abelhas sociais sem-ferrão do meio oeste de santa catarina
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Valorizadas pelo seu mel, ao qual se atribuem propriedades medicinais, as abelhas sem ferrão são relativamente pouco conhecidas na região, sendo que quem detém o maior conhecimento sobre as mesmas, são pessoas ligadas à agricultura ou extrativismo. São ditas abelhas sociais aquelas que se organizam em colônias, onde existe divisão de tarefas e castas diferentes, e devido a estas características, elas não conseguem formar ninhos ou sobreviver sozinhas, abaixo de um número critico de abelhas ou ainda com a falta de alguma casta. São taxonomicamente classificadas na tribo – Meliponini – dentro da família Apidae.TRANSCRIPT
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Abelhas sociais sem-ferro do Meio Oeste de Santa Catarina
por Cleiton Jos Geuster
Caractersticas das abelhas e seus ninhos Valorizadas pelo seu mel, ao qual se atribuem propriedades
medicinais, as abelhas sem ferro so relativamente pouco conhecidas na regio, sendo que quem detm o maior conhecimento sobre as mesmas, so pessoas ligadas agricultura ou extrativismo. So ditas abelhas sociais aquelas que se organizam em colnias, onde existe diviso de tarefas e castas diferentes, e devido a estas caractersticas, elas no conseguem formar ninhos ou sobreviver sozinhas, abaixo de um nmero critico de abelhas ou ainda com a falta de alguma casta. So taxonomicamente classificadas na tribo Meliponini dentro da famlia Apidae.
Abelhas da tribo Meliponini, conhecidas por Meliponneos, no tm a capacidade de ferroar, como muitas outras abelhas subordinadas mesma famlia. O ferro, cuja finalidade principal seria a defesa, nestas abelhas atrofiado. Elas, porm, desenvolveram vrios outros sistemas de defesa para seus ninhos, que dependendo da espcie, podem consistir no uso de resinas pegajosas depositadas sobre o possvel predador, mordidas com suas potentes mandbulas, enroscarem-se em cabelos e pelos, secreo de substncias cidas, voarem em ritmo frentico e em grande nmero
Como citar este captulo: Geuster, C.J. 2013. Abelhas sociais sem-ferro do Meio Oeste de Santa Catarina. p. 164-228. In: Favretto, M.A.; Santos, E.B.; Geuster, C.J. Insetos do oeste de Santa Catarina. Campos Novos: Edio dos Autores. 317p.
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de indivduos sobre quem maneja o ninho. Em colnias de espcies consideradas mansas, apenas o hbito de fechar a entrada do ninho com substncias resinoso-pegajosas, e bater vigorosamente as asas fazendo barulho, j podem desencorajar a invaso e pilhagem de seus ninhos. Percebe-se que seus sistemas de defesa muitas vezes tm um efeito mais psicolgico que fsico, principalmente sobre os humanos.
Geralmente, uma colnia de meliponneos possui duas castas de abelhas: Operrias e princesas/rainha. As operrias so fmeas com capacidade reprodutiva limitada, podendo ovipositar para alimentar a rainha - ovos trficos - ou ainda, gerar machos a partir destes ovos no fecundados. s operrias cabe a realizao da maioria das tarefas na colnia, e por esse motivo, em condies normais, a casta mais numerosa. Elas, de acordo principalmente com a idade, podem trabalhar na limpeza, defesa contra predadores e invasores, construo e manuteno do ninho, construo e aprovisionamento das clulas onde a rainha depositar seus ovos, coleta de plen e nctar entre outros afazeres. Os machos, e em determinadas pocas so produzidos em quantidade similar ao nmero de operrias fmeas. Sua funo principal a reproduo, e quando adultos, abandonam o ninho para viver solitariamente, buscando seu prprio alimento, e principalmente, tentam localizar alguma princesa para acasalar. As princesas so fmeas, com ampla
capacidade reprodutiva. No gnero Melipona so produzidas em quantidade razovel, geralmente mais de 10% do nmero total de abelhas, j em outros gneros, sua produo pequena, geralmente
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inferior a 1% do total de indivduos que nascem na colnia. As princesas, aps serem fecundadas, comeam a ganhar peso, e seu abdome fica distendido graas ao grande nmero de ovos que comeam a se desenvolver em seus ovrios, desencadeando um processo que em seu fim se d o nome de fisogastria. Quando a princesa comea a ovipositar, j se pode cham-la de rainha, que em condies normais, viver mais tempo que todas as outras castas, chegando a uma idade de 2 a 6 anos, dependendo da espcie e outros fatores. A maioria das princesas nascidas em uma colnia morta pelas operrias, sendo que somente sero teis no caso da morte ou substituio da rainha, ou ainda, em uma enxameao reprodutiva.
O nmero crtico de abelhas em um ninho, tanto mximo como mnimo, varia bastante entre as espcies nativas da regio. Quando muito populosa, uma colnia tende a enxamear, formando um ninho filho em outro lugar, e do contrrio, com poucas operrias, uma colnia pode perecer por dificuldades na termorregulao do ninho ou por deficincia no volume de coleta de alimentos. De maneira subjetiva, pode-se afirmar que o nmero de indivduos em um ninho controlado pela capacidade de postura da rainha, e disponibilidade de alimentos (floradas).
Os ninhos das abelhas sem ferro, apesar de poderem estar acomodados em substratos diferentes e terem formatos diferentes, possuem estruturas e organizao similar. Sem exceo, seus ninhos so fechados, envolvidos ou por uma parede de material rgido feita pelas prprias abelhas, ou delimitados pelo prprio substrato. Possui
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como comunicao com o meio exterior, um tnel de ingresso utilizado pelas abelhas como forma de respiro do ninho e principalmente, fluxo de abelhas para realizarem suas funes externas. Em alguns casos, podem existir reas crivadas, por furos minsculos, que devem estar associados manuteno da temperatura e umidade do ninho. Dentro dos ninhos, outra estrutura se repete em todas as espcies: so os potes para armazenagem de alimentos, onde as abelhas estocam mel e plen separadamente, e em alguns casos, como em ninhos novos ainda em construo, uma mistura pastosa dos dois. A ltima estrutura que todos os ninhos tm em comum, so os favos de cria.
Os favos de cria so os locais onde ocorrem postura de ovos, por parte da rainha e operrias, e tambm desenvolvimento das abelhas at sua forma adulta. So compostos de vrias clulas posicionadas lado a lado, que juntas formam um disco de formato um tanto irregular. O nmero de clulas por disco varia muito, interferindo no dimetro do mesmo. Os discos, que variam em nmero e tamanho de acordo com a espcie e condio da colnia, so agrupados um acima do outro, formando uma pilha (Figura 85). Eles so separados entre si por um pequeno espao onde as abelhas podem transitar. H ainda outra forma de construo de discos, que pode aparecer em vrias espcies, sendo que nas regionais, parece estar relacionada a colnias pouco vigorosas: So os discos helicoidais. Neles no existe uma separao clara entre os discos, sendo unidos uns aos outros, formando uma espiral. A construo
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dos discos, de modo geral, inicia de dentro para fora, e conforme so construdas as clulas, recebem um alimento liquido/pastoso, composto em maior parte por plen e mel, que processado e regurgitado por algumas operrias. A este alimento, se d o nome de alimento larval, e ele que sustentar a cria at seu desenvolvimento completo.
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Figura 85. Estrutura de um ninho de Mirim (Plebeia emerina): No canto superior direito se observam potes com mel; no centro, com as lamelas do invlucro afastadas para melhor visualizao esto os favos de cria, com crias jovens e ovos na parte superior, e abelhas emergentes bem embaixo. No canto inferior direito, potes de plen. Foto: C.J. Geuster.
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Sobre o alimento larval que ocupa cerca de 2/3 do volume da clula, a rainha ou operria deposita um ovo na posio vertical, e logo depois as operarias fecham a clula. Alguns dias depois, o ovo eclode, e nasce uma larva que consumir todo o alimento ali disponvel, crescendo, e ocupando praticamente todo o volume disponvel dentro da clula. A seguir, quando terminado um processo que leva aproximadamente entre 30 a 35 dias em que larva sofre metamorfose, a jovem abelha atinge sua forma adulta, quando ento abandona a clula e j comea a realizar suas primeiras tarefas em prol da colnia. O tempo de crescimento e desenvolvimento das abelhas varia muito, sendo que os valores em dias acima descritos so uma mdia. Ele pode variar conforme a espcie, casta, temperatura e outras condies da colnia que ainda no so bem esclarecidas. Um exemplo o tempo de desenvolvimento de uma princesa, que no gnero Melipona, cerca de dois dias a menos que as operrias, e em outros gneros, em que as princesas nascem de clulas maiores, conhecidas como clulas reais, onde maior o volume de alimento larval estocado, o tempo de desenvolvimento chega a ser at de uma semana a mais que as operrias.
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Figura 86. Clulas abertas para visualizao em disco de cria de Melipona sp. Observam-se os ovos depositados pela rainha, cuidadosamente posicionados na posio vertical sobre o alimento larval. Nesta fase, os discos de cria so exclusivamente feitos de cerume, o que lhes confere esta cor escura. Duas clulas abertas (esquerda e direita) , ainda no foram aprovisionadas. Foto: C.J. Geuster.
A maior parte das estruturas internas em uma colnia de ASF (abreviao usual para Abelha Sem Ferro) feita com uma substncia conhecida por cerume. O cerume, grosso modo, uma mistura de resinas vegetais e cera virgem. A cera virgem produzida em glndulas localizadas entre os tergos das operrias, que conforme produzido vai sendo raspado do abdome e disposto em pequenos depsitos no interior do ninho. A cera virgem tem cor clara, praticamente branca, e o cerume, pode ter colorao variando de
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amarelo-palha, at marrom-escuro. Estruturas como potes de alimento e favos de cria, so feitas com cerume malevel, e assim permanece, porm outras estruturas tendem a ficar rgidas com o passar do tempo. O cerume tambm reciclado pelas abelhas, tornando-o novamente malevel e passvel de uso em outras estruturas. Um exemplo de reciclagem de cerume observado nos favos de cria: Aps a larva consumir todo o alimento larval, ela tece em torno de si um envoltrio de seda, e as operrias aps perceberem este processo, raspam todo o cerume que elas tm acesso ao redor das crias, para ento reutiliz-lo novamente na confeco de clulas ou em outras aplicaes. Este processo nos favos possibilita a distino entre favos jovens, com alimento larval, ovos e larvas, dos favos maduros, com pr-pupas e pupas. Isto porque os favos jovens tm colorao escura, devido sua