan-tidade de pesquisas a respeito de novas tcnicas de produo e, em 1888,

    foi estabelecido o primeiro alto-forno desde os fracassos do incio do sculo.

    D. Pedro II, a Princesa Isabel e o Prncipe Regente.

    28 Maior conflito arma-do da Amrica do Sul, a Guerra do Paraguai se estendeu entre dezem-bro de 1864 a maro de 1870.

    29 Logo aps a procla-mao da Repblica, o Governo Provisrio nomeou uma comisso de juristas, sob a pre-sidncia de Saldanha Marinho, para elaborar projeto de Constituio. Esse projeto deveria ser submetido discusso e aprovao da As-sembleia Constituinte, escolhida por meio de eleies, a ser instalada em 15 de novembro de 1890. O projeto apre-sentado pela Comisso no foi aprovado pelo Governo Provisrio, que encarregou Rui Barbosa de rev-lo. Por quinze dias, Rui reuniu-se com todos os ministros em sua residncia, para discutir os artigos e suas emendas. Ao longo do processo, Rui levava todas as modifi-caes a Deodoro. Por fim, deu forma definitiva ao projeto, aprovado em junho de 1890, que contemplava a federa-o, o presidencialismo e a diviso dos poderes em Legislativo, Execu-tivo e Judicirio. Dispo-nvel em: http://www.projetomemoria.art.br/RuiBarbosa/ periodo2/lamina12/. Acesso em 15 de julho de 2013.

    30 Criada pelas leis estaduais n 26 e n 64, em 1893, a Escola Politcnica da Universidade de So Paulo teve, no mesmo ano, seu Regulamento publicado no Dirio Oficial do Estado de So Paulo, na forma da lei n 191, assinada no governo de Bernardino de Campos. Criavam-se assim os cursos de Engenharia Industrial, Engenharia Agrcola, Engenharia Civil e o Curso Anexo de Artes Mecnicas. Disponvel em: http://www3.poli.usp.br/pt/a-poli/historia/historia-da-poli.html. Acesso em 15 de julho de 2013.

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  • Ao Brasil: uma viagem pela indstria do ao44

    A partir do final do sculo XIX, a grande indstria, aos poucos, substituiu a categoria dos artesos por um exrcito annimo de operrios cujas condies de vida e de trabalho estavam bem abaixo das do art-fice independente. Com a grande indstria, foi introduzida tambm a mecanizao em larga escala, com depresso dos salrios e incorporao macia de mulheres e crianas no trabalho fabril. (...) A jornada de trabalho, durante a primeira dcada do sculo XX, era de 16 horas, em semanas de seis ou sete dias. Em 1910, Georges Clemenceau, ex-primeiro ministro da Frana, em viagem ao Brasil, afirmava que as leis francesas de proteo social para os operrios da indstria e da agricultura eram inexistentes no nosso pas. No existia previdncia social, nem direito aposentadoria, operrios eram demitidos sem maiores explicaes e os frequentes acidentes de trabalho nunca eram indenizados. As crianas operrias (cer-ca de 50% do proletariado, muitas das quais com cinco ou seis anos de idade) eram constantemente espancadas pelos capatazes. As mulheres, mais numerosas do que os homens na indstria txtil, no s recebiam salrios inferiores, como viviam merc das investidas sexuais de seus chefes.32

    Primeiro alto-forno da Usina Esperana em Itabirito/MG.

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    A usina, chamada Esperana, foi construda por trs empre-srios, Joseph Gerspacher, Amaro da Silveira e Carlos da

    Costa Wigg. O alto-forno utilizava carvo vegetal e tinha

    capacidade para seis toneladas de ferro gusa. Em 1893, os

    fundadores construram outra unidade no distrito de Miguel

    Burnier31, localizada no municpio de Ouro Preto, prxi-ma usina Esperana. Vendida para o engenheiro Queiroz

    Jnior, a empresa ganhou novos investimentos, cresceu,

    abriu outra unidade e sua produo alcanou a marca

    de 40 toneladas com um quadro de 412 empregados.

    O progresso industrial deslanchava mais em outros seg-mentos que no o ao e se atualizava, tendo por refern-cia o modelo europeu. No incio do sculo XX, houve

    um movimento de modernizao das fbricas brasileiras,

    baseado no modelo ingls de Manchester, no entanto

    esse movimento contemplava apenas a produo e seus

    processos industriais, bem como impunha uma explora-o desregrada e sem limites aos trabalhadores, que lem-brava de perto o sistema escravocrata extinto em 1888.

    O resultado foi uma sequncia de revoltas e de greves.

    31 BAER, Werner. Siderurgia e desenvol-vimento brasileiro. Rio

    de Janeiro: Zahar, 1970. p. 79-80.

    Miguel Burnier, distrito de Ouro Preto, era

    tambm conhecida por So Julio. Foi um

    importante entronca-mento ferrovirio para a siderurgia brasileira.

    Atualmente, no h mais a usina que l

    existia, vestgios dela ainda podem ser vistos na regio, inclusive um

    acervo documental, que est sob a guarda da

    Gerdau, exploradora de minrio no distrito. Em 2012, a Gerdau estava

    recuperando a histrica Estao Ferroviria

    de Miguel Burnier e a previso de que ela

    se transformasse numa biblioteca, para atender

    comunidade local.

    32 Tempos modernos: operrios, imigrantes,

    eis os artfices da cidade grande. Nosso

    Sculo, 1980, n.6, p. 154-157.

  • 45Antecedentes histricos do ao no Brasil Parte 1

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    ira]

    33 JORNAL DO S-CULO. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 2000 Edio Especial.

    34 BAER, Werner. Siderurgia e desenvol-vimento brasileiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1970. p. 80-81.

    35 SIMONSEN, C. Roberto. Evoluo industrial do Brasil e outros estudos. So Paulo: Universidade de So Paulo, 1973. p. 17.

    36 Id., p.17.

    O Jornal do Brasil de 15 de agosto de 1903 narrou assim a primeira greve da Repblica: A Repblica enfrentou

    a primeira greve geral na capital do pas. O movimento

    comeou com os operrios da indstria txtil e foi ga-nhando adeso dos outros setores. No total, estima-se

    que 25 mil trabalhadores tenham aderido greve que

    reivindicava aumento de salrios e jornada diria de

    oito horas para todas as categorias.33

    Em 1907, outra greve geral parou So Paulo. A represso

    policial acabou por criar simpatias com o movimento,

    que cresceu e chegou ao interior paulista. A principal

    reivindicao era a reduo da jornada de trabalho de

    doze horas para oito horas dirias. Os patres se dispu-seram a negociar depois que a paralisao se prolongou

    e concordaram com a reduo da jornada. Assim que

    os empregados voltaram aos seus postos de trabalho, os

    patres descumpriram a palavra, alegando que a redu-o da jornada quebraria as indstrias.

    O processo siderrgico tambm avanou e o Brasil en-trou no sculo XX, produzindo cerca de 2.000 toneladas

    de ferro gusa em 70 pequenos estabelecimentos.34 O

    segmento industrial dava mostras de crescimento com a

    abertura de fbricas. A partir de 1905, observou-se um

    ritmo sempre crescente em nossa evoluo industrial.35 Havia tambm a migrao dos recursos dos Bares do

    Caf para a atividade industrial.

    Depois de financiarem as estradas de ferro, os fazendei-ros buscaram espaos para criar indstrias e confeccio-nar produtos manufaturados que faltavam elite ou que

    representavam oportunidades de negcios. O censo or-ganizado pelo Centro Industrial do Brasil em 1907 apu-rou que a indstria brasileira j atendia a 78% das neces-sidades nacionais. Na ocasio, existiam cerca de 3.250

    indstrias, que empregavam mais de 150 mil pessoas. Da

    produo industrial, cerca de 30% estava concentrada no

    Rio de Janeiro, que detinha 20% dos estabelecimentos,

    16% em So Paulo, 7% no Rio Grande do Sul e apenas

    4% em Minas Gerais.36 No obstante as importaes de

    ao atingiram o patamar de 150 mil toneladas de lamina-do ao ano e a explicao estava na expanso das ferro-vias em todas as regies do pas. Em 1907, o presidente

    Afonso Penna criou o Servio Geolgico e Mineralgico

    no estado de Minas Gerais e trouxe, para atuar na rea

    recm-criada, profissionais formados pela Escola de Mi-nas de Ouro Preto. Os objetivos eram: conhecer profun-damente o potencial das riquezas de ferro e mangans do

    solo; dar subsdios formulao de uma poltica mineral;

    e desenvolver a siderurgia brasileira.

    Eliseu Visconti, Av. Central (atual Av. Rio Branco), Rio de Janeiro, 1908. Acervo Museu de Arte do Rio - MAR

  • Ao Brasil: uma viagem pela indstria do ao46

    Dezoito anos aps a instalao do alto-forno em Itabirito e em Miguel Burnier, o pre-sidente Nilo Peanha (1909-1910), assinou o Decreto n 8.019, em 18 de maio de

    1910, referendado por outros decretos e consolidado pelo Decreto n 8.558, de 15 de

    janeiro de 1911, publicado na gesto do Marechal Hermes da Fonseca (1910-1914).

    Por meio dessas determinaes, o governo reconheceu a importncia de haver no pas

    uma indstria siderrgica forte, que fosse base para outras instalaes industriais, con-siderando sua cadeia produtiva: minrio, carvo, fundio e laminao, mas tambm

    a exportao do minrio de ferro. Era o esforo governamental agindo, para nortear e

    alavancar, atravs de concesses iniciativa privada, a indstria do ao no incio do

    sculo XX. O Decreto n 8.558 mostra ainda as taxaes, os valores do transporte em

    linhas frreas e do embarque do minrio e dos produtos de ao no porto que seria

    construdo na baa do Rio de Janeiro. No entanto o falecimento do concessionrio, Dr.

    Victrio Antnio de Perini, em julho de 1911, no mesmo ano de publicao do decre-to, gerou a anulao do empreendimento, ainda que no tivesse sado do papel. Sob

    o governo do ento presidente Hermes da Fonseca, foi publicado, em 7 de fevereiro

    de 1912 no Dirio Oficial da Unio, o Decreto n 9.362, revogando a concesso feita.

    No incio do novo sculo, a produo de ao no Brasil Repblica havia crescido,

    porm estava limitada a pequenas fbricas e fundies que produziam peas de re-parao e reposio para mquinas, engenhos, como tambm ferramentas, pregos,

    arames e realizavam parte da manuteno das ferrovias. Entre elas, destacamos a

    Fbrica de Pregos Pontas de Paris em Porto Alegre (RS), fundada em 1901, por Joo

    Gerdau e que, mais tarde, seria considerada o embrio de uma das mais importantes

    siderrgicas brasileiras, a Gerdau.

    O governo se preocupava em estimular a instalao de uma grande indstria de ao

    para abastecer o mercado interno, que poca importava produtos laminados de ao

    razo de 272.000 toneladas anuais. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) influen-ciou a elevao da produo de ferro gusa de 3.000 toneladas, em 1914, para 10.000,

    um ano aps a guerra, contudo os laminados de ao continuavam a ser importados.

    Nesse perodo, surgiram quase 6 mil estabelecimentos industriais em diversos ramos

    de negcios, todos voltados para atender ao mercado interno, alguns fabricavam arti-gos que substituram os importados e que no chegavam ao Brasil devido guerra.38

    Outro decreto importante para o desenvolvimento da siderurgia no Brasil foi assinado

    pelo presidente Wenceslau Brs em 1918. O Decreto n 12.944 complementava o

    anterior, de 1910, citado anteriormente, e determinava a produo mnima de ferro,

    permitia a contrao de emprstimos pelas empresas e instaurava diretrizes para a

    produo, que poderia ser executada em fornos de combustvel cock ou de carvo de floresta, ou ainda feita em fornos eltricos. Ou seja, j existia no Brasil oferta signi-

    37 BRASIL. Decreto n. 8.558, de 15 de fevereiro

    de 1911. Concede ao industrial Dr. Victorio

    Antonio de Perini, ou companhia que organizar,

    os favores dos decretos nmeros. 2.406, de 11 de janeiro de 1911; 8.019, de

    19 de maio de 1910; 5.646, de 22 de agosto de 1905,

    e 947 A, de 4 de novembro de 1890. Disponvel em:

    http://legis.senado.gov.br/legislacao. Acesso em 19

    de julho de 2013. [Texto original]

    38 SIMONSEN, C. Rober-to, Evoluo industrial do

    Brasil e outros estudos. So Paulo: Universidade

    de So Paulo, 1973. p. 21.

    Trecho do Decreto n 8.558, de 15 de janeiro de 1911

    Artigo unico. Ficam concedidos ao industrial Dr. Antonio de Perini, ou companhia que organi-zar, os favores constantes dos decretos ns. 2.406,

    de 11 do janeiro de 1911; 8.019, de 19 de maio

    de 1910; 5.646, de 22 de agosto de 1905, e 947

    A, de 4 de novembro de 1890, para o estabeleci-mento da metallurgia do ferro e do ao e expor-tao dos minerios de ferro; de accrdo com as

    clausulas que com este baixam, assignadas pelo

    ministro de Estado da Viao e Obras Publicas.

    (...)

    II. O concessionario obriga-se a montar margem

    da Estrada de Ferro Central do Brazil, nas jazidas

    existentes entre os kilometros 590 a 610, ou em

    outro logar que fr mais conveniente, alto ou altos

    fornos, apropriados produco inicial de 8.000

    toneladas de ferro guza, no primeiro anno, e as

    installaes para sua converso em ferro e ao la-minados para os usos industriaes correntes e na

    proporo das necessidades do mercado.

    X. Para garantia da execuo do contracto, o con-cessionario depositar no Thesouro Nacional a cau-o de 24:000$, em dinheiro ou quando esgotado

    o prazo da concesso, de accrdo com o maximo

    previsto no art. 2 do decreto n. 8.019, citado.37

  • 47Antecedentes histricos do ao no Brasil Parte 1

    ficativa de energia eltrica, o que no incio do sculo XX tambm era um entrave ao

    desenvolvimento. De 1883 - quando ocorreu a primeira instalao hidrulica para ge-rao de energia, funcionando em Minas Gerais - at 1900, foram instaladas 11 usinas,

    cujo potencial era de pouco mais de 17 mil HP. Dez anos depois, o pas contabilizou

    88 usinas, que geravam mais de 150 mil kW. A energia eltrica acelerou o processo

    de industrializao e, em 1920, existiam 356 hidroeltricas em territrio brasileiro.39

    De 1900 a 1920, o PIB teve crescimento mdio anual prximo a 6%. Em 1900, o PIB

    foi de 9,6 milhes de dlares e, em 1920, chegou 22 milhes de dlares.40 A balana

    comercial alcanou, em 1900, saldo positivo de 57,6 milhes de dlares e, em 1919,

    atingiu a incrvel marca de 295,8 milhes, resultado obtido graas exportao do

    caf, acar, cacau, mate, fumo, algodo, dos couros e peles e, sobretudo, da bor-racha. A populao crescia a altas taxas devido entrada de imigrantes em massa,

    iniciada no final do sculo XIX e tambm por conta da imigrao forada, causada

    pelo conflito europeu entre 1914 e 1918. O Brasil, que tinha 16,4 milhes de habi-tantes em 1900, em 1920 j era um pas de 30 milhes.41

    Em 1920, a malha ferroviria alcanou 28,5 mil quilmetros. Os produtos, a maioria

    agrcolas, eram transportados de uma praa outra e os insumos chegavam num tem-po mais curto e a custos menores. As pessoas circulavam com certo glamour nos trens, que imediatamente passaram a fazer parte das rotinas nos deslocamentos. A aglo-merao nas estaes, para receber ou embarcar parentes e personalidades ilustres,

    39 I SIMONSEN, C. Roberto, Evoluo industrial do Brasil e outros estudos. So Paulo: Universidade de So Paulo, 1973. p. 35.

    40 Em dlares de 2009.

    41 Dados primrios: Estatsticas do Sculo XX, IBGE. 2006. Disponvel em: http://seculoxx.ibge.gov.br/economicas. Acesso em 23 de julho de 2013. Dados agregados, infogrficos: Econo-mia Brasileira. 23 indicadores in-terativos de 1900 a 2010. Editora Abril. Disponvel em: http://veja.abril.com.br/multimidia/infografi-cos/economia-brasileira. Acesso em 23 de julho de 2013.

    42 BRASIL. Decreto n. 12.944, de 30 de maro de 1918. Institui favores em proveito da indstria siderrgica. Disponvel em: http://www2.camara.leg.br Acesso em 19 de julho de 2013. [Texto original]

    Trecho do Decreto n 12.944, de 30 de Maro de 1918

    Institue favores em proveito da indstria siderrgica

    O Presidente da Republica dos Estados Unidos

    do Brasil, tendo em vista o que lhe expoz o Mi-nistro da Agricultura, Industria e Commercio so-bre a necessidade de estimular a produco do

    ferro e ao no paiz e usando da autorizao con-tida no art. 1, n. I, lettra a, do decreto legislativo

    n. 3.316, de 16 de agosto de 1917,

    Decreta:

    Art. 1 As empresas que actualmente fabricam

    ferro no paiz, extrahindo o metal do minerio, em

    fornos altos a carvo de madeira, e quellas que,

    dentro de tres annos, a contar da presente data,

    se installarem e iniciarem a fabricao de ferro

    e ao em fornos altos a carvo de madeira ou

    a coke mineral ou em fornos electricos e outros

    da technica, podero ser feitos emprestimos at a

    importancia do capital de installao, ficando as

    fabricas respectivas hypothecadas ao Governo. Art. 2 Para que se realizem os emprestimos

    acima indicados, torna-se necessario:

    a) que a produco da fabrica seja, no minimo, de 20 toneladas dirias.(...) 42

    Embarque de imigrantes europeus. Gravura, 1870.

    [Pho

    tos]

  • Ao Brasil: uma viagem pela indstria do ao48

    havia se tornado tradio. Estao da Luz em So Paulo,

    Estao Dom Pedro II, atual Central do Brasil, no Rio de Ja-neiro, e estaes de outras emergentes cidades, como Belo

    Horizonte, eram um bom exemplo disso. Iniciava-se tam-bm o perodo de eletrificao das linhas, sendo a linha do

    Corcovado a primeira a receber energia eltrica. As ferrovias

    tornaram-se os mais dinmicos meios de transportes de car-gas e de passageiros e, rapidamente, ligavam o pas de nor-te a sul e de leste a oeste, facilitavam a instalao de inds-trias e promoviam a atividade comercial em grande escala.

    O pas se modernizava, sobretudo pela utilizao da ener-gia eltrica e expandia seus negcios, ainda que lenta-mente, dentro das suas reais possibilidades conjunturais.

    H registros de concesso para a instalao de uma usi-na integrada de ao em Juiz de Fora, em 1911, que teria

    capacidade de produzir em torno de 150 mil toneladas.

    No entanto a ecloso da I Guerra Mundial fez abortar o

    43 ASSOCIAO BRASILEIRA DE META-

    LURGIA, MINERAIS E MINERAO (ABM). O sculo XX e a substitui-

    o das importaes. Disponvel em: http://

    www.abmbrasil.com.br Acesso em 22 de julho

    de 2013.

    projeto. Com a expanso da capacidade de produo e

    distribuio de energia eltrica, surgiu no Rio de Janeiro a

    Companhia Ferrum, que ps em marcha, sob a orientao

    de Erik Tisklind,um pequeno forno eltrico Siemens-Mar-tin. Outras iniciativas seguiram na esteira da produo de

    ao, utilizando energia eltrica nos fornos. Em 1918, na

    Usina da Companhia Mecnica e Importadora, em So

    Caetano do Sul (SP), foi realizada a primeira corrida do

    ao no Brasil. No ano seguinte, na capital bandeirante, foi

    instalada a Fbrica de Ao Paulista, com forno eltrico ca-paz de produzir 500 kg, objetivando fundir peas de ao.43

    Em Minas Gerais, onde estavam concentradas as grandes

    reservas de minrio de ferro e a Escola de Minas de Ouro

    Preto, j existiam tanto bem-sucedidas quanto fracassa-das experincias em processos para a produo de fer-ro. No final da dcada de 1920, um passo fundamental

    ocorreu com a criao da Companhia Siderrgica Mi-neira. Essa importante indstria de ao mineira nasceu

    praticamente dentro da Escola de Minas de

    Ouro Preto. Foi o pioneirismo dos ex-alu-nos Amaro Lanari, Crhistiano F. Teixei-ra Guimares e Gil Guatimosin, que

    viabilizou a constituio da empresa

    que, no incio sculo XXI - em 2006,

    faria parte da ArcelorMittal, o maior

    produtor de ao da atualidade.

    [SXC

    ]

    Estao da Luz, So Paulo/SP.

  • 49Antecedentes histricos do ao no Brasil Parte 1

    Os conturbados anos 20 e o surgimento da Cia

    Siderrgica Belgo-Mineira No incio da segunda dcada do sculo XX, a situao econmica internacional se de-teriorou. A Europa ainda vivia os rescaldos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e

    os arranjos geopolticos criaram dificuldades nas relaes entre as naes. Era preciso

    reconstruir o que a guerra havia destrudo e, ao mesmo tempo, retomar o crescimen-to. A concorrncia entre a Europa e os Estados Unidos da Amrica ajudou a agravar

    o quadro e a produo industrial brasileira foi diretamente afetada. As exportaes,

    que em 1909 representavam 2,23% do total mundial exportado, caram para 1,58%

    em 192144. Por outro lado, a siderurgia dava sinais de que poderia deslanchar. De 4,2

    toneladas de ferro gusa produzidas em 1916, a produo cresceu para 11,7 em 1918,

    alcanando 14 toneladas em 1920 e, em 1921, atingiu a marca de 17,7 toneladas,

    contra um consumo interno de 18,8 toneladas.45 O ao em lingotes continuava a ser

    importado. A demanda, tanto de ferro quanto de ao, era maior que a oferta e no

    poderia haver melhor momento para a criao de uma siderrgica em solo nacional.

    A leitura do cenrio feita pelos empreendedores da Cia Siderrgica Mineira em 1917

    estava correta, havia um mercado interno disposto a comprar ferro e ao, muito

    embora a desconfiana da indstria nacional imperasse diante da crena de que os

    produtos importados eram de qualidade superior aos produtos fabricados no Brasil.

    44 Dados primrios: Estatsticas do Sculo XX, IBGE. 2006. Dados agregados, infogrficos: Economia Brasileira 23 indicadores interativos de 1900 a 2010. Editora Abril. Disponvel em: http://veja.abril.com.br/multimidia/infograficos/economia-brasileira. Acesso em 23 de julho de 2013.

    45 BAER, Werner, Side-rurgia e desenvolvimen-to brasileiro. Quadro 15 produo e consumo Brasileiro de ferro gusa, ao e laminados 1916-1940. Rio de Janeiro: Zahar, 1970. p. 86.

    [Fot

    o: A

    line

    Pere

    ira]

    Theatro Municipal, Rio de Janeiro/RJ, 1920. Coleo Museu de Arte do Rio - MAR.

  • Ao Brasil: uma viagem pela indstria do ao50

    O local escolhido para a instalao Cia Siderrgica Mi-neira foi a histrica cidade de Sabar, prxima a Belo

    Horizonte e que, no sculo XVII, se tornara um ponto

    de apoio s expedies paulistas que adentraram as

    Minas Gerais procura de ouro e pedras preciosas.

    A partir da montagem do empreendimento na cidade,

    Sabar comearia uma nova histria que agregaria

    sua tradio aurfera a memria do ferro e do ao.

    poca, Sabar contava com um ramal da Ferrovia Cen-tral do Brasil, mo de obra disponvel, infraestrutura

    urbana, minrio em abundncia nas proximidades e

    florestas para abastecer a usina que seria tocada a car-vo vegetal. Alm disso, um dos scios da siderrgica

    46 MOYEN, Franois. A histria da Companhia

    Belgo-Mineira, uma trajetria de crescimen-

    to consistente (1921- 2005). Belo Horizonte:

    Arcelor do Brasil, 2007. p. 25.

    47 Id. p. 32.

    Lanari teria sido o primeiro a cogitar a possibilidade de construir uma usina siderrgica naqueles tempos de guerra, em que a demanda por artigos de ferro aumentava em grandes propores. Logo convenceu seus amigos e colegas a levar a ideia adiante e ganhou o apoio precioso do banqueiro e comerciante Sebastio Augusto de Lima e do industrial Amrico Teixeira Guimares. A adeso desses homens foi fundamental para atrair investidores e levantar o capital necessrio ao incio do empre-endimento. No dia 21 de janeiro de 1917, a ideia, afinal, ganhava corpo. Na residncia de Crhis-tiano Guimares, vinte pessoas, entre tcnicos e investidores, assinavam a ata de constituio da Companhia Siderrgica Mineira. Produco de ferro gusa e seus derivados e utilizao comercial das jazidas mineraes existentes nas propriedades que vae adquirir esse era o objetivo principal da nova usina siderrgica de Minas Gerais.46

    era proprietrio de uma boa extenso de terras na re-gio coberta por rvores.

    Desde a sua fundao, todavia, a empresa enfrentava

    dificuldades de instalao e fazia inmeros ajustes para

    entrar em operao. Surgiram problemas de toda or-dem, quando da montagem da estrutura, seja pela inex-perincia dos empreendedores, seja pela guerra que

    dificultava a importao de equipamentos. Mesmo com

    o apoio de professores da Escola de Minas, no foi fcil

    colocar a usina em marcha, o que s aconteceu em 1

    de novembro de 1920, com a presena do experiente

    tcnico siderurgista europeu, J. Gaspacher.47

    [SXC

    ]

  • 51Antecedentes histricos do ao no Brasil Parte 1

    Finalmente a Usina de Sabar a Siderrgica como ficaria conhecida comeava a produzir car-ga total com capacidade de produo de 25 toneladas/dia. O alto-forno, destaque absoluto do novo empreendimento, era o maior e dos mais modernos que j se vira nas Minas Gerais e em todo o Brasil. Imponente, tinha mais de 14 metros de altura, com um dimetro de trs metros e cadinho de 1,30 x 1,75 metro. Assentava-se sobre seis colunas de ferro e era revestido com chapas de de polegada.48

    48 MOYEN, Franois. A histria da Companhia Belgo-Mineira, uma trajetria de crescimen-to consistente (1921- 2005). Belo Horizonte: Arcelor do Brasil, 2007. p. 33.

    49 Partilhando da opi-nio de seu secretrio Clodomiro Augusto de Oliveira, engenheiro e professor que trouxera da Escola de Minas de Ouro Preto, Bernardes estava convencido de que Faqhuar no cumpriria o acordo de construir a siderrgica e apenas exportaria o mi-nrio in natura, a preos simblicos. (...) Assim, Bernardes estabeleceu tantas exigncias que o contrato com Faqhuar acabou inviabilizado E, em 1926, j na Pre-sidncia da Repblica, promoveria a reforma constitucional que proibiu a transferncia a estrangeiros das jazidas minerais consideradas necessrias defesa e segurana do Pas. Os Governadores His-tria de Minas Gerais. Encarte do Jornal Hoje em Dia.2008. p. 109.

    Vista da usina de Sabar/MG.

    [Fun

    da

    o Ar

    celo

    rMitt

    al]

    Se produzir ao e ferro no Brasil no era fcil diante de

    tantas dificuldades tecnolgicas, colocar os produtos no

    mercado se tornou um grande desafio. Os compradores

    estavam habituados aos importados, que entravam no-vamente com fora no mercado brasileiro ao final da

    guerra. Pairava ainda nos comerciantes e consumidores

    a desconfiana na qualidade dos produtos nacionais.

    Para uma nova empresa, nascida com um capital limi-tado e com custos que j ultrapassavam seus ativos, era

    ainda mais complicado superar essas dificuldades.

    Minas Gerais era governada por Arthur Bernardes (1918-

    1922), um nacionalista, cuja ideologia, desde a Procla-mao da Repblica, ganhava fora entre os polticos

    que se diziam comprometidos com o futuro do pas. Foi

    dele a inciativa que culminou na sada do americano

    Percival Faqhuar da mina de Itabira, de onde pretendia

    exportar minrio in natura a preos simblicos.49 Partiu

    dele tambm o convite ao Rei Alberto, da Blgica, em

    visita ao Rio de Janeiro, para conhecer Belo Horizonte.

    Esse convite tinha como um dos objetivos aproxim-lo

    dos empreendedores da Cia Siderrgica Mineira, que

    enfrentavam grandes dificuldades para manter o neg-cio. Para Bernardes, Minas e o Brasil no podiam pres-cindir de um setor siderrgico que emergia.

  • Ao Brasil: uma viagem pela indstria do ao52

    50 BAER, Werner. Siderurgia e desen-

    volvimento brasileiro. Rio de Janeiro: Zahar,

    1970. p. 83.

    51 IGLESIAS, Fran-cisco; SANTOS, nge-lo Oswaldo de Arajo.

    Carlos Bracher, do Ouro ao Ao. Rio de

    Janeiro: Salamandra. 1993. p. 21.

    O valor da operao chegou a quase 15 mil contos de ris, que se elevaram a 20 mil em 1924. Era uma quantia extremamente vultuosa para a poca; basta lembrar que a receita no oramento do Estado de Minas, em 1921, era de 42 mil contos de ris, e de 68 mil, em 1924. To grande se tornara a participao da ARBED no capital da nova empresa que lhe coube a direo, na pessoa de Gaston de Barbanson, at 1927. O poderoso consrcio, antes mesmo de constituir a Belgo-Mineira, j adquirira mais patrimnio no Brasil, com a compra em So Miguel do Piracicaba da bela proprie-dade de Joo Monlevade, que a se fixara em 1917, e da mina do Andrade, em suas vizinhanas.51

    No ano seguinte criao da Cia Siderrgica Belgo-Mineira, Arthur Bernardes foi

    eleito Presidente da Repblica. O Brasil fervia em todas as direes. O episdio dos

    tenentes no Forte de Copacabana, a Coluna Prestes, os conflitos armados em So

    Paulo e no Rio Grande do Sul, a oposio da imprensa e uma srie de outras questes

    faziam dele um presidente impopular. Para enfrentar as dificuldades, Bernardes abu-sou dos decretos de estado de stio com o intuito de governar. No entanto, tomou

    medidas que visavam atender aos anseios dos trabalhadores, entre elas a reorganiza-o da caixa de aposentadorias e penses, alm de frias anuais de 15 dias para as

    categorias dos operrios, comercirios e bancrios.

    Continuando sua poltica, iniciada no governo de Minas, em prol do ao brasileiro,

    o presidente Arthur Bernardes assinou o Decreto n 4.801 em 9 de janeiro de 1924,

    delegando ao poder executivo o amparo s iniciativas de explorao da minerao

    e criao de siderrgicas.

    Washington Luiz, o paulista de Maca que governou So Paulo de 1920 a 1924,

    sucedeu Arthur Bernardes na Presidncia da Repblica por meio de acordo que pro-punha a alternncia de poder entre mineiros e paulistas, conhecido como poltica

    do caf com leite. dele a famosa frase governar construir estradas e levou tal

    afirmativa a termo em So Paulo, onde construiu 1.300 km de rodovias.

    Arthur Bernardes

    [Wik

    iped

    ia]

    Washington Luiz

    [Wik

    iped

    ia]

    A visita do Rei Alberto ao Presidente do Estado de Minas

    mudaria definitivamente a histria daquele empreendi-mento. Havia interesse de empresrios europeus em

    montar indstrias siderrgicas no Brasil e o governo de

    Minas tentava atrair capital industrial para o Estado na

    inteno de alavancar a produo de ao. Os interes-ses se casaram e, em 1921, um grupo de representantes

    belgas tendo frente o engenheiro Jean Pierre Arend

    do Grupo de Ao da Arbed (Acieries Runies de Burba-

    ch-Eich-Dudelange), visitou Minas Gerais. Guimares,

    ento coproprietrio da Companhia Siderrgica Minei-ra (CSM), e que tambm era encarregado do consulado

    belga em Belo Horizonte, sugeriu na oportunidade que,

    em vez de fundar uma nova empresa, o grupo deveria

    associar-se ou mesmo absorver a CSM j em funciona-mento. A sugesto foi aceita e, em dezembro de 1921, a

    Companhia Siderrgica Mineira tornou-se a Companhia

    Siderrgica Belgo-Mineira.50

  • 53Antecedentes histricos do ao no Brasil Parte 1

    52 Disponvel em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/de-cret/1920-1929/decreto-4801-9-janeiro-1924-565923-republicacao-89676-pl.html. Acesso em 13 de julho de 2013.

    Decreto n 4.801, de 9 de Janeiro de 1924

    Autoriza o Poder Executivo a amparar a explora-o industrial siderurgica e carbonifera existente e d outras providencias.

    O Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brasil: Fao saber que o Congresso Nacional decretou e eu sancciono a seguinte resoluo:

    Art. 1 E o Poder Executivo autorizado a amparar a explorao industrial siderurgica e carbonifera existente, a facilitar o seu maior desenvolvimento e a fundar novas usinas adequadas produco moderna de ao, nos termos das bases abaixo especificadas, podendo, para esse fim, realizar as necessarias operaes de credito.

    I. Prorogar at 31 de dezembro de 1926 os pra-zos dos decretos ns. 12.943 e 12.944, de 30 de maro de 1918, limitando-se o total dos auxi-lios permittidos nesses decretos ao maximo de 50.000 contos, computados os j concedidos.

    II. Promover, mediante concurrencia publica, a construco de tres usinas modernas com capa-cidade para a produco annual de 50.000 tone-ladas de ao cada uma; a primeira, no valle do Rio Doce, preferindo-se ahi o emprego de altos fornos electricos; outra, no valle do Paraopeba, para altos fornos, a coke mineral, preferindo-se o de carvo nacional; e a terceira, nas proximi-dades da regio carbonifera de Santa Catharina, para altos fornos, consumindo coke nacional. Paragrapho unico. Para a escolha das pessoas ou emprezas que hajam de construir essas usinas, alm da idoneidade industrial e financeira, exigi-r o Governo que o contractante seja brasileiro e possua mina de ferro ou de carvo em logar ade-quado, dentro da regio designada, com os ele-mentos necessarios ao trabalho e vida de um centro de industria, verificada, no primeiro caso, a capacidade necessaria a uma longa explorao e o teor do minerio de ferro; e, no segundo caso, a importancia da jazida carbonifera, com a pos-sibilidade de produzir coke metallurgico.52

    Usina siderrgica. Ilustrao, 1925.

    [Pho

    tos]

    Foi durante o seu governo que os empresrios das indstrias paulistas se organi-zaram e criaram o Ciesp - Centro das Indstrias do Estado de So Paulo - em 28

    de maro de 1928 e, que depois da Revoluo de 30, seria incorporado recm

    criada Fiesp, instituda aps a implementao de um modelo sindical no governo

    de Getlio Vargas.

  • Ao Brasil: uma viagem pela indstria do ao54

    O Ciesp nasceu para mudar mtodos e modelos de pensamentos bastante arraigados. A 1 Gran-de Guerra (1914-1918) gerou imensas dificuldades de importao e, com elas, surgiram as condi-

    es para um crescimento expressivo. Como resposta, o nmero de indstrias em So Paulo saltou

    de 314, em 1907, para 4.458 no ano de 1920. (...) A escolha do cargo principal ficou com o ento

    maior industrial do Pas: o Conde Francisco Matarazzo. O segundo cargo em importncia ficou para

    um jovem de 39 anos, Roberto Simonsen. Os demais cargos da primeira diretoria foram ocupados

    por representantes das principais empresas e ideias do momento, entre eles: Horcio Lafer, Jorge

    Street, Jos Ermrio de Moraes e Antonio Devisate. (...) Com o decreto de 1931, que instituiu um

    modelo sindical baseado em associaes de classe, federaes estaduais e confederaes, o Centro

    das Indstrias do Estado de So Paulo (Ciesp) passa a chamar-se Federao das Indstrias do Estado

    de So Paulo (Fiesp). Passavam a ser da Federao as seguintes funes: formar a Confederao Na-

    cional da Indstria e do Comrcio e organizar um tribunal de conciliao e arbitramento, destinado

    a resolver questes entre patres e empregados.53

    53 Disponvel em: http://www.ciesp.com.br/sobre-o-ciesp/histo-ria/. Acesso em 23 de

    julho de 2013.

    54 Tambm conhecida como