academia assinala os seus 125 anos exigindo futui bem melhor...a associação académica de coimbra,...
TRANSCRIPT
Academia assinala os seus125 anos exigindoum futui o bem melhorAssoe iacão Académica de Coimbra festeia hoie a sua rica hisória mas não esquece os problemas de hoie, nomeadamente
) sub-financiamento do ensino superior e essencialmente amuitas carências por que passam os estudantes
Andrea Trindade
e João Henriques
O dia de hoje é de festa pelos
125 anos da Associação Aca-
démica de Coimbra, a maior e
mais antiga associação de es-tudantes do país. A Direcção--Geral quer lembrar a história
e o prestígio da instituiçãocom um espectáculo no Tea-
tro Académico de Gil Vicente
(TAGV), mas deixa uma men-
sagem clara de oposição ao
rumo escolhido para o país.
Ricardo Morgado diz que«este não é o caminho que in-
teressa a Portugal».«Precisamos de mais licen-
ciados e com qualidade, de
mais gente no ensino superior,
pessoas qualificadas que criem
novos postos de trabalho. E
esse não é o caminho estraté-
gico que está a ser seguido»,disse ontem ao Diário de
Coimbra, apontando o dedo ao
«sub-financiamento que está
a pôr em causa a qualidade e a
sustentabilidade do ensino su-
perior».
OpresidentedaDG/AACcon-siderou que os cortes previstos
no novo Orçamento de Estado
fazem antever «um futuro ne-
gro». «Como associação aca-
démica, preocupa-nos sobre-
tudo aqueles que representa-
mos, os estudantes», acrescen-
tou, revelando que são cada
vez maiores os problemas eco-
nómicos das famílias e que a
capacidade de apoio dos ser-
viços sociais aos estudantes
tem sido reduzida
De acordo com Ricardo Mor-
gado, não só o abandono doensino superior é uma reali->
dade presente como os estu-
dantes que concluem os seus
estudos se deparam com «um
leque cada vez mais reduzidode oportunidades de emprego»ou têm de o procurar no es-
trangeiro. «Apesar do mo-mento ser de festa, não pode-mos esquecer o papel impor-tante e vital que temos no quese refere à definição destas po-líticas», declarou, lembrando
acções de contestação previs-tas para o próximo dia 14.
Com 125 anos de actividade,atravessando quatro regimesdesde a fundação (MonarquiaConstitucional, I República, di-tadura do Estado Novo e de-mocracia instaurada no 25 de
Abril), aAssociação Académica
continua, nas palavras de Ri-cardo Morgado, «a ser o ver-dadeiro pólo dinamizador de
i Coimbra, no que toca à sua co-
m unidade estudantil».
«Conhecida por ser a maior,a mais antiga e mais presti-j^ada associação de estudan-
-1 es do país, esteve presentei ios momentos mais marcan-tes de Portugal», realça a AAC
numa nota de imprensa. Acrise académica de 1969, pro-tagonizada pelos estudantesde Coimbra, é um dos exem-
plos mais marcantes dessa
presença Foi um dos aconte-cimentos que abalou a dita-( lura, durante a chamada "Pri-
inaveraMarcelista", tendo con-tribuído para o derribe do re-
£ ;ime fascista em 1974.
Entre outros dirigentes da
í cademia, destacou-se o então
presidente da AAC, Alberto
Martins, que foi ministro da
Justiça nos governos de José
Sócrates. Ao longo dos anos,r mitos foram os dirigentes da
Associação Académica de( bimbra que atingiram relevo
F olítico e social, ocupando car-
g os públicos distintos. 4
Coimbra
Diferença e ousadia ?
As comemorações dos 125 anos da AAC têm como lema "125 anos
de diferença e ousadia". O Diário de Coimbra falou com 12 antigos
presidentes da AAC a quem perguntou se a Academia de Coimbra
continua a ser diferente e ousada
Carlos FraiãoDireito/FDUCPresidente em 1971
«Acho que a Academia de
Coimbra é necessariamente
ousada e continua a ser. A
Associação Académica de
Coimbra é composta por jovens e a juventude
é, por natureza, ousada e não se conforma A
juventude não se acomoda, é sempre rebelde,
irreverente. A Associação Académica de Coim-
bra tem continuado a ter papel destacadíssimo
na luta dos estudantes. Nesta altura, colocam-
-se desafios novos aos estudantes e ao país. Os
estudantes de Coimbra continuam a caracteri-
zar-se pela imaginação e criatividade. Cada
Academia tem a sua identidade própria, mas
Coimbra tem a sua, que é muito marcante». 4
Maló de AbreuMedicina/FMUCPresidente em 1979
«Acho que sim. Ao longo dos
anos, com maior ou menor
intensidade, a Academia de
Coimbra tem sido sempre ir-
reverente e ousada Há momentos em que
essa acção é mais marcada: no meu ano à
frente da Direcção-Geral da Associação Acade
mica de Coimbra, em 1979, foi o retomar das
tradições académicas que estiveram interrom
pidas durante 11 anos e, em termos políticos, a
democratização das escolas. A Academia de
Coimbra é sempre uma Academia de espírito
livre e crítico e com certeza não vai perder a ii
reverência que é própria da juventude e que
faz com que o país também avance». 4
Ricardo Morgado não esquece, neste momento de festa, os alunos que têm de abandonar os bancos (f;faculdade por falta de condições financeiras
Luís Pais de SousaDireito/FDUCPresidente em 1981
«Estando a Associação Aca-
démica de Coimbra a come-
morar os seus 125 anos, de
repente parece que percor-remos no tempo várias gerações (ciclos), por-ventura únicas do associativismo português.
Subitamente vem-nos à memória António
Luís Gomes, a Tomada da Bastilha, a crise
académica de 1969 e o período pós-25 de
Abril. A meu ver, da cultura ao desporto, a As-
sociação Académica de Coimbra constitui
uma associação única no pais. tspaço ue ue-
bate, "escola da vida", a Associação Académica
de Coimbra merece que lhe prestemos home-
nagem nos 125 anos, de papel insubstituível na
formação de homens e mulheres livres e con-
sequentemente na criação da democracia
em PortuealM
Luís ParreirãoDireito/FDUCPresidente em 1983
«Como cidadão e não como
antigo presidente da AAC,
considero que Coimbra, a
sua Universidade e a sua
Academia continuam a ser diferentes. A Acade-
mia de Coimbra continua, apesar de tudo, a ter
mais ousadia do que o resto da cidade, é muito
diferente das outras na forma como agregatodos os estudantes e nas marcas que deixa
toda a vida E continua ousada de acordo com
o que são as preocupações actuais. Temos a
imagem de uma Academia que contestou o re-
gime, mas hoje não é isso que está em causa. A
Associação Académica de Coimbra e a própriaUniversidade continuam a ter um papel lide-
rante na discussão do que é o país e do mo-
mento que atravessa». 4
Benjamim LousadaMedicina/FMUCPresidente em 1987
«Diferente é sempre, no as-
pecto associativo, nas ver-
tentes cultural, social e
desportiva que mantém e
também nas suas tradições académicas
e na praxe. Ousada acho que já não é.
É igual a todas as outras, não vejo muita
ousadia num momento como este, que
justificava uma certa rebeldia, no bom sen-
tido. A direcção vive mais de uma festa
que se chama Queima das Fitas do quede uma atitude reivindicativa dos direitos
dos estudantes no que respeita a currículos,
bolsas, aos serviços sociais, à salvaguardadas repúblicas, por exemplo, que a nova
lei dos arrendamentos coloca em risco de de
saparecer. Há um longo historial de reivindi-
cação - que por vezes tem de ser exaltada -que se está a perder, a Academia está apática
É, aliás, um mal geral, que afecta outras
academias». <
José Manuel ViegasEngenharia Ch/il/FCTUCPresidente em 1989
«A Associação Académica de
Coimbra sempre se pautou
por ser diferente e ousada.
Sempre esteve na vanguardados movimentos estudantis e sempre marcou,do ponto de vista político e social, a cidade e o
país. Sempre foi um marco do desenvolvi-
mento e da ousadia do movimento estudantil.A Associação Académica de Coimbra tem
dupla função: formar, não só do ponto de vista
intelectual, como do ponto de vista social, in-cutindo conceitos de solidariedade, mas tam-oém uma visão genérica da vida». 4
Emídio GuerreiroPsicologia/FPCEUCPresidente em 1990
«Penso que sim, que conti-
nua a ser diferente das outr
academias.AUniversidade|de Coimbra é conhecida pelasua dupla formação, a dos bancos da escola e ada vida académica, duas aprendizagens quenos preparam para ser melhores profissionais.
Associação Académica em Portugal continua aser uma: a de Coimbra Nas funções que de-
sempenho como deputado, é com muito pra-zer que constato a liderança da AssociaçãoAcadémica de Coimbra ao longo dos anos e oreconhecimento institucional que o país lhe dá,
por serem quem são, pelo que fazem. As insti-
tuições do país continuam a ter a Academia de
Coimbra como uma voz de referência». í
António SilvaGestão/FEUCPresidente entre Marçode 1997 e Janeiro de 1999
«A Academia de Coimbra é
ímpar. A diferença e a ousa-dia são atributos inatos à
própria Academia, mas estes têm de se mate-
rializar, com uma irreverência construtiva quevisa sempre a defesa de valores e princípiosmais elevados, sociais, culturais, desportivos e
humanos, mas valores políticos também.Como fiel depositária de um conjunto de valo-res e princípios,a Academia de Coimbra temmaior responsabilidade de materializar essa di-
ferença, ser escola de virtude e rigor e leme defuturas gerações. No período difícil que atra-
vessamos, a afirmação desses valores, a solida-riedade e a defesa dos mais fracos e oprimidosda sociedade tomam-se ainda mais
importantes». 4
Humberto MartinsCiências
Farmacêuticas/FFUCPresidente em 2OQO e 2001
«O código genético da As :
sociação Académica de
Coimbra tem essas características e, ao longodos anos, cada geração de estudantes encon-trou o momento e as causas para as afirmar,no fundo para lutar por causas em que acre-ditam. Seguramente que sim, que a Academiade Coimbra continua a ser diferentee ousada». <
vnor nugo aaigaaoDireito/FDUCPresidente
em 2002 e 2003
«A Academia continua a ser
diferente e ousada, adap-tando-se à realidade de
cada momento que vive ao longo da sua
história, variando na forma de acção e contes-
tação. Vi na comunicação social que a
actual Direcção-Geral vai encetar dentro de
pouco tempo algumas acções de contestação,continua a ter expressão contestatáriade relevo nacional. Contudo, a vida associa-tiva em Coimbra e em todo o país,
quer na Direcção-Geral quer nas própriassecções, tem sofrido com o processo de Bolo-nha, que impôs novos critérios de avaliação e
limitou o tempo que os estudantes tinham
para o associativismo. Acho que a
Associação Académica de Coimbracontinua viva e esteve de forma exemplarna acção que fez durante õ jogo da Taça de
Portugal, onde a Académica se sagrouvencedora», i
André OliveiraEconomia/FEUCPresidente
em 2008
«Eu penso que sim. A Asso-
ciação Académica de
Coimbra, como todas as
outras associações, tem uma vertente cultu-ral desportiva, política e interventiva e é
nelas que tem vindo a afirmar a sua dife-
rença ao longo dos anos. Continua, ano apósano, a mostrar a sua ousadia e irreverência,
sempre em prol dos estudantes e dos seus
interesses. Ao fim de 125 anos a sua matrizidentitária mantém-se». 4
Miguel PortugalGestão/FEUCPresidente
em 2010
«Considero, claramente, quea Associação Académica de
Coimbra, não estando ape-nas assente no seu passado, continuaa ser irreverente e sabe defender os interessesdos seus estudantes e da cidade de
que é parte integrante. O lema das
comemorações dos 125 anos demonstra
confiança para o futuro. Os tempos mudam e
a Associação Académica de Coimbra soube
adaptar-se aos novos tempos e mentalidades,é importante realçar e fazer esta
comemoração». 4