abrahão - 2009 - o método autobiográfico como produtor de sentidos a invenção de si

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Revista Actualidades Pedagógicas N.˚ 54 / Julio - diciembre 2009 13 O método autobiográfico como produtor de sentidos: a invenção de si 1 Maria Helena Menna Barreto Abrahão * Recibido: julio 1 de 2009 Aceptado: septiembre 25 de 2009 Resumo O texto trata das reconstruções de sentido que o professor estabelece ao narrar sua formação e atuação no magistério e os diferentes modos pelos quais são “afetados” pelo convívio no ambiente escolar pela cultura e relações de toda a ordem que perpassam as intenções e as ações nesse meio, atravessadas pelas relações mais amplas que se verificam no macro-contexto. São apresentadas considerações sobre achados de pesquisa que vimos realizando com Histórias de Vida de 36 educadores rio-grandenses, que tiveram formação e atuação ao longo do século XX. A história desses educadores é rica de experiências ressignificadas, especialmente, no momento das narrativas. Um esforço de meta-leitura do material de análise nos permitiu trabalhar com a tríplice dimensão da narrativa, como: fenômeno; método de investigação; processo de ressignificação do vivido, de forma articulada com a perspectiva tridimensional do tempo narrado. Palavras-chave: pesquisa (auto)biográfica, histórias de vida, narrativas, vidas de educadores. Resumen El texto trata de las reconstrucciones de sentido que el profesor establece al narrar su formación y actuación en el magisterio y los diferentes modos por los cuales son “afectados” por la convivencia en el ambiente escolar, por la cultura y las relaciones de todo orden que sobrepasan las intenciones y acciones en ese medio, atravesadas por las relaciones más amplias que se verifican en el macrocontexto. Se presentan consideraciones sobre resultados de investigación que venimos realizando con Historias de Vida de 36 educadores de Río Grande, que tuvieron formación y actuación a lo largo del siglo XX. La historia de esos educadores es rica en experiencias re-significadas, especialmente, al momento de las narrativas. Un esfuerzo de metalectura del material de análisis nos permitió trabajar con la triple dimensión de la narrativa como: fenómeno; método de investigación; proceso de resignificación de lo vivido, de forma articulada con la perspectiva tridimensional del tiempo narrado. Palabras clave: investigación (auto)biográfica, historias de vida, narrativas, vidas de educadores. 1 Alguns dos conceitos revisados para o presente texto já foram trabalhados em texto anterior (Abrahão, 2008A). * Brasileña. Pesquisadora 1CNPq. Professora titular na PUCRS, atuando na Graduação e no Programa de Pós-graduação dessa universidade. Correo electrónico: maria- [email protected]. Idealizadora e presidente do I Congresso Internacional sobre Pesquisa (Auto)biográfica – I CIPA, realizado de 08 a 11 de setembro de 2004, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, PUCRS.

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Artigo sobre a utilização do método autobiográfico.

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  • Revista Actualidades Pedaggicas N. 54 / Julio - diciembre 2009

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    O mtodo autobiogrfico como produtor de sentidos: a inveno de si1

    Maria Helena Menna Barreto Abraho*

    Recibido: julio 1 de 2009

    Aceptado: septiembre 25 de 2009

    Resumo

    O texto trata das reconstrues de sentido que o professor estabelece ao narrar sua formao e atuao no magistrio e os

    diferentes modos pelos quais so afetados pelo convvio no ambiente escolar pela cultura e relaes de toda a ordem que

    perpassam as intenes e as aes nesse meio, atravessadas pelas relaes mais amplas que se verificam no macro-contexto.

    So apresentadas consideraes sobre achados de pesquisa que vimos realizando com Histrias de Vida de 36 educadores

    rio-grandenses, que tiveram formao e atuao ao longo do sculo XX. A histria desses educadores rica de experincias

    ressignificadas, especialmente, no momento das narrativas. Um esforo de meta-leitura do material de anlise nos permitiu

    trabalhar com a trplice dimenso da narrativa, como: fenmeno; mtodo de investigao; processo de ressignificao do

    vivido, de forma articulada com a perspectiva tridimensional do tempo narrado.

    Palavras-chave: pesquisa (auto)biogrfica, histrias de vida, narrativas, vidas de educadores.

    Resumen

    El texto trata de las reconstrucciones de sentido que el profesor establece al narrar su formacin y actuacin en el magisterio

    y los diferentes modos por los cuales son afectados por la convivencia en el ambiente escolar, por la cultura y las relaciones

    de todo orden que sobrepasan las intenciones y acciones en ese medio, atravesadas por las relaciones ms amplias que se

    verifican en el macrocontexto. Se presentan consideraciones sobre resultados de investigacin que venimos realizando con

    Historias de Vida de 36 educadores de Ro Grande, que tuvieron formacin y actuacin a lo largo del siglo XX. La historia

    de esos educadores es rica en experiencias re-significadas, especialmente, al momento de las narrativas. Un esfuerzo de

    metalectura del material de anlisis nos permiti trabajar con la triple dimensin de la narrativa como: fenmeno; mtodo

    de investigacin; proceso de resignificacin de lo vivido, de forma articulada con la perspectiva tridimensional del tiempo

    narrado.

    Palabras clave: investigacin (auto)biogrfica, historias de vida, narrativas, vidas de educadores.

    1 Alguns dos conceitos revisados para o presente texto j foram trabalhados em texto anterior (Abraho, 2008A).

    * Brasilea. Pesquisadora 1CNPq. Professora titular na PUCRS, atuando na Graduao e no Programa de Ps-graduao dessa universidade. Correo electrnico: [email protected].

    Idealizadora e presidente do I Congresso Internacional sobre Pesquisa (Auto)biogrfica I CIPA, realizado de 08 a 11 de setembro de 2004, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, na Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul, PUCRS.

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    A NARRAtivA cOMO FeNMeNO (O AtO de NARRAR-Se)

    A narrativa (auto)biogrfica contm a totalidade de uma

    experincia de vida que comunicada ao investigador, no

    sem que, no justo momento da narrao, se ressignifique o

    (os) acontecimento (s) narrado (s). Isto porque a narrativa

    em pesquisa (auto)biogrfica representa um momento de

    maior imbricao entre personagem e pesquisador (Moita,

    1995), em virtude de que aquele no est contando sua vida

    para um gravador ou relatando-a em um dirio ntimo, mas

    a est re-elaborando, justo na interao que se d entre dois

    sujeitos histricos. Por meio da narrativa, as pessoas recor-

    dam de fatos ocorridos, os selecionam, os escalonam em

    uma seqncia e vislumbram os relacionamentos de toda a

    ordem de acontecimentos que constroem a vida individual

    e social (Jovchelovitch & Bauer, 2002).

    Narrar a sua histria de vida a outrem significa revelar

    o sentido da sua vida, desde que, conforme Alarco (2004,

    p. 9): Ao ato de narrar subjaz uma atitude e uma capacida-

    de de observar e de interpretar fenmenos e acontecimentos

    inseridos nos contextos da sua ocorrncia e nas suas relaes

    espaciais e temporais, j que as narrativas reportam a

    acontecimentos, descrevem os contextos de ocorrncia,

    combinam, articulam e associam elementos que entrelaam

    em funo de fio condutor que lhe atribui coerncia (idem,

    p.12).

    Jovchelovitch & Bauer (2002, p. 110) nos apresentam

    algumas caractersticas das narrativas em relao com a rea-

    lidade propriamente dita e a representao dessa realidade:

    A narrativa privilegia a realidade do que experienciado

    pelo sujeito da narrao: a realidade de uma narrativa de

    vida refere-se ao que real para ele.

    Assim, narrativas no copiam a realidade do mundo

    fora delas: elas propem representaes/interpretaes

    particulares do mundo. As narrativas no esto abertas

    comprovao e no podem ser simplesmente julgadas como

    verdadeiras ou falsas: elas expressam a verdade de um ponto

    de vista, de uma situao especfica no tempo e no espao.

    Por esta razo, as narrativas de vida esto sempre inseri-

    das no contexto scio-histrico. Uma voz especfica em uma

    narrativa somente pode ser compreendida em relao a esse

    sistema de referentes.

    Tambm Bolvar et al. (2001) nos trazem caractersti-

    cas das narrativas das quais se destacam: a) temporalida-

    de e narrao formam um todo: o tempo constituinte do

    significado; b) as narrativas individuais e as culturais esto

    inter-relacionadas.

    A experincia humana, pessoal/social, tem uma na-

    tureza temporal cujo carter apresentar-se articulado pela

    narrativa, em especial quando clarifica a dualidade tem-

    po cronolgico/tempo fenomenolgico. A correlao

    tempo e narrativa em Paul Ricoeur apresenta-se em trplice

    dimenso em que o presente, o passado e a expectativa do

    futuro se imbricam (Ricoeur, 1995). A perspectiva tridimen-

    sional do tempo narrado, tambm se apresenta no tempo

    pensado/vivenciado, com as ambigidades e, mesmo, con-

    tradies no seio dessas trs instncias, passado, presente,

    futuro.

    Na pesquisa, j mencionada, podemos verificar os ele-

    mentos tericos at ento trazidos sobre o fenmeno de

    narrar-se. Cumpre, antes, destacar que trabalhamos cons-

    cientes de que o ato narrativo se estriba na memria2 do

    narrador e que a significao que o narrador deu ao fato

    no momento de seu acontecimento ressignificada no mo-

    mento da enunciao desse fato, em virtude de que a me-

    mria reconstrutiva, alm de ser seletiva, merc no s do

    tempo transcorrido e das diferentes ressignificaes que o

    sujeito da narrao imprime aos fatos ao longo do tempo,

    mas tambm pelas ressignificaes ocorridas na relao que

    se estabelece entre narrador e pesquisador no momento da

    narrao. Pudemos, assim, identificar, nos achados da pes-

    quisa, alguns aspectos dessa reconstrutividade da memria.

    Primeiramente, uma memria no intencionalmente

    seletiva. Isto aconteceu em situaes em que os narradores

    guardaram na memria fatos, pessoas, relaes, situaes a

    que tinham atribudo significao relevante no momento

    2 Memria entendida, neste texto, especialmente como memria individual, tanto do narrador, como do pesquisador, no obstante imbricada s relaes vivenciais sociais e culturais e por elas informada/significada/ressignificada, desde que o sujeito, ao rememorar fatos e situaes, lhes imprime significao singular. Outras compreenses sobre a memria, como memria coletiva e memria pblica, ver, entre outros: Halbwachs, 1976; 1990; Le Goff, 1995.

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    em que os vivenciaram, mas no lhes atriburam o mesmo

    valor no momento de enunci-los. Ocorreu, igualmente,

    com narradores de avanada idade. Lembravam-se de fatos

    de sua formao inicial e do incio da prtica docente, mas

    tinham enorme dificuldade de narrar fatos mais adiantados

    no tempo ou deles simplesmente no lembravam. Mesmo

    quando se utilizavam tcnicas como a visualizao de fo-

    tos ou de documentos da poca em questo, o avivamento

    da memria era incuo ou pouco expressivo. Nesse caso,

    a narrativa de alunos e de parentes mais jovens, alm de

    documentos, auxiliava sobremaneira no preenchimento de

    lacunas.

    Uma segunda expresso da memria seletiva ocorria

    quando o narrador intencionalmente selecionava a infor-

    mao, ou para no lembrar fatos desagradveis, muitos

    dos quais chegavam a lhe recordar situaes de intenso so-

    frimento, ou para no declinar situaes que achava no

    devessem vir a pblico. Ou, ainda, no af de nos agradar,

    desde que e isso, muitas vezes ficou visvel o narrador tin-

    ha um pressuposto daquilo que, na sua perspectiva, gosta-

    ramos de escutar.

    Outra expresso de reconstrutividade da memria fi-

    cava evidente quando o narrador realmente ressignificava

    o fato no momento da enunciao. Isto ficava claro pelas

    diversas tradues de determinado fato nos enunciados de

    sucessivas narrativas sobre esse fato, quer no discorrer de

    um mesmo discurso narrativo, quer ocorrido em narraes

    realizadas em diferentes momentos.

    H, ainda, o que denominamos de memria de vida

    compartilhada. A pessoa-fonte, ao narrar a trajetria de

    outro personagem, no caso, um de nossos educadores, im-

    bricava a prpria trajetria no relato. Esta foi, na verdade,

    a situao mais recorrente. No encontramos na literatura3

    essa caracterstica da memria, somente em nossos achados

    de pesquisa. Convm, dada sua especificidade em nosso es-

    tudo, exemplificar:

    Aos 4 anos de idade conheci minha madrinha, pela qual

    nutri, desde o primeiro momento, enorme simpatia e

    carinho. Atravs dela conheci meu padrinho Ary e sua

    filha mais velha, Maria da Graa, que foi minha amiga

    e companheira durante muitos anos. Sob meu olhar de

    criana, todos os adultos pareciam gigantes, mas eu s sa-

    beria o quo gigantesco era meu padrinho, com o deco-

    rrer do tempo. Na poca em que eu o conheci eu morava

    na Rua Joo Alfredo, 823, onde hoje fica o supermerca-

    do Nacional. Depois, meus pais e eu nos mudamos para

    Ipanema. Em seguida eles mudaram tambm, onde eles

    residiram Rua Gvea, 113. Muitos e muitos sbados

    eu e minha me amos visit-los. Aos 13 anos cursando a

    2 srie ginasial, decidi que cursaria a Faculdade de Ma-

    temtica e s ento fiquei sabendo que ele era professor

    de Matemtica e, no convencida, fui perguntar a ele,

    comunicando a minha deciso (sobrinha do educador).

    Da mesma forma, a esposa:

    Eu conheci o Ary em 29 de setembro de 1942, num baile

    de primavera realizado na SOGIPA. Eu estava com um

    vestido de linha azul e ele disse: um cu azul sem necessi-

    dade de estrelas, porque ele j luminoso.

    Sobre uma destacada educadora:

    Eu adorava a Zilah. Estudamos toda a vida, no Svign,

    estudamos juntas. Zil sempre foi uma aluna brilhante;

    s vsperas dos exames ns (um grupo de colegas) amos

    casa da Zilah para estudar com ela toda a matria. Ha-

    via at fatos engraados. A irm Alexandra passava, para

    analisarmos, os versos de Cames [...] A Zilah era um

    crnio. Aquelas estrofes ela analisava que era uma coisa

    maravilhosa! s vezes eu copiava da Zilah e a freira dava

    dez para ela e dois ou trs para mim. Eu no podia re-

    clamar, pois a freira sabia que eu tinha copiado da Zilah

    porque eu no tinha capacidade para fazer o que a Zilah

    fazia (Nmora, prima, amiga e colega).

    Era um fim de tarde dos anos 80. Uma sala de aula foi

    indicada para que eu, aluna do curso de Pedagogia, fizes-

    se parte do grupo. Havia me matriculado na condio de

    pra-quedista (aluno matriculado num curso e freqen-

    tando outro em disciplinas afins). Eu era egressa de um

    curso de Biologia, ingressando no de Pedagogia e, como

    neste no havia mais vagas para a disciplina de Filosofia,

    poderia optar por outro espao fsico, outro grupo de co-

    legas e outro curso em face de a Universidade permitir

    essa flexibilidade. Esse fato foi, para minha formao, de

    extrema validade. Aproximei-me da sala de aula indica-

    da e fui acolhida por uma figura humana, a professora

    Zilah, de estatura pequena, muito sorridente e gil nos

    seus pensamentos. (Zlia Farenzena, ex-aluna; professora

    da PUCRS).

    3 Para os demais tipos de memria reconstrutiva encontramos explicitao terica na literatura; podemos referenciar, dentre outros: Fraser (1990), Bosi (1994), Thompson (1998), Oliveira (2000), Catroga (2001), Jovchelovitch & Bauer (2002).

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    Outro aspecto a exemplificar a trplice dimenso do

    tempo narrado que se faz presente em um mesmo frag-

    mento de discurso, evidenciando que a narrao com-

    porta uma memria em que passado, presente e futuro

    esto imbricados nas significaes com que os sujeitos da

    enunciao operam ao rememorar os fatos por eles viven-

    ciados:

    Ento, no dia em que deixamos a Secretaria (Secretaria

    de Educao e Cultura do Estado do Rio Grande do

    Sul, onde a narradora exercia a titularidade da pasta),

    samos procura de uma casa [...] onde ns comeamos

    a nossa escola com 115 alunos (perspectiva: passa-

    do). Hoje, so mais de 2.000 alunos (perspectiva:

    presente). Um dos objetivos era fundar uma escola

    com a participao dos pais, professores, alunos e fun-

    cionrios, de tal forma que quando se matriculava o

    aluno ns matriculvamos tambm os pais. Depois,

    compramos um terreno e construmos a escola onde

    hoje ela se encontra. Criamos uma escola comunitria,

    sem fins lucrativos (perspectiva: passado-presen-

    te-futuro). Hoje, ela uma fundao mantida pelos

    pais, que assumiram de tal forma a vida comunitria da

    escola, onde professor, funcionrio, aluno tm vez, que

    eles chegaram concluso de que a escola realmente

    tinha que ser mantida por eles (perspectiva: presen-

    te-passado). Sempre disse que ns tnhamos que fazer

    uma grande escola e, no uma escola grande, mas ela

    teve uma enorme repercusso, foi crescendo, crescen-

    do e dificilmente se conseguia evitar seu crescimento.

    Quando sa, em 1973, no havia esse nmero de alunos

    que h hoje (1992, mais de 2.000 alunos), mas j esta-

    va muito grande (perspectiva: passado-presente-

    passado) A meu ver, a escola cresceu muito. Precisaria

    parar um pouco para manter a qualidade porque no

    fcil, no fcil esse trabalho (perspectiva: presen-

    te-futuro)4.

    Esses extratos (auto)biogrficos demonstram o que j

    afirmamos anteriormente no sentido de que a narrati-

    va quebra o modo linear espao-temporal de significar

    trajetrias e vivncias, desde que o trabalho da mem-

    ria resgata a histria, entrelaando passado, presente e

    futuro no agora (Prez, 2003,p.105). As narrativas so,

    pois, elementos que trazem forte significado pessoal e ar-

    ticulam presente, passado e futuro, instigadas pela reme-

    morao, trazendo no uma vida como de fato foi, e sim

    uma vida lembrada por quem a viveu (Benjamin, 1996,

    p. 37)5.

    A NARRAtivA cOMO MtOdO de iNveStigAO

    Segundo Santamarina e Marinas (1994): a Histria de

    Vida tem, na atualidade, um lugar prprio que re-

    quer mais que ajustar ou afinar tcnicas ou receiturios

    de procedimentos (p.257). As Histrias de Vida consti-

    tuem-se, alm de outras fontes, com base em narrativas

    produzidas, por solicitao de um pesquisador, com a

    intencionalidade de construir uma memria pessoal ou

    coletiva em um determinado perodo histrico, estabele-

    cendo, pesquisador e entrevistado, uma forma peculiar

    de intercmbio que constitui todo o processo de inves-

    tigao (p.258), pois nele se produzem as Histrias de

    Vida, j que essas no preexistem como tal a esse proces-

    so e, por isso, se diferenciam de outras formas de relato,

    como as autobiografias, as histrias de personagens, as

    tradies orais (p. 258). Por isso a Histria de Vida no

    s uma transmisso, mas uma construo da qual par-

    ticipa o prprio investigador (p. 273). Isto caracteriza o

    processo de pesquisa que consiste em fazer surgir hist-

    rias de vida em planos histricos ricos de significado, em

    que aflorem, inclusive, e muito especialmente, aspectos

    de ordem subjetiva.

    Moita (1995) considera a pesquisa (auto)biogrfica a

    metodologia com potencialidades de dilogo entre o indi-

    vidual e o sociocultural, j que pe em evidncia o modo

    como cada pessoa mobiliza seus conhecimentos, os seus

    valores, as suas energias, para ir dando forma sua iden-

    tidade, num dilogo com os seus contextos (p.113), razo

    pela qual os estudos (auto)biogrficos podem ser entendidos

    como referentes a vidas inseridas em um sistema em que a

    pluralidade de expectativas e de memrias o corolrio da

    existncia de uma pluralidade de mundos e de uma plurali-

    dade de tempos sociais (Bourdieu, 2001).

    Com base nesse entendimento, na pesquisa retro-men-

    cionada, deu suporte produo de informaes a corren-

    te que ultrapassa a viso positivista, em que as Histrias

    4 Grifos da autora.

    5 Na literatura cientfica vrias referncias nesse sentido, alm de Ricoeur (1995), podem ser encontradas, em especial em: Sousa Santos (1987); Soares (2001); Santos (2000); Cunegatti (2000); Bozzetto, (2000); Freire, (2003); Prez (2003).

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    de Vida so entendidas como um documento positivo em

    detrimento da reconstruo do processo de produo desse

    documento, desde que as Histrias de Vida so vistas como

    indcio de um dado momento no tempo passado, deixando

    de se tematisar o momento presente da enunciao. O su-

    porte terico da metodologia empregada a essa produo

    ultrapassou, tambm, a viso interacionista, mediante a

    qual o que realmente importa a construo dual de si-

    tuaes no processo de produo de relatos, abstraindo da

    reflexo o contexto dos prprios enunciados, esquecendo,

    portanto, de fazer emergir o contexto das relaes macro

    scio-poltico-culturais e econmicas que perpassa a

    situao de interao na qual a Histria de Vida adquire

    sentido. Nossa perspectiva comungou com uma terceira,

    apresentada por Santamarina e Marinas (1994,p.268 e

    269) como de carter dialtico, segundo a qual as Histrias

    de Vida so entendidas como inseridas em um sistema, de

    tal modo que, sem serem desvinculadas do momento da

    enunciao ou do enunciado, so tratadas como histrias

    de um sujeito (indivduo ou grupo) que se constroem des-

    de dentro dos condicionantes micro e macroestruturais do

    sistema social.

    Na anlise do material6, coerente com a corrente teri-

    ca adotada que sustentou o processo de produo de infor-

    maes para a construo das Histrias de Vida, o processo

    de interpretao utilizou procedimentos de anlise que des-

    consideram os utilizados pela corrente positivista bem como

    aqueles de que se utiliza a corrente interacionista. No primei-

    ro caso, uma viso estruturalista de anlise que privilegia a

    saturao de um modelo que opera fundamentalmente com

    fonte documental, determinista, analisada exausto, sem

    interessar-se pelas peculiaridades biogrficas que um tra-

    balho de campo pode proporcionar. No segundo caso, uma

    prtica de anlise que utiliza uma interpretao que supe

    estar um texto (no caso, o texto narrativo) dado e acabado,

    tratando to-somente de descobrir, por meio de uma anlise

    em detalhe e profundidade, sentidos ocultos nesse texto, fi-

    cando a Histria de Vida reduzida ao texto como produtor de

    sentidos. Diferentemente, no processo de interpretao das

    informaes utilizamos uma concepo em que as categorias

    de sujeitos so entendidas como espao de enunciao, em

    que os elementos pertinentes vo se desenhando na medida

    da relao das narrativas com seus contextos. Esta compreen-

    so privilegia, ao invs da estrutura amostral de uma histria

    segundo o sentido originrio dos textos ou dos elementos de

    profundidade de seus sentidos ocultos, o entendimento de que

    a origem e o sentido profundo dos textos algo que constru-

    mos pari passu, diuturnamente. Santamarina e Marinas (1994)

    enunciam o que denominamos de trs planos da compreen-

    so de contexto: o contexto vivido no passado, que comporta

    a totalidade de referenciais biogrficos e sociais dos sujeitos

    entrevistados; o contexto do presente dos sujeitos, que supe

    as redes de relaes sociais do presente dos sujeitos, desde as

    que se elaboram mediante a concreta situao de entrevista

    estabelecendo seu sentido para o presente; o contexto da en-

    trevista, que supe as formas de acordo e cooperao para a

    efetivao da prpria entrevista, como a relao de escuta e

    transmisso em reciprocidade como condio para a reflexo.

    A compreenso de contexto interpreta o processo no qual os

    sujeitos (re-)atualizam, (re-)elaboram o sentido, as posies

    ideolgicas coletivas dos processos vitais das histrias (op.

    cit., p. 272). Sem deixar de considerar tanto o momento da

    enunciao como o momento do enunciado, trata-se de in-

    terpretar as histrias nos jogos e dimenses de sua tessitura

    (contexto o que est tecido com), mas, tambm, na dimen-

    so da construo do sujeito para situar as histrias de vida

    em seus sujeitos e processos plurais (op. cit., p. 272).

    Esses planos de compreenso de contexto foram anali-

    sados na pesquisa j referida tendo em vista duas dimenses

    complementares: a) o desenvolvimento profissional, compre-

    endendo, na viso de Vonk e Schras (1987), a perspectiva do

    desenvolvimento pessoal que entende o desenvolvimento

    profissional como resultado de um crescimento individual;

    a perspectiva da profissionalizao que entende o desen-

    volvimento profissional como resultado de um processo de

    aquisio de competncias e a perspectiva da socializao

    que entende a profissionalizao docente como centrada

    na insero do professor no meio profissional em que atua e

    b) a construo da identidade profissional/profissional, en-

    tendida por Lessard (1986) como a relao que o professor

    estabelece com a profisso, com seus colegas e a construo

    simblica que essa relao implica, tanto no campo pessoal

    6 Reconhecendo os riscos de se utilizar a memria (que assumimos como reconstrutiva e seletiva) como nica fonte de anlise, trabalhamos com triangulaes de fontes e com Histrias de Vida de relatos cruzados. O material coletado que triangulamos com as narrativas (documentos, vdeos, fotos, cruzamento de relatos de Histrias de Vida) e a metodologia de anlise empregada nos permitiram um entendimento mais orgnico, no s das individualidades em estudo como, igualmente, do contexto educacional rio-grandense do qual essas individualidades foram/so produto/produtoras. Assim, a memria de nossos(as) narradores(as), embora respeitada em sua racionalidade reconstrutiva, teve modos de verificao justamente por meio das referidas triangulaes (Abraho, 2001a).

  • Revista Actualidades Pedaggicas N. 54 / Julio - diciembre 2009

    18

    como no interpessoal, com base nas representaes que os

    professores elaboram a respeito dos aspectos da atividade

    docente que compreende: o capital de conhecimentos sa-

    ber fazer e saber ser que embasam a prtica docente; as

    condies do exerccio da prtica docente, em especial de

    autonomia, controle e contexto de atuao; pertinncia cul-

    tural e social da prtica pedaggica; estatuto profissional e

    prestgio social da profisso docente.

    A dialtica pessoal/social, com que em nossa pesqui-

    sa procuramos compreender as dimenses retro-referidas,

    estressada por Ferrarotti, quando afirma que, nos estudos

    (auto)biogrficos, fica clara a imbricao entre o eu pessoal e

    o eu social, permitindo reconstruir os processos que fazem

    de um comportamento a sntese ativa de um sistema social

    a interpretar a objetividade de um fragmento da histria

    social a partir da subjetividade no iludida de uma histria

    individual (1988, p. 30).

    Ao trabalhar com metodologia e fontes dessa natureza

    o pesquisador, antes do que descrever, intenta compreender

    o caso a que se dedica a estudar e esse movimento implica

    uma interpretao que extrapola uma leitura linear dos da-

    dos de que dispe, exigindo do pesquisador a construo

    de uma meta-narrativa. O fato de o pesquisador reconhe-

    cer e aceitar, por parte do narrador, a reconstrutividade da

    memria como percepes pessoais da realidade, que

    ressignificada ao longo das trajetrias de vida, em virtude de

    novas vivncias e, mesmo, da perspectiva tridimensional do

    tempo narrativo, a que j nos referimos, no elide que, na

    interpretao das narrativas, tambm o pesquisador lhes im-

    prima sentido, fundamentado no todo dos elementos de que

    dispe, pela triangulao do contedo das narrativas com o

    de outras fontes: documentos, narrativas de outras pessoas,

    etc. A interpretao do investigador representa uma leitura

    do material narrado para alm das narrativas, no esforo de

    compreender o objeto de estudo em duas perspectivas: na

    perspectiva pessoal/social do narrador que representa as

    individualidades e na perspectiva da dimenso contextual

    da qual essas individualidades so produto/produtoras.

    As narrativas permitem, dependendo do modo como

    nos so relatadas, universalizar as experincias vividas nas

    trajetrias de nossos personagens. Nessa perspectiva, Den-

    zin (1984,p.32) nos ensina que As pessoas comuns universa-

    lizam, atravs de suas vidas e de suas aes, a poca histrica

    em que vivem. Pela leitura transversal das trajetrias de

    vida pessoal e profissional dos educadores de nossa pesquisa

    pudemos apreender teorias e prticas de formao, de ensi-

    no, de relaes interpessoais e institucionais, de construo

    identitria do ser educador relacionadas aos diferentes

    momentos e cenrios scio-poltico-econmico-culturais de

    fins do sculo XIX e de todo o sculo XX (Abraho, 2001c).

    Nesta tradio de pesquisa, o pesquisador no pretende

    estabelecer generalizaes estatsticas, mas, sim, compreen-

    der o fenmeno em estudo, o que lhe pode at permitir uma

    generalizao analtica. Nesse sentido, nossa pesquisa com

    36 educadores rio-grandenses permitiu diversos esforos

    de generalizao analtica, em especial no que respeita s

    dimenses formao, profissionalizao e construo iden-

    titria do professor, como cidado e como profissional, in-

    ter-relacionadas com as diferentes situaes do contexto s-

    cio-poltico, econmico e cultural brasileiro e rio-grandense

    (Abraho, 2002a). Essa generalizao analtica obviou, en-

    tre outras possibilidades, a comparao entre a vida profis-

    sional dos 36 educadores que fizeram histria na educao

    do Rio Grande do Sul e os ciclos de vida profissional de

    educadores em Huberman (1995), (Abraho, 2001b), bem

    como a possibilidade de enunciar a tese de que a natureza

    da profisso e da prtica docente comporta e apresenta ele-

    mentos e dimenses analticas universais (Abraho, 2002b,

    2004c, 2005), numa comparao com elementos apresenta-

    dos por Nvoa (2001), fruto de estudo que este autor reali-

    zou com educadores de diversos pases. Ademais, a leitura

    transversal das 36 Histrias de Vida de destacados educado-

    res rio-grandenses redundou em outro captulo em livro que

    trata de entendimentos e prticas pedaggicas esposadas

    pelos educadores ao longo da vida docente, intitulado Sete

    olhares sobre a sala de aula no tempo passado universali-

    dade de caractersticas do pensar e do agir docente captada

    em histrias de vida de destacados educadores7. Alm dis-

    so, a pesquisa evidenciou, igualmente, que os 36 educadores

    estudados, ainda que tenham se formado e mesmo at atua-

    do com base em outro contexto paradigmtico, demonstra-

    vam/demonstram grande capacidade crtico-reflexiva na

    convivncia com seus alunos e em sua atuao no contexto

    social mais abrangente. Esses educadores desenvolveram/

    7 Abraho, M.H.M.B. Sete olhares sobre a sala de aula no tempo passado universalidade de caractersticas do pensar e do agir docente captada em histrias de vida de destacados educadores. In: Enricone, Dlcia. Sete Olhares sobre a Sala de Aula, Porto Alegre, EDIPUCRS, 2008b, 2 ed., pp.32-47.

  • Revista Actualidades Pedaggicas N. 54 / Julio - diciembre 2009

    19

    desenvolvem acurada sensibilidade esttica, senso tico,

    compromisso poltico-educacional e social, afetividade e li-

    derana. O que as Histrias de Vida deixam transparecer

    que os educadores selecionados, mesmo desconhecendo

    o referencial terico anteriormente explicitado relativo ao

    professor como profissional reflexivo-transformativo, carac-

    terizavam-se/caracterizam-se como intelectuais crticos, re-

    pensadores de sua prpria prtica, sustentada por uma viso

    de mundo que se poderia dizer revolucionria, no sentido

    de pensar e criar condies para uma educao e um ensino

    humanizantes e transformadores (Abraho, 2001c).

    O trabalhar a pesquisa nos possibilitou diferentes snte-

    ses que permitem apreender o pensamento e a prtica peda-

    ggica inerentes Histria da Educao Rio-grandense, no

    sculo XX, em seu acontecendo na memria dos educa-

    dores (se vivos) e das demais pessoas-fonte, na tessitura com

    essas histrias pessoais/profissionais e, ainda, quo significa-

    tiva tem sido a construo identitria pessoal e profissional

    dos educadores em estudo, mediante a anlise das Histrias

    de Vida de nossos destacados educadores, olhadas horizon-

    talmente, em conjunto.

    So 36 as Histrias de Vida j construdas, as quais

    apresentam resultados consistentes, pois o material coletado

    (por meio de narrativas, documentos, fotos) e a metodolo-

    gia de anlise empregada, em especial, a triangulao entre

    os diversos elementos de anlise nos permitiram um enten-

    dimento orgnico, no s das individualidades em estudo

    como, igualmente, do contexto educacional Rio-grandense

    em que essas individualidades se inseriram/inserem.

    Das Histrias de Vida emergiram trs categorias co-

    muns a todas: Formao, Vida Profissional, Construo de

    Identidade. Trabalhar essas categorias tem nos proporcio-

    nado melhor entendimento de complexas relaes verifica-

    das na histria da educao rio-grandense e na histria da

    profisso docente, em diferentes perodos.

    Ao olharmos transversalmente as histrias de vida,

    evidenciaram-se elementos comuns quanto formao dos

    destacados educadores, quer a formal quer a no-formal;

    quer a inicial, quer a continuada, eivados de influncia, posi-

    tiva ou no, do meio scio- cultural, da famlia, da formao

    de cunho religioso, das idias pedaggicas e filosficas de

    cunho humanista, das influncias auferidas nas relaes in-

    terpessoais e da formao autnoma prpria de cada um.

    Essas caractersticas de formao refletiram-se/refletem-se

    na prtica profissional dos educadores que construram/

    constroem uma trajetria de compromissada prtica, tanto

    em sala de aula, como em movimentos de transformao

    mais geral dessas prticas nas instituies de ensino, no sis-

    tema educacional como um todo e/ou em instncias repre-

    sentativas da categoria profissional. Reflete-se e reflexo,

    igualmente, na (da) construo identitria de cada educador

    (Abraho, 2001 a).

    Os achados da pesquisa nos possibilitaram ainda, ob-

    viadas por sucessivas triangulaes, explicitar elementos

    comuns caractersticos das trajetrias, pensamentos e pr-

    ticas dos educadores por ns estudados, em especial, o que

    denominamos de caractersticas universais da formao e

    da prtica docente, evidenciadas nas Histrias de Vida de

    nossos 36 destacados educadores e que podem desde que

    so comuns os condicionantes macro-estruturais da socie-

    dade em determinado espao-tempo serem extrapoladas,

    mediante uma generalizao analtica, para se entender

    melhor essas caractersticas (re)configuradas na prpria His-

    tria da Educao Rio-grandense.

    Para tanto, lanamos sete olhares sobre os pensares

    e os fazeres de nossos destacados educadores, no passado,

    tentando emprestar mais visibilidade a esses elementos, que

    consideramos universais, desde a voz e a significao dos

    prprios educadores, colegas e alunos que os vivenciaram.

    Um passado, no to distante, mas expressivo, desde

    que cobre todo um sculo: o sculo XX. Uma geografia,

    no to extensa, como a do universo, como a de um conti-

    nente, ou ainda, como a de um pas ou de uma regio, mas

    uma geografia significativa, que cobre um estado, o estado

    do Rio Grande do Sul, de expresso nacional em matria

    de educao. Uma sala de aula no necessariamente deli-

    mitada por quatro paredes, em determinada escola da rede

    do ensino regular, pblica ou privada, rural ou urbana, mas

    uma sala de aula que extrapola esses limites fsicos e se cons-

    titui em real possibilidade educacional em diversos espaos:

    para meninos e meninas na Fundao Estadual de Bem-

    Estar do Menor (FEBEM); para adultos na primeira escola

    radiofnica de que se tem notcia no estado; para crianas

    com dificuldade de aprendizagem em aulas particulares;

    para alunos em salas de aula multi-seriadas no meio rural;

  • Revista Actualidades Pedaggicas N. 54 / Julio - diciembre 2009

    20

    para estudantes em salas de aula em escolas de pequenas

    cidades do interior ou em escolas da capital, pblicas ou

    privadas, de classe social baixa, mdia ou alta. Um docente

    (e um aluno) no formatado, mas com vivncias diferencia-

    das, porque diferenciados so os cenrios vivenciais de cada

    sujeito da prtica que se constituem em subjetividades pr-

    prias e polifnicas vozes.

    Essas diferenas, no entanto, no elidem a possibilida-

    de de detectarmos caractersticas universais do pensar e do

    fazer docente, desde dentro das significaes desses sujeitos

    da prtica nos diferentes espaos e possibilidades concretas

    dessa mesma prtica.

    Isto porque, se os sujeitos da prtica no so acaba-

    dos e sofrem constantes e diuturnas experincias, por eles

    significadas e, ao mesmo tempo, em processo permanente

    de ressignificao, no menos verdade que esses sujeitos

    exerceram sua prtica pedaggica vivenciando uma tenso

    em que a histria individual e a histria social se imbricam,

    se implicam, de tal modo que uma razo dialtica, por ex-

    celncia o operador que nos pode permitir alcanar o

    universal e o geral (a sociedade) a partir do individual e do

    singular (o homem) (Ferrarotti, 1988, p. 30). Nesse sentido

    que Ferrarotti (op. cit.) afirma que, sob o prisma da com-

    preenso terica e metodolgica, temos que entender esse

    tipo de fenmeno por meio de uma racionalidade dialtica,

    pois esta que opera entre as experincias vividas e as con-

    dies sociais em que transcorre a vida humana.

    Esse entendimento que nos tem possibilitado buscar

    em nossos educadores que exerceram a prtica docente no

    sculo XX, caractersticas universais, que de um modo ou

    de outro, configuraram essa prtica. Esses educadores apre-

    sentam uma caracterstica geral comum: foram considera-

    dos destacados educadores rio-grandenses8. Falamos de 36

    educadores que nos foram indicados por pessoas que com

    eles conviveram (ex-alunos, alunos, colegas, gestores, paren-

    tes, amigos) e cuja impresso lhes ficou indelevelmente mar-

    cada atravs dos anos.

    Os educadores escolhidos exerceram/exercem suas ati-

    vidades e eram/so radicados tanto na capital, quanto no

    interior do estado. Dentre os 36 educadores, 17 eram/so

    oriundos de diferentes cidades do estado, o que permitiu

    terem vivido, atuado e marcado geraes em diversas loca-

    lidades. Os outros 19 viveram/vivem e atuaram/atuam na

    capital gacha.

    Na linha de tempo os destacados educadores preen-

    chem espaos que se estendem de nascimentos ocorridos de

    1895 a 1955, com vida til no que respeita formao esco-

    lar de 1902 a 1979 (sem considerar a formao continuada)

    e com vida til de atuao de 1922 at os dias atuais.

    Quanto formao, temos, dentre os destacados educa-

    dores, personagens que se caracterizavam como professores

    leigos; professores preparados em curso Complementar ou,

    posteriormente, Curso Normal; Professores habilitados por

    Cursos e Exames de Suficincia9; professores que cursaram

    Pedagogia ou Licenciatura e professores que realizaram

    Curso de Ps-Graduao.

    Quanto atuao, dentre os 36 educadores houve a

    mais diversa forma de experincia: no ensino regular, em

    escolas da rede pblica e ou privada, nos diferentes nveis

    de ensino; no meio rural, em classes multi-seriadas; na edu-

    cao de jovens e adultos; no ensino superior, inclusive no

    Ps-graduao e, ainda, na FEBEM. Concomitantemente,

    alguns exerceram funes em rgos centrais do Sistema de

    Ensino Rio-grandense ou funes administrativas na rede

    pblica ou privada de ensino, inclusive, em coordenao de

    Ps-graduao; em direo de Faculdade, etc.

    Para trabalharmos a histria de cada educador consul-

    tamos fotos e todo o material escrito disponvel (documen-

    tos de toda a ordem) e ouvimos as narrativas dos prprios

    educadores, quando ainda vivos alguns, inclusive, ainda

    esto em atividade e de pessoas-fonte, cujas narrativas ser-

    viram para triangular com as dos destacados educadores e,

    na falta destes, para suprir informaes. O nmero total e

    8 O termo destacado no significa herosmo ou fama. Nossos destacados personagens foram indicados por pessoas que com eles conviveram colegas, ex-alunos, alunos, chefes, parentes, amigos justamente porque marcaram a vida dessas pessoas indelevelmente, de modo o mais positivo (e, por isso, foram intencionalmente escolhidos como nossos personagens da pesquisa). No quer dizer, no entanto, que sejam infalveis, ou que sejam famosos. Muitos, a quase maioria, so conhecidos somente no restrito meio em que atuaram/atuam.

    9 Exames de Suficincia eram exames para professores leigos, realizados entre 1950 e 1956, promovidos pela Campanha de Aperfeioamento e Difuso do Ensino Secundrio (CADES). Para a prestao desses exames eram realizados, pela prpria CADES, cursos intensivos de trinta a quarenta dias de preparao, tanto terica como prtica, quer da matria especfica do conhecimento em questo, quer da parte didtica especial e geral. Os exames constituam-se de provas escritas sobre a matria e de uma prova sobre didtica. A prova didtica consistia em ministrar uma aula, cujo assunto era sorteado algumas horas antes. Destaca-se nos exames de suficincia a excelente preparao pedaggica desenvolvida durante o curso intensivo.

  • Revista Actualidades Pedaggicas N. 54 / Julio - diciembre 2009

    21

    a extenso das entrevistas foram estipulados pelo princpio

    de redundncia e clausura do discurso como nos ensina

    Barthes (1970).

    O desenvolvimento da questo referente universali-

    dade de caractersticas do pensar e do agir docente10 tem

    sido trabalhada na pesquisa (o que pode nos permitir uma

    generalizao analtica) mediante a anlise in concreto dessas

    caractersticas, apresentando extrato de narrativas em que

    foram explicitadas, relativamente aos educadores rio-gran-

    denses. Para elaborar essa questo, revisitamos as 36 Hist-

    rias de Vida, fazendo nova leitura transversal para empres-

    tar visibilidade s referidas caractersticas desses destacados

    educadores que as fazem universais. Nos livros (Abraho,

    2001a; 2004a), essas caractersticas encontram-se diludas

    pelas trs categorias, j referidas, que foram mais especifi-

    camente trabalhadas na pesquisa: Formao, Vida Pessoal/

    Profissional, Construo de Identidade.

    A NARRAtivA cOMO PROceSSO de ReSSigNiFicAO dO vividO

    As (auto)biografias, ao estar constitudas por narrativas em

    que se desvelam trajetrias de vida, so processo de cons-

    truo que tm a qualidade de possibilitar maior clarificao

    do conhecimento de si, como pessoa e profissional, quele

    que narra sua trajetria. Nesse sentido, tentamos capturar

    sinais da compreenso que os educadores desenvolveram,

    mediante ressignificao do vivido, pela reflexo sobre si e

    sua profisso docente no momento da narrao, bem como

    eleger para referir algumas dimenses universais percebidas

    no conjunto de educadores por ns estudados:

    FORMAO PeSSOAL/PROFiSSiONAL e ideNtiFicAO cOM O SeR educAdOR

    A slida formao pessoal/profissional dos educadores cu-

    jas Histrias de Vida embasam as dimenses de anlise que

    originaram o presente texto, mais diretamente ligadas s

    caractersticas universais da teoria e da prtica docente,

    pode ser esclarecida pelo que se evidencia como identida-

    de11 do educador forjada tendo como referenciais destaca-

    dos educadores com quem estudaram e/ou com familiares,

    em especial, com a me (tambm educadora), que lhes mi-

    nistrou as primeiras letras e outros conhecimentos iniciais, o

    que nos faz refletir o quanto significativo o "modelo vivo"

    na formao da identidade do educador:

    A educadora, que eu sinto que fui, e sou, no nasce de

    repente. Ela vem, cria-se e desenvolve-se na infncia, ain-

    da no lar.

    No nasci educadora, o que bem compreensvel. Mas

    creio que foi na escola e no lar, ainda na infncia, que

    meu destino humano foi se delineando, independente de

    minha participao consciente, para configurar-se defi-

    nitivamente entre os 25 e 30 anos, j, ento, em outra

    dimenso, mais ambiciosa e mais abrangente quanto a

    objetivos.

    Minha formao e escolha profissional foi influenciada

    por professores que considerava modelos profissionais.

    Lembro da Irm Alade, da escola onde fiz o Primrio,

    em Santa Maria. Era uma Irm terna, doce [...] Irm

    Alade encantadora, terna, doce, mas enrgica.

    O AMOR PeLA PROFiSSO dOceNte e O eMPeNHO NA educAO de PeSSOAS

    O envolvimento dos educadores em tela com o ato de edu-

    car, seja em busca de uma compreenso terica desse ato,

    seja na vivncia diuturna da docncia, apresenta um com-

    ponente que parece ser o denominador comum, alimenta-

    do pela identidade de educador assumida, que nos permite

    sintetizar prticas e experincias, tanto de formao dos do-

    centes, como do exerccio profissional. Trata-se de sujeitos,

    como j referido, com as mais diversas experincias.

    O que pode corresponder, em face de toda essa diver-

    sidade, caracterstica de destacados educadores que todos

    apresentam?

    10 A autora, comparando os resultados da pesquisa que coordena com os de pesquisa desenvolvida em diferentes pases por Nvoa e colegas, publicou artigos a respeito defendendo a tese de que no obstante diferenas geogrficas e circunstanciais, os educadores apresentam caractersticas que podem ser consideradas universais (Abraho, 2002b, 2004d, 2005).

    11 Construo de identidade tomada no sentido que lhe d Ciampa (1987), isto , identidade como metamorfose; identidade como movimento. Identidade , pois, um processo que se verifica durante toda a vida do sujeito. , igualmente, entendida conforme Lessard (1986) como a relao que o professor estabelece com a profisso, com seus colegas e a construo simblica que essa relao implica, tanto no campo pessoal como no interpessoal, com base nas representaes que os professores elaboram a respeito dos aspectos da atividade docente.

  • Revista Actualidades Pedaggicas N. 54 / Julio - diciembre 2009

    22

    Todos, sem exceo, embora conscientes das dificulda-

    des de toda a ordem com que se depararam no exerccio da

    profisso, significam-na emprestando-lhe um valor

    alto. Amam o que so e o que fazem identificam-se como

    educadores e amam seus alunos:

    Ser professor significa exercer com prazer a profisso,

    participar de todas as atividades pedaggicas, aper-

    feioarem-se constantemente, saber ouvir e assimilar as

    experincias dos outros.

    A docncia um ato criativo e que d muito prazer, e o

    fato de ser professor uma opo de vida. Ministrar au-

    las significa revigorar-se. Contemplo o magistrio como

    privilgio, como uma forma de relacionamento, pois

    uma atividade que auxilia o crescimento pessoal de cada

    um. [Termina cita]

    Relao teoRia e pRtiCa

    A relao teoria e prtica pode ser observada nos educado-

    res por ns estudados segundo alguns indicadores.

    Um desses indicadores diz respeito coerncia entre

    discurso e ao como pessoa e como educador. Essa

    coerncia mostrou-se como ingrediente educativo de alto

    significado, tanto no que se refere formao de pessoas

    que tenham sido alunos desses educadores no ensino funda-

    mental e mdio, como no ensino universitrio. Excertos de

    narrativas, como as que seguem, nos sinalizam que educar

    pelo exemplo uma importante expresso da relao teoria

    e prtica:

    Meus fundamentos pedaggicos, as posies tericas so

    profundamente coerentes com minha prtica, no s de

    ensino, mas de existncia.

    Sempre procurei [...] desde a atitude fsica na aula a pos-

    tura do corpo, a dignidade da linguagem [...] uma postu-

    ra dignificante para o homem. Eu creio que isso o que

    eu queria significar para os meus alunos.

    Outro indicador que permite inferir sobre a existncia

    da relao teoria e prtica aquele que se refere contex-

    tualizao da matria objeto de estudo e o mundo

    vivido dos estudantes, o que propicia ao professor pla-

    nejar e executar as aulas de molde a atender caractersticas,

    necessidades aspiraes e possibilidades dos educandos e, a

    eles, construir um conhecimento mais significativo:

    medida que iam produzindo, amos conversando, eles

    comigo e eles entre eles. Desses dilogos fui abstraindo

    seu mundo cultural, seus interesses, suas necessidades,

    abastecendo-me de dados que, por certo, me subsidia-

    riam no planejamento e organizao do trabalho. Tudo

    o que surgia brotava do vivido. Pintamos, tecemos, escul-

    pimos, costuramos, cantamos, danamos, dramatizamos,

    escrevemos, compomos [...] cada atividade realizada

    criava vida prpria, pois no ficvamos s no ato de fazer,

    transcendamos a ele.

    Conquistamos um vdeo para a sala e fizemos inscrio

    no Servio de Apoio da Secretaria de Educao, para

    poder usar sua videoteca educativa. Com a sala melhor

    equipada, dispondo de fitas de vdeo que trabalham des-

    de o funcionamento do corpo humano (doenas pre-

    veno e cura), at filmes brasileiros de sucesso, (curtas

    e longas), tento estabelecer relaes entre a vida atual e

    anterior dos meninos.

    H, ainda, outros indicadores. O que segue trata da re-

    lao espiralar teoria/pratica/teoria:

    O mais importante, foi que aprendemos que tudo est

    ligado em tudo, e por isso, todas as coisas esto em per-

    manente transformao, nada imutvel, a nossa vida

    amanh ser diferente da vida de hoje. Talvez esta seja a

    lio mais importante deste nosso convvio.

    Costumava trabalhar de forma integrada a Geografia

    com a Histria, Latim com Portugus e a Cincia com

    Matemtica. O ensino tinha como meta conduzir o alu-

    no compreenso, atravs da exemplificao e da pr-

    tica, enfim atingir uma aprendizagem com significado.

    A OcuPAO (teORiA e AO) cOM O PROceSSO FORMAtivO dOS educANdOS

    As falas, a seguir transcritas, nos do a dimenso do que

    Nvoa ressalta como valorizao da cultura universal e da

    cultura do aluno como um direito aprendizagem deste,

    bem como o respeito que o educador tem para com o direito

    de o aluno dizer-se como pessoa (Nvoa, 2001, p. 11).

    O primeiro indicador revela o processo ensino-

    aprendizagem como resultante de uma teoria e de

    uma prtica educativa cooperativa entre educador

    e aluno, processo, esse, entendido como via de construo

    identitria de sujeitos:

  • Revista Actualidades Pedaggicas N. 54 / Julio - diciembre 2009

    23

    Realmente, formamos um grupo, eu me comprometi

    com eles, eles se comprometeram entre si e comigo. Dois

    anos foram suficientes para me mostrar que educao se

    faz com ousadia, com confiana, com ao e com mui-

    to afeto. Nesse espao de tempo observei mudana no

    comportamento dos adolescentes. A norma cedeu lugar

    solidariedade, o encapsulamento abriu-se melhora

    da auto-estima e a agressividade deu espao tolern-

    cia. Esse trabalho (com meninos internos na FEBEM12)

    dimensionou-me que a escola da rua que d a noo da

    escola da vida.

    Outro indicador diz respeito atitude dialogal como

    metodologia de apreenso da realidade, das necessidades e

    das expectativas dos alunos referentes escola e ao processo

    de ensino-aprendizagem:

    Comecei a investir nos que produziam, incentivando-os

    e elogiando-os, sem esquecer-se de oferecer espao igual

    aos indecisos que no queriam expor-se logo de incio.

    medida que iam produzindo, amos conversando, eles

    comigo e eles entre eles. Desses dilogos fui abstraindo

    seu mundo cultural, seus interesses, suas necessidades,

    abastecendo-me de dados que, por certo, me subsidia-

    riam no planejamento e organizao do trabalho.

    A preocupao com que a matria do conheci-

    mento seja significativa para o aluno e possa por

    ele ser ressignificada outro indicador de que o pro-

    fessor valoriza um processo formativo de qualidade para o

    educando:

    A Lngua Latina como se sabe, no assim to simples,

    j que no falada. Da forma como eu estava trabal-

    hando estava castigando, martirizando meus alunos,

    apenas para cumprir um ementrio. Precisava fazer um

    estudo do Latim mais acessvel, mais agradvel, mais

    a servio da Lngua Portuguesa. Elaborei uma nova

    proposta para o ensino dessa lngua, mudando-a para

    Lngua e Cultura Latina. A partir de um histrico sobre

    a Lngua Latina, procuro incentivar os alunos para que

    prestem ateno para a presena constante desta, pelas

    palavras de origem latina, em nossa linguagem diria,

    nas citaes, nos jornais, na linguagem jurdica, nos

    monumentos, nos lemas das universidades, mostrando

    seus significados.

    a pedagogia ReConheCida Como pRoCesso CviCo de eduCao

    Os excertos da narrativa que segue evidenciam indicadores

    do entendimento e da ao dos destacados educadores com

    vistas formao do cidado:

    Batalhei sempre por uma educao que suscite nos jo-

    vens o sentido crtico da vida, preparando-os para ela-

    borar anlises crticas a respeito das presses sociais, cul-

    turais e polticas que afetam a liberdade. Uma educao

    que rompa com os individualismos e estimule a pessoa ao

    dilogo e ao na comunidade dos homens, a servio

    dos mais desamparados.

    As falas a seguir do o relevo a indicadores que demons-

    tram o trabalho docente na perspectiva da incluso

    social dos educandos:

    Produzir alguma coisa, sentir-se til, ser valorizado e res-

    peitado tem contribudo no s para que os meninos que

    esto envolvidos com o projeto tornem-se mais felizes,

    como tambm, tem servido de estmulo para que outros

    se sintam interessados para incorporarem-se a ele.

    [...] se eu sou uma exceo13, uma das tantas excees,

    eu tenho que ajudar a transformar isso em regra, a min-

    ha contribuio com a sociedade fazer com que muitas

    pessoas que vieram ou que esto saindo de onde eu sa,

    se transformem; a sociedade brasileira poder ter a sua

    revoluo no momento em que as excees boas, po-

    sitivas, construtivas, no sejam mais excees e sim re-

    gras. O direito do sujeito social, de ser o sujeito social,

    independente da sua etnia, independente da sua origem,

    independente das suas coisas, mas uma trajetria um

    tanto difcil, so caminhos rduos.

    pRtiCas pedaggiCas singulaRes

    Nossos educadores exerceram prticas pedaggicas que

    lhes eram prprias. Essa prtica em sala de aula certamen-

    te advinha muito mais do amor e do envolvimento com a

    educao e com o sentir-se e ser educador, devido a uma

    consistente construo identitria, do que de algum preparo

    especfico ou do desenvolvimento de teorias a respeito. Isto

    12 Fundao Estadual de Bem-Estar do Menor.

    13 Narrativa de professor universitrio, doutor em Economia, pesquisador, negro, pobre, ex-menino de rua. Ver Abraho, 2004f.

  • Revista Actualidades Pedaggicas N. 54 / Julio - diciembre 2009

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    pode ser evidenciado em muitas narrativas, com destaque

    para:

    Introduzimos o ensino das lnguas por nveis. Uma

    criana iniciava os seus estudos sabendo um pouquinho

    de Francs e a outra sabendo muito e ficavam todos na

    mesma turma. Um no entendia nada do que o professor

    estava dizendo, o outro entendia demais e tinha vontade

    de dormir na classe. Ento, isso foi uma coisa belssima,

    uma inovao no Brasil inteiro: introduzir o ensino de

    lnguas estrangeiras por nveis.

    Em uma poca, ns criamos o escrever alguma coisa

    rpida, instantnea, 5 ou 6 linhas. Mas tinham que ser

    criativas. amos para a Redeno (Parque Farroupilha,

    em Porto Alegre) e saam instantneos lindos. At de for-

    migueiros saram instantneos maravilhosos, sobre o que

    as formiguinhas carregavam.

    A MetA-cOgNiO SObRe O FAzeR dOceNte

    O ser professor, como identidade por eles edificada e a me-

    ta-cognio sobre o fazer docente, construda, com base na

    reflexividade sobre a prtica e sobre a reflexo sobre a re-

    flexo da prtica (Schn, 1992), a que chegaram, certamen-

    te foi/ o motor que possibilita a que os educadores tenham

    desenvolvido um praticum (Schn, op. cit.), prprio e, at

    mesmo, muitas vezes inovador em seu modo de trabalhar

    com os alunos. O teorizar sobre a educao, sobre a docn-

    cia, sobre o trato com os alunos, sobre a complexidade do

    processo de aprendizagem foi/ a marca que nos fez pensar

    nesses educadores, independentemente do grau e nvel de

    sua formao, como professores crtico-reflexivos, tal qual

    esta dimenso se expressa na teoria (Schn, 1992; Liston &

    Zeichner, 1993; Carr & Kemmis, 1988, entre outros). Como

    exemplos, citamos excertos das teorizaes de nossos educa-

    dores sobre o saber e o fazer docente:

    O educador, da forma como o identifico hoje, o que eu

    acredito ter sido e continuo sendo. Embora meus inte-

    resses tenham tomado outra direo depois da aposen-

    tadoria, o esprito do educador permanece, dando, em

    muitos casos, parte do sentido da minha vida na inteno

    de busca da integrao com o outro, visando uma troca,

    exatamente como acontece na relao professor-aluno.

    O educador visto mais como aquele que d, enquan-

    to guia, orienta, ensina. E o aluno apenas como o que

    recebe. Mas no bem assim. No sistema intelectual

    de inter-relao, o aluno, salvo excees, se revela e essa

    revelao um momento nico para o professor. nessa

    realidade complexa, singular para cada ser, que o educa-

    dor descobre direes vlidas para organizar uma expe-

    rincia que se complete no plano intelectual e humano.

    Eu penso que, hoje, o conhecimento no apreendido

    suficientemente. O que influi para isso a crise. No

    porque o professor tenha deixado de ser bom professor.

    Eu defendo o professor. Eu continuo dizendo que o aluno

    conseqncia de um momento crtico, de desequilbrio

    social em que ele no pode deixar de estar inserido. E,

    isso, tem que se refletir na aprendizagem e, tambm, no

    ensino. O professor tambm sofre essa influncia.

    O ser humano pode ser entendido como um projeto inaca-

    bado que tem a oportunidade de construir-se no dia-a-dia.

    O ser humano muito valioso e importante, pois no h

    sentido em tornar-se humano sem a figura do outro. O

    outro fundamental para a construo de ns mesmos, se-

    jamos crianas, adolescentes, adultos ou adultos tardios. A

    poltica pode abranger noes como, por exemplo, solida-

    riedade. Ajudar as pessoas a adquirir conhecimento um

    projeto poltico. Ensinar a pensar pela prpria cabea

    uma atividade poltica. H que estimular o aluno a pensar

    e a questionar sua prpria vida e existncia. A educao e

    a poltica, portanto, esto intimamente ligadas.

    eM SNteSe

    Nossa contribuio, mediante o presente texto, significa ex-

    plicitar compreenses a que a pesquisa, tantas vezes aqui

    referida, nos permitiu para alm dos objetivos especficos14

    daquela investigao. Nesse sentido, o trabalhar a pesquisa

    nos possibilitou diferentes snteses que permitem consolidar

    elementos terico-metodolgicos que fundamentam a pes-

    quisa autobiogrfica15, com destaque para dimenses que

    14 Qual sejam: a) proporcionar visibilidade s Histrias de Vida, com a inclusiva histria profissional, de destacados educadores que fizeram a Histria da Educao no Rio Grande do Sul, pela compreenso das relaes educativas e de construo de identidades que ocorreram/ocorrem no processo formativo e de trabalho desses educadores, formando um acervo para utilizao de estudiosos na rea; b) compreender melhor o pensamento e a prtica pedaggica inerentes histria da educao rio-grandense. Os resultados nesse sentido, alm de breve e genericamente comentados nesse texto, no item II, encontram-se publicados em Abraho, 2008g; 2004a; 2004b; 2001a. Trabalhar com personagens que formaram-se e atuaram durante o sculo XX (na linha longitudinal do tempo e dos lugares) tem nos proporcionado, alm do conhecimento especfico no que tange a cada um dos destacados educadores, melhor entendimento a respeito do pensamento educacional (pedaggico, filosfico, sociolgico) e de complexas relaes verificadas na Histria da Educao e na Histria da Profisso Docente rio-grandenses, em diferentes perodos.

    15 Esse processo proporcionou e tem proporcionado profcuo dilogo com pares do pas e do exterior a respeito desses elementos, o que redundou, at o presente momento, na feitura de um livro conjunto sobre esses fundamentos (Abraho, 2004 a); 3 livros com teorizaes e construo de Histrias de Vida de 36 destacados educadores rio-granden-

  • Revista Actualidades Pedaggicas N. 54 / Julio - diciembre 2009

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    tratam da narrativa, da memria e do tempo narrado. Desse

    modo, vimos trabalhando com base emprica nas Histrias

    de Vida de destacados educadores rio-grandenses, com di-

    menses inerentes pesquisa autobiogrfica, em especial: a)

    a questo da memria na relao com a tri-dimensionalida-

    de do tempo narrado, conforme inspirao especialmente

    em Ricoeur (1995), desde que o carter temporal da expe-

    rincia humana, pessoal/social, articulado pela narrativa,

    em especial quando clarifica a dualidade tempo cronolgi-

    co tempo fenomenolgico. A correlao tempo e narra-

    tiva em Paul Ricoeur leva a indagar sobre a procedncia da

    narrao histrica de uma conscincia histrica, em que o

    presente, o passado e a expectativa do futuro se imbricam

    numa perspectiva tridimensional; b) a concepo de recons-

    trutividade da memria, no que respeita a reconstrues

    e ressignificaes que o sujeito que rememora faz sobre a

    prpria trajetria, cuja narrativa est vinculada tanto ao

    momento da enunciao, como ao momento do enunciado,

    com base, em especial em Benjamin (1996); c) o entendi-

    mento de seletividade e reconstrutividade que compem a

    natureza da memria, em virtude de que o ressignificar dos

    fatos narrados nos indica que, ao trabalharmos com me-

    mria, fazemo-lo conscientes de que tentamos capturar o

    fato sabendo-o reconstrudo por uma memria seletiva, in-

    tencional ou no, do sujeito que se objetiva numa narrati-

    va coerente que, em retrospectiva, domestica o aleatrio, o

    casual, os efeitos perversos do real passado quando este foi

    presente, atuando como se, no caminho, no existissem bu-

    racos negros deixados pelo esquecimento (Catroga, 2001,

    p. 46); d) o compartilhamento da memria no ato narrativo

    entre narrador e ouvinte (pesquisador) merc da construo

    conjunta que nesse momento ocorre, pois trabalhar a me-

    mria no momento da narrao significa estarem, narrador

    e ouvinte, estabelecendo um processo ativo de criao de

    significados (Passerini, 1979), com o mximo de implicao

    entre narrador e ouvinte, fazendo surgir narrativas auto-re-

    ferentes em planos histricos ricos de significado (Santama-

    rina & Marinas, 1994); e) a memria de vida compartilha-

    da (Abraho, 2003, 2004d), evidenciada em virtude de que

    a pessoa-fonte, ao narrar a trajetria de outro personagem

    geralmente imbrica a prpria trajetria no relato, no ten-

    do sido encontrada na literatura esse tipo de memria; f)

    a narrativa como um processo do qual todos participamos

    (Portelli, 2000) e que consiste em construo da qual tam-

    bm participa o investigador; a narrativa autobiogrfica,

    em razo da particularidade de seu modo de produo, ,

    seguramente, a forma de mxima implicao entre quem

    entrevista e a pessoa entrevistada (Moita, op. cit., p. 272).

    Desse modo, a arte de narrar constitui-se em uma forma

    artesanal de comunicao (Benjamin, op. cit., p. 205). A

    narrativa autobiogrfica foi entendida por ns, com base em

    Bolvar et al. (2001), na trplice dimenso de: FENMENO

    (o relato; o acontecimento), MTODO (teoria da meto-

    dologia de investigao) e PROCESSO (de ressignificao

    do vivido do sujeito que se narra). Essas dimenses terico-

    metodolgicas foram percebidas e apreendidas mediante o

    cruzamento dos dados empricos que vimos obtendo com a

    literatura especializada, aqui sinteticamente referida.

    ses; o planejamento e a realizao do I Congresso Internacional sobre Pesquisa (Auto)biogrfica I CIPA , ocorrido em Porto Alegre, de 7 a 11 de setembro de 2004, com a participao dos autores do livro (34 pesquisadores: do Brasil, da Espanha, de Portugal, da Itlia, da Dinamarca, de Israel, da Inglaterra, do Canad e dos Estados Unidos da Amrica do Norte); captulos em livro e artigos no pas e no exterior; apresentaes em eventos e seminrios terico-metodolgicos e leituras independentes no Programa de Ps-Graduao na PUCRS, alm de orientao de teses, dissertaes e participao em bancas. Exemplo de recentes publicaes: Abraho (2008 a, b, c, d, f, g, h).

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