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ACIDENTES COM MOTOCICLISTAS EM VITÓRIA - ES: ANÁLISE DOS
FATORES DE RISCO DE INTERNACAO E GRAVIDADE DE LESÃO
Pedro Pelacani Berger
Gregório Coelho de Morais Neto
Adelmo Inácio Bertolde Universidade Federal do Espírito Santo
Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil
RESUMO
Modelos para a previsão de acidentes ou funções de desempenho de segurança viária são ferramentas de grande utilidade à tomada de decisão, permitindo uma alocação de recursos para intervenções de engenharia na
segurança viária de forma mais eficiente. Ao mesmo tempo em que cresce o número de estudos com o uso
desses instrumentos, cresce também o prejuízo social e econômico devido a fatalidades no trânsito. Este projeto
de pesquisa procura utilizar os dados obtidos pelo inquérito VIVA, realizado em Vitória – ES, para elaboração
de modelos estatísticos e análises mais aprofundadas sobre os fatores determinantes e agravantes da
morbimortalidade no transito, dando ênfase a acidentes envolvendo motociclistas.
ABSTRACT
Models for accidents prediction or road safety performance are highly useful tools for decision making, allowing
an allocation of resources to engineering in interventions road safety more efficiently. While the number of
studies using these instruments grows, also the social and economic loss due to traffic fatalities increases. This
reseach utilize the data obtained by the VIVA survey, conducted in Vitória - ES, for statistical modeling and
further analysis on the determinants of morbidity in traffic, emphasizing accidents involving motorcyclists.
1. INTRODUÇÃO
A importância dos meios de locomoção vem crescendo em proporção direta com a evolução
da sociedade. O desenvolvimento de novos modais de transporte sempre levou à melhora do
comércio, a troca mais rápida de informações e ao intercambio cultural.
Sempre a criação de meios mais rápidos e eficientes de locomoção causaram mudanças na
sociedade. A domesticação de animais e a invenção da roda tornaram o transporte mais
eficiente e possibilitaram as pessoas a um alcance cada vez maior para suas atividades. Com
criação de embarcações maiores e mais fortes também estabeleceu um novo padrão no
comércio e na exploração de novas terras, com a chegada dos europeus as Américas. Até que
com a revolução industrial e o desenvolvimento de motores a combustão e do automóvel uma
nova fase no transporte se iniciou, o transporte rodoviário se tornou mais viável e a introdução
do transporte mecânico particular criou não apenas um novo modal, mas uma indústria (Bardi
et al; 2006).
Com a fabricação crescente de novos veículos as vias de locomoção passam agora pelo
problema da superlotação, o que faz com que também outros veículos motores ganhem
espaço, como é o caso da motocicleta, que se apresenta como uma opção mais econômica,
prática e de maior velocidade de locomoção perante os constantes engarrafamentos
(Mannering, Grodsky; 1995).
No Brasil o meio de transporte rodoviário com maior frota são os automóveis, representando
56% dentre o total dos veículos registrados, veículos a motor de duas ou três rodas ocupam a
segunda posição, sendo 26% do total de veículos registrados. Esse segundo é um modal que
vem a cada ano crescendo sua participação no mercado, tendência mundial dentre os países
emergentes. Ônibus e outros veículos do mesmo porte para transporte coletivo representam
menos de 2% da frota; (WHO, 2010; DENATRAN, 2013).
Diversas consequências são decorrentes do crescimento da frota e do fluxo de veículos, tanto
em rodovias como nos centros urbanos, todo indivíduo está sujeito a se tornar vítima de um
acidente de tráfego, seja direta ou indiretamente atingido (Yeo et al; 2013). Inúmeros fatores
agravam os riscos de um acidente, enquanto muito lentamente as providências têm sido
tomadas. Visando a redução dos custos sociais e econômicos a Organização das Nações
proclamou o período de 2011-2020 como a “Década de Ações para a Segurança Viária”
(WHO; 2010).
1.1 Modelos Lineares Generalizados Aplicados a Acidentes
A fim de mensurar, identificar as causas e buscar soluções para esse problema, a mais de duas
decádas países da Europa e América do Norte têm elaborado modelos de previsão de
acidentes, utilizando em geral ferramentas estatísticas de modelagem linear. Os modelos
gerados apresentam em grande parte sucesso em seus objetivos. No Brasil, estudos desse
gênero se iniciaram apenas na metade da década passada, mas ainda de forma retraída,
considerando a difícil obtenção de dados coerentes, completos e precisos (Cunto et al; 2012)
De forma paralela, esses métodos podem vir a ser utilizados para estimar o desempenho
operacional de medidas de segurança e engenharia. Os resultados apontados por modelos de
previsão e dos erros calculados têm se mostrado aceitáveis (Cardoso, Goldner; 2007).
Diversos estudos estão propostos na literatura para a modelagem de acidentes, com diferentes
finalidades, pois modelos de regressão permitem assim que variáveis que mensuram objetos
totalmente diferentes sejam inseridas e suas relações investigadas. Assim, os modelos podem
tratar tanto de questões da via, como largura, estado de conservação, aclive ou declive, se é
um cruzamento e outros elementos (Evans; 2011), ou questões relacionadas ao condutor e ao
veículo, que seriam o tipo de veículo, velocidade, lesões, ocorrência de óbito, condições
físicas do condutor e demais características (Kononen et al; 2011).
1.2 Dados
Para a realização de qualquer tipo de modelagem a partir de um conjunto de dados, é
necessária cautela quanto à seleção das informações que serão utilizadas. Cada tipo de
modelagem apresenta diversos pressupostos que devem ser cumpridos a fim de se obter
resultados coerentes.
A primeira preocupação é quanto à consistência do banco de dados. Comumente, estudos
acidentes são baseados em informações vindas de órgãos públicos, ou aproveitados a partir de
estudos com objetivos distintos, sendo esses muitas vezes incompletos ou inconsistentes
(Mânica; 2007).
Dificilmente é realizado um levantamento especifico para a elaboração do modelo, com uma
coleta de dados e amostragem planejados especificadamente para o experimento. Busca-se
então utilizar informações extraídas de boletins de ocorrência, questionários de outros
estudos, estudos observacionais para outros fins e outros elementos.
2. OBJETIVOS
O objetivo geral desta pesquisa é estudar as ocorrências de acidentes de transito, bem como os
fatores associados à gravidade das lesões provocadas, a partir dos dados coletados pelo
inquérito do Projeto VIVA (2009) realizado no município de Vitória. Mais especificadamente,
esse estudo pretende dar ênfase aos acidentes de transito envolvendo motociclistas, cuja
situação atual do trafego desse modal de transporte tem sido mais alarmante.
Após a obtenção dos dados necessários para a pesquisa, procurar-se-á criar um ou mais
modelos estatísticos que buscarão identificar quais variáveis são determinantes para a
morbidade no trânsito.
Como objetivos específicos, que colaborarão para o andamento do trabalho e ainda
acrescentarão conteúdo significativo à pesquisa, será realizada uma análise exploratória
aprofundada dos dados, a fim de encontrar o perfil da vítima em potencial envolvida em
acidentes, de acordo com a informação presente. Essa análise inicial também se torna útil no
momento da seleção das variáveis para o modelo em questão, visto a necessidade de serem
atendidos alguns pressupostos.
3. METODOLOGIA
3.1 Inquérito VIVA
Para a realização do estudo, optou-se então pelo uso da base de dados criada a partir dos
questionários levantados pelo Projeto de Vigilância de Violências e Acidentes – VIVA, por
apresentar informações já validadas, úteis e de boa procedência. Esses dados se mantêm sob a
guarda da secretaria de saúde de Vitória.
O projeto VIVA foi criado pelo Ministério da Saúde do Governo Federal, estuda fenômenos e
agravos à saúde que podem ou não levar ao óbito. Este consiste na realização de um inquérito,
que virá a colher informações de entradas hospitalares em todas as capitais do país e no
Distrito Federal. Tem como objetivos estimar prevalências de acidentes de trânsito, agressões,
suicídios e outras causas externas e estudar associações com possíveis fatores de risco. É
realizado um estudo descritivo de corte transversal. Serão utilizados dados dos anos de 2007,
2008, 2009 e 2011. Nos questionários sobre as vítimas de acidentes de trânsito estão contidas
diversas informações sobre a via e o condutor, pré e pós-acidente.
3.2 Modelos Lineares Generalizados
Para solucionar o problema de pesquisa, e alcançar os objetivos traçados, para o estudo foi
escolhida a proposta de elaboração de um modelo de regressão.
Um Modelo Linear Generalizado é uma junção de modelos de regressão lineares e não
lineares, permitindo a incorporação de uma variável resposta que não apresenta distribuição
Normal a um modelo linear, bastando apenas essa pertencer à família exponencial de
distribuições, na qual estão incluídas a distribuição Normal, Poisson, Binomial, Exponencial e
Gamma. Além disso, a presença do erro com distribuição normal do modelo linear é apenas
um caso particular dos Modelos Lineares Generalizados. Tem-se então que, em diversos
casos, esses modelos podem ser vistos como uma aproximação unificada para vários aspectos
da modelagem empírica e análise de dados (Montgomery et al, 2006).
Numa situação em que uma variável resposta é formada por apenas dois diferentes resultados,
genericamente falando sucesso ou falha que são denotados por 0 ou 1. Nota-se que a resposta
é essencialmente qualitativa, desde que a designação de sucesso ou falha seja inteiramente
arbitrária. Nesse caso, o Modelo Linear Generalizado que se utiliza é chamado de Regressão
Logística (Montgomery et al, 2006).
4. RESULTADOS ESPERADOS
O acesso aos dados foi liberado pela Secretaria Municipal de Saúde de Vitória, e a pesquisa
aprovada pelo comitê de ética responsável, sabendo se tratar de informações sigilosas.
Os dados serão recodificados e filtrados, a fim de dar enfoque a acidentes de motociclistas.
Procurar-se-á inicialmente a elaboração de um modelo de regressão linear logística, utilizando
como variável resposta a gravidade das lesões do condutor, e outro a internação ou alta no
período de 24 horas após o acidente, ambos considerando como variáveis explicativas
características das vias e dos condutores também presentes no inquérito. A análise
exploratória dos dados e os demais resultados serão apresentados também à secretária e
gerências responsáveis pelo banco de dado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Cardoso, G.; Goldner L. (2007) Desenvolvimento e aplicação de modelos para previsão de acidentes de trânsito.
Transportes, v. 15, n. 2, p.43–51.
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http://www.denatran.gov.br/frota.htm. Acesso em 03.03.2013.
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Mânica, G. E. (2007) Modelo de previsão de acidentes rodoviários envolvendo motocicletas. Dissertação de
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Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
Mannering, F.L.; Grodsky, L.L. (1995) Statistical Analysis of Motorcyclists Perceived Accident Risk. Accident
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Montgomery, D. C.; Peck, E. A.; Vining, G. G. (2006) Introduction to Linear Regression Analysis. Wiley Series
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