ação cartao credito ministerio publico

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EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA ª VARA EMPRESARIAL DA COMARCA DA CAPITAL DO RIO DE JANEIRO. COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, órgão vinculado à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro CNPJ n.º 30.449862/0001-67) sem personalidade jurídica, especialmente constituído para defesa dos interesses e direitos dos consumidores, estabelecida à Rua Dom Manoel s/n, Praça XV, Rio de Janeiro-RJ vem, por seus procuradores, propor AÇÃO COLETIVA DE CONSUMO COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA Contra BANCO DO BRASIL S.A., inscrito no CNPJ sob o nº 00.000.000/0001-91, situado à SBS, Quadra 01, Bl. G, s/nº, 24º andar, Asa Sul, Brasília – DF, CEP: 70.073-901, BANCO BRADESCO S.A., inscrito no CNPJ sob o nº 60.746.948/0001- 12, situado à Avenida Rio Branco, nº 116, Centro, Rio de Janeiro – RJ, CEP: 20040-001, BANCO ITAÚ S.A., inscrito no CNPJ sob o nº 60701190/0001-04, situado à Avenida Nilo Peçanha, nº 12, Centro, Rio de Janeiro – RJ, CEP: 20021- 290, HSBC BANK BRASIL S.A., inscrito no CNPJ sob o nº 001.701.201/0001-89, situado à Avenida das Nações Unidas, 1154, 10º andar, Brooklin Novo, São Paulo – SP, CEP: 04578- 000, BANCO REAL ABN AMRO, inscrito no CNPJ sob o nº 33.066.408/0001-15, situado à Avenida Paulista, nº 1374, 3º andar, Bairro Bela Vista, São Paulo –SP, CEP: 01310- 100, UNIÃO DE BANCOS BRASILEIROS S.A. – UNIBANCO, inscrita no CNPJ sob o nº 33.700.394/0001-40, situada à Avenida Eusébio Matoso, nº 891, Bairro Pinheiros São Paulo-SP, CEP: 05760-050, BANCO PANAMERICANO S.A, inscrito no CNPJ sob o n.º 59.285.411/0001-13, situado à Avenida Paulista, n.º 2.240, 3º andar, Centro, São Paulo- SP, CEP: 01310-300, BANCO SANTANDER S.A, inscrito no CNPJ sob o n.º 90.400.888/0001-42, situado à Rua Santo Amaro, n.º 474, Santo Amaro São Paulo-SP, CEP: 04752-901, com fundamento nos artigos 4º, III, 6º, V, 14, 39, III e

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EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA ª VARA EMPRESARIAL DA COMARCA DA CAPITAL DO RIO DE JANEIRO.COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO,órgão vinculado à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro CNPJ n.º 30.449862/0001-67) sem personalidadejurídica, especialmente constituído para defesa dos interesses e direitos dos consumidores, estabelecida à Rua DomManoel s/n, Praça XV, Rio de Janeiro-RJ vem, por seus procuradores, proporAÇÃO COLETIVA DE CONSUMOCOM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELAContra BANCO DO BRASIL S.A., inscrito no CNPJ sob o nº 00.000.000/0001-91, situado à SBS, Quadra 01, Bl. G, s/nº, 24ºandar, Asa Sul, Brasília – DF, CEP: 70.073-901, BANCO BRADESCO S.A., inscrito no CNPJ sob o nº 60.746.948/0001-12, situado à Avenida Rio Branco, nº 116, Centro, Rio de Janeiro – RJ, CEP: 20040-001, BANCO ITAÚ S.A., inscrito noCNPJ sob o nº 60701190/0001-04, situado à Avenida Nilo Peçanha, nº 12, Centro, Rio de Janeiro – RJ, CEP: 20021-290,HSBC BANK BRASIL S.A., inscrito no CNPJ sob o nº 001.701.201/0001-89, situado à Avenida das Nações Unidas, nº1154, 10º andar, Brooklin Novo, São Paulo – SP, CEP: 04578-000, BANCO REAL ABN AMRO, inscrito no CNPJ sob onº 33.066.408/0001-15, situado à Avenida Paulista, nº 1374, 3º andar, Bairro Bela Vista, São Paulo –SP, CEP: 01310-100, UNIÃO DE BANCOS BRASILEIROS S.A. – UNIBANCO, inscrita no CNPJ sob o nº 33.700.394/0001-40, situadaà Avenida Eusébio Matoso, nº 891, Bairro Pinheiros São Paulo-SP, CEP: 05760-050, BANCO PANAMERICANO S.A,inscrito no CNPJ sob o n.º 59.285.411/0001-13, situado à Avenida Paulista, n.º 2.240, 3º andar, Centro, São Paulo-SP,CEP: 01310-300, BANCO SANTANDER S.A, inscrito no CNPJ sob o n.º 90.400.888/0001-42, situado à Rua SantoAmaro, n.º 474, Santo Amaro São Paulo-SP, CEP: 04752-901, com fundamento nos artigos 4º, III, 6º, V, 14, 39, III eparágrafo único, e 42, parágrafo único, todos da Lei n.° 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), e nos termos quese seguem:PRELIMINARESDa aplicação da Lei n. 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor) e da legitimidade ativa ad causam da autoraO Código de Defesa do Consumidor, Lei Federal nº. 8.078/90, norma especial e geral de consumo (principiológica),de ordem pública e interesse social (art. 1°), deve ser obrigatoriamente aplicado à presente demanda, tendo em vistaque é de consumo a relação existente entre as rés e os indivíduos que com elas contratam ou que são submetidossimplesmente às práticas comerciais por elas engendradas, conforme previsto em seus arts. 2°, caput e parágrafo único,3º e 29.Todavia, levando em consideração que, conforme se verificará adiante, o objeto da presente demanda se refere à uma

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modalidade de contrato de concessão de crédito, convém demonstrar que a “conhecida” discussão provocada pelasinstituições financeiras sobre a não incidência do CDC aos contratos de concessão de crédito não prospera, para quenão reste qualquer dúvida acerca da incidência do Diploma de proteção do consumidor aos contratos de concessão decrédito.Alegam as instituições financeiras que os contratos de concessão de crédito (financiamentos, empréstimos...) não sesubmetem às normas do Código de Defesa do Consumidor, uma vez que o dinheiro (crédito), devido a sua naturezacirculatória, somente poderia ser utilizado para aquisição de bens ou remuneração de serviços, afastando de quem otoma a característica de consumidor final exigida pelo seu artigo 2º.Ou seja, o dinheiro (crédito), por ser um instrumento ou meio de pagamento que circula no mercado, não poderia serconsumido pelo seu beneficiário, não podendo haver, portanto, um destinatário final. A exceção seria apenas em relaçãoaos colecionadores de moedas.O artigo 3º do CDC conceitua fornecedor, de forma ampla, como “toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem,criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestaçãode serviços”.O parágrafo 1º do dispositivo ora em analise acentua que, “produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ouimaterial”, enquanto que o parágrafo 2º específica que, “serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes dasrelações de caráter trabalhista”.A relação jurídica, para poder ser definida como de consumo, exige também a presença de um consumidor, que, segundodefinição dada pelo artigo 2º do CDC, “é toda pessoa física ou jurídica que adquire produto ou serviço como destinatáriofinal”.A expressão “destinatário final”, neste caso, é que vai, portanto, definir se a relação jurídica havida entre o tomadordo crédito e a instituição concedente é ou não de consumo, uma vez que o já mencionado parágrafo 2º do artigo 3ºincluiu todas as atividades (desempenhadas mediante remuneração) de natureza bancária, financeira e de crédito sob asubordinação do Código de Defesa do Consumidor.A expressão “destinatário final” deve ser interpretada de acordo com a ratio do Código de Defesa do Consumidor, que,segundo a doutrina e a jurisprudência, exige a não profissionalidade do beneficiário do produto ou serviço, ou seja, oproduto ou o serviço não pode ser utilizado para fins profissionais.Seria um absurdo exigir, para que se caracterizasse a relação como sendo de consumo, que o beneficiário do créditoficasse de posse do numerário sem empregá-lo na produção ou no consumo. O fato de dispor dos recursos como bem

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entender, utilizando em seu favor ou de sua família, para atendimento de uma necessidade própria, não descaracterizao fornecimento dos recursos como relação de consumo.O artigo 2° do CDC exige apenas que o consumidor seja o destinatário final do produto ou do serviço, sem nadamencionar sobre a destinação econômica ou prática do bem adquirido ou do serviço prestado.Ementa - Em se tratando de mútuo bancário são aplicáveis as normas do Código de Defesa doConsumidor por se enquadrar a espécie no conceito de produto ou serviço, apesar de estaremos bancos, especialmente contemplados no artigo 3°, § 2°, do Codecon, como prestadores deserviços.(AgIn 128787-2 - 4ª Câmara Cível - TAPR, j. 10/03/1999 – rel. Juiz Jurandyr Souza Jr.).Voto - (...)Sob esse argumento não se podem excluir da incidência das normas do CDC os contratos decrédito, cujos recursos sejam tomados pelo consumidor para fazer frente a despesas de produçãoou consumo, pois a circunstância de gastar esse dinheiro tomado do banco não o inclui na cadeiade fornecedores.(...)O contrato de abertura de crédito rotativo em conta corrente, também conhecido como contaespecial ou cheque especial é um dos contratos bancários em que mais claramente se dá aincidência das normas de proteção do consumidor, pois, com essa operação o usuário doserviço bancário é efetivamente o destinatário final dos recursos que obteve junto ao banco, porempréstimo, sendo irrelevante que vá aplicar o dinheiro em produção ou consumo.(...)Dispositivo – Acordam os Juizes integrantes da Quarta Câmara Cível do Tribunal de Alçada doEstado do Paraná por unanimidade de votos, em, conhecendo do recurso, dar-lhe provimentoparcial.Curitiba, 10 de março de 1999 – Jurandyr de Souza Jr., relator. (integra Revista de Direito doConsumidor 33, pp. 311/314)Ementa - Os contratos bancários se submetem às normas do Código de Defesa do Consumidorpor expressa disposição nele contida (art. 3°, § 2°, do CDC), assim, é possível ao magistrado,vislumbrando situação de hipossuficiência do agravado, impor o ônus da inversão da prova.AgIn 163.324-7 – 6ª Câm Civ. – TAPR – j. 12.03.2001 – rel. Juíza Maria José Teixeira.Voto - (...)É inegável a aplicabilidade das normas inseridas no Código de Defesa do Consumidor noscontratos bancários, pois expressamente prevista nas disposições do mesmo especialmentecontemplados no art. 3°, § 2°, do estatuto referido”.(...)

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A caracterização das instituições bancárias como fornecedor, sob a égide do Código de Defesa doConsumidor hoje é pacífica e neste sentido já se manifestou o STJ através de sua 3ª T., no Resp142799-RS, sendo relator o Min. Waldemar Zveiter que:‘Os contratos bancários se submetem ao Código de Defesa do Consumidor porque sendo deconsumo devem prestar obediência aos princípios da boa fé objetiva e da justiça contratual, esuas normas podem ser aplicadas de ofício pelo juiz, eis que são de ordem pública (art. 1° da Lei8.078/90).’”(...)Ante o exposto, acordam os integrantes da 6ª. Câm. Civ. do TAPR, por unanimidade de votos,negar provimento ao presente recurso.Curitiba, 12 de março de 2001 – Maria José Teixeira, Relatora. (integra Revista de Direito doConsumidor n.º 42, pp. 373/375)Contrato de financiamento bancário – Nulidade de cláusulas – Aplicação do Código de Defesa doConsumidor – Disciplina legal diversa quanto à taxa dos juros remuneratórios. Tratando-se deempréstimo tomado por consumidor final, a operação crediticia realizada pelo banco submeteseas disposições do Código de Defesa do Consumidor, na qualidade de prestador de serviçosespecialmente contemplado no artigo 3º, § 2º, do citado diploma legal. Diversa é, porém, a disciplinalegal tocante a taxa de juros remuneratórios, área esta regida por legislação específica. Segundoassentou o C. Supremo Tribunal Federal, o Sistema Financeiro Nacional será regulado por leicomplementar e, enquanto não advier esta, observa-se-a a legislação anterior a Constituição de1988 (ADIn 4- DF). STJ Resp. 213825/RS, Min. Barros Monteiro, 22/08/00.AGRAVO NO AGRAVO DE INSTRUMENTO – CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO –APLICABILIDADE DO CDC – COMISSÃO DE PERMANÊNCIA – INACUMULABILIDADE COM JUROSMORATÓRIOS E MULTA CONTRATUAL – SÚMULA 83 DESTA CORTE. I – Pela interpretação doartigo 3º, § 2º, do CDC, é de se deduzir que as instituições bancárias estão elencadas no rol daspessoas de direito consideradas como fornecedoras, para fim de aplicação do Código de Defesa doConsumidor às relações entre esses e os consumidores, no caso, correntistas. II – Tratando-se decontrato firmado entre instituição e pessoa física, é de se concluir que o agravado agiu com vistasao atendimento de uma necessidade própria, isto é, atuou como destinatário final. Aplicável, pois, oCDC. III – O entendimento adotado pelo aresto recorrido encontra-se em consonância com o destaCorte, segundo o qual é inviável a incidência de comissão de permanência concomitantemente.STJ – 3ª Turma – AgAgIn 296.516/SP – rel. Min. Nancy Andrighi – j. 07/12/2000.“Não obstante o respeito que merecem os que assim sustentam, não cabe aqui invocar conceitos

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da economia, nem buscar o sentido do vocábulo consumidor nos dicionários ou em vestutosinstitutos do Código Civil, porque o Código do Consumidor tem conceito próprio, segundo o qualconsumidor não é quem consome, mas sim quem adquire ou utiliza produtos ou serviços comodestinatário final. Esse conceito legal, vale dizer, interpretação autêntica, é também vinculativopara o intérprete, sendo-lhe vedado buscar outra inteligência para a norma que não seja aquelanela própria estabelecida.Utilizar, afirmamos em outra oportunidade, não significa apenas gastar, extinguir, destruir,consumir, mas também usar, utilizar, fruir, sem implicar em necessária destruição da própriasubstância do bem. Importa então em dizer que haverá relação de consumo não só quandoprodutos são consumidos, mas também quando deles usufrui o consumidor como destinatáriofinal; não só quando o consumidor compra gêneros alimentícios e medicamentos para si e suafamília, mas também quando adquire livros, eletrodomésticos, móveis, veículos, imóveis e outrosbens duráveis como destinatário final, e é quanto basta para configurar a relação de consumo”.(“Responsabilidade Civil das Instituições Bancárias por Danos Causados a Correntistas e aTerceiros”, Sérgio Cavalieri Filho, Revista de Direito do Consumidor, n. 34, Editora Revista dosTribunais)Conforme se pode verificar nas lições e nas decisões jurisprudenciais acima transcritas a doutrina e a jurisprudência jáassentaram o entendimento de que os contratos de empréstimo e semelhantes são de consumo quando o numerárioconcedido for utilizado para atender uma necessidade própria do consumidor ou de sua família, como a compra de umatelevisão, o pagamento de mensalidade escolar.Com efeito, não é de consumo o contrato de concessão de crédito quando o numerário concedido é utilizado, porexemplo, para aquisição de maquinário por uma fábrica.Vale acrescentar, ainda, que o STF, no julgamento da ADIN 2.591, cujo objeto era afastar a incidência do CDC àsinstituições financeiras (que entendiam ser submetidas apenas as normas expedidas pelo Banco Central), consignouque o CDC não incide apenas no tocante à taxa de juros praticadas pelas instituições financeiras, que não é discutida napresente demanda.Da legitimidade ativa da autoraTendo em vista que o CDC é norma especial, de ordem pública e interesse social, e por tratar de matéria processual, maisprecisamente e de forma integral, em seu artigo 82, III, sobre a legitimidade ativa ad causam dos órgãos da administraçãopública para defender os direitos e interesses dos consumidores através de ações judiciais coletivas de consumo, deveser aplicado prioritariamente em relação às demais legislações aplicáveis, como a Lei n. 7.347/85 e o CPC.

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“Examinando agora a questão inicialmente proposta, entendemos que, após a vigência do Códigode Defesa do Consumidor, apenas os entes legitimados pelo art. 82 podem propor ações coletivasem defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das pessoas equiparadas. Com efeito, oCDC é lei específica para proteção do consumidor, tout court, e prefere, neste ponto, à Lei da AçãoCivil Pública, que cuida da ação de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente,aoconsumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, combem maior generalidade”. (ARAÚJO FILHO, Luiz Paulo. Comentários ao código de defesa doconsumidor: direito processual. São Paulo: Saraiva, 2002, pp. 66/67) (grifos nossos)“As normas do CPC e da LACP são aplicáveis às ações individuais e coletivas fundadas no CDC,desde que não sejam incompatíveis com o microssistema do CDC. Caso contrarie dispositivoexpresso do CDC ou seu espírito, a norma do CPC ou da LACP não pode ser aplicada”. (NERYJUNIOR, Nelson. Código de processo civil comentado e legislação processual civil extravaganteem vigor, atualizado até 01.08.1997. São Paulo: RT, 1997, p. 1402) (Grifos nossos)“As disposições da LACP são integralmente aplicáveis às ações propostas com fundamento noCDC, naquilo em que não houver colidência, como é curial.(...)Há, por assim dizer, uma perfeita interação entre os sistemas do CDC e da LACP, que se completame podem ser aplicados indistintamente às ações que versem sobre direitos ou interesses difusos,coletivos e individuais, observado o princípio da especialidade das ações sobre relações deconsumo, às quais se aplica o Título III do CDC e só subsidiariamente a LACP” (NERY JUNIOR,Nelson. Código brasileiro de defesa do consumidor comentado pelos autores do anteprojeto. SãoPaulo: Forense Universitária, pp. 1032/1033)Dispõe o artigo 82, III, do CDC que “para fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente” “as entidadese órgãos da administração pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinadosà defesa dos interesses e direitos” dos consumidores.A autora é uma comissão permanente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (arts. 109, da Constituiçãodo Estado do Rio de Janeiro, e 25, parágrafo único, XXI, do Regimento Interno da Assembléia Legislativa do Estadodo Rio de Janeiro), sem personalidade jurídica, especificamente destinada, de forma ampla, à defesa dos direitos einteresses do consumidor (art. 26, § 19, alíneas “a” a “c”, do Regimento Interno da Assembléia Legislativa do Estado doRio de Janeiro), e de forma específica, apesar de não haver qualquer exigência no artigo 82, III, do CDC (exige apenasque “defenda” os direitos e interesses dos consumidores), à defesa dos direitos e interesses do consumidor através de

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ações judiciais coletivas de consumo (art. 26, § 19, alínea “d”, do Regimento Interno da Assembléia Legislativa do Estadodo Rio de Janeiro).Art. 109. Constituição do Estado do Rio de Janeiro. A Assembléia Legislativa terá comissões permanentes e temporárias,constituídas na forma e com as atribuições previstas nos respectivos Regimento ou ato legislativo de sua criação.Art. 25. Regimento Interno da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Iniciados os trabalhos de cadasessão legislativa, a Mesa, dentro do prazo improrrogável de quinze dias, providenciará a organização das comissõespermanentes.Parágrafo único. As comissões permanentes são:(...)XXI – Comissão de Defesa do Consumidor, com cinco membros.Art. 26. Regimento Interno da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Compete às comissõespermanentes:(...)§ 19 – À Comissão de Defesa do Consumidor compete:a) manifestar-se sobre matéria referente à economia popular;b) manifestar-se sobre composição, qualidade, apresentação, publicidade e distribuição de bens e serviços, relações deconsumo e medidas de defesa do consumidor.c) acolher e investigar denúncias sobre matéria a ela pertinente e receber a colaboração de entidades e associaçõesrelacionadas à defesa do consumidor.d) representar a título coletivo, judicialmente ou extrajudicialmente, os interesses e direitos previstos no Parágrafo únicodo art. 81, conforme autorização expressa no art. 82, III, todos da Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990.e) encaminhar as representações mencionadas na alínea “d” para publicação na íntegra no Diário Oficial da ALERJ,assim como as desistências das representações feitas.Portanto, inegável a legitimidade da autora para figurar no pólo ativo da presente demanda, assim como de qualquerdemanda judicial coletiva de consumo, conforme reconhecido no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e noTribunal Regional Federal 2ª Região.Ação Civil Pública. Direito do Consumidor. Comissão de defesa do consumidor da AssembléiaLegislativa. Legitimação por força do inciso III do art. 82 do CDC. Sentença que se reforma.Recurso provido (TJRJ, Ap.Cív. 2006.001.13728, 10ª Câmara Cível, Rel. Des. José Carlos Varanda,julgado por unanimidade).PROCESSO CIVIL. AÇÃO COLETIVA. O CPDC, ao dispor no art. 82, III, que têm legitimidade ativanas ações coletivas “as entidades e órgãos da administração pública, direta e indireta, ainda quesem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses protegidos por

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este Código”, não permite dúvida quanto à legitimação de pessoas formais e se refere aos direitosmetaindividuais, em que inscrevem os individuais homogêneos (id, art. 81, III). Apelo conhecidoe provido. Sentença que se anula. Unânime (TJRJ, Ap.Cív. 2006.001.23959, 3ª Câmara Cível, Rel.Des. Fernando Foch).APELAÇÃO CÍVEL – Ação Civil Pública. Defesa do Consumidor em Juízo. Legitimidade ativa parapropositura da ação. Aplicação dos arts. 5°, inc. XXXII da CRFB e art. 82, inc. III do Código deDefesa do Consumidor. Legitimidade da Comissão de Defesa do Consumidor. Legitimidade daComissão de Defesa do Consumidor da ALERJ para propositura de ação coletiva tendente a defesade direitos do consumidor objetivando o reconhecimento de aumento abusivo da tarifa cobradapor transporte marítimo e retorno ao patamar anterior, bem como a condenação à restituição,em dobro, das tarifas pagas indevidamente pelos consumidores. A mens legis do art. 82 do CDCquando estabeleceu legitimação para agir atinente ao aforamento de ações coletivas foi a maisampla possível não podendo o aplicador da lei dar interpretação restritiva. No inc. III do art. 82,não se limitou o legislador a ampliar a legitimação para agir. Foi mais além, atribuiu Legitimaçãoad causam a entidades e órgãos da Administração Pública direta ou indireta, ainda que sempersonalidade jurídica, o que se fazia necessário para órgãos como PROCON e a ComissãoApelante, bastante ativos e especializados em defesa do consumidor, pudessem também agir emjuízo. PROVIMENTO DO APELO (TJRJ, Ap.Cív. 2006.001.30582, 4ª Câmara Cível, Rel. Des. SidneyHartung Buarque).APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA AJUIZADA PELA COMISSÃO DE DEFESA DOCONSUMIDOR DA ALERJ EM FACE DE NET RIO S/A. ILEGITIMIDADE ATIVA RECONHECIDAPELA SENTENÇA RECORRIDA, QUE EXTINGUIU O FEITO SEM EXAME DO MÉRITO. POSTERIORINCLUSÃO NO REGIMENTO INTERNO DA ALERJ DE DISPOSITIVO QUE AUTORIZA À COMISSÃOAUTORA A PROMOVER A AÇÃO COLETIVA. POSSIBILIDADE DE CONVALIDAÇÃO DALEGITIMIDADE COM FUNDAMENTO NO ARTIGO 462, DO CPC. O ARTIGO 82, INCISO III, DO CDC,NA VERDADE AMPLIOU O CAMPO DA LEGITIMAÇÃO ATIVA PARA AÇÃO CIVIL PÚBLICA. OSARTIGOS 5º E 6º DA LEI 7.347/85 E OS ARTIGOS 109 E 173, INCISO III DA CONSTITUIÇÃO DOESTADO DO RIO DE JANEIRO NÃO EXCLUEM, MAS ANTES ALARGAM O ROL DOS LEGITIMADOS,EM BENEFÍCIO DOS CONSUMIDORES (TJRJ, Ap.Cív. 2006.001.39474, 6ª Câmara Cível, Rel. Des.Luis Felipe Salomão).AÇÃO CIVIL PÚBLICA – A AUTORA É ÓRGÃO TÉCNICO VINCULADO AO PODER LEGISLATIVO

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DESTE ESTADO, POSSUINDO A COMISSÃO AUTORA, LEGITIMIDADE PARA POSTULAR NOPÓLO ATIVO DESTA DEMANDA. O PARQUET FUNCIONA NA MESMA, COMO FISCAL DA LEI ENÃO COMO PARTE. ANULA-SE A SENTENÇA DE EXTINÇÃO DO FEITO SEM RESOLUÇÃO DOMÉRITO, PARA DETERMINAR O PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO NOS SEUS TRÂMITES LEGAIS –PROVIDO O PRIMEIRO RECURSO E PREJUDICADO O SEGUNDO (TJRJ, Ap.Cív. 2006.001.24835,14ª Câmara Cível, Rel. Des. Edson Scisinio Dias).AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITO DO CONSUMIDOR. SENTENÇA QUE EXTINGUE O FEITO SEMEXAME DO MÉRITO. APLICAÇÃO DO ART. 82, III DO CDC. LEGITIMIDADE DAS ENTIDADES EÓRGÃO DA ADMINISTRAÇÃO DIRETA OU INDIRETA, AINDA QUE SEM PERSONALIDADEJURÍDICA, DESTINADOS À DEFESA DOS INTERESSES E DIREITOS PROTEGIDOS PELO CÓDIGODE DEFESA DO CONSUMIDOR. PROVIMENTO DO RECURSO (TJRJ, Ap.Cív. 2007.001.39903, 20ªCâmara Cível, Rel. Desa. Odete Knaack de Souza).PROCESSUAL CIVIL E DIREITO DO CONSUMIDOR. DEMANDA COLETIVA PROPOSTA PELACOMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA ASSEMBLÉIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.INDEFERIMENTO DA INICIAL. ENTENDIMENTO DA JULGADORA DE QUE FALTARIA LEGITIMIDADEATIVA À DEMANDANTE. REFORMA DA SENTENÇA (TJRJ, Ap.Cív. 2007.001.60029, 16ª CâmaraCível, Rel. Des. Lindolpho Morais Marinho).PROCESSUAL CIVIL – AGRAVO DE INSTRUMENTO – LIMINAR – AÇÃO CIVIL PÚBLICA AJUIZADAPELA COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DORIO DE JANEIRO – EMPRÉSTIMOS A APOSENTADOS E PENSIONISTAS DO INSS – PROPAGANDAENGANOSA – INTERESSE DIFUSO, COLETIVO OU INDIVIDUAL HOMOGÊNEO – LEGITIMAÇÃOCONCORRENTE - VIOLAÇÃO DE NORMA LEGAL – ARTS. 6º, 31, 36, 37, 81, PARÁGRAFO ÚNICO, I,II, III E 82 – LEI 8.078, DE 1990 (CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR) – OBRIGAÇÃO DE FAZER– MULTA – REDUÇÃO.1 – A Comissão de Defesa do Consumidor da Assembléia Legislativa do Estado do Rio deJaneiro, tem legitimidade para figurar no pólo ativo de ação civil pública visando discutir víciosna propaganda relativa a empréstimos consignados em folha para aposentados e pensionistasdo INSS. Sendo um órgão da administração, destinado especificamente à defesa dos direitos einteresses previstos no CDC, cumprindo os requisitos do parágrafo único do art. 81, do CódigoConsumerista, há de ser considerada parte legítima para figurar no pólo ativo de demandascoletivas de consumo, na qualidade de substituto processual.2 – O perigo de dano irreparável por demora da concessão da tutela, bem como a verossimilhança

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do direito alegado, na hipótese, afiguram-se patentes, tendo em vista que as propagandasveiculadas, ostensiva e massivamente, em diversos meios de comunicação, sem atender aoestipulado no Roteiro Técnico e Instrução Normativa referentes ao empréstimo consignado,bem como em flagrante desrespeito ao CDC, encerram a probabilidade de lesionar um enormecontingente de cidadãos.3 – A lei n.º 8.078/90 (CDC) arrola e define no parágrafo único, I, II e III, os direitos (interessedifuso, coletivo ou individual homogêneo) que poderão ser tutelados através das ações coletivasde consumo.4 – Há que se reconhecer, na hipótese, que os consumidores (aposentados e pensionistas doINSS) foram induzidos a erro na aquisição dos produtos e serviços oferecidos, o que caracterizaflagrante ofensa às regras contidas nos arts. 31 e 37 do Código de Defesa do Consumidor.5 – a Multa tem o objetivo de inibir o inadimplemento da obrigação determinada pelo Juízo, umavez que se constitui em meio intimidatório ao cumprimento da obrigação, pois basta que sejacumprida a determinação para que o pagamento da multa seja interrompido. Sendo o seu valorexcessivo, impõe-se a sua redução.6 – Agravo de instrumento provido parcialmente (TRF 2ª Região, AgIn. 2006.02.01.004411-3, 6ªTurma Especializada, Rel. Des. Fed. Frederico GueirosDOS FATOS:As instituições financeiras que administram cartões de crédito vêm, notoriamente, há bastante tempo, enviando cartõesde crédito aos consumidores sem que estes tenham solicitado e/ou aceitado previamente e livremente.A incidência desta prática, do ano de 2006 até os dias atuais, aumentou em 171,4%, e, o que é mais preocupante, emplena era do “positivismo do princípio da boa-fé”, que impõe, de forma geral, um comportamento leal aos indivíduosenvolvidos em relações obrigacionais, especialmente para os fornecedores de produtos ou serviços “de consumo”, porenvolver um vulnerável (o consumidor).Note-se que esta vulnerabilidade fica ainda mais patente se for considerado que, sem saber, o consumidor pode ser um“beneficiário” de um cartão desviado e usado por terceiros. As conseqüências, nestas hipóteses, que infelizmente nãosão raras por força mesmo do atuar dos réus, normalmente são trágicas.Independentemente do risco que tal forma de atuar no mercado representa, que, na prática, acaba sendo (o risco)transferido quase que integralmente para o consumidor (salvo para uma minoria que consegue recorrer adequadamente aoJudiciário), os réus, mesmo enviando cartões sem solicitação ou autorização prévia, inequívoca e “livre” do “beneficiário”,e sem prestar informações adequadas e claras que possam desfazer uma possível expectativa dissociada da realidade,cobra valores a título de anuidade, que não necessariamente recebe tal denominação (usual entre os consumidores).

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Em estreita síntese, os réus, para obter a adesão de consumidores, e se enriquecerem (sem compromisso com alegalidade), vêm atuando de forma desleal, valendo-se da vulnerabilidade de consumidores (que em certos casos, comode indivíduos de camadas mais pobres, idosos – que hoje são alvos cada vez mais constante destes produtos/serviços -,é ainda mais acentuada), enviando, independentemente de vontade livre de qualquer tipo de vício de consentimento do“beneficiário”, cartões de crédito a consumidores e cobrando anuidades (ou algo equivalente com outra denominação).Em todas as hipóteses em que cartões de crédito são enviados ao consumidor existem riscos, mas, nos casos em queo consumidor/ “beneficiário” do envio do cartão de crédito não solicita o cartão ou autoriza o seu envio, de forma livrede qualquer vício de consentimento, o risco é ainda maior: o consumidor que solicita ou autoriza (livre de vícios deconsentimento) o envio do cartão tem ciência de que uma demora no recebimento pode significar o seu extravio. Poroutro lado o consumidor que não solicitou ou não autorizou o envio do cartão não tem nem como imaginar que um cartãode crédito lhe foi enviado e, muito menos, que pode ter sido extraviado; deste fato podem advir perturbações negativas,como inscrições em cadastros de proteção ao crédito, dívidas indevidas de difícil extinção em relação à vítima, visto queos juros dos cartões de crédito são os mais altos entre as modalidades de contratos de fornecimento de crédito.Considerando que tal prática vem se tornando cada vez mais freqüente, é capaz de gerar perturbações negativasindevidas e que uma única ação coletiva é capaz de atomizar em um único feito diversas pretensões individuais, a autoraajuizou a presente.DO DIREITOO CDC é aplicável à hipótese aqui tratada, conforme visto anteriormente. O artigo 39, III, deste diploma legal prescreveque “é vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: III – enviar ou entregar aoconsumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço”.Do conceito de solicitação préviaPara fins de conceito de solicitação prévia deve-se recorrer ao conceito de liberdade de contratar a luz do Códigode Defesa do Consumidor, pois somente uma manifestação de vontade livre pode ser considerada “manifestação devontade” nas relações de consumo.Se o produto ou serviço não foi solicitado por iniciativa própria do consumidor, mas mesmo assim foi fornecido, claramentenão houve liberdade de escolha do consumidor. Aplica-se, sem qualquer ressalva, o parágrafo único do artigo 39, CDC,que determina que “os serviços prestados e os produtos remetidos ou entregues ao consumidor, na hipótese prevista noinc. III, equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de pagamento”.Dúvida acerca da liberdade de contratar pode existir quando, em contrato outro, como o de abertura de conta bancária,há um “sub-contrato” de fornecimento de cartão de crédito.

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Quando a solicitação ou autorização de envio de cartão de crédito encontra-se em contrato de adesão cujo objetoprincipal não é o fornecimento de cartão de crédito, e sendo este (contrato de adesão de abertura de conta bancária, porexemplo, com solicitação ou autorização de envio de cartão de crédito) o único ofertado ao consumidor sem opção derecusa do fornecimento do cartão de crédito, não se pode afirmar que houve liberdade de contratar.Segundo Rizzatto Nunes “o sentido de liberdade da pessoa consumidora, aqui, é o de ‘ação livre’. Essa ação é livresempre que a pessoa consegue acionar duas virtudes: querer + poder. Quando a pessoa quer e pode, diz-se, ela é livre;sua ação é livre”. (Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 24)Na situação retratada anteriormente, o consumidor que quer uma conta corrente, mas não um cartão de crédito, não temo poder de recusar o fornecimento deste.A alegação de que o consumidor não está obrigado a contratar com a instituição que assim atua, e que, para sedesvencilhar da situação, poderia procurar outra instituição que não condicione a abertura da conta corrente à aceitaçãodo fornecimento do cartão de crédito, não é aceitável, a uma porque o artigo 39, I, CDC, rotula como abusiva, ilícita, aprática de “condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço”, e a duasporque nos dias atuais não prevalece a regra geral de que a abertura de contas bancárias em determinada instituiçãofinanceira ocorre por opção livre do consumidor; uma determinação de um empregador (que firma uma parceria com ainstituição bancária), a localização de uma agência (ex: só existe uma agência bancária de uma instituição financeiraem determinada localidade), retiram a liberdade de escolha dos consumidores. Não se pode esquecer que é praxe entretodas as instituições bancárias incluir, nos contratos de abertura de contas bancárias, cláusula em que o consumidorautoriza o envio do cartão de crédito.Desta forma, também deve ser considerado não solicitado o cartão de crédito cujo envio esteja amparado em autorizaçãoinserida dentro de um contrato de abertura de conta bancária ou outros, salvo quando estiver inserida em contratoexclusivo de fornecimento de cartão de crédito ou em contrato outro, como de abertura de conta bancária, que possibilitea recusa do envio de cartão de crédito.Da inversão ope judicis do ônus da provaAs instituições bancárias têm uma praxe de enviar cartões sem que o consumidor tenha solicitado ou autorizado de formalivre. Em razão desta praxe, que independe de prova, visto que se trata de fato que pode ser facilmente atestado pelaexperiência comum, deve-se inverter o ônus da prova, com base no artigo 6º, VIII, CDC, para que os réus provem nasdemandas individuais baseadas em eventual sentença de procedência prolatada nesta ação, que o envio do cartão decrédito foi solicitado de forma livre, tendo em vista que presentes os pressupostos exigidos pelo dispositivo legal citado,

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sob pena de ser considerado não solicitado o envio do cartão de crédito.Dispõe o artigo 6°, VIII, CDC, que é direito básico do consumidor “a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processocivil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordináriasde experiências”.A exigência de ser verossímil as alegações do consumidor deve ser interpretada de acordo com a ratio do Código deDefesa do Consumidor, de facilitação da defesa da parte vulnerável da relação, no caso o consumidor (artigo 6°, VIII,primeira parte, CDC).A alegação do consumidor, para que possa ser considerada verossímil, deve parecer verdadeira, não repugnar a verdade,ou seja, o caso narrado pelo consumidor deve ser plausível.O outro requisito exigido pelo dispositivo ora em comento é ser o consumidor hipossuficiente.Hipossuficiência do consumidor, segundo Luiz Paulo da Silva Araújo Filho, “deve ser interpretada em sintonia com a suavulnerabilidade no mercado de consumo, devendo ser reconhecida todas as vezes que, por sua situação de inferioridadeem relação ao fornecedor, seja do ponto de vista econômico e cultural, seja sob o aspecto do acesso à informação, dopleno conhecimento sobre os elementos técnicos do produto ou do serviço, ou da carência de estrutura organizacional, aprodução da prova se mostre mais fácil ao fornecedor, ou deva ser simplesmente a ele imposta, como natural assunçãodos riscos da atividade empresarial”. (Comentários ao Código de Defesa do Consumidor: direito processual. São Paulo:Saraiva, 2002, p. 15).A verossimilhança na alegação de que os réus enviam cartões de crédito sem que o consumidor tenha solicitado deforma livre, que, conforme visto, inclui as hipóteses em que a solicitação ou autorização encontra-se em contrato deabertura de conta corrente ou outros, salvo nos casos em que a autorização esteja em contrato exclusivo de cartão decrédito ou em contrato outro que possibilite a recusa do envio do cartão de crédito, pode ser atestada pela experiênciacomum, conforme já sublinhado anteriormente e já observado pela jurisprudência.APELAÇÃO CÍVEL. MERO ENVIO DE CARTÃO DE CRÉDITO SEM SOLICITAÇÃO. PRÁTICA DASADMINISTRADORAS DE CARTÕES DE CRÉDITO. FALHA DO SERVIÇO. SÚMULA N.º 75 DESTETRIBUNAL DE JUSTIÇA. NÃO CARACTERIZAÇÃO DE DANO MORAL. NEGADO SEGUIMENTO AORECURSO POR MANIFESTA IMPROCEDÊNCIA (TJRJ, Ap.Cív. 2008.001.16334, 14ª Câm. Cív., Rel.Des. Cleber Ghelfenstein). (Grifos nossos)Com relação à hipossuficiência do consumidor esta é cristalina. O consumidor normalmente procura uma instituiçãobancária para atender uma necessidade própria, como receber salários, benefícios, obter crédito etc. As tratativasnormalmente se resumem à assinatura de contratos de adesão, sem espaço para negociações. O consumidor, tambémnormalmente, não recebe uma cópia do contrato que assinou.Por isso, é muito difícil, e em certos casos impossível, para o consumidor provar que no ato da celebração do contrato lhe

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fora dada oportunidade de recusar o envio do cartão de crédito, salvo se uma (ou mais) testemunha, nos moldes exigidospelos artigos 228, Código Civil, e 405, CPC, tiver presenciado o ato.Por outro lado, para a instituição bancária é muito mais fácil apresentar documentos (em sentido lato) de que foi dada aoconsumidor a oportunidade de recusar o envio do cartão de crédito.RESPONSABILIDADE CIVIL. ENVIO DE CARTÃO DE CRÉDITO SEM SOLICITAÇÃO DOCORRENTISTA. CARTÃO QUE FOI UTILIZADO INDEVIDAMENTE POR TERCEIROS. NECESSIDADEDO RÉU COMPROVAR A CONTRATAÇÃO DO SERVIÇO. DANOS MORAIS IN RE IPSA. INDENIZAÇÃOFIXADA EM R$ 7.800,00 QUE BEM OBSERVOU O PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE, RECURSOSIMPROVIDOS (TJRJ, Ap.Cív. 2005.001.39692, 12ª Câm. Cív., Rel. Des. Gamaliel Q. de Souza).(Grifos nossos)Responsabilidade civil – Remessa de cartão de crédito sem solicitação do consumidor – Práticaabusiva – Indevida cobrança de faturas mensais – Ausência de prova da anuência e utilizaçãodo cartão pelo consumidor – Dano moral configurado – Nexo causal – Montante indenizatório. 1.Apresenta-se ilegal o procedimento do banco que envia cartão de crédito ao consumidor sem aprévia solicitação. Termo de Compromisso originado no Ministério da Justiça. Prática abusiva –CDC, art. 39, III. Procedimento que colore a figura do ato ilícito, ensejando reparação por danosmorais. Nexo causal configurado. 2. A fixação do montante indenizatório a título de dano moralsegue critérios subjetivos do juiz, e deve ser consentâneo à realidade dos fatos. Proveram o apelo(TJRS, Ap.Cív. 70004903480, 10ª Câm. Cív., Rel. Des. Paulo Antônio Kretzmann, julg. 02/10/2003).Presentes os pressupostos para inverter o ônus da prova em favor dos consumidores, para que os réus provem queenviaram, no caso individual concreto que esteja baseado em eventual sentença de procedência prolatada nesta ação,cartão de crédito mediante solicitação ou autorização livre, sob pena de restar configurado que o envio foi efetuado semsolicitação livre do destinatário.Das conseqüências do envio do cartão de crédito sem solicitaçãoDispõe o parágrafo único do artigo 39, CDC, que, “os serviços prestados e os produtos remetidos ou entregues aoconsumidor, na hipótese prevista no inc. III, equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de pagamento”.O legislador, além de proibir a prática de fornecer serviços ou produtos sem solicitação prévia do consumidor, sancionaa mesma, por saber que diante da vulnerabilidade do consumidor no mercado a mera proibição não seria suficiente paraexterminar com a tática agressiva de “convencimento a contratar”, com a vedação à cobrança de remuneração peloserviço ou produto fornecido. Desta forma, se estabelece um equilíbrio entre partes desiguais.“Nas vendas sem manifestação prévia do consumidor, este recebe o produto ou serviço não

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requisitado e não tem como devolver o objeto ou não aceitar o serviço e se vê literalmente forçadoa contratar. Estas táticas agressivas de venda ficam proibidas, de maneira muito inteligente,pelo inciso III do art. 39, combinado com o parágrafo único do art. 39 do CDC. A equiparaçãodos produtos enviados e dos serviços prestados, sem nenhuma solicitação do consumidor, a‘amostras grátis’ é uma solução inventiva, cujo fim é realmente acabar com este tipo de prática nomercado brasileiro”. (MARQUES, Claudia Lima. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor.São Paulo: RT, 2006, p. 562)Inexistindo, pois, liberdade de escolha (querer ou não querer o fornecimento do produto ou serviço) inexistirá obrigaçõespara o consumidor perante o fornecedor, tudo correrá por conta e risco deste.“A regra do Código, nos termos do seu artigo 39, III, é de que o produto ou serviço só podeser fornecido desde que haja solicitação prévia. O fornecimento não solicitado é uma práticacorriqueira – e abusiva – do mercado. Uma vez que, não obstante a proibição, o produto ou serviçoseja fornecido, aplica-se o disposto no parágrafo único do dispositivo: o consumidor recebe ofornecimento como mera amostra grátis, não cabendo qualquer pagamento ou ressarcimento aofornecedor, nem mesmo os decorrentes de transporte. É ato cujo risco corre inteiramente porconta do fornecedor”. (BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos. Código brasileiro de defesado consumidor comentado pelos autores do anteprojeto. São Paulo: Forense Universitária, 2005,p. 370)Da impossibilidade de cobrança de anuidadesO caso concreto do envio do cartão de crédito sem solicitação prévia deve ser analisado de forma razoável, para evitaro enriquecimento sem causa de uma parte à custa da outra.Não é razoável aplicar a regra prevista no parágrafo único do artigo 39, CDC, aos juros dos cartões de crédito. Issoconfiguraria enriquecimento ilícito do consumidor perante o fornecedor. Por isso, a gratuidade deve se referir aos valorescobrados a título de anuidade, gratuidade esta que deve perdurar enquanto o consumidor não solicitar o cancelamentodo cartão, por se tratar de contrato diferido.“De qualquer forma, como o parágrafo único do artigo em comento diz que o serviço nãosolicitado é grátis, pelo menos no caso do cartão de crédito, se o consumidor resolver ficar comele, então não estará obrigado a pagar a anuidade normalmente cobrada. E, como o contratode administração do cartão de crédito se renova sempre que o consumidor quiser, a gratuidadese estende para todo o tempo em que ele permanecer com o cartão. A anuidade será sempregratuita”. (RIZZATTO NUNES, Luiz Antônio. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor.São Paulo: Saraiva, 2009, pp. 500/501)

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AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ENVIO DE CARTÃO DE CRÉDITO SEM SOLICITAÇÃO. PRÁTICA ABUSIVA.ART. 39, III, DO CDC. FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. COBRANÇA INDEVIDA DE ANUIDADE.AUSÊNCIA DE NEGATIVAÇÃO DO NOME DO CONSUMIDOR. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO.MERO ABORRECIMENTO. SÚMULA N.º 75 DO TJRJ. PROVIMENTO DO RECURSO (TJRJ, Ap.Cív.2008.001.55527, 7ª Câm. Cív., Rel. Des. André Andrade).CARTÃO DE CRÉDITO. Envio não solicitado. Cobrança indevida de duas faturas correspondentesà anuidade. Solicitação de cancelamento não atendida. Dano moral configurado. Indenizaçãofixada com moderação. Desprovimento do recurso (TJRJ, Ap.Cív. 2007.001.16473, 13ª Câm. Cív.,Rel. Des. Sergio Cavalieri Filho).INDENIZATÓRIA CUMULADA COM DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO. DANOSMORAIS. ENVIO DE CARTÃO DE CRÉDITO SEM SOLICITAÇÃO. POSTERIOR COBRANÇA DEANUIDADE. PRÁTICA ABUSIVA. DEFEITO NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. PRECEDENTESJURISPRUDENCIAIS. DEVER SUCESSIVO DE REPARAR OS PREJUÍZOS SUPORTADOS PELOCONSUMIDOR. REFORMA PARCIAL DA SENTENÇA PARA INCLUIR A CONDENAÇÃO DAINSTITUIÇÃO FINANCEIRA AO PAGAMENTO DE R$ 5.000,00 (CINCO MIL REAIS), ALÉM DOSÔNUS DE SUCUMBÊNCIA. PROVIMENTO DO APELO (TJRJ, Ap.Cív. 2006.001.40875, 17ª Câm. Cív.,Rel. Des. Raul Celso Lins e Silva).Da inexigibilidade de valores referentes à anuidade e da restituição dos valores pagos a este títuloNos casos em que o consumidor não solicita o fornecimento de produto ou serviço, e este ou aquele é fornecido assimmesmo, inexiste obrigação de remuneração por parte do consumidor (artigo 39, III e parágrafo único, CDC), logo, noscasos em que cartão de crédito é enviado sem solicitação ou autorização do destinatário os valores relativos a anuidadesdevem ser considerados inexigíveis.CIVIL E CONSUMIDOR. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. COBRANÇAS DE FATURAS INDEVIDAS EMRAZÃO DO ENVIO DE CARTÃO DE CRÉDITO NÃO SOLICITADO E NÃO UTILIZADO. SENTENÇAQUE JULGOU PROCEDENTE O PEDIDO PARA CONDENAR A RÉ A DEVOLVER AO AUTOR OVALOR PAGO PELA COBRANÇA DAS ANUIDADES, CANCELANDO O SUPOSTO DÉBITO QUETERIA O AUTOR E QUE SEJA PAGO A ELE A TÍTULO DE DANOS MORAIS A QUANTIA DE R$9.000,00. INCONFORMADO, O RÉU RECORREU. INICIALMENTE CUMPRE DESTACAR QUE NÃOCONHEÇO DO AGRAVO RETIDO INTERPOSTO, DIANTE DA AUSÊNCIA DE REQUERIMENTODE APRECIAÇÃO, ASSIM DECIDINDO NOS TERMOS DO PARÁGRAFO PRIMEIRO DO ARTIGO523 DO CPC. NO MÉRITO, O ENVIO DE CARTÃO SEM SOLICITAÇÃO CONFIGURA PRÁTICA

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ABUSIVA, SUBSUMINDO-SE À FIGURA DO ART. 39, III, DO CODECON. COBRANÇAS INDEVIDAS.RESPONSABILIDADE CIVIL DO FORNECEDOR. DANO MORAL IN RE IPSA. QUANTUMINDENIZATÓRIO ADEQUADO E RAZOÁVEL. RECURSO CONHECIDO PARA NEGAR PROVIMENTO(TJRJ, Ap.Cív. 2006.001.51008, 12ª Câm. Cív., Rel. Des. Siro Darlan de Oliveira).Consequentemente, os valores pagos a título de anuidade, por qualquer forma (pagamento através de faturas, débitoautomático etc.), devem ser restituídos ao consumidor em valor equivalente ao dobro, conforme disposto no parágrafoúnico do artigo 42, CDC. Note-se que, a cobrança de anuidade, quando o cartão de crédito não foi solicitado peloconsumidor, não configura engano justificável, visto que ao enviar o cartão sem solicitação livre a instituição bancáriaresponsável tem plena e total, ou pelo menos deveria ter, consciência do disposto no artigo 39, III e parágrafo único,CDC.AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO C/C INDENIZATÓRIA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIADOS PEDIDOS. APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. ENVIO SEM SOLICITAÇÃO DECARTÕES DE CRÉDITO. PRÁTICA ABUSIVA. DANO MORAL CONFIGURADO. COBRANÇASINDEVIDAS DESCONTADAS DA CONTA CORRENTE DO PRIMEIRO APELADO. RESTITUIÇÃO EMDOBRO. MANTENÇA DO DECISUM A QUO. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO (TJRJ, Ap.Cív.2006.001.62396, 14ª Câm. Cív., Rel. Des. Rudi Loewenkron).Rito sumário. Ação de indenização. Danos materiais e morais. Cartão de crédito emitido semsolicitação. Cobrança, pela terceira vez, das faturas através de débitos em conta corrente nãoautorizados. Sentença de procedência determinando a devolução em dobro dos valores debitadosindevidamente da conta do autor, bem como indenização a título de danos morais no valor deR$ 1.000,00 (mil reais). Inconformismo do autor. Dano moral. Majoração. O valor arbitrado nasentença deve ser compatível com a reprovabilidade da conduta ilícita, a intensidade e duraçãodo sofrimento experimentado pela vítima, a capacidade econômica do causador do dano e ascondições sociais do ofendido. Provimento do recurso para majorar a verba indenizatória, a títulode danos morais, para R$ 8.000,00 (oito mil reais) (TJRJ, Ap.Cív. 2008.001.14233, 7ª Câm. Cív., Rel.Desa. Maria Henriqueta Lobo).Da impossibilidade de inclusão do nome do consumidor em cadastro de proteção ao créditoSegundo se viu até o presente momento, o envio de cartão de crédito ao consumidor sem que este o tenha solicitado deforma livre é vedado por lei de ordem pública. O envio, ao arrepio da lei, é sancionado com a gratuidade do produto ouserviço não solicitado, sendo que, com relação ao caso concreto de envio de cartões de crédito a gratuidade se limita àanuidade.

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Conseqüentemente, nestes casos, a inclusão do consumidor em cadastros de proteção ao crédito, em razão do nãopagamento de anuidades, é indevida.De acordo com o artigo 43, § 1º, CDC, “os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros, verdadeirose em linguagem de fácil compreensão”. O dispositivo legal exige, cumulativamente, para que o cadastro possa serconsiderado lícito, quatro pressupostos, dentre eles a veracidade da anotação. Se a cobrança da anuidade é abusiva aanotação por este motivo não é verdadeira, logo é igualmente ilícita.Portanto, aos réus deve ser vedado incluir o nome do consumidor em qualquer tipo de cadastro de proteção ao créditoem razão do não pagamento de anuidades relativas aos cartões de crédito enviados sem solicitação ou autorizaçãolivre.Devem os réus, também, ser compelidos a cancelar qualquer tipo anotação decorrente do não pagamento de anuidadesnos casos de cartões de crédito enviados sem solicitação ou autorização livre do consumidor.Da reparação de danosDe acordo com as regras da responsabilidade civil objetiva prevista no Código de Defesa do Consumidor (artigos 12e 14), cabe ao ofendido demonstrar a presença de três pressupostos para responsabilizar o fornecedor: a) defeito doproduto ou serviço ou “descumprimento do contrato puramente” (ilícito), b) dano e c) o nexo de causalidade entre oprimeiro e o segundo.“A responsabilidade por danos decorre da propagação do vício de qualidade, alcançando oconsumidor e inclusive terceiros, vítimas do evento, e supõe a ocorrência de três pressupostos:a) defeito do produto;b) eventus damni, ec) relação de causalidade entre o defeito e o evento danoso”. (DENARI, Zelmo. Código brasileirode defesa do consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. Rio de Janeiro: ForenseUniversitária, 2005, p. 177)Conforme se verificará adiante, nos casos de envio de cartões de crédito sem solicitação ou autorização livre doconsumidor os pressupostos exigidos para configurar a responsabilidade civil das rés estão sempre presentes, por issodevem ser os réus condenados a indenizar os danos causados aos consumidores cuja origem “primária” encontra-se noenvio do cartão não solicitado ou autorizado.Ressalte-se que, em pelo menos uma das possíveis hipóteses que podem ocorrer com o envio de cartão de créditonão solicitado ou autorizado de forma livre, é imprescindível e pertinente a inversão do ônus da prova a favor doconsumidor.O envio do cartão sem solicitação ou autorização livre configura o defeito do serviço, ou seja, o ato ilícito.Além de cobranças indevidas o envio de cartões de crédito sem solicitação pode causar danos materiais e/ou morais,conforme reconhecido pela jurisprudência.

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RITO ORDINÁRIO. RESPONSABILIDADE CIVIL. ENVIO DE CARTÃO DE CRÉDITO SEM PRÉVIASOLICITAÇÃO. DANOS MORAIS CARACTERIZADOS. A VERBA INDENIZATÓRIA DEVE SERFIXADA EM CONSONÂNCIA COM O PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE E COM AS FUNÇÕESPUNITIVA E COMPENSATÓRIA QUE DEVEM NORTEAR A SUA FIXAÇÃO. PARCIAL PROVIMENTODO RECURSO (TJRJ, Ap.Cív. 2008.001.60456, 5ª Câm. Cív., Rel. Des. Antonio César Siqueira).OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA COM INDENIZATÓRIA. DANOS MORAIS. ENVIO DE CARTÃODE CRÉDITO SEM SOLICITAÇÃO. PROCEDÊNCIA. VERBA REPARATÓRIA FIXADA NO VALOR DE R$6.000,00 (SEIS MIL REAIS). APELO AUTORAL PARA MAJORAR O QUANTUM. VALOR ARBITRADOPELO JUÍZO SINGULAR SE MOSTRA INSUFICIENTE DIANTE DA CAPACIDADE FINANCEIRA DAINSTITUIÇÃO RÉ. ASSISTE RAZÃO AO RECORRENTE. ADOTANDO-SE O CARÁTER PUNITIVO EPEDAGÓGICO, O DANO MORAL DEVERÁ SER MAJORADO PARA A IMPORTÂNCIA DE R$ 10.000,00(DEZ MIL REAIS). POR RAZOÁVEL, MANUTENÇÃO DO QUANTUM HONORÁRIO. PROVIMENTOPARCIAL DO RECURSO (TJRJ, Ap.Cív. 2006.001.55580, 17ª Câm. Cív., Rel. Des. Raul Celso Lins eSilva).Ainda que não tenha havido repercussão outra, além do simples envio não solicitado ou autorizado, deve-se considerarque o destinatário experimentou danos morais, visto que o simples recebimento de um cartão de crédito não solicitado ouautorizado causa interferência negativa no psicológico do indivíduo (apreensão de que poderá ser cobrado indevidamente,etc.), pelo menos nas pessoas médias, comuns.Ademais, classificar como danos morais o simples recebimento de cartão de crédito sem autorização ou solicitação dodestinatário cumpre uma função social, qual seja a de inibir, de forma efetiva, a continuidade desta prática ilícita.Contudo, há casos em uma causa “secundária adequada” (a “originária” é o envio do cartão) para ocorrência de danostambém pode estar presente, causa esta que varia conforme o caso concreto e que influencia na intensidade e extensãodo dano e na regra geral de distribuição do ônus da prova:a) Consumidor recebe um cartão de crédito, sem ter solicitado ou autorizado com a necessária liberdade, e faturascobrando anuidades são enviadas; o mesmo deixa de pagá-las, por legitimamente entender indevidas, e, posteriormente,é surpreendido com a inclusão de seu nome em cadastro de proteção ao crédito. Tais tipos de anotações, por si só,causam danos morais, mas, sendo estas indevidas, como quando seu fundamento reside no não pagamento de anuidadede cartão de crédito fornecido sem solicitação ou autorização do consumidor, o dano moral é indenizável e de granderepercussão e extensão.APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANOS MORAIS. ENVIO DE CARTÃO DE CRÉDITO

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SEM SOLICITAÇÃO, QUE GERARAM COBRANÇA DE ANUIDADE. NEGATIVAÇÃO. FALHA NAPRESTAÇÃO DO SERVIÇO. AUSÊNCIA DE CAUSAS DE EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE.REDUÇÃO DA VERBA INDENIZATÓRIA. 1. Trata-se de relação de consumo, uma vez que a autoraé consumidora por equiparação. Nos termos do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor,o fornecedor de serviços responde independentemente da existência de culpa, pela reparaçãodos danos causados aos consumidores por defeitos relativos a prestação de seus serviços,somente se eximindo do dever de indenizar se provar a ocorrência de uma das excludentes deresponsabilidade: inexistência do defeito; fato exclusivo do consumidor ou de terceiro, ou ofortuito externo, o que não ocorreu. 2. Dano moral arbitrado com exorbitância, e portanto deve serreduzido ao valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). 3. Provimento parcial do recurso (TJRJ, Ap.Cív.2008.001.50101, 6ª Câm. Cív., Rel. Des. Benedicto Abicair).b) Consumidor recebe um cartão de crédito sem ter solicitado ou autorizado com a necessária liberdade e anuidadessão debitadas na conta bancária do consumidor. Em razão disso um cheque do consumidor não é compensado porfalta de provisão em sua conta. Tal fato, por si só, acarreta transtornos e aborrecimentos que configuram danos moraisindenizáveis, mas se torna ainda mais grave quando se encontra acompanhado de anotação no cadastro de emitentesde cheques sem fundos do Banco Central.CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. CARTÃO DE CRÉDITONÃO SOLICITADO. PRÁTICA ABUSIVA. DANO MORAL. Ação indenizatória decorrente de defeitono serviço bancário por enviar cartão de crédito sem solicitação da consumidora e debitar o valorda anuidade na conta corrente. Existe falha na prestação de serviço da instituição financeira queemite cartão de crédito em favor da cliente sem prévio pedido e debita da conta corrente o valorda anuidade. A reparação por danos morais considera a capacidade das partes, as condições doevento, e suas conseqüências. Quantia fixada na sentença com modicidade, tendo em vista agrave falha na prestação do serviço. Primeiro recurso desprovido, provido em parte o segundoapelo (TJRJ, Ap.Cív. 2007.001.67040, 17ª Câm. Cív., Rel. Des. Henrique de Andrade Figueira).Ação indenizatória por dano material e moral. Cartão de crédito enviado pelo banco sem solicitaçãoda correntista. Cobrança de valores na conta-corrente da consumidora, sem sua autorização, pormeio de débito automático, ensejando a devolução de seu cheque com inscrição no Cadastro deCheques sem Fundos. Ilegitimidade da conduta da instituição bancária. Defeito na prestação doserviço. Não caracterização de causa excludente de responsabilidade. Dever de reparação do dano

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moral que se opera ‘in re ipsa’. Verba reparatória arbitrada segundo os critérios de razoabilidadee de proporcionalidade. Recurso a que se nega seguimento, com fulcro no artigo 557 do Códigode Processo Civil, por manifesta improcedência (TJRJ, Ap.Cív. 2008.001.48516, 7ª Câm. Cív., Rel.Desa. Maria Henriqueta Lobo).c) Cartão de crédito é enviado ao consumidor sem solicitação ou autorização livre e sem conhecimento dele. É extraviadoe acaba vindo a cair em mãos de terceiro que o utiliza. Tal fato, por si só, acarreta transtornos e aborrecimentos aoconsumidor que configuram danos morais indenizáveis, mas pode se tornar ainda mais grave quando acompanhado dedébitos em conta bancária dos valores utilizados fraudulentamente ou de anotação em cadastro de proteção ao créditopor não pagamento de faturas que contenham os valores utilizados de forma fraudulenta, seja porque o consumidorentendeu legitimamente serem indevidas, seja porque este não tinha condição financeira para quitá-las.APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. ENVIO DE CARTÃO DE CRÉDITO SEM SOLICITAÇÃOE PARA ENDEREÇO ERRADO. DESBLOQUEIO E ULTILIZAÇÃO DO CARTÃO POR TERCEIRAPESSOA. SOLICITAÇÃO DE CANCELAMENTO DO CARTÃO E DAS DESPESAS NÃORECONHECIDAS, ATENDIDA PRONTAMENTE PELO BANCO. AINDA QUE TAIS DÉBITOS TENHAMSIDO RECONSIDERADOS PELO BANCO RÉU É INEGÁVEL QUE O FATO GERA INSTABILIDADEEMOCIONAL EM PESSOAS QUE SE PREOCUPAM COM O CUMPRIMENTO DE SUAS OBRIGAÇÕESE, AINDA, MACULOU A CONFIANÇA, FUNDAMENTAL NA RELAÇÃO DE CONSUMO DESTAESPÉCIE. PRESENTE TODOS OS REQUISITOS QUE ENSEJAM A RESPONSABILIDADE CIVIL DOAPELADO. DANO MORAL QUE DEVE SER FIXADO COM MODERAÇÃO. R$ 3.000,00. RECURSOCONHECIDO E PROVIDO (TJRJ, Ap.Cív. 2007.001.51044, 6ª Câm. Cív., Rel. Des. Gilberto Rego).APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA PELO RITO SUMÁRIO. DANOS MORAIS. ENVIO DECARTÃO DE CRÉDITO AO ANTIGO ENDEREÇO DA AUTORA SEM SOLICITAÇÃO. UTILIZAÇÃOPOR TERCEIROS. DEFEITO NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. FORTUITO INTERNO. AUSÊNCIA DECAUSAS DE EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE. 1. A remessa de cartão de crédito ao antigoendereço da autora, pelo fato de terceiro se utilizar de seus dados, com a conseqüente inclusão deseu nome em cadastros restritivos, configura defeito na prestação de serviço, o qual, segundo o art.14 da Lei 8078/90, obriga o fornecedor a reparar os danos de forma objetiva, ou seja, independentede culpa. 2. Em sede de responsabilidade objetiva, o consumidor só precisa demonstrar o dano eo nexo causal. O dever de indenizar só pode ser afastado mediante prova concreta e cabal do ato

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exclusivo da vítima, de terceiro, ou se caso fortuito ou força maior. 3. In casu, a responsabilidadeda instituição ré não restou excluída, uma vez que a mesma não conseguiu fazer prova de quea autora contratou seus serviços. Muito pelo contrário, a ré envia correspondência ao antigoendereço da autora, noticiando a possibilidade de fraude. 4. Não obstante, o ato delituoso deterceiro, que se utiliza dos dados de outra pessoa para requerer cartão de crédito, não constituiato de terceiro, passível de constituir hipótese excludente de responsabilidade civil, na formado art. 14, § 3º do CDC, uma vez que constitui fortuito interno. 5. Dano moral, contudo, que deveser reduzido ao patamar de R$ 8.000,00 (oito mil reais), consoante entendimento do colegiado. 6.Provimento parcial do recurso (TJRJ, Ap.Cív. 2007.001.00765, 15ª Câm. Cív., Rel. Des. BenedictoAbicair).RESPONSABILIDADE CIVIL. ENVIO DE CARTÃO DE CRÉDITO SEM SOLICITAÇÃO DO CORRENTISTA.CARTÃO QUE, EXTRAVIADO, FOI UTILIZADO EM DIVERSAS COMPRAS. CONSUMIDOR QUE TEMDIREITO À RESTITUIÇÃO, EM DOBRO, DOS VALORES PAGOS INDEVIDAMENTE. DEVOLUÇÃOESPONTÂNEA DO RÉU, QUE NÃO ILIDE O PAGAMENTO DA SANÇÃO PREVISTA NO ART. 42PARÁGRAFO ÚNICO DO CDC. DANOS MORAIS IN RE IPSA. INDENIZAÇÃO FIXADA EM R$ 7.000,00QUE BEM OBSERVOU O PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. RECURSO IMPROVIDO (TJRJ, Ap.Cív.2005.001.38053, 12ª Câm. Cív., Rel. Des. Gamaliel Q. de Souza).AÇÃO DE RESPONSABILIDADE CIVIL. ENVIO DE CARTÃO DE CRÉDITO SEM SOLICITAÇÃO.UTILIZAÇÃO POR TERCEIROS. RESPONSABILIDADE DA RÉ. RISCO DO EMPREENDIMENTO.CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. FORTUITO INTERNO. INEXISTÊNCIA DE CAUSAS DEEXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE. DANOS MATERIAIS. DEVOLUÇÃO EM DOBRO DOSVALORES INDEVIDAMENTE COBRADOS E QUITADOS, NOS TERMOS DO ART. 42, PARÁGRAFOÚNICO DO CDC. DANOS MORAIS. REDUÇÃO DO QUANTUM A FIM DE ATENDER OS PRINCÍPIOSNORTEADORES DO TEMA. PARCIAL PROVIMENTO DO RECURSO (TJRJ, Ap.Cív. 2005.001.39694,7ª Câm. Cív., Rel. Des. Helda Lima Meireles).CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. REMESSA A CLIENTE DE CARTÃO DE CRÉDITONÃO SOLICITADO. DEVOLUÇÃO. EXTRAVIO. UTILIZAÇÃO POR TERCEIROS. INSCRIÇÃORESTRITIVA EM ÓRGÃOS CADASTRAIS DE CRÉDITO. DANO MORAL. LEGITIMIDADE PASSIVAE RESPONSABILIDADE DO BANCO PELO ILÍCITO. INFRINGÊNCIA AO ART. 39, III, DO CDC.LEGITIMIDADE PASSIVA CONFIRMADA. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA NÃO CONFIGURADA.JUROS DE MORA. CONDENAÇÃO EM SENTENÇA. PRECLUSÃO. CPC, ART. 530. INEXISTÊNCIADE VIOLAÇÃO.

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I. O banco é parte legitimada passivamente e comete ato ilícito, previsto no art. 39, inciso III, da Lein. 8.078/90, quando, fornecendo ao cliente cartão de crédito por ele não solicitado, dá-se ulteriorextravio e indevida utilização por terceiro, gerando inadimplência fictícia e inscrição do nome doconsumidor em cadastros restritivos de crédito, causadora de dano moral indenizável.II. Dada a multiplicidade de hipóteses em que cabível a indenização por dano moral, aliada àdificuldade na mensuração do valor do ressarcimento, tem-se que a postulação contida na exordialse faz em caráter meramente estimativo, não podendo ser tomada como pedido certo para efeitode fixação de sucumbência recíproca, na hipótese de a ação vir a ser julgada procedente emmontante inferior ao assinalado na peça inicial. Precedentes do STJ.III. Não se configura ofensa ao art. 530 do CPC, se o acórdão dos embargos infringentes, aose referir aos juros moratórios, apenas repetiu a decisão proferida monocraticamente nosaclaratórios, que os inseriu na condenação, sem oposição do réu, restando preclusa a matéria.IV. Recursos especiais não conhecidos (STJ, REsp. 514358/MG, 4ª Turma., Rel. Min. AldirPassarinho, j. 16/03/2004).Inversão do ônus da provaPara a hipótese de extravio de cartão de crédito, enviado sem solicitação ou autorização livre do consumidor e utilizadopor terceiros, além da inversão do ônus da prova a favor do consumidor para que os réus provem que o cartão foisolicitado ou autorizado de forma livre, deve ser invertido o ônus da prova para que os réus provem que o cartão foiefetivamente recebido e desbloqueado pelo consumidor, visto que, assim como na primeira hipótese de inversão doônus da prova, presentes os pressupostos necessários exigidos pelo artigo 6º, VIII, CDC: a verossimilhança de quecartões de crédito enviados são extraviados, ou seja, de que os serviços de entregas deste tipo de objeto (pelo correioou similar) não são infalíveis, pode ser atestada pela experiência comum; a prova plena de que o cartão não foi recebido,especialmente quando o consumidor sequer imagina ser destinatário de um destes, é impossível, ou no mínimo dificílima,de ser produzida (hipossuficiencia).Da antecipação de tutelaApesar de o envio de cartões de crédito sem solicitação ou autorização livre do consumidor se tratar de prática usualengendrada há muito tempo, se mostra urgente, nestes casos, a concessão de medida antecipatória, no sentido detornar inexigíveis os valores cobrados a título de anuidade e proibida a inclusão do nome do consumidor em cadastrosde proteção ao crédito quando estes valores (a título de anuidade) são cobrados e não pagos.A verossimilhança da alegação de que cartões de crédito são enviados aos consumidores sem que estes tenhamsolicitado ou autorizado de forma livre pode ser atestada pela experiência comum, segundo já visto quando abordada a

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questão da responsabilidade civil.A prática de exigir o pagamento de valores a título de anuidades pelo fornecimento de cartão de crédito não solicitadoou autorizado de forma livre pelo consumidor atinge uma grande camada da população. O que se pretende através dapresente demanda encontra fundamento adequado e indiscutível.A medida, por outro lado, não é capaz de causar danos irreversíveis aos réus, pelo menos danos injustos, tendo em vistaque, uma vez cassada, as eventuais perdas poderão facilmente ser recuperadas. Ainda que se afirme tratar-se de danosirreparáveis, estes, vale repetir, não serão injustos.Dispõe o parágrafo 3º do artigo 84 do CDC que, “sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificadoreceio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citadoo réu”.O dispositivo supramencionado cuida da concessão de tutela liminar para garantir a total satisfação do direito doconsumidor nos casos em que a espera pelo provimento final da demanda interfere de forma negativa.Trata-se, portanto, de verdadeira antecipação de tutela, logo, deve o dispositivo ora em comento ser interpretado emharmonia com o artigo 273 do Código de Processo Civil, que trata do assunto de forma geral.O artigo 273 do CPC exige, para que seja concedida a antecipação parcial ou total da tutela pretendida, que exista provainequívoca que convença o juiz sobre a verossimilhança das alegações do autor, e que “haja fundado receio de danoirreparável ou de difícil reparação”. A antecipação da tutela não será concedida caso exista “perigo” de irreversibilidadedo provimento antecipado.A doutrina já se manifestou sobre a contradição existente nas expressões “prova inequívoca” e “que convença daverossimilhança da alegação”, contidas no artigo 273 do CPC, concluindo que, havendo uma prova inequívoca haverácerteza, e não simples verossimilhança, cujo real significado é parecer ser verdadeiro o alegado, logo, a melhorinterpretação para o dispositivo é haver probabilidade da existência do direito alegado, para que possa ser concedida aantecipação da tutela.“O artigo 273 condiciona a antecipação da tutela à existência de prova inequívoca suficientepara que o juiz se convença da verossimilhança da alegação. A dar peso ao sentido literaldo texto, seria difícil interpretá-lo satisfatoriamente porque prova inequívoca é prova tãorobusta que não permite equívocos ou dúvidas, infundindo no espírito do juiz o sentimentode certeza e não mera verossimilhança. Convencer-se da verossimilhança, ao contrário,não poderia significar mais do que imbuir-se do sentimento de que a realidade fática podeser como a descreve o autor.Aproximadas as duas locuções formalmente contraditórias contidas no artigo 273 doCódigo de Processo Civil (prova inequívoca e convencer-se da verossimilhança), chega-se

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ao conceito de probabilidade, portador de maior segurança do que a mera verossimilhança”.(DINAMARCO, Cândido Rangel. A reforma do Código de Processo Civil, 2ª edição, SãoPaulo 1995, ed. Malheiros, pp.143)Portanto, para que a antecipação de tutela possa ser concedida é necessário que: haja prova (ou mesmo indícios)demonstrando que há probabilidade de serem verdadeiras as alegações do autor da demanda, e o fundado receio dedano irreparável ou de difícil reparação.Inegável a presença dos pressupostos e requisitos para a concessão da medida liminar.DOS PEDIDOSPor todo o exposto, requer:01) A citação dos réus, via mandado próprio, para, querendo, contestarem a presente;02) a inversão do ônus da prova, na forma do artigo 6º, VIII, CDC, para que os réus comprovem que o envio decartão de crédito, nas demandas individuais baseadas nesta, ocorreu por solicitação ou autorização livre doconsumidor, sob pena de ser considerado não solicitado ou autorizado;03) sejam os réus proibidos de cobrar aos consumidores, nos casos de envio de cartão de crédito sem solicitaçãoou autorização comprovadamente livre destes, qualquer valor a título de anuidade do cartão, e, nos casos emque os consumidores tenham optado por não pagar valores cobrados sob esta rubrica, sejam os réus proibidosde incluir e manter estes consumidores em qualquer tipo de cadastro de proteção ao crédito;04) a concessão de medida liminar em relação ao pedido anterior;05) a fixação de multa diária para assegurar o cumprimento da medida liminar caso seja concedida;06) sejam os réus condenados a restituir, em dobro, valores pagos pelos consumidores a título de anuidade decartões de crédito enviados sem solicitação ou autorização livre;07) sejam os réus condenados a reparar todos os danos causados aos consumidores pelo envio de cartões decrédito sem solicitação ou autorização do consumidor, considerando que o simples recebimento já configuradanos morais indenizáveis, e, no caso em que os danos tiverem origem também no extravio (além do envio nãosolicitado ou autorizado), a inversão ope judicis do ônus da prova para que os réus comprovem que o cartão foiefetivamente recebido pelo consumidor;08) a condenação dos réus na obrigação de publicar, às suas custas, em dois jornais de grande circulação destaCapital, em quatro dias intercalados, sem exclusão do domingo, em tamanho mínimo de 20 cm x 20 cm, a parte

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dispositiva de eventual sentença de procedência, para que os consumidores dela tomem ciência, oportunizando,assim, a efetiva proteção de direitos lesados;09) a intimação do Ministério Público;10) a condenação dos réus no pagamento dos ônus sucumbenciais.Protesta por todos os meios de prova admitidos. Dá-se à causa o valor de R$ 27.900,00 (vinte e sete mil e novecentosreais).Rio de Janeiro, 02 de abril de 2009.PAULO GIRÃO BARROSOOAB/RJ N. 107.255RODRIGO RIBEIRO THAUMATURGO CORRÊAOAB/RJ N. 130.284