abdi e apdins-rj - amazon web...

24
MARCOS BRAGA ABDI E APDINS-RJ SÃO PAULO 2016 Braga, Marcos da Costa; "Introdução", p. 11-24 . In: Braga, Marcos da Costa. ABDI e APDINS-RJ, 2ª edição. São Paulo: Blucher, 2016. ISBN: 9788580390346 Disponível em http://openaccess.blucher.com.br/article-details/19730

Upload: others

Post on 15-Mar-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ABDI E APDINS-RJ - Amazon Web Servicespdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/openaccess/...The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally,

MARCOS BRAGA

ABDI E APDINS-RJ

SÃO PAULO2016

Braga, Marcos da Costa; "Introdução", p. 11-24 . In: Braga, Marcos da Costa. ABDI e APDINS-RJ, 2ª edição. São Paulo: Blucher, 2016. ISBN: 9788580390346Disponível em http://openaccess.blucher.com.br/article-details/19730

Page 2: ABDI E APDINS-RJ - Amazon Web Servicespdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/openaccess/...The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally,

ABDI e APDINS-RJ

© 2011 Marcos Braga 1ª edição – 20112ª edição – 2016Editora Edgard Blücher Ltda.ISBN 978-85-8039-125-1 (e-book)ISBN 978-85-8039-126-8 (impresso)

Braga, Marcos ABDI e APDINS - RJ [livro eletrônico] / Marcos Braga. -- 2. ed. –- São Paulo : Blucher, 2016. 3 Mb ; ePUB.

BibliografiaISBN 978-85-8039-125-1 (e-book)ISBN 978-85-8039-126-8 (impresso)

1. Designers – Brasil - História 2. Desenho industrial – Associações profissionais - História I. Título II. Associação Brasileira de Desenho Industrial III. Associação Prossional dos Desenhistas Industriais de Nível Superior do Rio de Janeiro

16-0061 CDD 745.209

Índices para catálogo sistemático:1. Designers - Brasil - História

FICHA CATALOGRÁFICA

Rua Pedroso Alvarenga, 1245, 4º andar04531-012 – São Paulo – SP – BrazilFax 55 11 3079 2707Phone 55 11 3078 [email protected]

Segundo o Novo Acordo Ortográfico, conforme 5a ed. do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, Academia Brasileira de Letras, março de 2009.

Todo conteúdo, exceto quando houver ressalva, épublicado sob a licença Creative Commons.Atribuição CC - BY - NC 4.0

Todos os direitos reservados pela Editora Edgard Blucher Ltda.

Page 3: ABDI E APDINS-RJ - Amazon Web Servicespdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/openaccess/...The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally,

AGRADECIMENTOS

Aos professores Anamaria de Moraes e Jorge Ferreira pelas importantes observações e sugestões feitas durante a Banca de Qualificação que auxiliaram a organização dos capítulos da tese.Ao professor Ari Antonio da Rocha, pela prestatividade e pelo apoio que me deu na realização da pesquisa de campo na Cidade de São Paulo.A Cirlene Mendes da Silva, pelo auxilio na busca de documentos nos cartórios de São Paulo. A Luciene dos Santos pelo auxilio na busca de documentos na FAUUSP.Ao Programa de Pós-Graduação em História da UFF pelos conhecimentos adquiridos e aos funcionários da secretaria do PPGHS da UFF, que sempre me atenderam atenciosamente nas questões da vida acadêmica de discente.À Maria Helena Hatschbach e Vânia Cavalcanti pela revisão feita no texto dos capítulos da tese. Ressaltamos, entretanto, que quaisquer erros ou imprecisões que porventura ainda permaneçam, são de minha inteira responsabilidade.Agradeço a todos os designers que contribuíram com o resgate de informações sobre o tema da pesquisa, por meio da concessão das entrevistas e dos documentos de acervos cedidos para a presente publicação.Agradeço as sugestões feitas por Itiro Iida, Ari Rocha e Auresnede Pires Stephan para o conjunto do texto e as sugestões feitas por Zuleica Schincariol e Rita Couto para o capítulo 1. Agradeço as leituras feitas por Eliana Formiga e Bitiz Aflafo sobre as suas gestões na APDINS-RJ.Gostaria de agradecer o incentivo e a orientação do professor Fernando Faria que desde o início do projeto acreditou na possibilidade da tese como pesquisa histórica e na possibilidade de eu realiza-la, apesar da minha formação em pesquisa vir da área de Antropologia e a graduação ser de desenho industrial. Agradeço a todos os amigos especiais que me auxiliaram na trajetória desta pesquisa. Agradeço a Editora Blucher pela oportunidade de organizar uma publicação com tema tão relevante para a história do design no Brasil e a toda sua equipe pelo apoio na condução da produção editorial e gráfica deste livro.Ressalto aqui que tem sido um prazer particular levantar as histórias inéditas dessas duas associações, Associação Brasileira de Desenho Industrial – ABDI e a Associação Profissional dos Desenhistas Industriais do Rio deJaneiro – APDINS-RJ, que auxiliaram cada uma, a seu tempo e a seu modo, a configurar e a desenvolver, através de suas atividades e de sua própria existência, a profissão que abracei para minha atuação social. Portanto, concluo este agradecimento aos profissionais que se dedicaram a existência dessas Associações e que realizaram a história que pretendo registrar, com este trabalho, para as futuras gerações de designers.

Page 4: ABDI E APDINS-RJ - Amazon Web Servicespdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/openaccess/...The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally,

RESUMO

O presente volume é uma revisão crítica da Tese de Doutorado “Organização Profissional dos Designers no Brasil: APDINS – RJ, a luta pela hegemonia no campo profissional”, defendida na UFF, em 2005, no Curso de Doutorado em História Social do PPGH-UFFO. O objeto desta pesquisa é a organização profissional dos desenhistas industriais brasileiros na constituição do campo profissional do design no Brasil. E, em particular, as histórias da primeira associação de design, a Associação Brasileira de Desenho Industrial – ABDI, e da primeira associação profissional estadual e pré-sindical do País, a Associação Profissional dos Desenhistas Industriais de Nível Superior do Rio de Janeiro – APDINS-RJ. O recorte temporal abrange do início dos anos 1960 até o início dos anos 1990, no eixo São Paulo – Rio de Janeiro. Esse período inicia-se com a criação da ABDI e termina com a desarticulação da APDINS-RJ. A ABDI era a única associação profissional de design existente no País entre 1963 e 1978. Foi fundada para promover a divulgação e a conscientização sobre o design principalmente junto a governos e empresários, mas também incluiu em suas principais atividades as discussões sobre as relações de trabalho dos designers no mercado e iniciou a luta pela regulamentação da profissão.A APDINS-RJ foi criada em 1978, majoritariamente por formandos oriundos da escola pioneira de design no Brasil, a Escola Superior de Desenho Industrial, ESDI, a partir da tentativa de criação da seção regional da ABDI no estado da Guanabara. A APDINS-RJ contribuiu para outra etapa do desenvolvimento da organização profissional dos designers, marcada por associações estaduais que predominaram no panorama dos anos 1980 e pela busca da sindicalização, em uma época de crescimento de escolas e do corpo de diplomados em Desenho Industrial no país. A pesquisa é caracterizada pela história social de instituições, levantada, principalmente, por meio de entrevistas estruturadas por métodos qualitativos e por meio de documentos produzidos pela ABDI e a APDINS-RJ. A história das duas primeiras associações profissionais do campo do design é resgatada pela presente publicação, que identifica alguns dos principais motivos para a gênese e dissolução de ambas.

Page 5: ABDI E APDINS-RJ - Amazon Web Servicespdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/openaccess/...The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally,

ABSTRACT

The present volume is a critical revision of the doctoral thesis “Organização Profissional dos Designers no Brasil: APDINS – RJ, a luta pela hegemonia no campo profissional” (Professional Organization of Designers in Brazil: APDINS – RJ, the struggle for hegemony in a professional field) defended at Fluminense Federal University in 2005, in the Doctoral Program in Social History of the Post-Graduate Program in History, Fluminense Federal University. The object of this research is the professional organization of Brazilian industrial designers in the constitution of the professional field of design in Brazil. In particular, the work considers the histories of the first association of design, the Brazilian Association of Industrial Design – ABDI (Associação Brasileira de Desenho Industrial), and the first state and pre-union professional association in the country, the Professional Association of Industrial Designers of University Level of Rio de Janeiro – APDINS-RJ (Associação Profissional dos Desenhistas Industriais de Nivel Superior do Rio de Janeiro). The time involved ranges from the beginning of the 1960s to the beginning of the 1990s in the São Paulo – Rio de Janeiro axis. This period starts with the creation of the ABDI and ends with the disintegration of the APDINS-RJ.The ABDI was the only professional association of design existing in the country from 1963 to 1978. It was founded to promote the dissemination and awareness of design especially among governments and businessmen, but also included in its principal activities discussions about work relations of designers in the market and began the struggle for the regulation of the profession.The APDINS-RJ was created in 1978, mostly by students coming from the pioneering school of design in Brazil, the Escola Superior de Desenho Industrial, ESDI, based on an attempt to create a regional section of the ABDI in the state of Guanabara. The APDINS-RJ contributed to another stage in the development of the professional organization of designers, marked by state associations that predominated in the panorama of the 1980s and by the search for unionization, in a period of growth of schools and the body of graduates in Industrial Design in the country.The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally, by means of structured interviews using qualitative methods and by means of documents produced by the ABDI and the APDINS-RJ. The history of the two initial professional associations in the field of design is brought to light by the present publication, that identifies some of the principal motives for the formation and dissolution of both organizations.

Page 6: ABDI E APDINS-RJ - Amazon Web Servicespdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/openaccess/...The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally,

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................... 11

1. CONSTITUIÇÃO DO CAMPO DODESIGN MODERNO NO BRASIL E O ENSINOPIONEIRO DA ESDI E DA FAUUSP ........................ 25

1.1 O campo profissional de design dos anos 1920 aos anos 1960 .......................................25

1.2 As sequências de desenho industrial e comunicação visual da FAUUSP .....................................38

1.3 ESDI – A primeira escola de ensino superior em design ........................................................53

1.3.1 Origens e inicio de uma idéia ................................................ 531.3.2 Os primeiros anos – caracterização ........................................ 601.3.3 Crise e idealizações ............................................................. 641.3.4 Os anos 1970 – sedimentação,

institucionalizações e autoavaliações ....................................... 71

2. ABDI: A PRIMEIRA ASSOCIAÇÃOPROFISSIONAL DE DESENHO INDUSTRIAL ........... 87

2.1 Origens e formação .......................................................87

2.2 Os primeiros anos ..........................................................902.2.1 A presença empresarial ......................................................... 902.2.2 Parcerias e eventos ............................................................... 922.2.3 Participação dos profissionais ................................................ 992.2.4 Outras ações e relações institucionais .................................... 103

2.3 Desarticulações, persistências e rearticulação .................106

2.4 Renovação, crescimento e conflitos ................................1162.4.1 Reestruturação e crescimento ................................................ 1162.4.2 Crescimento, regionalização e conflitos ................................. 129

2.5 Esforços de renovação e término ...................................138

3. A ASSOCIAÇÃO PROFISSIONAL DOS DESENHISTASINDUSTRIAIS DO RIO DE JANEIRO – APDINS-RJ .. 143

Page 7: ABDI E APDINS-RJ - Amazon Web Servicespdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/openaccess/...The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally,

3.1 Origens e fundação ......................................................143

3.2 APDINS-RJ – Os primeiros anos: otimismo, realizações e limitações ...............................................153

3.2.1 Diretoria provisória ............................................................. 1533.2.2 A gestão de 1979/1981 ................................................... 1673.2.3 A gestão de 1981/1983 ................................................... 176

4. RENOVAÇÕES, CRISES E MUDANÇAS ................. 203

4.1 Mudanças e permanências ...........................................2034.1.1 A gestão de 1983/1985 ................................................... 2034.1.1.1 A gestão de março de 1983 a abril de 1984 ..................... 2034.1.1.2 A gestão de junho de 1984 a agosto 1985 ....................... 2184.1.2 A gestão de 1985/1988 ................................................... 222

4.2 A associação profissional dos desenhistas industriais – APDI ......................................234

4.2.1 A gestão de 1988/1989 ................................................... 2344.2.2 A gestão de 1989/1991 ................................................... 2494.2.3 Epílogo: 1992, a renovação que não se concluiu ................... 256

5. ANÁLISE DAS ASSOCIAÇÕES PIONEIRAS ........... 261

5.1 Em busca do associativismo ..........................................261

5.2 Em busca das diferenças ...............................................268

5.3 Em busca da hegemonia ...............................................275

5.4 Representatividades ......................................................2865.4.1 Lideranças e continuidades .................................................. 2865.4.2 Diferenças e descontinuidades na APDINS-RJ .......................... 295

5.5 A descontinuidade da ABDI e da APDINS-RJ ..................304

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................... 315

REFERÊNCIAS ........................................................ 325

FONTES ................................................................ 335

Page 8: ABDI E APDINS-RJ - Amazon Web Servicespdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/openaccess/...The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally,

ANEXO 1 - PROPOSTA 1 ENDI PARA CURRÍCULO MÍNIMO ............................... 351

ANEXO 2 - PROPOSTA 1 ENDI PARA REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO ......... 354

ANEXO 3 - ESTATUTO APDINS .............................. 371

Page 9: ABDI E APDINS-RJ - Amazon Web Servicespdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/openaccess/...The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally,

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 Abridor de garrafa para tampas metálicas, desenvolvido pelo aluno Carlos Alberto Inácio Alexandre em 1962, no 2º ano da sequência de desenho industrial. Foto gentilmente cedida por Carlos Alberto Inácio Alexandre. ................................................... 42

Figura 1.2 Hall do prédio do 3º Congresso do ICSID em Paris, 1963, no qual foram montadas exposições. A exposição dos trabalhos da FAUUSP estão sobre as mesas. Foto gentilmente cedida por João Rodolfo Stroeter. ................................................................... 46

Figura 1.3 Módulo expositor com trabalhos da FAUUSP no 3º Congresso do ICSID em Paris, 1963. Foto gentilmente cedida por João Rodolfo Stroeter. ................................................................... 47

Figura 1.4 Capa da publicação Produto e Linguagem/Conceitos, de setembro de 1977. Na foto, Carlos Lacerda inaugurando a ESDI. ............................................................................. 82

Figura 2.1 Capa e contra capa da publicação Desenho Industrial: Aspectos sociais, históricos, culturais e econômicos, editada pelo Fórum Roberto Simonsen em 1964. ................................. 92

Figura 2.2 O mini-carro urbano Aruanda na I Bienal Internacional de Desenho Industrial do MAM-RJ, em1968. Foto gentilmente cedida por Freddy Van Camp. .......................................................... 96

Figura 2.3 Capa da revista Produto e Linguagem, n. 1, de 1965. ............................................................98Figura 2.4 Vista das abas laterais da capa da Revista Produto e Linguagem, n. 3, de 1966,

nas quais aparecem marcas gráficas de Ruben Martins, Maurício Nogueira Lima e do estúdio Metro 3 dos publicitários Francesc Petit e José Zaragoza ....................................... 99

Figura 2.5 Capa do Boletim Informativo n. 1 da ABDI, de novembro de 1974. .........................................121Figura 2.6 Grupo de trabalho do Simpósio Design ‘76. Foram identificados na foto:

na ponta esquerda da primeira fila, de óculos, Guilherme Cunha Lima. Atrás dele, à esquerda, Valéria London. Ainda na primeira fila, também de óculos, Sérgio Camardella, professor da UFRJ. À sua direita Renato Gomes, sócio da Dia Design, e ao lado, de barba, João Roberto Nascimento (Peixe). Fotografia gentilmente cedida por Guilherme Cunha Lima. ...................................................123

Figura 2.7 Capa dos Anais do Simpósio Design ’76, com o logotipo do evento. ........................................125Figura 2.8 Sérgio Kehl apresentando o balanço da gestão 1974/1976 da ABDI.

Foto gentilmente cedida por Guilherme Cunha Lima. ..............................................................131Figura 2.9 Primeira página do Boletim Informativo n. 9, da ABDI, de junho de 1977. .............................137Figura 3.1 Primeira página do Informe dos Grupos de Trabalho da ABDI-RJ, de setembro de 1976.

Anuncia a diretoria eleita para o Biênio 1976/1978 da ABDI. .................................................149Figura 3.2 Cartaz do 1° ENDI, de 1979. Projeto do escritório

Dia Design de Gilberto StrunK, fundado em 1974. ...................................................................161Figura 3.3 Capa do Jornal da APDINS-RJ n. 1, de 1° de maio de 1980. .....................................................170Figura 3.4 Capa do Jornal da APDINS-RJ n. 1, de setembro de 1981. ........................................................179Figura 3.5 Capa do Jornal da APDINS-RJ n. 2, de novembro de 1981. ......................................................181Figura 3.6 Capa do Jornal da APDINS-RJ n. 3, de dezembro de 1982. ......................................................183Figura 3.7 Capa do Jornal da APDINS-RJ n. 4, de abril de 1982. ...............................................................186Figura 3.8 Capa do Jornal da APDINS-RJ n. 5, de setembro de 1982. ........................................................196

Page 10: ABDI E APDINS-RJ - Amazon Web Servicespdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/openaccess/...The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally,

Figura 3.9 Capa do Jornal da APDINS-RJ n. 6, de outubro de 1982. .....................................198Figura 3.1 Capa do Jornal da APDINS-RJ n. 7, de Janeiro de 1983. ...........................................................201Figura 4.1 Capa do Jornal da APDINS-RJ n. 8, de maio de 1983. ..............................................................206Figura 4.2 Capa do Jornal da APDINS-RJ n. 9, de agosto de 1983. ............................................................208Figura 4.3 Capa do Jornal da APDINS-RJ n. 10, de março de 1984. ...........................................................209Figura 4.4 Capa do programa do 3° ENDI. Identidade visual

de autoria de Maria Luiza Corrêa Pinto. ...................................................................................213Figura 4.5 Capa do jornal Designativo n. 1, de 1987. ................................................................................231Figura 4.6 Cartazete do 1º Encontro dos escritórios de design, de 1989. ...................................................243Figura 4.7 Cartazete do 3º Encontro dos escritórios de design do Rio de Janeiro. .....................................245Figura 5.1 Detalhe da capa do Jornal da APDINS-RJ n. 8, de maio de 1983,

no qual aparece um desenho representando um “diploma da ESDI”. .....................................289Figura 5.2 Impresso ‘Mais uma panelinha assume o poder na

ABDI’ São Paulo: ABDI, dezembro de1978. ............................................................................292

Page 11: ABDI E APDINS-RJ - Amazon Web Servicespdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/openaccess/...The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally,

O presente volume é uma revisão crítica da Tese de Doutorado Organização Profissional dos Designers no Brasil: APDINS – RJ, a luta pela hegemonia no campo profissional, defendida na UFF, em 2005, no Curso de Doutorado em História Social do PPGH-UFF. O tema do livro está circunscrito no desenvolvimento do campo profissional do design no Brasil e especificamente trata da organização profissional dos desenhistas industriais brasileiros na constituição desse campo.

INTRODUÇÃO

Page 12: ABDI E APDINS-RJ - Amazon Web Servicespdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/openaccess/...The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally,

12 ABDI e APDINS-RJ

Nos últimos anos cresceram a pesquisa e as publicações sobre a história do design no Brasil abordando os agentes do campo profissional e as suas instituições e a cultura material projetada pelos designers. O livro se insere no movimento de recuperação da memória dessa história e contribui para a consolidação da identidade social do designer brasileiro e para a discussão de temas polêmicos, como a regulamentação da profissão do designer.

Diante da diversidade de significados que a palavra design adquiriu desde os anos 1990, faz-se necessário definir de que categoria e atividade profissional trata o presente livro. Estamos abordando a história de instituições de um campo profissional que se iniciou com a introdução do design moderno1 e pró-industrial2 no Brasil no final dos anos 1920, a partir da ação predominante de arquitetos partidários da arquitetura moderna no campo do mobiliário e interiores (Cf. SANTOS, 1995).

Embora no Brasil não exista o profissional diplomado em design industrial até a primeira metade do século XX, acreditamos na existência de um campo em constituição propiciado pela evolução dos contextos social, cultural, econômico e fabril e pela ação dos seus personagens. Podemos, então, falar em um campo profissional, usando um conceito similar ao do sociólogo Pierre Bourdieu que entende campo como um espaço social estruturado de posições no qual ocorrem relações entre os indivíduos que são orientadas e regidas por regras surgidas de dinâmicas próprias ao campo e que lhe dão sua configuração social. Essas regras determinam quem faz parte do campo, quem é quem neste espaço social e os modos de aquisição de prestígio e de poder, mesmo que simbólico (BOURDIEU, 2001).

Entendo campo profissional como ligado à existência de um mercado de trabalho, compreendido como oferta e procura de mão de obra; contudo o defino como indo além desse último, pois trata da existência de um corpo de profissionais que compartilham um mesmo saber de oficio, concorrem no mesmo tipo de mercado de trabalho, passam a conhecer seus pares e, com o desenvolvimento da profissão, acabam por criar fóruns e espaços institucionais nos quais debatem quais seriam suas atribuições, estabelecem o ensino e as regras para as relações entre si e para com a sociedade. Esses profissionais podem, em um dado momento da constituição do campo, não estar organizados como categoria social, apesar de

1 Denominação empregada por Nikolaus Pevsner, a qual adotamos aqui para identificar um campo que se inicia na era moderna e atrelado à necessidades da produção industrial. PEVSNER, 1936.2 Por design pró-industrial entendo um projeto que na concepção do produto leva em consideração principalmente as condições de produção da indústria ou cuja forma faz alu-são intencional a ela, ainda que as condições de sua viabilização física, em um determinado momento, tenham sido artesanais.

Page 13: ABDI E APDINS-RJ - Amazon Web Servicespdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/openaccess/...The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally,

13Marcos Braga

terem noção da existência de pares, do mercado e das competências necessárias para atuação profissional3

No entanto, o processo de formação de um campo profissional de design e de uma categoria de designers profissionais, efetivamente atuante na produção de bens industrializados, foi lento e só se intensificou após o crescimento industrial mais significativo dos anos 1940 e dos anos 1950.

O campo profissional deste design moderno, que contempla algumas áreas da comunicação visual, viveu uma nova etapa a partir dos anos 1960, quando se inicia o ensino regular em nível superior e é criada a primeira Associação profissional. Nesta época, a atividade profissional é denominada desenho industrial e é entendida como similar ao industrial design, nos moldes como o entendia o órgão mundial máximo da área apoiado pela UNESCO e fundado em 1957: o Internacional Council of Societies of Industrial Design – ICSID.

Desse modo, a história institucional a que aludimos aqui se refere à profissão em nível superior que abarcou variadas atividades profissionais, existentes em décadas anteriores, por meio da formação oferecida pela academia brasileira de Desenho Industrial, a partir dos anos 1960, e que contribuiu com a origem e formação de tantas outras atividades profissionais do campo do design, a partir do final dos anos 1980, incluindo as que não tinham mais a indústria como principal meio de produção.

Essa profissão, em 1979, foi definida pelo 1° Encontro Nacional de Desenho Industrial – 1° ENDI, maior fórum da categoria até então ocorrido, como:

A profissão do Desenhista Industrial se caracteriza pelo desempenho de atividades

especializadas, de caráter tecno-científico e criativo para elaboração de projetos de sistemas

e/ou produtos e mensagens visuais passíveis de seriação e/ou industrialização que estabeleça

uma relação de contato direto com o ser humano, tanto no aspecto de uso, quanto no aspecto

de percepção, de modo a atender necessidades materiais e de informação visual4.

Apesar de o termo design ser utilizado por esse campo profissional desde os anos 1960, apenas em 1988 é que a categoria decide, em fóruns institucionais, mudar de vez o nome da profissão para ‘design’ e a flexibilizar as suas habilitações

3 E ainda seguindo noções de Bourdieu, como dinâmicas constitutivas deste campo pro-fissional, considerando sua inserção em uma sociedade complexa e de base distintiva, estão a disputa por poder e por ‘troféus simbólicos ou não, os processos e espaços de legitimação de conhecimentos e de posições sociais (e conseqüentes status) e a assimetria de capitais (simbólico, cultural, econômico e social) entre seus agentes.4 Artigo 1°, Capítulo I – Caracterização e Atribuições Profissionais. Anteprojeto de lei federal sobre o exercício da profissão de Desenhista Industrial. Rio de Janeiro: ABDI/AP-DINS-RJ/APDINS-PE. 1979. As citação de textos datados antes da reforma ortográfica fo-ram mantidos como citados no original.

Page 14: ABDI E APDINS-RJ - Amazon Web Servicespdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/openaccess/...The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally,

14 ABDI e APDINS-RJ

para além das duas clássicas desenho de produto e programação visual, conforme será mostrado no Capítulo 4.

Meu exercício docente da matéria de História do Desenho Industrial me levou a perceber, durante os anos 1990, várias lacunas na historiografia do design no Brasil, que só poderiam ser preenchidas por meio de pesquisas. Tradicionalmente, nos cursos de desenho industrial do país, essa matéria tinha como foco a história do design no cenário europeu e norte-americano.

Antes de 1990, destacamos alguns esforços para a produção de textos sobre a história do design no Brasil, por parte de docentes da Escola Superior de Desenho Industrial – ESDI, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAUUSP e de jornalistas que se dedicaram à historiografia do design brasileiro, como Morais (1962), Cauduro (apud ABDI, 1964), Maluf (apud ABDI, 1964), Wollner (1983), Katinsky (1983), Leon (1988, 1989) e Borges (1988). Sabemos também que nos anos 1970, os docentes das primeiras disciplinas que trataram da história do design nos cursos pioneiros do ensino superior de design no Brasil , procuraram abordar a história da profissão em solo brasileiro por meio de escassas referências e de levantamento empírico de informações em noticiário, escolas e eventos da época. Isto demonstra que é antiga a preocupação com uma identidade social e a busca de referências para atuação local em uma profissão considerada ‘nova’ e ainda com pouco capital simbólico nos anos 1970.

Entretanto, foi a partir dos anos 1990, que cresceu de forma constante o número de publicações, livros e artigos, sobre a história do design no Brasil, fruto do aumento do interesse pela busca de origens e reflexões sobre os caminhos percorridos pela profissão que tinha se consolidado nos anos 1980 no Brasil. E logo abrangeu também a história de atividades profissionais afins ou circunscritas no campo do que passou a ser entender como Design, principalmente na primeira década do século XIX. Reflexo desse movimento pode ser encontrado no aumento das pesquisas em pós-graduações com o tema e na sua inclusão em aulas das disciplinas de História do Desenho Industrial ou Design, em graduações, e na inclusão dessa disciplina em algumas pós-graduações.

A partir de artigo publicado na revista Estudos em Design, em 1996,5 que abordava a constituição do campo profissional do design moderno no Brasil dos anos 1920 aos anos 1960, percebi a carência de informações sobre a entrada, nesse campo, dos primeiros diplomados em Design das escolas brasileiras nos anos 1970. A base do artigo foi a bibliografia mais conhecida no âmbito profissional e acadêmico de design, disponível até aquele momento.

5 BRAGA, Marcos da Costa. Construção e trajetórias na constituição do campo profis-sional do design moderno no Brasil. Revista Estudos em Design, Rio de Janeiro, v. IV, n. 1, p. 45-66, agosto de 1996.

Page 15: ABDI E APDINS-RJ - Amazon Web Servicespdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/openaccess/...The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally,

15Marcos Braga

Logo se formulou a questão de como teriam esses diplomados se organizado para entrar na vida profissional. A organização profissional é marcante como divisor de águas no desenvolvimento de uma profissão e de seu campo profissional, conforme apontam Becker (1970) e Durand (1991). Não havia pesquisas publicadas que tivessem como tema central a história das associações profissionais de design no Brasil. Porém, era de nosso conhecimento que a Associação Profissional dos Desenhistas Industriais de Nível Superior do Rio de Janeiro – APDINS-RJ era fruto da organização dos diplomados em Desenho Industrial, na cidade do Rio de Janeiro, nos anos 1970. Portanto, sua história foi escolhida como tema, pois também se relacionava com uma questão que foi debatida nos anos 1990 pelos designers cariocas em seus fóruns: por que não existia na época uma associação profissional específica do Rio de Janeiro?

Desse modo, a escolha do tema pode ser relacionada com a concepção de uma ‘História problema’ conforme entendia Lucien Febvre. Para Febvre, a História é “uma resposta a perguntas que o homem de hoje necessariamente se põe” e uma “necessidade de procurar e valorizar, no passado, os fatos, os acontecimentos, as tendências que preparam o tempo presente que permitem compreendê-lo e que ajudam a vivê-lo [...]” (FEBVRE apud DOSSE, 1992).

Até maio de 1999, o único texto publicado que tratava da história dessas associações era um artigo baseado em apêndice da dissertação em Educação, de autoria de Lucy Niemeyer (1995), sobre a primeira escola de nível superior específica de Desenho Industrial no Brasil, a ESDI (NIEMEYER, 1999). O artigo abordava a organização profissional dos designers desde a pioneira Associação Brasileira de Desenho Industrial – ABDI, fundada em 1963, até o desenrolar da abertura e fechamento de associações profissionais, nos anos 1990. Em duas, de suas 10 páginas, é destacado que a APDINS-RJ nasceu da divergência entre os diplomados das primeiras turmas da ESDI e membros da única associação profissional existente até então: a ABDI. Esta última foi criada pelos agentes que atuavam no campo do design anterior à implantação das primeiras escolas de design no país.

O tema central da tese foi a APDINS-RJ e sua luta pela hegemonia no campo do design para os desenhistas industriais diplomados. O recorte temporal abrangeu do início dos anos 1960 até o início dos anos 1990, no eixo São Paulo – Rio de Janeiro. Esse período inicia-se com a criação da ABDI e termina com a desarticulação da primeira associação profissional estadual e pré-sindical do País, a APDINS-RJ.

A tese incluiu a história da ESDI e da ABDI porque essas instituições estavam intrinsecamente ligadas à existência da APDINS-RJ. Seus principais articuladores eram oriundos das primeiras gerações de formandos da escola pioneira de design no Brasil, a ESDI, criada no estado da Guanabara em 1962. Foram essas gerações de diplomados em Desenho Industrial que, ao se organizarem para buscar a inserção no

Page 16: ABDI E APDINS-RJ - Amazon Web Servicespdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/openaccess/...The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally,

16 ABDI e APDINS-RJ

mercado de trabalho, acabam fundando a APDINS-RJ. Essa organização tem origem nas tentativas de criação da seção regional da ABDI, no início dos anos 1970.

A APDINS-RJ, fundada em 1978, contribuiu para outra etapa do desenvolvimento da organização profissional dos designers, marcada pela regionalização promovida por associações estaduais inspiradas na Associação carioca. Essas associações predominaram no panorama dos anos 1980, em uma época de crescimento de escolas e do corpo de diplomados em Desenho Industrial no país.

A APDINS-RJ desempenhou papel importante na criação e consolidação do maior fórum da categoria dos desenhistas industriais nos anos 1980, o Encontro Nacional de Desenho Industrial – ENDI. Desses encontros (ENDIs), saíram propostas de organização de entidades que atuaram nos anos 1980 e 1990. Nesse fórum foram aprovados documentos que orientaram as ações e os discursos das associações profissionais na década de 1980, como o currículo mínimo e a regulamentação da profissão.

Lançar um olhar sobre essa história pode fornecer subsídios para se compreender o estatuto profissional de desenhista industrial que predominou durante os anos iniciais de ocupação do campo profissional de design pelos diplomados em nível superior e as particularidades desta ocupação, no confronto com a realidade do contexto social deste campo e da sociedade em geral.

Em face do exposto, foram elaborados objetivos para a tese: identificar os motivos para a criação da APDINS-RJ e por que ela se desestruturou e deixou de existir no início dos anos 1990; avaliar a importância da APDINS-RJ para a organização da categoria profissional no Rio de Janeiro; compreender as dificuldades encontradas pela APDINS-RJ para alcançar seus objetivos de regulamentação da profissão e de transformação em sindicato da categoria; identificar os motivos para a adoção do modelo de associação com fins pré-sindicais pela APDINS-RJ e sua relação com a luta pela hegemonia do campo.

Quanto às hipóteses originais, foram definidas em linhas gerais como:A regulamentação da profissão era uma importante ‘bandeira’ de luta da APDINS-

RJ, e a sua não aprovação por parte do Congresso Nacional contribuiu para o esvaziamento da Associação por ser essa luta uma de suas características constituintes.

Em fins dos anos 1970, já havia três escolas de Desenho Industrial no Rio de Janeiro (UFRJ, PUC e ESDI), com mais de 500 diplomados e cerca de 800 estudantes.6 E, em 1980, mais dois cursos são criados (na Faculdade da Cidade e na Faculdade Silva e Souza). Apesar da boa participação de desenhistas industriais diplomados nos eventos promovidos pela APDINS-RJ, a Associação não conseguiu organizar essa

6 Conforme declaração de Valéria London para BÁRBARA, Danúsia. Arquitetos x De-

senhistas Industriais: Ser ou não ser continua sendo a questão. Jornal do Brasil, Rio de

Janeiro, 9 de outubro de 1978. Caderno B.

Page 17: ABDI E APDINS-RJ - Amazon Web Servicespdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/openaccess/...The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally,

17Marcos Braga

massa de diplomados em torno de si e, assim, ampliar esforços para alcançar seus objetivos. Acreditamos que houve dissonâncias de objetivos entre os que lideravam e frequentavam com assiduidade a Associação e a massa de desenhistas industriais.

A APDINS-RJ foi criada majoritariamente por formandos oriundos da ESDI, que praticamente também constituíram a maioria de suas diretorias ao longo da existência da entidade.7 Isso criava uma cadeia de relações entre profissionais oriundos da mesma instituição de ensino, dificultando as inserções espontâneas de formandos de outros cursos de Desenho Industrial. Portanto, a representatividade da Associação sofria restrições na própria constituição de suas lideranças.

O consenso sobre as atividades da APDINS-RJ era limitado a algumas questões, já que havia diferenças de objetivos entre os próprios formandos da ESDI. Niemeyer (1997) registra que a seleção de candidatos era rígida para ingressar na escola que seguia os moldes de ensino da escola alemã de Ulm. Acreditamos que os alunos selecionados tinham capital cultural8 adquirido por trajetórias de formação em colégios de classe média alta, pois entrar para a ESDI significava uma das alternativas possíveis para cumprir aspirações de manutenção de um status social herdado de gerações familiares anteriores, por meio da profissão liberal.

Tais diferenças surgem no momento da ocupação do campo do design. É aí que o projeto social desses indivíduos, que até então se assemelhava no tocante ao status social, se diferencia no modo de atuar e ocupar o campo do design e provoca visões diferentes sobre os objetivos da organização profissional.

No início da pesquisa, poucas informações encontravam-se disponíveis sobre a ABDI.9 Entretanto, os contatos com pessoas relacionadas à primeira Associação de Desenho Industrial no país e a notícia da morte de um dos ex-presidentes, Sérgio Kehl, provocaram uma mudança temporária de foco na pesquisa de campo, em 2001. A ABDI se revelou não só mais importante do que se imaginava no início da tese para contextualizar a organização profissional na qual se originou a APDINS-RJ, mas também representava a recuperação de uma história rica para se entender a constituição do campo profissional do design no Brasil. As personagens da ABDI

7 Na composição da quarta diretoria de 1983, apenas três dos 18 componentes da chapa

não eram formados na ESDI. E isso após seis anos de existência da APDINS-RJ.

8 A noção de capital cultural é trabalhada por Bourdieu como as diferenças de aquisição

do conhecimento durante o desempenho de educação, e definida por Brubaker como “con-

junto de disposições cultivadas que constituem os esquemas de apreciação e compreensão

dos bens simbólicos ou culturais”. BOURDIEU In ORTIZ, 1983:82-121. Brubaker Apud

RUSSO, 1993:14-15.

9 Destacamos as três edições da Produto e Linguagem, as de 1965 e a de 1966, o artigo de

Niemeyer (1999) e o resumo histórico publicado no catálogo TRADIÇÃO E RUPTURA de

1984.

Page 18: ABDI E APDINS-RJ - Amazon Web Servicespdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/openaccess/...The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally,

18 ABDI e APDINS-RJ

são, em sua maioria, de uma geração anterior àquela que fundou a APDINS-RJ, e alguns com atuação de décadas no design brasileiro: João Carlos Cauduro, Ludovico Martino, Geraldo de Barros, Alexandre Wollner e Karl H. Bergmiller. A possibilidade de entrevistas com alguns fundadores da ABDI tinha se tornado concreta e muitas informações inéditas sobre essa entidade só seriam obtidas de fonte oral.

A ABDI era a única associação profissional de design existente no país entre 1963 e 1978. A ABDI foi fundada para promover a divulgação e a conscientização sobre o design junto a governos e empresários, mas também incluiu em suas principais atividades as discussões sobre as relações de trabalho dos designers no mercado, como contrato de trabalho e código de ética e iniciou a luta pela regulamentação da profissão.

Docentes da ESDI e da FAUUSP, as duas primeiras instituições que implantaram em nível superior o ensino de desenho industrial, estavam entre os profissionais que criam a ABDI. Essas três entidades, além do curso de desenho industrial da Fundação Mineira de Arte Aleijadinho – FUMA em Belo Horizonte que teve sua autorização e seu reconhecimento como nível superior em 1964, marcaram o começo da institucionalização do campo profissional do design no Brasil.

Portanto, um dos resultados da pesquisa foi o resgate histórico dessa Associação pioneira de desenho industrial que ganhou corpo na tese e que na presente publicação é retratada em igual status de importância que a APDINS-RJ. Abordamos sua trajetória, os motivos para sua criação e para seu término e a sua importância para a história do design brasileiro.

Para situarmos o tema e a importância do recorte temporal proposto, adotamos a periodização utilizada por Guilherme Cunha Lima (1994, 2002), Edna Cunha Lima (1996) e Maria Loschiavo dos Santos (1995). Esses pesquisadores partem do princípio de que o campo do design no Brasil é existente desde algumas décadas anteriores à implantação do ensino superior do Desenho Industrial. A origem da atividade profissional de desenho industrial remontaria, para Lima (2002), ao período anterior aos anos de 1920, que seria denominado como o dos Precursores do Design no Brasil. Essa periodização, segundo Lima (2002), homenagearia “a obra de Nikolaus Pevsner, Pionneers of Modern Design”, de 1936, que é “ainda hoje lido em todas as escolas de design, inclusive no Brasil”.

O segundo período da formação do campo do design para Lima (2002) iria dos anos 1920, quando “o modernismo se afirma e a arquitetura se estrutura em bases mais firmes, abandonando o ecletismo”, até o início da década de 1960. É nesse período que os arquitetos se destacam, entre outros profissionais, na formação do campo do design de produto no Brasil, especialmente nas áreas de mobiliário, interiores, equipamento urbano e itens industrializados da construção civil. E é nesse mesmo período que o campo das artes gráficas se moderniza e desenvolve-se principalmente nas áreas editoriais e de

Page 19: ABDI E APDINS-RJ - Amazon Web Servicespdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/openaccess/...The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally,

19Marcos Braga

publicidade, porém com a atuação muito mais diversificada de tipos de profissionais.A formação do desenhista industrial em nível superior marca o começo do

terceiro período do desenvolvimento do campo profissional a partir do início dos anos 1960, que Guilherme Cunha Lima denomina “Contemporâneos do Design Brasileiro”. Esse é o período de sua institucionalização no qual ABDI e APDINS-RJ cumprem um papel de destaque para a definição do estatuto da profissão em suas primeiras décadas. E justamente por esses motivos, essas duas associações fazem parte da história da parcela mais importante do campo profissional do design que se desenvolveu no cenário brasileiro do século XX.

Não entraremos no mérito das discussões sobre as origens do design no Brasil, relacionadas ao período anterior aos anos 1920, por não ser o objetivo da presente publicação e por ser esse tema ainda controverso entre os pesquisadores e teóricos da área no país.

O fato de haver uma escassez de bibliografia na época da tese, sobre as associações de design, tornou as entrevistas fontes inéditas de informações para a posteridade. Trata-se de uma pesquisa caracterizada pela história social de instituições, levantada, principalmente, por meio de entrevistas estruturadas por métodos qualitativos e de documentos produzidos pela ABDI e pela APDINS-RJ. Utilizamos tanto os métodos e técnicas da História Oral, descritos por Correa (1978), por Neves (2003), por Lozano (1998) e Alberti (1989), quanto os da Antropologia Social, narrados por Ellen (1984) e por Becker (1993).

Por causa de algumas semelhanças da História Oral com outras áreas de investigação, Alberti (1989:01) reconhece que “seus limites esbarram com categorias de diversas disciplinas das ciências humanas, como biografia, tradição oral, memória, linguagem falada, métodos qualitativos etc.”. Por sua vez, Neves (2003:28-29) esclarece que a História Oral “move-se em terreno pluridisciplinar, pois utiliza muitas vezes música, literatura, lembranças, fontes iconográficas, documentação escrita, entre outros, para estimular a memória”. Neves afirma que ocorre um diálogo com a Sociologia, a Antropologia e a Psicanálise, pois essas áreas servem de suporte “para a construção de roteiros de entrevistas e para a condução do próprio depoimento” (Id.Ibid.).

A História Oral é definida por Alberti (1989:01-02) como “um método de pesquisa (histórica, antropológica, sociológica etc.) que privilegia a realização de entrevistas com pessoas que participaram de, ou testemunharam, acontecimentos, conjunturas, como forma de se aproximar do objeto de estudo”. A autora relaciona, como temas para a História Oral, os estudos de instituições, grupos sociais, categorias profissionais, entre outros.

As especificidades decorrentes de seu emprego como método de ampliação do conhecimento e como fonte de consulta seriam “o fato de a história oral apenas poder

Page 20: ABDI E APDINS-RJ - Amazon Web Servicespdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/openaccess/...The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally,

20 ABDI e APDINS-RJ

ser empregada em pesquisas sobre temas contemporâneos, ocorridos em um passado não muito remoto”, e a “produção intencional de documentos históricos”. Entretanto, Alberti (1989:02-05) salienta que o documento produzido não objetiva a recuperação do passado “tal como efetivamente ocorreu”, e sim “a versão do entrevistado”, ou seja, “privilegia a recuperação do vivido conforme concebido por quem viveu”. Essa autora nos alerta que se deve levar em conta a importância do acontecimento para a pessoa entrevistada no momento em que ocorreu e no momento em que é recordado.

Por essas características, Alberti situa a História Oral “em meio ao desenvolvimento dos métodos qualitativos de investigação” (Id.Ibid.). Posição semelhante tem Neves (2003:30) ao destacar o caráter de singularidade da metodologia qualitativa: “A História Oral inscreve-se entre os diferentes procedimentos histórico e antropológico. Situa-se no terreno da contrageneralização e contribui para relativizar conceitos e pressupostos que tendem a universalizar e generalizar as experiências humanas.”

As entrevistas de nossa pesquisa são ‘temáticas’, ou seja, não objetivam a trajetória de vida do entrevistado, mas “uma parte de sua vida: aquela estritamente vinculada ao tema estudado” (ALBERTI, 1989:61). Segundo Alberti, nas entrevistas temáticas as perguntas “terão o objetivo de esclarecer e conhecer a atuação, as ideias e a experiência do entrevistado, marcadas por seu envolvimento com o tema” (Id.Ibid.).

As abordagens e objetivos, descritos por Correa (1978:14, 24-25), na utilização dos métodos da História Oral e da entrevista antropológica, possibilitam identificar o papel de cada indivíduo no grupo social que organizava a entidade e seu projeto social, bem como conhecer quais valores comuns eram compartilhados na dinâmica social da instituição. Segundo Velho (1981:107), a noção de projeto social procura “dar conta da margem relativa de escolha que indivíduos e grupos têm em determinado momento histórico de uma sociedade” e é definida por Alfred Schutz como “conduta organizada para atingir fins específicos” (apud VELHO, 1981:107).

Os selecionados para as entrevistas foram, na maioria, ex-diretores da entidade que constituíram a liderança formal da APDINS-RJ e da ABDI. Como a maior parte da história dessas associações era desconhecida, na época da proposta da tese, na seleção dos entrevistados pretendeu-se iniciar a recuperação dessa história por meio da identificação dos rumos que a instituição tomou durante a sua existência e o que marcou as gestões das diretorias. Muitas dessas pessoas tiveram relação ímpar com as entidades devido aos cargos de diretoria que ocuparam e o papel desempenhado em suas criações.

As entrevistas foram organizadas por questões gerais, pretendendo localizar o sujeito na instituição, auxiliar as lembranças que ainda estariam na memória dos entrevistados e permitir a avaliação histórica sobre a importância das associações no campo profissional de design. Essas questões foram formuladas segundo as

Page 21: ABDI E APDINS-RJ - Amazon Web Servicespdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/openaccess/...The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally,

21Marcos Braga

informações sobre as duas entidades, obtidas por meio de documentos e depoimentos feitos até a data de cada entrevista.

As entrevistas feitas na pesquisa de campo original duraram de 45 minutos a 3 horas, conforme o roteiro de questões de cada uma e a disponibilidade dos depoentes, a maioria ainda ativa na profissão. Elas foram gravadas e transcritas. Os entrevistados assinaram o documento de cessão de direitos sobre depoimento oral, após a realização das entrevistas. Esse procedimento seguiu opção metodológica seguida pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História – CPDOC, da Fundação Getúlio Vargas. Segundo Alberti (1989:54-55), o CPDOC preferiu a assinatura da cessão do depoimento oral no final da entrevista, quando o depoente tem ciência do conteúdo a ser cedido e a relação com o pesquisador está estabelecida. No início da entrevista, o depoente é informado sobre a existência da carta de cessão de direitos sobre o depoimento oral e a necessidade de sua assinatura. No Laboratório de História Oral da UFF, obtivemos o modelo da carta de cessão dos direitos, que foi utilizado nas entrevistas.

A coleta de documentos dos acervos pessoais constituiu um grande acervo de fontes primárias escritas e impressas e é, provavelmente, no momento, o maior acervo reunido, para pesquisa, sobre a ABDI e a APDINS-RJ, uma vez que os próprios acervos de documentos institucionais das duas entidades estão desaparecidos. Sérgio Akamatú lembrou, durante sua entrevista, que o acervo institucional da ABDI ficou abandonado na Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP, após o fechamento da Associação, em 1980. No início de 2001, descobrimos que o material da ABDI já havia sido descartado alguns anos antes.

Os documentos originais do arquivo da APDINS-RJ foram guardados em caixas de papelão e deixados junto ao estoque da Livraria RioBooks, que dividiu o aluguel e o espaço que servia de sede da Associação, em 1991. A livraria mudou de local, várias vezes, durante a década de 1990 e, por isso, seus proprietários não sabem que destino tiveram os documentos. Em algumas mudanças do estoque, algumas caixas foram descartadas e não houve reivindicação de posse do material por nenhum ex-diretor da APDINS-RJ. No entanto, esse fato não prejudicou o acesso a documentos importantes, já que os acervos particulares possuíam várias atas de reuniões, boletins e a quase totalidade de periódicos editados pela ABDI e APDINS-RJ.

Em julho de 2004, o livro de atas das assembleias gerais da APDINS-RJ foi encontrado no escritório de Humberto Costa, último vice-presidente da entidade. Entretanto, poucas informações foram acrescentadas dessa fonte porque os pontos mais importantes destas assembleias foram narrados em boletins e cartas aos associados, encontrados anteriormente nos acervos pessoais dos entrevistados.

Os documentos encontrados nos acervos pessoais foram copiados e catalogados

Page 22: ABDI E APDINS-RJ - Amazon Web Servicespdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/openaccess/...The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally,

22 ABDI e APDINS-RJ

em ordem cronológica e por temas pertinentes à pesquisa. Foram elaborados quadros de periodização da APDINS-RJ por diretorias e sedes, para servirem de referências para uma cronologia que facilitasse a localização temporal de questões a serem relembradas pelos entrevistados bem como suas participações na entidade. Foi feito sempre um levantamento antecipado da relação dos entrevistados com o tema e as particularidades ou singularidades de informações que eles podiam deter.

O método comparativo foi usado para melhor definir especificidades e o perfil institucional da APDINS-RJ e da ABDI, mediante a identificação de diferenças e semelhanças entre elas.

A narrativa do cotidiano dessas entidades foi privilegiada como forma de se estabelecer um conjunto de informações organizadas cronologicamente que servisse de base para se entender como essas associações se desenvolveram e que relações com contextos maiores poderiam ser traçadas. Com o mesmo objetivo, foram evidenciados alguns dados quantitativos como o número de sócios de ambas em diferentes épocas.

Algumas entrevistas foram realizadas após o término da tese com vistas a complementar as informações com pessoas que já tinham dado depoimento ou com as quais não foi possível encontrar na primeira pesquisa de campo. Dessas entrevistas, três tiveram que ser por correio eletrônico devido à impossibilidade de agenda para encontro ao vivo. Novas fontes impressas foram encontradas depois de 2005 e foram incorporadas na atual publicação.

É possível que ainda haja acervos pessoais, sobre essas duas associações, de ex-diretores e antigos sócios que não foram localizados ou identificados pela pesquisa. Fica aqui o apelo para preservação particular desse material e de outras fontes sobre a história das instituições de design ou que sejam encaminhados para instituições ou pesquisadores que tenham condições de preservá-los e disponibilizá-los para a sociedade no intuito de resgatar a história do campo profissional do design no Brasil.

A seguir, apresentaremos os temas de cada capítulo.No Capítulo 1, fazemos um breve resumo sobre a constituição do design

moderno no Brasil dos anos 1920 aos anos 1960 e o início da institucionalização do campo profissional de design, nos anos 1960, por meio da ESDI, primeira escola específica de desenho industrial no país, e a FAUUSP que, a partir da sua reforma de ensino de 1962, incluiu sequências de disciplinas de desenho industrial e comunicação visual, tornandose a primeira instituição de nível superior a implementar o ensino de design no Brasil. Foram essas duas instituições que iniciaram o ensino de design em nível superior e que serviram de referência para as discussões sobre o estatuto profissional empreendidas pela ABDI e APDINS-RJ.

No Capítulo 2, apresentamos a criação e a vida institucional da Associação Brasileira de Desenho Industrial – ABDI. A Associação exerceu papel importante

Page 23: ABDI E APDINS-RJ - Amazon Web Servicespdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/openaccess/...The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally,

23Marcos Braga

na divulgação do design e na congregação dos pioneiros do campo profissional. Promoveu diversos eventos, criou premiações e editou informativos e publicações.

Nos Capítulos 3 e 4, apresentamos um histórico da existência da APDINS-RJ por meio de uma periodização que destacará fases de gestões, principais eventos e ‘bandeiras’ e marcos de mudança. No Capítulo 3, iniciamos com as tentativas de criação da seção regional da ABDI, na Guanabara, passando pela formação dos Grupos de Trabalho que, em 1976, propõem a formação de uma entidade pré-sindical para os desenhistas industriais. O histórico continua com o desenvolvimento da APDINS-RJ desde a eleição de sua primeira diretoria provisória até início dos anos 1990, quando foi considerada inativa e abandonada.

No Capítulo 5, analisamos e refletimos sobre a vida e as atividades da ABDI e APDINS-RJ. Portanto, neste Capítulo tentaremos entender o que foi a APDINS-RJ e a ABDI e o papel histórico de ambas no desenvolvimento do campo profissional do designer no Brasil. Devido ao foco da tese, destacaremos mais a análise do porquê a APDINS-RJ foi criada em 1978 e por que deixa de existir no início dos anos 1990.

Nas Considerações Finais, apresentamos um resumo das questões principais tratadas ao longo deste livro, relacionadas à existência da APDINS-RJ e ABDI e à formulação das hipóteses da tese.

Page 24: ABDI E APDINS-RJ - Amazon Web Servicespdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/openaccess/...The research is characterized by the social history of institutions, collected, principally,