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Abordagens dos cursos de Administração no Estado de São Paulo em relação ao ensino do Desenvolvimento Sustentável RAISSA ALVARES DE MATOS MIRANDA Universidade de São Paulo [email protected] SONIA VALLE WALTER BORGES DE OLIVEIRA Universidade de São Paulo [email protected] CLAUDIO DE SOUZA MIRANDA Universidade de São Paulo [email protected]

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Abordagens dos cursos de Administração no Estado de SãoPaulo em relação ao ensino do Desenvolvimento Sustentável

 

 

RAISSA ALVARES DE MATOS MIRANDAUniversidade de São [email protected] SONIA VALLE WALTER BORGES DE OLIVEIRAUniversidade de São [email protected] CLAUDIO DE SOUZA MIRANDAUniversidade de São [email protected] 

 

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Abordagens dos cursos de Administração no Estado de São Paulo em relação ao ensino

do Desenvolvimento Sustentável

O trabalho tem como objetivo responder: “Como os cursos de bacharelado em administração

estão abordando os conteúdos sobre desenvolvimento sustentável (DS) em suas grades

curriculares?”, para tanto foi feito um estudo por meio de uma análise documental de grades

curriculares e ementas de 18 IES que possuem cursos de administração que obtiveram notas 4

e 5 no ENADE no ano de 2012 e/ou cursos signatários do PRME (Principles for Responsible

Management Education) do Estado de São Paulo, de um total de 44 Instituições de Ensino

Superior (IES). Os principais resultados foram: que há utilização inadequada dos termos

sustentabilidade e DS, alguns cursos possuem a inserção DS em disciplinas ligadas à

produção e operações, várias IES possuem uma disciplina intitulada “Tópicos Especiais,

emergentes ou avançados em Administração”, e trazem os assuntos de DS em suas ementas,

mesmo aquelas que possuem uma disciplina específica de DS. Em relação às práticas de

interdisciplinaridade, considerada importante para o DS, nota-se que o DS pode ser inserido

em diversas disciplinas, em algumas IES é possível verificar tal aplicação, porém como a

análise documental possui restrições para se afirmar veementemente esta condição, assim

sugere-se que outras investigações junto à coordenação de curso sejam feitas.

Palavras-chave: Ensino de Administração, Desenvolvimento Sustentável, Triple Bottom Line.

Sustainable Development Education approaches in the business management courses in

the State of São Paulo

This paper aims to answer: “How the bachelor´s business management courses are addressing

the contents about Sustainable Development (SD) in their curricula?” The research was based

in documental analysis of curricula and syllabus from 18 High Education Institutions (HEI)

that had good performance (4 and 5) at the ENADE test on 2012 and/or courses that are

PRME (Principles for Responsible Management Education) signatories in the state of São

Paulo, from a population of 44 HEIs. The main results were: there is inappropriate use of the

terms sustainability and SD, there is in some courses the SD contents in subjects related to

production and operations, there is in several HEIs a subject entitled “Special, Emergent or

Advanced Topics in management” that brings the SD matters in their syllabus, even if there is

a DS specific subject. Concerning the interdisciplinary practices that are significant to SD, it

is noted that it can be inserted in many subjects and that can be found in some HIEs, but as

there are some restrictions regarding documental analysis, it is difficult to strongly affirm this

situation, so it is recommended to investigate those practices within the courses coordination

and professors.

Key-words: Management education, Sustainable Development, Triple Bottom Line.

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1 Introdução

A preocupação com o desenvolvimento sustentável deriva desde a revolução

industrial, pois a introdução de indústrias na sociedade com vistas à lucratividade e

desenvolvimento econômico acabou por intervir nas relações na sociedade, e por

consequência no meio ambiente. Os principais impactos causados por esta mudança foram a

depredação do meio ambiente, por meio de grande utilização de recursos naturais sem

preocupação com sua possível extinção, entre outros.

Desta forma, o termo desenvolvimento sustentável evolui com cada nova alteração que

as organizações exercem sobre o meio em que estão inseridas. Nos anos 1960, o conceito era

ligado à percepção que a natureza possuía recursos limitados; nos 1970, a interrupção da

produção e do desenvolvimento precisaria acontecer até que se conhecesse a limitação do

ambiente. Nos anos 1980, compreendia-se que poderia haver um desenvolvimento econômico

sem a degradação do meio ambiente e a partir dos anos 1990 em diante, entendeu-se que a

conservação do ambiente deve ser um trabalho de esforço conjunto entre a sociedade, o estado

e o mercado (SACHS, 1993; SACHS, 2007; BACHA, SANTOS, SCHAUM, 2010).

Mesmo assim, este termo possui inúmeras definições e interpretações (BONNETT,

2002), sendo que todas elas remetem ao conceito do Triple Botton Line (TBL) criado por John

Elkington em 1998, que trata do desenvolvimento econômico, responsabilidade social e

gestão ambiental (BACHA; SANTOS; SCHAUM, 2010), justamente esta visão que teve

início a partir dos anos 1990. Este modelo de tripé, envolvendo o conceito de

desenvolvimento sustentável, trouxe uma melhor visão para as organizações no sentido de

auxiliá-las a melhor gerir suas operações.

Neste sentido, as organizações desde então iniciaram um esforço em se enquadrar

neste conceito para conseguir a integração dos fatores sociais e ambientais com as

considerações econômicas (BACHA; SANTOS; SCHAUM, 2010; WU et al., 2010). Assim,

começaram a criar novas funções dentro das empresas que demandam profissionais

capacitados a compreender o significado de desenvolvimento sustentável.

Deste modo, um dos cursos com perfil para a formação de gestores com competências

para lidar com esse campo pode ser o curso de bacharelado em administração, como pode ser

visto nas Diretrizes Nacionais Curriculares do curso bacharelado em Administração

(DCNADM).

Assim como pode ser observado em trabalhos que relatam a história do curso de

administração no Brasil e no mundo (NICOLINI, 2003; COELHO, 2006; BERTERO, 2006;

PINTO; MOTTER JUNIOR, 2012), a evolução do curso tem uma correlação positiva com a

necessidade do mercado, pois o mercado necessita de um profissional que esteja preparado

para lidar com as mudanças que ocorrem nas organizações e em seus ambientes (BAUER,

2008).

Para a formação deste profissional, no entanto, é necessário que o Desenvolvimento

Sustentável (DS) seja integrado à grade curricular e ao pensamento sistêmico, ou seja, sendo

abordado por toda a grade e não somente em pontos isolados, pois como Wu et al. (2010)

mostram em sua pesquisa com 642 instituições de ensino, os temas relacionados ao conceito

de desenvolvimento sustentável são diversos em cursos de gestão, incluindo pós-graduação,

tais como: ética, responsabilidade social corporativa, recursos naturais, energia, cultura e

diversidade cultural, entendimento intercultural, mudança climática, paz e segurança humana

e ecologia. Outros estudos também mostram a vastidão de termos implícitos no conceito do

TBL no DS como o de Glavic e Lukman, (2007); Bacha, Santos e Schaum (2010) e Quental,

Lourenço e Silva (2011).

Todavia, o que se observa é que muitas organizações preocupam-se com a gestão

ambiental, um dos pilares do desenvolvimento sustentável e assim preferem contratar

engenheiros (SCHOENHERR, 2012), porque eles possuem conhecimentos técnicos diferentes

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dos administradores. Inclusive as pesquisas a respeito da educação para o desenvolvimento

sustentável é feita com engenheiros e estudantes da área de ecologia, conforme observado nos

trabalhos de Jones, Trier e Richards (2008); Hanning et al. (2012) e Mulder, Segalàs e Ferres-

Balas (2012).

Neste sentido, como há a criação de novas funções dentro das organizações, para

suprir as necessidades no que tange às práticas de desenvolvimento sustentável, sejam estas

práticas provenientes de pressões governamentais e da sociedade, ou iniciativas das empresas,

o gestor que estará nessa função precisa ter competências e habilidades para que estas práticas

sejam bem sucedidas.

O presente trabalho vem analisar como estes conhecimentos sobre o desenvolvimento

sustentável são abordados nas grades curriculares dos cursos de bacharelado no Brasil, mais

especificamente no Estado de São Paulo, pois é o estado que mais possui cursos de graduação

bacharelado em administração no país (INEP, 2014). Assim, a pesquisa baseou-se na análise

documental de matrizes curriculares e ementas das disciplinas para tentar responder à seguinte

pergunta de pesquisa: “Como os cursos de bacharelado em administração estão abordando os

conteúdos sobre desenvolvimento sustentável em suas grades curriculares?”

O principal objetivo desta pesquisa é verificar nas matrizes curriculares e nas ementas

das disciplinas, os conteúdos ensinados aos alunos de administração, levando em

consideração a necessidade dos mesmos em possuir competências e habilidades para lidar

com estes assuntos. As variáveis analisadas são: existência de uma disciplina específica para

DS, obrigatoriedade no caso de existência, conteúdos abordados, demais disciplinas não

específicas e seus respectivos conteúdos, quantidade de créditos, período oferecido e a

possibilidade de haver interdisciplinaridade (a integração e engajamento de educadores no

conjunto, na interação das disciplinas do currículo escolar entre si e com a realidade (LÜCK,

2002; POMBO, 2005)), multidisciplinaridade (conjunto de disciplinas a serem trabalhadas de

forma simultânea, sem explicitar as analogias que possam existir entre elas (BICALHO;

OLIVEIRA, 2011)) e transdisciplinaridade (uma nova apreensão da realidade executando

elementos que passam entre, além e por meio das disciplinas (SANTOS, 2008)).

.

2 Conceitos de Desenvolvimento Sustentável e os cursos de bacharelado em

administração

Desenvolvimento sustentável (DS) possui inúmeras definições, porém a que se

popularizou entre todos os meios foi o conceito da Comissão de Brundtland pelo relatório

“Our common future” – World Commission on Environment and Development

(BRUNDTLAND, 1987) sendo assim, define-se como o desenvolvimento que possa

satisfazer às necessidades da geração presente sem comprometer as necessidades das gerações

futuras. A partir da disseminação do termo DS, várias foram suas interpretações

(MEBRATU, 1998), dando margem a utilizações impróprias.

No entanto, tanto a palavra sustentabilidade como o desenvolvimento sustentável são

muitas vezes utilizada fora desta definição. A princípio, a palavra sustentabilidade tem sua

origem na ecologia e a integração da palavra desenvolvimento dá a conotação econômica ao

termo (LELÉ, 1991), e para outros autores o termo desenvolvimento retira a ideia essencial

ambiental do mesmo (COFFMAN; UMEMOTO, 2009).

Ainda existe muita discussão e dúvida sobre seu entendimento tanto na área acadêmica

como no mercado (COFFMAN; UMEMOTO, 2009; QUENTAL; LORENÇO; SILVA, 2011;

GONÇALVES-DIAS; HERRERA; CRUZ, 2013; MASCARENHAS; SILVA, 2013a). Neste

sentido, para tentar minimizar sua compreensão, tanto nas organizações como na academia

que viam uma grande lacuna entre a teoria e a prática (COFFMAN; UMEMOTO, 2009;

SLAPER; HALL, 2011; MASCARENHAS; SILVA, 2013b), Elkington (1999) cria uma

estrutura que traduz de maneira mais detalhada o desenvolvimento sustentável, o Triple

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Botton Line (TBL), voltado principalmente para guiar as práticas organizacionais e, logo, o

ensino de DS para a formação de profissionais de gestão.

O TBL ou tripé da sustentabilidade abrange três aspectos da sustentabilidade:

econômico, social e ambiental, pois Elkington (1999) considera que algumas alterações

globais acabam por modificar a busca da sustentabilidade nos negócios, destacando-se a

mudança dos valores humanos e sociais. Assim, ele criou uma maneira de se entender a

sustentabilidade, levando em consideração além da mensuração econômica, a social e a

ambiental.

Apesar de ser uma estrutura criada para a compreensão da mensuração da

sustentabilidade na prática, as três dimensões pensadas por Elkington (1999) auxiliam

também a área de ensino e pesquisa. A dimensão econômica contempla as questões ligadas à

obtenção de lucros, assim também contém conceitos sobre custos e despesas, ou seja, tem

relação direta com a parte financeira das organizações e para o DS implicam em contabilidade

ambiental, ecoeficiência e investimentos éticos (GLAVIC; LUKMAN, 2007), com a

finalidade de alcançar a sustentabilidade econômica pela alocação eficiente dos recursos e

pelas modificações das estruturas de orientação dos investimentos, trazendo ganhos para

todos interessados na organização, os stakeholders (CLARO; CLARO; AMÂNCIO, 2008;

LEITE; ARAUJO; MARTINS, 2011; SALPER; HALL, 2011).

A dimensão ambiental é a preocupação com os recursos naturais e como uma

organização pode causar o menor impacto negativo em seu processo produtivo, seja na

utilização dos recursos naturais, ou seja, pela emissão de resíduos da produção, como gases

poluentes (CLARO; CLARO; AMÂNCIO, 2008; SLAPER; HALL, 2011). Neste sentido,

termos relevantes abrangidos por esta dimensão são: recursos renováveis, minimização da

utilização de recursos, reciclagem, regeneração, recuperação e degradação, entre outros

(GLAVIC; LUKMAN, 2007).

A terceira dimensão é a social, que consiste na relação de aspectos sociais

relacionados às qualidades humanas. Desta forma, abrangendo o ambiente interno da empresa

e o externo (CLARO; CLARO; AMÂNCIO, 2008). Os principais termos relacionados a esta

dimensão que norteiam os princípios sociais são: responsabilidade social, saúde e segurança,

pagamento por poluir e transparência para os stakeholders (GLAVIC; LUKMAN, 2007).

Existem termos que relacionam todas as três dimensões, como ética, moral, meio

ambiente, cultura entre outros, pois a ideia das dimensões é justamente criar um conceito

transversal de DS, e não criar dimensões isoladas. Assim, também, é o objetivo do ensino

desta temática nos cursos de bacharelado em administração, pois o DS pode estar inserido em

todas, ou quase todas, as disciplinas dos cursos de administração, inclusive porque as

DCNADM para o curso aconselham que sejam abordados temas contemporâneos e o

Desenvolvimento Sustentável é um tema contemporâneo na área de administração, além de

ser transversal e interdisciplinar (JACOBI; RAUFFLET; ARRUDA, 2011; TELLES, 2011;

TELLES; GUEVARA, 2011; SILVA; CORRÊA, 2012; DEMAJOROVIC; SILVA, 2012;

GONÇALVES-DIAS; HERRERA; CRUZ, 2013; MASCARENHAS; SILVA, 2013a;

BUARQUE et al., 2014).

A resolução nº 4 de 13 de julho de 2005 do Ministério da educação e Cultura que

institui as DCN de graduação, bacharelado em administração, traz vários pontos importantes

no que tange à formação do profissional de administração (BRASIL, 2005). No perfil

desejado do formado, enumera algumas qualidades que este precisa ter, dentre elas, a

flexibilidade intelectual e adaptabilidade contextualizada no trato de situações diversas,

presentes ou emergentes, nos vários segmentos do campo de atuação do administrador. Uma

destas situações presentes e emergentes é o desenvolvimento sustentável, por exemplo.

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Assim, também esta mesma resolução em relação às competências e habilidades que o

curso deve possibilitar, existem oito, onde quatro podem de certa forma estar relacionadas ao

DS. São elas:

I - reconhecer e definir problemas, equacionar soluções, pensar estrategicamente,

introduzir modificações no processo produtivo, atuar preventivamente, transferir e

generalizar conhecimentos e exercer, em diferentes graus de complexidade, o

processo da tomada de decisão;

[...]

V - ter iniciativa, criatividade, determinação, vontade política e administrativa,

vontade de aprender, abertura às mudanças e consciência da qualidade e das

implicações éticas do seu exercício profissional;

VI - desenvolver capacidade de transferir conhecimentos da vida e da experiência

cotidianas para o ambiente de trabalho e do seu campo de atuação profissional, em

diferentes modelos organizacionais, revelando-se profissional adaptável;

VII - desenvolver capacidade para elaborar, implementar e consolidar projetos em

organizações; e [...] (BRASIL, 2005)

Dentre elas pode-se notar a utilização das palavras modificações, mudanças, tomada

de decisão, ética, adaptável, projetos. Todas elas relacionadas de alguma forma com o DS,

tomando-se por base as definições já mencionadas anteriormente. Ademais, no artigo 5º, esta

mesma resolução menciona os conteúdos que o curso de graduação em administração deve

contemplar, por meio de seus projetos pedagógicos e grade curricular, e ainda estes conteúdos

precisam possuir inter-relações entre a realidade nacional e internacional, que possam ser

aplicadas no âmbito das organizações, além disso, que atendam quatro formações e que sejam

interligados. O Quadro 1 mostra como estas formações e respectivos conteúdos podem

contemplar o ensino do Desenvolvimento Sustentável. QUADRO 1 – Relação de Conteúdos das DCNADM e o Desenvolvimento Sustentável

Formação Conteúdos Relação com o Desenvolvimento Sustentável

Básica

Relacionados com estudos antropológicos,

sociológicos, filosóficos, psicológicos, ético-

profissionais, políticos, comportamentais,

econômicos e contábeis, bem como os

relacionados com as tecnologias da

comunicação e da informação e das ciências

jurídicas.

- Contextos éticos, econômicos, jurídicos,

financeiros, relações entre pessoas.

- Conceito do Triple-Botton-line

- As disciplinas que contemplam estes

conteúdos podem relacioná-los às questões

ambientais.

- Criar interdisciplinaridade,

multidisciplinaridade e transdisciplinaridade

com o DS

Profissional

Relacionados com as áreas específicas,

envolvendo teorias da administração e das

organizações e a administração de recursos

humanos, mercado e marketing, materiais,

produção e logística, financeira e

orçamentária, sistemas de informações,

planejamento estratégico e serviços.

- Os conteúdos específicos podem em todas

suas áreas abordar os assuntos pertinentes ao

DS, pois todas as disciplinas ligadas aos

conteúdos contemplados por esta formação

estão diretamente relacionado ao

funcionamento das organizações que está

envolvida no ambiente.

Estudos

quantitativos e

suas tecnologias

Abrangendo pesquisa operacional, teoria dos

jogos, modelos matemáticos e estatísticos e

aplicação de tecnologias que contribuam

para a definição e utilização de estratégias e

procedimentos inerentes à administração.

- Aqui podem ser utilizados métodos

quantitativos que auxiliam a maximização de

resultado de projetos, pois uma das

preocupações das organizações atualmente

está ligada ao DS.

Complementar

Estudos opcionais de caráter transversal e

interdisciplinar para o enriquecimento do

perfil do formando.

- Pode haver disciplinas específicas que

contemplem as definições e conceitos ligados

ao DS, sempre levando em consideração a

questão interdisciplinar e transdisciplinar.

Fonte: Adaptado da Resolução nº 4 de 13 de julho de 2005 (BRASIL, 2005)

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De acordo com o Quadro 1, pode-se notar que uma maneira interessante de abordar o

tema no curso de administração seria pela aplicação do TBL, pois como já comentado

anteriormente, foi criado para interligar a teoria à prática e também é possível criar métodos

de ensino interdisciplinares, por ser uma temática interdisciplinar por natureza e também

transversal.

Esta hipótese é colocada, pois existem vários estudos no Brasil que analisam a

inserção dos assuntos pertinentes ao DS nos cursos de graduação, bacharelado em

administração, dentre eles: Jacobi, Raufflet e Arruda (2011); Telles (2011); Godarth et al.

(2011); Telles e Guevara (2011); Telles (2011); Silva e Corrêa (2012); Demajorovic e Silva

(2012); Gonçalves-Dias, Herrera e Cruz (2013) e Mascarenhas e Silva (2013a). Todos eles

trazem os desafios e também alguns sucessos sobre a inserção do desenvolvimento

sustentável na formação do bacharel em administração, conforme pode ser visto no Quadro 2.

Entre estas dificuldades é como trazer ao ensino a abordagem do DS.

QUADRO 2 - Resultados dos Trabalhos da inserção do Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Pontos positivos Pontos de Melhoria

- Alunos que cursaram a disciplina em caráter

obrigatória, foram sensibilizados e entenderam a

necessidade do conhecimento pelo administrador

(GONÇALVES-DIAS; HERRERA; CRUZ, 2013);;

- Preparar melhor os alunos para o mercado de

trabalho quando são introduzidos aos temas sobre DS;

- formação de um cidadão e não somente um

administrador (MASCARENHAS; SILVA, 2013a;

SILVA; CORRÊA, 2012; GODARTH et al., 2011);

- A coordenação entende a necessidade de se focar no

tema na formação do administrador

(MASCARENHAS; SILVA, 2013a; SILVA;

CORREA, 2012);

- IES que possuem em sua grade curricular o DS

abordam sobretudo o Triple Botton Line (TBL).

- Dificuldade de inserir “sustentabilidade” nos

conteúdos por causa da diversidade de conceitos

(GONÇALVES-DIAS; HERRERA; CRUZ, 2013;

MASCARENHAS; SILVA, 2013a);

- Pouca importância dada ao tema DS pelas

coordenações e docentes (GONÇALVES-DIAS;

HERRERA; CRUZ, 2013);

- Apenas visões econômicas do tema (GONÇALVES-

DIAS; HERRERA; CRUZ, 2013; MASCARENHAS;

SILVA, 2013a);

- Falta de conexão entre teoria e prática

(GONÇALVES-DIAS; HERRERA; CRUZ, 2013);

- Necessidade de trabalhar o tema de forma

interdisciplinar, transdisciplinar e multidisciplinar

(GONÇALVES-DIAS; HERRERA; CRUZ, 2013;

TELLES; GUEVARA, 2011; MASCARENHAS;

SILVA, 2013a; SILVA; CORRÊA, 2012; JACOBI;

RAUFFLET; ARRUDA, 2011; TELLES, 2011;

DEMAJOROVIC; SILVA, 2012);

- Resistência à interdisciplinaridade pelos professores

(GONÇALVES-DIAS; HERRERA; CRUZ, 2013;

MASCARENHAS; SILVA, 2013a; JACOBI;

RAUFFLET; ARRUDA, 2011; DEMAJOROVIC;

SILVA, 2012);

- Formação dos docentes é fraca neste tema

(GONÇALVES-DIAS; HERRERA; CRUZ, 2013;

MASCARENHAS; SILVA, 2013a; JACOBI;

RAUFFLET; ARRUDA, 2011);

- Ter uma disciplina específica apenas para deixar a

grade curricular na “moda” (GONÇALVES-DIAS;

HERRERA; CRUZ, 2013);

- Entender as práticas nas organizações

(MASCARENHAS; SILVA, 2013a).

- Ensino do TBL ainda muito incipiente nas grades

curriculares (GODARTH et al., 2011)

Fonte: Elaborado pelos autores

A partir destes estudos, nota-se que ainda a inserção do tema DS é difícil nos cursos de

administração, mesmo que alguns trabalhos aqui citados encontraram boas práticas,

mencionadas no Quadro 2 como pontos positivos, de IES em relação ao tema, como o estudo

de Silva e Corrêa (2012), por exemplo. Os demais estudos mostram claramente a necessidade

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de se exercer a interdisciplinaridade, a transdisciplinaridade e a multidisciplinaridade na

aplicação do DS. Desta forma, fica evidente que o assunto precisaria ser tratado em todas as

disciplinas do curso relacionadas à gestão, por meio de abordagens diferentes e ainda

complementares, e a melhor aplicação do TBL.

No entanto, nota-se que há muita dificuldade em implantar o tema às grades

curriculares, por conta de aspectos importantes: falta de preparação adequada dos docentes, e

mesmo a falta de interesse dos mesmos, por não entender a temática e principalmente

entender como as práticas ocorrem nas organizações. Estes fatores culminam por desmotivar

o aluno em aprender sobre o assunto.

Deste modo, uma das formas de entender como os assuntos sobre DS são abordados

nos cursos de administração no Brasil é analisando matrizes curriculares e ementas destas

matrizes, porém não a única. Neste trabalho é justamente esta análise que é realizada.

3 Metodologia

A presente pesquisa consiste em analisar grades curriculares e ementas de Cursos de

graduação bacharelado em administração no Estado de São Paulo, sobre como a coordenação

do curso e seu colegiado entendem os assuntos sobre Desenvolvimento Sustentável e como

estes são integrados aos conteúdos do curso.

Os cursos escolhidos para análise são os cursos com conceitos no Exame Nacional de

Desempenho dos Estudantes da Educação Superior (ENADE) 4 e 5 no ano de 2012.A razão

da escolha deste objeto de estudo é de que como estas IES obtiveram notas consideradas de

bom desempenho, significa que elas estão seguindo as orientações sugeridas pelo MEC e,

portanto, a resolução nº 4 (BRASIL, 2005), que cita o DS de forma implícita por meio das

habilidades e competências que o formado precisa ter e ainda dentro dos conteúdos nas

formações sugeridas por ela. Além disso, a avaliação possui 18,54% de perguntas

relacionadas ao DS no ano de 2012.

Também são analisados três cursos de administração signatários do Principles for

Responsible Management Education (PRME), lançado em 2007 no Global Compact Leaders

Summit da Organização das Nações Unidas, em Genebra, sendo o primeiro relacionamento

organizado entre as Nações Unidas e escolas de negócios. Um deles também consta no grupo

do ENADE, porém dois deles são apenas signatários do PRME. Esta escolha está na proposta

de ser um signatário, pois os signatários destes princípios se comprometem em aplicar e

implementar princípios sobre o DS em seu curso, portanto, entende-se que estes cursos

possuem grades curriculares e ementas que contemplam o DS.

Todos os cursos analisados encontram-se em IES situadas em cidades do estado de

São Paulo, pois é o estado que mais possui cursos de graduação bacharelado em

administração no país e ainda possui a maioria das notas 4 e 5 no Enade, aproximadamente

22% do total de cursos com estas notas (INEP,2014). Em relação aos signatários do PRME,

escolheu-se também cursos localizados no Estado de São Paulo.

Como esta pesquisa visa entender como os conceitos, definições e assuntos sobre o DS

são abordados em grades curriculares e ementas dos cursos bacharelado em administração,

pode-se caracterizar esta pesquisa como exploratória, pois visa desenvolver, esclarecer

conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses

pesquisáveis para estudos posteriores. As pesquisas exploratórias são realizadas

especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se difícil formular sobre

ele hipóteses precisas e operacionalizáveis (GIL, 1999).

No que tange ao tipo de pesquisa quanto à natureza do método, esta pesquisa é

qualitativa, pois a estratégia principal de pesquisa é a análise documental que consiste na

utilização de documentos como fonte de dados, informações evidências (MARTINS;

THEÓPHILO, 2009). Assim, a análise qualitativa é feita em torno dos documentos retirados

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de páginas na Internet ou por meio de envio da coordenação do curso, quando não disponível,

por meio de parâmetros pré-estabelecidos para análise, mencionados nas análises dos

resultados.

Assim, foram detectadas 44 IES, das quais 13 possuíam as grades e ementas

disponíveis na Internet, e 31 houve a necessidade de se requerer os documentos para os

coordenadores, porém apenas cinco coordenadores enviaram a documentação adequada para

análise, além desses, dois enviaram, porém os documentos estavam incompletos e não

puderam ser analisados. De tal modo que, a pesquisa foi feita com 18 IES, melhor detalhadas

no item 4.

4 Apresentação e Análise dos Resultados

Em busca à resposta para a questão de pesquisa: “Como os cursos de bacharelado em

administração estão abordando os conteúdos sobre desenvolvimento sustentável em suas

grades curriculares?” foi realizado um estudo conforme os quesitos mencionados na

metodologia. Portanto, foram encontrados 66 cursos de bacharelado em administração de 44

Instituições de Ensino Superior (IES). A quantidade de IES é inferior ao de cursos porque

alguns deles são de unidades, campus ou acreditações das mesmas, assim possuem o mesmo

ementário e matriz curricular, com pequenas alterações referentes a questões regionais. Desta

forma, o estudo foi feito em 36 cursos de 18 IES, privadas e públicas.

Os documentos analisados foram grades curriculares e ementas dos 36 cursos, porém a

análise mais aprofundada deu-se em 18 IES, pelas razões já expostas acima. Os parâmetros

para análise das grades foram: existência de uma disciplina específica para DS,

obrigatoriedade no caso de existência, conteúdos abordados, demais disciplinas não

específicas e seus respectivos conteúdos, quantidade de créditos, período oferecido e a

possibilidade de haver interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e transdisciplinaridade.

Como demonstrado no Quadro 3, em seis IES, que são privadas, não foi detectada

nenhuma disciplina específica sobre DS. No entanto, quatro (C, D, E e F) trazem disciplinas

tais como Tópicos Especiais ou Emergentes em sua grade e suas ementas mencionam

conteúdos ligados ao DS: responsabilidade social e meio ambiente e as organizações. Por

outro lado, duas (A e B) não possuem nenhuma disciplina que trate sobre o assunto, mesmo

que indiretamente.

Em relação aos cursos que possuem pelo menos uma disciplina específica, foram

encontrados 20, porém de seis IES, sendo duas públicas (I e K) e as demais privadas. Os

títulos das disciplinas encontradas são: “Gestão Ambiental”, “Responsabilidade Social” e

“Pensamento crítico e ético”. De maneira geral, os conteúdos abordados são: sistemas de

gestão ambiental (ISO pertinentes), auditoria ambiental (ISO pertinentes), ética empresarial,

desenvolvimento sustentável, investimento social, relacionamento com stakeholders, terceiro

setor, planejamento estratégico sustentável (ambiental, social e econômico), sustentabilidade e

responsabilidade social.

A maioria das disciplinas são ministradas no sétimo semestre do curso, apenas uma

instituição ministra uma das disciplinas no primeiro semestre, as cargas horárias são em

quatro IES (G,H,I,K) de quatro créditos e nas demais (J e L) são de dois créditos. Em todas as

IES estas disciplinas são obrigatórias.

Nota-se que duas IES (G e I) focam, sobretudo, em aspectos ambientais do DS, porém

em outras disciplinas do curso são abordados assuntos econômicos e sociais como mostrados

no conceito de TBL. Em uma das IES (I) o foco principal é agronegócios, e em todas as

disciplinas sobre este assunto pontos importantes do TBL são mencionados. Na outra IES (G),

existe uma disciplina de “Tópicos Especiais em Administração” e ela contempla pontos mais

relevantes sobre o TBL, colocando a sustentabilidade como ponto principal dos negócios.

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QUADRO 3 – Resumo dos Dados dos Parâmetros das IES pesquisadas

IES

Pública

ou

Privada

Disciplina

Específica

Quantidade

de

disciplinas

Obrigatória

ou Optativa

Semestre de

oferecimento

Carga

em

créditos

Disciplina

com

abordagem

Indireta

PRME

A Privada Não - - - - Não Não

B Privada Não - - - - Não Não

C Privada Não - - - - Sim Não

D Privada Não - - - - Sim Não

E Privada Não - - - - Sim Não

F Privada Não - - - - Sim Não

G Privada Sim 1 Obrigatória 7º 4 Sim Não

H Privada Sim 1 Obrigatória 1º 4 Não Não

I Pública Sim 1 Obrigatória 7º 4 Sim Não

J Privada Sim 1 Obrigatória 7º 2 Sim Não

K Pública Sim 1 Obrigatória 7º 4 Sim Não

L Privada Sim 1 Obrigatória 8º 2 Sim Não

M Pública Sim 2 Obrigatória 2º 2

Sim Sim Obrigatória 9º 2

N Privada Sim 2 Obrigatória 4º 4

Sim Sim Optativa 6º 2

O Privada Sim 2

Optativa A partir do

6º 4

Não Não

Optativa A partir do

6º 4

P Pública Sim 2 Obrigatória 2º 2

Sim Não Obrigatória 7º 4

Q Privada Sim 2 Obrigatória 7º 2

Sim Não Obrigatória 8º 2

R Privada Sim 6 Optativas A partir do

5º * Não Sim

Fonte: Elaborado pelos autores.

Nas IES H, J e L o foco das disciplinas é em responsabilidade social e ética, a IES J

possui disciplinas que abordam governança corporativa (relações com stakeholders) e ainda

disciplinas interdisciplinares, que integram todos os conteúdos contidos nas DCNADM com

aqueles do DS. A IES H, a que oferece a disciplina no primeiro semestre, não possui outra

disciplina que trate explicitamente de DS, porém na bibliografia desta disciplina há obras que

tratam do TBL.

Nos documentos analisados das IES (G, H, I, J, K e L), nota-se a tentativa de criar

métodos interdisciplinares para lidar com o tema, além de também realizar a abordagem

transdisciplinar.

Nas IES M, N, O, P e Q, duas públicas e três privadas, há pelo menos duas disciplinas

específicas em relação ao DS. A IES O tem ambas as disciplinas como optativas, de quatro

créditos, neste caso, apesar de serem duas disciplinas, pode-se correr o risco de não serem

oferecidas, pois o aluno poderá cursá-las, caso oferecidas, a partir do sexto semestre até o

final do curso.

As IES M, P e Q apresentam as duas disciplinas como obrigatórias, contudo, alguma

delas tem um somatório de quatro créditos e outras de seis, conforme consta no Quadro 3. O

período de curso das disciplinas oscila, sendo algumas no início do curso e outras ao final. A

IES N apresenta em sua matriz uma disciplina obrigatória e uma optativa porém, as cargas são

diferentes como mostrado no Quadro 3.

Dentre as disciplinas obrigatórias destas IES com oferecimento de duas disciplinas

específicas, os títulos encontrados foram: “Gestão da Sustentabilidade e Terceiro Setor”,

“Ética e Desenvolvimento Sustentável”, “Administração e Responsabilidade Socioambiental”,

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“Sustentabilidade nas organizações”, “Meio Ambiente e Sustentabilidade”, “Sustentabilidade

Empresarial”, “Organização Industrial e economia ambiental”, “Sustentabilidade na Cadeia

Produtiva” e “Responsabilidade Social nas Organizações”.

Os principais conteúdos abordados nestas disciplinas são: terceiro setor, gestão

ambiental, meio ambiente, desenvolvimento sustentável, aspectos econômicos relacionados ao

meio ambiente, cidadania, direito ambiental, custos ambientais, sistema de gestão ambiental

(ISO pertinentes), auditoria ambiental, indicadores ambientais, sustentabilidade, agenda 21,

Triple Bottom Line (TBL), gestão de recursos ambientais (hídricos, sólidos, qualidade do ar),

ecoeficiência, Estudo do Impacto Ambiental (EIA), Relatório de Impacto Ambiental (RIMA),

Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), políticas ambientais, gestão ambiental

empresarial, produção sustentável, logística reversa, Global Reporting Initiative (GRI), ética e

o desenvolvimento sustentável.

No caso das disciplinas optativas, os títulos localizados foram: Responsabilidade

Socioambiental, Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável. Os conteúdos são os

mesmos encontrados nas obrigatórias.

Apesar de estas instituições possuírem duas disciplinas que tratam especificamente do

DS, uma disciplina em conjunto com a outra abordam os mesmos conteúdos de IES que

possuem apenas uma disciplina, situação que pode prejudicar a abordagem de DS, nestas IES

e a questão de disciplinas eletivas, pois elas não são oferecidas sempre. Dessa forma, o aluno

pode não ter a formação para o DS desejável.

Outro ponto relevante da análise deste conjunto, é que a maioria das IES traz estas

disciplinas do meio ao final do curso, entre o sexto e oitavo semestre, em cursos de quatro

anos, e sétimo e nono semestre em cursos de cinco anos. Outro ponto importante, é que dois

cursos de duas destas IES são signatários do PRME, e para ser signatário, é preciso seguir seis

princípios (PRME, 2014). Porém, para o objetivo desta análise, apenas três deles têm relação

direta, sendo eles:

Razão: desenvolver as capacidades dos alunos para serem futuros geradores de

valor sustentável para os negócios e a sociedade em geral e trabalhar para uma

economia global inclusiva e sustentável.

Valores: incorporação nas atividades acadêmicas e currículos os valores da

responsabilidade social global como retratado em iniciativas internacionais,

como o Pacto Global das Nações Unidas.

Diálogo: facilitação e diálogo entre educadores, estudantes, empresas, governo,

consumidores, mídia, organizações da sociedade civil e outros grupos

interessados e as partes interessadas sobre questões críticas relacionadas à

responsabilidade social global e sustentabilidade.

Neste sentido, as duas IES (M e N) precisam ter disciplinas na graduação que

consigam sensibilizar seus alunos e transformar estes gestores, não somente esta ação, mas

esta é uma ação básica, para um curso signatário do PRME. Assim, estes dois cursos possuem

disciplinas, uma nos primeiros dois anos, entre o segundo e quarto semestre, e outra, apesar de

em uma delas a segunda disciplina ser optativa, entre o sexto e nono semestre (curso de cinco

anos). Nota-se que o intuito é deixar o aluno ciente que o DS é parte integrante dos conteúdos

desenvolvidos durante todo o curso.

De tal modo, a IES R que possui seu curso signatário do PRME, não possui apenas

disciplinas específicas em DS, mas uma área de concentração, com disciplinas optativas* e

conteúdos sobre: Inovação na Criação de Valor, Sustentabilidade Global, Desenvolvimento

Local, Finanças Sustentáveis, Política e Economia Ambiental e Consumo Sustentável. Desta

forma, nota-se o comprometimento da IES para efetivar a inserção de sustentabilidade na

formação e nas ações do curso de administração; por isso, há maior desenvolvimento nesta

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área, e não apenas uma disciplina, ou um pouco sobre o DS, em cada uma delas. O aluno

precisa optar por esta área de concentração e precisa fazer no mínimo 12 créditos nesta área

de concentração, dos 32 créditos eletivos do curso.

Dentre todas as IES pesquisadas, notam-se alguns pontos importantes de análise:

uso inadequado do termo sustentabilidade: pois muitas IES ainda não têm um

foco sobre o que é o termo e colocam em suas disciplinas todos os assuntos

que estão mais em evidência, como terceiro setor, meio ambiente entre outros,

acreditando que a sustentabilidade esteja apenas ligada à área ambiental, e

mesmo utilizando o DS como sinônimo de gestão ambiental;

preocupação de alguns cursos ao inserir alguns pontos de DS em disciplinas

que abordam sistemas produtivos, como gestão de operações, gestão da cadeia

produtiva, sobretudo aqueles que abordam o ciclo de vida do produto;

várias IES pesquisadas possuem uma disciplina intitulada Tópicos Especiais,

emergentes ou avançados em Administração, e trazem os assuntos de DS em

suas ementas, mesmo aquelas que possuem uma disciplina específica de DS.

Estas IES podem por vezes, executando estas ações, considerar o DS algo

importante, porém momentâneo, sem a necessidade de inserir diretamente nas

disciplinas relevantes do curso, para tomada de decisão;

no que tange à interdisciplinaridade, problema ressaltado por vários trabalhos

anteriores, o conteúdo de DS poderia ser inserido em diversas disciplinas ao

longo do curso e também poderia ser tratado como um conteúdo passível de

transdisciplinaridade. Deste modo, poderia ser inserido em disciplinas tais

como: teoria geral de administração, ética, filosofia, sociologia,

microeconomia, macroeconomia, produção, logística, empreendedorismo,

estratégia (planejamento), projetos, entre outras, e ser trabalhado

conjuntamente utilizando estratégias de ensino coerentes com os objetivos das

disciplinas. Em algumas IES de ensino por meio da ementa é possível

interpretar esta aplicação.

Alguns pontos de análise ficaram comprometidos por conta das limitações impostas

pela estratégia de pesquisa aplicada da análise documental, sendo eles:

não conhecer as estratégias de ensino e os métodos utilizados, por não ter

acesso ao plano de ensino completo, tendo apenas informações contidas em

ementas e grades curriculares; assim existe uma dificuldade de se analisar as

práticas interdisciplinares, transdisciplinares e multidisciplinares; e

análise de documentos, muitas vezes não retratam a realidade, pois nem

sempre o que está descrito em documentos pode ser de fato exercido.

Desta forma, pode-se inferir por intermédio dos documentos analisados, que as IES M

e R, ambas signatárias do PRME são em parte referência na relação de como abordar o DS na

graduação de Administração. Isso porque o tema deveria ser considerado parte significativa

em todas as áreas de atuação da administração e considerados em todos os conteúdos de

formação abordados pelas DCNs, não somente como uma formação complementar. Os

gestores são tomadores de decisão e para tanto precisariam entender os impactos causados nas

três dimensões do TBL. Cabe porém ressaltar que no caso da IES R como todas as disciplinas

oferecidas são optativas, pode seu aluno sair sem qualquer formação direta no DS.

5 Considerações Finais

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O objetivo proposto neste trabalho é verificar nas matrizes curriculares e nas ementas

das disciplinas, os conteúdos ensinados aos alunos de administração de cursos de bacharelado

em administração no estado de São Paulo, levando em consideração a necessidade dos

mesmos em possuir competências e habilidades para lidar com estes assuntos.

Os resultados obtidos por meio da análise documental levam a entender que muitos

cursos ainda inserem as disciplinas de DS para “estarem na moda”, conforme os estudos sobre

alguns cursos no Brasil, e também se pode verificar que existe dificuldade no entendimento de

DS.

As IES signatárias do PRME possuem o DS mais organizado e desenvolvido em seus

conteúdos que as demais, por motivos claros.

Para melhorar as limitações encontradas neste trabalho, sugere-se que outros estudos

possam ser feitos partindo-se deste, com investigação de maior profundidade com os

coordenadores dos cursos e professores que ministram suas aulas, para realmente averiguar os

resultados obtidos neste trabalho.

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