abc da caatinga nr. 19- 7 de junho

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Fortaleza-Ceará-Brasil Terça-feira, 7 de junho de 2011 8 Verde Verde A pós a decisão da Câmara Federal no último dia 25 de maio, que apro- vou a emenda 164 do PL 1876/99 do novo Código Florestal, o texto será ago- ra votado no Senado. Se forem aprovadas as modificações, haverá grandes prejuízos ambientais, inclusive no Bioma Caatinga, como o desmatamento e a não recuperação de áreas de Reserva Legal e a redução de Áreas de Preservação Permanente ao longo dos cursos d´água. A proposta de alteração do Código Flores- tal aprovada, dentre as principais mudanças, prevê a anistia para desmatamento e ocupa- ção de Áreas de Preservação Permanente, deixando a desobrigação de recuperar estas áreas irregularmente ocupadas, incluindo topos de morros, margens de rios, restingas, manguezais, nascentes, montanhas, terrenos com declividade superior a 45°. Na caatinga esta anistia para o desmatamento irá com- prometer, seriamente, os recursos hídricos. Ressalta-se que a água é de fundamental im- portância para a manutenção da vida no se- miárido sendo um recurso escasso e de difícil acesso aos pequenos produtores. Além disso, aumentará os riscos de desmoronamento e ocupação de áreas já com elevado grau de degradação, tornando quase irreversível a recuperação de tais áreas. Segundo o enge- nheiro agrônomo, Magnum Pereira, “deve- se levar em consideração, que na caatinga, pequenos agricultores praticam agricultura de sequeiro, produzindo essencialmente mi- lho e feijão, não havendo a necessidade de produção destas culturas em áreas de APP, não procedendo, portanto, que seria inviável recuperar tais APPs.” As margens de rio com uso já consoli- dado deverão ser objeto de licenciamen- to ambiental, que poderá manter o uso, readequá-lo, ou realocá-lo para outra área. As demais áreas, hoje, correspondentes às APPs poderão ter seu uso mantido, exceto se comprovado dano relevante por laudo técnico. A redução destas áreas preservadas causará grande vulnerabilidade na caatinga contribuindo diretamente para a degradação, desertificação e redução de disponibilidade hídrica na região. Manter o uso das margens nas APPs para atividades agrícolas elevaria, substancialmente, o risco de degradação da APP, inviabilizando, em muitos casos, a sua recuperação. “É inviável para os órgãos am- bientais dar conta de todos os novos pedidos de licenciamento ambiental que por ventura surgirão”, afirmou Magnum Pereira. No texto aprovado do Novo Código, está previsto o fim da Reserva Legal para propriedades de até quatro módulos ru- rais. Na caatinga, onde aproximadamente 47% da área já foi desmatada, reduzir as exigências em relação a essas áreas pre- servadas, seria de uma irresponsabilidade inaceitável, explicou o agrônomo. Outra mudança proposta é da recomposi- ção da Reserva Legal com plantas exóticas, podendo ser feita em RLs desmatadas com até 50% de espécies exóticas (plantas origi- nárias de outros biomas ou mesmo de ou- tros países), acrescentando espécies de uso econômico para possibilitar a recomposição da área. Mas na caatinga a introdução de es- pécies exóticas põe em risco a biodiversida- de local e mostra claramente que áreas que deveriam, na prática, ser utilizadas para a conservação, teriam seu uso para exploração econômica. Dessa forma, as Reservas legais teriam uma área de apenas 10% do imóvel, para propriedades acima de quatro módulos rurais, tendo uma menor importância para a manutenção da biodiversidade local. ABC da Caatinga Conheça mais em: www.acaatinga.org.br SINTA O CLIMA DA CAATINGA Semana do Meio Ambiente em Crateús A Semana do Meio Ambiente no município de Crateús, vai do dia 1 o ao 9, com uma programação que movimenta todo o município de Crateús. A Associação Caatinga através do Projeto No Clima da Caatinga participa hoje da Cam- panha Cidade Limpa, povo saudável, no bairro Nova Terra, às 7:30hs, além de uma oficina de arte com material reciclável nas escolas com os alunos do Programa Brasil Alfabetizado e EJA, às 19:30hs. Amanhã, das 8 às 15 horas, a programação continua com o seminário de Agroecologia no Sindicato dos Trabalhadores Rurais, palestra sobre queimadas na Caatinga. Caatinga pode ser prejudicada NOVO CÓDIGO BIODIVERSIDADE DA CAATINGA Barriguda Nome científico: Ceiba glaziovii A barriguda leva esse nome devido ao formato do seu tronco que tem diâme- tro maior no meio que na base. A árvore pode chegar a 18 metros de altura, com uma copa ampla e bastante ramificada, com folhas que vão de 2 a 9 cm de com- primento, flores brancas, frutos com mui- tas sementes pequenas, marrom escuras, redondas, envoltas por pêlos finíssimos, com consistência sedosa, chamados “lã de barriguda”. A barriguda é encontrada somente na região nordeste do Brasil, nos estados do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Bahia. Ocorre na caatinga, em áreas de re- levo movimentado, assim como em serras e topos de morros. A madeira da árvore é alva e pesada, com textura média a gros- sa, de baixa resistência mecânica e muito suscetível ao deterioramento, mais ainda assim é usada para caixotaria. A árvore serve ainda como um remédio caseiro. Sua casca é usada no tratamento de inflama- ção do fígado e hérnias.

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Page 1: ABC da Caatinga Nr. 19- 7 de junho

Fortaleza-Ceará-BrasilTerça-feira, 7 de junho de 20118 VerdeVerde

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Após a decisão da Câmara Federal no último dia 25 de maio, que apro-vou a emenda 164 do PL 1876/99

do novo Código Florestal, o texto será ago-ra votado no Senado. Se forem aprovadas as modifi cações, haverá grandes prejuízos ambientais, inclusive no Bioma Caatinga, como o desmatamento e a não recuperação de áreas de Reserva Legal e a redução de Áreas de Preservação Permanente ao longo dos cursos d´água.

A proposta de alteração do Código Flores-tal aprovada, dentre as principais mudanças, prevê a anistia para desmatamento e ocupa-ção de Áreas de Preservação Permanente, deixando a desobrigação de recuperar estas áreas irregularmente ocupadas, incluindo topos de morros, margens de rios, restingas, manguezais, nascentes, montanhas, terrenos com declividade superior a 45°. Na caatinga esta anistia para o desmatamento irá com-prometer, seriamente, os recursos hídricos. Ressalta-se que a água é de fundamental im-portância para a manutenção da vida no se-miárido sendo um recurso escasso e de difícil acesso aos pequenos produtores. Além disso, aumentará os riscos de desmoronamento e ocupação de áreas já com elevado grau de degradação, tornando quase irreversível a recuperação de tais áreas. Segundo o enge-nheiro agrônomo, Magnum Pereira, “deve-se levar em consideração, que na caatinga, pequenos agricultores praticam agricultura de sequeiro, produzindo essencialmente mi-lho e feijão, não havendo a necessidade de produção destas culturas em áreas de APP, não procedendo, portanto, que seria inviável recuperar tais APPs.”

As margens de rio com uso já consoli-dado deverão ser objeto de licenciamen-to ambiental, que poderá manter o uso,

readequá-lo, ou realocá-lo para outra área. As demais áreas, hoje, correspondentes às APPs poderão ter seu uso mantido, exceto se comprovado dano relevante por laudo técnico. A redução destas áreas preservadas causará grande vulnerabilidade na caatinga contribuindo diretamente para a degradação, desertifi cação e redução de disponibilidade hídrica na região. Manter o uso das margens nas APPs para atividades agrícolas elevaria, substancialmente, o risco de degradação da APP, inviabilizando, em muitos casos, a sua recuperação. “É inviável para os órgãos am-bientais dar conta de todos os novos pedidos de licenciamento ambiental que por ventura surgirão”, afi rmou Magnum Pereira.

No texto aprovado do Novo Código, está previsto o fi m da Reserva Legal para propriedades de até quatro módulos ru-rais. Na caatinga, onde aproximadamente 47% da área já foi desmatada, reduzir as exigências em relação a essas áreas pre-servadas, seria de uma irresponsabilidade inaceitável, explicou o agrônomo.

Outra mudança proposta é da recomposi-ção da Reserva Legal com plantas exóticas, podendo ser feita em RLs desmatadas com até 50% de espécies exóticas (plantas origi-nárias de outros biomas ou mesmo de ou-tros países), acrescentando espécies de uso econômico para possibilitar a recomposição da área. Mas na caatinga a introdução de es-pécies exóticas põe em risco a biodiversida-de local e mostra claramente que áreas que deveriam, na prática, ser utilizadas para a conservação, teriam seu uso para exploração econômica. Dessa forma, as Reservas legais teriam uma área de apenas 10% do imóvel, para propriedades acima de quatro módulos rurais, tendo uma menor importância para a manutenção da biodiversidade local.

ABC da CaatingaCaatingaCaatingaConheça mais em: www.acaatinga.org.br

SINTA O CLIMA DA CAATINGASemana do Meio Ambiente em Crateús

A Semana do Meio Ambiente no município de Crateús, vai do dia 1o ao 9, com uma programação que movimenta todo o município de Crateús. A Associação Caatinga através do Projeto No Clima da Caatinga participa hoje da Cam-panha Cidade Limpa, povo saudável, no bairro Nova Terra, às 7:30hs, além de uma ofi cina de arte com material reciclável nas escolas com os alunos do Programa Brasil Alfabetizado e EJA, às 19:30hs. Amanhã, das 8 às 15 horas, a programação continua com o seminário de Agroecologia no Sindicato dos Trabalhadores Rurais, palestra sobre queimadas na Caatinga.

Caatinga pode ser prejudicadaNOVO CÓDIGO

BIODIVERSIDADE DA CAATINGA

BarrigudaNome científi co: Ceiba glaziovii

A barriguda leva esse nome devido ao formato do seu tronco que tem diâme-tro maior no meio que na base. A árvore pode chegar a 18 metros de altura, com uma copa ampla e bastante ramifi cada, com folhas que vão de 2 a 9 cm de com-primento, fl ores brancas, frutos com mui-tas sementes pequenas, marrom escuras, redondas, envoltas por pêlos fi níssimos, com consistência sedosa, chamados “lã de barriguda”. A barriguda é encontrada somente na região nordeste do Brasil, nos estados do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Bahia. Ocorre na caatinga, em áreas de re-levo movimentado, assim como em serras e topos de morros. A madeira da árvore é alva e pesada, com textura média a gros-sa, de baixa resistência mecânica e muito suscetível ao deterioramento, mais ainda assim é usada para caixotaria. A árvore serve ainda como um remédio caseiro. Sua casca é usada no tratamento de infl ama-ção do fígado e hérnias.