acnur - guia de estudos

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Page 1: ACNUR - Guia de Estudos
Page 2: ACNUR - Guia de Estudos

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“Ninguém percebera que a humanidade, durante tanto tempo

considerada à imagem de uma família de nações, havia

chegado a um estágio em que quem quer que fosse expulso

de uma destas comunidades rigidamente organizadas ver-se-

ia expulso da própria família de nações.”- Hannah Arendt

(tradução nossa)1.

1 ARENDT,Hannah. The origins of totalitarianism. Cleveland: The World Publishing Company,1962.”Nobody

had been aware that mankind, for so long a time considered under the image of a family of nations, had reached

the stage where whoever was thrown out of one of these tightly organized closed communities found himself

thrown out of the family of nations altogether”.

Page 3: ACNUR - Guia de Estudos

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SUMÁRIO

CARTA DE APRESENTAÇÃO .......................................................................................... 04

1. Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados – ACNUR ............................. 06

1.1. Contingências históricas que ensejaram o surgimento do ACNUR ................................. 06

1.2. Convenção de Genebra e Protocolo de 1951 ..................................................................... 10

1.3. Estatuto do Comitê e objetivos do órgão .......................................................................... 11

1.4. Funcionamento do ACNUR: Assembleia Geral, ECOSOC e ExCom .............................. 14

2. TEMA A: Refugiados e deslocados ambientais: o lado humano das alterações

climáticas ................................................................................................................................ 16

2.1. Crises ambientais e humanitárias ...................................................................................... 16

2.2. Evolução histórica da legislação internacional de proteção ao refugiado ......................... 18

2.3. Asilo, Refúgio e Migrante econômico: institutos jurídicos distintos ................................ 21

2.4. Refugiados ambientais: uma nova categoria de refugiado? .............................................. 24

2.5. Medidas tomadas para proteção aos refugiados ambientais .............................................. 26

3. TEMA B: Sudão e Chade: Conflitos Locais, Repercussão Global ................................ 28

3.1. Sudão, Darfur e Chade: Aspectos Históricos (Localização e Conflitos Passados) ........... 29

3.2. Sudão e Darfur: Motivos do Conflito ................................................................................ 32

3.3. Repercussões do conflito de Darfur no Chade .................................................................. 35

3.4. A Situação dos refugiados ................................................................................................. 40

3.5. O Documento de Doha para a paz em Darfur ................................................................... 43

3.6. Medidas tomadas para superação do conflito .................................................................... 44

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 47

Page 4: ACNUR - Guia de Estudos

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CARTA DE APRESENTAÇÃO

Queridos delegados,

É com muita satisfação que a diretoria do Alto Comissariado das Nações Unidas para

Refugiados (ACNUR) dá boas-vindas aos senhores. Participar da SONU é uma experiência

ímpar, nela os senhores terão um contato direto com a estrutura e o funcionamento dos mais

diversos organismos internacionais bem como a oportunidade de discutir assuntos

extremamente relevantes do cenário internacional.

Estar na Mini-Sonu é algo extremamente valioso, visto que os participantes ainda no

Ensino Médio terão a oportunidade de conhecer parte do universo acadêmico além de

desfrutar todos os outros pontos que uma simulação pode proporcionar.

Essa experiência torna-se ainda mais especial porque o comitê escolhido pelos

senhores trata de um assunto tão delicado quanto emocionante. O ACNUR é um comitê de

teor humanitário que tem como objetivo proteger e socorrer os seres humanos mais

vulneráveis do planeta, que são os refugiados. Depois que se entra em contato com essa

temática não tem como ser o mesmo.

Nós esperamos que os senhores, enquanto delegados, respeitem o posicionamento de

suas respectivas nações bem como tentem resolver as questões que serão levantadas por meio

de metas alcançáveis, com base na seriedade e na diplomacia. Cabe aos senhores a

responsabilidade de encontrar os melhores caminhos para resolver as problemáticas que

compõe ambos os temas.

Ressaltamos a importância de consultar outras fontes de pesquisa para além deste guia

a fim de que se possa lograr um bom desempenho no desenvolvimento das atividades do

comitê. Por isso, não deixem de realizar uma pesquisa aprofundada sobre ambos os temas e,

principalmente, buscar o máximo de conhecimento sobre a delegação que representarão. O

sucesso deste comitê depende da seriedade e da dedicação de seus delegados.

Esperamos que os senhores tenham uma ótima simulação, e para isso nós, como

diretoria, faremos tudo o que for possível para que esta simulação dê certo, garantindo debates

seguros e sempre atuando de modo a respeitar rigorosamente as regras. Quaisquer dúvidas

não hesitem em nos procurar.

Page 5: ACNUR - Guia de Estudos

5

Após tais considerações, resta apresentar os Membros da Diretoria do Comitê. Todas

nós somos estudantes do Curso de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC). Isabelly

Cysne está no quinto semestre, Ivina Sampaio e Monique Guimarães cursam o quarto e

Vanessa Costa está no terceiro semestre. Todas possuem experiência em modelos de

organizações internacionais como diretoria e estão envolvidas em diversas atividades de

pesquisa e extensão da UFC, além de serem incansáveis estudantes das relações internacionais

e das discussões que estas relações proporcionam.

Gostaríamos ainda de agradecer ao Hugo William Pinheiro Alan, nosso secretário

acadêmico, que nos auxiliou neste apaixonante trabalho e na confecção deste guia.

Desejamos a todos uma ótima SONU 2013, não apenas nos dias da simulação em si,

mas a partir de agora, com a leitura deste guia e com as pesquisas adicionais. Confiamos na

dedicação e participação dos senhores para obtermos sucesso nos debates e alcançarmos

resoluções coerentes dos temas propostos.

Por fim, fazemos votos de uma boa jornada a todos. Aproveitem a oportunidade para

aprender, discutir e fazer amigos.

Cordialmente,

Isabelly Cysne Augusto Maia

Ivina Sampaio Braga

Monique Maria Guimarães Unias

Vanessa Silva Barbosa da Costa

A Diretoria do ACNUR

Page 6: ACNUR - Guia de Estudos

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1. Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados – ACNUR

A atriz Angelina Jolie, Embaixadora da Boa Vontade do ACNUR, em visita a um campo de refugiados no

Quênia. (Fonte: ACNUR)

1.1 Contingências históricas que ensejaram o surgimento do ACNUR

A Organização das Nações Unidas (ONU) surgiu em 24 de outubro de 1945, logo após

a Segunda Guerra Mundial. Esse conflito, o qual envolveu vários países, inclusive

Estados-Nações de diversos continentes, ensejou o significativo aumento de refugiados,

indivíduos que por razões de perseguição de ordem política, econômica ou racial, além de

motivações de fundado temor viram-se coagidos a abandonar seus países e buscarem

proteção em outros Estados.

As situações de conflito armado geram sentimento de insegurança, instabilidade e

perseguições. Devido as grandes dimensões que apresentou a Segunda Guerra Mundial,

muitas pessoas abandonaram seus países e buscaram refúgio em outras nações, que, por

vezes, estavam tão devastados quanto o país abandonado pelo refugiado. Dessa forma, o

individuo ficava desamparado, em uma situação dicotômica: não poderia permanecer em

seu país, mas não havia nenhuma previsão normativa de que a Comunidade Internacional

deveria ampará-lo.

Ainda por ocasião da fundação da Liga das Nações em 1919, organização que

precedeu a ONU, criada em virtude do Tratado de Versalhes, havia a Organização

Page 7: ACNUR - Guia de Estudos

7

Internacional dos Refugiados, funcionando com um dos primeiros Organismos

internacionais de proteção ao refugiado, aplicando o Direito Internacional Humanitário.

As primeiras organizações com este objetivo datam do período subsequente à

Primeira Guerra Mundial e surgiram no bojo da Liga das Nações, de forma

temporária e com vistas a assistir grupos específicos, deslocados em função dos

conflitos que se desenrolaram na Europa. Na década de 1940, quando da ocorrência

da Segunda Grande Guerra, os fluxos de deslocados voltaram a se intensificar,

chamando a atenção da comunidade internacional para este problema. Foi criada a

Organização Internacional para Refugiados (OIR), mas, devido a tensões existentes

entre os blocos antagônicos no período da Guerra Fria, esta foi extinta alguns anos

após sua criação. Surgiu então, no âmbito das Nações Unidas, o Alto Comissariado

das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), que veio a se tornar principal órgão

no que tange a proteção jurídica e assistência humanitária aos refugiados2.

Até a ocorrência da I Guerra Mundial a solução pra os refugiados dava-se através da

concessão de asilo ou extradição. Até então, a incorporação dessas pessoas em novas

sociedades era facilitada pela receptividade dos Estados, que viam com bons olhos o

acréscimo de indivíduos economicamente ativos à sua população. Essa concepção positiva do

refúgio foi alterando-se ao longo dos anos, de modo que a Comunidade Internacional passou a

ter um certa rejeição a acolhida desses novos indivíduos em seu território, ensejando a criação

de Organismos Internacionais mais fortes e aptos a protege-los.

De acordo com o artigo 1º A da Convenção de 1951, uma pessoa é enquadrada no

status de refugiado quando

[...] Por fundado temor de perseguição por motivos de raça, religião,

nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, encontra-se fora do país de sua

nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da

proteção desse país, ou que, se não tem nacionalidade, encontra-se fora do país no

qual tinha sua residência habitual em consequência de tais acontecimentos, não pode

ou, devido ao referido temor, não quer voltar a ele.

Diante do contexto internacional, os países resolveram regulamentar as questões que

versavam sobre Direito Internacional Humanitário (DIH), o qual seria um campo do

Direito Internacional que se preocupa com a vida e a dignidade da pessoa humana, tanto

dos combatentes, quanto dos civis, durante os conflitos armados, regulando seus meios e

2 BARTELEGA, Camila Franco. A Assistência Internacional dos refugiados: Da Liga das Nações ao Pós-

Guerra Fria. França. 2007, p. 02.

Page 8: ACNUR - Guia de Estudos

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métodos; a preocupação internacional foi deslocada do âmbito econômico para o domínio

social.

Tal preocupação internacional tem seu espaço em foros privilegiados de discussão e

tomada de decisão, chamados “Organizações Internacionais” (OI). Sobre as OI, Luciana

Diniz Durães Pereira (2010, p. 7) afirma:

O surgimento das Organizações Internacionais (OI) constitui-se em um dos fatos

mais marcantes da História das Relações Internacionais do século XX. Consagrando

os princípios da cooperação internacional e do multilateralismo estatal, as OI são,

tanto em perspectiva universal como em perspectiva regional, importantes foros e

espaços de discussão e tomada de decisões3.

Dessa forma, cinco anos após a criação da Organização das Nações Unidas, surge o

Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), criado pela Assembleia

Geral da ONU em 14 de dezembro de 1950.

O ACNUR apresenta um caráter humanitário e apolítico. Sua missão é proteger

homens, mulheres e crianças refugiadas e buscar soluções duradouras para que possam

reconstruir suas vidas em um ambiente digno do ponto de vista cultural, político e social. Há

de se destacar, também, que o ACNUR está inserido dentro do DIH (Direito Internacional

Humanitário), e que aliado ao Direito Internacional dos Refugiados, âmbito de atuação de

maior especificidade desse órgão, e com o Direito Internacional dos Direitos Humanos,

formam uma tríplice chamada de Direito Internacional da Pessoa Humana. Conclui-se que foi

o ACNUR o responsável pela sistematização do Direito Internacional dos Refugiados,

prevendo através de tratados internacionais como esses indivíduos deveriam ser acolhidos e

amparados pela comunidade internacional.

O ACNUR surgiu para ter duração de apenas cinco anos, conforme estava previsto em

seu estatuto, pois se acreditava na época que a questão dos refugiados seria rapidamente

solucionada: em breve, os países estariam financeiramente recuperados do conflito terminado

em 1945, de forma que aqueles que, eventualmente, tivessem saído de seu país poderiam

retornar; a realidade histórica nos mostra que as consequências foram outras. O mundo atual

não enfrenta guerras nas proporções de um conflito mundial, mas havia em 2007, 35,4

milhões de refugiados, dos quais 10,4 milhões estariam fora de seus países e 15,4 milhões

3 PEREIRA, Luciana Diniz Durães. O Direito Internacional dos Refugiados: análise crítica do conceito de “refugiado ambiental”. Editora Delrey. Belo Horizonte, 2010, p. 7.

Page 9: ACNUR - Guia de Estudos

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seriam refugiados internos, afirmou o levantamento anual da agência das ONU para os

refugiados (ACNUR ONLINE).

Atualmente, grande parte do apoio aos refugiados é feito pela Comissão Permanente

Interagencial (IASC), através da sua abordagem em grupo, reunindo todas as principais

agências humanitárias, tanto dentro como fora do sistema das Nações Unidas, para uma ação

coordenada. O ACNUR é a agência líder no que diz respeito à proteção dos refugiados e

deslocados internamente. Junto com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), é

a principal agência de coordenação e gestão. E compartilha a liderança com relação aos

abrigos de emergência com a Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente

Vermelho.

Dados estatísticos sobre o número de refugiados ao redor do mundo. (Fonte: ACNUR)

Diante de tais circunstâncias, o ACNUR vem renovando seu mandato de cinco em

cinco anos, afinal:

Tem-se as ações que visam a fortalecer a proteção jurídica dos refugiados,

enfrentando, desta feita, o atual desafio dos direitos humanos, qual seja, sua real

efetivação; e, de outro, tem-se ações que buscam aumentar o rol das pessoas

Page 10: ACNUR - Guia de Estudos

10

protegidas pelo Direito Internacional dos Refugiados, visando alterar, assim, a

própria definição de refugiado ou mandato do ACNUR4.

As contingências históricas que ensejaram o aparecimento do ACNUR (existência de

indivíduos que sofrem perseguições e apresentam temor de se manterem em seus países de

origem) se mantêm ainda hoje, viabilizando a continuidade do órgão e inclusive aumentando

sua área de atuação, ficando sob a tutela desse organismo os deslocados internos, os apátridas

e os requerentes de asilo.

1.2. Convenção de Genebra e Protocolo de 1951

Como resultado da decisão da Assembleia Geral de 19505, foi realizada em Genebra,

no ano de 1951, uma Conferência de Plenipotenciários das Nações Unidas, cujo objetivo seria

o desenvolvimento de uma Convenção que pudesse regulamentar o status legal dos

refugiados. Como consequência das deliberações da Conferência, foi aprovada, em 28 de

julho de 1951, a Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados, entrando esta em vigor em

22 de abril de 1954.

O documento representa um marco no Direito Internacional, sobretudo por representar

o compromisso e a responsabilidade da sociedade internacional para com um grupo

vulnerável e, até então, negligenciado:

É de se observar que a Convenção reconhece a dimensão mundial da questão dos

refugiados e a necessidade da difusão de uma solidariedade internacional no trato da

problemática, advogando notadamente a partilha da responsabilidade entre os

Estados6.

O maior avanço da Convenção consiste em apresentar uma definição jurídica do

termo “refugiado” e, a partir dela, coordenar, por meio do ACNUR, ações que objetivem

4 JUBILUT, L. L. O. O Direito Internacional dos Refugiados e sua Aplicação no Ordenamento Jurídico Brasileiro. Editora Médoto. São Paulo, 2007, p. 161. 5Resolução 429 (V) de 14 de dezembro de 1950 da Assembleia Geral das Nações Unidas.

6 DA CUNHA, A. O. O Direito Internacional dos Refugiados em Xeque: refugiados ambientais e econômicos. Revista Brasileira de Direito Internacional (RBDI). América do Norte, 8 jul. 2009. Disponível em: <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/dint/article/view/13766/10850>. Acesso em: 5 abr. 2013.

Page 11: ACNUR - Guia de Estudos

11

solucionar as problemáticas relacionadas ao tema e conferir a proteção necessária ao grupo

dos refugiados.

A Convenção também elenca, em seu artigo 1º, cláusulas de exclusão7 e cessação8 do

status de refugiado. No tangente à cessação, o próprio ACNUR considera o referido status

como temporário, ou seja, a partir do momento em que o indivíduo não necessitar mais da

proteção do país que o acolheu, podendo regressar ao seu país de origem ou gozar dos

mesmos direitos dos cidadãos do país que lhe ofereceu refúgio, a ajuda internacional torna-se

injustificada.

O artigo supracitado limita sua aplicação a âmbitos geográficos e temporais. A

Convenção foi elaborada em um contexto histórico pós-Segunda Guerra, em que a

problemática em relação aos refugiados era gritante e exigia soluções urgentes. Julgava-se,

portanto, que a questão abordada seria pontual e limitada àquele período e espaço, exigindo

que o indivíduo que buscasse refúgio o fizesse por razões ocorridas dentro do continente

europeu, antes de 1º de janeiro de 1951.

O Protocolo de Nova York de 1967 mostrou-se, portanto, como um documento de

suma relevância para o Direito Internacional, por retirar da Convenção de 1951 as reservas

presentes nesta que limitavam sua aplicabilidade a tempo e espaço pré-definidos. Segundo

Whittaker (apud DA CUNHA, 2009), o Protocolo de 1967 transformou a Convenção Relativa

ao Estatuto dos Refugiados de um documento legislativo fixado num momento histórico

específico em um instrumento de Direitos Humanos9.

1.3. Estatuto de Comitê e objetivos do órgão.

O estatuto do ACNUR é o documento que contém as normas gerais que irão reger as

atividades do comitê, como o processo de tomada de decisões dentro do órgão, a escolha dos

representantes do mesmo e os direitos e obrigações dos membros e das relações entre eles.

7Art. 1º (D, E, F).

8 Art. 1º (C).

9 WHITTAKER, David. Asylum Seekers and Refugee in the Contemporary World. In: DA CUNHA, A. O

Direito Internacional dos Refugiados em Xeque: refugiados ambientais e econômicos. Revista Brasileira de

Direito Internacional (RBDI). América do Norte, 8 jul. 2009. Disponível em:

<http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/dint/article/view/13766/10850>. Acesso em: 03 abr. 2013.

Page 12: ACNUR - Guia de Estudos

12

As normas gerais presentes nesse documento estão direcionadas no sentido de

propiciar a concretização dos objetivos do órgão conjuntamente com as especificações e

delimitações necessárias para o bom funcionamento da organização. Dois aspectos notórios

revelados pela análise do citado estatuto são: a preocupação com a busca de soluções

permanentes para o problema dos refugiados e o respeito para com as soberanias dos países

que é expresso pela necessidade do consentimento dos Estados para que qualquer assistência

seja prestada, conforme se constata pela leitura de um dos dispositivos normativos presentes

no estatuto do comitê:

O Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, atuando sob a autoridade

da Assembleia Geral, assumirá a função de proporcionar proteção internacional, sob

os auspícios das Nações Unidas, aos refugiados que reúnam as condições previstas

no presente Estatuto, e de encontrar soluções permanentes para o problema dos

refugiados, ajudando os Governos e, sujeito a aprovação dos Governos interessados,

as organizações privadas, a fim de facilitar o repatriamento voluntário de tais

refugiados ou a sua integração no seio de novas comunidades nacionais10.

Os objetivos principais dessa organização estão em consonância com o caráter

totalmente apolítico dos trabalhos do ACNUR, uma vez que a missão principal do órgão é

assegurar os direitos e o bem-estar dos refugiados, o que demonstra que as atividades

realizadas por essa organização internacional são voltadas para o âmbito humanitário e social.

Suporte técnico do ACNUR em Yida, Sudão do Sul, para auxiliar a distribuição de alimentos para os refugiados.

(Fonte: ACNUR ONLINE)

10 ALTO COMISSARIADO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA REFUGIADOS. Estatuto do Alto Comissariado das Nações

Unidas para Refugiados. Cap. I, parágrafo primeiro. 1950, p. 04.

Page 13: ACNUR - Guia de Estudos

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Um ponto já citado anteriormente e que coaduna perfeitamente com os objetivos dessa

organização é a busca por soluções permanentes para a problemática dos refugiados e esses

tipos de soluções estão ligadas, principalmente, a assistência prestada aos refugiados para que

possam voltar ao seu país de origem ou se instalarem definitivamente em outro país.

Ranking dos principais países de origem de refugiados. (Fonte: ACNUR ONLINE – Relatório Tendências

Globais 2012)

Ranking dos países que mais hospedam refugiados. (Fonte: ACNUR ONLINE – Relatório Tendências Globais

2012)

Page 14: ACNUR - Guia de Estudos

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O Estatuto do ACNUR, com a finalidade de promover os seus objetivos, ou seja,

assistir a qualquer pessoa que se encontra fora de seu país de origem e que não pode, ou não

quer, regressar ao mesmo em face de uma perseguição ou ao fundado temor desta, também

valoriza a adoção de medidas preventivas para diminuir o fluxo de deslocamentos humanos.

1.4. Funcionamento do ACNUR: Assembleia Geral, ECOSOC e ExCom

Reuni

ão anual do Comitê Executivo do ACNUR (ExCom) em Genebra, Suíça. (Fonte: ACNUR ONLINE)

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) está sediado

em Genebra, Suíça. No entanto, a maioria dos seus funcionários não trabalham na sede, mas

sim, em locais de crise e nos campos de refugiados. Essa agência é vinculada a ONU; por esse

motivo, ela presta contas e realiza um relatório anual às Nações Unidas. Contudo, a ONU

possui várias subdivisões, ficando o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas

(ECOSOC) responsável pelo funcionamento do ACNUR.

O ECOSOC é uma das entidades mais antigas da ONU; tem como objetivo auxiliar e

coordenar vários órgãos subsidiários e agências especializadas relacionadas à saúde, ao meio

ambiente, à cultura, à organização econômica, aos direitos da infância e juventude e ao direito

trabalhista internacional, a fim de que se possam alcançar as Metas do Milênio11 para atingir o

pleno desenvolvimento das nações.

No Conselho Econômico e Social existem diversas comissões para que se possam

alcançar, efetivamente, todas as questões que estão sob a responsabilidade do órgão. A

11 Em 2000, a ONU – Organização das Nações Unidas, ao analisar os maiores problemas mundiais, estabeleceu

8 Objetivos do Milênio que devem ser atingidos por todos os países até 2015. Esses objetivos são: a) Acabar

com a fome e a miséria; b) Educação básica de qualidade para todos; c) Igualdade entre os sexos e valorização

da mulher; c) Reduzir a mortalidade infantil; d) Melhorar a saúde das gestantes; e) Combater a AIDS, a malária e

outras doenças; f) Qualidade de vida e respeito ao meio ambiente; g) Estabelecer uma parceria mundial para o

desenvolvimento.

Page 15: ACNUR - Guia de Estudos

15

Assembleia Geral da ONU enviou um pedido ao ECOSOC para a criação do Comitê

Executivo do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ExCom) que, tem por

objetivo organizar o ACNUR e assessorar o Alto Comissariado no exercício de suas funções

de acordo com o Estatuto da agência. Além de revisar anualmente o uso dos fundos à

disposição do Alto Comissariado e dos programas propostos ou os dos que já estão em

execução. Segundo a Resolução 1166 (XII) de 1957, a Assembleia Geral:

Requer que o Conselho Econômico e Social estabeleça um Comitê Executivo do

programa do Alto Comissariado, que consistirá de representantes de vinte ou vinte e

cinco Estados membros das Nações Unidas ou Estados membros de quaisquer

agências especializadas, eleitos pelo Conselho na mais ampla base geográfica

possível, com demonstrado interesse e devoção à solução dos problemas relativos

aos refugiados12.

O trabalho realizado pelo ACNUR encontra suporte nas resoluções, chamadas de

Conclusões, realizadas pelo Comitê Executivo. Este era inicialmente formado por 25 países-

membros, entretanto, atualmente funciona com um total de 8713.

O ExCom reúne-se uma vez por ano, durante uma semana, na sede do ACNUR em

Genebra, Suíça. Antes da reunião anual do Comitê Executivo, há várias outras reuniões

realizadas pelo Comitê Permanente, que é um subcomitê do ExCom, ao longo do ano para que

os temas cheguem desenvolvidos a reunião anual.

O sistema de votação é por consenso; quando o Comitê Executivo vota sobre temas

que tratam da proteção internacional aos refugiados, apátridas e pessoas deslocadas

internamente, a resolução dar-se-á por meio de um Documento de Conclusão, já para os

textos que tratem da revisão e do uso dos fundos e dos programas, é produzido um

12 ALTO COMISSARIADO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA REFUGIADOS. O Comitê Executivo do Alto

Comissariado das Nações Unidas para Refugiados. Disponível em:

http://www.acnur.org/t3/portugues/informacao-geral/o-comite-executivo-excom/. Acesso em: 5 mar. 2013.

13 Os 87 países são: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argélia, Argentina, Austrália, Áustria,

Azerbaijão, Bangladesh, Bélgica, Benin, Brasil, Bulgária, Camarões, Canadá, Chile, China, Chipre, Colômbia,

Congo, Coréia do Sul, Costa Rica, Costa do Marfim, Croácia, Dinamarca, Djibuti, Equador, Egito, Eslovênia,

Espanha, Estados Unidos da América, Estônia, Etiópia, Filipinas, Finlândia, França, Gana, Grécia, Guiné,

Hungria, Índia, Irã, Irlanda, Israel, Itália, Japão, Jordânia, Quênia, Líbano, Lesoto, Luxemburgo, Macedônia,

Madagascar, Marrocos, México, Montenegro, Moldávia, Moçambique, Namíbia, Nicarágua, Nigéria, Noruega,

Nova Zelândia, Paquistão, Países Baixos, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Democrática do Congo,

Romênia, Rússia, Ruanda, Sérvia, Somália, Sudão, Suécia, Suíça, Tailândia, Togo, Tanzânia, Tunísia,

Turcomenistão, Turquia, Uganda, Venezuela, Iêmen e Zâmbia.

Page 16: ACNUR - Guia de Estudos

16

Documento de Decisão. O ExCom, juntamente com outras organizações internacionais, sejam

governamentais ou não, não medem esforços para reconstruir e salvar vidas.

2. TEMA A: Refugiados e deslocados ambientais: o lado humano das

alterações climáticas

"Refugiados ambientais" deixando Bangcoc, capital da Tailândia, em uma estrada inundada (Fonte:

Greenpeace/Sataporn Thongma)

2.1. Crises ambientais e humanitárias

De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)14,

nas duas últimas décadas, houve o agravamento do desmatamento das florestas, da poluição

do ar e da água, da pesca predatória e a intensificação das emissões de gases causadores do

14 O PNUMA, com sede em Nairóbi, no Quênia, foi estabelecido em 1972 e é o Programa do Sistema ONU

responsável por desenvolver, estabelecer e catalisar as ações internacionais para a proteção do meio ambiente,

visando atingir, assim, o desenvolvimento sustentável – conceito utilizado, sobretudo, após a ECO/92. Atua,

portanto, procurando integrar a proteção e gestão do meio ambiente ao desenvolvimento econômico, contando

com o auxílio e apoio da ONU, dos Governos dos Estados que compõem a sociedade internacional, do setor

privado, da sociedade civil e das ONGs ligadas à temática do meio ambiente. DINIZ, Luciana. O Direito

Internacional dos Refugiados: análise crítica do conceito de “refugiado ambiental”. Editora DelRey. Belo

Horizonte, 2009, p .107.

Page 17: ACNUR - Guia de Estudos

17

efeito estufa.15 O desequilíbrio ambiental e suas implicações em diferentes esferas da

sociedade são problemáticas pertinentes às discussões sobre as crises contemporâneas:

Os eventos de desastres naturais têm consequências enormes para as pessoas, tanto

em suas vidas, como na perda de meios de subsistência e de infraestrutura,

essenciais para a recuperação dos sobreviventes. A segurança alimentar é afetada

pela destruição desses meios, sobretudo culturas, gado, ou outras formas de

produção ou geração de renda. Eventualmente, pode haver situações de fome e de

grave comprometimento das condições de saúde pela falta de serviços básicos.

(RADIO WEB RURAL ONLINE, 2013)16.

O aumento da temperatura global, por exemplo, desregulou uma cadeia natural de

acontecimentos. Em algumas regiões, o derretimento das geleiras ocasionou inundações,

enquanto em outras, a seca e a falta de perspectiva diante da problemática da água são

problemas constantes. Aliado ao efeito estufa, o consumo desenfreado e a poluição

contribuíram com o agrave da situação mencionada:

Mais de 600 milhões de pessoas devem ficar sem acesso a água potável até 2015,

enquanto mais de 2,5 bilhões de pessoas não terão acesso a saneamento básico.

Desde 2000, os reservatórios de água subterrânea se deterioraram ainda mais,

enquanto o uso mundial de água triplicou nos últimos 50 anos17. (G1 ONLINE,

2012)

Assim como as crises ocasionadas por desastres naturais, as crises oriundas de

conflitos, quais sejam, guerras e levantes militares, tornam uma nação vulnerável a

problemáticas nos âmbitos sociais, políticos, econômicos e culturais. Nesse contexto

complexo de emergência, o deslocamento em massa pode tornar-se inevitável, sobretudo nos

países que não dispõem de recursos suficientes para a recuperação ao curto e médio prazo.

15 Relatório divulgado em 06 de junho de 2012, uma semana antes da Rio+20, Conferência das Nações Unidas

sobre Desenvolvimento Sustentável, que aconteceu entre os dias 13 e 22 do mesmo mês. Informações

disponíveis em: G1 Online. ONU Afirma que Crise Ambiental no Planeta é Grave, mas tem Solução.

Disponível em: <http://g1.globo.com/natureza/rio20/noticia/2012/06/onu-crise-ambiental-no-planeta-e-grave-

mas-tem-solucao.htm>. Acesso em: 5 abr. 2013.

16 RADIO WEB RURAL Online. Desastres y crisis humanitarias. Disponível em:

<http://www.radiowebrural.com/node/3829>. Acesso em: 5 abr. 2013. Tradução nossa.

17 Informação disponível em: <http://g1.globo.com/natureza/rio20/noticia/2012/06/onu-crise-ambiental-no-

planeta-e-grave-mas-tem-solucao.html>. Acesso em 05 abr. 2013.

Page 18: ACNUR - Guia de Estudos

18

A ONU oferece auxílio no que diz respeito à prevenção dos desastres, auxiliando, em

linhas gerais, os países a reduzirem sua vulnerabilidade. Além disso, as consequências dos

mencionados conflitos são passíveis de discussão no âmbito das Nações Unidas. Nos

seguintes tópicos será abordada uma problemática intrínseca às crises ambientais: o

deslocamento de pessoas devido à impossibilidade de encontrarem abrigo em suas próprias

nações. O ACNUR, reconhecendo tal situação, destaca a importância da discussão e a

necessidade de se tomarem medidas, a fim de enfocar o lado humano das questões e crises

ambientais.

2.2. Evolução histórica da legislação internacional de proteção ao refugiado.

Uma breve análise sobre a evolução histórica da legislação internacional de proteção

ao refugiado faz-se necessária para que se obtenha uma melhor compreensão acerca da

temática abordada. O ponto inicial dessa análise consiste no direito de asilo presente na

antiguidade clássica; esse ponto representa o primeiro estágio da evolução histórica que

desencadeou a formação do Direito Internacional dos Refugiados tal como conhecemos

hodiernamente.

O direito de asilo na antiguidade clássica foi caracterizado pela situação fática em que

um indivíduo sofria com uma perseguição, e, ao fugir dessa, deslocava-se para outra

localidade. As autoridades desse lugar podiam conceder à vítima da perseguição o direito de

asilo que era a proteção conferida ao asilado no sentido de que este não poderia ser retirado de

forma abrupta ou violenta do local de sua nova morada.

É importante ressaltar que inúmeras situações compreendidas anteriormente como

asilo são hoje enquadradas na acepção de refúgio, mas esse instituto jurídico só surgiu na

década de 1920, com o trabalho da Sociedade das Nações.

As principais civilizações da antiguidade tais como a egípcia, a grega e a romana

adotavam o direito de asilo e essa última foi a responsável por inserir esse direito pela

primeira vez em um código escrito de leis, embora o direito de asilo não fosse completamente

aceito pelos romanos por se proveniente, em grande parte, de uma tradição religiosa.

Posteriormente, com o fim do Império Romano e o começo da Idade Média iniciou-se

um processo de desvalorização do Direito Romano, uma vez que o novo contexto histórico

propiciava o surgimento de um direito predominantemente oral e bastante influenciado pela

religião cristã. Essa mudança também influenciou a prática do asilo que passou a ser realizado

Page 19: ACNUR - Guia de Estudos

19

predominantemente por edificações religiosas, como igrejas, conventos, mosteiros e outros

locais considerados protegidos por Deus.

Em seguida, com o declínio do poder da Igreja Católica, uma nova conjuntura

histórica denominada Idade Moderna é formada. Essa é caracterizada pela volta às tradições

greco-romanas e a valorização da liberdade e da razão, o que acarretou o movimento de

laicização do Direito.

Esse processo trouxe mudanças significativas para o instituto jurídico do asilo, visto

que, sob uma perspectiva racional e livre da influência da Igreja Católica, o direito de asilo se

configurou com uma nova conceituação jurídica caracterizada por uma mudança dos seus

elementos essenciais e de seu âmbito de aplicação. O resultado desse processo pode ser

constatado pela observação de que, nos séculos XVIII e XIX, o direito de asilo já se

configurava solidamente como um instituto jurídico laico e que era aceito pela maior parte

dos Estados europeus.

A importância desse instituto jurídico foi elevada ao ser admitida como norma

constitucional após a ocorrência da revolução francesa, porquanto o direito de asilo foi

previsto no artigo 120 do texto constitucional que foi adotado pela Convenção

Revolucionária.

Contudo, diferentemente da França, os outros Estados europeus silenciaram-se no que

tange à adoção do asilo em seus textos constitucionais e, dessa forma, esse instituto

permaneceu predominantemente como sendo fruto de uma decisão discricionária e política, e

não como um direito de natureza individual que caberia aos indivíduos perseguidos.

A perspectiva citada anteriormente não perdura, visto que, com a ocorrência da

Primeira Guerra Mundial, e as, consequentes, crises humanitárias advindas do novo panorama

do pós-guerra, mostrou-se necessário que fossem criados novos mecanismos para resolverem

a problemática dos indivíduos que estavam sofrendo com perseguições e graves violações dos

Direitos Humanos em seus países originários.

Em face dessa problemática, a iniciativa do delegado norueguês Dr. Fridtjof Nansen

mostra-se como extremamente relevante para a evolução histórica da legislação internacional

de proteção ao refugiado, uma vez que foi capaz de sensibilizar os países a prestar ajuda

humanitária e também de promover a repatriação do maior número possível de pessoas que se

deslocaram em função da guerra.

O fato de que a URSS não fazia parte da Liga das Nações representava, na época,

outro problema, pois um grande número de deslocados estava presente naquele território.

Page 20: ACNUR - Guia de Estudos

20

Desse modo, para resolver esta problemática, o Alto Comissariado para Refugiados Russos

(ACRR) foi criado.

Outra iniciativa, inclusive anterior à criação do ACRR, foi a utilização do passaporte

Nansen, que é conhecido por ser o primeiro documento de viagem para refugiados. Esse

documento identificava os refugiados e apátridas e também funcionava como uma peça que

permitia o retorno desses aos seus países originários, além de ter sido considerado como uma

solução significativamente eficaz e criativa.

O referido delegado norueguês, em virtude de sua experiência promissora com a

criação do passaporte Nansen, foi o escolhido para assumir o cargo de Alto Comissário do

ACRR, de forma que “esse órgão tinha, basicamente, três grandes competências: (i) realizar

ações de socorro e assistência aos refugiados; (ii) definir o conceito jurídico e a situação dos

refugiados; (iii) organizar o reassentamento ou a repatriação.” (DINIZ, 2010, p. 55).

O ACRR foi um órgão criado para o fim específico de prestar assistência ao grande

número de refugiados russos que se deslocaram em virtude da Primeira Guerra Mundial,

portanto, quando seu mandato foi encerrado, em 1931, tornava -se necessária a criação de um

novo órgão para a tutela dos refugiados.

Assim, o Escritório Nansen para Refugiados (ENR), denominado dessa forma em

homenagem ao referido Dr. Fridtjof Nansen, é criado em 1930 para acompanhar a transição

do encerramento do ACRR e, dessa forma, garantir a tutela dos refugiados. O ENR foi

marcante para a evolução da legislação de proteção aos refugiados porque redigiu uma

convenção que foi o início da positivação normativa do Direito Internacional dos Refugiados

(DIR).

O fim do mandato do ENR em 1938 propiciou o surgimento de duas novas

organizações para lidar com a problemática dos refugiados: o Alto Comissariado da Liga das

Nações para Refugiados (ACLNR) e o Alto Comissariado para os Refugiados Judeus

provenientes da Alemanha (ACRJ).

Entretanto, a Assembleia Geral da Liga das Nações entendia como desnecessária a

existência de dois órgãos com regimes diferenciados de tratamento dos refugiados. Com a

intenção de resolver essa problemática foi criado o Alto Comissariado da Liga das Nações

para Refugiados (ACLNR), que atuava paralelamente ao Comitê Intergovernamental para

Refugiados (CIR).

Ambas as organizações alcançaram grandes méritos, como a qualificação individual

de refugiado, proveniente do trabalho da ACLNR, e o estabelecimento das causas que

levavam aos refugiados a fugirem de seus países originais, que foram extraídas das pesquisas

Page 21: ACNUR - Guia de Estudos

21

realizadas pelo CIR. No entanto, ambas tornaram-se ineficientes e inoperantes em função da

II Guerra Mundial e, depois de algum tempo, extintas.

Após o término do conflito, existia a necessidade da criação de uma nova Organização

Internacional que substituísse a extinta Liga das Nações, uma vez que esta fracassou ao tentar

manter a paz no cenário internacional em face da ocorrência da Segunda Guerra Mundial.

Assim, para suprir essa necessidade, institucionalizou-se a Organização das Nações

Unidas (ONU). Esta, ao concluir que o problema dos refugiados precisava ser tratado com

urgência, estabeleceu uma Comissão Preparatória da Organização Internacional dos

Refugiados, que trabalhava para a Organização Internacional dos Refugiados (OIR) que foi

fundada em 1921, em Genebra, pela Assembleia Geral das Nações Unidas.

A OIR lidou de forma satisfatória com a problemática dos refugiados, todavia, a ONU

entendeu que havia a necessidade de se nomear um Alto Comissário das Nações Unidas

competente no assunto. Dessa forma, a OIR transferiu suas competências e atividades para o

ACNUR e logo foi extinta.

2.3. Asilo, Refúgio e Migrante econômico: institutos jurídicos distintos.

A diferenciação entre os institutos jurídicos asilo, refúgio e migrante econômico é de

suma importância para que se compreenda qual é o instituto observado em diversas situações.

Dessa maneira, é possível inferir quais as medidas adequadas para resolver as problemáticas,

com base na regulamentação diferenciada que envolve cada instituto.

O asilo e o refúgio, geralmente, são os mais confundidos entre si, portanto, uma

diferenciação pautada na exposição entre suas similitudes e diferenças é considerada

conveniente para que se obtenha uma clara percepção das definições desses dois institutos.

A principal similitude observada entre os dois referidos institutos é o fato de que

ambos se fundamentam na proteção genérica à pessoa humana e, portanto, ao proteger os

indivíduos que sofrem com a perseguição, em seus respectivos países de origem ou de

residência habitual, funcionam como dois institutos de natureza humanitária que buscam

garantir a consolidação dos direitos humanos em âmbito internacional, através da acolhida

dessas vítimas em países onde possam viver com dignidade e paz.

Apesar das similitudes presentes entre os institutos do asilo e do refúgio, existe uma

série de características que distinguem claramente as definições de ambos. Uma dessas

características é a origem histórica diferenciada, uma vez que o instituto do asilo é observado

Page 22: ACNUR - Guia de Estudos

22

desde a antiguidade clássica e o do refúgio somente foi tutelado, após a I Guerra Mundial com

o trabalho da Sociedade das Nações.

O fato anteriormente expresso pode ser comprovado a partir da observação de que o

instituto do asilo já era regulamentado em normativas internacionais desde o século XIX,

enquanto o do refúgio só encontrou embasamento normativo, em âmbito universal, com a

Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados (CRER) de 1951.

Segundo a professora Luciana Diniz, existe outro importante aspecto diferenciador:

Pode-se notar outra importante diferença entre os institutos no tocante a seus

respectivos âmbitos de aplicação. O asilo, tanto o territorial quanto o diplomático,

encontra-se ligado apenas ao fato de existir, em si, perseguição política que enseje o

direito de proteção a algum indivíduo e é praticado, sobretudo, em perspectiva

regional, no âmbito latino-americano. O direito de refúgio, por sua vez, é assegurado

universalmente e aplicado, então, em âmbito universal, a partir de cinco motivos

geradores do bem fundado temor de perseguição, seu elemento essencial, quais

sejam: a raça, religião, opinião política, pertencimento a um determinado grupo

social e nacionalidade. (DINIZ, 2010, p.66)

Além dos aspectos já citados anteriormente, destaca-se a exigência, no instituto do

refúgio, da extraterritorialidade para que seja reconhecido o status de refugiado ao requerente

desta condição, já no asilo essa exigência não é imprescindível, visto que na modalidade do

asilo diplomático não há a necessidade da extraterritorialidade. Dessa maneira, é possível

inferir que essa exigência decorre de uma diferença básica entre esses dois institutos, pois o

asilo é um direito que é adquirido, através de uma concessão discricionária de um

determinado Estado, ao passo que a atribuição do status de refugiado, com bases nos critérios

previstos pela CRER, é declaratória.

Dessa forma, é compreensível outra distinção essencial entre o asilo e o refúgio, posto

que do asilo não decorrem obrigações internacionais, ou seja, por ser puramente uma

concessão estatal; o Estado que acolhe o asilado não tem a obrigação de formular políticas

públicas para integrá-lo. Ao revés, do refúgio decorrem obrigações internacionais, visto que,

quando o status de refugiado é reconhecido, os países que acolhem os refugiados estão

impelidos pela CRER a integrar esses indivíduos à comunidade nacional. Por fim, outras

características diferenciadoras são: a existência de cláusulas de exclusão e cessação no

instituto do refúgio e a presença de um órgão fiscalizador, específico do instituto do refúgio,

Page 23: ACNUR - Guia de Estudos

23

denominado ACNUR, pois o instituto do asilo não possui um órgão correlato para cumprir

esse papel.

Após, essa diferenciação, é de fundamental relevância que se analise o instituto

jurídico do migrante econômico e, para isso, realizaremos inicialmente uma explanação

sintética sobre o fenômeno da imigração para alcançarmos uma linha de pensamento coerente

acerca da temática.

De acordo com o glossário do Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH),

imigração é: “o movimento de pessoas ou de grupos humanos, provenientes de outras áreas,

que entram em determinado país, com o intuito de permanecer definitivamente ou por período

de tempo relativamente longo18”.

Frente a essa definição, é possível concluir que os migrantes econômicos são as

pessoas que entram em países estrangeiros, de acordo com a sua própria vontade, com o

objetivo de adquirir melhores condições de vida, por meio da venda de sua força de trabalho.

Essa situação é decorrente, em grande parte, do processo de globalização, que intensifica as

disparidades socioeconômicas entre as nações e, assim gera a necessidade de muitas pessoas

deixarem seus países originários para tentarem contornar a suas deficiências econômicas e,

consequentemente, adquirirem um melhor padrão de vida.

Todavia, mesmo com definições diferenciadas, é comum que haja alguma confusão

referente à distinção entre o instituto do refúgio e do migrante econômico, uma vez que ocorre

uma aproximação prática e teórica entre esses ao se analisar os problemas de identificação

entre as pessoas inseridas nessas categorias e a intensificação do empobrecimento de alguns

países em desenvolvimento.

Por um lado, como afirmamos, a imersão dos refugiados no meio da ingente massa

de migrantes econômicos dificulta o procedimento de identificação, induzindo

muitos países à ‘considerar como migrantes os solicitantes de asilo enquanto não

provarem o contrário’. Por outro lado, o empobrecimento progressivo do Sul do

mundo gera migrações econômicas cada vez mais ‘forçadas’, sendo o drama

humano de muitos desses migrantes, comparável, àquele dos refugiados. Em síntese,

no primeiro caso, a intensidade das migrações econômicas internacionais acaba

encobrindo ou, até, negando a existência de refugiados; no segundo, ao contrário, a

violência inerente a todo tipo de migração forçada leva a uma situação onde o

18 IMDH. Em: <http://www.migrante.org.br/IMDH/ControlConteudo. aspx?area=90211527-9d7f-4517-a34c-

84ae25cdaba>. Acesso em: 3 abr. 2013.

Page 24: ACNUR - Guia de Estudos

24

migrante pode ser caracterizado como um ‘refugiado de fato’. (MARINUCCI,

Roberto; MILESI, Rosita, 2005.).

Entretanto, apesar desses dois institutos se aproximarem por essas similitudes no

campo fático, eles são fundamentalmente diferentes, visto que o status de refugiado é

reconhecido com base na regulamentação da CRER de 1951 e esta exclui a possibilidade de

reconhecer uma pessoa como refugiada em face dos problemas econômicos que essa possua.

Apesar de distintos, os problemas dos refugiados e dos migrantes econômicos provêm

de uma mesma fonte, pois as pessoas que se encontram em tais situações sofrem com a falta

de diversos requisitos essenciais para que possam viver com o mínimo de dignidade.

2.4. Refugiados ambientais: uma nova categoria de refugiado?

Como citado anteriormente, as alterações climáticas e os impactos ambientais,

problemáticas presentes, sobretudo, nas últimas décadas, influenciam em diferentes aspectos

da sociedade, quais sejam, políticos, sociais e econômicos. Ademais, sendo inevitável a

dependência entre o homem e o meio em que habita, essas catástrofes também são

responsáveis pelo deslocamento de milhões de pessoas, caracterizando-se, portanto, a vertente

humana das alterações ambientais.

Para Lehman (2009, apud RAMOS, 2011), um dos indícios da complexidade que

envolve as migrações induzidas por causas ambientais é que, até hoje, não existe uma

definição oficial para “refugiado ambiental”.

A Convenção de Genebra de 1951 caracteriza o refugiado como o indivíduo que sofre

perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas.

Posteriormente, foram agregadas a essa definição inicial outras características, passando

também a ser considerada como refugiada a pessoa forçada a deixar seu país devido a

conflitos armados, violência generalizada e violação massiva dos direitos humanos.19 A

reformulação do conceito convencional, entretanto, ainda não foi suficiente para lidar de

forma adequada com a problemática dos “refugiados ambientais”, havendo a necessidade de

algo que lide especificamente com o assunto em questão, conforme afirma Luciana Diniz:

Frente ao exposto, para que se possa conceituar propriamente “refugiado ambiental”,

tarefa árdua, inóspita e problemática do ponto de vista jurídico, é necessário, em

19 ACNUR (Org.). Quem pode ser considerado refugiado? Disponível em:

<http://www.acnur.org/t3/portugues/informacao-geral/perguntas-e-respostas/>. Acesso em: 3 abr. 2013.

Page 25: ACNUR - Guia de Estudos

25

primeiro lugar, esclarecer que este conceito em nada se confunde com o de migrante

econômico, apátrida ou deslocado interno. Ao contrário, pretende-se uma nova e

específica categoria de proteção à pessoa humana, em virtude de migrações forçadas

ocasionadas por questões eminentemente ambientais. Em segundo lugar, o problema

da terminologia coloca-se como de fundamental relevância, pois, a nomenclatura

utilizada pelos doutrinadores é imprópria, já que os chamados “refugiados

ambientais” não são propriamente refugiados, visto que não se enquadram na

definição clássica da Convenção de 1951 por lhes faltar, além do requisito essencial

da perseguição ou temor de perseguição, os motivos persecutórios previstos na

CRER. (DINIZ, 2009)

Segundo Surke (1993, apud RAMOS, 2011) os autores dividem-se em “minimalistas”

e “maximalistas”. Os minimalistas defendem a posição de que a degradação ambiental não

seria causa única determinante para as migrações em massa, ou seja, não é possível isolá-la de

causas políticas econômicas e sociais, sendo o termo “refugiados ambientais” sem utilidade

prática. Já o segundo grupo considera a migração como resultado direto ou imediato da

degradação ambiental. Os maximalistas seriam, portanto, os representantes da primeira

geração da literatura sobre “refugiados ambientais”20.

É possível, ainda, classificar a categoria de refugiados em questão em três subgrupos:

(i) a de deslocados temporários, em virtude de uma degradação temporária do meio ambiente

e, portanto, reversível, existindo possibilidade de retorno para seus respectivos locais de

origem; (ii) a de deslocados permanentes, em virtude de mudanças climáticas perenes e, por

fim, (iii) a de deslocados temporários ou permanentes, de acordo com uma progressiva

degradação dos recursos ambientais do Estado de origem ou de moradia habitual dos

“refugiados ambientais”21.

O PNUMA contribuiu significativamente com a temática, por caracterizar os referidos

refugiados e popularizar o termo da seguinte forma:

Refugiados ambientais são pessoas que foram obrigadas a abandonar temporária ou

definitivamente a zona onde tradicionalmente vivem, devido ao visível declínio do

ambiente (por razões naturais ou humanas) perturbando a sua existência e/ou a

20 SUHRKE, Astri. Pressure Points: environmental degradation, migration and conflict. Monograph.

Cambridge, Mass. American Academy of Arts and Sciences, 1993, p. 04-07. In: RAMOS, Érika Pires.

Refugiados Ambientais: em busca de reconhecimento pelo direito internacional. 2011. 150 f. Tese (Doutorado).

Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2011.

21 DINIZ, Luciana. O Direito Internacional dos Refugiados: análise crítica do conceito de “refugiado

ambiental”. Editora DelRey. Belo Horizonte, 2009, p. 107.

Page 26: ACNUR - Guia de Estudos

26

qualidade da mesma de tal maneira que a subsistência dessas pessoas entra em

perigo. Com o declínio do ambiente, quer se dizer o surgimento de uma

transformação no campo físico, químico e/ou biológico do ecossistema, que, por

conseguinte, fará com que esse meio ambiente temporária ou permanentemente não

possa ser utilizado22.

Como presente na definição supracitada, o declínio do meio ambiente pode ocorrer por

razões naturais ou humanas. As primeiras caracterizam catástrofes inevitáveis, como

terremotos, maremotos, ciclones, vulcões. As segundas dizem respeito à forma em que o

próprio homem interfere no ambiente, seja diretamente, por meio da destruição de florestas ou

guerras biológicas, por exemplo, seja como consequência indireta de alguma atividade

humana. Neste último caso, vale citar acidentes em usinas de energia nuclear, como o que

aconteceu em Chernobyl, na Ucrânia, no ano de 1986.

O ACNUR reconhece a dimensão da problemática e almeja a sistemas de proteção

internacional que alcancem com efetividade a categoria de refugiados em questão. Como

resume Ramos (2011):

Assim, apresentam-se como elementos essenciais para uma adequada caracterização

do “refugiado ambiental”: nomenclatura; definição; descrição detalhada dos

fenômenos naturais e antrópicos determinantes para a geração dos fluxos

migratórios e possíveis interações com fatores econômicos, políticos e sociais;

mapeamento de vulnerabilidade ambiental e humana (identificação de áreas

prioritárias, em risco ou já afetadas) e a identificação das necessidades das pessoas e

grupos afetados.

O “refugiado ambiental” necessita não somente de perspectivas para o futuro, mas de

instrumentos que garantam o reconhecimento jurídico do seu status.

2.5. Medidas tomadas para proteção aos refugiados ambientais

Os refugiados ambientais carecem, como foi explanado em tópicos anteriores, de

políticas específicas que almejem ao tratamento e à tutela internacional da problemática em

questão. É necessário que esse planejamento coordene atividades e promova uma maior

cooperação entre países e organizações pertinentes a essa área, levando em consideração o

22 LISER (ONLINE). Refugiados Ambientais. Disponível em: <http://www.liser.eu/>. Acesso em: 03 abr.

2013.

Page 27: ACNUR - Guia de Estudos

27

mandato do ACNUR23. Cabe a cada Estado, portanto, buscar soluções duradouras e

desenvolver estratégias de assistência humanitária àqueles que necessitam.

Há de considerarem-se duas formas como medidas avaliáveis: a ampliação dos

conceitos já existentes ou a criação de um documento internacional específico. A primeira

seria por meio da criação de um protocolo adicional à Convenção relativa ao Estatuto dos

Refugiados, ampliando as cláusulas já existentes, de forma que o instituto jurídico de refúgio

tenha seu mandato estendido, abrangendo a nova categoria de deslocados.

Luciana Diniz salienta, entretanto, que essa perspectiva de solução pode ter a sua

aplicabilidade dificultada devido a fatores internos a cada Estado. A partir do momento em

que se adotará uma nova conceituação, ampliando-se os institutos que eram vigentes, até

então, a responsabilidade de cada país diante do Direito Internacional aumenta:

Isto porque, se assim o fizerem, terão como consequência a ampliação de sua

responsabilidade internacional frente às normas do DIR24

, em especial no que tange

ao cumprimento do princípio do non-refoulement25, princípio máximo da proteção

internacional dos refugiados, o que pode não ser do interesse de diversos países.

Assim, tal medida poderia permanecer apenas no papel, não encontrando efetividade

e obrigatoriedade jurídica alguma perante o DIR, não servindo de solução, portanto,

à situação dos “refugiados ambientais”. (DINIZ, 2009)

A segunda forma de proteção aludida é a criação de um documento específico que atue

no âmbito das Nações Unidas e que regulamente a situação descrita. O tratado

complementaria os institutos do Direito Internacional relativo aos refugiados e, além disso,

elencaria em suas cláusulas situações em que estaria devidamente reconhecido o status de

refugiado ambiental, com seus respectivos direitos e implicações no Estado que lhe ofereceu

refúgio.

23 Artigo 23, § 3 da Declaração Programa de Ação de Viena de 1993, que trata, especialmente, da temática dos

refugiados, asilados e deslocados. 24 Direito Internacional dos Refugiados.

25 “[...] no período entre guerras do século passado, desenvolveu-se o princípio do non-refoulement (não

devolução) como pedra angular de toda a proteção internacional dos refugiados. Esse princípio revela uma

dimensão preventiva, buscando evitar que o indivíduo seja submetido à tortura, maus-tratos ou morte decorrentes

de sua devolução ao país de origem pelo país receptor, através dos mecanismos jurídicos da expulsão, extradição

ou deportação. Assim, o país que receber esse indivíduo não poderia mandá-lo de volta ao país originário caso lá

ele corra riscos, tendo em vista a crescente internacionalização dos direitos humanos, com o reconhecimento da

comunhão de determinados valores que se consideram essenciais ao tratamento da pessoa humana. Apesar do

princípio do non-refoulement de certa maneira limitar a soberania dos Estados, ele demonstra o caráter

crescentemente antropocêntrico do direito internacional contemporâneo”. DOLGANOVA, Ioulia. O princípio

do non refoulement e a proteção internacional dos direitos humanos. In: Salão de iniciação Científica (18.

2006. Porto Alegre, RS). Livro de resumos. Porto Alegre. UFRGS, 2006.

Page 28: ACNUR - Guia de Estudos

28

Caso não fosse possível aos Estados atingir consenso nestes termos, que, pelo

menos, com a aprovação de uma resolução ou de uma Guideline, a matéria fosse

legislada. Poderia o ser, inclusive, e visando dar cumprimento ao direito universal de

proteção da pessoa humana frente ao DI26

, um documento que tratasse da proteção

destes indivíduos e grupos em uma concepção mais genérica, ligada à salvaguarda

dos direitos humanos. (DINIZ, 2009)

O ACNUR entende as especificidades de cada Estado, assim como a influência que

quaisquer decisões que vierem a ser adotadas terão nas políticas interna e externa de cada

nação. O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados acredita, no entanto, que a

discussão apresentada mostra-se pertinente ao atual contexto histórico, uma vez que o Direito

Internacional deve acompanhar a evolução dos fatos e o surgimento de situações que não

foram previstas, sobretudo quando dizem respeito ao lado humano dos acontecimentos.

3. TEMA B: Sudão e Chade: Conflitos Locais, Repercussão Global

Campo de refugiados sudaneses no Chade. (Fonte: Examiner)

26 Direito Internacional.

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29

3.1. Sudão, Darfur e Chade: Aspectos Históricos (Localização e Conflitos

Passados)

O Chade é um país sem acesso ao mar, localizado no centro-norte da África. Faz fronteira

com a Líbia ao norte, com o Sudão ao leste e com a República Centro-Africana, ao sul e ao

oeste. Encontra-se dividido em três grandes regiões geográficas: a zona desértica no norte, o

cinturão árido do Sabel no centro e a savana sudanesa fértil no sul.

O Chade foi colonizado pela França, sendo incorporado à região da África Equatorial

Francesa, obtendo sua independência apenas em 1960. Além da dificuldade de ter sido

tardiamente liberto da influência francesa, o Chade ainda sofre com questões de ordem

econômica e pluralidade étnica; conforme estudos dos Professores Wagner Cerqueira e

Francisco Cerqueira, há mais de 200 grupos étnicos povoando o país.

O Chade possui grandes problemas socioeconômicos, entre os quais, o

analfabetismo atinge 70% da população, 39% dos habitantes são subnutridos e o

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um dos menores do mundo - dos 169

países analisados, Chade ocupa a posição de 163°, com média de 0,295, conforme

dados divulgados em 2010 pela Organização das Nações Unidas (ONU)27.

O referido país passou por vários conflitos desde a sua independência. A atual onda de

violência começou em 2005, quando o presidente Idriss Deby alterou a Constituição para

permitir que ele fosse reeleito pela terceira vez. Deby chegou ao poder com um golpe de

Estado no início dos anos 1990 e está no comando do Chade desde então. Ele, inicialmente,

comandou um governo de transição para democracia e venceu sua primeira eleição em 1996,

estando no poder por quase 20 anos.

A França e a Líbia são países que apresentam papel preponderante na continuidade

dos conflitos internos do Chade. A França apoiando a vários governos que visam impedir e

sufocar os conflitos, enquanto a Líbia apoia os grupos rebeldes.

O Sudão é um dos maiores países da África, localizado no centro-leste do continente.

Seu território divide-se em duas regiões bem distintas: uma área desértica ao norte e uma área

de savanas e florestas tropicais ao sul. O nome Sudão deriva de uma expressão árabe,

significando “país ou terra dos negros”.

27 CERQUEIRA, Wagner; CERQUEIRA, Francisco. CHADE. Disponível em:

<http://www.brasilescola.com/geografia/chade.htm>. Acesso em: 5 mar. 2013.

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30

Devido à proximidade geográfica com o Egito, a história do Sudão muito se aproxima

com a desse país, haja vista, que, na Antiguidade, o Sudão era conhecido como Núbia, tido

como a civilização mais antiga da África.

A princípio, a religião predominante na região era o catolicismo, com a entrada dos

árabes mulçumanos no Sudão, ainda no século VII A.C, ocorreu um conflito entre esses dois

segmentos religiosos, católicos e mulçumanos. Os árabes mulçumanos ganharam a batalha,

expulsando o rei cristão e instituindo o poderio islâmico.

Dos anos de 1889 a 1956, o Sudão esteve sob o domínio anglo-egípcio sendo liberto

depois que um grande sentimento nacionalista, unindo os diferentes segmentos religiosos, os

quais constituem a população, atingindo a independência ao fim da década de 50.

Devido aos constantes conflitos civis, o Sudão é um país que apresenta paz e

estabilidade frágeis e delicadas. Após a obtenção de sua autonomia, o país foi rapidamente

devastado por uma guerra civil que durou cerca de vinte anos. O conflito recomeçou na

década de 90, quando fundamentalistas islâmicos tomaram o poder e impuseram novas leis.

Os cristãos que habitavam o sul do país protestaram e, ao serem ignorados, envolveram-se em

um conflito armado.

Economicamente, o Sul do país, de maioria cristã, é mais rico em reserva de petróleo e

recursos naturais que o Norte, exigindo mais autonomia política. Já o Norte, de maioria

muçulmana, queria autonomia sobre todo o território sudanês, exigindo que todo o país fosse

submetido à legislação islâmica, a Sharia. Além disso, é no norte que se encontram portos de

exportação de petróleo, o que torna uma região dependente da outra.

Há de se considerar que o Sudão do Sul apenas conquistou sua independência em 09

de julho de 2011, esse país continua a ser um dos mais pobres do mundo, conforme afirma

Alfred Lokuji, decano da Faculdade de Estudos Rurais e Comunitários da Universidade de

Juba:

As instituições realmente não decolaram. Em primeiro lugar o Parlamento (...), a

administração não está funcionando como deveria e a corrupção continua a ser um

grande problema28.

28 TERRA. Sudão do Sul faz um ano de independência em conflito com o Norte. Disponível em:

<http://tinyurl.com/Sudao-do-sul-um-ano>. Acesso em: 21 mai. 2013.

Page 31: ACNUR - Guia de Estudos

31

A situação do Sudão do Sul ainda se agrava pelos contínuos conflitos enfrentados com

a porção Norte do país, divergências essas tanto de ordem econômica, como no caso dos

cortes na produção de petróleo, como de ordem religiosa e social.

Darfur encontra-se na fronteira entre esses dois países, Chade e Sudão. Três etnias são

predominantes na região: os Fur (que emprestam o nome à região), os Masalit e os Zaghawa,

em geral, muçulmanos da localidade.

M

apa do Sudão, do Sudão sul e da região de Darfur (Fonte: DS World’s Lands)

Diferentemente das Guerras Sudanesas, que opunham o Norte do Sudão,

predominantemente islâmico, ao Sul do país, eminentemente católico, em Darfur, as

populações em conflito são todas mulçumanas. Na realidade, este se trata de um conflito

étnico-cultural, que se iniciou por motivos políticos, e que vem ganhando contornos raciais.

Page 32: ACNUR - Guia de Estudos

32

Percebe-se que desde as suas respectivas independências, Chade e Sudão são países

que enfrentam constantes conflitos internos, tendo como causas primordiais, a extrema

diversidade étnica dos povos que compartilham esses territórios e os abusos políticos. Dessa

maneira, o conflito de Darfur vem se tornando mais um agravante na condição econômica

desses países, viabilizando a colocação de um crescente número de pessoas na situação de

refugiadas, as quais saem do Sudão (país de origem do conflito) e migram, sobretudo, para o

Chade, um dos países mais pobres do mundo.

3.2. Sudão e Darfur: Motivos do Conflito

Os fatores que desencadearam a guerra entre o Chade e o Sudão foram os conflitos

ocorridos anteriormente dentro do próprio Sudão entre os povos da região Norte e Sul e por

conta da guerrilha na região de Darfur, localizada na região oeste desse país.

A divisão entre o norte e o sul do Sudão tem sido evidente antes mesmo de sua

independência em janeiro de 1956 do domínio britânico e egípcio. No período que vai de

1899 a 1956, quando era colônia desses dois países, ambas as metrópoles governavam o norte

e o sul do Sudão separadamente. Tanto a região norte quanto a região sul do país era

governado de maneira conjunta pela Grã-Bretanha e pelo Egito, a diferença estava no fato de

que, internamente, essas duas metrópoles fazia uma administração distinta entre o norte e o

sul, pois, segundo as autoridades britânicas, a dominação norte-sul administrada de forma

unificada resultaria em uma rebelião do sul contra o governo. O norte caracteriza-se por ser

uma região de maioria mulçumana, enquanto o sul, a maioria da população é cristã ou

animista. Geograficamente no norte predomina o clima seco e é onde estão os portos de

exportação do petróleo, enquanto no sul, é onde se encontra grande parte das jazidas de

petróleo, além de outras reservas naturais e a extensão territorial é coberta em sua maior parte

pelo predomínio de savanas e florestas tropicais.

No entanto, ocorreu que com a independência, essas diferenças foram desconsideradas

e o país tornou-se uno com a Constituição de 1956. Porém, essa constituição não veio a tratar

de dois temas que vieram posteriormente a ser causas de conflitos no país. O primeiro deles é

se o Sudão constituiria um estado laico ou um estado islâmico, e o segundo, a questão da

estrutura federal do país.

A divisão feita a fim de se criar dois estados separados tornou-se ainda mais

complicada visto que o país sempre esteve envolvido em uma teia de interesses globais, uma

Page 33: ACNUR - Guia de Estudos

33

vez que o Sudão possui grandes reservas de petróleo, estando entre os 30 países com maiores

reservas de petróleo do mundo29. Assuntos complicados incluem a questão da partilha de

bilhões de dólares oriundos da receita obtida com o petróleo. O que deixa ainda mais delicada

a situação é que, com a divisão do estado sudanês, a região sul herdaria a maior parte das

reservas petrolíferas, enquanto o norte possuiria a maior parte dos oleodutos que são os

responsáveis pelo transporte do petróleo até o Mar Vermelho. Dessa maneira, é fácil

compreender o interesse das grandes potências ocidentais nesta questão, uma vez que se trata

de uma região estratégica detentora de matérias primas essenciais para o desenvolvimento da

economia global.

Esse conflito entre o norte e o sul é conhecido como a Segunda Guerra Civil Sudanesa

que teve uma duração de aproximadamente 22 anos e ocasionou cerca de dois milhões de

mortes e três milhões de refugiados30. Esse impasse só veio a se encerrar com o Tratado de

Naivasha, assinado em 09 de janeiro de 2005 no Quênia, o qual consistia em um acordo para

a separação das duas nações, e que, previa para 2011 um referendo no qual a população da

região sul iria escolher se aceitava ou não a independência.

O Sudão do Sul tornou-se independente em 09 de julho de 2011, o que gerou

esperanças de um futuro promissor para os dois novos estados e a ideia de que esta separação

viria a por fim aos conflitos, a violência e a extrema pobreza dessa região.

Outro conflito interno que ocorreu no Sudão, além da Segunda Guerra Civil, foi a

guerrilha na região de Darfur. Esse conflito é considerado um dos maiores genocídios31 da

história, dado o grande número de vítimas, que foram contabilizadas em, aproximadamente,

300 mil pessoas32. Historicamente, o conflito começou porque algumas tribos nômades, que

29 CENTRAL INTELLIGENCE AGENCY. The World Factbook: Country comparison oil - proved reserves.

Disponível em: <https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/rankorder/2178rank.html>.

Acessado em: 27 de mar. 2013.

30 U.S. COMMITTEE FOR REFUGEES. Sudan: Nearly 2 million dead as a result of the world's longest

running civil war. Disponível em:

<http://web.archive.org/web/20041210024759/http://www.refugees.org/news/crisis/sudan.htm>. Acessado em:

06 de mar. 2013.

31 Segundo a ONU, por meio da Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, entende-se

por genocídio qualquer dos seguintes atos, cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo

nacional, étnico, racial ou religioso, tais como: a) Assassinato de membros do grupo; b) Dano grave à

integridade física ou mental de membros do grupo; c) Submissão intencional do grupo a condições de existência

que lhe ocasionem a destruição física total ou parcial; d) Medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio

do grupo; e) Transferência forçada de menores do grupo para outro. Disponível em:

<http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/genocidio/conv48.htm> Acessado em 16 de jul. de 2013

Page 34: ACNUR - Guia de Estudos

34

sofriam com a seca, começaram a invadir o território das tribos de agricultores sedentários, já

que Darfur é uma região de recursos limitados33.

Mas a atual guerra civil no Sudão foi iniciada em 26 fevereiro de 2003, e teve como

estopim o ataque organizado pelo grupo rebelde sudanês denominado Frente de Libertação de

Darfur (DLF) na cidade de Golo, sede do distrito de Jabel Marra.

Atualmente, dois grupos rebeldes da região de Darfur, o Exército Popular de

Libertação do Sudão (SPLA/M) e o Movimento Justiça e Igualdade (JEM), atacam o governo

sudanês, acusando-o de oprimir as pessoas não árabes em favor da população árabe.

O governo sudanês é formado majoritariamente por árabes. Ele é acusado de fazer

uma apartheid contra os não árabes. Desde 1991, o povo Zaghawa (que é uma tribo não árabe

que habitam a região de Darfur) afirmou que o governo manipulava a população árabe para

tais práticas e que o mesmo também influenciava uma limpeza étnica na região contra os não

árabes.

Quando a guerrilha entre governo e rebeldes eclodiu em 2003, no decorrer do conflito,

as forças armadas do governo estavam perdendo algumas batalhas para os rebeldes. A fim de

mudar essa situação, o governo resolveu juntar a inteligência militar e a sua força aérea com a

milícia Janjaweed para, assim, derrotar os rebeldes. Contudo, o governo do Sudão sempre

negou publicamente que dava assistência financeira e bélica a esses grupos e que também

tenha organizado ataques conjuntos com a milícia Janjaweed contra os insurgentes34.

Constatando esta conjectura de crise humanitária, o Tribunal Penal Internacional (TPI)

condenou em 2007 o ministro de Assuntos Humanitários do Sudão, Ahmed Haroun, e o líder

da milícia Janjaweed, Ali Kushayb, com 51 acusações por práticas de crimes de guerra e de

crimes contra a humanidade. O governo do Sudão alegou que o TPI não tinha jurisdição para

julgá-los e não os entregou às autoridades da Haia, nos Países Baixos. Posteriormente, em

2010, o presidente do Sudão, Omar al-Bashir, foi condenado por ter orquestrado o genocídio

de Darfur. Possivelmente, al-Bashir não venha a ser julgado pela Corte Penal Internacional,

32 DEGOMME, Olivier; GUHA-SAPIR, Debarati. Patterns of mortality rates in Darfur conflict. The Lancet,

Londres, v. 375, n. 9711, p.294-300, 23 jan. 2010.

33 BECHTOLD, Peter K. A History of Modern Sudan (review). The Middle East Journal, Washington, DC, p.

149-150. Inverno de 2009.

34 BRITISH BROADCASTING CORPORATION. Sudan denies directing Janjaweed. Disponível em:

<http://news.bbc.co.uk/2/hi/africa/6062766.stm>. Acessado em: 15 de mar. 2013.

Page 35: ACNUR - Guia de Estudos

35

visto que o Sudão apenas assinou o Estatuto de Roma35, mas não o ratificou. Tornando-se,

assim, imune às decisões do TPI. Tanto a Liga Árabe, como a União Africana, condenam o

mandato de prisão.

Tendo em vista essa situação, em 31 de agosto de 2006, o Conselho de Segurança das

Nações Unidas aprovou a resolução 1706 enviando 17 300 militares para trabalhar em

conjunto com as tropas da União Africana. Estas formariam a UNAMID (African Union -

United Nations Hybrid Operation in Darfur); inicialmente o Sudão se negou em recebê-la

afirmando que essa implantação seria um ato de invasão ocidental.

A Guerra de Darfur descolou milhares de sudaneses daquela região para outros países

fronteiriços como Etiópia, Quênia, República Centro Africana, República Democrática do

Congo e Uganda. O estado chadiano foi o que mais abrigou refugiados sudaneses desse

conflito, segundo os dados do relatório anual do ACNUR36.

3.3. Repercussões do conflito de Darfur no Chade

O longo conflito em Darfur se estendeu para além de suas fronteiras, envolvendo

outros países, principalmente o Chade. Este estava neutro na origem do conflito, até então,

pois o governo almejava continuar mantendo uma boa relação com o Sudão, conquistada há

10 anos a paz entre esses dois países37.

Os esforços do Chade para evitar tomar partido no conflito em Darfur foram

destruídos por conta das invasões da milícia sudanesa Janjaweed no território chadiano, onde

roubavam gado, assassinavam pessoas e destruíam casas38.

A situação tornou-se mais delicada porque o Chade recebeu cerca de 200 mil

refugiados sudaneses de Darfur, quando o próprio Chade não tem recursos suficientes para

abarcar as necessidades da sua própria população. Posteriormente, atos de violências

35 Estatuto de Roma é o tratado que estabeleceu o Tribunal Penal Internacional (TPI) em 17 de julho de 1998.

36UNITED NATIONS HIGH COMMISSIONER FOR REFUGEES.Chad: Darfur's forgotten refugees.

Disponível em: <http://www.unhcr.org/refworld/docid/502cf3a460a9.html>. Acessado em: 09 de mar. 2013.

37 MCEVOY, Claire; LEBRUN, Emile. Uncertain Future: Armed Violence in Southern Sudan. Genebra:

Small Arms Survey, 2010.

38 BRITISH BROADCASTING CORPORATION BRASIL. Milícias sudanesas 'estão atacando civis no

Chade'. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2006/02/060205_sudaorw.shtml>.

Acessado em: 30 de mar. 2013.

Page 36: ACNUR - Guia de Estudos

36

semelhantes aos de Darfur passaram a ocorrer no Chade. O ataque Janjaweed às aldeias não

árabes fez com que surgissem mais de 170 mil chadianos deslocados internamente39.

Essa situação se acentuou ainda mais porque o Chade passava por grandes problemas

internos e havia um descontentamento generalizado da população com o governo por conta da

concentração de renda, da distribuição desigual dos lucros de petróleo nacional e pela falta de

democracia. Neste ultimo aspecto, a ideia se acentuou na população porque presidente

chadiano, Idriss Déby, modificou as leis constitucionais do país para pleitear uma terceira

candidatura, aumentando ainda mais a situação de crise institucional.

Além do aumento do número de rebeldes, também se verificou um aumento do poder

bélico desses grupos, pois o Governo do Sudão passou a apoiar os rebeldes do Chade

(entretanto esse apoio não foi declarado oficialmente pelo Estado Sudanês) por conta do

arrefecimento das relações entre ambos os países. Visto essa situação, o governo do Chade

declarou que o governo do Sudão estava exportando a guerra de Darfur para o seu país, a fim

de desestabilizar o Chade.

A complexidade das relações étnicas entre esses dois países tem trazido, desde a

independência de ambos, labirínticos problemas relacionados com as fronteiras. Como, por

exemplo, a questão da tribo Zaghawa. Os membros desta tribo estão divididos: uma parte

mora no Chade e a outra no Sudão; para eles, a fronteira entre esses dois países é apenas uma

linha imaginária, pois existe entre eles uma ideia de união, visto que apresentam os mesmos

costumes e pertencem a mesma comunidade. Os Zaghawa não são muçulmanos e, por esse

motivo, foram atacados em Darfur pelos Janjaweed, o que prejudicou ainda mais a

pacificação entre o Chade e o Sudão, posto que o presidente chadiano, Idriss Déby, pertence à

tribo Zaghawa. A atual guerra é resultado de quatro forças distintas40. O Sudão e o Chade têm

estado em conflito através de grupos rebeldes e milícias desde 2005. Neste conflito, estão

envolvidos os governos de ambos os países, sendo que, o governo sudanês apoia os rebeldes

chadianos ao mesmo tempo em que o governo chadiano apoia os rebeldes sudaneses. Ambos

os governos agem assim a fim de desestabilizar o país inimigo.

39 INTERNAL DISPLACEMENT MONITORING CENTRE. CHAD: IDPs in east facing continuing violence

and hardship: A profile of the internal displacement situation. Disponível em: <http://www.internal-

displacement.org/8025708F004BE3B1/(httpInfoFiles)/8B3586CB1C0375CEC12576930038CEF0/$file/Chad%2

0-%20December%202009.pdf>. Acesso em: 29 de mar. 2013.

40 WAAL, Alex de. Chad: Civil war, power struggle and imperialist interference. 2008. Disponível em:

<http://www.greenleft.org.au/node/39011>. Acesso em: 29 de mar. 2013.

Page 37: ACNUR - Guia de Estudos

37

Houve esperanças de dar-se um fim ao conflito com a assinatura do Acordo de Trípoli,

em 08 de fevereiro de 2006, pelo presidente do Chade, Idriss Deby, e do Sudão, Omar al-

Bashir, com mediação feita pelo presidente da Líbia, Muammar al-Gaddafi. Este acordo tinha

como objetivo alcançar um cessar-fogo, e, para garantir que isso ocorresse, seria implantado

grupos de vigilância na fronteira, cinco no lado do Chade e cinco no lado do Sudão.

Em menos de um mês após a assinatura do acordo, ele havia sido violado, em 06 de

março de 2006, quando os milicianos Janjaweed atravessaram a fronteira do Sudão e atacaram

a cidade chadiana de Amdjereme. Anteriormente a isso, rebeldes chadianos já haviam

declarado que o tratado significava apenas,

Um pedaço de papel com assinaturas nele [...] significa nada41.

Como resultado, o Chade rompeu relações diplomáticas com o Sudão, expulsou

diplomatas e outros representantes do governo sudanês que estavam em seu território e ainda

ameaçou expulsar centenas de refugiados sudaneses que fugiram do conflito de Darfur.

Em 2007, os insurgentes chadianos tomaram a cidade de Adré, Chade. Deby recusou

ter as tropas de paz das Nações Unidas em seu território, pois ele considerava este fato uma

invasão ocidental. Esse ataque foi documentado num filme chamado Google Darfur42.

Em resposta aos ataques rebeldes, o Chade declarou estado de emergência e em setembro de

2007 e aceitou a Resolução 1778 do Conselho de Segurança que autorizava a criação da

Missão das Nações Unidas na República Centro-Africana e no Chade, a MINURCAT. Esta

foi uma missão de paz das Nações Unidas do tipo peacekeeping43 estabelecida para fornecer

uma maior segurança às centenas de refugiados de Darfur que continuam a fugir para o leste,

indo em direção ao Chade e para o nordeste da fronteira indo para a República Centro-

Africana. É necessário proteger essas pessoas já que ainda existem grupos rebeldes sudaneses

41 MCDOOM, Opheera. Chadian rebels threaten fresh assault. Disponível em:

<http://reliefweb.int/report/chad/chadian-rebels-threaten-fresh-assault>. Acesso em: 24 mar. 2013.

42 Esse é um documentário produzido pela Film Baby e dirigido por Robert Simental, em 2007, onde expõe as

condições perigosas, tais como estupro e violência, com que vivem refugiados que moram nos campos de

refugio e as ineficiências da gestão acampamento.

43 Desde o fim da Guerra Fria (1948-1989), os Estados e as organizações internacionais têm repetidamente se

envolvido em conflitos e crises humanitárias através de processes de: peacekeeping (manutenção da paz),

peacebuilding (construção da paz) e peacemaking (pacificação) para ajudar a resolver problemas internacionais e

intranacionais.

Para mais informações sobre esses tipos de atuação, exemplos da utilização destes ao longo da história e suas

implicações acessem

<http://www.betterpeace.org/files/Dawson_Peacekeeping__peacebuilding_and_peacemaking17May2004.pdf>.

Page 38: ACNUR - Guia de Estudos

38

que continuamente realizam ataques através das fronteiras do Sudão, colocando em risco a

vida dos moradores locais e dos refugiados de Darfur que ali estão estabelecidos.

O Sudão veio a aceitar uma medida de interferência da comunidade internacional pelo

Conselho de Segurança em agosto do mesmo ano com a anuência da Resolução 1769 do

referido órgão. Esta autorizava a implantação de uma missão de paz híbrida entre as Nações

Unidas e a União Africana, a UNAMID. Essa missão de paz era uma missão de peacekeeping

e que também auxiliava a monitorar o embargo de armas para a região de Darfur em vigor

desde 2004 com a Resolução 1556. Esta missão de paz também foi autorizada a tomar todas

as medidas necessárias, de acordo com o Capítulo VII da Carta das Nações Unidas44, para

apoiar a implementação do Acordo de Paz de Darfur.

Posteriormente, foi assinado novamente um novo acordo de cessar-fogo em Trípoli,

em 26 de outubro de 2007, pelos representantes do Chade, do Sudão e da Líbia. No fim de

novembro, o líder rebelde chadiano Mahamat Nouri acusou o presidente chadiano, Idriss

Deby, de ter ordenado um ataque aos rebeldes no país45. Em 30 de novembro do mesmo ano,

os insurgentes do Chade declararam estado de Guerra às forças militares estrangeiras no

Chade. Anteriormente essa declaração era só para o governo de Deby46.

Em março de 2008, durante uma reunião da Organização da Conferência Islâmica

(OCI) em Dacar, Senegal, foi assinada uma nova proposta de paz com a mediação do

presidente senegalês, Abdoulaye Wade, e com a presença do secretário-geral da ONU, Ban

Ki-moon, que visava dar-se um fim aos anos de conflito e violência entre o Chade e o Sudão.

Este acordo se diferenciava dos assinados anteriormente, que fracassaram, porque ele criou

uma união de países para que viessem se efetivar, de fato, as medidas tomadas para a

vigilância da fronteira. Esse grupo de controle é formado pelo Senegal, Líbia, Congo, Eritréia

e Gabão.

A paz durou pouco tempo, pois dois meses após a assinatura do tratado de Dacar, o

Sudão rompeu novamente relações diplomáticas com o Chade após o ataque ocorrido, em 11

44 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Carta das Nações Unidas: Capítulo VII Ação em Caso de

Ameaça à Paz, Ruptura da Paz e Acto de Agressão. Disponível em:

<http://www.un.org/spanish/Depts/dpi/portugues/charter/chapter7.htm>. Acesso em: 03 jun. 2013.

45 AL JAZEERA. 'Hundreds Dead' In Chad Fighting. Disponível em:

<http://www.aljazeera.com/NR/exeres/9B6F9600-140C-491A-AE6D-FC09D2DC3E87.htm>. Acesso em: 11 de

mar. 2013.

46BRITISH BROADCASTING CORPORATION. Chad rebels declare war on French. Disponível em:

<http://news.bbc.co.uk/2/hi/africa/7120750.stm>. Acesso em: 08 de mar. 2013.

Page 39: ACNUR - Guia de Estudos

39

de maio de 2005, em Cartum, a capital do Sudão, por rebeldes sudaneses. Estes protestaram

contra a pobreza e a marginalização da região de Darfur, o governo sudanês acreditou que

eles eram apoiados pelo Chade, a partir daí o presidente sudanês acusou Idris Déby de ter

dado ordens para armar os rebeldes, que entraram no Sudão47.

Em 2005, começou a vigorar o embargo de armas criado pelas Nações Unidas para

Darfur. Dois anos depois, ainda sob a vigência do embargo, segundo um relatório realizado

pela Anistia Internacional, foi constatado que havia sido encontrado armas chinesas em

Darfur, assim como mísseis, aviões e helicópteros de combate comprados da Rússia48. O

embargo não é para todo o Sudão, ele abrange apenas a região de Darfur. Esse embargo foi

criado pela ONU no intuito de impedir que governos estrangeiros ajudem militarmente

qualquer um dos grupos envolvidos para não agravar ainda mais o conflito nesses países.

Recentemente, a Assembleia Geral da ONU adotou o primeiro tratado que regulamenta o

comércio internacional de munições e armas convencionais, como: armas de pequeno porte,

tanques de batalha, aviões de combate e navios de guerra. Esse tratado consiste no fato de

que, cada país deve avaliar, antes de qualquer transação, se as armas por ele vendidas podem

vir a serem utilizadas pelos compradores para driblar um embargo internacional, cometer um

genocídio dentre outras violações graves aos direitos humanos, ou que venham a cair em

mãos de terroristas49.

Um novo acordo para reestabelecer a harmonia entre as duas nações foi assinado em

15 de janeiro de 2010 e marcou o fim da guerra de cinco anos de hostilidades entre o Chade e

o Sudão. O presidente sudanês visitou Cartum, a capital do Sudão, e pela primeira vez, em

seis anos, ambos os governos aceitaram deixar de financiar os rebeldes um do outro. No

entanto, rebeldes chadianos declararam não reconhecerem a vigência do acordo.

Para consolidar a segurança na fronteira chadiana, a ONU consolidou a criação do

Destacamento de Segurança Chadiano Integrado (DIS), que são policiais chadianos treinados

pela ONU para garantir segurança aos campos de refugiados. Contudo, a tamanha violência

47 FOLHA DE SÃO PAULO. Sudão rompe relações diplomáticas com o Chade após ataque. Disponível em:

<http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u400654.shtml>. Acesso em: 03 jun. 2013. 48 AMNESTY INTERNATIONAL. "Sudan: Arms continuing to fuel serious human rights violations in

Darfur”. Disponível em: <http://www.amnesty.org/en/alfresco_asset/8bfe199c-a2b8-11dc-8d74-

6f45f39984e5/afr540192007en.pdf>. Acesso em: 08 de mar. 2013.

49 UOL. ONU adota primeiro tratado sobre comércio de armas. Disponível em:

<http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2013/04/02/onu-adota-primeiro-tratado-sobre-comercio-de-

armas.htm>. Acesso em: 03 jun. 2013.

Page 40: ACNUR - Guia de Estudos

40

na região, as condições dos campos de refugiados e os recorrentes ataques por rebeldes, fazem

com que esta, assim como outras missões de paz, não deem uma resposta efetiva às

preocupações acerca das condições de sobrevivência e segurança dos refugiados, pessoas

internamente deslocadas ou da própria população civil desses dois países.

3.4. A Situação dos refugiados

Segundo o relatório de Tendências Globais 2011 realizado pelo ACNUR, atualmente

há 281 mil refugiados sudaneses que fugiram do conflito de Darfur para o Chade. Porém, os

ataques de rebeldes são tão intensos neste país que milhares de civis chadianos fogem para o

Sudão, gerando assim um duplo fluxo de pessoas entre esses países. De acordo com o mesmo

relatório, há 83 mil refugiados chadianos no Sudão, provenientes dos conflitos internos do

Chade e dos ataques da milícia sudanesa Janjaweed.

Esses dois países sofrem com a falta de recursos, estão entre os mais pobres do mundo

e não conseguem abarcar as demandas da própria população. Com o conflito em Darfur e com

a Guerra Civil no Chade a situação tornou-se ainda mais preocupante.

Milhares de pessoas que atravessam a fronteira por conta dos conflitos internos no seu

país sejam no Chade ou no Sudão, além de terem que lidar com a situação precária dos

campos de refugiados, dado a falta de recursos nesses dois países receptores, os refugiados

também estão tendo que conviver com o assedio dos rebeldes.

Refugiados sudaneses no Chade. (Fonte: The Guardian)

Relatos de refugiados afirmam que mesmo com o auxilio do ACNUR, ONGs e outras

entidades governamentais de ajuda internacional, nesses locais, ainda há inúmeras

Page 41: ACNUR - Guia de Estudos

41

dificuldades a serem superadas. Nesses campos, não existe a presença de saneamento básico,

nem condições primárias de moradia nas casas. As pessoas vivem em tendas, e, quando

chove, o problema se alastra mais ainda, pois além de a água inundar as habitações, ela ainda

traz vírus e bactérias e estes se espalham pela população local gerando epidemias que vão de

doenças como hepatite a, até mesmo, piolhos50.

Inundação em um campo de refugiados no Sudão. (Fonte: ACNUR/ Terrie Nekesa Ongaro)

A realidade das crianças que estão nesses campos de refugiados é bem diferente da

idealizada pela Declaração Universal dos Direitos da Criança, adotada e proclamada pela

Assembleia Geral das Nações Unidas em 20 de novembro de 1989. Este foi o documento

sobre direitos humanos mais aceito na história, sendo ratificado por 193 países51.

A brusca mudança de país e a quebra da qualidade de vida, mesmo que precária,

causam traumas psicológicos nos menores. A maioria dos campos de refugiados não contam

com estruturas dedicadas ao direito fundamental do ensino, salvas as raras exceções em que o

ACNUR ou a própria comunidade organizam. O depoimento da menina Sumaya, extraído do

site do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), sobre a saída de sua casa

enquanto sua aldeia foi atacada por uma milícia no Sudão exemplifica o sofrimento

vivenciado diariamente por milhares de pessoas que se encontram nessa situação:

50UNITED NATIONS HIGH COMMISSIONER FOR REFUGEES. Chad: Working environment. Disponível

em: <http://www.unhcr.org/pages/49e45c226.html>. Acesso em: 03 mar. 2013.

51 FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA. Convenção sobre os Direitos da Criança.

Disponível em: <http://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10120.htm>. Acesso em: 03 jun. 2013.

Page 42: ACNUR - Guia de Estudos

42

"Eu estava na escola quando eles nos atacaram", diz Sumaya. "Minhas irmãs

correram de volta para a aldeia, e eu corri com alguns amigos. Meu prima Mona

estava correndo à frente de mim quando foi baleada. Eu parei e segurei sua mão.

Quando ela morreu, sua mão escorregou para fora da mina. Alguns meninos vieram

e me disseram que eu tinha que correr, então eu corri." (Tradução nossa)52.

Além dos fatos anteriormente citados, observa-se que, atualmente, várias milícias

estão se utilizando de crianças refugiadas como “mini-soldados”. As mulheres são vítimas de

estupros quando saem dos campos devido à falta de segurança por conta da intensa violência e

precariedade da região. E ainda há casos em que existe essa grave violação de direitos

humanos dentro do próprio campo de refugiados, conforme relatado ao site da BBC:

Eles enfrentam o risco de estupro e outras violências nas mãos de membros da

família, refugiados e outros funcionários de organizações humanitárias, cuja tarefa é

dar-lhes assistência e apoio. (Tradução nossa)53.

E também ainda há a questão do casamento forçado de crianças. Segundo o site da

UNICEF:

As crianças deslocadas e refugiadas no Chade precisam de proteção contra uma

ampla gama de ameaças, incluindo a violência de gênero e exploração. Muitas

meninas são obrigadas a casar e ter filhos quando elas ainda são muito jovens, como

12 anos. Algumas morrem no parto, e as que sobrevivem devem dedicar-se à

maternidade em vez de continuar os estudos - se é que elas estavam na escola, para

começar "(Tradução nossa)54.

Dada tal situação, é necessário que a comunidade internacional tome uma medida

urgente a fim de que se possam alcançar soluções para os problemas encontrados pelos

refugiados que residem nos campos do Chade e do Sudão, oriundos dos conflitos aqui

52FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA. Childhood interrupted in Darfur’s refugee

camps. Disponível em: <http://www.unicef.org/sowc/20297_30568.html>. Acesso em: 03 mar. 2013. Do

original, em inglês: “I was at school when they attacked us,” says Sumaya. “My sisters ran back to the village,

and I ran with some friends. My cousin Mona was running ahead of me when she was shot. I stopped and held

her hand. When she died, her hand slipped out of mine. Some boys came and told me that I had to run, so I did”.

53 BRITISH BROADCASTING CORPORATION. Sudanese refugees 'raped in Chad'.

<http://news.bbc.co.uk/2/hi/africa/8282360.stm>. Acesso em: 12 mar. 2013. Do original, em inglês: "They face

the risk of rape and other violence at the hands of family members, other refugees and staff of humanitarian

organisations, whose task it is to provide them with assistance and support ”.

54 FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA. Ensuring a right to special protection for

vulnerable child refugees in Chad. Disponível em: <http://www.unicef.org/infobycountry/chad_50047.html>.

Acessado em: 05 mar. 2013. Do original, em inglês: “Displaced and refugee children in Chad need protection

from a whole range of threats, including gender-based violence and exploitation. Many girls are forced to marry

and bear children when they are as young as 12. Some die in childbirth, and those who survive must dedicate

themselves to parenting instead of continuing their schooling – if they were in school to begin with ”.

Page 43: ACNUR - Guia de Estudos

43

apresentados, ao curto e longo prazo. No primeiro caso, para os problemas que se referem à

insegurança e a falta de infraestrutura dos campos, no segundo, para que essas pessoas

retornem ao seu país de origem ou que sejam integradas a uma nova sociedade e deixem os

campos.

3.5. O Documento de Doha para a paz em Darfur

O Documento de Doha para a Paz em Darfur (DDPD) é a base para um cessar-fogo

permanente e um amplo acordo de paz para acabar com o conflito que se instaurou na região

sudanesa, tentando viabilizar as negociações entre os grupos rebeldes entre si e desses com o

Governo.

O DDPD é o culminar de dois anos e meio de negociações, de diálogo e de consultas

com os principais partidos envolvidos no conflito de Darfur, todas as partes interessadas e

parceiros internacionais, estando concluído em 2011. O DDPD aborda as causas do conflito e

suas consequências, incluindo partilha de poder, partilha da riqueza, direitos humanos, justiça

e reconciliação, cmpensação, e retorno e diálogo interno, entre outros.

Em outubro de 2012, o segundo maior grupo rebelde do conflito de Darfur,

Movimento de Justiça e Igualdade (JEM), o qual integra uma das três facções da frente

comum dos rebeldes do Darfur, comprometeu-se com o Documento de Doha para a Paz em

Darfur, haja vista que em 2011 o Movimento Justiça e Libertação (LJM), outra facção da

frente comum do conflito, foi o primeiro grupo a assinar a declaração.

O Documento de Doha foi um dos primeiros instrumentos internacionais a assumir

perante a Comunidade Internacional compromissos do governo sudanês e das milícias em

tentar acabar com o conflito, que, por tantos, anos tem se estendido. Observa-se, no entanto,

que o Documento não esta sendo implementado com o todo o rigor esperado, conforme fica

nítido na fala de Victória Nuland, porta-voz dos Estados Unidos da América:

Exortamos o governo sudanês a desarmar urgentemente as milícias em Darfur, de

acordo com a Resolução 1556 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a

cessar todos os bombardeamentos aéreos e a implementar o Documento de Doha

para a Paz em Darfur como base de um processo de paz mais inclusivo e eficaz.

(Tradução nossa)55.

55 IIP DIGITAL. Deterioração rápida e significativa da segurança no Darfur do Norte e em Jebel Marra.

Disponível em:

Page 44: ACNUR - Guia de Estudos

44

Apesar da pouca concretização prática do documento, o Secretário Geral da ONU, Ban

Ki-Moon, saudou o Documento de Paz de Doha adotado pelas partes interessadas no conflito

de Darfur, como base para acabar com o conflito. O documento também é apoiado pela União

Africana e pela Liga Árabe.

3.6. Medidas tomadas para superação do conflito

No momento em que surgiu o conflito em Darfur, em 2003, a comunidade

internacional estava concentrada mais no sucesso e na mediação do acordo de paz entre o Sul

do Sudão e Cartum, capital do Sudão, a fim de por um ponto final à guerra mais longa da

história da África. Dessa forma, o Conselho de Segurança da ONU tinha as informações

relativas à situação em Darfur, mas, para não atrapalhar o sucesso do acordo de paz entre o

Sudão e Cartum, absteve-se, a priori, de qualquer medida ou declaração.

Em 2006, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou a Resolução 1706 de

envio de uma força de manutenção da paz da União Africana, composta de 17 300 soldados.

Em maio de 2006, o Exército de Liberação Sudanesa, principal grupo rebelde do

Sudão, concordou com uma proposta de acordo de paz com o governo sudanês. No entanto, o

acordo foi rechaçado tanto pelo Movimento de Justiça e Igualdade, tendo por porta-voz dos

rebeldes, Ahmed Hussein, como por uma facção rival do próprio Exército de Liberação

Sudanesa, dirigida por Abdul Wahid Mohamed el Nur. Os principais pontos do acordo eram o

desarmamento das milícias Janjaweed.e a incorporação dos efetivos dos grupos rebeldes ao

exército sudanês. Apesar do acordo, os combates continuaram.

Em 31 de Julho de 2007, o Conselho de Segurança das Nações Unidas votou por

unanimidade a Resolução nº 1769 que aprova a constituição de uma força militar conjunta da

ONU e da União Africana para o Darfur. A resolução autoriza a formação de uma força

denominada UNAMID, constituída por 26 mil soldados e policiais, essa força ficará

encarregada de proteger os deslocados e refugiados na região de Darfur e do Sudão,

oferecendo o auxilio humanitário necessário.

A maioria dos países tem congregado esforços para por fim ao conflito de Darfur,

exigindo intervenções da ONU, dentre outras posturas mais rígidas. O Japão, no entanto, é um

<http://iipdigital.usembassy.gov/st/portuguese/texttrans/2013/02/20130221142861.html#ixzz2Mhbgx9Fk>.

Acesso em: 05 mar. 2013.

Page 45: ACNUR - Guia de Estudos

45

dos países mais emblemáticos na Comunidade Internacional que não se mobiliza para o fim

do conflito; esse país é um dos maiores importadores do petróleo Sudanês.

Agregando esforços para por fim ao conflito de Darfur, muitos países se propuseram a

doar divisas:

Em Oslo, em abril de 2005, a comunidade internacional prometeu cerca de US$ 4,5

bilhões para o Sudão em três anos (2005-2007). Deste total, aproximadamente 38%

foram confirmados. A ajuda global passou de US$ 383 milhões em 2003 a mais de

US$ 1,7 bilhão em 2005, sendo US$ 1,1 bilhão para a assistência humanitária, da

qual boa parte foi para Darfur56.

Além da concessão de divisas, alguns países declararam a possibilidade de impor

sanções econômicas uni ou multilaterais ao Sudão, no caso do governo sudanês não empenhar

todas as forças para restabelecer a paz na região:

Os Estados Unidos e o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, advertiram o

Sudão de que o país enfrentará sanções "unilaterais e multilaterais", se não cumprir a

recém-adotada resolução do Conselho de Segurança sobre a força de paz híbrida

integrada pela ONU e a União Africana para Darfur57.

O chefe da UNAMID, a força conjunta da ONU e da União Africana para por fim ao

conflito de Darfur, Imbrahim Gambari, afirma que não basta o envio de verbas ou policiais,

afinal, problemas humanitários também exigem intervenções humanitárias, como a difusão da

consciência da necessidade dos povos de diferentes origens étnicas colaborarem entre si:

Devemos redobrar nosso compromisso em restaurar os serviços básicos para mais

comunidades e facilitar a rápida recuperação e reconstrução. Esta é a chave para

consolidar nossas conquistas na região para convencer as comunidades ambivalentes

sobre se juntarem ao processo de paz58.

O ACNUR tem atuado diretamente no conflito de Darfur, mas, além dele, existem

muitos outros organismos internacionais empenhados em auxiliar no término da guerra,

56 UOL. Países doadores pedem fim "imediato" de hostilidades em Darfur. Disponível em:

<http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2006/03/10/ult1808u60567.jhtm>. Acesso em: 05 mar. 2013.

57 UOL. Sudão aceita oficialmente a resolução 1769 sobre força de paz em Darfur. Disponível em:

<http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2006/03/10/ult1808u60567.jhtm>. Acesso em: 06 mar. 2013. 58 ONU BRASIL. Darfur aproxima-se da paz sustentável, avalia Chefe da UNAMID. Disponível em:

<http://www.onu.org.br/darfur-aproxima-se-da-paz-sustentavel-avalia-chefe-da-unamid/>. Acesso em: 06 mar.

2013.

Page 46: ACNUR - Guia de Estudos

46

viabilizando melhores condições de vida aos refugiados e amenizando o sofrimento advindo

de situações extremas, como é o caso de conflitos armados.

Organismos da ONU ativamente envolvidos nesta abordagem incluem a

Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o Programa

das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Fundo das Nações Unidas

para a Infância (UNICEF), o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários

(OCHA), o Programa Mundial de Alimentos (PMA), a Organização Mundial da

Saúde (OMS) e o Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos

(ACNUDH)59.

Percebe-se, portanto, que muitas medidas para a superação do conflito de Darfur

foram pensadas, mas poucas estão sendo, efetivamente, implementadas. Espera-se que os

representantes dos países que integram a Comunidade Internacional hajam o mais rápido

possível.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados busca soluções duráveis

para o problema, a fim de que a vida dos refugiados possa ser reconstruída com paz e

dignidade. As principais iniciativas do ACNUR estão sendo: repatriação voluntária,

integração local dos refugiados nos novos países ou restabelecimento desses indivíduos em

um terceiro país, isso ocorre quando a Nação para a qual o refugiado migrou não pode acolhê-

lo de forma satisfatória, sendo, também, inviável, seu retorno para casa.

Apesar dessas três soluções genéricas para o problema, o ACNUR reconhece que tais

medidas não são adequadas para grande parte dos refugiados e demais deslocados internos,

acreditando que a principal dificuldade de implementação de pontos mais viáveis e

consistentes trata-se da ausência de uma declaração, tratado ou acordo em que os Países da

Comunidade Internacional externem seus posicionamentos.

No âmbito desse Comitê, os senhores delegados podem trabalhar com as soluções que

já existem, mas devem, sobretudo, pensar em novas saídas para essa questão que tende a se

agravar a cada dia. Tendo em mente que as medidas atuais estão sendo insuficientes para

conter o problema.

59 ONU BRASIL. A ONU e os refugiados. Disponível em: <http://www.onu.org.br/a-onu-em-acao/a-onu-e-os-

refugiados/>. Acesso em: 06 mar. 2013.

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