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ARTIGOS • AÇÃO COMUNICATIVA E ESTUDOS ORGANIZACIONAIS 10 ©RAE VOL. 45 Nº4 AÇÃO COMUNICATIVA E ESTUDOS ORGANIZACIONAIS RESUMO A teoria da ação comunicativa (TAC) tem sido uma importante referência para os estudos sociais, especialmente por permitir um melhor entendimento dos processos de socialização e individuação na modernidade. Tem sido crescente a adoção da TAC também na área de estudos organizacionais. Todavia, seu entendimento é dificultado pela complexidade e abstração que envolve essa teoria. Assim, o presente artigo empreende a análise dos principais elementos da teoria de ação de Habermas que se aplicam aos estudos organizacionais, de maneira a permitir a compreensão das contribuições que oferecem à pesquisa nessa área. Nesse sentido, destacamos a crítica à racionalidade instrumental, a questão da reconstrução racional do ato de fala e a idéia de comunicação sistematicamente distorcida. Por fim, novas diretrizes e perspectivas foram propostas. Fábio Vizeu UnicenP ABSTRACT Theory of communicative action (TCA) has been an important reference for social studies, especially for allowing a better understanding of the socialization and individuation processes in modernity. Also in the area of organizational research, the adoption of TCA has been growing. However, its understanding is hindered by the great complexity and abstraction involved in TCA. Thus, the present article analyses the main elements of the Habermas’ action theory for organizational research, in order to allow the visualization of its contributions to the area. A critical approach is proposed to instrumental rationality, to the issue of the rational reconstruction of the speaking act, and to the idea of systematically distorted communication. Finally, new guidelines and perspectives have been proposed. PALAVRAS-CHAVE Teoria da ação comunicativa, estudos organizacionais, teoria crítica, racionalidade, epistemologia. KEYWORDS Theory of communicative action, organizational research, critical theory, rationality, epistemology.

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ARTIGOS • AÇÃO COMUNICATIVA E ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

10 • ©RAE • VOL. 45 • Nº4

AÇÃO COMUNICATIVA E ESTUDOSORGANIZACIONAIS

RESUMO

A teoria da ação comunicativa (TAC) tem sido uma importante referência para os estudos sociais,especialmente por permitir um melhor entendimento dos processos de socialização e individuação namodernidade. Tem sido crescente a adoção da TAC também na área de estudos organizacionais. Todavia,seu entendimento é dificultado pela complexidade e abstração que envolve essa teoria. Assim, o presenteartigo empreende a análise dos principais elementos da teoria de ação de Habermas que se aplicam aosestudos organizacionais, de maneira a permitir a compreensão das contribuições que oferecem à pesquisanessa área. Nesse sentido, destacamos a crítica à racionalidade instrumental, a questão da reconstruçãoracional do ato de fala e a idéia de comunicação sistematicamente distorcida. Por fim, novas diretrizes eperspectivas foram propostas.

Fábio VizeuUnicenP

ABSTRACT Theory of communicative action (TCA) has been an important reference for social studies, especially for allowing a better understanding

of the socialization and individuation processes in modernity. Also in the area of organizational research, the adoption of TCA has been growing.

However, its understanding is hindered by the great complexity and abstraction involved in TCA. Thus, the present article analyses the main

elements of the Habermas’ action theory for organizational research, in order to allow the visualization of its contributions to the area. A critical

approach is proposed to instrumental rationality, to the issue of the rational reconstruction of the speaking act, and to the idea of systematically

distorted communication. Finally, new guidelines and perspectives have been proposed.

PALAVRAS-CHAVE Teoria da ação comunicativa, estudos organizacionais, teoria crítica, racionalidade, epistemologia.

KEYWORDS Theory of communicative action, organizational research, critical theory, rationality, epistemology.

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FÁBIO VIZEU

INTRODUÇÃO

Uma parcela da obra de Habermas – mais precisamen-te a sua teoria da ação comunicativa (TAC) – tem sidofreqüentemente utilizada como referencial explicativona área das organizações (Alvesson e Deetz, 1999). Se,por um lado, a densa filosofia habermasiana é de difí-cil entendimento, por outro, permite um tratamentomais profundo da complexidade inerente aos fenôme-nos sociais justamente por fornecer uma alternativa àlógica convencional de análise sociológica, alternati-va essa mais rica quanto às considerações epistemoló-gicas (Steffy e Grimes, 1986). O foco na relação inter-subjetiva entre o sujeito e o outro, dado na TAC pormeio da adoção por Habermas da perspectiva da filo-sofia da linguagem (Herrero, 1986; Aragão, 1997), ofe-rece uma consistente base explicativa do comporta-mento gerencial, especialmente no que tange à descri-ção de deficiências da teoria administrativa tradicionale às explicações mais recorrentes do fenômeno das or-ganizações (Steffy e Grimes, 1986; Forester, 1994;Alvesson e Deetz, 1999). Adicionalmente, a TAC tam-bém tem sido utilizada para fornecer as bases teóricaspara a construção de formas contrárias ao modelo tra-dicional de gerência, que sejam mais capazes de darconta da questão da emancipação nas organizações (Ser-va, 1996).

Todavia, apesar de ser crescente a adoção do progra-ma de pesquisa habermasiana na área de organizações,sua aceitação de forma mais expressiva é dificultadadevido à grande complexidade e abstração que envol-ve a TAC. Assim, o presente trabalho visa analisar osprincipais pontos dessa teoria de maneira a visualizarcomo ela se relaciona com a análise organizacional.

O artigo se estrutura da seguinte forma. É iniciadopela apresentação da crítica frankfurtiana ao raciona-lismo da modernidade e de sua relação com a Admi-nistração e os estudos organizacionais. A seguir, em-preende uma síntese das principais questões levan-tadas pela TAC, de maneira a demonstrar em que ba-ses epistemológicas Habermas elabora a crítica à ra-cionalidade instrumental, a partir da perspectiva doparadigma da linguagem e da conseqüente reconstru-ção do atributo racional do ato de fala. A partir desseconjunto de questões da TAC, surge a crítica à buro-cracia, que é considerada – à luz da TAC – como omodelo institucional moderno por excelência e, porisso mesmo, corresponde a um lócus onde se privile-gia o processo de distorção comunicativa, denunciadopor Habermas como “colonização do mundo da vida”.

Por fim, são tratadas algumas limitações e novas pos-sibilidades quanto ao uso da TAC na área de estudosorganizacionais.

HERANÇA DA ESCOLA DE FRANKFURT NA TAC:CRÍTICA À RACIONALIDADE INSTRUMENTAL

Habermas é considerado o mais proeminente herdeiroda escola de Frankfurt (Freitag, 1986). Suas intençõescom a TAC dizem respeito à recuperação do projetoinicial da teoria crítica, que corresponde à busca deuma saída para a emancipação pela razão (Freitag,1986; Assoun, 1991; Matos, 1993). É por esse motivoque toda a trajetória intelectual percorrida porHabermas se fundamenta na principal matéria tratadapelos autores da escola de Frankfurt, qual seja, a críti-ca à racionalidade instrumental. Todavia, diferente-mente dos outros frankfurtianos (especialmente Ador-no e Horkheimer), Habermas busca se deslocar do pes-simismo gerado pela constatação da falácia da promes-sa iluminista de emancipação pela razão moderna.

A racionalidade tem sido uma questão basilar dasteorias administrativa e organizacional desde os seusadventos como campos de conhecimento sistematiza-do. Vinculada à tradição positivista de ciência social,a teoria clássica da Administração e o entendimentode organização formal surgem tendo por fundamentoo mesmo direcionamento cientificista que sustentavaa forma corrente de tratamento das questões sociais,com o surgimento, no século XIX, da sociologia en-quanto disciplina acadêmica (Reed, 1999). Assim, aracionalidade é um pressuposto fundamental da pró-pria concepção de ciência na área de organizações.Todavia, como afirma Reed (1999, p. 67), o modeloracional “impregnou o núcleo ideológico e teórico dosestudos organizacionais de forma tão abrangente enatural que sua identidade e influência foram virtual-mente impossíveis de detectar ou questionar”.

Desse modo, a racionalidade presente nas teoriasda Administração e da organização formal pode serentendida mesmo como um valor a ser perseguido elegitimado pelos teóricos que constituem o corpo deconhecimento dessas áreas. Esse valor se constituiumais objetivamente na própria noção de organizaçãoracional burocrática (Reed, 1999). O modelo de em-presa capitalista, por se constituir em função da razãoinstrumental, também serve de meio de desnaturaçãoda condição humana nas relações sociais, pois condi-ciona o sentido de comunidade à perspectiva da van-

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tagem econômica, sendo todas as dimensões humanassuplantadas pela esfera econômica (Enriquez, 1997).

No campo da filosofia moderna, a racionalidadeesboçada pelo Iluminismo era observada como a pos-sibilidade de emancipação humana. No campo inte-lectual, o projeto iluminista pretendia a libertação dadominação mítica por meio da autoconsciência e dasecularização. No campo físico, tal libertação se dariapela eliminação da constrição da natureza sobre o ho-mem, por meio da inversão no sentido dessa forma dedominação. Com isso, justificava-se filosoficamente oconteúdo epistêmico do método de ciências naturais– que tem como uma de suas características “preverpara controlar” – transplantado para a esfera social pelopositivismo. É desse modo que, na Crítica da razãopura, “Kant opera essa justificação da ciência, reco-nhecendo a realidade dos princípios universais e ne-cessários, proporcionados pelo intelecto, como queriao racionalismo” (Padovani e Castagnola, 1990, p. 362).

Porém, de acordo com a teoria crítica, a promessailuminista da libertação da razão se viu comprometidapela maneira como o racionalismo se operacionalizou,sob a forma de racionalidade instrumental. Pelo cálcu-lo de conseqüências e suas prerrogativas epistemológi-cas – como previsão, controle, determinismo –, o pro-jeto iluminista de emancipação se volta contra o ho-mem na medida em que se constitui como um sistemafechado em si mesmo (Adorno e Horkheimer, 1985).

É por essa visão pessimista do modelo de ciência tra-dicional que “os frankfurtianos afastaram-se docientificismo materialista, da crença na ciência e na téc-nica como pressupostos da emancipação social” (Ma-tos, 1993, p. 32). Nessa linha, os autores da teoria críti-ca definitivamente se contrapunham à crítica marxistaortodoxa, que via na aplicação econômica do progressocientífico o potencial revolucionário, dado que era a basedo desenvolvimento das forças produtivas, já que, “en-tre as forças produtivas que entrariam em contradiçãocom as relações de produção, contava Marx com o po-tencial subjetivo dos trabalhadores, que se expressa nãosó na atividade produtiva, mas também na atividadecrítico-revolucionária” (Habermas, 1987a, p. 467).

A partir de então, a releitura do marxismo feita pelateoria crítica enseja uma explicação alternativa aoproblema da dominação nas sociedades do capitalis-mo avançado, em que a questão da racionalidade pas-sa ser a “vilã” da história, cumprindo mesmo um pa-pel de legitimadora da opressão. Este é o sentido dedialética do esclarecimento de acordo com Adorno eHorkheimer (1985), que resulta na dialética da razão:

enquanto norma social, a racionalidade instrumentalpromove o progresso e o bem-estar de todos, mas im-pede a consciência da dominação que o ethos do capi-talismo inflige sobre os homens, de forma muito maissutil que a “luta de classes” do marxismo e, por issomesmo, muito mais profunda. A reinterpretação da teseweberiana da racionalização social feita por Marcuseidentifica a racionalidade como ideologia, tendo em vistaque ela atua como um processo de legitimação da do-minação política do sistema capitalista (Freitag, 1986).

Com a denúncia da dominação pela racionalidadeinstrumental em nossa sociedade, a teoria crítica nãopretendia negar a razão como forma legítima de eman-cipação (Matos, 1993, p. 63). Apesar disso, o pessi-mismo e a pura denúncia empreendida por Adorno,Horkheimer e Marcuse não eram suficientes para darsolução ao problema, porque não ofereciam uma al-ternativa ou uma teoria social que indicasse um cami-nho rumo à emancipação pela razão. A grande contri-buição de Habermas parece ter sido assumir uma po-sição diferente de seus predecessores da escola deFrankfurt, proporcionando um novo direcionamentoà teoria crítica ao procurar deslocar seu núcleo ex-plicativo da filosofia para a sociologia (Assoun, 1991).Isso se deve especialmente à busca por parte de Ha-bermas de um novo paradigma explicativo da questãoracional que não seja o da filosofia da consciência(Freitag, 1986).

A mudança paradigmática empreendida por Haber-mas no entendimento e solução do problema da razãodesvelado pela teoria crítica se operou no sentido dafilosofia da linguagem, e foi denominada por guinadalingüística (Aragão, 1997). Nesse novo paradigma, ocaráter emancipatório da razão é observado pela rela-ção intersubjetiva que assumem os participantes deuma mesma comunidade, onde a comunicação assu-me papel central, entendida como princípio ordenadorda vida humana associada.

QUADRO TEÓRICO DE REFERÊNCIA DA AÇÃOCOMUNICATIVA

A teoria de ação de Habermas parte do mesmo pressu-posto utilizado na sociologia fenomenológica de que“a interação comunicativa se localiza no centro da açãosocial” (Forester, 1994, p. 134). Por isso, o autor adenomina teoria da ação comunicativa (Habermas,1987a, 1987b e 1989a). Na verdade, ao adotar a pers-pectiva das abordagens de tradição fenomenológica

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interacionista e hermenêutica, Habermas entende aação social como sendo um processo de interaçãogenealogicamente constituído pela interpretação eentendimento lingüístico. Em suas palavras,

No interacionismo simbólico, na etnometodologia e

na sociologia de inspiração hermenêutica tem se co-

locado, entretanto, outro [sic] paradigma: a interação

se entende aqui como um processo de interpretação

onde os participantes negociam, por meio de inter-

pretações recíprocas, uma definição comum da situa-

ção. Com este conceito de ação, o processo de enten-

dimento [sobre algo no mundo] passa a ocupar posi-

ção central. (HABERMAS, 1989a, p. 389).

No processo de construção do eu (individuação), tantoa significação constituída socialmente quanto a própriaexpectativa que se tem da atitude dos outros – expressaespecialmente na idéia de papel social, como é apresen-tada por meio da metáfora da “dramaturgia social” deGoffman – correspondem a um forte atributo social ainfluenciar a esfera subjetiva do ser. A esse processotem sido atribuída a denominação “intersubjetividade”(Berger e Luckmann, 1995). Ferreira (2000) remete essaconcepção de eu socialmente constituído, presente nopensamento de Habermas, à influência do trabalho deMead sobre esse autor, especialmente quanto aos con-ceitos de self e do outro generalizado. Desse modo,Habermas encontra na perspectiva do interacionismosimbólico o fundamento para escolher a linguagemcomo paradigma capaz de dar solução ao problema darelação entre individuação e socialização que, na formaapresentada pela filosofia da consciência, resultou naredução do conceito de racionalidade.

Assim, a superação da filosofia da consciência pelaperspectiva interacionista se dá tendo em vista que,na primeira, a relação sujeito–objeto apresenta-se demaneira central na apreensão da realidade e, conse-qüentemente, da questão da racionalidade. A lógicasujeito–objeto reflete apenas a subjetividade do sujei-to, expressa ontologicamente por meio da idéia deautoconsciência (Aragão, 1997; Ferreira, 2000).

REFERÊNCIA ONTOLÓGICA DA TAC

Usando-se o referencial da filosofia da linguagem, arealidade não corresponde apenas às coisas apreendi-das na relação entre o sujeito cognoscitivo e o mundoobjetivo, mas abarca também outras esferas constituí-

das coletivamente, no caso, a esfera social – onde arealidade é dada em função da normatização advindada herança cultural e da ordem social – e a esfera sub-jetiva expressada – ou seja, a parte de nossa subjetivi-dade que procuramos expressar a outrem, de maneiraque ela seja reconhecida e objetivada por ambos.Habermas chama essas três diferentes ontologias demundo objetivo, mundo social e mundo subjetivo, eatribui uma crescente importância às duas últimas es-feras graças aos avanços obtidos pela sociologiafenomenológica e pela psicossociologia. Além disso, alinguagem representa um meio não transcendente dosentido, mesmo na atividade subjetiva (em que até onosso pensamento é mediado pela linguagem).

É assim que a interação entre sujeitos cognoscitivos,ou seja, a verdadeira relação interpessoal, correspondea uma relação intersubjetiva, possível apenas enquantoprocesso dialogicamente orientado. A partir da perspec-tiva de dois agentes comunicativamente competentes,o processo de interação passa a ser orientado para oentendimento mútuo das significações consideradasnesse processo, ou seja, a intersubjetividade plena. Éessa predisposição ao consenso quanto às significaçõesna interação comunicativa que permite a Habermas(1987a) propor a reconstrução racional do ato de fala.Para o autor, é nesta última que reside a superação dascontradições da racionalidade instrumental.

RECONSTRUÇÃO RACIONAL DO ATO DE FALA

Habermas verifica na estrutura do ato de fala – ou seja,ação lingüisticamente mediada – o subsídio teóricopara uma racionalidade não dominadora, baseada nareciprocidade subjacente ao diálogo. Sob o ponto devista da interação lingüística, a definição cognitivo-instrumental de racionalidade é limitada, se foremconsideradas manifestações humanas não passíveis deavaliação objetiva. Assim, se a racionalidade de umaação só pode ser fundamentada por fatos verdadeirosou pela eficácia de uma ação (efeito objetivo), as açõesexpressivas e normativamente reguladas – como, porexemplo, ações éticas e ações morais – não poderiamser passíveis de racionalização, pois abarcam uma es-fera subjetiva de realidade. Por outro lado, se a açãoracional instrumental pode ser observada sob um pon-to de vista metodológico – como intentaram Adorno eHorkheimer –, é nesse sentido que a linguagem assu-me posição privilegiada na explicação do atributo ra-cional. Isso por ela ser constituída por uma estrutura

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sintática que permite um acesso indireto à subjetivi-dade, superior ao acesso dado pelo autoconhecimentoda filosofia da consciência (Aragão, 1997). Por isso,Habermas reconceitua o atributo “racional”, em queesse passa a ser dado às ações e manifestações passí-veis de negação – o que pode ser falso é algo passívelde objetivação – e de justificação – o que pode ser fun-damentado por boas razões é algo “racionalizável”.

Habermas (1989a) efetua a reconstrução racional doato de fala por meio do que ele chama de pragmáticauniversal, um conceito que indica pretensões de vali-dação universais pressupostas no ato de fala e que per-mitem o compartilhamento pleno de significados entreos participantes da interação (em que “pleno” se refereà significação compartilhada sob o ponto de vista factual,normativo e expressivo). Assim, os atos de fala racio-nais pressupõem crítica e fundamentação a partir (i) daverdade proposicional (o que eu falo e faço é racionalporque é baseado em uma verdade factual), (ii) da sin-ceridade (quando expresso minha subjetividade estousendo sincero e, por isso, verdadeiro), (iii) da retidão(quando o que faço ou falo pressupõe fundamentaçãomoral) e (iv) da inteligibilidade (o que faço e falo so-mente pode ser criticado e passível de fundamentaçãose meu discurso for compreensível ao ouvinte).

Como todo ato de fala pressupõe um estado demútua compreensão de significados – que é anterior àmeta do ato de fala de intervenção na realidade objeti-va (ação teleológica) –, por dedução, pode-se afirmarque a comunicação somente será plena quando foremcumpridos os quatro requisitos de validez doproferimento. Partindo desse quadro epistemológico,Habermas explica dois tipos básicos de ação racional,quais sejam:• a ação racional instrumental: a ação de um sujeito no

sentido de intervir na realidade objetiva (relação su-jeito–objeto), em que a racionalidade da ação é dadateleologicamente e o principal fator de efetividade é aeficiência (economia de recursos na consecução doobjetivo). Neste tipo, o atributo racional da ação sedeve ao fato de esta ser justificada por fatos ou terpor base o seu resultado objetivo (êxito ou eficáciada ação), medido em termos de eficiência técnica nouso de meios;

• a ação racional comunicativa: tipo de ação em que seconsideram agentes lingüisticamente competentes, noqual a racionalidade consiste no uso de argumentosválidos, capazes de fundamentar as proposições e osenunciados considerados na interação comunicativa.A legitimidade dos argumentos é obtida pela satisfa-

ção de todas as pretensões de validez. Neste tipo deação, ocorre uma orientação dialógica, tendo em vistaque a coordenação mútua é dada em função da capaci-dade comunicativa, recurso disponível a todos os par-ticipantes.

Quando a orientação racional instrumental prevalecenuma relação social, em que o critério de racionalida-de é o êxito, e não o entendimento real dos significa-dos, a ação racional é denominada estratégica. Aqui oatributo racional é dado apenas sob a perspectiva deum dos participantes, o agente da ação racional, sen-do o outro considerado um meio para a consecuçãodo êxito. Nesse caso, como a linguagem é o recursonecessário à interação de agentes cognoscitivos, a co-municação acaba sendo distorcida em alguma de suasdimensões (veracidade, sinceridade, retidão ouinteligibilidade), no sentido de manipulação (distorçãodeliberada) ou contingencial (distorção ocasionada porfatores estruturais).

Desse modo, no modelo de Habermas dois tipos deação social se sobressaem pela sua natureza antagôni-ca. A primeira, a ação estratégica, definida como sendoa ação condicionada pela racionalidade instrumental,ou seja, aquela centrada no cálculo utilitário de conse-qüências, em que “se supõe que o ator elege e calculameios e fins do ponto de vista da maximização da utili-dade ou da expectativa da utilidade” (Habermas, 1987a,p. 122-123). A segunda, a ação comunicativa, em quetambém está subjacente um tipo de racionalidade, masfundamentada apenas no processo de reconhecimentointersubjetivo. Dessa forma, “o paradigma desta últimaracionalidade não é a relação do sujeito isolado a algono mundo, que pode ser representado e manipulado,mas a relação intersubjetiva que assumem sujeitos ca-pazes de linguagem e de ação quando eles se entendemem si sobre algo” (Herrero, 1986, p. 17).

A ampliação da dimensão racional dada por meiodo conceito de racionalidade comunicativa pressupõeque se reconsidere a base teleológica do processo deracionalização social subentendida no modelo de açãode Weber (Habermas, 1987a). Este também acaba sen-do a via que Habermas encontra a partir de sua teoriapara que se recupere a perspectiva de emancipação darazão sem que se tenha que se abster da crítica à ra-cionalidade instrumental. Outrossim, é a partir dopotencial de emancipação da competência comunica-tiva que se verifica a possibilidade de superação doegocentrismo implícito na racionalidade pretendidapela ação estratégica. Como escreve Habermas,

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Eu abordei o agir comunicativo e o estratégico como

duas variantes da interação mediada pela linguagem.

No entanto, somente ao agir comunicativo é aplicável

o princípio segundo o qual as limitações estruturais

de uma linguagem compartilhada intersubjetivamente

levam os atores – no sentido de uma necessidade

transcendental tênue – a abandonar o egocentrismo

de uma orientação pautada pelo fim racional de seu

próprio sucesso e a se submeter aos critérios públi-

cos da racionalidade do entendimento. (HABERMAS,

1990, p. 82-83).

Em resumo, é a partir das considerações anteriores queHabermas propõe que a ação comunicativa seja umreferencial adequado para a elaboração de novos cri-térios de racionalidade, de maneira a minimizar acontradição da forma de organização social da mo-dernidade, denunciada pela crítica ao racionalismoinstrumental empreendido pela escola de Frankfurt(Freitag, 1986). Nesse sentido, a crítica à razão ins-trumental se desdobra na crítica ao modelo burocráti-co, no sentido de que a burocracia corresponde a umareificação do ethos racional-instrumental na forma deum sistema auto-sustentado, capaz de coordenar econtrolar a vida social tendo por base os critérios deutilidade (Habermas, 1987b). A esse processo Haber-mas chamou de “colonização do mundo da vida”, jáque considera que a interação comunicativa plena serelaciona com a construção e reconstrução dos signi-ficados e da estrutura social essencial de uma comu-nidade lingüística, sendo esse processo identificado nafenomenologia como pertencente ao “mundo da vida”(Berger e Luckmann, 1995). Também para Habermasesse processo é desnaturalizado, com a substituiçãoda regulação social, mediada pela interação lingüísti-ca, pela regulação do sistema burocrático e do sistemafinanceiro nas sociedades capitalistas. É por este últi-mo motivo em especial que o uso da TAC na área deorganizações tem sido amplamente empreendido nosentido de criticar o modelo burocrático de gestão eorganização.

APROXIMAÇÕES DA TAC E DOS ESTUDOSORGANIZACIONAIS

Observada enquanto um programa de pesquisa social(White, 1995), a TAC apresenta diversas possibilida-des para o desenvolvimento dos estudos organizacio-nais. Desde o final da década de 1970 há estudos na

área de estudos organizacionais que sugerem a necessi-dade de pesquisas que tenham como referênciaepistemologias alternativas à positivista, seja sob o pontode vista ontológico ou sob a perspectiva da crítica detradição marxista (Burrell e Morgan, 1979). Nesse sen-tido, a TAC enquanto programa de pesquisa embasadana filosofia da linguagem, na tradição marxista e nasabordagens sociológicas subjetivistas se apresenta comouma opção para estudos organizacionais alternativos àorientação funcionalista dominante. Além disso, porintegrar com propriedade diferentes pressupostosontológicos para explicar a realidade social, o corpoteórico de Habermas abarca potencial para a superaçãodo debate da incomensurabilidade paradigmática, co-mum na área de estudos organizacionais (Reed, 1999).

Em relação à subárea de comportamento organiza-cional, a TAC também se apresenta como uma refe-rência teórica relevante. Devido à centralidade da in-teração lingüística na práxis social, a ação comunica-tiva é um construto que integra múltiplas visões demundo e de indivíduo, e essa multiplicidade é rele-vante para a compreensão do fenômeno organizacio-nal. Permite que se verifiquem contradições nas rela-ções interpessoais nem sempre enfocadas pelos estu-dos organizacionais, já que a idéia de distorção comu-nicativa, antes de ser um mero problema de comuni-cação organizacional, reflete a dificuldade de reconhe-cimento do outro enquanto sujeito competente, en-quanto membro integrante de uma mesma comunida-de cultural. Este último ponto segue o conceito decultura enquanto rede de significados (veja emSmircich, 1983). Deetz (1985), por exemplo, abordoucomo a TAC pode se associar aos estudos organizacio-nais sobre cultura, onde o ponto de contato foi justa-mente o processo de distorção comunicativa que, deacordo com o autor, revela como as práticas discursi-vas desenvolvem estruturas simbólicas que servemcomo mecanismos de dominação e controle.

De modo geral, as abordagens críticas da área dosestudos organizacionais que têm por base a TAC pre-tendem revelar de que maneira a prática gerencial e omodelo organizacional tradicional se revestem de pres-supostos contraditórios para os contextos sociais nosquais são adotados. Nesse sentido, o modelo centralna teoria das organizações – a burocracia – se destacajustamente pelo fato de seu principal fundamento sera racionalidade instrumental.

Na verdade, os autores organizacionais teóricos crí-ticos têm sugerido que uma importante limitação domodelo burocrático reside na unilateralidade das rela-

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ções interpessoais subjacente a esse tipo, expressa es-pecialmente pela manipulação do significado em inte-rações comunicativas quando se almeja o cálculo uti-litário. Essa perspectiva se desenvolve no modelo teó-rico habermasiano pela idéia de que o modelo buro-crático configura relações interpessoais e procedimen-tos gerenciais que abarcam um caráter monológico,eficiente porém impessoal, e por isso produzem dis-torção comunicativa. Nesse sentido, a burocratiza-ção enquanto processo organizacional é em si mes-ma uma medida inibidora da competência comuni-cativa, dado o fato de a essência desse processo ser aracionalidade sistêmica, ou seja, a lógica de auto-sus-tentação de sistemas independentes – no caso, a or-ganização formal –, sem consideração às pessoas, ba-seada no controle e na previsibilidade da racionali-dade instrumental (Habermas, 1987b).

As dificuldades em se estabelecer uma relação co-municativa não distorcida nas organizações refletem,antes de tudo, problemas na relação gerente–trabalha-dor, que, por se instituir de forma monológica – emque a comunicação é apenas de natureza informacio-nal –, implica situações de violência, de mentira e deinjustiça. Por exemplo, tais conseqüências degradan-tes da distorção gerada no processo monológico decomunicação podem ser medidas por meio da análisepsicanalítica acerca do sofrimento no trabalho, em queo autor verifica os efeitos psicológicos da falta deintercompreensão nas relações de trabalho contem-porâneas. Em suas palavras,

O ponto capital da organização do trabalho é a quali-

dade da discussão entre as pessoas. O sofrimento está

sempre ligado à degradação das condições de discus-

são e de intercompreensão. Quando as pessoas não se

compreendem mais, quando não conseguem mais se

comunicar e construir uma inteligibilidade comum das

relações de trabalho, elas não ficam só decepciona-

das: elas se defendem. Observam-se estratégias defen-

sivas entre operários e executivos. No final, estas duas

estratégias defensivas opõem-se uma à outra e, a par-

tir desse momento, as pessoas não podem mais se com-

preender. Esse é um ponto fundamental da teoria de

comunicação: desde que não haja comunicação possí-

vel, a violência está em pauta, posto que a comunica-

ção é, no fundo, a condição de convivência e aliança.

(DEJOURS, 1999, p. 170).

Outro trabalho importante sobre a distorção comuni-cativa é o de Felts (1992). Ao se basear no modelo

habermasiano de competência comunicativa, esse au-tor revela ser a estrutura organizacional clássica umaforma de constrangimento pré-lingüístico, mais espe-cificamente graças à assimetria das posições de poderhierarquizadas, fator elementar no modelo organiza-cional tradicional. Segundo o autor,

A competência comunicativa, de acordo com

Habermas [...], requer uma simetria de relações que

não podem ser viciadas por meio de arranjos estrutu-

rais prévios. Isso não ocorre fora das diferenças de

habilidade natural ou competência funcional. Antes

disso, só a simetria permite tais diferenças para que

possa emergir a satisfação de intersubjetividade dos

participantes. Não pode haver nenhuma dúvida de que

a aceitação a priori de princípios hierárquicos de po-

sição, status e autoridade impede uma simetria de re-

lações dentro das organizações. Quando a posição da

pessoa, o status ou a competência é desafiada ou dis-

putada, é muito conveniente que tudo seja habilmen-

te ocultado atrás do grau ou posição da pessoa, que

simplesmente dá ordens. Recurso semelhante em re-

lação ao poder de posição pode acontecer sob condi-

ções de alta incerteza. Também pode ser que estes se-

jam os momentos mais sujeitos a deficiências orgâni-

cas de comunicação. (FELTS, 1992, p. 509).

Ainda de acordo com o autor, na interação comunica-tiva entre sujeitos de diferentes níveis hierárquicos, omedo de contrariar o superior e sofrer sanções (naperspectiva do subordinado), assim como o medo dainsubordinação (na perspectiva do superior), são es-tados psicológicos que estimulam a distorção delibe-rada dos requisitos de validez subjacentes ao ato defala. Assim, verifica-se a hierarquia formal como umacondição estrutural que favorece comunicações e dis-cussões propensas à mentira quanto aos fatos declara-dos, à falta de sinceridade, à corrupção dos valores e àincompreensão e confusão, em detrimento dos requi-sitos de validez do ato de fala de verdade proposicional,de sinceridade, de retidão e de inteligibilidade, res-pectivamente. É esse o sentido da seguinte afirmaçãode Forester (1994, p. 141): “para cada um dos requisi-tos comunicativos práticos feitos por atores organiza-cionais, então, os ouvintes podem estar sujeitos nãoapenas às distorções acidentais ou naturalmente ne-cessárias, ou às distorções intencionais e calculadas,mas, mais sutil e politicamente significativo, àsdistorções estruturalmente sistemáticas e socialmentedesnecessárias”.

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A distorção comunicativa intencionalmente delibe-rada é comum no âmbito das organizações centradasna lógica competitiva do mercado econômico, onde aspessoas são muitas vezes consideradas instrumentos aserem manipulados para a obtenção de lucro. Mas tam-bém noutras organizações, não necessariamente em-presariais, no contexto organizacional moderno, tam-bém há distorções de caráter estrutural, que não sãofacilmente percebidas e sanadas. No âmbito das orga-nizações que não estão diretamente vinculadas com alucratividade econômica, tal caráter estrutural dedistorção comunicativa é mais problemático. Organi-zações públicas, entidades assistenciais e filantrópi-cas, grupos de interesse da sociedade civil, enfim, todoo primeiro e o terceiro setor, ao adotar a modelagemburocrática, são atingidas por contradições sistemáti-cas no processo de representatividade dos interessesdaqueles que constituíram essas organizações.

Os problemas levantados pelas análises da distor-ção comunicativa revelam, em ultimo plano, a insu-ficiência dos modelos e diretrizes gerenciais desen-volvidos à luz das teorias organizacional e adminis-trativa clássicas. Assim, orientações contrárias à ló-gica unilateral e dominadora da interação comunica-tiva caracterizada na forma de gestão tradicional têmse direcionado para novos modelos (Serva, 1996;Tenório, 1998), mais condizentes com a lógica daracionalidade comunicativa.

OBJEÇÕES E CRÍTICAS À TAC

Nesta altura de nossa exposição, faz-se necessárioapresentar certas objeções à TAC, justamente paraapresentar certas limitações dessa teoria e, assim, de-monstrar em que medida a obra de Habermas podecontribuir para os estudos organizacionais. Basicamen-te, ressaltaremos duas grandes contestações que vêmsendo feitas a esse corpo teórico. Muitas outras – como,por exemplo, a denúncia ingênua de “romantismo” ou“utopia”, críticas comuns ao atual panorama acadê-mico (White, 1995) – entram no patamar ideológicoou da falta de compreensão (ou mesmo desconheci-mento) da obra habermasiana e dos postulados teóri-cos que a constituem, e por isso mesmo não são dig-nas de contraposição.

Uma das contestações diz respeito ao caráter “críti-co” do trabalho de Habermas. Certos contestadoresquestionam se a TAC deve ser considerada como umateoria crítica, sob a alegação de que, para desenvolver

sua teoria da sociedade, Habermas se baseou emLuhmann, um autor funcionalista (Burrell, 1994). Essevínculo tem por cerne a importância do conceito de“sistema” de Luhmann na visão de sociedade haber-masiana, o que remete à suposição de perspectivaintegradora da sociedade, um pressuposto que vemsendo considerado como não crítico no âmbito dosestudos organizacionais (Burrell e Morgan, 1979). Ofato de o termo “consenso” ser remarcado na TACcontribui para esta última objeção. Todavia, o uso doconceito funcionalista de sistema é dado na TAC parademonstrar a contradição interna das sociedades docapitalismo avançado, onde a estrutura sistêmica po-lítica e monetária da sociedade se impõem à estruturatida como “natural”, denominada mundo da vida. Aesse processo, Habermas denomina “colonização domundo da vida”, algo muito próximo ao que seus pre-decessores da escola de Frankfurt atribuem como “em-pobrecimento da cultura” (Adorno e Horkheimer,1985). Na verdade, o vínculo maior de Habermas emsua teorização da sociedade é com a orientação críticados frankfurtianos, que, por sua vez, teve origem nacrítica marxista (Assoun, 1991). Além disso, sendo apretensão de Habermas ao constituir a TAC a recupe-ração do projeto inicial da escola de Frankfurt, a teo-ria da sociedade presente na obra habermasiana ficasujeita à teoria da racionalidade dessa escola. Isso evi-dencia o caráter secundário do conceito parsoniano naobra de Habermas, que, em última análise, foi utilizadona tentativa de justificar o argumento central da TAC –assim como várias outras apropriações teóricas e con-ceituais em Habermas –, que corresponde à reconstru-ção racional do ato de fala (Aragão, 1997). Por fim, nãose pode questionar o cunho antipositivista da TAC peloconceito de “sistema”, já que o conceito de “mundo davida” – que tem sua origem na fenomenologia deSchutz – é referência prioritária para a visão de socie-dade e realidade na obra de Habermas (Aragão, 1997).

Outra objeção feita à TAC diz respeito à sua pretensafundamentação empírica nas ciências sociais. Estu-diosos da escola de Frankfurt têm apontado para o fatode o trabalho de Habermas ser diferenciado dos de-mais frankfurtianos por ter ele buscado nas ciênciassociais – e não na filosofia – a base a priori para a suacrítica à modernidade (Assoun, 1991). Essa leituraparece corresponder à interpretação de Habermas so-bre a sua própria obra, como demonstra o autor naintrodução do primeiro volume do seu principal livro(Habermas, 1987a). Entretanto, outros estudiosos daobra de Habermas afirmam que essa pretensa transfe-

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rência da filosofia para a sociologia não se sustenta.Segundo Aragão (1997, p. 15), “as análises empíricasempreendidas por Habermas no campo da ciência so-cial, a partir daquela teoria, estão subordinadas a ela,e só têm a função secundária de colocar à prova umesquema conceitual de explicação da realidade socialcuja natureza é essencialmente filosófica”.

É justamente quanto à natureza essencialmente fi-losófica da TAC que transparece uma fraqueza da pro-posta de Habermas, já que contradiz a própria opiniãodesse autor. Como afirma Aragão, ao comentar a orien-tação eminentemente filosófica da TAC:

Isto é bastante irônico para um pensador que aponta

a falta de competência da filosofia para ajudar o ho-

mem transformado pela modernidade a compreender

o mundo, a si mesmo e à sociedade, porque é através

da filosofia que ele mostra a possibilidade desse mes-

mo homem reencontrar-se, recuperando a unidade e a

identidade perdidas ao longo da evolução. (ARAGÃO,

1997, p. 130).

Apesar de a contradição merecer uma observação, ainterface entre a filosofia e as ciências sociais articula-da na TAC é algo que deve ser considerado proveitosopara o desenvolvimento dos estudos organizacionais.É correto afirmar que, sendo a ortodoxia no campo dapesquisa organizacional atrelada à ideologia positivista,o forte teor filosófico da TAC pode gerar nítido des-conforto no meio acadêmico, sendo possível até a acu-sação de “não científicos” aos pesquisadores que ado-tarem o programa de pesquisa habermasiano. Toda-via, já se alertou há algum tempo para o problema dareflexão epistemológica no campo dos estudos orga-nizacionais (veja, por exemplo, Ramos, 1989). Nessesentido, a aproximação entre a filosofia e as ciênciassociais é algo que vem gradativamente ocorrendo, es-pecificamente pelos estudos críticos (Burrell, 1994),no intuito de enriquecer o debate epistemológico – tãonecessário a um campo de conhecimento marcado des-de sua gênese pela associação perigosa “com as neces-sidades técnicas e interesses políticos das elites forma-doras de diretrizes” (Reed, 1999, p. 89). Desse modo, aaproximação obtida na TAC entre a filosofia e a ciênciatalvez seja uma possibilidade de renovação do pensa-mento teórico organizacional. Mesmo a articulação deabordagens sociológicas tradicionalmente antagônicasempreendidas na TAC pode ser observada como algoproveitoso aos estudos organizacionais, pois confrontadiretamente o polêmico debate da incomensurabili-

dade entre paradigmas nos estudos organizacionais,como já foi mencionado anteriormente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕESPARA FUTUROS ESTUDOS

Neste artigo foram apresentados significativos pontosde contato entre a TAC e o campo dos estudos organi-zacionais. Sendo a TAC uma teoria social centrada nacrítica à racionalidade instrumental e à estruturasocietária que desvelou essa forma de racionalização,ela aborda diretamente aspectos centrais da teoria or-ganizacional, que vêm sendo tratados pelos estudosde cunho epistemológico dentro desta área, como, porexemplo, os estudos de Ramos (1989) e seus seguido-res. Nesse sentido, os estudos organizacionais críticosinspirados na teoria habermasiana têm buscado reve-lar que a dominação presente nos sistemas adminis-trativos ortodoxos se processa em termos de manipu-lação das interações lingüísticas, especificamente dadapela distorção comunicativa (Deetz, 1985; Rizzo eBrosnan, 1990; Felts, 1992; Forester, 1994). Entretan-to, poucos estudos têm abordado que a TAC tambémenfatiza serem os mesmos processos interpessoais lin-güísticos em que ocorre a distorção o lócus onde asuperação de tal dominação pode ser obtida. Um au-tor que trata desse último aspecto é Dejours (1999),por meio do conceito de “espaço de discussão”.

Talvez essa dificuldade por parte dos pesquisadoresorganizacionais resida na falta de evidências empíricassobre a efetividade da ação comunicativa na socieda-de atual, sendo esse um dos aspectos contestados naTAC (Aragão, 1997). Entretanto, a superação da dis-torção comunicativa remete à discussão de uma novaética, centrada no paradigma da ação comunicativa. Épor isso que, no intuito de expandir seu programa depesquisa para campos de estudo onde se possa viabili-zar a comprovação empírica da ação comunicativa,Habermas tem dedicado seus últimos trabalhos a tra-tar da ética do discurso (Habermas, 1989b) implícitana TAC (Aragão, 1997).

Na idéia de pragmática universal reside o fundamen-to para uma ética do discurso, justamente devido àampliação ontológica da esfera objetiva para as esfe-ras social e subjetiva. Tendo sido o conteúdo deonto-lógico das relações discursivas revelado nas ciênciassociais pelas abordagens derivadas da sociologia com-preensiva – em especial a fenomenologia –, Habermasse fundamenta em descobertas científicas para justifi-

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car o desenvolvimento de uma ética do discurso (Ha-bermas, 1987a; 1989b). A demarcação de uma pragmá-tica universalmente desenvolvida é feita por meio daidéia de pretensões de validez do ato de fala. Por suavez, essas questões correspondem a importantes refe-renciais da ação social comunicativamente orientada,ou, no mínimo, para uma análise da ação social a partirdo paradigma da linguagem. Entender com profundi-dade cada uma das esferas em que se estabelece o atocomunicativo pleno – a veracidade, a retidão, a sinceri-dade e a inteligibilidade nas interações lingüísticas – étambém compreender uma via alternativa para a conci-liação entre a racionalidade e a ética. Isso justamentepelo fato de a TAC revelar a mesma fundamentação uni-versal para ambas as questões, e que essa base reside naprópria estrutura da fala (Habermas, 1989b). Na áreaorganizacional, essa conciliação entre o racional e odeontológico possibilita a elaboração de uma ética daAdministração mais consistente do que as proposiçõesque vêm sendo feitas, estando a maioria delas compro-metida com a vertente da ética utilitarista (Meira, 2004).Por isso mesmo, uma interessante sugestão para estu-dos futuros é o uso da TAC como programa de pesquisasobre ética no âmbito organizacional. Fora do Brasil,esse uso da TAC já começa a ocorrer no campo da Ad-ministração Pública, especialmente por meio dos esfor-ços empreendidos pelos cientistas políticos (veja, porexemplo, White, 1995).

Adicionalmente, a partir da análise aqui empreen-dida, propõem-se duas diretrizes para nortear um pro-grama de pesquisa no campo dos estudos organizacio-nais fundamentado na TAC. Em certo sentido, estenosso esforço não se apresenta inovador, tendo emconta que outros estudos vêm tratando direta ou indi-retamente tais diretivas. Todavia, pretende-se reforçaralguns dos pressupostos da TAC considerados signifi-cativos para a pesquisa organizacional.

A organização é um espaço de interaçõeslingüísticas entre sujeitos competentesComo a TAC surge tendo por referência a mudança doparadigma da filosofia da consciência para o paradig-ma da linguagem, a pesquisa organizacional inspiradano programa de Habermas deve ter como pressupostoa idéia de que os membros que interagem dentro daorganização, ou entre organizações, o fazem a partirde um processo intersubjetivo de troca de significa-dos, em que todos detêm a competência essencial paraa consecução e coordenação da ação coletiva. Nessefoco, o sentido essencial da comunicação é dialógico,

e o processo de comunicação monológico (apenas in-formacional) indica comunicação distorcida. Assim, oconceito habermasiano de “entendimento” não deveser encarado simplesmente como uma concepção utó-pica da natureza humana (Burrell, 1994), mas comoum insight de que, dado que a estrutura da fala revelaque a compreensão mútua sobre o significado das coi-sas é anterior ao uso teleológico do ato comunicativo(Habermas, 1987a), é no processo comunicativo quereside a possibilidade de coordenação humana deemancipação não coercitiva. Para tanto, é preciso seater ao aspecto dominador do sistema político e eco-nômico racionalizado – no qual a burocracia é uma desuas mais evidentes manifestações –, pois é a partirdessa estrutura que ocorre a desnaturação do proces-so comunicativo. Um caminho interessante dentro dosestudos organizacionais para a comprovação empíricadessa possibilidade de emancipação pela interaçãocomunicativa se encontra nos estudos que revelam sera chamada “cultura organizacional” uma rede de sig-nificados em constante reconstrução (Smircich, 1983),já que, considerando a influência da concepção feno-menológica de construção da realidade nessa vertente,a base desse processo é a interação lingüística (Berger eLuckmann, 1995). A respeito desse último aspecto, éimportante lembrar a centralidade do conceito demundo da vida na teoria habermasiana. Assim, ao ado-tar o programa de pesquisa habermasiano, os estudosorganizacionais sobre cultura – que vêm demonstran-do a dimensão coercitiva e unilateral das trocas sim-bólicas e míticas presente no processo de reconstru-ção cultural nas organizações – podem avançar sobre-maneira no seu entendimento crítico da realidade, ten-do em conta a profundidade com que a TAC articulaesses princípios epistemológicos.

A hierarquia determina um estadopsicológico inibidor da ação comunicativaDada a necessidade de reciprocidade e reconhecimen-to mútuo (enquanto sujeitos falantes competentes)para se estabelecer a interação comunicativa plena (ouseja, não distorcida), a diferenciação hierárquica é umelemento crucial na geração de um estado psicológicodefensivo (Dejours, 2001). Por esse motivo, a hierar-quia burocrática, além de ser legitimada pela raciona-lidade instrumental, atua contrariamente à emancipa-ção pretendida na ação comunicativa por representarum constrangimento pré-lingüístico, uma estruturaque se opõe à comunicação intersubjetiva. Apesar denão ser algo novo revelar a dominação nas relações de

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subordinação das organizações formais, sob o prismada TAC esse processo se apresenta sob uma nova pers-pectiva em sua dimensão psicológica. Assim, apesar deos sistemas hierárquicos atenderem à orientação para aeficiência, preconizam dificuldades no processo comu-nicativo e, conseqüentemente, de significação do mun-do e do outro. Nesse ponto, as estruturas organizacio-nais flexibilizadas não somente correspondem a alter-nativas para o problema da dinâmica organizacional,mas também facilitam a comunicação intersubjetiva.Este último ponto tem sido tratado com especial aten-ção por alguns estudiosos brasileiros (Tenório, 2000;Serva, 1996) e mesmo por alguns autores de língua in-glesa (Felts, 1992; Webler e Tuler, 2000).

Adicionalmente, vale ressaltar que não pretendemoscom o presente artigo apresentar nenhuma apreciaçãooriginal sobre a TAC no âmbito dos estudos organiza-cionais. Muitos outros já fizeram essa aproximaçãoanteriormente, como, por exemplo, Alvesson e Deetz(1999), Burrell (1994) e Forester (1994). Todavia, fo-mos motivados no presente trabalho a dar maior ênfa-se a certos pressupostos que consideramos não teremsido aprofundados pelos autores citados. Esse esforçose justifica devido à amplitude e complexidade da obrarecente de Habermas. De certa forma, os aspectos quebuscamos destacar e que correspondem à nossa con-tribuição foram sintetizados nas duas diretrizes queapresentamos acima.

Finalmente, vale reconhecer que a TAC cumpre umimportante papel no entendimento do contexto orga-nizacional atual, devido ao fato de esta ser uma teoriaque, diferentemente de muitas outras abordagens or-ganizacionais críticas, não adota uma postura de anti-Adminstração (Alvesson e Deetz, 1999), o que pode-ria comprometer a sua consolidação no meio acadê-mico, como parece ocorrer com algumas vertentes nãoortodoxas centradas no chamado “relativismo radical”(Reed, 1999). Outrossim, a demanda de contextos eformas organizacionais não burocráticas, especialmen-te no que se refere às esferas como a que envolve ochamado terceiro setor, é outro campo de aplicaçãopossível para a TAC, considerando o seu potencialexplicativo de esferas da sociedade civil que se afas-tam da dicotomia Estado-mercado (Avritzer, 1993).

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Artigo recebido em 29.04.2003. Aprovado em 29.08.2005.

Fábio VizeuProfessor do Centro Universitário Positivo – UnicenP. Mestre em Administração pela UFPR.Interesses de pesquisa nas áreas de teoria crítica em Administração, epistemologia daAdministração e pesquisa organizacional.E-mail: [email protected]ço: Rua Carlota Mion, 13, ap. 4, Bloco 8, Campina do Siqueira, Curitiba – PR,80740-660.

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