acidente de trabalho · 2018-09-25 · [email protected] . dignidade da pessoa humana...

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Danos extrapatrimoniais André Araújo Molina Professor Titular da Escola Superior da Magistratura Trabalhista de Mato Grosso (ESMATRA/MT), Professor do Centro de Formação do Tribunal Superior do Trabalho (CEFAST), da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho (ENAMAT) e de diversas Escolas Judiciais de Tribunais Regionais do Trabalho, Doutor em Filosofia do Direito (PUC/SP), Mestre em Direito do Trabalho (PUC/SP), Especialista em Direito Processual Civil (UCB/RJ) e em Direito do Trabalho (UCB/RJ), Bacharel em Direito (UFMT) e Juiz do Trabalho Titular no TRT da 23ª Região (Mato Grosso) [email protected] www.facebook.com/professorandremolina

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Danos extrapatrimoniais

André Araújo MolinaProfessor Titular da Escola Superior da Magistratura Trabalhista de Mato Grosso (ESMATRA/MT), Professor do Centro deFormação do Tribunal Superior do Trabalho (CEFAST), da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistradosdo Trabalho (ENAMAT) e de diversas Escolas Judiciais de Tribunais Regionais do Trabalho, Doutor em Filosofia do Direito(PUC/SP), Mestre em Direito do Trabalho (PUC/SP), Especialista em Direito Processual Civil (UCB/RJ) e em Direito doTrabalho (UCB/RJ), Bacharel em Direito (UFMT) e Juiz do Trabalho Titular no TRT da 23ª Região (Mato Grosso)

[email protected]

www.facebook.com/professorandremolina

Dignidade da pessoa humana(referências de consulta em 17.09.2018)

• STF – 347 acórdãos (4.073 decisões monocráticas)

• STJ – 1.116 acórdãos

• TST – 125.152 acórdãos

• TRT 11 – 7.062 acórdãos

• TRT 11 – 6.460 sentenças

DANIEL SARMENTO: “A ‘carnavalização’ do princípio dadignidade da pessoa humana é prejudicial por diversasrazões. Ao se banalizar o recurso à dignidade, desvaloriza-seo princípio no discurso jurídico. Ademais, a prática atentacontra a segurança jurídica, pois torna o resultado doprocesso judicial muito dependente dos gostos epreferências de cada magistrado, comprometendo oprevisibilidade do Direito. Finalmente, o fenômeno éproblemático sob a perspectiva democrática, pois permiteque juízes não eleitos imponham seus valores e preferênciasaos jurisdicionados, passando muitas vezes por cima dasdeliberações adotadas pelos representantes do povo.

Muitas vezes, os magistrados sequer se dão ao trabalho dejustificar a pertinência ao recurso a princípio tão elevado naescala dos valores constitucionais. Há casos em que adignidade aparece como um mero adorno na decisão,buscando emprestar-lhe algum charme humanista.”

AI-5

“Considerando que a Revolução Brasileira de 31de março de 1964 teve, como decorre dos atoscom os quais se institucionalizou, fundamentos epropósitos que visam dar ao País um regime que,atendendo às exigências de um regime jurídico epolítico, assegurasse autêntica ordemdemocrática, baseada na liberdade, no respeito àdignidade da pessoa humana, no combate àsubversão e às ideologias contrárias às tradiçõesde nosso povo (...)”

Dignidade da pessoa humana

• KANT: coisas (valor) X pessoas (dignidade)

“Age de tal sorte que consideres a humanidade, tanto na tua pessoa como

na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e

nunca simplesmente como meio.

(...) os seres racionais são chamados de pessoas, porque sua natureza já

os designa como fim em si, ou seja, como algo que não pode ser

empregado simplesmente como meio e que, por conseguinte, limita na

mesma proporção o nosso arbítrio, por ser um objeto de respeito (...) seres

racionais estão submetidos à lei segundo a qual cada um deles jamais se

trate a si mesmo ou aos outros simplesmente como meio, mas sempre e

simultaneamente como fins em si (...) o homem não é uma coisa, não é,

por consequência, um objeto que possa ser tratado simplesmente como

meio, mas deve em todas as suas ações ser sempre considerado comoum fim em si.”

Densificação jurídica (pós Segunda Guerra)

➢ Carta das Nações Unidas (1945)

➢ Constituição italiana (1947)

➢ Declaração Universal dos DH (1948)

➢ Lei Fundamental alemã (1949)

➢ Pacto Internacional DC e Políticos (1966)

➢ Convenção Americana de DH (1969)

➢ Constituição portuguesa (1976)

➢ Constituição Federal de 1988 (art. 1º, IV)

Conteúdo material

CF/88, art. 5º, caput. Direito à vida, à integridade física,psíquica e moral, à liberdade, à propriedade e àsegurança.

MARIA CELINA BODIN DE MORAES: igualdade,integridade física e moral, liberdade e solidariedade.

ANTÔNIO JUNQUEIRA DE AZEVEDO: condições naturais(integridade física e psíquica, incluindo a proteção dosdireitos de personalidade), condições materiais (meiospara o exercício da vida digna, donde provém a doutrinado mínimo existencial) e as condições culturais (liberdadee convivência igualitária)

Direito Internacional

• Convenção Americana (1969): direito à vida;integridade física, psíquica e moral; honra.

• Carta de Direitos Fundamentais da UniãoEuropeia (2000): direito à vida, integridadedo ser humano, proibição de torturas etratamentos degradantes, proibição deescravidão e do trabalho forçado.

Luís Roberto Barroso

• Direito à vida

• Igualdade material perante a lei e na lei

• Integridade física

• Integridade psíquica ou mental

(direito à honra pessoal, à imagem, privacidade)

• Autonomia individual (autodeterminação)

(liberdade religiosa, sexual, expressão, política etc.)

• Condições mínimas (mínimo existencial)

Daniel Sarmento• Valor intrínseco da pessoa – que veda a sua

instrumentalização em proveito de interesses deterceiros ou de metas coletivas;

• Igualdade – que implica a rejeição das hierarquias sociaise culturais e impõe que se busque a sua superaçãoconcreta;

• Autonomia – tanto na sua dimensão privada, ligada àautodeterminação individual, como na pública,relacionada à democracia;

• Mínimo existencial – que envolve a garantia dascondições materiais indispensáveis para a vida digna;

• Reconhecimento – que se conecta com o respeito àidentidade individual e coletiva das pessoas nasinstituições, práticas sociais e relações intersubjetivas.

Supremo Tribunal Federal(Plenário - Inq. 4.412 – Redª. Minª Rosa Weber – DJE 12.11.2012)

“Priva-se alguém de sua liberdade e de suadignidade, tratando-o como coisa e nãocomo pessoa humana, o que pode ser feitonão só mediante coação, mas também pelaviolação intensa e persistente de seusdireitos básicos, inclusive os trabalhistas. Aviolação do direito ao trabalho digno impactaa capacidade da vítima de realizar escolhassegundo a sua livre determinação.”

Destinatários e eficácias

• Destinatários – Pessoas humanas (naturais)

• Eficácias

Defensiva – atos do Estado e dos particulares

Estado – Proteção das minorias e violações

Particulares – Limites para restrição direitos

(núcleo essencial dos direitos fundamentais)

Positiva – Estado (mínimo existencial) e particulares

Danos à pessoa humana

André Araújo Molina: “Ao se reconhecer que os direitosfundamentais e os direitos humanos previstos na Constituiçãoe nos tratados internacionais são incidentes nas relaçõesjurídicas de trabalho, aplicados de forma mediada pelalegislação ou diretamente a partir das citadas fontesnormativas, necessariamente teremos que admitir que, alémda sua imperatividade e observância pelos sujeitos darelação, existe a possibilidade fático-jurídica de sua violação.E, acorde com a centralidade da dignidade da pessoa humanaem nosso sistema jurídico, a violação da dignidade humana edos direitos fundamentais ocasionará os danos à pessoahumana, exigindo do mesmo sistema jurídico instrumentosadequados para a sua multifacetada e completa reparação.”

Repercussões do dano

Danos patrimoniais

Danos emergentes

Lucros cessantes

Pensionamento

Perda de uma chance

Danos pessoais

Danos morais

Danos estéticos

Danos existenciais

Danos à identidade

pessoal

Evolução dos danos moraisLafayette Rodrigues Pereira: “O mal causado pelo delito pode consistirsimplesmente em um sofrimento físico ou moral, sem relação direta com opatrimônio do ofendido, como é o que resulta do ferimento leve que nãoimpede de exercer a profissão, ou de ataque à honra. Nestes casos não hánecessidade de satisfação pecuniária. Todavia, não tem faltado quem queirareduzir o simples sofrimento físico ou moral a valor: são extravagâncias doespírito humano” (1940)

STF: “(...) no caso de morte de filho menor não se indeniza o dano moral seele não contribuía em nada para o sustento da casa.” (1948)

• Posição subjetivista (origem do conceito autônomo)

René Savatier: “(...) dano moral é todo sofrimento humano que não écausado por uma perda pecuniária” (1939)

✓ Dor, vexame, sofrimento, humilhação etc.

Supremo Tribunal Federal(RE 172.720 – 2ª Turma - Rel. Min. Marco Aurélio – DJ 21.02.1997)

“Ninguém coloca em dúvida as repercussõesnefastas do extravio de bagagem em excursão,especialmente quando realizada fora do País. Ostranstornos são imensos, ocasionando os maisdiversos sentimentos para o viajante. No queconcerne ao dano moral, há que se perquirir ahumilhação e, consequentemente, osentimento de desconforto provocado pelo ato,o que é irrefutável na espécie.” (gn)

Wilson Melo da Silva

“(...) os incapazes de sentir, por causa de origempatológica ou insuficiente desenvolvimentomental, as dores morais não são suscetíveis dosdanos não patrimoniais. Como v. g. se pode falarem sofrimento íntimo do imbecil ou do idiota emvirtude do homicídio de um parente próximo?Evidentemente que aí não haveria lugar para odano moral do mentecapto.” (O dano moral e a suareparação, 1999, p. 657/658)

“Poder-se-ia questionar no âmbito administrativouma mera infração das normas de trânsito doCódigo de Trânsito Brasileiro quanto a transporteinadequado de passageiros em carroceria deveículo de transporte de cargas, o que não é dacompetência da Justiça do Trabalho. Mas se oveículo é seguro para o transporte de gado tambémo é para o transporte do ser humano, nãoconstando do relato bíblico que Noé tenharebaixado a sua dignidade como pessoa humana ecomo emissário de Deus para salvar as espéciesanimais, com elas coabitando a sua Arca em meiosemelhante ou pior do que o descrito na petiçãoinicial (em meio a fezes de suínos e bovinos).” (TRT3ª Região – 7ª Turma – RO 01023.2002.081.03.00-0– DJ 25.03.2003).

Consequências da posição clássica

• Subjetivismo judicial (sentimentalismo)

• Exigência de prova material do sofrimento

• Dupla função (compensatória e punitiva)

✓ Condição socioeconômica das partes

✓ Reiteração da conduta

✓ Grau de sofrimento da vítima

✓ Negação do dano-morte

✓ Intransmissibilidade

Posição objetivista dos danos morais(Violação da dignidade humana)

MARIA CELINA BODIN DE MORAES: “Uma vez que estáconstitucionalmente determinado que a proteção da dignidadehumana é objetivo primordial do ordenamento, pode-se concluirque, na realidade, toda e qualquer circunstância que atinja o serhumano em sua condição humana, que (mesmo longinquamente)pretenda tê-lo como objeto, e que negue sua qualidade de pessoa,de fim em si mesmo, será automaticamente considerada violadorade sua personalidade e, se concretizada, causadora de dano moral aser indenizado. Dano moral será, em consequência, a lesão a algumdos substratos que compõem, ou conformam, a dignidade humana,isto é, a violação a um desses princípios: I. liberdade; II. igualdade;III. solidariedade; e IV. integridade psicofísica de uma pessoa. (...) Areparação do dano moral corresponde, no ambiente deconstitucionalização em que vivemos, à contrapartida do princípioda dignidade humana: é o reverso da medalha. Quando a dignidadeé lesada, há que se reparar o dano injustamente sofrido.”

SÉRGIO CAVALIERI FILHO: “Nessa perspectiva, o dano moral nãoestá necessariamente vinculado a alguma reação psíquica davítima. Pode haver ofensa à dignidade da pessoa humana semdor, vexame, sofrimento, assim como pode haver dor, vexame esofrimento sem violação da dignidade. Dor, vexame, sofrimentoe humilhações podem ser consequências e não causas.”

ANDERSON SCHREIBER: “A toda evidência, a definição do danomoral não pode depender do sofrimento, dor ou qualquer outrarepercussão sentimental do fato sobre a vítima, cuja efetivaaferição, além de moralmente questionável, é faticamenteimpossível. A definição do dano moral como lesão a atributo dapersonalidade tem a extrema vantagem de se concentrar sobre oobjeto atingido (o interesse lesado), e não sobre asconsequências emocionais, subjetivas e eventuais da lesão. Areportagem que ataca, por exemplo, a reputação de paciente emcoma não causa, pelo particular estado da vítima, qualquer dor,sofrimento, humilhação. Apesar disso, a violação à sua honraconfigura dano moral e exige reparação.”

ANDRÉ ARAÚJO MOLINA: “Transportando o conceitoobjetivo-constitucional do dano moral para asrelações de trabalho, estaria ele configurado quandoa dignidade humana de um dos sujeitos da relaçãojurídica especial fosse violada de forma antijurídicapela conduta do outro, afrontando diretamente ossubstratos constitucionais e internacionais quecompõe a dignidade da pessoa humana, como aliberdade, igualdade, solidariedade e a integridadepsicofísica, além dos mesmos direitos decorrentes dadignidade e vistos pela perspectiva do direito civil,como direitos da personalidade garantidos pelosistema, como a honra, intimidade, identidadepessoal, nome etc., independentemente de provamaterial das repercussões internas da violação sobrea vítima.” (2017, p. 236).

• Dano moral pessoa jurídica – (CC, art. 52 c/c CLT, art. 223-B)

Súmula 227 do STJ: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”

• Configuração do dano moral (hipóteses)

Inadimplemento contratual não gera dano moral

• Critérios mais objetivos para o arbitramento

• Dano moral coletivo (violação direitos fundamentais difusos ecoletivos)

• Reconhecimento do dano-morte

• Transmissibilidade dos créditos

Dano moral objetivo no STJ

“A atual Constituição Federal deu ao homem lugar de destaque entre suasprevisões. Realçou seus direitos e fez deles o fio condutor de todos osramos jurídicos. A dignidade humana pode ser considerada, assim, umdireito constitucional subjetivo, essência de todos os direitospersonalíssimos e o ataque àquele direito é o que se convencionouchamar dano moral.

Portanto, dano moral é todo prejuízo que o sujeito de direito vem a sofrerpor meio de violação a bem jurídico específico. É toda ofensa aos valoresda pessoa humana, capaz de atingir os componentes da personalidade edo prestígio social.

O dano moral não se revela na dor, no padecimento, que são, na verdade,sua consequência, seu resultado. O dano é fato que antecede ossentimentos de aflição e angústia experimentados pela vítima, nãoestando necessariamente vinculado a alguma reação psíquica da vítima.”(STJ – 4ª Turma - REsp 1.245.550/MG – Rel. Min. Luis Felipe Salomão –DJE 16.04.2015)

Dano moral objetivo no TSTPrograma gestacional

“Saliente-se que a pretensão abstrata de estender seu poderempregatício para além das prescrições sobre a organização dotrabalho, alcançando a vida, a autonomia e o corpo dastrabalhadoras, revela desrespeito grave à dignidade da pessoahumana, que não se despe de sua condição de sujeito, nem datitularidade das decisões fundamentais a respeito da sua própriavida, ao contratar sua força de trabalho em favor de outrem. Estácaracterizada, satisfatoriamente, a conduta ilícita e antijurídica doempregador, capaz de ofender a dignidade obreira, de formaculposa. Ao se preocupar exclusivamente com o atendimento desuas necessidades produtivas, constrangendo as decisõesreprodutivas das trabalhadoras, a reclamada instrumentaliza avida das suas empregadas, concebendo-as como meio para aobtenção do lucro, e não como fim em si mesmas.” (TST – 7ªTurma – RR 000755-28.2010.5.03.0143 – Rel. Min. Luiz PhilippeVieira de Mello Filho – DEJT 19.09.2014).

Consagração no TST

“DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. O dano moral prescinde, para suaconfiguração, de prova, bastando, para que surja o dever de indenizar, ademonstração do fato objetivo que revele a violação do direito depersonalidade.” (TST – 3ª Turma – AIRR 000117-38.2014.5.07.0015 – Rel.Min. Alberto Luiz Bresciani – DEJT 13.05.2016).

“O direito à indenização por dano moral encontra amparo no art. 5º, V e X,da Constituição da República e no art. 186 do CCB/2002, bem como nosprincípios basilares da nova ordem constitucional, mormente naquelesque dizem respeito à proteção da dignidade humana, da inviolabilidade(física e psíquica) do direito à vida, do bem-estar individual (e social), dasegurança física e psíquica do indivíduo, além da valorização do trabalhohumano. O patrimônio moral da pessoa humana envolve todos esses bensimateriais, consubstanciados em princípios fundamentais pelaConstituição. Afrontado esse patrimônio moral, em seu conjunto ou emparte relevante, cabe a indenização por dano moral, deflagrada pelaConstituição de 1988.” (TST – 3ª Turma – AIRR 1000104-81.2015.5.02.0611– Rel. Min. Mauricio Godinho Delgado – DEJT 10.03.2017).

Dano-morteCódigo Civil de Portugal: “Art. 496º, 3: (...) no caso de morte, podem ser atendidos não só os danos nãopatrimoniais sofridos pela vítima, como os sofridos pelas pessoas com direito a indemnização nos termos donúmero anterior.”

“V - Tem-se entendido doutrinária e jurisprudencialmente, maxime após o acórdão do STJ de uniformização dejurisprudência de 17-03-1971 (BMJ 205.º/150), que, em caso de morte, do art. 496.º, n.ºs 2 e 3, do CC resultamtrês danos não patrimoniais indemnizáveis: - o dano pela perda do direito à vida; - o dano sofrido pelosfamiliares da vítima com a sua morte; - o dano sofrido pela vítima antes de morrer,” (PORTUGAL – STJ - RecursoPenal nº JSTJ00 - Relator Raúl Borges – 15.04.2009).

Código Civil: “Art. Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-latransmitem-se com a herança. (...) Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste,sem excluir outras reparações:”

“Anoto, inicialmente, que o dano moral sofrido pelos familiares da vítima falecida temnatureza individual. Relembre-se que, no Direito Comparado, identificam-se duasmodalidades distintas de danos morais relacionados ao evento morte. O primeiro deles é amorte em si (pretium mortis), como dano extrapatrimonial autônomo sofrido pela própriavítima direta falecida. O segundo é o dano moral (prejuízo de afeição) sofrido pelosfamiliares (vítimas por ricochete), apresentando cada situação peculiaridades próprias.” (STJ– Corte Especial – EREsp 1.127.913 – Rel. Min. Napoleão Maia Filho – DJE 05.08.2014)

Posição atual do TST: SDI-1 - E-RR-1187-80.2010.5.03.0035 - Red. p/ acórdão Min. MárcioEurico Vitral Amaro - DEJT 04.11.2016.

Dano Estético

• CF/88, art. 5º, V e X – Violação da imagem

✓ Deformidades físicas

✓ Alterações morfológicas exteriores

✓ Independente do dano moral (cumulação)

Dano Existencial

• CC italiano de 1942 (Dano moral = Fato típico)

• CC italiana de 1947 – Dignidade humana

• Violação de outros direitos fundamentais?

• Corte de Cassação (Decisão n. 6572 de 2006)

• Profusão europeia e internacional

➢ Frustração dos projetos de vida

➢ Prejuízo à vida de relações

Corte Interamericana de DH(Caso Gutiérrez Soler vs. Colômbia – Sentença 12.09.2005)

“El Tribunal considera que los hechos violatorios en contradel señor Wilson Gutiérrez Soler impidieron la realización desus expectativas de desarrollo personal y vocacional, factiblesen condiciones normales, y causaron daños irreparables a suvida, obligándolo a truncar sus lazos familiares y trasladarseal extranjero, en condiciones de soledad, penuria económicay quebranto físico y psicológico. (…) Además, todos hanpadecido una grave alteración en sus condiciones deexistencia, en sus relaciones familiares y sociales, así comoen sus posibilidades de desarrollar sus propios proyectos devida. (…) US $90.000,00 (noventa mil dólares de los EstadosUnidos de América) a favor del señor Wilson GutiérrezSoler;”

Hipóteses práticas

• Acidente do trabalho ou doença (sequelas)

• Impossibilidade de gozo de férias

• Violação do direito ao lazer e à desconexão

• Jornada excessiva e reiterada (imposição)

➢ Critérios verticais e horizontais

➢ 8 horas diárias + 2 horas extras

➢ Jornadas especiais (motoristas, 12 x 36)

➢ 45 dias por ano (parâmetro do art. 61 CLT)

➢ Prova do dano? (configuração ou extensão)

Dano à identidade pessoal

• Diritto ad essere se stesso (“Direito de ser si mesmo”)

• Corte Constitucional italiana (Sentença n. 13 de 1994)

• Perspectiva dinâmica da personalidade“Patrimônio cultural, religioso, ideológico, político, profissional,psicológico, sentimental e social da pessoa, cujos traços em conjuntoindividualizarão o ser humano em seu ambiente.”

• Exigência de alterações estéticas no trabalhador?

• Cláusulas restritivas – Adequação técnica com atividade

• Boa-fé objetiva (venire contra factum proprium)

• Direitos autorais do trabalhador (Lei 9.610/1998)

• Liberdade para o exercício dos direitos fundamentais

Legislação comparada

Constituição portuguesa 1976: “todos sãoreconhecidos os direitos à identidade pessoal, aodesenvolvimento da personalidade, à capacidade civil,à cidadania, ao bom nome e reputação, à imagem, àpalavra, à reserva da intimidade da vida privada efamiliar e à protecção legal contra quaisquer formasde discriminação.” (art. 26, 1º)

Constituição peruana 1993: “Art. 2°. Toda personatiene derecho: 1. A la vida, a su identidad, a suaintegridade moral, psíquica y física y a su libredesarollo y bienestar.”

Anderson Schreiber

“Como se viu, o direito à identidade pessoal vai muitoalém da proteção ao nome. Abrange traços distintivos damais variada ordem, como estado civil, etnia, orientaçãosexual, impressões digitais, ideologia política, crençareligiosa e assim por diante. Não há aqui, a rigor,sobreposição com aspectos já abrangidos por outrosdireitos da personalidade, como o direito à imagem e odireito à privacidade. Isso porque o direito à identidadepessoal não se confunde com a tutela isolada e estáticade cada um desses aspectos. A identidade pessoal deveser vista em perspectiva funcional e dinâmica, voltada apromover e garantir uma fidedigna apresentação dapessoa humana, em sua inimitável singularidade.”

Uso de piercing – Justa causa – Ponderação in concreto

“A prova documental demonstra que a reclamante foi cientificada dos termos doRegulamento Interno da Empresa à época da contratação (fl. 84), o qual dispõesobre o cumprimento de normas de higiene e saúde relacionadas à atividadedesenvolvida (Capítulo III, art. 4º; fl. 78). Assim sendo, justifica-se ter sidosolicitada a não usar piercings quando do exercício de suas funções, com base nodisposto na Resolução nº 216/2004 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária –ANVISA, que determina que durante a manipulação de alimentos pelosempregados dos serviços de alimentação, devem ser retirados todos os objetos deadorno pessoal e maquiagem (item 4.6.6; fl. 101).Nesse contexto, a conduta da reclamante não se justifica, ferindo, inclusive, obom senso, pois razoável que retirasse seus adornos quando da realização desuas atividades. Vale registrar que todas as advertências e a suspensão referidaspela recorrente encontram-se devidamente registradas, fundamentadas combase na Resolução supracitada e assinadas por duas testemunhas (fls. 71/77). Anegativa da reclamante em cumprir com a determinação do reclamado,sujeitando este às penalidades previstas em caso de inobservância da normaregulamentar, configura ato de injustificada insubordinação, a que deu causa atrabalhadora, tornando insustentável a continuidade da relação de emprego.”(TRT 4ª Região – 9ª Turma – RO 06100-09.2009.5.04.0231 – Rel. Des. CláudioAntônio Cassou Barbosa – DEJT 24.09.2010).

Posição do TST

• Consumo de cerveja da concorrência(TST – 1ª T. – RR 278000-91.2008.5.12.0001 – DEJT 23.09.2011)

• Namoro entre colegas de trabalho(TST – 2ª T. – AIRR 001621-28.2010.5.12.0000 – DEJT 14.02.2014)

• Filiação político-partidária do trabalhador(TST – 6ª T. – RR 001115-83.2013.5.15.0058 – DEJT 29.04.2016)

Empresas de tendência

• Especialização ideológica ou de produtos

✓ Ideologia empresarial X Ideologia empresário

• Trabalhadores na atividade-fim

• Tribunal Constitucional espanhol

✓ Possibilidade de recrutamento dirigido

• Restrição maior da liberdade de manifestação

• Dever de abstenção (fora do local e horário labor)

• Boa-fé objetiva no ato de contratação

• Contratação do direito de imagem (retribuição)

Reforma Trabalhista

Art. 223-A. Aplicam-se à reparação de danos de naturezaextrapatrimonial decorrentes da relação de trabalhoapenas os dispositivos deste Título.

• Tentativa de bloqueio da incidência normativa geral

✓ Inconstitucionalidade e inconvencionalidade

✓ Incidência dos microssistemas constitucionais etc.

✓ Ex. Resp. civil-ambiental, Resp. do Estado etc.

✓ Preservação do microssistema coletivo autônomo

✓ Interpretação conforme: “preferencialmente”

• Insuficiência do Título II-A da CLT (lacunas - colmatação)

Art. 223-B. Causa dano de natureza extrapatrimonial aação ou omissão que ofenda a esfera moral ou existencialda pessoa física ou jurídica, as quais são as titularesexclusivas do direito à reparação.

• Reconhecimento dos danos existenciais autônomos

• Dano moral de pessoa jurídica (consagração)

• Intransmissibilidade do dano moral (retrocesso)?!

• Fim do dano em ricochete (indireto)?!

✓ Tentativa de interditar a CF/88

✓ Inconstitucionalidade material

✓ Eficácia direta – Art. 5º, V e X (amplitude da reparação)

✓ Precedente do STF – RE 348.827 – DJ 06.08.2004

Art. 223-C. A honra, a imagem, a intimidade, a liberdade deação, a autoestima, a sexualidade, a saúde, o lazer e aintegridade física são os bens juridicamente tuteladosinerentes à pessoa. Art. 223-D. A imagem, a marca, o nome, osegredo empresarial e o sigilo da correspondência são bensjuridicamente tutelados inerentes à pessoa jurídica.

• Interpretação conforme – Rol exemplificativo

• Gatilho para reconhecimento dos “novos danos” c/cAmplitude dos danos morais (ampliação conceito)

• Objetivação do reconhecimento da violação

• Desnecessidade de prova das repercussões (fatonotório), salvo para agravar o valor da indenização

Art. 223-E. São responsáveis pelo dano extrapatrimonialtodos os que tenham colaborado para a ofensa ao bemjurídico tutelado, na proporção da ação ou da omissão

• Hipóteses das concausas sucessivas

Responsabilidade escalonada (limite temporal)

• CLT, art. 223-E Vs CC, art. 942, parágrafo único

• Interpretação conforme à CF e os Tratados

✓ CF/88 – Resp. Ambiental - Solidária

✓ Convenção 155 OIT - Resp. solidária

✓ Lei 13.429/2017 – Terceirização – Resp. solidária

✓ Preservação dos microssistemas (pro homine)

Art. 223-F. A reparação por danos extrapatrimoniais podeser pedida cumulativamente com a indenização por danosmateriais decorrentes do mesmo ato lesivo.§ 1º Se houver cumulação de pedidos, o juízo, ao proferira decisão, discriminará os valores das indenizações a títulode danos patrimoniais e das reparações por danos denatureza extrapatrimonial.

• Reafirmação da independência das reparações

• Homenagem ao devido processo legal

• Necessidade de fundamentação qualificada

• NCPC, art. 489, § 1º

§ 2º A composição das perdas e danos, assimcompreendidos os lucros cessantes e os danosemergentes, não interfere na avaliação dos danosextrapatrimoniais.

• Anátema dos arts. 402 e 403 do CC

• Lucros cessantes em sentido amplo

➢ Lucros cessantes em sentido estrito

➢ Perda de chances

➢ Pensionamento

Art. 223-G. Ao apreciar o pedido, o juízo considerará:

I – a natureza do bem jurídico tutelado;

II – a intensidade do sofrimento ou da humilhação;

III – a possibilidade de superação física ou psicológica;

IV – os reflexos pessoais e sociais da ação ou da omissão;

V – a extensão e a duração dos efeitos da ofensa;

VI – as condições em que ocorreu a ofensa ou o prejuízomoral;

VII – o grau de dolo ou culpa;

VIII – a ocorrência de retratação espontânea;

IX – o esforço efetivo para minimizar a ofensa;

X - o perdão, tácito ou expresso;

XI – a situação social e econômica das partes envolvidas;

XII – o grau de publicidade da ofensa.

Problematização

• Recepção legislativa dos punitive damages?!

✓ Compensatory Vs Punitive

✓ Fixação de indenização autônoma

• Critérios de gradação no arbitramento judicial

• Modelo bifásico (Paulo Sanseverino – Maria Celina)

✓ Fixação valor base (precedentes)

✓ Atenuantes e agravantes (caso concreto)

• Perdão tácito ou expresso – Extinção ou gradação?

✓ Doutrina civilista – Relevância fator tempo

• Situação econômica e social (isonomia?)

§ 1º Se julgar procedente o pedido, o juízo fixará aindenização a ser paga, a cada um dos ofendidos,em um dos seguintes parâmetros, vedada aacumulação:

I – ofensa de natureza leve, até três vezes o últimosalário contratual do ofendido;

II – ofensa de natureza média, até cinco vezes oúltimo salário contratual do ofendido;

III – ofensa de natureza grave, até vinte vezes oúltimo salário contratual do ofendido;

IV - ofensa de natureza gravíssima, até cinquentavezes o último salário contratual do ofendido.

Problematização

• Violação da isonomia (interna e externa)

• Restrição da restituição ampla

• STF – RE 348.827 – DJ 06.08.2004 (ADPF 130)

“Mas o que deve ser tomado em linha de conta é que a Constituiçãode 1988 emprestou ao dano moral tratamento especial – C.F., art.5º, V e X – desejando que a indenização decorrente desse danofosse a mais ampla. (...) Posta a questão nesses termos,considerando o tratamento especial que a Constituição emprestou àreparação decorrente do dano moral, não seria possível sujeitá-laaos limites estreitos da lei de imprensa.”

• Tarifação do dano moral - Inconstitucionalidade