ação de consignação em pagamento - procedimentos especiais

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PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA Ação de Consignação em Pagamento Função: Art. 334, CC Extinção das obrigações “Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e forma legais”. Art. 400, CC “A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas a conservá-la, e sujeita-o a recebe-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação”. Art. 890 CPC e ss A ação de consignação em pagamento é um instrumento utilizado para se processar o direito material. Forma especial, instrumento especial, diferente dos outros procedimentos. A ação de consignação é utilizada, por exemplo, em caso de dúvida em relação à pessoa do devedor, ou seja, em algumas pessoas determinadas, dizer quem é o devedor da dívida. A ação de consignação em pagamento serve para excluir, quitar a obrigação. Está ligada ao pagamento por consignação, uma das formas de extinção das obrigações, quando há mora do credor, mora accipiendi. Objetos da ação: Coisa fungível infungível, quantia certa ou coisa devida. Ex: pintura em tela Legitimidade ativa: devedor principal, terceiro, cônjuge e dívidas comuns. O devedor se torna autor da presente ação. O devedor faz a ação de consignação em pagamento para cumprir a obrigação pactuada, evitando se constituir em mora. Ex: a outra parte paga pela mercadoria e se recusa a receber o contratado. Somente terceiro interessado em ver a lide cumprida. Cônjuge casado em comunhão de bens sozinho pode consignar dívida, bem ou entrega de determinada coisa. Devedor autor da ação. Legitimidade passiva: todos os possíveis credores Litisconsórcio necessário. Em caso de dúvida quanto à pessoa do credor, faz-se o arrolamento de todos os credores. Credor da dívida réu da ação. Competência: Foro competente art. 891, CPC (direito processual). O foro competente é o local onde ficou determinado o pagamento, “situado no local do pagamento”. Em havendo a recusa do credor de determinada quantia para que a obrigação seja extinta, é constituído em mora, devendo juros sobre tal e cabendo a este o risco da quantia. O depósito deverá ser realizado com a devida correção monetária Regra 1ª parte do art. 337, CC Local do pagamento (direito material) O local de pagamento é o foro competente tanto para o direito material quanto para o direito processual. Exceção: foro de eleição Se o foro estiver determinado no contrato, este será o contrato competente, já que foi pactuado entre as partes e faz lei entre elas. Local do pagamento, salvo quando estipulado pelas partes de forma contrária. Procedimento ordinário: art. 93, CPC, §4º Possibilidade de prosseguir o procedimento ordinário. É mudada então a competência. É remetido ao procedimento ordinário, cabendo a competência conforme sua previsão. A ação de consignação em pagamento pode ser principal ou incidental. Quando houver pedido incidental, o procedimento é ordinário, e a competência é a prevista no procedimento ordinário. Em cumulação de pedidos, sendo o de consignação incidental, cabe procedimento ordinário. Lugar da coisa (corpo). Art. 891, § único. Possibilidade da competência ser determinada no local da coisa, onde esta estiver determinada. Ex: bem imóvel. Quando a coisa for corpo que deva ser entregue no local onde está, o foro competente será o do lugar onde está a coisa, ou seja, lugar do pagamento. “Corpo” Local onde os semoventes estiverem, ou determinada coisa. Aluguéis Em caso de imobiliária, existe uma discussão doutrinária. Para alguns, entende-se que para a imobiliária é cedido somente a concessão de administração de bens e não a capacidade de ser parte na ação. Outra parte da doutrina entende que é possível, entrar em relação à imobiliária, sendo esta corrente minoritária.

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Procedimentos especiais - ação de consignação em pagamento

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Page 1: Ação de consignação em pagamento - Procedimentos especiais

PROCEDIMENTOS ESPECIAIS DE JURISDIÇÃO CONTENCIOSA

Ação de Consignação em Pagamento

Função: Art. 334, CC – Extinção das obrigações “Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e forma legais”. Art. 400, CC “A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas a conservá-la, e sujeita-o a recebe-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação”. Art. 890 CPC e ss A ação de consignação em pagamento é um instrumento utilizado para se processar o direito material. Forma especial, instrumento especial, diferente dos outros procedimentos. A ação de consignação é utilizada, por exemplo, em caso de dúvida em relação à pessoa do devedor, ou seja, em algumas pessoas determinadas, dizer quem é o devedor da dívida. A ação de consignação em pagamento serve para excluir, quitar a obrigação. Está ligada ao pagamento por consignação, uma das formas de extinção das obrigações, quando há mora do credor, mora accipiendi. Objetos da ação: Coisa fungível infungível, quantia certa ou coisa devida. Ex: pintura em tela Legitimidade ativa: devedor principal, terceiro, cônjuge e dívidas comuns. O devedor se torna autor da presente ação. O devedor faz a ação de consignação em pagamento para cumprir a obrigação pactuada, evitando se constituir em mora. Ex: a outra parte paga pela mercadoria e se recusa a receber o contratado. Somente terceiro interessado em ver a lide cumprida. Cônjuge casado em comunhão de bens sozinho pode consignar dívida, bem ou entrega de determinada coisa. Devedor – autor da ação. Legitimidade passiva: todos os possíveis credores Litisconsórcio necessário. Em caso de dúvida quanto à pessoa do credor, faz-se o arrolamento de todos os credores. Credor da dívida – réu da ação. Competência:

Foro competente art. 891, CPC (direito processual). O foro competente é o local onde ficou determinado o pagamento, “situado no local do pagamento”. Em havendo a recusa do credor de determinada quantia para que a obrigação seja extinta, é constituído em mora, devendo juros sobre tal e cabendo a este o risco da quantia. O depósito deverá ser realizado com a devida correção monetária

Regra – 1ª parte do art. 337, CC – Local do pagamento (direito material) O local de pagamento é o foro competente tanto para o direito material quanto para o direito processual.

Exceção: foro de eleição Se o foro estiver determinado no contrato, este será o contrato competente, já que foi pactuado entre as partes e faz lei entre elas. Local do pagamento, salvo quando estipulado pelas partes de forma contrária.

Procedimento ordinário: art. 93, CPC, §4º Possibilidade de prosseguir o procedimento ordinário. É mudada então a competência. É remetido ao procedimento

ordinário, cabendo a competência conforme sua previsão. A ação de consignação em pagamento pode ser principal ou incidental. Quando houver pedido incidental, o procedimento é ordinário, e a competência é a prevista no procedimento ordinário. Em cumulação de pedidos, sendo o de consignação incidental, cabe procedimento ordinário.

Lugar da coisa (corpo). Art. 891, § único.

Possibilidade da competência ser determinada no local da coisa, onde esta estiver determinada. Ex: bem imóvel. Quando a coisa for corpo que deva ser entregue no local onde está, o foro competente será o do lugar onde está a coisa, ou seja, lugar do pagamento.

“Corpo” Local onde os semoventes estiverem, ou determinada coisa.

Aluguéis Em caso de imobiliária, existe uma discussão doutrinária. Para alguns, entende-se que para a imobiliária é cedido somente a concessão de administração de bens e não a capacidade de ser parte na ação. Outra parte da doutrina entende que é possível, entrar em relação à imobiliária, sendo esta corrente minoritária.

Page 2: Ação de consignação em pagamento - Procedimentos especiais

Devedor do bem assume a entrega

Foro competente é o do credor. Este assume o transporte, contratando ou não transportadora. O lugar do pagamento é o lugar de destino.

Credor assume a entrega O Credor da mercadoria se responsabiliza pela retirada do bem. O foro competente é o domicílio do devedor. O foro do local onde deva ser satisfeita a obrigação é o competente para a ação relativa a seu cumprimento. Esta remessa é feita por conta e risco do credor, é o da expedição.

Depósito Bancário Mora accipienti e mora creditoris – tempo e modo exigidos para eficácia do próprio pagamento voluntário

Mora do credor – esta mora é requisito da ação de consignação em pagamento. Mora do devedor – a mora do devedor não é necessária nesta ação. É constituído em mora com o atraso do cumprimento da obrigação. A mora accipient é a mora do credor, pela recusa

de recebimento deste. Requisitos que devem estar presentes: o depósito bancário (líquido, certo e exigível) + mora creditoris

Natureza do Instituto da Consignação: Direito substancial material - “extinção do pagamento” Busca extinguir um pagamento, direito material. A consignação tem por finalidade efetivar o pagamento e, por consequência, a liberação do consignante, não fazendo a lei qualquer restrição quanto à iliquidez da dívida. Natureza processual da Ação de Consignação: Executivos com cognitivos Natureza híbrida, que possui características executivas, porque determina o recebimento do depósito sob pena de ser efetuada a extinção daquela obrigação, e cognitiva, porque declara a extinção da obrigação. Prestações Passíveis de Consignação:

A) Insegurança ou risco de ineficácia do pagamento (Art. 335, CC) “A consignação tem lugar: - Recusa do credor - credor se recusa dar quitação à dívida I – se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar a receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma; O devedor deve procurar o credor para pagamento, no lugar indicado no contrato. A impossibilidade ou recusa em receber ou dar quitação enseja consignação - Dúvida do credor – quando existir a dúvida de quem é o real credor. IV – se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimidade receber o objeto do pagamento; Dúvida fundada em elementos objetivos, a fim de que o devdor não incida no perigo de pagar mal e pagar duas vezes. - Litígio em relação ao objeto – Ex: bens arrestados, penhorados. Faz-se então um depósito, enquanto não estiver na posse dos bens. V – se pender litígio sobre o objeto do pagamento.”

B) Impossibilidade real do pagamento voluntário - Recusa do credor injustificada

Recusa do credor em cumprir com a sua obrigação de retirar a coisa. II – se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condições devidos; O credor se comprometeu a receber a coisa buscando-a com o devedor ou em lugar indicado por este. - Ausência, desconhecimento ou falta de acesso ao credor III – se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; Liquidez da Prestação Devida

1. Liquidez e Certeza Não se pode usar da ação em consignação em pagamento para declarar o título líquido e certo. Deverá haver uma declaração do juiz, extinguindo a obrigação. Deve estar presente a liquidez e a certeza. As quantias certas a serem entregas e o valor certo a ser pago. Somente a dívida liquida e certa se mostra exigível.

2. Mão é cabível em ações constitutivas. Ex: Inadimplemento contratual, ou anulação de negócio jurídico por erro ou vício de consentimento.

Consignação principal e incidental

1. Principal – Aquela que tem como objetivo o depósito correspondente para extinção da dívida 2. Incidente – Quando postulado com outros pedidos. Ex: Depósito do preço pata se ter preferência.

Oportunidade da Consignatória

Tempo e modo exigido 890 – Procedimento Administrativo, a ser realizado antes da ação de consignação.

Inadimplemento Absoluto

Page 3: Ação de consignação em pagamento - Procedimentos especiais

Mora solvendi: pagamento da pestação vencida. Art. 401, CC. Mora de insolvência, quando há recusa de pagamento no caso determinado. Não há possibilidade de ação de consignação em pagamento. Mora accipiendi: ocorre quando o credor se recusa a receber a obrigação. Objeto da Consignação O valor mais juros moratórios. Art. 891, CPC. Até a data do depósito. Caracterizada a mora accipiendi, a consignação deve ser requerida no local do pagamento, cessando para o devedor, tanto que se efetue o depósito, os juros, os riscos, salvo se a ação for julgada improcedente, o que pode ocorrer se o credor não demonstrar que não estava em mora ou que a hipótese não se enquadra em nenhum dos casos previstos em lei. Tratando-se de obrigação em dinheiro, poderá o devedor ou o terceiro interessado optar pelo depósito da quantia devida em estabelecimento bancário oficial, onde houver, situado no lugar do pagamento; Obrigação de prestações periódicas Vencimento da dívida 5 dias após o vencimento Pedir que as prestações continuem sendo depositadas em juízo, que forem a vencer no decorrer do processo e após a homologação da sentença, caso contrário, deverá propor uma nova ação de consignação em pagamento. O devedor pode se utilizar de um só processo para promover o depósito de diversas prestações em que divide uma só obrigação. Ao fazer o depósito inicial, seguir-se-á o depósito respectivo, com a juntada dos comprovantes aos autos, no máximo 5 dias após o vencimento. Resposta ao Demandado

Aceitar a prestação

Revelia (inércia)

Contestar/Responder a pretensão Art. 894, CPC

Exercer no prazo de 5 dias o direito de escolha Exerce o direito de escolha e pode acatar o pedido do devedor, autor da ação. Ao concordar em receber

determinado bem do devedor, ocorrerá o julgamento antecipado da lide. Comparecer no dia e hora para receber as prestações Quando houver prestações periódicas, deverá efetuá-las, em até 5 dias. Contestar a ação, caso não aceite a oferta;

Comparecimento do credor para receber:

Julgamento antecipado Imediato julgamento da lide, procedência do pedido do devedor. Condenação do demandado aos ônus processuais. Custas e honorários Por haver a manifestação do judiciário, custas e honorários são gerados.

Não comparecimento e revelia

Não apresentar contestação no prazo determinado Art. 319 e 330, II, CPC Recusa tácita da oferta de pagamento. Presumem-se verdadeiros os fatos alegados pelo autor. Haverá julgamento

antecipado da lide. Considerado procedente o pedido do autor e extinta a obrigação. Quando não concordar com o valor apresentado, quando não se constituir em mora. Poderá se manifestar de várias

formas. Se o credor do bem se manifesta e recebe o valor, ocorrerá ainda o julgamento antecipado da lide. Se a contestação não for apresentada, ocorrerá a revelia, e extinguirá a lide, liberando o devedor da obrigação que deveria ser pactuada. Levantamento do depósito pelo devedor (autor)

Antes da citação Poderá fazer o levantamento do depósito antes da citação do réu. Seria uma desistência da ação, e somente poderá fazer antes da aceitação. Ex: se arrependeu.

Possibilidade de revogação pelo autor, desistência da ação, poderá ser feita antes da citação, somente. Contestação/ Matéria de Defesa

Art. 896, CPC - Pela não recusa do credor em receber o bem ou da quantia em dinheiro, ou seja, não configuraria a mora creditoris, não dando então ensejo à ação. (Mora creditoris ou mora ascipiendi) - Se configurar a mora solvendi, e não a mora creditoris, não há o que falar em ação em consignação em pagamento. Se houver a mora solvendi, ou seja, a mora do devedor da prestação por não cumprimento do pactuado. - O credor se recusa receber porque o devedor quer entregar menos ou valor menor do que pactuado.

Page 4: Ação de consignação em pagamento - Procedimentos especiais

- Depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento, não poderá alegar então que o réu da ação não quis receber.

Complementação do depósito insuficiente O juiz, quando entender que o valor pago é insuficiente, poderá citar o autor da ação para complementar o pagamento que é devido. Temos por exemplo em um contrato de prestações periódicas, onde ficou acordado um valor com juros e correção monetária. Credor e devedor discordam sobre os cálculos dos juros e correções, devedor então entra com uma ação de consignação em pagamento, depositando o valor em juízo que acredita ser devido. O juiz então analisaria os cálculos, após a contestação do credor, e se estivesse errado, citaria o autor da ação para efetuar a complementação devida. O devedor não é obrigado a receber prestação menor ou diversa da pactuada. É licito ao autor completa-la em 10 dias. Sentença

Sentença mandamental e declaratória. Manda que o credor receba ao mesmo tempo que extingue a obrigação do devedor. Extingue a dívida e executa a retirada do bem. Consignação em caso de dúvida quanto a titularidade do crédito

Art. 895 + 898, CPC Em caso de vários credores, será realizado o depósito do valor e então serão citados todos os credores,

apresentando seu direito (contestação, anuência). O depósito judicial do valor que ficará no banco, até aparecer o credor. O autor da ação não poderá retirá-lo. Contestando o processo vai concluso e passa para o procedimento ordinário.

Ver: Direito Processual Civil IV – 7º Semestre - 2012