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1 Acesso e Repartição de Benefícios no Cenário Mundial: A Lei Brasileira em Comparação com as Normas Internacionais

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Acesso e Repartio de Benefcios no Cenrio Mundial:A Lei Brasileira em Comparao com as Normas Internacionais

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Acesso e Repartio de Benefcios no Cenrio Mundial:A Lei Brasileira em Comparao com as Normas Internacionais

CONFEDERAO NACIONAL DA INDSTRIA CNI

Robson Braga de AndradePresidente

Diretoria de Desenvolvimento IndustrialCarlos Eduardo Abijaodidiretor

Diretoria de ComunicaoCarlos Alberto Barreirosdiretor

Diretoria de Educao e TecnologiaRafael Esmeraldo Lucchesi Ramacciottidiretor

Diretoria de Polticas e EstratgiaJos Augusto Coelho Fernandesdiretor

Diretoria de Relaes InstitucionaisMnica Messenberg Guimaresdiretora

Diretoria de Servios CorporativosFernando Augusto Trivellatodiretor

Diretoria JurdicaHlio Jos Ferreira Rochadiretor

Diretoria CNI/SPCarlos Alberto Piresdiretor

Acesso e Repartio de Benefcios no Cenrio Mundial:A Lei Brasileira em Comparao com as Normas Internacionais

Outubro 2017

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2017. CNI CONFEDERAO NACIONAL DA INDSTRIA.Qualquer parte desta obra poder ser reproduzida, desde que citada a fonte.

CNIGerncia Executiva de Meio Ambiente e Sustentabilidade GEMAS

C748i

Confederao Nacional da Industria. Acesso e repartio de benefcios no cenrio mundial : a leibrasileira em comparao com as normas internacionais / ConfederaoNacional da Indstria, GSS Sustentabilidade e Bioinovao, Natura Inovao e Tecnologia de Produtos Braslia : CNI, 2017.

XX p.

Legislao Brasileira 2. Legislao Internacional 3. Protocolo de Nagoya I. Ttulo

CDU: 502.14 (063)

CNIConfederao Nacional da Indstria

SedeSetor Bancrio NorteQuadra 1 Bloco CEdifcio Roberto Simonsen70040-903 Braslia DFTel.: (61) 3317- 9000Fax: (61) 3317- 9994www.cni.org.br

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Prefcio

Apresentao

ABS no cenrio nacional: Lei da Biodiversidade no Brasil

Conferncia das Partes, seus Protocolos e o Protocolo de Nagoya

Normas Internacionais

Sobre a Natura

Sobre a GSS Sustentabilidade

09

11

13

37

44

682

683

SumrioAfrica do SulAngolaBotsuanaBurkina FasoBurundiCamaresCosta Do MarfimDjibutiEgitoEtipiaGaboGambiaGuin-BissauIlhas MaurcioLesotoLibriaMadagascarMalawiMaliMarrocosMauritniaMoambiqueNambiaNgerQuniaRebuplica do BeninRepblica do CongoRuandaSo Tom e PrncipeSeichelesSenegalSerra LeoaSuazilndiaSudoTanzniaTogoUganda

4757616672778286909499

103107111115120124128133137141145151156160167171175180184188192196200204208214

Africa

Antgua e BarbudaArgentinaBolviaCanadChileColombiaCosta RicaEquadorEstados UnidosGuatemalaHondurasMxicoPanamParaguaiPeruRepblica DominicanaUruguai

221225231240246251262272280285290294300307311321327

Amrica

8

332338342346350356361365391395399405409413417421425429433438443448452456

464469477483490496503511518526535542549557564571577584588594601609616623626633639643

651660664668672676

sia Europa Oceania

ButoCambojaCatarCazaquistoChinaCoria do Sul_Emirados rabesndiaIndonsiaIsraelJapoJordniaKuwaitLaosMalsiaMongliaMyanmar Ou BirmniaPaquistoQuirguistoSriaTailndiaTajiquistoTurquiaVietn

AlbniaAlemanhaustriaBlgicaBielorssiaBulgriaCrociaDinamarcaEslovquiaEspanhaFinlandiaFranaHolandaHungriaItaliaLuxemburgoMaltaMoldviaNoruegaPoloniaPortugalReino UnidoRepblica ChecaRssiaSuciaSuaUcrniaUnio Europeia

AustrliaFijiIlhas Marshall_MicronsiaSamoaVanuatu

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PrefcioA globalizao da economia estabeleceu a interdependncia dos pases nas relaes comerciais,

cientficas, tecnolgicas, ambientais, sociais. Tal globalizao evidenciou problemas que atingem todos os pases e que necessitam da cooperao internacional para a busca consensual de solues.

O sistema de acesso a recursos genticos e repartio de benefcios (ABS), refletido no Protocolo de Nagia, busca alcanar benefcios econmicos, sociais e ambientais que conduzam conser-vao e ao uso sustentvel da biodiversidade em pases megadiversos, como o Brasil, com base no reconhecimento de distintos direitos sobre os recursos naturais e conhecimentos associados. O Protocolo, assim como a CDB, reconhece a soberania dos pases no que diz respeito ao direito sobre o uso de seus recursos genticos e cria mecanismos de como deve ser estabelecido o acesso e a repartio dos benefcios advindos da biodiversidade.

Ao ratificar o Protocolo, os pases devem cumprir com as obrigaes nele constantes. No en-tanto, como cada Parte ir proceder, variar de acordo com as decises polticas de cada pas e da participao de suas sociedades no processo da tomada de deciso. Desse modo, as incertezas crticas da implementao do Protocolo esto relacionadas com as regras que cada pas signatrio est estabelecendo em suas legislaes nacionais em relao s condies de acesso, repartio de benefcios, ao entendimento de quem o provedor e ao alinhamento com outros tratados inter-nacionais. A entrada em vigor do Protocolo de Nagia produz, portanto, mudanas significativas no rumo das legislaes nacionais e na relao dos usurios com os provedores de recursos genticos, nacionais e estrangeiros.

As obrigaes estabelecidas no Protocolo implicam em impactos de diversas naturezas aos usu-rios da biodiversidade. Tais impactos podem significar novas oportunidades para o usurio, como por exemplo, acesso e transferncia de tecnologias, capacitao de recursos humanos, adoo vo-luntria de cdigos de conduta, guias e melhores prticas, reformulao estratgica e operacional dos diferentes setores industriais que utilizam patrimnio gentico em seus processos e produtos, e desta forma ampliar a capacidade de fazer o uso sustentvel da biodiversidade.

No se pode ignorar que informao de qualidade a base para uma tomada de deciso bem sucedida. E para isto, a caracterizao do cenrio internacional, o acompanhamento da evoluo, a anlise de tendncias, e a anlise dos possveis impactos so etapas para produo de informao de qualidade que subsidiem decises e posicionamentos objetivos e pragmticos.

Conhecer a evoluo das negociaes sobre ABS nos pases e no mbito do Protocolo de Na-gia, bem como obter as informaes qualificadas, ajudaro os usurios da biodiversidade em todo o mundo na avaliao de impactos provenientes da implementao do Protocolo de Nagia e das legislaes nacionais dos diferentes pases.

Em homenagem Bia Bulhes.

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Apresentao

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A Confederao Nacional da Indstria (CNI) reconhece o papel imprescindvel das empresas para que o pas caminhe na direo do crescimento econmico aliado sustentabilidade ambien-tal. Aes em favor da biodiversidade so cruciais no cumprimento da Agenda para o Desenvolvi-mento Sustentvel 2030 e no alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentvel.

Ciente dessa responsabilidade, desde 2012, a CNI assumiu a Secretaria Executiva da Iniciativa Brasileira de Negcios e Biodiversidade (IBNB). Esse movimento foi lanado durante a Rio+20 e tem como objetivo atuar como canal direto entre o setor produtivo brasileiro e a Conveno sobre Diversidade Biolgica (CDB) da Organizao das Naes Unidas (ONU), promovendo a aproxi-mao das empresas com a agenda internacional de biodiversidade em diversos pases.

Em 2015, reconhecida pela sua liderana e representatividade empresarial perante a CDB, a CNI foi eleita coordenadora da Parceria Global de Negcios e Biodiversidade. Essa entidade tem a inten-o principal de promover o engajamento da iniciativa privada nas questes relacionadas ao uso da biodiversidade e o desenvolvimento sustentvel, bem como liderar as discusses no mbito da CDB.

Com isso, a CNI assumiu uma importante atribuio na disseminao de informaes e na facilitao do dilogo empresarial em todo o mundo. Isso levou o Brasil a ser reconhecido como referncia mundial de envolvimento das empresas em aes relacionadas ao uso sustentvel e conservao da biodiversidade.

Visto que o Brasil o pas mais diverso do ponto de vista biolgico no mundo, a implementa-o dos objetivos da CDB conservao da biodiversidade, uso sustentvel de seus componentes e repartio de benefcios advindos desse uso essencial para seu desenvolvimento cientfico, tecnolgico, econmico e social. Diversos assuntos discutidos no mbito da CDB traduzem-se em polticas pblicas nacionais e podem ter impacto nas operaes de negcios no Brasil. Entre eles, destacam-se o acesso e a repartio de benefcios oriundos dos recursos genticos, que compem o Protocolo de Nagoia da Conveno.

Devido s implicaes em outros tpicos como soberania nacional, poltica internacional, desenvolvimento econmico, comunidades indgenas e locais, pesquisa cientfica, biotecnologia, direitos de propriedade intelectual, indstrias dependentes de recursos genticos, e conservao e uso sustentvel da diversidade biolgica esse ainda um dos temas mais controversos da Con-veno, mas tambm um dos grandes desafios.

Com o intuito de oferecer s empresas usurias de recursos genticos no Brasil e nos mais de cem pases pesquisados, a CNI apresenta a compilao e a anlise de normas e diretrizes que orientam o uso dos recursos genticos. Esperamos que esse documento possa orientar a tomada de deciso de empresrios em investimentos na nova economia que surge com o desenvolvimento de produtos baseados na biodiversidade.

Robson Braga de AndradePresidente da Confederao Nacional da Indstria (CNI)

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Francine H. Leal FrancoCaroline de Bare Grassl

As Convenes e Tratados internacionais, especialmente os que tratam sobre meio am-biente, constituem um instrumento que impe uma regra de conduta obrigatria para os Estados signatrios, no caso, para o Brasil, delimitando o escopo das polticas pblicas e dos demais documentos e normas legais nacionais. Como consequncia, no apenas des-ses acordos internacionais, mas tambm das necessidades internas do pas, o Brasil editou diversos dispositivos legais em matria ambiental.

A Constituio Federal de 1998 garantiu um lugar legtimo ao meio ambiente dentro da Ordem Social ao declara-lo como direito fundamental, por trata-se de parte integrante e necessria para o bem-estar da sociedade e para a busca de desenvolvimento socioeco-nmico pautado na sustentabilidade. No artigo 225 dispe que:

Art. 225. Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibra-do, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes.

O Brasil ratificou a Conveno sobre Diversidade Biolgica em 1994, atravs do De-creto Legislativo n 2/94, emitido pelo Congresso Nacional. Com isso, o Brasil passou a vincula-se s diretrizes e princpios propostos pela Conveno, se comprometendo a adotar medidas e despender esforos para a implementao destes em mbito interno. A fim de cumprir com seu compromisso, portanto, o Brasil vm adotando diversas medidas polticas e legais de modo a promover a efetivao das diretrizes e princpios consagrados pela CDB.

Com base no princpio da soberania nacional dos Estados, a CDB dispe, no artigo 3, que os Estados so soberanos sobre a explorao de seus prprios recursos genticos:

Os Estados, em conformidade com a Carta das Naes Unidas e com os princpios de direito internacional, tm o direito soberano de explorar seus prprios recursos segundo suas polticas ambientais, e a responsab-ilidade de assegurar que atividades sob sua jurisdio ou controle no causem dano ao meio ambiente de outros Estados ou de reas alm dos limites da jurisdio nacional.

ABS no cenrio nacional: Lei da Biodiversidade no Brasil

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No Brasil, o acesso e remessa dos recursos genticos e conhecimentos tradicionais associados da biodiversidade brasileira foram inicialmente tratados por uma Medida Provisria, que aps 16 reedies, tornou-se vigente como Medida Provisria n 2.186-16, de agosto de 2001, popular-mente conhecida como apenas MP 2186.

A MP 2186 vigorou durante 15 anos e, desde sua primeira edio, objetivava aplicar os artigos 8j1, 152 e 163 da CDB, que tratam sobre o acesso ao patrimnio gentico e conhecimento tradicio-nal associado, a repartio de benefcios, o acesso e transferncia de tecnologia para a conserva-o da biodiversidade e foi revogada pela Lei n 13.123, de 20 de maio de 2015.

A nova Lei da Biodiversidade - Lei 13.123/2015

A Lei 13.123/15 tem por objetivo promover o uso sustentvel dos recursos genticos da biodiver-sidade e suscitar o interesse das empresas para o uso e regularizao de suas atividades, por meio de um sistema eletrnico auto declaratrio de cadastro das atividades que utilizam da biodiversidade brasileira. Esse sistema foi idealizado para substituir os procedimentos anteriores, de forma a siste-matizar, informatizar, baratear, unificar e dar celeridade ao extinto sistema moroso e de alto custo.

1 Artigo 8 - Conservao In situ, j: Em conformidade com sua legislao nacional, respeitar, preservar e manter o conhecimento, inovaes e prticas das comunidades locais e populaes indgenas com estilo de vida tradicionais relevantes conservao e utilizao sustentvel da diversidade biolgica, e incentivar sua mais ampla aplicao com a aprovao e a participao dos detentores desse conhecimento inovaes e prticas; e encorajar a repartio eqitativa dos benefcios oriundos da utilizao desse conhecimento, inovaes e prticas;[...]

2 Artigo 15 Acesso a Recursos Genticos: 1. Em reconhecimento dos direitos soberanos dos Estados sobre seus recursos naturais, a autoridade para determinar o acesso a recursos genticos pertence aos governos nacionais e est sujeita legislao nacional. 2. Cada Parte Contratante deve procurar criar condies para permitir o acesso a recursos genticos para utilizao ambientalmente saudvel por outras Partes Contratantes e no impor restries contrrias aos objetivos desta Conveno. 3. Para os propsitos desta Conveno, os recursos genticos providos por uma Parte Contratante, a que se referem este artigo e os artigos 16 e 19, so apenas aqueles providos por Partes Contratantes que sejam pases de origem desses recursos ou por Partes que os tenham adquirido em conformidade com esta Conveno. 4. O acesso, quando concedido, dever s-lo de comum acordo e sujeito ao disposto no presente artigo. 5. O acesso aos recursos genticos deve estar sujeito ao consentimento prvio fundamentado da Parte Contratante provedora desses recursos, a menos que de outra forma determinado por essa Parte. 6. Cada Parte Contratante deve procurar conceber e realizar pesquisas cientficas baseadas em recursos genticos providos por outras Partes Contratantes com sua plena participao e, na medica do possvel, no territrio dessas Partes Contratantes. 7. Cada Parte Contratante deve adotar medidas legislativas, administrativas ou polticas, conforme o caso e em conformidade com os Arts. 16 e 19 e, quando necessrio, mediante o mecanismo financeiro estabelecido pelos Arts. 20 e 21, para compartilhar de forma justa e eqitativa os resultados da pesquisa e do desenvolvimento de recursos genticos e os benefcios derivados de sua utilizao comercial e de outra natureza com a Parte Contratante provedora desses recursos. Essa partilha deve dar-se de comum acordo.

3 Artigo 16 - Acesso Tecnologia e Transferncia de Tecnologia: 1. Cada Parte Contratante, reconhecendo que a tecnologia inclui biotecnologia, e que tanto o acesso tecnologia quanto sua transferncia entre Partes Contratantes so elementos essenciais para a realizao dos objetivos desta Conveno, compromete-se, sujeito ao disposto neste artigo, a permitir e/ou facilitar a outras Partes Contratantes acesso a tecnologias que sejam pertinentes conservao e utilizao sustentvel da diversidade biolgica ou que utilizem recursos genticos e no causem dano sensvel ao meio ambiente, assim como a transferncia dessas tecnologias. 2. O acesso a tecnologia e sua transferncia a pases em desenvolvimento, a que se refere o l acima, devem ser permitidos e/ou facilitados em condies justas e as mais favorveis, inclusive. em condies concessionais e preferenciais quando de comum acordo, e, caso necessrio, em conformidade com o mecanismo financeiro estabelecido nos Arts. 20 e 21. No caso de tecnologia sujeita a patentes e outros direitos de propriedade intelectual, o acesso tecnologia e sua transferncia devem ser permitidos em condies que reconheam e sejam compatveis com a adequada e efetiva proteo dos direitos de propriedade intelectual. A aplicao deste pargrafo deve ser compatvel com os 3, 4 e 5 abaixo. 3. Cada Parte Contratante deve adotar medidas legislativas, administrativas ou polticas, conforme o caso, para que as Partes Contratantes, em particular as que so pases em desenvolvimento, que provem recursos genticos, tenham garantido o acesso tecnologia que utilize esses recursos e sua transferncia, de comum acordo, incluindo tecnologia protegida por patentes e outros direitos de propriedade intelectual, quando necessrio, mediante as disposies dos Arts. 20 e 21, de acordo com o direito internacional e conforme os 4 e 5 abaixo. 4. Cada Parte Contratante deve adotar medidas legislativas, administrativas ou polticas, conforme o caso, para que o setor privado permita o acesso tecnologia a que se refere o l acima, seu desenvolvimento conjunto e sua transferncia em benefcio das instituies governamentais e do setor privado de pases em desenvolvimento, e a esse respeito deve observar as obrigaes constantes dos 1, 2 e 3 acima. 5. As Partes Contratantes, reconhecendo que patentes e outros direitos de propriedade intelectual podem influir na implementao desta Conveno, devem cooperar a esse respeito em conformidade com a legislao nacional e o direito internacional para garantir que esses direitos oponham e no se oponham aos objetivos desta Conveno.

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Nesse contexto, a lei apresenta diversos pontos inovadores. Dentre eles, ressalta-se o sistema eletrnico de cadastro de Usurio para novos procedimentos que utilizem patrimnio gentico ou conhecimento tradicional associado; a notificao do produto acabado elaborado a partir da pes-quisa com a biodiversidade ou conhecimento tradicional associado; a emisso de um atestado de regularidade da instituio; a celebrao de um Acordo de Repartio de Benefcios e o pagamen-to desta repartio, que poder se dar por meio de um Fundo gerido pelo Governo, ou em projetos no monetrios, a depender do caso de acordo com as especificidades distinguidas pela lei.

Para estimular o uso do sistema de gesto, a nova Lei disponibiliza diversas opes vantajosas para o setor empresarial para facilitar a regularizao das empresas que acessaram componente do patrimnio gentico brasileiro em desacordo com as regras da Medida Provisria n 2.186/01.

Para viabilizar esta desburocratizao, apresentam-se resumidamente alguns pontos mais rele-vantes trazidos pela Lei 13.123/2015:

Tratamento Difernciado Na Lei

Nas atividades agrcolas (atividades de produo, processamento e comercializao de alimentos, bebidas, fi-bras, energia e florestas plantadas) a repartio de benefcios ser realizada sobre a comercializao do material reprodutivo. Isto que significa dizer que todas as demais atividades agrcolas que no compreendem explorao econmica do material reprodutivo esto isentas da repartio de benefcios.

Iseno da obrigao de repartio de benefcios para fabricantes de produtos intermedirios e desenvolvedores de processos oriundos de acesso ao patrimnio gentico ou conhecimento tradicional associado ao longo da cadeia produtiva. Entretanto de ser realizado o cadastro das atividades de pesquisa para garantir a rastreabilidade das matrias primas utilizadas pela indstria final.

Iseno da obrigao de repartio de benefcios para microempresas, empresas de pequeno porte e microem-preendedores individuais, conforme disposto na Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006.

Cadastro declaratrio e obrigatrio de acesso ou remessa de patrimnio gentico ou de conhecimento tradicional associado.

A Repartio de Benefcios poder ser feita na forma monetria, no valor de 1% da receita lquida (RL) sobre a explorao econmica do produto acabado para o Fundo Nacional para a Repartio de Benefcios FNRB, ou ento na forma no monetria no montante de 0,75% da RL sobre a explorao econmica do produto acabado.

Possibilidade de responsabilizar solidariamente importadores, representantes legais, coligadas, em caso de pro-duto oriundo de acesso fabricado no exterior.

Possibilidade de realizar acordos setoriais, firmados entre o poder pblico e usurios, com possibilidade de re-duo do valor da repartio de benefcios para at 0,1% (um dcimo) da receita lquida.

Sem prejuzos de outras inovaes que no sero tratadas aqui, vale concluir que, com a promessa de simplificao procedimental, acredita-se que o mercado baseado em recursos de biodiversidade tende a aumentar exponencialmente.

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O novo CGen

O Conselho de Gesto do Patrimnio Gentico CGen, previsto na nova lei, permanece um rgo colegiado de carter deliberativo, normativo, consultivo e recursal, responsvel por coorde-nar a elaborao e a implementao de normas para a gesto do acesso ao patrimnio gentico e ao conhecimento tradicional associado e da repartio de benefcios, sendo, dessa forma, a autoridade nacional competente para decidir sobre as solicitaes de acesso ao patrimnio ge-ntico e ao conhecimento tradicional associado, ou seja, desempenha papel fundamental para a implementao da nova lei.

Sua formao est bastante diferente da composio estipulada pela MP 2.186/01. O Conselho atual composto por representao de diferentes rgos e entidades, divididos em 60% (sessenta por cento) da administrao pblica federal que possuam competncia sobre as diversas aes de que trata a Lei de Biodiversidade e 40% (quarenta por cento) da representao da sociedade civil, assegurada a paridade entre setor empresarial, setor acadmico e populaes indgenas, comuni-dades tradicionais e agricultores tradicionais.

rgos e entidades da administrao pblica federal Sociedade civil

Ministrio do Meio Ambiente Confederao Nacional da Indstria - CNI

Ministrio da Justia Confederao Nacional da Agricultura - CNA

Ministrio da SadeUm indicado alternativa e sucessivamente pela CNI e pela CNA

Ministrio das Relaes ExterioresSociedade Brasileira para o Progresso da Cincia - SBPC

Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento Academia Brasileira de Cincias ABC

Ministrio da Cultura Associao Brasileira de Antropologia - ABA

Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate FomeConselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais - CNPCT

Ministrio da DefesaConselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentvel - CONDRAF

Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior Conselho Nacional de Poltica Indigenista - CNPI

Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao

Ministrio do Desenvolvimento Agrrio.

A inovao quanto a diversidade na composio do Conselho de grande importncia, tendo em vista que as decises antes eram tomadas apenas por representantes de governo, sendo que o setor empresarial e a sociedade civil podiam acompanhar as deliberaes apenas como ouvintes e nos casos onde o Usurio no solicitava sigilo de informaes. Essa modificao permite que os maiores interessados no assunto possam participar ativamente em prol de seus interesses.

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Com o Decreto 8.772/2016, que regulamenta a lei, a composio do Plenrio do CGen ficou composta por 20 conselheiros, sendo 12 representantes de rgos da administrao pblica fede-ral e 9 representantes da sociedade civil, distribudos na forma do Anexo V.

As competncias do CGen esto apresentadas a seguir:

Competncia Descrio

Estabelecer

a) normas tcnicas;b) diretrizes e critrios para elaborao e cumprimento do acordo de repartio de benefcios; c) critrios para a criao de banco de dados para o registro de infor-mao sobre patrimnio gentico e conhecimento tradicional associado;d0 diretrizes para aplicao dos recursos destinados ao - FNRB, a ttulo de repartio de benefcios.

Acompanhar, em articulao com rgos federais, ou mediante convnio com outras instituies, as atividades de

a) acesso e remessa de amostra que contenha o patrimnio gentico; eb) acesso a conhecimento tradicional associado.

Deliberar

a) as autorizaes de acesso em guas jurisdicionais brasileiras, na plata-forma continental e na zona econmica exclusiva;b) o credenciamento de instituio nacional que mantm coleo ex situ de amostras que contenham o patrimnio gentico; ec) o credenciamento de instituio nacional para ser responsvel pela criao e manuteno da base de dados.

Atestara) a regularidade do acesso ao patrimnio gentico ou ao conhecimento tradicional associado.

Registrara) o recebimento da notificao do produto acabado ou material repro-dutivo; e b) a apresentao do acordo de repartio de benefcios.

Promover a) debates e consultas pblicas sobre os temas de que trata esta Lei.

Funcionara) como instncia superior de recurso em relao deciso de instituio credenciada e aos atos decorrentes da aplicao da Lei.

Criar e manter base de dados relativos

a) aos cadastros de acesso ao patrimnio gentico ou ao conhecimento tradicional associado e de remessa;b) s autorizaes de acesso ao patrimnio gentico ou ao conhecimento tradicional associado e de remessa;c) aos instrumentos e termos de transferncia de material;d) s colees ex situ das instituies credenciadas que contenham amostras de patrimnio gentico;e) s notificaes de produto acabado ou material reprodutivo;f) aos acordos de repartio de benefcios;g) aos atestados de regularidade de acesso;

Cientificara) rgos federais de proteo dos direitos de populaes indgenas e comunidades tradicionais sobre o registro em cadastro de acesso a conhe-cimentos tradicionais associados.

Aprovar a) seu regimento interno.

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Escopo da Lei de ABs no Brasil

A Nova Lei de Biodiversidade regula, em sntese, o acesso ao patrimnio gentico do Pas; ao conhecimento tradicional associado; tecnologia e transferncia de tecnologia; explorao econmica de produto acabado ou material reprodutivo oriundo de acesso e sua respectiva repar-tio de benefcios; remessa de acesso ou de amostra de material gentico para o exterior e sobre Tratados internacionais referentes ao tema.

Observa-se que o legislador trata do patrimnio gentico do Pas4, bem de uso comum do povo encontrado em condies in situ, entretanto, em momento algum se restringe a espcies nativas no Brasil, por isso inclui nesse rol as espcies domesticadas ou cultivadas, que so aquelas em cujo processo de evoluo influiu o ser humano para atender suas necessidades; e as populaes espontneas de espcies introduzidas no territrio nacional, ainda que domesticadas, capazes de se autoperpetuarem naturalmente nos ecossistemas e habitats brasileiros, desde que encontradas em condies em que o patrimnio gentico exista em ecossistemas e habitats naturais e; no caso de espcies domesticadas ou cultivadas, nos meios onde naturalmente tenham desenvolvido suas caractersticas distintivas prprias, incluindo as populaes espontneas.

Nesse sentido, h uma certa insegurana jurdica para o Usurio em saber identificar quais so as espcies que comprovadamente tenham desenvolvido tais caractersticas em territrio nacional. Para isso j foi composta uma Cmara Temtica no mbito das atividades do CGen para que seja possvel definir o conceito tcnico de caractersticas distintivas prprias.

Ressalta-se ainda que, a lei trata tambm das espcies mantidas em condies ex situ, desde que encontrado em condies in situ no territrio nacional, na plataforma continental, no mar territorial e na zona econmica exclusiva. O local de isolamento de uma espcie somente impor-tar para enquadramento nos casos dos microrganismos, uma vez que a Lei excluiu as previses sobre local de coleta que estavam dispostos na Medida Provisria n 2.186-16/2001. Para todas as outras espcies de seres vivos, independentemente do local de coleta ou cultivo, a classificao como nativa poder desencadear notificaes por parte do rgo fiscalizador sobre a Lei de Bio-diversidade. Entretanto, deve-se observar o princpio da territorialidade do Direito Internacional e aguardar a ratificao do Protocolo de Nagoya por parte do Brasil.

Alm disso, a legislao brasileira tem em seu escopo de forma clara, tendo em vista o que o conceito de patrimnio gentico inclui a informao de origem gentica, todo acesso realizado de forma in silico. Alm disso, no Decreto define as informaes que devem ser cadastradas no SisGen e inclui a procedncia do patrimnio gentico ainda que tenham sido obtido em fontes ex situ ou in silico. Isso faz com que a legislao nacional incorpore os acessos ao patrimnio gen-tico nos casos de sequencias digitais.

4 Lei 13.123, art. 1, I - ao acesso ao patrimnio gentico do Pas, bem de uso comum do povo encontrado em condies in situ, inclusive as espcies domesticadas e populaes espontneas, ou mantido em condies ex situ, desde que encontrado em condies in situ no territrio nacional, na plataforma continental, no mar territorial e na zona econmica exclusiva

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Em resumo, a Lei trata do acesso ao conhecimento tradicional associado ao patrimnio ge-ntico; remessa para o exterior de parte ou do todo de organismos, vivos ou mortos, de espcies animais, vegetais, microbianas ou de outra natureza, que se destinem ao acesso ao patrimnio ge-ntico, bem como da implementao de Tratados internacionais sobre o patrimnio gentico ou o conhecimento tradicional associado aprovados pelo Congresso Nacional e promulgados. Tal abran-gncia da lei em questo gerou grande expectativa quanto ratificao do Protocolo de Nagoya.

Por fim, a lei traz os elementos necessrios para a explorao econmica de produto acabado5 ou material reprodutivo6 oriundo de acesso ao patrimnio gentico7 ou ao conhecimento tradicio-nal associado8 e respectiva repartio justa e equitativa dos benefcios advindos deste acesso, o que ser tratado mais detalhadamente em tpico especfico a diante.

Repartio de benefcios

Dispe o artigo 1 da Conveno sobre Diversidade Biolgica do qual o Brasil Parte:

Os objetivos desta Conveno, a serem cumpridos de acordo com as disposies pertinentes, so a conservao da diversidade biolgica, a utilizao sustentvel de seus componentes e a repartio justa e equitativa dos benefcios derivados da utilizao dos recursos genticos, mediante, inclusive, o acesso adequado aos recursos genticos e a transferncia adequada de tecnologias pertinentes, levando em conta todos os direitos sobre tais recursos e tecnologias, e mediante financiamento adequado.

No obstante o Brasil ainda no ter ratificado o Protocolo de Nagoya, vale apresentar aqui dois reconhecimentos que demonstram a importncia da repartio de benefcios instituda pelo prembulo do Protocolo:

Reconhecendo que a conscientizao pblica sobre o valor econmico dos ecossistemas e da biodiversidade e sobre a repartio justa e equitativa desse val-or econmico com os custodiadores dessa biodiversidade so incentivos para a conservao da diversidade biolgica e do uso sustentvel de seus componentes.

5 Lei 13.123, art. 2, XVI - produto acabado - produto cuja natureza no requer nenhum tipo de processo produtivo adicional, oriundo de acesso ao patrimnio gentico ou ao conhecimento tradicional associado, no qual o componente do patrimnio gentico ou do conhecimento tradicional associado seja um dos elementos principais de agregao de valor ao produto, estando apto utilizao pelo consumidor final, seja este pessoa natural ou jurdica;

6 Lei 13.123, art. 2, XXIX - material reprodutivo - material de propagao vegetal ou de reproduo animal de qualquer gnero, espcie ou cultivo proveniente de reproduo sexuada ou assexuada;

7 Lei 13.123, art. 2, VIII - acesso ao patrimnio gentico - pesquisa ou desenvolvimento tecnolgico realizado sobre amostra de patrimnio gentico;

8 Lei 13.123, art. 2, IX - acesso ao conhecimento tradicional associado - pesquisa ou desenvolvimento tecnolgico realizado sobre conhecimento tradicional associado ao patrimnio gentico que possibilite ou facilite o acesso ao patrimnio gentico, ainda que obtido de fontes secundrias tais como feiras, publicaes, inventrios, filmes, artigos cientficos, cadastros e outras formas de sistematizao e registro de conhecimentos tradicionais associados;

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Reconhecendo o papel potencial do acesso e repartio de benefcios na con-tribuio para a conservao e uso sustentvel da diversidade biolgica, na er-radicao da pobreza e na sustentabilidade ambiental, contribuindo dessa forma para se atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milnio.

Portanto, a repartio de benefcios essencial conversao e uso sustentvel da biodiversi-dade e promoo do desenvolvimento das comunidades locais.

Com base nessas premissas, a Lei de Biodiversidade estabeleceu, em seu artigo 17, que os benefcios resultantes da explorao econmica de produto acabado ou de material reprodutivo oriundo de acesso ao patrimnio gentico de espcies encontradas em condies in situ ou ao conhecimento tradicional associado, ainda que produzido fora do pas, sero repartidos, de forma justa e equitativa, sendo sujeitas repartio de benefcios, pessoas fsicas ou jurdicas que se configurem como:

O fabricante do produto acabado; ou O produtor do material reprodutivo.

* Quadro demonstrativo das responsabilidades sobre RB. Elaborao: GSS Sustentabilidade

O produto acabado como aquele cuja natureza no requer nenhum tipo de processo produ-tivo adicional, oriundo de acesso ao patrimnio gentico ou ao conhecimento tradicional asso-ciado, no qual o componente do patrimnio gentico ou do conhecimento tradicional associado seja um dos elementos principais de agregao de valor ao produto, estando apto utilizao pelo consumidor final, seja este pessoa natural ou jurdica.

Portanto, o produto intermedirio aquele cuja natureza a utilizao em cadeia produtiva, que o agregar em seu processo produtivo, na condio de insumo, excipiente e matria-prima,

QUEM REPARTE BENEFCIOS?

FABRICANTE do produto acabado cujo o componente do patrimnio gentico ou do conhecimento tradicional associado deve ser um dos elementos principais de agregao de valor.

Referncia a patrimnio gentico ou a conhe-cimento tradicional associado (procedncia ou a diferenciais) relacionado a:

um produto, linha de produtos marca

Em quaisquer meios de comunicao visual ou auditiva, inclusive campanhas de marketing ou destaque no rtulo do produto.

CARACTERSTICAS QUE DETERMINEM: as principais finalidades aprimorem a ao do produto ampliem o seu rol de finalidades.

O QUE EST FORA? Excipiente Veculos Substncias inertes

Que no determinam funcionalidade.

Apelo Mercadolgico Caractersticas funcionais

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para o desenvolvimento de outro produto intermedirio ou de produto acabado. O produto inter-medirio no possui a obrigao de repartir benefcios, porm a obrigao de cadastrar a pesquisa permanece, sem prejuzo de outras obrigaes eventualmente previstas em normas posteriores. A importncia do cadastro se d, tambm, para garantir a rastreabilidade do acesso e remessa.

Quanto ao material reprodutivo, no caso de atividades agrcolas, a repartio de benefcios realizada sobre a comercializao do mesmo, e no sobre o produto acabado ou por meio da-quele que originalmente realizou o acesso, seja pessoa fsica ou jurdica subsidiria, controlada, coligada, contratada, terceirizada ou vinculada. Isto significa que, com exceo do ltimo elo da cadeia produtiva de material reprodutivo, os demais elos esto isentos da repartio de benefcios.

Por outro lado, quando a finalidade da explorao econmica do material reprodutivo oriun-da de atividades agrcolas e destinada exclusivamente gerao de produtos acabados nas cadeias produtivas que no envolvam atividade agrcola, a repartio de benefcios incidir sobre a explo-rao econmica do produto acabado.

Outra particularidade da lei que, no caso do produto acabado, a repartio incidir sobre o componente do patrimnio gentico ou do conhecimento tradicional associado que possui um dos elementos principais de agregao de valor do produto, ou seja, elementos cuja presena no produto acabado sejam determinantes para a existncia das caractersticas funcionais ou para a formao do apelo mercadolgico.

Para fins de aplicao do conceito de excipiente, veculo ou outra substncia inerte para o se-tor de higiene pessoal, perfumaria e cosmticos (HPPC), no ser considerada determinante para a existncia das caractersticas funcionais a utilizao de patrimnio gentico exclusivamente para a estruturao da frmula, ou seja, quando responsvel pela estabilidade, consistncia ou aspecto fsico.

Quando acessos distintos resultarem em um nico produto, estes no sero considerados cumulativamente para o clculo da repartio de benefcios.

Isenes

Em contrapartida s situaes de cabimento acima, estaro isentos da repartio de benefcios, sem prejuzo da aplicao das demais diretrizes contidas na Lei de Biodiversidade:

Os fabricantes de produtos intermedirios e desenvolvedores de processos oriundos de acesso ao patrimnio gentico ou ao conhecimento tradicional associado ao longo da cadeia produtiva;

As operaes de licenciamento, transferncia ou permisso de utilizao de qualquer forma de direito de propriedade intelectual sobre produto acabado, processo ou material reprodutivo oriundo do acesso ao patrimnio gentico ou ao conhecimento tradicional associado por terceiros;

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As microempresas, as empresas de pequeno porte, os microempreendedores individuais, con-forme disposto na Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006;

Os agricultores tradicionais e suas cooperativas, com receita bruta anual igual ou inferior ao limite mximo estabelecido no inciso II do art. 3 da Lei Complementar n 123, de 14 de de-zembro de 2006;

A explorao econmica de produto acabado ou de material reprodutivo oriundo do acesso ao patrimnio gentico de espcies introduzidas no territrio nacional pela ao humana, ainda que domesticadas.

Sem prejuzo da ltima iseno acima, esto no escopo da Lei as espcies introduzidas no territrio nacional pela ao humana, ainda que domesticadas quando:

Formem populaes espontneas e que tenham adquirido caractersticas distintivas prprias no Pas; e

Formem variedade tradicional local ou crioula ou a raa localmente adaptada ou crioula.

O Decreto esclareceu ainda outras possibilidades de iseno ao pagamento da repartio de benefcios. No caso de regularizao, destacam-se os casos em que o acesso ao patrimnio gen-tico ou conhecimento tradicional associado tenha sido concludo antes de 30 de junho de 2000. Ademais, cabe cadastro, mas est isento da repartio de benefcios o produto, cuja substncia oriunda do metabolismo de microrganismo for idntica substncia de origem fssil j existente e utilizada em substituio a esta caso no haja apelo mercadolgico.

Responsabilidade solidria

Com vistas a ampliar o alcance das penalidade e sanes da Lei de Biodiversidade, e por con-sequncia maximizar a proteo da conservao da biodiversidade brasileira, estabeleceu-se que os produtos acabados ou o materiais reprodutivos produzidos no exterior, resultantes do acesso ou remessa ilegais, implicaro em responsabilidade solidria do importador, subsidirio, controlado, coligado, vinculado ou representante comercial do produtor estrangeiro em territrio nacional ou em territrio de pases com os quais o Brasil mantiver acordo.

O termo vinculada citado na Lei trouxe dvidas e insegurana para diversos atores ao longo da cadeira produtiva, inclusive para os fabricantes de produto acabado. Ocorre que o referido dis-positivo legal tem o objetivo de alcanar as instituies que, de alguma forma, tem algum poder decisrio ou de participao na atividade comercial e societria.

Quando a Lei da Biodiversidade utiliza o termo empresa vinculada, no est a se referir a nova nomenclatura societria, como o caso de empresa coligada, controlada, terceirizada, etc., mas sim, se refere a algumas situaes, as descritas a seguir.

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O termo empresa vinculada refere-se ao vnculo que as empresas sediadas no exterior de-vem possuir, com alguma empresa nacional, para que possam explorar a biodiversidade brasileira. Portanto, ainda que em alguns artigos da lei esta expresso seja citada ao lado de termos j con-solidados no direito societrio, tais como empresa coligada, empresa controlada, empresa terceirizada, etc., trata apenas de uma maneira que o legislador encontrou de incluir aquelas empresas sediadas no exterior e que firmam por exigncia da prpria lei da biodiversidade par-ceria com uma empresa nacional, para que possam desenvolver atividades de acesso ao patrim-nio gentico ou ao conhecimento tradicional associado. o que dispe o artigo 23, da Lei 9.430 de 1996 e o artigo 2 da Instruo Normativa RFB n.1.312 de 2012.

Nos casos de produto acabado ou material reprodutivo produzido fora do Brasil, e para fins de determinao da base de clculo, o Ministrio do Meio Ambiente poder solicitar ao fabricante de produto acabado ou produtor de material reprodutivo ou aos responsveis solidrios dados e informaes, devidamente acompanhados dos respectivos elementos de prova.

Formas e valor da repartio de benefcios

A Lei de Biodiversidade estipula duas modalidades de reparties de benefcio: monetria, em que certo montante pr-estabelecido dever ser depositado em determinado fundo, conforme ser abordado mais adiante; e na forma no monetria.

A opo de escolher uma das modalidades de repartio de benefcios descritas bem como as formas da repartio no monetria, quando esta for eleita, uma vantagem que o usurio do acesso a patrimnio gentico detm.

A repartio de benefcios no monetria ser feita por meio de acordo firmado com as popu-laes indgenas, comunidades tradicionais ou agricultores tradicionais, provedores9 do conhe-cimento tradicional associado de origem identificvel10, nos casos de explorao econmica de produto acabado ou de material reprodutivo oriundo desse conhecimento, sendo negociada de forma justa e equitativa entre as partes ou com a Unio.

Nesse sentido, a repartio de benefcios no monetria se refere a projetos para conserva-o ou uso sustentvel da biodiversidade ou para proteo e manuteno de conhecimentos, da mesma forma, a capacitao de recursos humanos nesses temas ser destinada a unidades de conservao, terras indgenas, territrios remanescentes de quilombos, assentamento rural de agricultores familiares, territrios tradicionais, instituies pblicas nacionais de pesquisa e desen-volvimento, reas prioritrias para a conservao, utilizao sustentvel e repartio de benefcios da biodiversidade brasileira, atividades relacionadas salvaguarda do conhecimento tradicional

9 Lei 13.123, art. 2, V - provedor de conhecimento tradicional associado - populao indgena, comunidade tradicional ou agricultor tradicional que detm e fornece a informao sobre conhecimento tradicional associado para o acesso;

10 Decreto 8.772, art. 12, 3 Qualquer populao indgena, comunidade tradicional ou agricultor tradicional que cria, desenvolve, detm ou conserva determinado conhecimento tradicional associado considerado origem identificvel desse conhecimento, exceto na hiptese do 3 do art. 9 da Lei n 13.123, de 2015.

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associado, colees ex situ mantidas por instituies credenciadas, e populaes indgenas, co-munidades tradicionais e agricultores tradicionais.

O Ministrio do Meio Ambiente poder criar e manter o banco de propostas de repartio de benefcios, e que o CGen poder delimitar critrios ou parmetros de resultados ou efetividades que os usurios devero atender, em substituio ao parmetro de custo previsto para a repartio de benefcios no monetria.

Para a modalidade monetria aplicada no caso de explorao econmica de produto acabado ou de material reprodutivo oriundo de acesso ao patrimnio gentico, a repartio de benefcios ser de 1% calculado sobre a receita lquida anual obtida com a explorao econmica do produ-to. Esse valor dever ser depositado no Fundo Nacional para a Repartio de Benefcios - FNRB, vinculado ao Ministrio do Meio Ambiente, com o objetivo de valorizar o patrimnio gentico e os conhecimentos tradicionais associados nacionais e promover o seu uso de forma sustentvel.

Em alguns casos da modalidade de repartio de benefcios no monetria, dever ser despen-dido o montante equivalente a 75% do previsto para a modalidade monetria, sendo destinados :

Projetos para conservao ou uso sustentvel de biodiversidade; Proteo e manuteno de conhecimentos, inovaes ou prticas de populaes indgenas,

de comunidades tradicionais ou de agricultores tradicionais; Capacitao de recursos humanos nos temas relacionados acima; Distribuio gratuita de produtos em programas de interesse social

Os projetos devem ser executados preferencialmente no local de ocorrncia da espcie em condio in situ ou de obteno da amostra quando no se puder especificar o local original.

J para os casos citados abaixo, o valor da repartio de beneficios, ainda que seja na modali-dade no monetria, deber ser equivalente a 1% da receita lquida do produto acabado.

Transferncia de tecnologias, que poder ser nas seguintes formas:

Participao na pesquisa e desenvolvimento tecnolgico; Intercmbio de informaes; Intercmbio de recursos humanos, materiais ou tecnologia entre instituio nacio-

nal de pesquisa cientfica e tecnolgica, pblica ou privada, e instituio de pes-quisa sediada no exterior;

Consolidao de infraestrutura de pesquisa e de desenvolvimento tecnolgico; e Estabelecimento de empreendimento conjunto de base tecnolgica.

Disponibilizao em domnio pblico de produto, sem proteo por direito de propriedade intelectual ou restrio tecnolgica;

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Licenciamento de produtos livre de nus.

Importante ressaltar que este rol de reparties no monetrias meramente exemplificativo. A Lei clara ao incluir no caput do artigo a expresso dentre outras, dessa forma, expandindo as hipteses de reparties no monetrias, no exaurindo.

* Quadro resumo sobre repartio de benefcios. Elaborao: GSS Sustentabilidade

Por fim, nos casos em que o produto acabado ou o material reprodutivo no tenha sido produ-zido no Brasil, a ausncia de acesso a informaes essenciais determinao da base de clculo de repartio de benefcios ensejar na determinao arbitrria pela Unio do valor da base de clculo de acordo com a melhor informao disponvel, considerando o percentual previsto nesta Lei ou em acordo setorial, garantido o contraditrio.

Ocorre que o Decreto 8.772/2016 foi mais restritivo que a Lei, prevendo que nos casos da repartio de benefcios no monetria, para transferncia de tecnologia, disponibilizao em domnio pblico de produto sem proteo por direito de propriedade intelectual e licenciamento livre de nus s podero ser destinadas a rgos e instituies pblicas nacionais que executem programas de interesse social.

O CGen poder criar um banco de propostas de repartio de benefcios no monetria, sen-do que os projetos desse banco tem sua destinao restrita conservao e ao uso sustentvel da biodiversidade, valorizao e proteo do conhecimento tradicional associado, atendendo o interesse pblico.

Repartio de benefcios

ACESSO COMO? QUEM? QUANTO?

Patrimnio Gentico

Modalidade monetria - FNRB Depsito direto ao Fundo Nacional de Repartio de Benefcios

Depsito direto ao Fundo Nacional de Repartio de Benefcios

1% RL

Negociao

0,75% ou 1% de acordo com o projeto definido

1% RL

0,5% RL

Projeto no monetrioAcordo de Repartio de Benefcios com a Unio para definir o Projeto de Repartio de Benefcios

A repartio de benefcios ser feita integralmente ao FNRB

Usurio dever negociar livremente com o provedor de CTA a forma e valor da RB.

Os demais detentores sero beneficiados pelo FNRB.

Conhecimento tradicional associa-do de origem no identificvel

Conhecimento tradi-cional associado de origem identificvel

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Beneficirios

At 16 de novembro de 2015, o beneficirio era estipulado em Contrato de Utilizao do Pa-trimnio Gentico e de Repartio de Benefcios, podendo ser ou no o titular da propriedade em que foi obtida a amostra do patrimnio gentico utilizado na pesquisa e desenvolvimento tecnol-gico. Isto porque a Medida Provisria n 2.186-16/2001 se limitou a estabelecer que a repartio de benefcios deveria ser justa e equitativa, sem definio de valores ou beneficirios.

Todavia, apesar desta estrutura ter sido retirada da Conveno sobre Diversidade Biolgica, ao aplicar-se em territrio nacional constatou-se que o termo justo e equitativo por vezes poderia gerar efeito contrrio: injusto e desiquilibrado. Em vista da insegurana jurdica ter sido uma das grandes reclamaes dos conservadores e usurios da biodiversidade, a nova Lei da Biodiversi-dade foi construda para cobrir todas as lacunas anteriores, dentre elas a forma de repartir. Desse modo, para cada modalidade foi designado um beneficirio diferente, conforme tabelas a seguir:

Regras da Repartio de Benefcios Monetria

Beneficirios: populaes indgenas, comunidades tradicionais e agricultores tradicionais.

Hipteses: nos casos de conhecimento tradicional associado de origem identificvel, conforme acordo negociado de forma justa e equitativa entre as partes.

Beneficirios: Fundo Nacional de Repartio de Benefcios (FNRB).

Hipteses: nos casos de explorao econmica de produ-to acabado ou material reprodutivo oriundo de acesso ao patrimnio gentico e ao conhecimento tradicional associado de origem no identificvel. Tambm ser aplicvel parcela de %0,5 nos casos de conhecimento tradicional associado de origem identificvel.

Regras da Repartio de Benefcios No Monetria

Beneficirios: (i) unidades de conservao; (ii) terras indgenas; (iii) territrios remanescentes de quilombos; (iv) assentamento rural de agricultores familiares; (v) territrios tradicionais nos termos do Decreto n 6.040, de 7 de fevereiro de 2007; (vi) instituies pblicas nacionais de pesquisa e desenvolvimento; (vii) reas prioritrias para a conservao, utilizao sustentvel e repartio de benefcios da biodiversidade brasileira, conforme ato do Ministro de Estado do Meio Ambiente; (viii) atividades relacionadas salvaguarda de conhecimento tradicional associado; (iv) colees ex situ mantidas por instituies credenciadas nos termos do que dispe a Seo V do Captulo IV, do Decreto n 8.772/2016; e (x) populaes indgenas, comunidades tradicionais e agricultores tradicionais.

Hipteses: (a) Projetos para conservao ou uso sustentvel de biodiversidade ou para proteo e manuteno de con-hecimentos, inovaes ou prticas de populaes indgenas, de comunidades tradicionais ou de agricultores tradicionais, preferencialmente no local de ocorrncia da espcie em condio in situ ou de obteno da amostra quando no se puder especificar o local original; e (e) capacitao de recursos humanos em temas relacionados conservao e uso sustentvel do patrimnio gentico ou do conhecimento tradicional associado,

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Beneficirios: instituio pblica nacional que executa programas de interesse social.

Hipteses: (b) transferncia de tecnologias; (c) disponibili-zao em domnio pblico de produto, sem proteo por direito de propriedade intelectual ou restrio tecnolgica; (d) licenciamento de produtos livre de nus; e (f) distribuio gratuita de produtos em programas de interesse social.

Fica evidente, portanto, que a Lei procurou instituir como beneficirios queles que so con-siderados necessrios conservao da biodiversidade, aumentando as chances da repartio de benefcios atingir os objetivos da CDB.

Conhecimento tradicional associado

Entende-se por conhecimento tradicional associado (CTA) a informao ou prtica de popu-lao indgena, comunidade tradicional ou agricultor tradicional sobre as propriedades ou usos diretos ou indiretos associada ao patrimnio gentico. O acesso a estes conhecimentos se d por meio de pesquisa ou desenvolvimento tecnolgico, que possibilite ou facilite o acesso ao patrim-nio gentico, ainda que obtido de fontes secundrias tais como feiras, publicaes, inventrios, fil-mes, artigos cientficos, cadastros e outras formas de sistematizao e registro, sendo classificando, ainda, como CTA de origem identificvel ou no identificvel, como ser visto a seguir .

Uma das grandes inovaes da Lei neste tema, foi incorporar em seu escopo a proteo sobre o uso do patrimnio gentico, ainda que obtido por fonte secundria.

Desta forma, a Lei refora que o CTA integra o patrimnio cultural brasileiro, sendo reconhe-cido, dentre outras formas, por meio de publicaes cientficas, registros em cadastros, banco de dados ou inventrios culturais.

Comunidade tradicional tida pela Lei como grupo culturalmente diferenciado que se reconhe-ce como tal, possui forma prpria de organizao social e ocupa e usa territrios e recursos naturais como condio para a sua reproduo cultural, social, religiosa, ancestral e econmica, utilizando conhecimentos, inovaes e prticas geradas e transmitidas pela tradio. O agricultor tradicional pessoa natural que utiliza variedades tradicionais locais ou crioulas ou raas localmente adaptadas ou crioulas e mantm e conserva a diversidade gentica, includo o agricultor familiar.

Importante mencionar tambm o conceito de variedade tradicional local ou crioula como sen-do aquela variedade proveniente de espcie que ocorre em condio in situ ou mantida em condi-o ex situ, composta por grupo de plantas dentro de um txon no nvel mais baixo conhecido, com diversidade gentica desenvolvida ou adaptada por populao indgena, comunidade tradicional ou agricultor tradicional, incluindo seleo natural combinada com seleo humana no ambien-te local, que no seja substancialmente semelhante a cultivares comerciais. J a raa localmente adaptada ou crioula aquela proveniente de espcie que ocorre em condio in situ ou mantida em condio ex situ, representada por grupo de animais com diversidade gentica desenvolvida

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ou adaptada a um determinado nicho ecolgico e formada a partir de seleo natural ou seleo realizada adaptada por populao indgena, comunidade tradicional ou agricultor tradicional.

Com estes conceitos em mente, observa-se que, conforme aduz a Conveno sobre a Diver-sidade Biolgica, necessrio a obteno do consentimento prvio informado (por sua sigla em ingls, PIC), que consiste no consentimento formal, previamente concedido por populao indgena ou comunidade tradicional segundo os seus usos, costumes e tradies ou protocolos comunitrios, alcanando tambm os agricultores familiares.

Entretanto, h iseno do termo de consentimento para atividades agrcolas quando referirem-se variedade tradicional local ou crioula ou raa localmente adaptada ou crioula, equiparando-as ao conhecimento tradicional de origem no identificvel.

Quanto as formas de obteno do consentimento, pode ser obtido por meio de assinatura de termo de consentimento prvio; registro audiovisual do consentimento; parecer do rgo oficial competente; ou adeso na forma prevista em protocolo comunitrio.

Existem dois tipos de conhecimento tradicional: identificvel e no identificvel. A incidncia de valores para repartio de benefcios tambm foi concebida de forma diferenciada.

Conhecimento tradicional associado de origem no identificvel significa dizer que no pos-svel identificar pelo menos um de seus detentores. Neste caso, a repartio de benefcios somente poder ser feita na modalidade monetria, no montante de 1% calculado a partir da receita lquida anual obtida com a explorao econmica do produto, ressalvada a possibilidade de possveis redues atravs de acordo setorial. Esse valor dever, obrigatoriamente, ser depositado no Fundo Nacional de Repartio de Benefcios.

Nas hipteses de o produto acabado ou o material reprodutivo ser desenvolvido em decorrn-cia de acesso ao conhecimento tradicional associado de origem identificvel, ou seja, quando o usurio identificar pelo menos um detentor do conhecimento; seja de forma direta, em contato com o detentor; ou de forma indireta, o que a Lei veio a chamar de fonte secundria (livros, feiras, publicaes, documentrio, etc.), neste caso, o usurio tem o dever de obter o consentimento prvio informado, podendo o provedor de conhecimento tradicional associado aceitar ou recusar, bem como, em caso de aceite, receber benefcios mediante acordo de repartio de benefcios, sendo livre a negociao deste entre as partes.

Frisa-se, ainda, quanto a modalidade de CTA de origem identificvel, que a lei prev, de forma absoluta, que sempre haver mais de um detentor de conhecimento tradicional e portanto 0,5% da receita lquida dever, em todos os casos, ser aplicada no Fundo Nacional para a Repartio de Benefcios FNRB, que, por sua vez, ter de utiliz-lo para atender as demais comunidades que detm esse conhecimento, independentemente da quantidade de codetentores.

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Regularizao

No que tange a regularizao, a Lei de Biodiversidade antev que as pessoas fsicas e jurdicas que realizaram atividades em desacordo com a MP 2.186/01, tero 1 (um) ano, a partir da disponi-bilizao do cadastro (SisGen), previsto para acontecer em 6 de novembro de 2017, para solicitar a regularizao e adequar-se aos novos procedimentos. Um Termo de Compromisso com a Unio, representada pelo Ministro de Estado do Meio Ambiente, dever ser firmado para assegurar, dentre outros, a repartio de benefcios referente ao tempo em que o produto desenvolvido tiver sido disponibilizado no mercado, no limite de at 5 (cinco) anos anteriores celebrao do referido Termo de Compromisso.

Com a assinatura deste Termo, automaticamente as sanes administrativas sero suspensas, tanto de aplicao quanto de execuo, bem como, eventuais questes controversas e ou litgios administrativos ou judiciais podero ser findados. Cumpridas as obrigaes institudas pelo Termo, as sanes sero definitivamente inaplicveis e tero sua exigibilidade extinta, bem como, em alguns casos, os valores das multas podero ser reduzidas em 90%.

Portanto, dever regularizar-se quem, no perodo entre 30 de junho de 2000 e 16 de novem-bro de 2015, realizou alguma das seguintes atividades: acesso ao patrimnio gentico; acesso ao conhecimento tradicional associado; acesso e explorao econmica de produto ou processo oriundo de acesso; remessa de amostra para o exterior; ou divulgao de informaes sobre co-nhecimento tradicional associado.

As atividades que so passveis de ter a multa reduzida em 90% so:

acessar CTA para fins de bioprospeco ou desenvolvimento tecnolgico sem autorizao; acessar CTA para fins de bioprospeco ou desenvolvimento tecnolgico sem autorizao; omitir a origem de conhecimento tradicional associado em publicao, registro, inventrio,

utilizao, explorao, transmisso; omitir ao Poder Pblico informao essencial sobre atividade de acesso a conhecimento tradi-

cional associado, por ocasio de auditoria, fiscalizao ou requerimento.

Por outro lado, tero sua exigibilidade extintas as infraes administrativas citadas a seguir:

acessar patrimnio gentico para fins de bioprospeco ou desenvolvimento tecnolgico, sem autorizao;

remeter para o exterior amostra de componente do patrimnio gentico sem autorizao; deixar de repartir benefcios de produto ou processo oriundo de acesso ao PG ou do CTA.

Outro ponto relevante para o sector empresarial de que as regras para repartio de benef-cios nos casos de regularizao sero as mesmas da nova Lei da Biodiversidade e no os critrios da Medida Provisria. Nesse sentido, cabe ao Usurio decidir pela modalidade monetria ou no monetrias, respeitando os limites de percentual definido entre 0,75% e 1% conforme projeto ou modalidade escolhida.

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sistema Nacional de Gesto do Patrimnio Gentico e do Conhecimento Tradicional Associado sisGen

O Sistema Nacional de Gesto do Patrimnio Gentico e do Conhecimento Tradicional As-sociado SisGen foi criado com o Decreto 8.772/2016 e ser mantido e operacionalizado pela Secretaria Executiva do CGen. Esse sistema dever analisar e gerenciar o cadastro de acesso ao patrimnio gentico ou ao conhecimento tradicional, o envio de amostras para prestao de servios no exterior, a remessa de amostra para o exterior por meio de assinatura de Termo de Transferncia de Material11; as hiptese de autorizao acesso, o credenciamento de instituies mantenedoras das colees ex situ, notificaes de produto acabado, os acordos de repartio de benefcios e os atestados de regularidade de acesso.

A pesquisa pode ser iniciada pelas instituies nacionais e o cadastramento deve ocorrer obri-gatoriamente antes da remessa de amostra para o exterior, ao requerimento de qualquer direito de propriedade intelectual, comercializao de produto intermedirio, divulgao dos resultados, finais ou parciais, em meios cientficos ou de comunicao ou notificao de produto acabado ou material reprodutivo desenvolvidos em decorrncia do acesso.

Ressalta-se que as informaes disponibilizadas no SisGen sero pblicas, com exceo da-quelas em que o Usurio solicitar o sigilo, devendo ser legalmente fundamentado e sempre acom-panhado de resumo no sigiloso.

A Portaria n 1 da Secretaria Executiva do CGen informa que o SisGen ser disponibilizado a partir do dia 6 de novembro de 2017, ocasio em que os prazos para regularizao e adequao das atividades passa a valer.

Procedimento de Cadastro

Ao proceder ao cadastro, logo nota-se que as informaes exigidas pelo SisGen no so muito diferentes daquelas exigidas no Formulrio existente poca da vigncia da Medida Provisria.

O sistema exige, dentre outras informaes, a identificao do usurio, informaes sobre as atividades de pesquisa ou desenvolvimento tecnolgico, incluindo, o resumo da atividade e seus respectivos objetivos, o setor de aplicao, os resultados esperados ou obtidos, a equipe respon-svel, inclusive das instituies parceiras, o perodo das atividades. Alm disso, ser exigida a identificao do patrimnio gentico, incluindo as informaes sobre a procedncia, coordenada geogrfica e local da obteno in situ, ainda que tenha sido obtida em fontes ex situ ou in silico.

11 Lei 13.123, art. 2, XXIII - termo de transferncia de material - instrumento firmado entre remetente e destinatrio para remessa ao exterior de uma ou mais amostras contendo patrimnio gentico acessado ou disponvel para acesso, que indica, quando for o caso, se houve acesso a conhecimento tradicional associado e que estabelece o compromisso de repartio de benefcios de acordo com as regras previstas nesta Lei;

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Adicionalmente, dever ser declarado se o patrimnio gentico variedade tradicional local ou crioula ou raa localmente adaptada ou crioula, ou se a espcie consta em lista oficial de espcies ameaadas de extino. Tambm so solicitadas as informaes da instituio sediada no exterior associada instituio nacional e identificao das instituies nacionais parceiras, quando houver.

Outras informaes podem ser solicitadas, quando aplicvel, como o nmero do cadastro ou autorizao anterior, no caso de patrimnio gentico ou conhecimento tradicional associado acessado a partir de pesquisa ou desenvolvimento tecnolgico realizado aps 30 de junho de 2000; a comprovao da obteno do consentimento prvio informado; a solicitao de reco-nhecimento de hiptese legal de sigilo; e declarao, conforme o caso, de enquadramento em hiptese de iseno legal ou de no incidncia de repartio de benefcios.

No caso do conhecimento tradicional associado, sero exigidas informaes sobre a popu-lao indgena, comunidade tradicional ou agricultor tradicional provedor dos conhecimentos tradicionais associados, ainda que os conhecimentos tenham sido obtidos em fontes secundrias. Devero ser claramente identificadas as fontes de obteno dos conhecimentos tradicionais as-sociados e a coordenada georreferenciada da respectiva comunidade, exceto quando se tratar de conhecimento tradicional associado de origem no identificvel.

Assim que concludo o preenchimento do formulrio, o SisGen emitir automaticamente o comprovante de cadastro de acesso. Esse comprovante constitui documento hbil para demons-trar que o usurio prestou as informaes que lhe fora m exigidas e garante ao usurio o direito de requerimento de qualquer direito de propriedade e intelectual, a comercializao de produto intermedirio, a divulgao dos resultados, finais ou parciais, da pesquisa ou do desenvolvimento tecnolgico, em meios cientficos ou de comunicao; e a notificao de produto acabado ou material reprodutivo desenvolvido em decorrncia do acesso. Neste momento inicia-se o procedi-mento de verificao do Sistema, porm o usurio no necessitar aguardar o trmino do proce-dimento de verificao para realizar as suas atividades.

Alm disso, o sistema ter os campos necessrios para o cadastro de envio de amostra para fins de prestao de servios no exterior bem como para a remessa de amostra do patrimnio gentico para fins de pesquisa e desenvolvimento tecnolgico.

Procedimento de Notificao

A notificao do produto acabado dever ocorrer obrigatoriamente antes do incio da explo-rao econmica do produto ou material reprodutivo. No formulrio devero ser preenchidas as informaes de identificao da pessoa natural ou jurdica requerente, identificao comercial do produto acabado ou material reprodutivo e setor de aplicao.

Deve-se informar o nmero de registro, ou equivalente, de produto ou cultivar em rgo ou en-tidade competente, tais como Anvisa, Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento -MAPA

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e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis Ibama, nmero do depsito de pedido de direito de propriedade intelectual de produto ou cultivar no Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento ou no INPI, ou em escritrios no exterior, quando houver.

neste momento que o usurio deve informar se o patrimnio gentico ou o conhecimento tradicional associado utilizado no produto acabado determinante para a formao do apelo mer-cadolgico e/ou determinante para a existncia das caractersticas funcionais do produto.

So exigidas as informaes sobre a previso da abrangncia local, regional, nacional ou in-ternacional da fabricao e comercializao do produto acabado ou material reprodutivo, bem como a data prevista para o incio da comercializao.

Tambm devem ser declarados os nmeros dos cadastros de acesso ao patrimnio gentico ou conhecimento tradicional associado que deram origem ao produto acabado ou ao material reprodutivo, nmeros dos cadastros de remessa que deram origem ao produto acabado ou ao material reprodutivo, quando houver; e eventual solicitao de reconhecimento de hiptese legal de sigilo e comprovao de enquadramento em hiptese de iseno legal ou de no incidncia de repartio de benefcios.

durante o processo de notificao que o Usurio dever indicar a modalidade da repartio de benefcios e, no caso de acesso a conhecimento tradicional associado de origem identificvel, apresentar de Acordo de Repartio de Benefcios. No caso de produto oriundo de acesso ao pa-trimnio gentico, o Acordo de Repartio de Benefcios dever ser apresentado em at trezentos e sessenta e cinco dias a contar da notificao do produto acabado ou do material reprodutivo.

Concludo o preenchimento do formulrio, o SisGen emitir automaticamente comprovante de notificao, o qual constitui documento hbil para demonstrar que o usurio prestou as infor-maes que foram exigidas e permite a explorao econmica do produto acabado ou material reprodutivo. Inicia-se neste momento o procedimento de verificao. Entretanto o usurio no necessitar aguardar sua concluso para iniciar a explorao econmica.

A seguir o infogrfico que demonstra, de forma simples e resumida, os procedimentos de ca-dastro no SisGen para patrimnio gentico e conhecimento tradicional associado.

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ou

FLUXO DE ACESSO AO PATRIMNIO GENTICO

Tipo de Usurio?

Atividades descritas no art. 4 da Lei n 13.123/2015 e nos arts. 3 e 107 do Decreto n 8.772/2016. Atividades excludas de obrigaes - Exceo.*

Processo de verificao

O usurio poder requerer a emisso de certido que declare:

I - que no foram admitidos requerimentos de verificao de indcios de irregularidades durante o processo de verificao

II - que foram objeto de requerimento de verificao e que este no foi acatado.

Pessoa Jurdica Estrangeira

Parceria com instituio de pesquisa nacional

Desenvolvimento Tecnolgico

Produto acabado

Firmar Acordo de Repartio de Benefcios * 0,75% da receita lquida nas hipte-ses a /e / f* 1% na hiptese b / c / d

1% da receita lquida (ou Ac. Setorial)Depositar valor da RB no FNRB sem necessi-dade de Acordo de RB

Notificao de produto acabado*

ME, EPP, MEI, Cooperativa de agricultores?

Elemento principal de agregao de valor?*

Repartio de Benefcios no monetria*

Repartio de Benefcios monetria

Nacional

Cadastro*

Pesquisa Cientfica

COMPROVANTE DE CADASTRO

Produto intermedirio

O Usurio poder solicitar o ATESTADO DE REGULARIDADE ao Cgen.

No

rea de Segurana Nacional?

guas jurdicas, plataforma continental?

Anuncia do Conselho de Segurana

Anuncia das autoridades martimas

Verificar legislao do Pas de origem e ratificao do Protocolo de Nagia

*Relatrios peridicos e repartio de benefcios anual enquanto houver explorao econmica do produto. O CGen poder, a pedido do usurio, emitir certificado de cumprimento internacionalmente.

No h repartio de benefcios

No necessita cadastro

Sim

Sim

Sim

No

No

Exceo

Sim No

Sim

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0,5% (ou Ac. Set.) da RL dever ser depositada no FNRB.

1% da receita lquidaDepositar valor da RB no FNRB

Repartio de benefcios ser negociada com o provedor, podendo ser da forma monetria ou no monetria.

Repartio de Benefcios negociada livremente

Repartio de Benefci-os monetria

Repartio de Benefcios monetria

FLUXO DE ACESSO A CONHECIMENTO TRADICIONAL ASSOCIADO

Tipo de Usurio?

CTA de origem identificvel?

Pessoa Jurdica Estrangeira

Parceria com instituio de pesquisa nacional

Nacional

Cadastro*

No

rea de Segurana Nacional?

guas jurdicas, plataforma continental?

Anuncia do Conselho de Segurana

Solicitar o consentimento prvio e informado junto ao provedor do CTA

Anuncia das autoridades martimas

No necessita cadastro

Sim

Sim

Sim No

No

Sim

Desenvolvimento Tecnolgico

Produto acabado

Notificao de produto acabado*

ME, EPP, MEI, Cooperativa de agricultores?

CTA de origem identificvel?

Pesquisa Cientfica

Produto intermedirioNo h repartio de benefcios

Sim

No

No

Sim

Sim

No

ou

Processo de verificao

O usurio poder requerer a emisso de certido que declare:

I - que no foram admitidos requerimentos de verificao de indcios de irregularidades durante o processo de verificao

II - que foram objeto de requerimento de verificao e que este no foi acatado.

COMPROVANTE DE CADASTRO

O Usurio poder solicitar o ATESTADO DE REGULARIDADE ao Cgen.

Elemento principal de agregao de valor?*

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Processo de verificao

O procedimento administrativo de verificao ser aplicado nos casos de cadastro de acesso ao patrimnio gentico ou ao conhecimento tradicional associado e aos casos de remessa de amostra de patrimnio gentico e notificao de produto acabado ou material reprodutivo.

A Secretaria-Executiva do CGen cientificar, no prazo de 15 dias, os conselheiros do CGen sobre os cadastros ou sobre a notificao. Em seguida, encaminhar aos integrantes das cmaras setoriais competentes as informaes relativas espcie objeto de acesso e o municpio de sua localizao, de forma dissociada dos respectivos cadastros e das demais informaes dele cons-tantes. Aps, cientificar os rgos federais de proteo dos direitos de populaes indgenas e comunidades tradicionais sobre o registro em cadastro de acesso a conhecimentos tradicionais associados e, no prazo de 60 dias, a Secretaria poder identificar, de ofcio, eventuais irregulari-dades na realizao dos cadastros ou da notificao, ocasio em que solicitar a ratificao das informaes ou proceder retificao de erros formais.

Os conselheiros do CGen tero acesso a todas as informaes disponveis, inclusive quelas consideradas sigilosas, e no podero divulg-las, sob pena de responsabilizao, nos termos da lei.

Nos casos de flagrante fraude, o Presidente do CGen poder suspender o cadastro e a notifica-o, sendo a deciso encaminhada para deliberaoo na sesso plenria seguinte.

Os conselheiros do CGen podero identificar indcios de irregularidade nas informaes cons-tantes dos cadastros e da notificao no prazo de 60 dias a contar da data da cincia. Nese pe-rodo, os conselheiros podero receber subsdios das cmaras setoriais, dos rgos de proteo dos conhecimentos tradicionais, da Secretaria-Executiva do CGen e diretamente de detentores de conhecimento tradicional associado ou de seus representantes.

O Conselheiro encaminhar requerimento de verificao de indcios de irregularidade devida-mente fundamentado para deliberao do Plenrio do CGen. Nas atividades agrcolas, o fato de a espcie ser domesticada no pode ser considerado, por si s, fundamento de indcio de irregu-laridade de cadastro de acesso ao patrimnio gentico sob alegao de acesso ao conhecimento tradicional associado.

A Plenria do CGen far juzo de admissibilidade do requerimento e determinar a notificao do usurio, caso constate a existncia de indcio de irregularidade, ou determinar o arquivamento do requerimento, caso no constate a existncia de indcio de irregularidade.

No caso de identificada a irregularidade, o usurio ter o prazo de 15 dias para apresentar sua manifestao. Decorrido o prazo para a manifestao, a Secretaria-Executiva encaminhar o pro-cesso para deliberao na Plenria do CGen, que poder acatar ou no o mrito do requerimento. Se acatar, , caso a irregularidade seja sanvel, determinar que o usurio retifique o cadastro de acesso ou de remessa, ou a notificao, sob pena de cancelamento dos respectivos cadastros ou

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notificao; caso a irregularidade seja insanvel, cancelar de ofcio os cadastros ou a notificao,. Alm disso, dever notificar os rgos e as entidades de fiscalizao e o usurio, para que proceda ao requerimento de novos cadastros ou notificao.

Importante mencionar que existem as chamadas irregularidades insanveis, so elas:

a existncia de conhecimento tradicional associado de origem identificvel quando os cadas-tros ou a notificao indicarem apenas patrimnio gentico;

a existncia de conhecimento tradicional associado de origem identificvel, quando os ca-dastros ou a notificao indicarem apenas conhecimento tradicional associado de origem no identificvel e;

a obteno de consentimento prvio informado em desacordo com a Lei.

Nestes casos, se j houver sido iniciada a explorao econmica do produto acabado ou do material reprodutivo, o CGen, excepcionalmente, e desde que no se configure m-f, poder de-terminar que o usurio retifique os cadastros ou a notificao, e apresente, no prazo de 90 dias o acordo de repartio de benefcios com o provedor do conhecimento tradicional associado, desde que a repartio de benefcios relativa a todo o perodo de apurao correspondente seja calculada e recolhida em favor dos beneficirios e nos valores previstos no acordo de repartio de benef-cios vigente na data do pagamento.

Por fim, o usurio poder requerer a emisso de certido que declare que os respectivos ca-dastros de acesso e remessa ou a notificao no foram admitidos requerimentos de verificao de indcios de irregularidades durante o processo de verificao ou que foram objeto de requerimento de verificao e que este no foi acatado. Essa certido possibilita que o usurio seja inicialmente advertido pelo rgo ou entidade fiscalizador antes de receber qualquer outra sano administra-tiva, caso a autuao ocorra sobre fatos informados nos respectivos cadastros de acesso e remessa como tambm notificao.

Da mesma forma, o CGen poder emitir o atestado de regularidade de acesso mediante soli-citao do usurio. Tal documento conter a declarao de que o cadastro de acesso cumpriu os requisitos da Lei 13.123/2015. A concesso do atestado de regularidade de acesso ser objeto de prvia deliberao pelo CGen, conforme procedimentos estabelecidos em seu regimento interno.

Uma vez concedido, o referido atestado declara a regularidade do acesso at a data de sua emisso pelo CGen, obstando a aplicao de sanes administrativas por parte do rgo em rela-o s atividades de acesso realizadas at a emisso do atestado.

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Conferncia das Partes, seus Protocolos e o

Protocolo de NagoyaAna Paula Rodrigues Viana

Conferncia das Partes

Para entender melhor o que e como funciona o Protocolo de Nagoya, h que se observar que a partir da Conveno sobre a Diversidade Biolgica (CDB), tem-se a Conferncia das Partes, tambm conhecida como COP, que o rgo de deciso e implementao dos princpios da Conveno.

A Conferncia das Partes composta de todos os governos e organizaes de integrao econmica regional e que tenha ratificado a Conveno sobre a Diversidade Biolgica, e os encontros acontecem periodicamente a cada 2 (dois) anos. H que se observar que o artigo 23 da CDB traz as regras para a Conferncia das Partes.

Durante a COP so discutidos e definidos os detalhes da Conveno, que so estabelecidos atravs de Protocolos, Programas de Trabalho e Metas (artigo 28 da Conveno sobre Diversidade Biolgica).

O artigo 32 da CDB estabelece a regra que um pas, s poder ser parte de um Protocolo se j o for signatrio da referida Conveno, e o item 2 do mesmo artigo apresenta que o pas signatrio da CDB s poder participar do processo de discusso e deciso de um protocolo se o tiver ratificado.

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Desde que a CDB entrou em vigor j foram realizadas 12 Conferncias das Partes, conforme disposto a seguir:

COP 1 - Nassau, Bahamas, de 28 de novembro a 9 de dezembro de 1994 COP 2 - Jakarta, Indonsia, de 6 a 17 de novembro de 1995 COP 3 - Buenos Aires, Argentina, de 4 a 15 de novembro de 1996 COP 4 - Bratislava, Repblica da Eslovquia, de 4 a 15 de maio de 1998 COP 5 - Nairobi, Qunia, de 15 a 26 de maio de 2000 COP 6 - Haia, Holanda, de 7 a 19 de abril de 2002 COP 7 - Kuala Lampur, Malsia, de 9 a 20 de fevereiro de 2004 COP 8 - Curitiba, Brasil, de 20 a 31 de maro de 2006 COP 9 Bonn, Alemanha, de 19 a 30 de maio de 2008 COP 10 Nagoya, Japo, de 18 a 29 de outubro de 2010 COP 11 Hyderabad, ndia, de 8 a 19 de outubro de 2012 COP 12 - Pyeongchang, Repblica da Coreia, de 06 at 17 de outubro de 2014 COP 13 Cancun, Mxico, de 02 a 17 de dezembro de 2016

E no ms de novembro de 2018 acontecer a COP 14, a ser realizar em Sharm El-Sheikh, Egito, que pode ser o prximo grande evento para definir questes ainda mais relevantes sobre o Protocolo de Nagia, quem sabe, com a participao do Brasil nas negociaes caso ele venha a ratificar o protocolo.

Contexto histrico do Protocolo de Nagoya

Durante a Cpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentvel, realizada em 2002, recomen-dou-se a iniciao de uma negociao entre as Partes para se estabelecer um regime internacional sobre a repartio dos benefcios provenientes do acesso ao patrimnio gentico e ao conheci-mento tradicional associado.

As Partes iniciaram as discusses quanto s diretrizes necessrias para se estabelecer um regi-me internacional de repartio de benefcios, dando origem Diretriz de Bonn.

A partir de 2004, foram realizados 4 (quatro) grupos de trabalho entre as COP 9 e 10, evoluin-do para um esboo de protocolo. (BELLORD e MOREIRA, 2012, p. 133)

As reunies foram retomadas em 2010, na cidade de Montreal no Canad, sendo que o Grupo Inter-Regional de Negociao trabalhou no esboo do texto do Protocolo. Apesar de o Grupo de Trabalho ter alcanado algum progresso quanto melhoria do entendimento dos conceitos de derivativos e utilizao, vrios conceitos centrais permaneceram pendentes, tais como os meca-nismos de cumprimento da Conveno (BELLORD e MOREIRA, 2012, p. 133).

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Voltando ao documento principal, o Protocolo de Nagoya sobre Acesso a Recursos Genticos e a Repartio Justa e Equitativa dos Benefcios Advindos de sua Utilizao, foi debatido durante a 10 Conferncias das Partes, no ano de 2010, na cidade de Nagoya, no Japo. Entretanto, o Protocolo de Nagoya s entra em vigor 90 dias aps a 50. (quinquagsima) ratificao das Partes.

Nesse sentido, outro desafio importante para a implementao do referido Protocolo, confor-me destacam os autores Fiorillo e Diafria (2012, p. 27) que para entrar em vigor, o Protocolo de Nagoya precisa ser ratificado pelos pases e governos que devero adotar leis e regulamentaes nacionais sobre acesso e diviso de benefcios (artigo 33 do Protocolo de Nagoya).

Nesse sentido, o Protocolo de Nagoya s entrou em vigor a partir do dia 12 de outubro de 2014, durante a ltima reunio da Conferncia das Partes, realizada do dia 13 at 17 de outubro de 2014, simultaneamente XII Reunio da Conferncia das Partes, na cidade de Pyeongchang, na Coreia do Sul.

Objetivos, Diretrizes e Conceitos do Protocolo de Nagoya

O Protocolo de Nagoya aborda em seu prembulo, entre outras questes: (a) a importncia da segurana jurdica; (b) a necessidade de uma soluo inovadora para lidar com a repartio de benefcios em situaes transfronteirias; (c) a interdependncia mundial no que diz respeito a recursos genticos como alimentao e agricultura; (d) a relao de interdependncia entre os recursos genticos e o conhecimento tradicional associado, assim como sua importncia para as comunidades indgenas e locais; (e) o modo como esse conhecimento tradicional tratado pelos pases e o fato de que o Protocolo no extingue ou prejudica quaisquer direitos pr-existentes das comunidades indgenas e locais (artigo 1 do Protocolo de Nagoya).

Considerando as questes relacionadas segurana jurdica observa-se um ponto importante apresentado pelo Protocolo de Nagoya, os pases ficam responsveis por fiscalizar e assegurar que as normas sejam respeitadas, sendo pases provedores ou usurios. Outra questo relevante a necessidade que os pases estabeleam legislaes claras e transparentes, principalmente para garantir a segurana jurdicas e regulatria dos usurios.

O artigo 2, o Protocolo de Nagoya traz alguns conceitos que restaram pendentes na Conven-o, como por exemplo, o conceito de utilizao do recurso gentico, deixando claro tratar-se do uso do recurso gentico na atividade de pesquisa e desenvolvimento sobre a composio gentica e/ou bioqumica dos recursos naturais.

Quanto ao conceito de derivados, destaca-se um ponto importante, existe uma discusso com relao ao referido conceito e a sua aplicabilidade, alguns estudiosos entendem que o referido conceito amplia o escopo j definido pela CDB, outros entendem que no: [...] (e) Derivado

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significa um composto bioqumico de ocorrncia natural, resultante da expresso gentica ou do metabolismo de recursos biolgicos ou genticos, mesmo que no contenha unidades funcionais de hereditariedade.

O artigo 3 do Protocolo de Nagoya estabelece o escopo, afirmando que o presente Protocolo se aplica aos recursos genticos no mbito do artigo 15 da Conveno. Nesse sentido, de acordo com o documento Estudo sobre os Impactos da Adoo e Implementao do Protocolo de Na-goya para a Indstria Brasileira, realizado pela Confederao Nacional da Indstria (2014, p. 28 e 29), possvel destacar o que no estaria no escopo do presente Protocolo, as reas que no estejam sob jurisdio de algum pas, como por exemplo, as guas internacionais, solo ocenico profundo, Antrtida.

Tambm se discute muito a questo das espcies que so consideradas commodities de mer-cado, ou seja, os recursos genticos provenientes de plantas, animais e microrganismos que sejam amplamente utilizados na indstria e no comrcio. Nesse sentido, observa-se que a simples co-mercializao de ingredientes que so consideradas commodities no se enquadram no escopo do Protocolo de Nagoya, sem que tenha ocorrido uma prvia utilizao de seus Recursos Genti-cos. Pode-se entender como utilizao de seus Recursos Genticos, a realizao da atividade de acesso, ou seja, atividade de pesquisa e desenvolvimento tecnolgico.

O item 1 do artigo 5 estabelece que os benefcios derivados da utilizao dos recursos genti-cos, bem como as aplicaes e comercializao subsequentes, sero repartidos de maneira justa e equitativa com a Parte provedora desses recursos, que seja o pas de origem desses recursos ou uma Parte que tenha adquirido os recursos genticos em conformidade com a Conveno. Essa repartio ocorrer mediante termos mutuamente acordados entre as Partes.

O Protocolo estabelece de forma clara, conforme dispe o item 4 do artigo 5, que a reparti-o de benefcios no necessariamente precisa ser na modalidade monetria, disponibilizao de recursos financeiros diretamente ao provedor, mas tambm na modalidade denominada no monetria e, inclusive, apresenta exemplos no exaustivos, sobre possibilidades de repartio de benefcios no monetrias.

Observa-se que o artigo 8 traz uma considerao especial com relao a necessidade de que a legislao nacional estabelea procedimentos e fluxos simplificados para os casos de pesquisas que no tenham finalidade comercial, bem como estimular pesquisas que contribuam para a con-servao e o uso sustentvel da biodiversidade.

O artigo 9 refora que as Partes devem encorajar os usurios e provedores para que os benef-cios, monetrios ou no monetrios, sejam utilizados para a conservao da diversidade biolgi-ca. Nesse sentido, no resta dvida que os benefcios auferidos no presente arcabouo legal obri-gatoriamente devero ser utilizados em prol da conservao da biodiversidade e do conhecimento tradicional a ele associado e no como ganhos e/ou benefcios individuais.

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Alm das questes relacionadas Repartio de Benefcios, o artigo 6 do Protocolo de Nagoya preconiza a necessidade que o acesso ao recurso gentico s acontea aps o consentimento pr-vio e informado da Parte provedora, sendo a Parte provedora o pas de origem do recurso gentico ou o pas que tenha adquirido esse recurso gentico, em conformidade com a Conveno sobre a Diversidade Biolgica.

Vrios subitens so descritos no item 3 deste mesmo artigo 6, mas todos apresentam as medi-das legislativa, administrativas e polticas que so necessrias para o consentimento prvio.

Alm do consentimento prvio e informado da Parte provedora e da repartio dos benefcios, o item 2, do artigo 17, estabelece a necessidade de uma espcie de licena, ou seu equivalente, emitida de acordo com o Artigo 6, pargrafo 3 (e) e disponibilizado pelo Centro de Intermediao de Informaes sobre Acesso e Repartio de Benefcios, que constituir um certificado de cum-primento internacionalmente reconhecido.

H que se ressaltar que o item 3 deste mesmo artigo 17 deixa claro que a referida licena, ou seu equivalente, serve como prova de que o recurso gentico foi acessado de acordo com o consentimento prvio informado e que os termos mutuamente acordados forma estabelecidos. Ademais, o item 4 traz o que deve constar no Certificado de Cumprimento Internacional.

Ademais, alguns artigos reconhecem e reforam as questes relacionadas ao acesso ao co-nhecimento tradicional associado, como por exemplo, o artigo 7 que apresenta a necessidade do consentimento prvio do provedor do conhecimento tradicional associado.

Quanto aos procedimentos, o artigo 13 do Protocolo de Nagoya apresenta que as Partes de-vero designar um ponto focal nacional para o acesso e a repartio de benefcios, responsvel por disponibilizar as informaes necessrias para a busca de informaes quanto ao acesso ao patrimnio gentico e ao conhecimento tradicional associado, bem como as informaes sobre os procedimentos para a obteno do consentimento prvio informado.

O Protocolo de Nagoya cria em seu artigo 14 o Centro de Intermediao de Informao sobre Acesso e Repartio de Benefcios e Intercmbio de Informaes, com parte do mecanismo de intermediao, como meio para compartilhar informaes relativas ao acesso e a repartio de benefcios, e principalmente prover o acesso s informaes pertinentes implementao do presente Protocolo.

O artigo 15 estabelece em seu item 1, que cada uma das Partes adotar medidas para que o acesso ao recurso gentico sob sua jurisdio ocorra de acordo com o consentimento prvio infor-mado e de acordo com o termo mutuamente acordado. Tambm estabelece que as Partes devem estabelecer medidas apropriadas ao descumprimento de tais normas. Nesse sentido, o Protocolo de Nagoya prev a necessidade de punies para aqueles que no cumprirem a legislao inter-nacional ou nacional.

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Para o cumprimento deste Protocolo, o artigo 16 define que as Partes devem adotar medidas legislativas, administrativas e polticas apropriadas, efetivas e proporcionais para assegurar que o acesso tenha ocorrido em seu pas de acordo com o consentimento prvio informado ou com a aprovao das comunidades indgenas e locais.

Para o monitoramento da utilizao de