aÇÃo revisional de contrato de financiamento

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DE UMA DAS VARAS CÍVEIS DA COMARCA DE ........ ROBERTO ...... , brasileiro, solteiro, comerciante, portador da cédula de identidade RG n. ......... e do CPF MF n. .............., residente e domiciliado na cidade de ......, por sua procuradora “in fine”, inscrita na OAB/SP .., com escritório fixado na ......., onde recebe intimações, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 39, inciso V, 51, incisos IV e IX e parágrafo 1º, III, do Código de Defesa do Consumidor, c/c artigo 273, do CPC e demais dispositivos legais reguladores da espécie propor a presente AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE FINANCIAMENTO COM APURAÇÃO DE VALORES COBRADOS E REPETIÇÃO DE INDÉBITO DOS VALORES PAGOS EM EXCESSO, CUMULADA COM DECLARATÓRIA 1

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Page 1: AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE FINANCIAMENTO

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DE UMA DAS VARAS CÍVEIS DA COMARCA DE ........

ROBERTO ......, brasileiro, solteiro, comerciante, portador da cédula de identidade RG n. ......... e do CPF∕MF n. .............., residente e domiciliado na cidade de ......, por sua procuradora “in fine”, inscrita na OAB/SP .., com escritório fixado na ......., onde recebe intimações, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 39, inciso V, 51, incisos IV e IX e parágrafo 1º, III, do Código de Defesa do Consumidor, c/c artigo 273, do CPC e demais dispositivos legais reguladores da espécie propor a presente AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE FINANCIAMENTO COM APURAÇÃO DE VALORES COBRADOS E REPETIÇÃO DE INDÉBITO DOS VALORES PAGOS EM EXCESSO, CUMULADA COM DECLARATÓRIA DE QUITAÇÃO COM PEDIDO TUTELA ANTECIPADA contra

BV FINANCEIRA S/A, pessoa jurídica de direito privado, com sede na cidade de São Paulo - Capital, na Avenida das Nações Unidas, n. 14.171, Torre A, 8°

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andar, conjunto 82, Vila Gertrudes, sob o CNPJ n. 01.149.953/0001-89, em razão dos seguintes argumentos fáticos e jurídicos a seguir expostos:

I- DA CONTRATAÇÃO EFETIVADA PELAS PARTES

O Autor firmou com a ré contrato de Alienação n. 500288129, cujo contrato de adesão não lhe foi entregue até a presente data, requerendo sua exibição nos termos do artigo 355, do Código de Processo Civil, nos termos da fundamentação infra. A avença foi estabelecida através de formulários de adesão. O contrato foi aprazado para 48 meses.

O objeto do referido negócio jurídico estabelecido entre as partes é a aquisição pelo autor de "Uma motocicleta marca HONDA, modelo VW 23.220, Ano Fab/Mod: 2004/2004, cor branca, chassi nº ........, placa ....., conforme se infere na inclusa cópia do Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo, pelo preço certo e ajustado de R$ 97.044,00(noventa e sete mil e quarenta e quatro reais), sendo em quarenta e oito (48) parcelas no valor de R$ 277,56(duzentos e setenta e sete reais e cinqüenta e seis centavos), totalizando um total de R$ 13.328,88(treze mil, trezentos e vinte e oito reais e oitenta e oito centavos), se pagas as parcelas rigorosamente em dia.

II – PRELIMINARMENTE

II.1. DA SUBMISSÃO DO CONTRATO BANCÁRIO AO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

A presente ação está fundamentada - dentre outros dispositivos legais aplicáveis à espécie - nas normas do Código de Defesa do Consumidor (Lei n.º 8.078/90), devendo quando do recebimento da presente ação ser declarado por Vossa Excelência tal submissão, como parâmetro a ser seguido no concernente ao ônus da prova a ser praticada pelas partes, todavia, nunca é demais esclarecer quais os princípios norteadores desse sistema legal.

Para se saber se as normas contidas no Código de Defesa do Consumidor são aplicáveis ou não ao

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presente caso, impõe-se, antes de qualquer coisa a identificação dos elementos componentes da relação de consumo segundo os modelos legais previstos pelo CDC.

Quanto ao enquadramento na conceituação de consumidor prevista no CDC, das pessoas (físicas e jurídicas) que fazem uso dos serviços bancários, não poderá existir qualquer dúvida. Vale dizer, ocorrendo uma prestação de serviços bancários, onde figurem, de um lado, na qualidade de fornecedor, um determinado banco comercial e, de outro, na qualidade de consumidor, uma pessoa qualquer, que contrate com esse agente financeiro, é evidente que essa relação jurídica se caracterizará como relação de consumo.

Primeiramente, ressalva-se que a conceituação de consumidor, no sistema brasileiro, não está vinculada à constatação ou não de vulnerabilidade das partes envolvidas na relação de consumo. Aliás, para os efeitos de aplicação do CDC, o consumidor é presumivelmente considerado vulnerável frente ao fornecedor.

O que não se pode confundir é vulnerabilidade com hipossuficiência. A vulnerabilidade é geral e decorre da simples situação de consumidor, já a hipossuficiência decorre de condições pessoais e relativas a cada consumidor em confronto com as condições pessoais do respectivo fornecedor.

Assim, a hipossuficiência deve ser analisada caso a caso, ao passo que a vulnerabilidade do consumidor é inerente a sua própria condição.

Mais ainda, devemos lembrar que o CDC não contempla em seu texto somente a conceituação do consumidor destinatário final (artigo 2º, caput), mas também as pessoas (físicas e jurídicas) expostas às práticas previstas em todo o Capítulo V e VI, do CDC (artigo 29).

Na maior parte das vezes, tanto as empresas como as pessoas físicas clientes das instituições financeiras estarão enquadradas na extensão conceitual de consumidor prevista pelo artigo 29 do Código de Defesa do Consumidor, diante da proteção contratual conferida ao consumidor que firma contrato de adesão com a instituição bancária contendo cláusulas nulas em sua grande maioria. Ainda, segundo o preceituado pelo artigo 17 do Código do

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Consumidor, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas de evento decorrente de fato do produto ou serviço.

Desta forma, a conceituação de consumidor de serviços ou produtos oferecidos pelos bancos está ligada a sua exposição às práticas abusivas lançadas pelas instituições financeiras e à proteção contratual conferida, especialmente se houver ajuste por meio de contrato de adesão ( no presente caso), quando não decorrente de evento danoso proporcionado pelo serviço de natureza bancária, financeira, de crédito ou securitária (segundo § 2º do art. 3º, do CDC). Assim, resta demonstrada a existência de relação de consumo entre cliente (pessoa física) e instituição financeira (Ré), devendo ser conferida aos consumidores a proteção outorgada pelo CDC, conforme dito alhures, com declaração no recebimento da inicial da submissão do feito aos ditames do Código do Consumidor, como parâmetro para o exercício do ônus probatório.

Requer, desde já seja declarada a inversão do ônus da prova no despacho inicial de recebimento da ação, para que se evite argüição de nulidade por cerceamento de defesa, já que a mencionada declaração fixaria o ônus probatório de cada qual litigante.

III - O INTERESSE DE AGIR

Quanto ao cabimento da ação declaratória, ao caso presente, reiteradamente, tem entendido o EG. STJ, verbis:

RECURSO ESPECIAL N.º 28.599-2 – MG

(Registro n.º 92.0027082-4)

EmentaProcesso Civil. Ação declaratória.

Possibilidade de interpretação de cláusula. Ilegitimidade de estipulações contratuais. Súmula/STJ. Verbete 5. Resoluções e Portarias. Não enquadramento no conceito de lei federal. Precedentes do Tribunal. Recursos desacolhido

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I. Segundo precedentes do Tribunal, é admissível obter-se a interpretação de cláusula contratual através da ação declaratória. Destarte, possível tal ação intentada com o objetivo de obter-se a certeza da existência e o exato conteúdo dos efeitos da relação jurídica decorrentes da aplicação do contrato.

Sobre o cabimento de ação declaratória de nulidade, disse o pranteado Pontes de Miranda:

“A sentença que reconhece a nulidade não é declaratória, mas, constitutiva negativa” (Tratado de Direito Privado, tomo IV, 4º Edição, RT 1983, § § 380 e 408 os. 75-76 e 206).

O direito á revisão dos contratos está contido no art. 6º, V, do Código de Defesa do Consumidor, mesmo havendo termo de renegociação e ou confissão de dívidas.

MAURO CAPPELLETTI, um dos pais do consumerismo mundial, em sua portentosa obra O ACESSO À JUSTIÇA, com sapiência vaticina: “Mesmo consumidores bem informados, por exemplo, só raramente se dão conta de que sua assinatura num contrato não significa que precisem, obrigatoriamente, sujeitar-se a seus termos, em quaisquer circunstâncias. Falta-lhes o conhecimento jurídico básico não apenas para fazer objeções a esses, contratos, mas até mesmo para perceber que sejam passíveis de objeção”.

É portentosa a doutrina de HUMBERTO THEODORO JÚNIOR, citando LIEBMAN e ARRUDA ALVIM (In Curso de Direito Processual Civil, Vol. I, 24º, 1998, Editora Forense, p. 56):

“O interesse de agir, que é instrumental e secundário, surge da necessidade de obter através do processo a proteção ao interesse substancial. Entende-se, dessa maneira, que há interesse processual se a parte sofre um prejuízo, não propondo a demanda, e

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daí resulta que, para evitar esse prejuízo, necessita exatamente da intervenção dos órgãos jurisdicionais (...) essa necessidade se encontra naquela situação que nos leva a buscar uma solução judicial, sob pena de, se não fizemos, vermo-nos na contingência de não podermos ter satisfeita uma pretensão (o direito de que nos afirmamos titulares).

IV – DO CONTRATO CLÁSSICO AO CONTEMPORÂNEO

Em excelente texto sobre a reconstrução do conceito de contrato, Roxana Cardoso Brasileiro Borges, professora adjunta de Direito Civil da UFBA e UNEB, professora da UCSal, Doutora em Direito das Relação Sócias pela PUC/SP e Mestre em Instituições Jurídico-Políticas pela UFSC, fez síntese comparativa e extremamente objetiva sobre o conceito clássico de contrato e o conceito contemporâneo.

No antigo conceito de contrato, enquanto acordo de vontade entre interesses opostos, em antagonismo, imperavam os princípios da intangibilidade e do "pacta sunt servanda" e o papel do Estado era simplesmente garantir seu cumprimento, pois que necessariamente justo.

Contemporaneamente, no entanto, no novo conceito, prevalece a noção de contrato como vínculo de cooperação e a percepção da necessidade de atuação cooperativa entre os pólos da relação contratual.

Pois bem, desse novo conceito algumas conseqüências jurídicas decorrem de imediato: a proteção da confiança no ambiente contratual, a exigência da boa-fé e a observância da função social do contrato.

Nesse novo conceito, o papel do estado será sempre no sentido de superar, também, a noção de igualdade formal pela igualdade substancial, permitindo aos juízes interferir no contrato e relativizar o "pacta sunt servanda," aplicando os princípios consagrados na Constituição Federal e no Código Civil.

Completamente fora de moda, conseqüentemente, o discurso de que a intervenção judicial nos

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contratos é fator de insegurança jurídica e de um suposto "custo Brasil", como alardeiam os porta-vozes do empresariado nacional e estrangeiro, pois sobre a suposta segurança jurídica deve prevalecer, sobretudo, a justiça contratual.

A revisão contratual, portanto, não tem o objetivo de ultrapassar a vontade das partes e gerar insegurança ao vínculo contratual, mas re-equilibrar o contrato com a finalidade de preservá-lo, com a possibilidade de satisfação dos interesses legítimos em jogo, buscando, por assim dizer, o cumprimento re-equilibrado.

V - FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO

A nova compreensão do Direito Privado sobrepõe a perspectiva funcional dos institutos jurídicos à análise meramente conceitual e estrutural. Não se indaga mais, simplesmente, à cerca dos elementos estruturais com compõem o conceito do contrato, por exemplo, mas se a sua finalidade está sendo cumprida, pois "na perspectiva funcional, os institutos jurídicos são sempre analisados como instrumentos para a consecução de finalidades consideradas úteis e justas."

As transformações sofridas pelo Direito Privado em face da aplicação dos princípios constitucionais, de caráter normativo, bem como dos princípios estabelecidos no Novo Código Civil, principalmente a "função social do contrato" prevista no artigo 421, do CC, permitem ao Judiciário a intervenção no contrato para restabelecimento do seu equilíbrio.

O antigo princípio do "pacta sunt servanda", portanto, precisa sofrer as adaptações da principiologia axiológica da CF de 1988 e do CC de 2002, ou seja, os contratos devem visar uma função social e a satisfação dos interesses das partes contratantes, em cooperação.

Assim, quando o contrato satisfaz apenas um lado, prejudicando o outro, o pacto não cumpre sua função social, devendo o Judiciário promover o re-equilíbrio contratual através da revisão das cláusulas prejudiciais a uma das partes.

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Na teoria contemporânea do Direito das Obrigações, impõe-se uma mudança radical na leitura da disciplina das obrigações, que não pode mais ser considerada apenas como garantia do credor: "a obrigação não se identifica no direito ou nos direitos do credor; ela configura-se cada vez mais como uma relação de cooperação....

A cooperação, e um determinado modo de ser, substitui a subordinação e o credor se torna titular de obrigações genéricas ou específicas de cooperação ao adimplemento do devedor."

Mais que isso, o contato não pode mais ser concebido como uma relação jurídica isolada da comunidade social e que só interessa às partes contratantes, como se impermeável às condições sociais que o cerca e que lhe afetam.

VI – A BOA-FÉ OBJETIVA

A boa-fé, entendida como elemento meramente subjetivo, situação ou fato psicológico, deu lugar ao princípio da boa-fé objetiva.

Agora, "o princípio da boa-fé impõe um padrão de conduta a ambos os contratantes, no sentido da recíproca cooperação, com consideração dos interesses um do outro, em vista de se alcançar o efeito prático que justifica a existência jurídica do contrato celebrado."

Neste sentido, o artigo 51, IV, do CDC, considera nulas as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que sejam incompatíveis com a boa-fé.

Ainda em termos de legislação, o artigo 422, do Código Civil Brasileiro, estabelece que os contraentes são obrigados a guardar os princípios da probidade e da boa-fé.

Em consequência, distanciando-se da subjetividade do antigo conceito, a boa-fé objetiva exige um dever de conduta, de ética, lealdade e de colaboração na execução do contrato.

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Não se pode dizer, portanto, que está presente a boa-fé objetiva em um contrato que permite vantagens e lucros exorbitantes a um dos contratantes, resultantes de estipulação de taxas de juros em muito superiores ao razoável de uma economia estabilizada e com baixos índices de inflação.

Por fim, o Juiz não pode se esquivar do seu papel de criação do Direito, pois "a boa fé opera uma delegação ao juiz para, à luz das circunstâncias concretas que qualificam a relação intersubjetiva sub judice, verificar a correspondência do regulamento contratual, expressão da autonomia privada, aos princípios aos quais esta última deve ser funcionalizada. Tal delegação, prevista legislativamente, faz com que determinadas concepções acerca do papel do juiz ainda hoje sustentadas se tornem anacronismos com um sentido claramente retrógrado."

VII - DA NECESSIDADE DE REVISÃO JUDICIAL DO PREÇO DO CONTRATO

Não há dúvida alguma ser o contrato em questão, da espécie de consumo e de adesão, celebrado nas modalidades tipificadas pelo artigo 52, do Código de Defesa do Consumidor. O Banco/Requerido valeu-se desta técnica para impor sua vontade e inserir cláusulas extremamente gravosas, abusivas, esdrúxulas e nulas de pleno direito.

Também, o art. 6º, inciso V, do Código de Defesa do Consumidor diz textualmente: "Art. 6º - São direitos básicos do consumidor: (...)

V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas" (grifamos).

O fato superveniente que autoriza a revisão da cláusula está exatamente na alteração do comércio mundial, através abrupta da política cambial do Governo, que culminou na baixa da taxa de juros, na redução do IPI para aquisição de veículos automotores, culminando na baixa de veículos zeros, por conseqüência os veículos usados tiveram uma queda acentuada e bem significativa, enfim na mudança da

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política economia de maneira brusca o que acabou por culminar na baixa elevada de preço dos veículos usados, como este adquirido através de financiamento com alienação.

Para Cláudia Lima Marques, "Apesar das posições contrárias iniciais, e com o apoio da doutrina, as operações bancárias no mercado, como um todo, foram consideradas pela jurisprudência brasileira como submetidas às normas e ao novo espírito do CDC de boa-fé obrigatória e equilíbrio contratual.

“Como mostra da atuação do Judiciário, não se furtando a exercer o controle do conteúdo destes importantes contratos de massa”. In "Contratos no Código de Defesa do Consumidor", 2 ed., pg. 143.

O que se busca no caso em tela é exatamente um equilíbrio financeiro da cláusula contratual, para evitar o enriquecimento da instituição financeira, em detrimento da imposição de um ônus excessivamente gravoso ao consumidor.

O escólio da douta Cláudia Lima Marques merece ser colacionado: "Cabe frisar, igualmente, que o art. 6º, inciso V, do CDC institui, como direito do consumidor, a modificação das cláusulas contratuais, fazendo pensar que não só a nulidade absoluta serviria como sanção, mas também que seria possível ao juiz modificar o conteúdo negocial." op. cit., pg. 297.

"A norma do art. 6º do CDC avança ao não exigir que o fato superveniente seja imprevisível ou irresistível, apenas exige a quebra da base objetiva do negócio, a quebra do seu equilíbrio intrínseco, a destruição da relação de equivalência entre prestações, ao desaparecimento do fim essencial do contrato. Em outras palavras, o elemento autorizador da ação modificadora do Judiciário é o resultado objetivo da engenharia contratual que agora apresenta a mencionada onerosidade excessiva para o consumidor, resultado de simples fato superveniente, fato que não necessita ser extraordinário, irresistível, fato que podia ser previsto e não foi". Op. cit., pg. 299.

Não se nega que o Código de Defesa do Consumidor pode ser perfeitamente aplicável à hipótese vertente, destacando-se os postulados de ordem pública os quais estabelecem balizas inarredáveis para a conduta do fornecedor.

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Nesse sentido, o Egrégio Superior Tribunal de Justiça, em diversos julgados, já pronunciou que o CDC é aplicável às relações de consumo originárias de contrato de leasing, enfatizando a finalidade social daquela legislação.

COMERCIAL E PROCESSUAL - ARRENDAMENTO MERCANTIL (LEASING), GARANTIDO POR CAMBIAL - ILIQUIDEZ. "O princípio, assim consubstanciado no verbete 60/STJ e revigorado pelo legislador que, com a vigência do Código do Consumidor, passou a coibir cláusulas, cuja pactuação importe no cerceio da livre manifestação da vontade do consumidor." (REsp. nº 82262/RJ, Min. Waldemar Zveiter, Terceira Turma).

Destaca-se que o Diploma Consumerista faz expressa menção à vulnerabilidade jurídica do consumidor, parte mais fraca na relação de consumo, devendo o magistrado viabilizar a preservação dos interesses econômicos deste parceiro contratual, notadamente em face de mudanças bruscas e inesperadas no cenário econômico.

Faz-se referência à decisão emanada do Superior Tribunal de Justiça, acerca do reconhecimento do poder outorgado ao magistrado para a revisão do contrato em função de fato superveniente.

PROMESSA DE COMPRA E VENDA. RESOLUÇÃO. FATOS SUPERVENIENTES. INFLAÇÃO. RESTITUIÇÃO. "A modificação superveniente da base do negócio, com aplicação de índices diversos para a atualização da renda do devedor e para a elevação do preço contratado, inviabilizando a continuidade do pagamento, pode justificar a revisão ou a resolução judicial do contrato, sem ofensa ao artigo 6º. da LICC." (RESP 73370/AM, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR).

E mais:

RESP - COMERCIAL - CONTRATO - A prestação contratual, em havendo expressão econômica, deve mantê-la durante a avença. caso contrário, haverá enriquecimento ilícito para uma das partes. leis subsequentes a avença, visando a conservar o valor, devem ser levadas em consideração. o "pacta sunt servanda" deve ser compatibilizado com a cláusula "rebus sic stantibus". (RESP 128307/MG, Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO, 23/03/98)

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Neste sentido, TUPINAMBÁ MIGUEL CASTRO DO NASCIMENTO, às pg. 68/69, "in Comentários ao Código do Consumidor, 3ª Edição, 1991, relato o seguinte: "Cláusulas abusivas - Toda a cláusula contratual abusiva, cuja tipificação e elenco se enquadram no artigo 51 do Código do Consumidor, afora em outros artigos (52 e 53), é írrita ou nula.

Esta afirmação da lei permite o enfrentamento de duas questões. A primeira, a que trata de nulidade e não de anulabilidade. A expressão usada na lei "nula de pleno direito", artigo 51, caput, não deixa margem à dúvida. Nunca tem eficácia, não convalescendo nem pela passagem do tempo e nem pelo fato de não serem alegadas. Como efeito, são pronunciadas de ofício pelo Juiz que as conhece, não supríveis e a declaração de nulidade retroage ao início do contrato, que é efeito "ex func".

No caso, impõe-se a modificação ou revisão judicial das cláusulas relativas ao preço do contrato em questão, em face da desproporção entre a prestação e o valor da aquisição, em razão da lesão e da onerosidade excessiva, que estão levando o autor à bancarrota financeira, a fim de que se alcance a justiça contratual, que é a finalidade precípua do contrato, bem como as ilegalidades abaixo apontadas, através dos históricos dos fatos.

VIII - HISTÓRICO DOS FATOS E OPERAÇÕES BANCÁRIAS QUE ENSEJAM A PRESENTE AÇÃO REVISIONAL

Conforme restará demonstrado, após a realização de análise contábil-financeira, o Autor detectou inúmeras ilegalidades e irregularidades que vêm sendo impostas pela instituição financeira-Requerida ao Autor quando da contratação e cumprimento das obrigações ajustadas entre as partes, através de contrato de financiamento para aquisição de veículo com alienação fiduciária. Mediante a imposição de cláusulas e condições desproporcionais e descabidas, o Autor vêm sendo obrigado a efetuar os pagamentos de valores a maior e indevidos em favor do Banco Requerido, sob pena de ser ter seu veículo apreendido, seu contrato rescindido e ainda, inscrito em cadastro de devedor (inadimplente), sofrer restrição de crédito ou transtornos quando da efetivação de outras

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operações financeiras, trazendo inúmeros dados e prejuízos ao Requerente.

Assim sendo, o Autor, mais uma vez, pressionado e sem qualquer opção frente à instituição financeira-Requerida, viu-se obrigado a proceder a reanálise jurídica, onde deverá se proceder a perícia financeira da operação referida, realizadas entre as partes.

Assim, pretende o autor a revisão de cláusulas constantes em Contrato de Financiamento, de cunho nitidamente adesivo, para serem afastadas as cláusulas que contenham a determinação de capitalização mensal de juros, correção monetária cumulada com comissão de permanência e juros moratórios e remuneratórios acima do limite legal, onerando excessiva e unilateralmente o contato.

IX - DESPROPORÇÃO ENTRE AS PRESTAÇÕES E O VALOR DO BEM ADQUIRIDO

Conforme já asseverado alhures, o Autor, adquiriu um Veículo Nacional, ""Um veículo marca Chevrolet, Modelo Astra Hatch 5P, GSI, Ano Fab/Mod: 2005/2005, cor preta, chassi nº 9BGTK48F05B229350, placa HSI-4900-MS" no valor de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais), sendo que, R$ 5.400,00(cinco mil e quatrocentos reais) foi pago à vista (doc. em anexo), e o restante do valor de R$ 34.600,00(trinta quatro mil e seiscentos reais) foi dividido em 60 parcelas de R$ 1.068,09(hum mil e sessenta e oito reais, nove centavos) cada uma delas, totalizando o valor total de R$ 69.485,40(sessenta e nove mil, quatrocentos e oitenta e cinco reais, quarenta centavos), em caso de pagamento em dia, sendo que, até a presente data já foi pago mais de R$ 16.080,90, conforme se denota dos inclusos recibos de pagamento, para um automóvel que hoje é avaliado em R$ xxxxxx(cinco mil, quinhentos e noventa e cinco reais), conforme se infere através da tabela FIPE, extraído da internet, faltando ainda mais de R$ 53.404,50(cinqüenta e três mil, quatrocentos e quatro reais e cinqüenta centavos, se pagas as parcelas em dia.

No caso, não há proporcionalidade e equivalência entre as prestações e o bem adquirido. Aliás, nunca houve, desde o momento da contratação, pois a

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Arrendadora embutiu no contrato de adesão uma remuneração extorsiva, de forma abusiva e sorrateira, se prevalecendo de sua situação de superioridade.

Mesmo tendo-se em conta que o valor da prestação não exprime somente a remuneração do dinheiro, como também inclui a depreciação do veículo, não há lógica, matemática ou cálculo que explique e justifique tal brutalidade, que, em uma análise fria, configura-se como forma de lograr lucro fácil e enriquecer ilicitamente à custa de terceiro, e, por fim, de exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva, o que é reprimido pelos arts. 39, V; 51, IV e § 1º, III, do CDC, a seguir transcritos:

"Art. 39 - É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas.

V - Exigir do consumidor vantagem manifestamente abusiva.

Art. 51 - São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas as fornecimento de produtos e serviços que:

IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé e a equidade."

§ 1º - Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:

III - Se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso".

À toda evidência, não houve proporcionalidade entre as prestações, violando-se, com isso, as normas do CDC até aqui citadas.

Ainda antes do advento do CDC, a jurisprudência de nossos Tribunais já sufragava o entendimento de que os contratos não podem conter prestações iníquas e impor obrigações exacerbadas contra uma das partes. No julgamento da apelação cível nº 193101938, por exemplo, perante a 3ª Câm. Cív. do TARGS, o douto magistrado

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ARNALDO RIZZARDO, enquanto ocupava uma das cátedras daquela respeitável

Corte, expôs ensinamento lapidar, que serve como uma luva ao caso em pauta, "in verbis": "E por muitos que sejam os mecanismos de funcionamento das empresas de 'leasing', jamais se autoriza a escolha de caminhos que facilitem os lucros exacerbantes, em face do dirigismo contratual que deve preponderar nos negócios econômicos, de modo a firmar-se o equilíbrio das partes, sem o prevalecimento das entidades que manipulam com o capital."

Para arrematar, Excelência, o contrato "sub examinem", em face da elevada quantia, em comparação ao preço final do veículo, mormente se considerarmos o valor pago de entrada, que o Autor tem de desembolsar mensalmente, acarreta um desequilíbrio extremado na balança de correlação de direitos e obrigações das partes contrapostas na relação contratual, vindo, por conseqüência, a destruir a compensação na distribuição de esforços e benefícios que o contratante esperava extrair da contratação.

X - CLÁUSULAS NULAS - NULIDADES PLENO IURE NOS INSTRUMENTOS OBJETO DA PRESENTE AÇÃO - CLÁUSULA DE PREÇO

Inúmeras são as condições constantes dos instrumentos ora em revisão que não possuem validade diante do que dispõe o Código de Defesa do Consumidor.

Em especial, podemos destacar a nulidade da cláusula que estipula o valor dos juros compensatórios.

A modificação dos valores inseridos nos instrumentos em revisão é medida que se impõe, uma vez que a manutenção de tal valor repercute em excessiva onerosidade indevidamente imposta aos Autores.

Cláudia Lima Marques (Contratos no Código de Defesa do Consumidor, 2ª ed., RT, p. 299) lembra

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que: "A onerosidade excessiva e superveniente que permite o recurso a esta revisão judicial é unilateral, pois o art. 6º do CDC instituiu direitos básicos apenas para o consumidor. A norma do art. 6º do CDC avança ao não exigir que o fato superveniente seja imprevisível ou irresistível, apenas exige a quebra de seu equilíbrio intrínseco, a destruição da relação de equivalência entre prestações, ao desaparecimento do fim essencial do contrato. Em outras palavras, o elemento autorizado da ação modificadora do Judiciário é o resultado objetivo da engenharia contratual, que agora apresenta a mencionada onerosidade excessiva para o consumidor, resultado de simples fato superveniente, fato que não necessita ser extraordinário, irresistível, fato que podia ser previsto e não foi."

Inegavelmente o fato superveniente que enseja e autoriza a presente ação está intimamente ligado à apuração correta dos valores inseridos no contrato em questão. Logicamente que o Autor não está obrigado ao pagamento de quantia indevida, e pouco podem sofrer as conseqüências danosas do instrumento impugnado, sem antes obter a revisão de todas as condições impugnadas.

Estando as cláusulas que contém a apuração dos valores, em desconformidade com os valores dos negócios jurídicos, devem as mesmas serem revisadas, para que, declarando-se abusivos os valores nelas constante e reconhecendo-se a nulidade de pleno direito de tais condições contratuais, sejam, se possível, alterados em consonância com a legislação vigente.

Isto porque, todas as condições contratuais em desacordo com a legislação vigente, notadamente contrárias ao comando dos artigos 51, 52, 53 e 54 da Lei n.º 8.078/90, devem ser declaradas Nulas de Pleno Direito. É o que se requer.

XI - COBRANÇA ILEGAL DE JUROS E JUROS FORA DA PREVISÃO CONTRATUAL

O Código de Defesa do Consumidor, ao definir os direitos básicos do consumidor, artigo 6º, V, permite a modificação de cláusula contratual que estabelece prestação desproporcional ou sua revisão em razão de fato superveniente que a torne excessivamente onerosa.

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A interpretação da norma não remete para o antigo conceito da teoria da imprevisão no sentido da exigência da previsibilidade inequívoca do acontecimento, ou seja, basta agora a ocorrência, mesmo na origem, da lesão ou onerosidade excessiva.

"O Código de Defesa do Consumidor assumiu uma postura mais objetiva no que diz respeito à revisão contratual por circunstâncias supervenientes. Basta uma breve análise do artigo que postula tal possibilidade, para perceber que este não menciona qualquer requisito além da excessiva onerosidade presente: não se fala em previsibilidade ou imprevisibilidade, não há questionamentos acerca das intenções subjetivas das partes no momento da contratação." [04

Vê-se, portanto, que a onerosidade excessiva pode ser originária, ou seja, desde a formação do contrato, pois a condição de vulnerabilidade do consumidor não lhe permite a compreensão da vantagem manifestamente excessiva em favor do fornecedor do crédito.

Este princípio tem por fundamento, principalmente, a igualdade substancial nas relações contratuais e, por conseqüência, o equilíbrio entre as posições econômicas dos contratantes. Ao contrário do equilíbrio meramente formal, busca-se agora que as prestações em favor de um contratante não lhe acarretem um lucro exagerado em detrimento do empobrecimento do outro contratante.

Assim, "em face da disparidade do poder negocial entre os contratantes, a disciplina contratual procura criar mecanismos de proteção da parte mais fraca, como é o caso do balanceamento das prestações." [05]

A Emenda Constitucional nº 40, de fato, revogou o § 3º, artigo 192, da Constituição Federal, que limitava a taxa de juros a 12% ao ano. Aliás, antes mesmo da revogação através de Emenda Constitucional, o STF já havia decidido pela necessidade de regulamentação do artigo. Dessa forma, pode se dizer que o dito § 3º "foi sem nunca ter sido."

Pois bem, o Código de 1916 estabelecia que a taxa de juros moratórios seria de 6% ao ano quando não convencionada de outra forma pelos contratantes. (cf art. 1.062, do CC de 1916).

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Já o novo Código Civil, em seu artigo 406, estabelece que se tais juros serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.

A discussão pretoriana e doutrinária atual diverge em relação à aplicação da SELIC ou do Código Tributário Nacional, artigo 161, § 1º:

"Se a Lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora são calculados à taxa de 1% (um por cento) ao mês."

O Min. DOMINGOS FRANCIULLI NETTO, do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp 215.881-PR, assim se posicionou: “A Taxa Selic para ser aplicada tanto para fins tributários como para fins de direito privado, deveria ter sido criada por lei, entendendo-se como tal os critérios para a sua exteriorização. Atenta contra o comezinho princípio da segurança jurídica a realização de um negócio jurídico em que o devedor não fica sabendo na data da avença quanto vai pagar a título de juros, pois, não terá bola de cristal para saber o que se passará no mercado de capitais, em períodos subseqüentes ao da realização do negócio, se repisado o aspecto de que os juros são entidades aditivas ao principal e não mera cláusula de readaptação do valor da moeda".

Arrematou seu voto o ilustre Ministro defendendo a aplicação do CTN: "a mora referida na segunda parte do art. 406 do CC/2002 somente pode ser composta com os juros previstos no art. 161, §1º, do Código Tributário Nacional (Lei n. 5.172, de 25/10/66), isto é, 1% ao mês ou 12% ao ano".

Na mesma linha, o Enunciado nº 20, aprovado na Jornada de Direito Civil promovida pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal, sob a coordenação científica do então Ministro Ruy Rosado, do STJ, nos seguintes termos: 20 - Art. 406: a taxa de juros moratórios a que se refere o art. 406 é a do art. 161, § 1º, do Código Tributário Nacional, ou seja, 1% (um por cento) ao mês.

Por fim, os juros legais e moratórios sobre obrigações inadimplidas depois da vigência do Código Civil de 2002, é a de 1% ao mês, excluída a aplicação da taxa

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SELIC, mesmo que momentaneamente estipulada abaixo desse patamar.

Com relação aos juros convencionais, o limite tem sido regulado pelo dos juros legais, uma vez que o Dec. n. 22.626, de 7 de abril de 1933, ainda em vigor, estabelece:

"Art. 1º. É vedado, e será punido nos termos desta lei, estipular em quaisquer contratos taxas de juros superiores ao dobro da taxa legal (Código Civil, art. n. 1.062)."

De outro lado, permitir taxas de juros no patamar do dobro da taxa legal, considerando a estabilidade da economia brasileira e as baixas taxas de inflação, estaríamos permitindo que o capital se transfira da esfera produtiva para a especulativa, tornando mais interessante auferir juros do capital do que investir e produzir, contrariando a função social do instituto de mútuo bancário, bem como indo de encontro aos objetivos constitucionais de "garantir o desenvolvimento nacional" (art. 3°, II, CF) e "erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais" (art. 3°, III, CF).

Esta prática tem permitido, por fim, que os bancos apresentem lucros cada vez maiores, disputando recordes de lucratividade e subvertendo a lógica de uma economia que urge desenvolver-se e permitir que a República alcance seu objetivo: "construir uma sociedade livre, justa e solidária," conforme previsto no artigo 3º, I, da Constituição Federal.

Depreende-se, portanto, que os juros convencionais não podem superar, no caso de uma economia estabilizada e baixos índices de inflação, sob pena de onerosidade excessiva e desequilíbrio contratual, também o patamar de 12% ao ano, sob pena de abusividade por parte do agente financeiro.

Ainda encontramos um juros embutido da ordem de 12%(doze por cento) por prestação, que é cobrada de maneira ilegal e sem previsão contratual, o chamado fator

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R10, ou seja 10 x 1,2% por parcela afora da previsão contratual.

XII – DOS JUROS CAPITALIZADOS

A capitalização de juros é expressamente vedada em nosso ordenamento jurídico, vejamos o que nos informa o Dec. 22.626/33, que prescreve:

"Art. 4º - É proibido contar juros dos juros;"

Neste sentido o Superior Tribunal de Justiça já pacificou entendimento: Súmula 121 do STJ: "É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada."

Assim sendo, para que não se alegue que o Dec. 22.626/33 não se aplica às instituições financeiras, transcrevem-se os julgados abaixo, que atestam o atual entendimento jurisprudencial manifestado pelo Superior Tribunal de Justiça: "JUROS. CAPITALIZAÇÃO.

A disposição do Decreto 22.626/33, que veda a capitalização de juros, aplica-se às instituições financeiras bancárias, não afastada sua incidência pela Lei 4.595/64." (Resp. 2393 - SP - nº 90.0002174-0, Recorrente Banespa S/A, Recorrido Luiz Fernandez Rosa Piva - ME, Rel. Min. Gueiros Leite, Rel. Desig. Min. Eduardo Ribeiro, jul. 12.06.90) (DJU 28.08.90, Seção I, pág. 8321)

"DIREITO PRIVADO. JUROS. ANATOCISMO. VEDAÇÃO INCIDENTE TAMBÉM SOBRE AS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. EXEGESE DO ENUNCIADO Nº 121, EM FACE DO N167 596, AMBOS DA SÚMULA DO STF. PRECEDENTES DA EXCELSA CORTE. A capitalização de juros (juros sobre juros), é vedada pelo nosso direito, mesmo quando expressamente convencionada, não tendo sido revogada a regra do art. 4º do Decreto 22.626/33, pela Lei 4.595/64. O anatocismo, repudiado pelo verbete n.º 121 da Súmula do Supremo Tribunal Federal, não guarda relação com o enunciado n.º 596 da mesma súmula." (STJ 4ª T., Resp. 1285 - GO (89/0011431-0), Rel. Min. Sávio Figueiredo, Recorrente Banco Itaú S.A., Recorrido Eldorado Materiais de Construção Ltda., julg. 14.11.89) (Rev. do STJ 22/127 a 200)

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Portanto, deverá ser excluída a capitalização diária ou mensal dos juros.

XIII - DOS JUROS DE MORA

O CDC, em seu artigo 52, § 2º, dispõe que:

"as multas de mora decorrentes de inadimplemento de obrigação no seu termo não poderão ser superiores a dois por cento do valor da prestação."

Quanto ao limite máximo autorizado pela lei, a ser fixado como multa - cláusula penal moratória: "Em se tratando de contrato bancário, o BACEN veda a cobrança de multa compensatória. Também a jurisprudência tem acatado esta orientação: INSTITUIÇÃO FINANCEIRA - Contrato bancário - Multa compensatória não devida - Aplicação da Res. 1.129/86 do Banco Central do Brasil. (...) A multa compensatória não pode ser exigida pelas instituições financeiras em 'contratos bancários' por ela realizados. Só podem exigir a multa moratória. É o que estabelece a Res. 1.129/86 do Banco Central do Brasil, com retificação e republicação no 'DOU' de 2.6.86 (RT 676/167)."

Todavia a Instituição Financeira aplica juros moratórios indiscrimados, conforme se denota do próprio carnê emitido para pagamento onde se verifica á determinação em caso de mora: “após o vcto. Cobrar multa + imp. p/dia de atraso”

IDA ............R$ 4,27 por dia de atraso

Multa .......R$ 21,36

Ou seja Excelência em caso de mora de trinta dias, o valor da parcela começa do importe de R$ 1.217,55, um absurdo!; chegando ao porcentual de 30% (trinta por cento) sobre o valor da parcela, devendo ser compelida a repetição do indébito dos valores pagos a título de juros

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moratório acima do máximo permitido de 1%(hum por cento), de acordo com o Código Civil.

Inclusive Eduardo Arruda Alvim (Código do Consumidor Comentado, Ed. RT, 2ª ed., p. 265), conclui que:

"a cláusula que estiver escrita em desacordo com tais prescrições poderá até mesmo vir a ser considerada nula de pleno direito (artigo 51, XV, deste Código [CDC]), sendo que (...), a nulidade de uma cláusula, em princípio, não induz a nulidade do contrato em que está integrada (artigo 51, 2º, deste Código [CDC])."

XIV - NECESSIDADE DE REVISÃO DE TODOS OS VALORES COBRADOS PELA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA REQUERIDA - QUITAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DO AUTOR

A Constituição Federal impôs, como princípio basilar, o respeito e a defesa do consumidor (artigo 170, da CF). Isso significa que a titularidade do poder econômico não autoriza o sacrifício de direitos do consumidor, direitos estes minudenciados pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC) - Lei nº 8.078/90.

Com efeito, os contratos celebrados entre as partes, são nulos, nas cláusulas que violem os direitos de consumidores dos Autores.

O CDC, dispõe expressamente em seus artigos 29, 47 e 51, inciso IV, dentre outros, quanto à proteção contratual aplicável ao presente caso. Desta forma, impõe-se à verificação por parte do Judiciário da conduta da Ré que pretende a cobrança de quantia indevida, sendo que tal procedimento é repelido pelo CDC, conforme o disposto em seu artigo 42, inclusive em seu parágrafo único.

O Autor esta no direito de ser-lhe autorizado pelo Judiciário, ampla revisão das condições

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pactuadas no contrato de adesão preenchido pelo Requerido, inclusive, para o efeito do disposto pelo parágrafo único, do art. 42, do CDC, que dispõe: "Art. 42 - O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros reais, salvo hipótese de engano justificável."

Não há como se admitir "engano justificável" a eximir de responsabilidade de Banco Requerido, pela restituição em dobro dos valores indevidamente cobrados pelo mesmo, uma vez que a vocação da instituição financeira é a elaboração de cálculos precisos. Se admitida à hipótese de engano justificável, está se justificando prática inadmissível no controle dos contratos bancários, que devem primar pela correção dos valores lançados a crédito e débito em favor das partes (banco e cliente).

Isto posto, com fundamento no parágrafo único do artigo 42, do CDC, deve ser condenado o banco Requerido a proceder a devolução em dobro dos valores cobrados em excesso, conforme se apurar em Parecer Técnico, ou em posterior fase de liquidação de sentença.

De outro lado, uma vez evidenciado que o Autor já efetuou o pagamento do seu verdadeiro débito contraído pelo Autor, junto ao banco Requerido, requer-se seja declarada a quitação (total ou parcial) das suas obrigações, segundo o que restou apurado pelo parecer técnico ou posterior liquidação de sentença.

XV - DO PEDIDO DE LIMINAR DE TUTELA ANTECIPADA PARA MANTENÇA DA QUALIDADE DE DEPOSITÁRIO, NÃO INSCRIÇÃO NOS ÓRGÃOS CONTROLADORES DE CRÉDITO

É por demais evidente o relevante fundamento da demanda, e plenamente justificado o receio de ineficácia do provimento final, pois, à medida em que o autor vier a deixar de pagar as parcelas, o valor pago já superou muito o devido, poderá ser constituído em mora, e terá contra si decretada a reintegração do bem objeto do pacto, o que resultaria um constrangimento ilícito para que saldasse o que efetivamente não deve (valor excessivo exigido pela ré), para poder se manter na posse do bem, haja vista que o laudo

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pericial demonstra de forma veemente que já houve a quitação do contrato com o expurgo das ilegalidades.

Para embasar e referendar o que pretende, cita o autor essas importantes ementas relativas a arrendamento mercantil que analógicamente diz respeito ao caso "sub judice" : "Ação de reintegração de posse. Arrendamento mercantil. Liminar. Descabimento. Trazendo o arrendatário princípio de prova de não estar em mora e sendo o bem arrendado indispensável para o exercício da empresa, descabe a reintegração liminar da posse ( Agravo da 9ª Câm. Cív. do TAE, nº 195105259)".

"ARRENDAMENTO MERCANTIL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. LIMINAR. MANUTENÇÃO DO BEM NA POSSE DO ARRENDATÁRIO. CABIMENTO. É possível antecipar a tutela em ação revisional de contrato para manter o bem arrendado na posse do arrendatário enquanto este discute os termos do contrato. O fumus boni iuris é a própria possibilidade da revisão contratual. O periculum in mora consiste na possibilidade de danos decorrentes do inadimplemento. ( Agravo da 9ª Câm. Cív., do TARGS, nº 196029136)"

Por certo que o pacto não pode ser rescindindo, porque não esta caracterizada a mora, eis que os valores vincendos não são devidos.

Entretanto, deve-se permitir que o autor cumpra integralmente com o avençado de acordo com as normas jurídicas vigentes.

Também há o receio de ineficácia do provimento final decorrente da crescente descapitalização do postulante, fato que coloca em risco a sua própria atividade. Os valores que lhe são cobrados a conduzem a um estado de precariedade financeira.

É do bom direito permitir que o autor sobreviva para poder cumprir a obrigação contraída, nos estritos termos jurídicos, legais, principalmente de equidade e justiça.

Como se vê, o autor possui justo título que o mantenha na posse do bem objeto do contrato; o esbulho possessório só se configura com a mora do Autor, o que não

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ocorre, porque pretende o depósito judicial da parcela com o valor justo.

Certamente a Requerida ao ter conhecimento da presente demanda utilizará de todos os meios, inclusive com base naqueles que lhe autoriza o contrato revisado, para constranger os postulantes, envidando continuar enriquecendo ilicitamente. Neste sentido, os autores postulam, com amparo também no art. 273, do CPC - tutela antecipada - seja a ré proibida de emitir, protestar ou fazer circular títulos de crédito referentes ao presente contrato, também, abstenha-se de lançar os seus nomes no SPC, na SERASA, no SCI e outros cadastros de inadimplentes.

Os Tribunais vêm enfrentando essas questões, dando guarida ao pleito ora proposto. Em decisão exemplar, a 6ª Câm. do 1º TACSP, manifestou-se da seguinte forma, em acórdão cuja ementa está assim escrita: "Consumidor - Serviço de Proteção ao Crédito - SPC - Consumidor inadimplente por saldo de dívida, pendente de discussão judicial - Anotação do nome do fiador do SPC - Vedação à exposição do devedor e também de seu garante a constrangimentos ilegais ou ridículo - Art. 42 do CDC - Análise da doutrina e jurisprudência - Sentença procedente - Decisão mantida". (Ac. un. da 6ª C do TAC SP - Ac. 595.641-8 - Rel. Juiz Jorge Farah - j. 14.03.95, DJSP I 17.06.95, in Repertório IOB de Jurisprudência 15/95, p. 240).

É evidente que a inserção dos nomes dos Autores, em cadastros de inadimplentes tais como Serasa, Cadin, Seproc, SPC, dificultará e até inviabilizará as atividades dos Requerentes.

Determina o art. 42, caput, que os consumidores não podem sofrer qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.

Também, o art. 43, § 3º, dispõe que o consumidor, sempre que encontrar inexatidão nos seus dados e cadastros, poderá exigir sua imediata correção.

Por tais motivos, a inscrição do nome do Autor, em cadastros de devedores e inadimplentes, além de não trazer qualquer prejuízo ao banco Requerido, representa a possibilidade de discutir as condições contratuais abusivas inseridas nos instrumentos de crédito (de adesão) elaborados

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unilateralmente pelo Réu, segundo garante o disposto pelo art. 83, da Lei n.º 8.078/90:

"Art. 83 - Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela."

A jurisprudência mais atualizada, inclusive do Superior Tribunal de Justiça, é no sentido de proibir a inscrição do nome dos consumidores (como os Autores) em cadastros de devedores e inadimplentes, até a solução final da ação revisional:

"AÇÃO REVISIONAL. DÍVIDA EM JUÍZO. CADASTRO DE INADIMPLENTES. SERASA. SPC. CADIN. INSCRIÇÃO. INADEQUAÇÃO. PRECEDENTES DO TRIBUNAL. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA E PROCESSO CAUTELAR. RECURSO ESPECIAL. PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA/STF. ENUNCIADO Nº 282. MATÉRIA FÁTICA. REEXAME. INVIABILIDADE NA INSTÂNCIA ESPECIAL. RECURSO DESACOLHIDO”.

I - Nos termos da jurisprudência desta Corte, estando a dívida em juízo, inadequada em princípio a inscrição do devedor nos órgãos controladores de crédito.

(...)."

(Recurso Especial n.º 180655/PE (98/0048839-1), 4ª Turma, ac. unânime, Rel. Min. Sávio de Figueiredo Teixeira).

O presente pedido de parcial antecipação de tutela, também está fundamentado no disposto pelo caput do art. 84, da Lei n.º 8.078/90.

Não pode o Autor ficar sujeito à inscrição do seu nome em cadastros de inadimplentes, enquanto perdurar a presente demanda, conforme já pacificou o Superior Tribunal de Justiça, já que tal medida representará a supressão da sua constitucional garantia de buscar junto ao Poder Judiciário a proteção jurisdicional para a preservação e proteção dos seus direitos de consumidores.

XVI – DA CONCLUSÃO

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Do exposto e no curso do processo ficará devidamente comprovado que há visível vantagem para o agente financeiro desde a celebração do contrato, adquiriu um Veículo Nacional, "Um veículo marca Chevrolet, Modelo Astra Hatch 5P, GSI, Ano Fab/Mod: ..., cor preta, chassi nº .............., placa ......” no valor de R$ 40.000,00, sendo que, R$ 5.400,00 foi pago à vista e o restante do valor de R$ 34.600,00 foi dividido em 60 parcelas de R$ 1.068,09 cada uma delas, totalizando as prestações o valor total de R$ 64.134,00, em caso de pagamento em dia, sendo que, até a presente data já foi pago mais de R$ 16.000,00, conforme se denota dos inclusos recibos de pagamento e mais a entrada supra referida, para um automóvel que hoje é avaliado em R$ xxxxx, conforme se infere através da tabela FIPE, extraído da internet, sem levarmos em consideração as outras irregularidades tais como: a) cobrança de juros capitalizados; cobrança de juros embutidos de 12%(doze por cento) por parcela cobrado sem previsão contratual, juros de mora acima do teto legal, etc...

Somente a vulnerabilidade do consumidor/autor, tanto científica quanto fática em face do contato de adesão, não lhe permitiu a compreensão da vantagem manifestamente excessiva em favor do fornecedor do crédito.

Desta forma, deverá ser reconhecida, portanto, que o contrato celebrado entre as partes não atende mais as exigências do contrato contemporâneo e que fere os princípios constitucionais e contratuais acima discutidos, devendo ser revisto e atualizado, nos termos das fundamentações supra descritas.

XVII - DO PEDIDO

Face ao exposto, requer o Autor a Vossa Excelência que:

a) receba o presente autorizando a sua distribuição com urgência em razão do pedido de parcial antecipação de tutela, sendo concedida liminar nos termos expostos na presente peça, determinando que a instituição Requerida se abstenha de realizar lançamentos de débitos no saldo devedor do Autor e se abstenha de inscrever o nome dele em cadastros de inadimplentes, tais como Serasa, Cadin, SPC, Seproc, etc., tendo em vista que todas as operações de crédito

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havidas entre as partes são objetos da presente ação revisional, até solução final da ação;

b) seja determinada a citação do banco Requerido,por carta nos termos do artigo 222, do Código de Processo Civil, na pessoa de seu representante legal, por carta, no endereço indicado no preâmbulo, para que, querendo, apresente defesa no prazo legal, sob pena de revelia;

c) seja ao final julgada integralmente procedente a presente ação, confirmando-se a antecipação de tutela concedida e para o fim de:

c.1) reconhecer a nulidade das condições contratuais estabelecidas pela instituição Ré, em desconformidade com as normas de ordem pública do ordenamento jurídico vigente, notadamente as cláusulas do preço/valor inseridas nos instrumentos objetos da presente ação revisional;

c.2) declarar a onerosidade excessiva para ajustar a cobrança de juros compensatórios em 1% ao mês e afastar a cobrança de juros de 12%(doze por cento) ao mês, sobre o valor de cada parcela, conforme item VIII supra exposto;

c.3) reconhecer e afastar a prática de anatocismo por parte da instituição Ré, ou seja, cobrança ilegal e desprovida de fundamento legal, de juros sobre juros, através de imposição de juros capitalizados (exponenciais) desatendendo aos preceitos da legislação vigente;

c.4) reconhecer ilegal a cobrança de juros moratórios superior a 2%(dois por cento) sobre a parcela vencida e condenar o banco Requerido a proceder a devolução dos valores cobrados a maior em dobro, uma vez que agiu de má fé, contrariando a regra imposta no artigo 422, do CC;

c.5) declarar quitadas as obrigações do Autor junto à instituição Requerida, reconhecendo o saldo credor em favor do Requerente apurado quando do recalculo efetuado nos valores exigidos pelo banco Requerido e descontado eventual saldo apurado em favor dele;

c.6) reconhecer a abusividade de inserção do nome do Autor em cadastros de devedores

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(inadimplentes), condenando a instituição Requerida a obrigação de não inscrever o Autor em quaisquer destes cadastros (Serasa, SPC, Seproc, Cadin, etc.);

c.7) adotar-se como valores das prestações mensais, aqueles indicados na prova pericial, e, intimando-se a Instituição Requerida para promover alteração do contrato em seus sistemas, bem como confeccionar carnê de pagamentos nos termos da presente decisão, em caso de não quitação do débito pelas parcelas até então pagas;

c.8) realizando Ampla Revisão nos valores cobrados e exigidos pela instituição financeira Requerida, declarar a nulidade das cláusulas que não estejam em plena concordância com os valores revisados e responsabilizar o banco Requerido por prática de cobrança abusiva - cobrança de valores indevidos - com a condenação do mesmo ao pagamento em favor do Autor do valor correspondente ao dobro das importâncias cobradas em excesso, bem como a condenação nas perdas e danos decorrentes de sua conduta ilegal, danos estes de ordem material e moral, inclusive no concernente ao gravoso abalo de crédito experimentado pelos Autores, condenando o banco Réu ao pagamento de indenização em favor dos Autores, por perdas e danos (patrimoniais e extrapatrimoniais/morais) sofridos, em valor a ser arbitrado por esse D. Juízo ou apurado em fase de liquidação de sentença e determinado tendo em vista a potencialidade do patrimônio do Réu;

Conforme leciona Carlos Alberto Bittar (in Reparação Civil por Danos Morais, 2ª ed., RT 1994, p. 219/220): "a indenização por danos morais deve traduzir-se em montante que represente advertência ao lesante e à sociedade de que se não se aceita o comportamento assumido, ou o evento lesivo advindo. Consubstancia-se, portanto, em importância compatível com o vulto dos interesses em conflito, refletindo-se, de modo expressivo, no patrimônio do lesante, a fim de que sinta, efetivamente, a resposta da ordem jurídica aos efeitos do resultado lesivo produzido. Deve, pois, ser quantia economicamente significativa, em razão das potencialidades do patrimônio do lesante."

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c.09) condenar também a instituição financeira Requerida ao pagamento do ônus inerente ao princípio da sucumbência, ou seja, honorários advocatícios, custas processuais e demais cominações de direito;

d) seja autorizado ao Autor a produção de todo tipo de prova em direito admitida, ressalvando-se o direito básico dos mesmos, inerentes à qualidade de consumidores, contido no inciso VIII, do artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor, com a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive reconhecendo-se a inversão do ônus da prova, em favor do mesmo, no processo civil, bem como seja determinada a prova pericial desde já;

e) determinado ao banco Requerido, a exibição do contrato de n. 500288129, bem como planilha que originou o débito, demonstrando o método para sua formação, na forma do art. 355, do Código de Processo Civil, em conformidade com decisão do Superior Tribunal de Justiça.

O Superior Tribunal de Justiça já reconheceu a aplicação do art. 6º, VIII, em se tratando de Contrato Bancário, inclusive para determinar a exibição dos contratos em poder de instituição financeira, nos seguintes termos: “PROVA. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. CONTRATO BANCÁRIO. Pode o Juiz determinar que o réu apresente a cópia do contrato que o autor pretende revisar em juízo. Aplicação do disposto no artigo 3º, § 2º, do Código de Defesa do Consumidor, Arts. 396 e 283 do CPC." (in, RSTJ, fevereiro 1995, p. 26/29).

f) requer, finalmente, seja deferida a gratuidade da presente ação nos termos da Lei n.º 1.060/50 com suas modificações, uma vez que o Requerente não pode arcar com os custos processuais sem prejuízo do sustento próprio e de seus familiares, sendo que, encontra-se desempregado, conforme se infere da cópia de sua CTPS (doc. em anexo), bem como não possuí qualquer bem imóvel ou móvel com exceção dos direitos sobre o veículo objeto da presente demanda;

Atribui-se à presente, para efeitos fiscais, o valor de R$ 1.000,00(hum mil reais).

N. Termos,P. Deferimento.

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................. 23 de Abril de 2.011.

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