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JOÃO MANOEL SIMCH BROCHADO Cel Ref (Infantaria e Estado-Maior) TEXTO COMPLEMENTAR RELACIONADO COM A MATÉRIA DA TRILOGIA O ESPÍRITO COMBATENTEA A A F F F A A A S S S C C C I I I N N N A A A N N N T T T E E E G G G E E E S S S T T T Ã Ã Ã O O O D D D E E E U U U M M M E E E S S S P P P Í Í Í R R R I I I T T T O O O u u u m m m s s s i i i s s s t t t e e e m m m a a a d d d e e e l l l i i i d d d e e e r r r a a a n n n ç ç ç a a a d d d e e e c c c o o o m m m b b b a a a t t t e e Ensaio sobre as razões e vantagens de um fluxo contínuo de informações especializadas para o exercício da liderança nas forças de combate 42.031 palavras 242.721 caracteres (s/espaço) 284.482 caracteres (c/espaço) 719 parágrafos 4.021 linhas 26 ilustrações (tamanho do texto: 37,4 MB principal fonte: “Arial”/12) @ EDIÇÃO ELETRÔNICA/2010 @ TÍTULO: “A fascinante gestão de um espíritoSUBTÍTULO: Um sistema de liderança militarASSUNTO: “Ensaio sobre as razões e vantagens de um fluxo contínuo de informações especializadas para o exercício da liderança de combate

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Page 1: AA FFAASSCCIINNAANNTTEE GGEESSTTÃÃOO …A_Fasc… · “a fascinante gestÃo de um ... ÍÍÍdddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee eee aaa iiinnnssstttiiitttuuuccciiiooonnnaaallliiizzzaaaÇÇÇÃÃÃooo

JJOOÃÃOO MMAANNOOEELL SSIIMMCCHH BBRROOCCHHAADDOO CCeell RReeff ((IInnffaannttaarriiaa ee EEssttaaddoo--MMaaiioorr))

TTEEXXTTOO CCOOMMPPLLEEMMEENNTTAARR RREELLAACCIIOONNAADDOO CCOOMM AA MMAATTÉÉRRIIAA DDAA TTRRIILLOOGGIIAA ““OO EESSPPÍÍRRIITTOO CCOOMMBBAATTEENNTTEE””

“““AAA FFFAAASSSCCCIIINNNAAANNNTTTEEE

GGGEEESSSTTTÃÃÃOOO DDDEEE UUUMMM EEESSSPPPÍÍÍRRRIIITTTOOO”””

uuummm sssiiisssttteeemmmaaa d ddeee llliiidddeeerrraaannnçççaaa dddeee cccooommmbbbaaattteee

EEnnssaaiioo ssoobbrree aass rraazzõõeess ee

vvaannttaaggeennss ddee uumm fflluuxxoo ccoonnttíínnuuoo ddee iinnffoorrmmaaççõõeess eessppeecciiaalliizzaaddaass

ppaarraa oo eexxeerrccíícciioo ddaa lliiddeerraannççaa nnaass ffoorrççaass ddee ccoommbbaattee

42.031 palavras 242.721 caracteres (s/espaço) 284.482 caracteres (c/espaço)

719 parágrafos 4.021 linhas

26 ilustrações (tamanho do texto: 37,4 MB

principal fonte: “Arial”/12)

@ EDIÇÃO ELETRÔNICA/2010 @

TTÍÍTTUULLOO:: ““AA ffaasscciinnaannttee ggeessttããoo ddee uumm eessppíírriittoo”” SSUUBBTTÍÍTTUULLOO:: ““UUmm ssiisstteemmaa ddee lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr””

AASSSSUUNNTTOO:: ““EEnnssaaiioo ssoobbrree aass rraazzõõeess ee vvaannttaaggeennss ddee uumm fflluuxxoo ccoonnttíínnuuoo ddee iinnffoorrmmaaççõõeess eessppeecciiaalliizzaaddaass ppaarraa oo eexxeerrccíícciioo ddaa lliiddeerraannççaa ddee ccoommbbaattee””

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“A FASCINANTE GESTÃO DE UM ESPÍRITO” um sistema de liderança militar

João Manoel Simch Brochado – janeiro de 2010 2

AAALLLGGGOOO SSSOOOBBBRRREEE EEESSSTTTEEE EEENNNSSSAAAIIIOOO (notas explicativas e informativas indicadas no rodapé do texto por numeração

sequencial em vermelho) Neste agitado e perigoso início de século e em um Estado-nação

democrático representativo, o lll ííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee - como qualificação do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr -, não pode permanecer profissionalmente limi-tado por um discurso romântico e por uma retórica ultrapassada pela realidade da guerra moderna e suas variantes.

A sssoooccciiieeedddaaadddeee nnnaaaccciiiooonnnaaalll deverá compreendê-lo, aceitá-lo e vindicá-lo dentro desse novo contexto militar profissional ... 1 11

LLLííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee é o ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr que, no exercício de uma

função especial dessa investidura, lidera o aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee de seu comando, devotando-se ininterruptamente (1) à exercitação geral dos valores que sustentam os ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess e conformam o ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr desse agrupamento, (2) à melhora da disposição de seus combatentes para suportar todo o tipo de pressão desagregadora mantendo em bom nível o mmoorraall ddaa ttrrooppaa e (3) ao es-tímulo e direcionamento correto e tempestivo da vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa pa-ra a aaççããoo mmiilliittaarr que lhe for atribuída - na preparação (iimmiittaaççããoo ddoo ccoommbbaattee) ou no combate real sob pressão do iinniimmiiggoo -, a qualquer tempo e sob quaisquer circunstâncias.

O bom lll ííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee cria, dessa forma e dentro do contexto mi-litar dos eessccaallõõeess ddee ccoommaannddoo onde se insere, as melhores condições psicológicas coletivas para a condução do seu agrupamento aos pro-pósitos que justificam a existência de uma força de guerra como bra-ço armado do Estado.

SSSoooccciiieeedddaaadddeee nnnaaaccciiiooonnnaaalll é o corpo orgânico estruturado no curso da formação de uma nacionalidade em todos os níveis da vida social, in-tegrado pelos cidadãos de um Estado-nação, e que, por essa origem histórico cultural comum, os faz viver com determinado sistema eco-nômico de produção, distribuição e consumo, adotando um dado re-gime político e obedientes às normas, leis e instituições necessárias à manutenção da harmonia e da segurança na dinâmica de suas ativi-dades.

É insatisfatória para uma força de guerra terrestre a constatação da existência fortuita de bons lll ííídddeeerrreeesss dddeee cccooommmbbbaaattteee em seus quadros per-manentes. Os ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess em exercício, a todo o tempo e sem exceção, precisam imbuir-se dessa qualificação. Os demais pro-fissionais das Armas – Oficiais e graduados com a expectativa fun-cional de se tornarem ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarree

ss - devem capacitar-se pa-

1 Livro 2 desta trilogia, “O caráter dos Soldados”, item “A realidade político-social que envolve os Sol-dados”.

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“A FASCINANTE GESTÃO DE UM ESPÍRITO” um sistema de liderança militar

ra a liderança de combate, com a garantia de bom desempenho a ser avaliado no persistente acompanhamento individual/funcional.

Bom lll ííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee, portanto, não pode ser uma virtude inco-mum, mas uma qualificação obrigatória para os ccoommaannddaanntteess mmiilliittaa--rreess – desde uma pequena fração aos mais altos escalões operacio-nais. Os líderes “mágicos” e intuitivos sempre se destacarão espon-taneamente, seja como um sargento em seu singelo grupo de comba-te ou como um general comandante-em-chefe e sua pesada e com-plexa força; e até poderão ser muitos, mas serão insuficientes.

O grande achado capaz de anular a aludida limitação é o simples fato de que qualquer ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr, individualmente um impres-cindível agente do processo psicossocial que envolve seu agrupa-mento de combate, é, também, na medida do seu escalão hierárquico, paciente desse processo, o que, per se, sugere um sistema de enten-dimento contínuo para as ações coordenadas e reações tempestivas, gestoras da criação do espírito combatente no âmbito de toda a força terrestre e de sua consolidação em padrões pré-estabelecidos.

Este ensaio pretende complementar a trilogia “ OOO eeessspppííírrriii tttooo cccooommmbbbaaa---ttteeennnttteee” desenvolvendo a indagação instigante proposta no seu Livro 1, “Eia, avante!” (Capítulo 5, item “Líderes interferentes e líderes solidários – um sistema de liderança militar?”, página 124).

O ensaio é uma “prosa livre que versa sobre tema específico, sem esgotá-lo, reunindo dissertações menores, menos definitivas que as de um tratado formal, feito em profundidade” 2. A leitura de um ensaio (Livro 1 e este ensaio complementar) ou de um estudo técnico/profissional opinativo (Livro 2 e Livro 3), por isso, é diversa da leitura de texto filosó-fico, historiográfico, biográfico, ficcional, temático, jornalístico, des-critivo ou poético. Ambos sugerem a discussão como objeto da pró-pria leitura e essa deve ser a atitude dominante do leitor que se dis-puser a lê-los.

Ao manter o nível de generalidade que me impus para o desenvol-vimento dos textos trilógicos, percebi que a sugestão indicada no Capítulo 5 acima referido, não poderia ser ali aprofundada, mas, de alguma forma, teria de ser analisada para servir de fonte de consulta, de orientação à pesquisa ou de leitura complementar à trilogia como um todo. A minha primeira tentativa, indicada em edições eletrônicas anteriores3, foi de orientar simplesmente um projeto de pesquisa nes-se sentido. Como entrevi a insuficiência dessa orientação resolvi substituí-la por algo mais discursivo.

Apresento,, ppoorrttaannttoo,,

um novo texto. O que pretendi ao desenvol-vê-lo? “A fascinante gestão de um espírito” justificaria seu papel se determinasse uma discussão contínua e objetiva para refutar meus argumentos, anular minhas preocupações ou aceitá-los e ampliá-los. Como imagino que um leitor militar, afetado pela instigação do Livro 1, “Eia, avante!” da Trilogia (Capítulo 5, item “Líderes interferentes e líderes solidá-

2 Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 1.0 (“ensaio”). 3 A indicação de uma pesquisa foi apresentada inicialmente no texto publicado pela BIBLIEX (publica-ção 689, obra avulsa, 1999) e nas Edições Eletrônicas de 2006, 2007 e 2008 nos sites do COTER (“Biblioteca”) e do Centro de Documentação do Exército (“Biblioteca”).

João Manoel Simch Brochado – janeiro de 2010 3

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“A FASCINANTE GESTÃO DE UM ESPÍRITO” um sistema de liderança militar

rios – um sistema de liderança militar?”, página 124), possa abordá-lo antes de prosseguir com o exame dos textos subsequentes ou, por uma curio-sidade justificável, antes mesmo da leitura da trilogia, antecipei al-guns conceitos e argumentos do Livro 2, “O caráter dos Soldados”, do Livro 3, “A imitação do combate” e, também, repeti argumentos e conceitos do próprio Livro 1. Com essa providência acreditei poder ensejar a intelecção cursiva da matéria que aborda e uma leitura mais desembaraçada. Está redigido em estilo esquemático singular, mas conserva a forma paradidática.

Trata-se de matéria para a meditação do leitor militar primário4, isto é, aquele supostamente versado e interessado no assunto que de-senvolve. Ademais, não sendo regulamento ou doutrina oficial, exige que se atente para esses conceitos propostos com a determinação de acolhê-los, repudiá-los ou, o que seria mais interessante e construti-vo, de debatê-los e aprimorá-los.

O exercício da inteligência humana para o bem público não deve sofrer qualquer tipo de limitação e o envolvimento intelectual de um profissional com sua profissão - isto é, com o grande dever social que cumpre e em cujo contexto as tarefas, obrigações e responsabili-dades individuais estão inseridas -, não deve ser estremado pela na-tureza das atividades que exerce nem pelo nível em que são desen-volvidas. Dentro das forças armadas o bloqueio entre profissionais de nível superior, mesmo induzido, dessa faculdade de aprender, apre-ender, compreender, discutir e questionar é capaz de provocar o esti-olamento, reduzindo-os a meros e desestimulados executantes de ro-tinas, apartando-os do interesse pela profissão como motivação cen-tral de um espírito inquiridor5.

Para o leitor que se decidir pela leitura deste ensaio antes do co-nhecimento das teses abordadas na trilogia, entretanto, recomendo o exame das matérias indicadas nas Notas Explicativas e Informativas, quando este procedimento for sugerido ao longo do texto pela nume-ração destacada em vermelho como nota de rodapé.

PPrreecciissoo aaffiirrmmaarr aaooss lleeiittoorreess mmiilliittaarreess,, ffiinnaallmmeennttee,, qquuee eessttee eennssaaiioo nnããoo ooppeerraacciioonnaalliizzaa aass ssoolluuççõõeess ddooss pprroobblleemmaass qquuee iiddeennttiiffiiccaa,, mmaass ooss iinnssttrruuii ppaarraa aa iiddeennttiiffiiccaaççããoo ddee uumm ccaammiinnhhoo,, sseegguunnddoo mmiinnhhaa ooppiinniiããoo,, ccaappaazz ddee vviiaabbiilliizzáá--llaass..

Essa operacionalização dependerá da execu-ção de um projeto peculiar de implantação.

Brasília, janeiro de 2010

O Autor

4 Leitor primário é aquele que se interessa por uma publicação a ponto de assiná-la ou comprá-la. 5 Livro 3, “A imitação do combate – sobre a experiência militar indireta”, “PARTE III – Desvirtudes em casa”, “A inadvertência de comandantes/líderes”, item “Sobre a atividade intelectual militar”.

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“A FASCINANTE GESTÃO DE UM ESPÍRITO” um sistema de liderança militar

João Manoel Simch Brochado – janeiro de 2010 5

SUMÁRIO dddeee “““AAA FFFAAASSSCCCIIINNNAAANNNTTTEEE GGGEEESSSTTTÃÃÃOOO DDDEEE UUUMMM EEESSSPPPÍÍÍRRRIIITTTOOO”””

AAALLLGGGOOO SSSOOOBBBRRREEE EEESSSTTTEEE EEENNNSSSAAAIIIOOO.....................................................................................02 EEEpppííígggrrraaafffeee dddaaa ooobbbrrraaa..........................................................................................................06

IIINNNTTTRRROOODDDUUUÇÇÇÃÃÃOOO ––– aaa aaaçççãããooo mmmiiillliiitttaaarrr.................................06 OOO CCCOOOMMMAAANNNDDDAAANNNTTTEEE MMMIIILLLIIITTTAAARRR EEE SSSEEEUUUSSS QQQUUUEEEFFFAAAZZZEEERRREEESSS........................07

Item 1 – O fenômeno da autoridade...............................................................................07 Item 2 – Características de uma força de combate.......................................................15 Item 3 – A ética da autoridade militar.............................................................................18 Item 4 – O papel da disciplina e da hierarquia militares..............................................27 Item 5 – O equilíbrio no triângulo da autoridade militar...............................................29 Item 6 – A cadeia de comando........................................................................................31 Item 7 – Duas funções, dois esforços e um só propósito............................................37 Item 8 – Equívoco recorrente..........................................................................................39 Item 9 – Mudança de foco...............................................................................................41

PPPRRRIIIMMMEEEIIIRRRAAA PPPAAARRRTTTEEE ––– aaa gggeeessstttãããooo dddooo eeessspppííírrriiitttooo cccooommmbbbaaattteeennnttteee.............46

OOO LLLÍÍÍDDDEEERRR DDDEEE CCCOOOMMMBBBAAATTTEEE EEE AAA IIINNNSSSTTTIIITTTUUUCCCIIIOOONNNAAALLLIIIZZZAAAÇÇÇÃÃÃOOO DDDAAA “““MMMAAAGGGIIIAAA”””.............47 Item 10 – Linhagem de líderes militares: um recurso de análise................................47 Item 11 – Indícios que assombram e sinais que encorajam........................................54 Item 12 – Liderança de combate: a invasão espúria da mídia eletrônica...................57 Item 13 – SILIMIEB: “Sistema de liderança militar do Exército Brasileiro”................60 Item 14 – Mobilização e pesquisa começantes.............................................................67

SSSEEEGGGUUUNNNDDDAAA PPPAAARRRTTTEEE ––– nnnooovvvaaa dddiiinnnâââmmmiiicccaaa dddeee llliiidddeeerrraaannnçççaaa mmmiiillliiitttaaarrr..........75 OOO CCCOOONNNTTTUUUBBBÉÉÉRRRNNNIIIOOO PPPEEERRRMMMAAANNNEEENNNTTTEEE DDDOOOSSS LLLÍÍÍDDDEEERRREEESSS MMMIIILLLIIITTTAAARRREEESSS................76

Item 15 – Azáfama transformadora................................................................................76 Item 16 – Relatos periódicos e eventuais......................................................................77 Item 17 - A corretiva e tempestiva ação de comando...................................................80 Item 18 – Atitude e comportamento de liderança militar.............................................80 RRReeelllaaaçççãããooo dddaaasss 222666 III llluuussstttrrraaaçççõõõeeesss dddeeesssttteee eeennnsssaaaiiiooo......................................................................90

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João Manoel Simch Brochado – janeiro de 2010 6

EEEpppííígggrrraaafffeee dddaaa ooobbbrrraaa::: AAA dddeeesssiiinnnfffooorrrmmmaaaçççãããooo,,, aaa

qqquuuaaalllqqquuueeerrr ttteeemmmpppooo,,, aaaccceeerrrcccaaa dddooo eeessstttaaadddooo dddooo eeessspppííírrriiitttooo cccooommmbbbaaattteeennnttteee dddeee ssseeeuuusss llliiidddeeerrraaadddooosss dddeeesssqqquuuaaallliiifffiiicccaaa ooo lllííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee;;; aaa dddeeesssppprrreeeooocccuuupppaaaçççãããooo cccooonnnssstttaaannn---ttteee dddeee dddeeesssvvveeelllooo pppooorrr eeesssssseee eeessspppííírrriiitttooo dddeeebbbiiillliiitttaaa sssuuuaaa aaaçççãããooo dddeee cccooommmaaannndddooo...

IIINNNTTTRRROOODDDUUUÇÇÇÃÃÃOOO --- aaa a aaçççãããooo mmmiiillliiitttaaarrr

ÉÉÉtttiiicccaaa “é a parte da filosofia responsável pela investigação

dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orien-tam o comportamento humano, refletindo especialmente a respeito da essência das normas, valores e exortações presen-tes em qualquer realidade social” 6

ÉÉÉtttiiicccaaa mmmiiillliiitttaaarrr, no âmbito das relações com o conhecimento científico (ciências humanas aplicadas ao agrupamento mili-tar), é a parte da sociologia militar que investiga a definição e o rigor dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento dos Soldados considerados indivi-dualmente no relacionamento entre camaradas de Armas e en-tre cada um deles e – em visão abrangente -, a grande organi-zação de combate que integram.

A ééétttiiicccaaa dddaaa aaaçççãããooo mmmiiillliiitttaaarrr está voltada para a aaaçççãããooo dddeee

cccooommmaaannndddooo, ou seja, para a adequada interação comporta-mental de cccooommmaaannndddaaannnttteeesss mmmiiillliiitttaaarrreeesss na cccaaadddeeeiiiaaa dddeee cccooommmaaannndddooo que se forma e se destina à criação, à manutenção e ao emprego da força militar em nome do Estado nacional soberano ao qual essa força pertence como instrumento monopólico de violência organizada, base do poder esta-tal.

6 Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa 1.0 (“ética”).

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João Manoel Simch Brochado – janeiro de 2010 7

OOO CCCOOOMMMAAANNNDDDAAANNNTTTEEE MMMIIILLLIIITTTAAARRR EEE SSSEEEUUUSSS QQQUUUEEEFFFAAAZZZEEERRREEESSS

111 ––– OOO fffeeennnôôômmmeeennnooo d ddaaa aaauuutttooorrriiidddaaadddeee Segundo o corso Roger Mucchielli,

“Autoridade é uma qualidade da estrutura do grupo, o que quer dizer que o próprio fato de um grupo se estruturar, se organizar, estabelecer seus objetivos, passar a existir como grupo, faz nascer a autoridade, sendo essa um aspecto inevitável e normal da própria estrutura.” e acrescenta “Isto não quer dizer que a autoridade se personalize necessariamente, não quer dizer que alguém se apodere da autoridade e se torne chefe... quer dizer, simplesmente, e antes de tudo, que desde que se inicia o processo de estruturação espontânea de um grupo, aaapppaaarrreeeccceee uuummmaaa fffuuunnnçççãããooo cccooollleeetttiiivvvaaa qqquuueee ééé uuummm pppooodddeeerrr dddeee rrreeeggguuulllaaarrr eee cccooonnntttrrrooolllaaarrr aaasss c ccooonnnddduuutttaaasss..” (é meu o destaque)7

O autor que cito, professor renomado de psicologia e pedagogia, afirma que esse

ppooddeerr rreegguullaaddoorr ee ccoonnttrroollaaddoorr emana do próprio agrupamento humano como uma função coletiva (Ilustração 1), uma espécie de recurso natural indutor que fica dispo-nível, “aappaarreecc

ee”, prático e objetivo pelo tácito e predominante anseio de todos os que

7 “Psicologia da relação de autoridade” - Roger Mucchielli - Martins Fontes Editora Ltda/1979 (página 34).

Ilustração 1 - Classificação dos agrupamentos humanos organizada para a trilogia “O eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee” (www.coter.eb.mil.br : Biblioteca/Videoteca/Biblioteca virtual/Livros digitalizados e www.cdocex.eb.mil.br : Subseção de Biblioteca/Livros eletrônicos). Acompanhe o destaque em cinza e atente para os conceitos de “agrupamento humano”, “agrupamento humano instituído” e “agrupamento humano instituído, institucional” (amplie-a com o “zoom” acima de 170%).

INSTITUÍDOÉ o agrupamento humano que surge

como decorrência de estruturas administrativas ou de atividades profissionais

especializadas e tem sua existência definida e regulada por responsabilidades e tarefas tornadas comuns (uma unidade policial,

determinado departamento de uma empresa, uma diretoria no serviço

público, a tripulação e a guarnição de um navio)

INSTITUCIONALÉ o agrupamento humano instituído

dentro das estruturas administrativasdo serviço público (uma unidade

operacional do Exército, uma seçãodo Departamento de Correios)

AGRUPAMENTO HUMANO(agrupamento social)

É uma conjugação de seres humanos,natural ou determinada por decisão

administrativa, estimulada ou despertadapelo instinto gregário dos homens ou

por fatores e circunstâncias que geraminteresses comuns e promovem um

processo de interação psicológica entreseus integrantes, dando-lhes

consistência social.

ESPONTÂNEOÉ o agrupamento humano formado

pela congregação natural deseres humanos estimulados pelo instinto

gregário e por outros fatores ecircunstâncias que, de alguma forma,

revelam afinidades, atividades ouinteresses comuns (uma família, uma

nação, torcedores de um clube defuteból reunidos no local do jogo).

PERMANENTEÉ o agrupamento humano espontâneo que

têm existência contínua e não permite que se vislumbre sua extinção

no processo social em que estáenvolvido (uma família, uma nação)

EFÊMEROÉ o agrupamento humano espontâneo que

tem existência previsivelmente limitadadentro do processo social em que surgiu (uma multidão reunida por

motivações políticas, uma associação emfavor de algum propósito definido

e alcançável em determinado prazo)

PRIVADOÉ o agrupamento humano instituído

em estruturas administrativas fora do serviço público (um setor de

vendas de uma loja de departamentos,um clube social)

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“A FASCINANTE GESTÃO DE UM ESPÍRITO” um sistema de liderança militar

se agregam em efetivar a agregação (Ilustração 3, abaixo) e, com isso, beneficiar o agrupamento garantindo sua existência, protegendo seus interesses e valores gru-pais. Mucchielli se refere à origem do fenômeno em agrupamentos sociais espontâ-neos, mas em princípio, para identificá-lo em qualquer conjugação de seres huma-nos, como desejo, é preciso esquadrinhar a abrangência do conceito que firmou.

Especularei um pouco esse longo processo natural (Ilustração 2). A fragilidade individual para

defrontar inimigos sólitos, a específica vulnerabilidade da fêmea durante a prenhez e a longa dependência da cria podem ter sido as razões naturais, entre outras, da com-pulsão gregária dos homens. Uma vez reunidos por esse impulso instintivo de sobrevivência, foram percebendo que a possibilidade de sucesso era maior e com essa percepção – uma faculdade já tipicamente humana - passaram a ordená-lo como hoje, ainda, somos capazes de ordenar instintos básicos (a apetência e a ingestão de alimentos, a atração sexual e a procriação,

etc.). Conformavam, então, ajuntamentos de conhecidos, isto é, indivíduos humanos ligados por laços de sangue, pela familiaridade, pelas atividades diárias e pelos inte-resses comuns que daí surgiam, cujos integrantes adquiriam a consciência desse círculo agregador que os mantinha compulsivamente como uma coletividade. O senti-mento grupal de desvelos e desleixos e a reação instintual de sobrevivência, inicialmente, por indução da f

Desafios coletivos e interesses comuns para enfrentá-los

Caracterização do agrupamento humano

Necessidade espontânea de uma liderança

Esquema de poder como força coercivadisponível para garantir a autoridade

Autoridade ao líder para avocaro poder e conduzir o agrupamento

Ilustração 2 - Um longo processo natural: o poder e a autorida-de na formação espontânea dos agrupamentos humanos; os retân-gulos escalonados verticalmente não indicam fases, mas apenas uma sequência lógica, quase concomitância, dos principais ele-mentos do processo (amplie-a com o “zoom” acima de 170%).

fuunnççããoo ccoolleettiivvaa no âmbito familial projetou-se na figura do genitor chefe do grupo que reunia em torno de si a(s) genitora(s), as crias e agregados (Ilustração 3); no passar do tempo com a expansão das singelas atividades e necessidades iniciais, a compulsão da f

a família humana, do paleolítico ao século XXI

fuunnççããoo ccoolleettiivvaa foi fi-cando mais nítida e mais necessária, acima do próprio llííddeerr, por ser menos simples a liderança do bando de

Ilustração 3 - A família, origem do impulso gregário do homem, mesmo enfrentando crises para absorver novos valores, novas pressões e injunções de uma sociedade complexa em evolução permanente, continua importante como célula básica dessa sociedade.

João Manoel Simch Brochado – janeiro de 2010 8

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“A FASCINANTE GESTÃO DE UM ESPÍRITO” um sistema de liderança militar

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caçadores coletores, do clã, da tribo e, com mais amplitude e tempo, cada vez mais complexa até a nação (ssoocciieeddaaddee nnaacciioonnaall) onde o Estado a vem representando na plenitude.

No curso desse fenômeno, em seguimento peculiar, se desenvolveram e se con-solidaram espontaneamente os aaggrruuppaammeennttooss hhuummaannooss. Para a superação coletiva dos perigos e dificuldades que se interpuseram a esse processo, os líderes foram obtendo tácita e objetivamente, pelo temperamento coercível de seus liderados, a conveniente concessão de ppooddeerr e aauuttoorriiddaaddee, como ferramentas conjugadas, ne-cessárias ao desempenho da liderança. Essa ccooeerrcciibbiilliiddaaddee hhuummaannaa – como uma disposição dos homens para serem coibidos, dominados ou contidos em nome da própria sobrevivência, segurança, ordem e harmonia – é uma decorrência do instinto gregário sem o que, além de impedir o “aappaarreecciimmeennttoo” da ffuunnççããoo ccoolleettiivvaa, não pode-riam se organizar em agrupamentos estáveis no processo que especulamos ou em sociedades nacionais, na sua expressão mais ampla e atual. Agregavam-se, mas, ao sentir a compulsão rreegguullaaddoorraa ee ccoonnttrroollaaddoorraa, se dispunham a abrir mão continu-amente de algo, aceitando a limitação de seus rompantes individuais para que essa agregação perseverasse em benefício de todos e, particularmente, pelo desejo cole-tivo ou pela vontade da maioria. Os recalcitrantes seriam banidos, absorvidos ou submetidos para que as ccoonndduuttaass rreegguullaaddaass ppuuddeesssseemm sseerr ccoonnttrroollaaddaass (Ilustração 2, anterior).

Identificando essa ffuunnççããoo ccoolleettiivvaa que “aappaarreeccee” para “rreegguullaarr ee ccoonnttrroollaarr aass ccoonndduuttaass” Roger Mucchielli, a meu ver, apontou a remotíssima origem do Estado como o grande “rreegguullaaddoorr ee ccoonnttrroollaaddoorr ddaass ccoonndduuttaass” da nação que organiza politicamente: primeiro essa ffuunnççããoo ccoolleettiivvaa que existe independente do llííddeerr que a encarna, mas é dela dependente; em seguida, com a maior complexidade dos aaggrruuppaammeennttooss hhuummaannooss, essa função inspira a fixação e o registro de valores coletivos e de condutas; finalmente, nos grandes aaggrruuppaammeennttooss hhuummaannooss eessppoonnttââ--nneeooss (sociedades nacionais), o desenvolvimento de estruturas que instituíam politicamente as nações (Ilustração 4, ao lado). Essa

ffuunnççããoo ccoolleettiivvaa rreegguullaaddoorraa ee ccoonnttrroollaaddoorraa, por criar uma compulsão centrípeta entre conhecidos (parentes, conviventes, aconchegados, convizinhos, compatriotas, con-cidadãos), nunca os impulsionou para a união universal, mas como a coalhadura do leite, para coalhos sociais que os dividiram e apontaram uma inevitável vocação a-onde a paz entre as nações – o aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo eessppoonnttâânneeoo,, ppeerrmmaanneennttee, de maior expressão -, por sincera que venha sendo a busca, jamais será um padrão de

Ilustração 4 – A origem do Estado pode ser identificada no “aparecimento”, desde o período paleolítico, de uma função coletiva que induzia a necessidade de liderança, posteriormen-te, no neolítico, pela paulatina firmação de valores, de condutas e de comportamentos coletivos e, finalmente, por “códigos” que os representavam por caracteres e escrita como o nascer dessa grande estrutura “rreegguullaaddoorraa ee ccoonnttrroollaaddoorraa ddee ccoonndduu--ttaass” que é o Estado moderno. Qual será seu futuro?

função coletiva

“inspiradora”

ESTADOfirmação de

valores coletivose de condutas

?

PALEOLÍTICO

ATUAL

NEOLÍTICO

EVOLUEVOLUÇÇÃO TECNOLÃO TECNOLÓÓGICA,GICA,EVOLUEVOLUÇÇAO IMDIVIDUAL DO HOMEM,AO IMDIVIDUAL DO HOMEM,EVOLUEVOLUÇÇÃO DA SOCIEDADE HUMANAÃO DA SOCIEDADE HUMANA

E DESBRAVO DO UNIVERSO.E DESBRAVO DO UNIVERSO.

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comportamento assegurado, porque sempre será uma busca da difícil convivência entre estranhos8. Até porque, muito cedo, do ponto de vista dos conhecidos de um determinado aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo, os estranhos de outro agrupamento semelhante se tornavam potencial ou real ameaça de dificuldades, de disputas, de agressões, de confrontos, de saques e de guerras, particularmente após a revolução neolítica, tudo exacerbado por etnias diferençadas, falas incompreensíveis e estranhos cos-tumes. Aqueles primeiros vacilantes agricultores foram consolidando a transformado-ra consciência da importância do solo pela significação que as terras aluviais ou be-neficiadas com chuvas regulares passaram a ter para a sobrevivência de suas co-munidades, além da incitante ideia de que só o seu alargamento produziria o au-mento da produção de alimentos. Sobreveio, daí, um novo e inebriante sentimento de ambição por essa expansão e, ao mesmo tempo, uma aattiittuuddee ccoolleettiivvaa de defesa intransigente da posse das terras produtivas sujeitas à cobiça de estranhos (ou aattii--ttuuddee ggrruuppaall, um traço psicológico coletivo, caracterizando a disposição previsível em um aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo, favorável ou desfavorável em face de objetos sociais ou situações sociais de conflito).

Daí o sentido psicossocial da aauuttoorriiddaaddee do llííddeerr cuja origem está no próprio a-grupamento que lidera. A ffuunnççããoo ccoolleettiivvaa indutora da rreegguullaaççããoo ee ddoo ccoonnttrroollee, cujo domínio é reconhecido espontaneamente pelos integrantes do aaggrruuppaammeennttoo hhuummaa--nnoo, transforma-se na fonte e na medida dessa aauuttoorriiddaaddee, mas só o llííddeerr dará prati-cidade a essa função por ser capaz de dinamizá-la para os propósitos grupais. Em nome desses interesses comuns de sobrevivência, de defesa ou de reação, se esta-beleceu a base do relacionamento entre cada integrante do agrupamento e seu na-tural protetor, o llííddeerr, condicionada pelo desejo coletivo majoritário de continuidade grupal e de preservação das razões e motivações coletivas que o respaldaram: ccoo--eerrççããoo rreessppeeiittoo ee oobbeeddiiêênncciiaa. Aparentemente um contrassenso, mas uma marca indelével que permaneceu como substância da nossa sociabilidade. A patologia da aauuttoorriiddaaddee do llííddeerr, seja no sentido do exagero - autocrático, absoluto, despótico, opressivo - ou da omissão - abúlico, impassível, indiferente -, sempre foi antissocial porque perdia a sintonia com os interesses coletivos que justificavam a existência da própria liderança. O aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo envolvia-se em crise e o llííddeerr, de algum modo, entraria em processo de rejeição.

Nos aaggrruuppaammeennttooss iinnssttiittuuííddooss (examine a sequência cinza da Ilustração 1, página 7)

essa essência foi mantida por imitação ao processo natural porque uma con-jugação engendrada de seres humanos, com oouuttoorrggaa aaddmmiinniissttrraattiivvaa ddee aauuttoorrii--ddaaddee, que também se fundamente na identificação e aceitação de interesses comuns, quando estes são percebidos e aceitos pelos integrantes – por escla-recimento, por persuasão, por disposição voluntária ou por obrigação -, os faz se sentirem próximos (“ccoonnhheecciiddooss”) e estimulados à agregação pelo impulso original da índole humana. A inter-relação dessas circunstâncias provoca as mesmas reações psicossociais que, por compulsão natural desde o paleolíti-co, criavam e mantinham a grei de seus avoengos.

A diferença, portanto, está no reconhecimento natural e espontâneo de uma ffuunn--

ççããoo ccoolleettiivvaa (que “aappaarreeccee”) para induzir a rreegguullaaççããoo ee oo ccoonnttrrooll

ee das condutas nos

8 Tratei dessa matéria no Livro 1, “Eia, avante”, item “Estados nacionais soberanos”.

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aaggrruuppaammeennttooss hhuummaannooss eessppoonnttâânneeooss ou na existência de uma oouuttoorrggaa aaddmmiinniissttrraattii--vvaa ddee aauuttoorriiddaaddee nos aaggrruuppaammeennttooss hhuummaannooss iinnssttiittuuííddooss que cria uma dinâmica psi-cossocial semelhante, até porque as razões da outorga, em principio, se relacionam com delegações de autoridade para a organização do Estado (ssoocciieeddaaddee nnaacciioonnaall) ou com o ordenamento privado de atividades ligadas ao capital e ao trabalho, dentro da sociedade humana.

O que afinal esclarece a abrangência que dou ao conceito de Mucchielli e acolhe o quadro de classificação dos aaggrruuppaammeennttooss hhuummaannooss que apresento (página 7).

Consideradas essas duas origens da aauuttoorriiddaaddee nos aaggrruuppaammeennttooss hhuummaannooss, em

meus escritos, para respaldar ideias sobre o espírito coletivo de uma força de com-bate – o que chamo de eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee9 -, firmei uma definição genérica do fe-nômeno da aauuttoorriiddaaddee como um fato de relação na dinâmica psicossocial de um aa--ggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo, com os ajustamentos que vem assimilando desde a pré-história para atender a multiplicidade de serventias dentro das sociedades que se modernizavam. Sustentei, então, que aauuttoorriiddaaddee é a prerrogativa natural (função coletiva que “aappaarreeccee”) ou o direito outorgado de um chefe ou de um llííddeerr (no caso dos aaggrruuppaammeennttooss hhuummaannooss iinnssttiittuuííddooss), ou de seus delegados, para praticar atos controladores e reguladores e conduzir-se perante seus chefiados ou liderados se-gundo os interesses do grupo que chefia ou do aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo que lidera. Essa prerrogativa ou esse direito, acrescentei, só serão efetivos e ativos na dinâmi-ca grupal se estiverem definidos dentro de uma adequada relação com o ppooddeerr, este entendido como a faculdade concreta, natural ou constituída, potencial ou ativa, de promover, em nome de interesses definidos, o domínio, a subjugação, a imposição, a compulsão ou, antes disso, a forte sugestão de determinados ccoommppoorrttaammeennttooss (ccoonndduuttaass) a indivíduos ou grupo de indivíduos.

O ppooddeerr quando concretamente relacionado com a aauuttoorriiddaaddee, já vimos, manifes-ta-se como força disponível, imanente à sociabilidade humana e essencialmente co-erciva. O respeito à aauuttoorriiddaaddee do líder, reflexo dos interesses coletivos, é o efeito dessa sua relação com o ppooddeerr, cujo resultado prático dentro do conjunto social é a obediência ou, com a marcha do tempo, acato aos valores fixados, aos ccoommppoorrttaa--mmeennttooss recomendados, aos códigos elaborados e ao complexo legislatório do ddiirreeiittoo ppoossiittiivvoo dos povos - conjunto de leis, de normas objetivas de caráter obrigatório, cujo cumprimento é garantido pelo Estado, por meio de seus órgãos coercitivos.

Nos aaggrruuppaammeennttooss hhuummaannooss eessppoonnttâânneeooss, portanto, a percepção do direito está relacionada com esse processo de aprimoramento social e com o sseennttiimmeennttoo da ffuunnççããoo ccoolleettiivvaa que induz a rreegguullaaççããoo ee oo ccoonnttrroollee permanente acima dos eventuais líderes. A afirmação concreta dessa intelecção foi sendo fixada na pré-história pela memória grupal e, posteriormente, registrada em códigos escritos que definiam as regras de boa conduta entre os seres humanos de um agrupamento social. Para que tivessem sentido prático, enunciavam, paralelamente, as sanções àqueles que as desobedecessem (CCóóddiiggoo ddee HHaammuurraabbii//ssééccuulloo XXVVIIII aa.. CC..,, lleeggiissllaaççããoo mmoossaaiiccaa//ssééccuulloo XXIIII aa.. CC..,, CCóóddiiggoo ddee MMaannuu//ssééccuulloo IIII aa.. CC..,, LLeeii ddaass XXIIII TTáábbuuaass//aannoo 445511 aa.. CC..,, oo AAllccoorrããoo//aannoo 557700,, eettcc..). Os vvaalloo--rree

ss correspondentes às qualidades necessárias a esse desempenho deveriam ser

9 O que me motivou e envolveu no desenvolvimento da trilogia “O espírito combatente” (Livro 1, “Eia, avante! – a energia dos agrupamentos humanos”, Livro 2, “O caráter dos Soldados – uma saga de dez milênios” e Livro 3, “A imitação do combate – sobre a experiência militar indireta”).

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assentidos e efetivamente professados por cada integrante da comunidade, incorpo-rando-se ao ccaarráátteerr ccoolleettiivvoo, sem dificuldades e, por princípio, sem exceções. Os llííddeerreess, já vimos, ficavam subordinados a esses códigos, como hoje o Estado con-cretiza essa função no âmbito de uma nnaaççããoo (constituições, legislação reguladora e estrutu-ras necessárias que conformam o direito positivo)10.

OOss vvaalloorreess,, ppoorrttaannttoo,, ssããoo iiddeennttiiffiiccaaddooss,, ccoonnssoolliiddaaddooss ee iinnddiivviidduuaallmmeennttee pprrooffeessssaa--ddooss aa ppaarrttiirr ddooss iinntteerreesssseess ggrruuppaaiiss. Mesmo hoje, as discussões e conquistas de di-reitos individuais estão relacionadas ao ser humano, individualmente considerado, interagindo dentro da sociedade para preservar a saúde dessa agregação matriz e impedir que revele hipertrofias que sufoquem seus integrantes. O que é bom para o grupo deve ser bom para seus membros, cada um de per si.

A aauuttoorriiddaaddee sem poder definido ou, quando definido, negligenciado para efetiva-mente “rreegguullaarr ee ccoonnttrroollaarr aass ccoonndduuttaass” (aaggrruuppaammeennttooss hhuummaannooss eessppoonnttâânneeooss e aaggrruuppaammeenn--ttooss hhuummaannooss iinnssttiittuuííddooss), torna-se simplesmente declamatória. Já a existência de ppooddeerr, imaginada sem uma dessas fontes geradoras e legitimadoras - a ffuunnççããoo ccoolleettiivvaa do grupo espontâneo ou a oouuttoorrggaa aaddmmiinniissttrraattiivvaa no grupo instituído -, deixa de ter sen-tido social e, por ser impedida ou incapaz de interferir nas condutas sociais, passaria a ser uma simples ameaça potencial de coerção ou demonstração de violência anti-social.

Exemplos: - O líder natural de um aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo eessppoonnttâânneeoo, perdendo

sua energia ou disposição para a liderança, deixará de corresponder à ex-pectativa de seus liderados como “rreegguullaaddoorr ee ccoonnttrroollaaddoorr ddee ccoonndduuttaass” ao por em risco a sobrevivência da grei em ordem e harmonia, demonstrando sua apatia ou desinteresse pelo poder e, por isso, entrará em processo de expurgo ou substituição.

- Um policial armado (cassetete ou arma de fogo), com aauuttoorriiddaaddee ddeellee--ggaaddaa pelo Estado (outorga administrativa), tem nesses instrumentos de trabalho, potencial ou efetivamente quando empregados na gradação que representam – uma admoestação repressora, a ameaça de um hematoma ou de um ferimento letal, nas zinas de preservação da autoridade que re-presenta –, mas que o agente em questão distingue graças aos vvaalloorreess e conhecimentos de sua preparação profissional; já um homem armado com um pedaço de pau ou com um revolver, sem aauuttoorriiddaaddee delegada pelo Es-tado, pela predisposição claramente demonstrada de empregar seus insóli-tos petrechos de agressão, amplia essa ameaça por não apresentar a ga-rantia de sensatez para escolher a gradação conveniente ao acometimento que protagoniza.

- No nível das relações entre os Estados envolvidos ou interessados com o equilíbrio de ppooddeerr no Oriente Médio, o penoso processo político in-ternacional para a criação do Estado Nacional Palestino, como simples en-caminhamento desse desiderato desejado pelos palestinos, um aaggrruuppaa--mmeennttoo hhuummaannoo eessppoonnttâânnee

oo impedido de consolidar-se, contido pelas pres-sões e interesses regionais e internacionais que apenas consentiram na

10 “... em todos os tempos e lugares e em todas as culturas, sempre existiu o par conceitual bem-mal, indicativo da fé que a humanidade sempre mostrou na existência de uma lei universal dos valores” -

“A psicologia do caráter” – Rudolph Allers – AGIR0. Trata-se de uma visão poética para uma verdade indiscutível: a lei “universal dos valores” corresponderá aos interesses coletivos dos agrupamentos humanos levados ao seu limite ideal, ou seja, da humanidade como tal.

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existência do que passou a ser a Autoridade Nacional Palestina. Sem ppoo--ddeerr nacional – impossibilitada de ter e de manter forças armadas -, para discutir seus problemas de forma igualitária com parceiros vizinhos ou não, a Autoridade Palestina debate-se pela sobrevivência e, direta (OLP e Fatah) ou indiretamente (Hamas e Hizbollah), tem convivido com o terrorismo para ser ouvida ou temida (respeitada). Cria ou permite que se crie um ppooddeerr espúrio, mas efetivo, o ppooddeerr ameaçante das explosões que matam indis-criminadamente a população civil envolvida em atividades e rotinas inocen-tes. A criação do Estado de Israel em 1948, bem ao contrário, foi efetiva-mente consolidada pela organização imediata de forças armadas nacionais e – em face das crescentes tensões contrárias de palestinos e dos Estados árabes -, pela disposição de seus aliados em conceder à novel nação isra-elense a “licença” de um arsenal nuclear: aauuttoorriiddaaddee e ppooddeerr. De que outra forma um Estado nacional seria soberano sem garantir essa soberania com a capacidade de coerção ou dissuasão para impor a ordem interna (justiça e polícia) e assegurar a perenidade da pátria ameaçada sem garan-tias concretas de ppooddeerr (forças armadas), além de discursos de boas inten-ções e esforços diplomáticos?

Coerente com o que desejava discutir – minha atenção estava voltada para os aa--

ggrruuppaammeennttooss iinnssttiittuuííddooss,, iinnssttiittuucciioonnaaiiss, pontualmente para os aaggrruuppaammeennttooss ddee ccoommbbaattee de uma organização militar terrestre -, alarguei-me na elucidação do fenô-meno psicossocial da aauuttoorriiddaaddee e utilizei a figura de um polígono trilátero e o con-ceito de aauuttoorriiddaaddee rreessuullttaannttee para explicar a interação entre o llííddeerr e seus subordi-nados ou chefiados. Retomo-a com o apoio da Ilustração 5.

Em primeiro lugar destaquei o componente de p

capacidadecoerciva

(poder)

“Regular e controlar as condutas” dosmembros de um agrupamento humano

autoridade resultanteautoridade resultante

capacidadepersuasiva

habilitaçõesadequadas

equilíbrio

pooddeerr da aauuttoorriiddaaddee, aquele que lhe define a essência coerciva sem a qual restaria declamatória. Por decorrer da capacidade do llííddeerr para constranger seus liderados, chamei-a de (1) aauuttoorriiddaaddee iimm--ppoossttaa e representei-a como o vértice inferior de um triângulo equilátero invertido. Embora primigênia, essencial e dominante (“rreegguullaarr ee ccoonnttrroollaarr ccoonndduuttaass”), foi recebendo, ao longo da evolução dos aaggrruuppaammeennttooss hhuummaannooss o acréscimo de outro componente como fruto da crescente complexidade desses agrupamentos, da inteligência, da criatividade e da participação

cardinal de seus integrantes. A (2) a

Ilustração 5 - As três setas coloridas são figurações da auto-ridade, mas é a existência concreta de poder indicada na seta vermelha, que as compõem socialmente útil, sugerindo, pela múltipla interferência, um efeito espontâneo de integração no apuramento: chamo-a de aauuttoorriiddaaddee rreessuullttaannttee.

auuttoorriiddaaddee rreeccoonnhheecciiddaa, chamei-a assim, pelo reconhecimento de habilitações adequadas no llííddeerr que o fazem ser considerado qualificado para a função de liderança e competente no seu exercício, começou a ter importância para fortalecer seu esquema de ppooddeerr. Apontei-a como o vértice superi-

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or esquerdo da mesma figura. O resultado desse reconhecimento espontâneo é o acato, a cooperação, a obediência. Há, afinal, um terceiro componente – (3) a aauuttoo--rriiddaaddee ppeerrssuuaaddiiddaa – que fecha a representação gráfica como o vértice superior direi-to, de natureza semelhante, capaz de se acrescentar à capacidade de coerção e ao reconhecimento das habilitações individuais do llííddeerr ou, em alguns casos, de dis-pensar a pressão coerciva como respaldo necessário; surgiu com a evolução da in-teligência e da faculdade de expressão: a força da mente, do pensamento, da cultu-ra, dos vvaalloorreess professados - morais, profissionais, espirituais, éticos, estéticos -, do magnetismo pessoal, que podem criar entre seres humanos sensibilizados a aauuttoorrii--ddaaddee que se faz aceita, como um envolvimento suasório decorrente da individualida-de singular do llííddeerr, indutor da aquiescência e da admiração ou, em estágio mais intenso, aliciador para o proselitismo e sectarismo. Não haveria, aí, qualquer tipo de coerção, mas em face desse atributo característico, simplesmente uma capacidade para envolver, convencer e compelir pessoas à sujeição ou submissão. A aauuttoorriiddaaddee ppeerrssuuaaddiiddaa é induzida por essa faculdade suasória que pode ser ajudada por técni-cas específicas. Seu resultado prático é o respeito espontâneo, a reação favorável às razões e argumentos e, afinal, uma atitude grupal de cooperação.

Ademais, a complexidade dos aaggrruuppaammeennttooss hhuummaannooss para o atendimento de su-as necessidades estruturais e operacionais, exigiu que a aauuttoorriiddaaddee fosse sendo delegada pelos lliiddeerreess, conservando, ainda assim, os três componentes que lhe de-finem a natureza – a aauuttoorriiddaaddee iimmppoossttaa (1), a aauuttoorriiddaaddee rreeccoonnhheecciiddaa (2) e a aauuttoorrii--ddaaddee ppeerrssuuaaddiiddaa (3). Foi a preocupação com a eficácia no processo de liderança, devido ao enredamento das atividades dos homens, que tornou impositiva essa de-legação desde que mantivesse uma relação harmônica com os interesses comuns dos liderados (no exemplo da página 12, a aauuttoorriiddaaddee do policial é delegada).

É provável que o llííddeerr de um grupo de caçadores/coletores eurasianos, há cerca de 50 mil anos, com o sentido de aprimorar as rotinas e técnicas rudimentares para tanger ao cerco e ao encurralamento uma caça do porte de um mamute, já tivesse consentido a alguns de seus liderados a execução de tarefas e a adoção de peque-nas iniciativas preparatórias, concorrentes e subsequentes ao propósito básico da ação coletiva. Era o llííddeerr indiscutível, mas não prescindia de uma “ajuda” para a qual tinha de delegar ppooddeerr e, com isso, melhorar o desempenho coletivo. Hoje, o ppooddeerr em estruturas sociais complexas, indispensável para que a aauuttoorriiddaaddee delegada te-nha sentido prático, provém de articulações e transferências promovidas pelo dele-gante no quadro de seu próprio ppooddeerr. Reflete o esquema de dominação que sus-tenta a aauuttoorriiddaaddee matriz. O delegado demonstrará poder em eventual conflito de obediência com integrante do seu grupo, simplesmente por representar a aauuttoorriiddaaddee do delegante e, com isso, insinuar a prevalência de sua aauuttoorriiddaaddee delegada para “rreegguullaarr ee ccoonnttrroollaarr ccoonndduuttaass” fundamentada na certeza do apoio que lhe será asse-gurado11. Situações estruturais permanentes em aaggrruuppaammeennttooss hhuummaannooss eessppoonnttââ--nneeooss ou iinnssttiittuuííddooss (Ilustração 1, página 7), definem esse ppooddeerr delegado pela lei ou por normas específicas, neste último caso conservando como fonte o ppooddee

rr delegan-te, o que lhe dá, em princípio, capacidade para interferir segundo suas razões, con-veniências e avaliações, reforçando-o ou enfraquecendo-o em benefício da dinâmica

11 Se esse apoio falhar estará sendo “fritado”, para usar uma expressão bastante conhecida dos polí-ticos brasileiros. “Fritar”, assim, é tornar declamatória a autoridade delegada. Inócua. Deixar um mi-nistro ou um secretário de Estado sem recursos financeiros (poder) é uma forma de “fritá-lo”.

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de liderança12. Um delegado de polícia exercita, em nome do Estado, o ppooddeerr re-pressor (poder de polícia) para a instrução de denúncia criminal ao Ministério Público. Um artifício para descentralizar, especializar e agilizar atividades que representam um monopólio do Estado, sem o que a própria aauuttoorriiddaaddee delegante se tornaria de-clamatória por incapacidade de efetivar esse desiderato.

A delegação de aauuttoorriiddaaddee ficou sendo, na prática, a concessão legal ou

administrativa de crédito de poder a partir do qual o delegado constrói seu tri-ângulo (Ilustração 5, página 13) o que sempre o manterá na dependência da aauuttoorrii--ddaaddee do delegante, pela demissão “ad nutum” ou restrições de toda a ordem.

222 ––– CCCaaarrraaacccttteeerrríííssstttiiicccaaasss dddeee uuummmaaa fffooorrrçççaaa dddeee cccooommmbbbaaattteee Preciso, preliminarmente, esclarecer dois conceitos inter-relacionados e pertinen-

tes ao que tratarei neste item: quem pode ser o iinniimmiiggoo de um Estado nacional sobe-rano e o que significa o ddooggmmaa ddaa ppeerreenniiddaaddee ddaa ppááttrriiaa para esse Estado?

Entenda-se por iinniimmiiggoo o antagonista externo ou interno de um Estado nacional soberano, política e fisicamente identificado, com o qual existem desavenças incon-tornáveis e - com o reconhecimento de ambos - sem solução possível por meios não-traumáticos porque dizem respeito a valores vitais, inegociáveis por sua relação direta ou indireta com a perenidade da pátria e com o bem estar de sua sociedade nacional. O ddooggmmaa ddaa ppeerreenniiddaaddee ddaa ppááttrriiaa, em meus escritos, é uma expressão empregada para destacar a referência a um princípio sociopolítico, plenamente re-conhecido entre os Estados nacionais soberanos do planeta, que sustenta para cada um desses atores do sistema internacional, pela natureza de suas existências, o monopólio da violência organizada como representantes que são das nações que ordenam politicamente, todas subjetivamente perenes (os palestinos ainda não obtiveram esse reconhecimento e o Kosovo, província Sérvia, está vivendo um penoso processo para obtê-lo; na Espanha, na China, na Rússia, na Geórgia e na vizinha Bolívia existem tensões separatistas que geram fenômenos semelhantes).

Os países europeus – da Europa ocidental e central, particularmente – pelo atu-multuado passado que consolidou suas nacionalidades, malgrado a existência da União Europeia e da OTAN13, possuem “iinniimmiiggoo

ss tradicionais” ou desconfianças re-correntes que orientaram ou, de alguma forma, ainda orientam suas estratégias de defesa e seus tratados de convizinhança. Na Ásia, por um concurso de circunstân-cias, há efeito similar. O Brasil, como uma nação atlântica de colonização portugue-sa, herdou, até meados do século passado, as sequelas da longa disputa estratégi-ca no Prata entre Portugal e Espanha, o que gerou uma desconfiança com os “her-manos” argentinos hoje quase dissipada pela evolução desse processo histórico. Há, ainda, marcas desse passado, mesmo decorridos cento e trinta e oito anos sem

12 Poderá fazê-lo, entretanto, sem “frituras” que só evidenciam seu mau caráter, sua insegurança como líder ou despreparo para o exercício da autoridade... Esta última evidência é a mais comum entre líderes políticos tupiniquins. 13 Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, em sua sigla em inglês), é uma organização internacional de colaboração militar estabelecida em 1949 em suporte do Tratado do Atlântico Norte assinado em Washington a 4 de Abril de 1949. Os seus nomes oficiais são North Atlantic Treaty Organization (NATO), em inglês, e Organisation du Traité de l'Atlantique Nord (OTAN), em francês.

João Manoel Simch Brochado – janeiro de 2010 15

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os constantes entreveros com argentinos, uruguaios e paraguaios que marcaram a consolidação de nossas fronteiras no sul. Temos lindes terrestres, muitas vezes de-marcadas por linhas secas, com onze das treze nacionalidades sul-americanas (in-clusive Suriname, Guiana e França) sem uma história de guerras e de agressões violentas com esses povos limítrofes. Essa inexistência de “inimigos tradicionais”, entretanto, pode garantir a integridade da Pátria Brasileira e podemos descurar a preocupação com a possibilidade de agressão?

Hoje, acima de tudo, o processo de globalização é capaz de criar desavenças po-tenciais internacionalizadas pelas nações centrais sobre as nações semiperiféricas e periféricas14; esses pólos dominantes representam grandes complexos econômicos e militares e seus megainteresses. Nesse contexto, a transcendente ideia de iiinnnfff iiinnniii---tttuuudddeee dddaaa pppááátttrrr iiiaaa se estende aos vvaalloorreess que a representam - morais, éticos, espirituais e existenciais - e impõe a cada Estado moderno, para a afirmação concreta da pró-pria soberania e custódia dessa perpetuidade, a organização e a manutenção de forças armadas nacionais como instrumentos adequados ao aludido princípio, bem como o privilégio de seu emprego em recurso extremo de defesa, seja no interior do espaço geográfico onde exercem plena, direta e continuamente essa soberania, seja eventualmente fora dele, para afirmá-la nos conflitos graves do relacionamento in-ternacional15.

A estratégia de defesa de nações como o Brasil, portanto, exige uma visão ampla de seus destinos e de suas pretensões como atores desse processo sócio-político e militar internacionalizado.

Como um corpo físico composto de combatentes, armamentos e equipamentos

adequadamente organizados, qualificados, distribuídos e adestrados para o empre-go conjunto, com base em doutrina militar formulada e implementada, uma força de combate considerada em determinado nível, em qualquer tempo de sua existência histórica, precisou ostentar três características que a transformavam em eficaz ins-trumento de ação bélica capaz de aplicar a violência organizada para a destruição do inimigo: a ssoolliiddeezz, a ccoonnffiiaabbiilliiddaaddee e a iinnddiissssoocciiaabbiilliiddaaddee (Ilustração 6, adiante).

A ssoolliiddeezz a faria apta à ação, à reação e à subsistência sob pressões desagrega-doras do combate como uma manifestação coletiva segura, firme e estável. Na ssoollii--ddeezz de uma força militar estarão embutidas, percebemos, além de qualidades físi-cas, qualidades anímicas fundamentais como ccaarráátteerr ccoolleettiivvoo, mmoorraall ccoolleettiivvoo e vvoonn--ttaaddee ccoolleettiivvaa. A ccoonnffiiaabbiilliiddaadd

ee deveria ser o resultado de uma boa e comprovada doutrina de emprego e, com sua aplicação, da organização, do equipamento, do ar-

14 “Fortes”, “intermediárias” e “contingentes”, segundo conceitos que empreguei no Livro 3 da trilogia “O espírito combatente”, item “As forças Armadas”, letra “a” “O Estado, a infinitude da Pátria e o mo-nopólio legítimo da força”. 15 Entre pequenos e politicamente instáveis Estados contingentes situados em regiões de interesse estratégico para Estado forte hegemônico, a pressão dissociadora da soberania nacional é vigorosa, muito embora, em toda a área geográfica dessa hegemonia possa existir com menor intensidade para outros Estados. Costa Rica, na América Central - um exemplo -, com uma decisão pretensamente autônoma, ao abolir seu exército nacional em 1948 – e “firmar doutrina” na Constituição de 1949 -, sugeriu a própria dependência política, econômica e cultural, insinuando, também, a finitude da pátria dos costarriquenhos. Em Porto Rico, a menor e mais oriental das Grandes Antilhas - outro exemplo -, após consultas populares “democráticas” a maioria dos porto-riquenhos foi mais explícita e sufocou oficialmente a alma nacional de sua histórica ilha ao firmar um tratado de associação com os EUA e declarar-se eufemisticamente “Estado Livre Associado de Porto Rico”.

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mamento, do valor de seus comandantes, da preparação individual dos combatentes e do adestramento de seus conjuntos operacionais dentro dessa doutrina. A iinnddiissssoo--cciiaabbiilliiddaaddee impediria que a força de combate se desintegrasse, sucumbindo pelo desentendimento de seus componentes de execução e de comando ou pela falta de presteza no entendimento entre esses dois vetores da ação. Há aí, também, nesta última característica, a evidente importância de ssuuppoorrtteess ppssiiccoollóóggiiccooss ccoolleettiivvooss con-solidados. No âmbito de um aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo – nas organizações de combate, portanto -, o ssuuppoorrttee ppssiiccoollóóggiiccoo ccoolleettiivvoo define um complexo de influências psicos-sociológicas que se revelam por certa unidade e similitude de motivação, capaz de sustentar o mmoorraall ccoolleettiivvoo em nível adequado impedindo o desentendimento e a perda do impulso agregativo. Uma força de combate constituída para a organização e emprego da violência, uma vez desprovida desses suportes, ao perder a confiança de seu próprio sucesso deixará seus combatentes à mercê do dominante instinto de sobrevivência individual, uma espécie deletéria do salve-se quem puder, perdendo seu valor militar.

Essas características deveri-am prevalecer nos dispositivos de ordem cerrada com suas formações rígidas para o combate de infantaria, durante a maior parte de sua história, quando o eennqquuaaddrraammeennttoo era inflexível e os combatentes fica-vam sempre muito próximos de seus superiores imediatos. O eennqquuaaddrraammeennttoo corresponde a uma situação administrativa permanente e característica dos agrupamentos hierarquizados que facilita o controle cerrado e a proximidade física dos in-tegrantes como regra dominante, o que estimula o processo psicológico interativo que desenvolve o c

SOLIDEZCONFIABILIDADE

INDISSOCIABILIDADE

disciplinamilitar

hierarquia militar

autoridademilitar

agente acionadoragente acionador

agenteagentegarantidorgarantidor

agente agente agregadoragregador

Ilustração 6 - A autoridade, a disciplina e a hierarquia militares como agentes respectivamente aacciioonnaaddoorr, ggaarraannttiiddoorr e aaggrreeggaaddoorr,conformam e sustentam como um tripé, as três características de uma força de combate (amplie-a com o “zoom” acima de 170%).

caarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall, mantém o mmoorraall ccoolleettiivvoo e a vontade do grupo. Também, com maiores justificativas, as características apontadas foram importantes nos dispositivos fluidos de ordem dispersa forçados pelo advento das armas automáticas, dos petrechos com grande poder de destruição e raio de ação e pela tecnologia incorporada ao combate. A or-dem dispersa no campo de batalha determinou, para o combatente de infantaria dos últimos cento e cinquenta anos, a crescente valorização da iniciativa em ação e, a seus comandantes, a importância da capacidade de lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr com fundamen-to na aauuttoorriiddaaddee rreeccoonnhheecciiddaa e na aauuttoorriiddaaddee ppeerrssuuaaddiiddaa indicadas na Ilustração 5 (página 13).

O eennqquuaaddrraammeennttoo poderá resultar em algo físico, como reunião, proximidade, formação (ordem cerrada), ou, pelos meios de comunicação e controle, na consci-ência coletiva de grupo, no sseennttiimmeennttoo de supervisão, de acompanhamento, de composição organizacional e de subordinação ou de comando (ordem dispersa).

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João Manoel Simch Brochado – janeiro de 2010 18

Essas características militares, pela pressão permanente de resultados favoráveis no embate armado – a vitória militar -, só foram sendo definidas e consolidadas pelo surgimento e adequação contínua de três fatores que as foram ativando desde seus primórdios em singelos e sangrentos confrontos de pura iracúndia: a aauuttoorriiddaaddee mmiillii--ttaarr, a ddiisscciipplliinnaa mmiilliittaarr e a hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr como agentes, respectivamente, aciona-dor, garantidor e agregador dessa oorrggaanniizzaaççããoo ddee ccoommbbaattee que buscava sua melhor estrutura. Um ajustamento que ocorreu e permanece ocorrendo, portanto, promovido pela prática dos combates e pela evolução dos meios para conduzi-los (Ilustração 6, anterior) – ou, no processo de preparação de uma força militar, pela imitação do com-bate e desenvolvimento paralelo de tecnologia.

Para forças militares modernas, é a adequada interação desses fatores o que re-vela ou condiciona o padrão de excelência das características bélicas de um aaggrruu--ppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee (ou agrupamento de guerra), uma expressão que designa, co-mo um aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo iinnssttiittuuííddoo,, iinnssttiittuucciioonnaall, qualquer uunniiddaaddee ccoonnssttiittuuííddaa dentro das forças armadas destinadas ao combate terrestre direto, isto é, preparada para o confronto físico com o iinniimmiiggoo. UUnniiddaaddee ccoonnssttiittuuííddaa é outra expressão que se refere aos diversos aaggrruuppaammeennttooss ddee ccoommbbaattee com quadro de organização definido e com a designação do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr e demais combatentes em suas respecti-vas funções, com equipamentos e armamentos distribuídos (dentro de uma organização de combate de infantaria, por exemplo, a seção, a esquadra, o grupo de combate, a companhia, o batalhão, etc).

333 ––– AAA ééétttiiicccaaa dddaaa aaauuutttooorrriiidddaaadddeee m mmiiillliiitttaaarrr Há dez mil anos, na situação

extremamente dramática do combate, o desempenho feroz de todos era vital para assegurar o valor do instrumento que o llííddeerr empregava procurando vencer iinniimmiiggooss igualmente ferozes e dispostos à vitória. A percepção disso provinha de uma determinação instintiva. O embate desordenado, como um simples confronto de fereza e de número foi cedendo lugar à malícia, à es-perteza, à rapidez das respostas a novas ameaças que surgiam, à proteção de seus dispositivos, ao melhor emprego da armas o ao relevo dos comandantes que melhor personificassem as qualificações para a concretização desses desígnios.

Algumas coisas foram se tornando nitidamente necessárias: - a obediência reflexa dos combatentes aos dispositivos iniciais de um confronto

armado e às evoluções dessa situação face à liderança do combate,

autoridadepersuadida

autoridadereconhecida

autoridadeimposta

autoridade resultanteautoridade resultante(pela compensa(pela compensaçção dos três vão dos três véértices)rtices)

autoridade autoridade autoridade militarmilitarmilitar

Ilustração 7 - AA aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr ccoommoo aaggeennttee aacciioonnaaddoorr: os dois vértices superiores são endógenos, existem com maior ou menor significado como qualidades pessoais do comandante; o poder, todavia, lhe é outorgado pela lei.

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- o esforço de todos para que se mantivesse íntegro o agrupamento de combaten-

tes mantendo a continuidade da ação, - a disposição individual positiva para o cumprimento das essenciais ordens de

combate e - a incontestável necessidade dos combatentes perseverarem na luta com o de-

curso caótico de um confronto armado, acima dos perigos e do risco permanente na realidade traumática que os envolvia (ttrraauummaa ddee ccoommbbaattee é o choque emotivo capaz de modificar o ccoommppoorrttaammeennttoo de um combatente despreparado e de acarretar rea-ções psicológicas negativas que enfraquecem ou anulam sua determinação de lutar e, ainda, pode estender-se como um flagelo dissociador a seus ccaammaarraaddaass ddee AArr--mmaass).

Só isso poderia decidir favoravelmente a sorte do drama em estavam envolvidos e que deveria ter uma conclusão – a vitória e o reconhecimento glorioso de todos e de sucesso para tudo em nome do que lutavam ou a derrota de consequências fu-nestas para os guerreiros, para seus mandantes e para as razões arguidas que a justificavam. Por essa transcendência da ação militar ao quadro restrito da peleja, o ppooddeerr posto a serviço do llííddeerr para a disputa de vida ou de morte exigia que a aauuttoo--rriiddaaddee para dinamizá-lo fosse única no seu gênero. Cedo os primeiros comandantes de forças de combate foram empiricamente instados a concluir, em um lento e inin-terrupto processo, que suas ordens de guerra precisavam ser obedecidas com pres-teza, sem discussão e que essa obediência teria de ser protegida e amparada por ordenanças especiais, inicialmente da lavra deles próprios, senão os maiores, mas com certeza os mais direta e imediatamente interessados nessa submissão. Foi, portanto, uma sequela natural que adaptou a experiência ancestral dos fatigantes momentos de caçada ou de defesa desesperada ao ataque de predadores que os avoengos caçadores coletores lhes haviam deixado. Os mais envolvidos com a ex-pectativa de resultados positivos na campanha militar, todavia, autores dessa solu-ção traumática, a pouco e pouco foram avocando e institucionalizando a defesa des-sa autoridade singular. Sem isso não poderiam obter confiabilidade e agilidade na ação e na reação para sobrepujar o inimigo que porventura enfrentassem16. Despon-taria, desde essa origem antiga, uma estrutura piramidal de comando e ação susten-tada pela singular aauuttoorriiddaaddee desses intrépidos comandante ancestrais.

Hoje, a aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr outorgada pela lei a um militar para o exercício do co-mando de algo sui generis - os aaggrruuppaammeennttooss ddee ccoommbbaattee – classificados como iinnssttii--ttuuííddooss,, iinnssttiittuucciioonnaaiiss (Ilustração 1, página 7) continua sendo, ainda, ela própria, um ca-so muito singular de aauuttoorriiddaaddee (Ilustração 7, anterior). O líder de um aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo eessppoonnttâânneeoo, por exemplo, surge de um processo seletivo, ratificado pelos membros desse agrupamento. Já em um aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo iinnssttiittuuííddoo,, iinnssttiittuucciioo--nnaall, o interesse grupal em nome do qual a aauuttoorriiddaaddee outorgada do chefe ou do co-mandante é exercida, fica definida pelas razões da própria instituição e os membros desses agrupamentos são instados a aceitá-las por interesse profissional de ocupa-ção remunerada (emprego) ou por vocação e concitação de dever a ser cumprido – ou de ambos (funcionários de uma empresa ou militares de uma força armada).

Em verdade, a aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaa

rr só existe em sua destinação e essência ances-trais – ou só é imprescindível -, nas organizações de combate onde surgiu como a-gente acionador e ativador desses elementos de sustentação das anteriormente re-

16 Matéria estudada no Livro 2 desta trilogia, “O caráter dos Soldados”.

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feridas características de ssoolliiddeezz, ccoonnffiiaabbiilliiddaaddee e iinnddiissssoocciiaabbiilliiddaaddee (Ilustração 6, pá-gina 17). Essas qualidades foram se agregando às estruturas militares de confronto direto com o inimigo como inab-rogáveis para que perdurassem sob pressões des-conjuntadoras e nutrissem uma segura expectativa de vitória das armas. Foi nessa realidade social de grandes pressões psicológicas, de ingentes esforços físicos e da necessidade imperiosa de sobrepujá-los com vulneráveis e instáveis seres huma-nos, equipamentos e armamentos inexoravelmente limitados que a figura do ccoommaann--ddaannttee mmiilliittaarr se impôs e se consolidou como a encarnação da aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr sur-gida desde as sombras imprecisas dos milênios, pela saga da experiência contínua dos SSoollddaaddooss em vitórias e derrotas, na glória e nos desastres.

Fora dessas estruturas de enfrentamento direto do iinniimmiiggoo, todavia, a aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr é reconhecida e estendida para que adquira uma dimensão institucional den-tro de uma força armada, seja no chefe, no diretor ou qualquer outra função ou car-go ocupado por militar em setores administrativos ou de direção não destinados ao

confronto direto e traumático ao qual aludi – é o “respeito à hierarquia” como se afirma, no mundo inteiro, para justificar esse cuidado resguardador. De qualquer forma, a discussão para entendê-la nessa essência ancestral, precisa ser conduzida na consideração e na visão dos agrupamentos de confronto direto com o inimigo, isto é, as pequenas frações, as subunidades, as unidades, as grandes unidades e os grandes comandos.

DEFESA NATURAL DA SOBREVIVÊNCIA

COLETIVA(primeiros grupos

humanos sedentários)

OBEDIÊNCIA À VONTADE DO

SOBERANO(autoridade mística ou

divinizada)

APOIO E PROTETEÇÃO AO SENHOR FEUDAL

(poder absoluto)

BRAÇO ARMADODO ESTADO SOBERANO

(perenidade da pátria)

ENVOLVIMENTOPERMANENTE

ALIENAÇÃO ESERVIDÃO

EXPECTATIVA E SOFRIMENTO

DEFESADA PÁTRIA

EVOLUÇÃO DAS SOCIEDADES HUMANASEVOLUÇÃO DAS SOCIEDADES HUMANASEVOLUÇÃO DAS SOCIEDADES HUMANAS

antigüidade Idade Médiaancestral hoje

- Retângulos vermelhos:

- Setas:

papel dos Soldados no tempo e a autoridade à qual se subordinam

períodos históricos considerados- Elipses: atitude do povo Há outro aspecto

importante e muito característico na aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr: a relação ppooddeerr//aauuttoorriiddaaddee deve ser procurada na legitimidade da

outorga ao ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr, por consentimento social ou legal, e não na coerção das armas. A a

Ilustração 8 - Sinopse gráfica, genérica, da evolução das socieda-des humanas e o do papel dos Soldados no curso da História (amplie-a com o “zoom” acima de 170%).

auuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr (outorga administrativa), como a aauuttoorriiddaaddee em aaggrruuppaa--mmeennttooss hhuummaannooss eessppoonnttâânneeooss, é um fato de relação na dinâmica psicossocial do grupo militar considerado. Existe com suas características especiais porque a desti-nação desse grupo militar assim as exige. O poder das armas, todavia, não está su-jeito ao arbítrio do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr, embora ele o crie e o aplique. Pertence ao Estado representado pelo seu llííddeerr político maior, o Presidente da República no ca-so brasileiro, preservadas as competências do Congresso Nacional para decisões de tamanho porte (Ilustração 8, anterior). O respeito à aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr dentro de uma força de combate - armas fora! -, deve ser uma decorrência da capacidade suasória do comandante, do reconhecimento de suas habilitações adequadas e da capacida-

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de de coerção legal, proveniente da outorga, normalmente traduzida por ordenanças específicas, regulamentos disciplinares e códigos penais militares (como está figurado na Ilustração 7, página 18). Já a Ilustração 13 (página 35), iremos vê-la adiante, mostrará um esquema gráfico da ação violenta organizada que representa, aí sim, a aplicação do poder das armas.

A aauuttoorriiddaaddee do comandante, exercida pela ação de comando, compre-

ende duas gestões entrosadas e interativas estimuladas pela introversão e pe-la extroversão de sua atenção em relação ao agrupamento de combate que comanda: (1) é o cccaaabbbooo---dddeee---ggguuueeerrrrrraaa 17 que cria e aplica em nome do Estado o po-der das armas e, também, (2) é o cccooonnnddduuutttooorrr dddeee hhhooommmeeennnsss que mantém seus com-batentes com o ânimo necessário para perseverarem com competência técnica individual e adestramento coletivo em quaisquer circunstâncias da atividade castrense ou de combate (Ilustração 9, abaixo).

AAççããoo ddee ccoommaannddoo,, neste ensaio,, é o conjunto de atividades executivas do ccoo--

mmaannddaannttee mmiilliittaarr de um aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee que abarca suas responsabilida-des desde a preparação até o emprego dessa força ( oo cchheeffee ccoommoo ccaabboo--ddee--gguueerrrraa ccuummpprriinnddoo uummaa iinnvveessttiidduurraa ddoo EEssttaaddoo), prevalecentes com ânimo adequado sob quaisquer cir-cunstâncias ( oo llííddeerr ccoommoo ccoonndduuttoorr ddee hhoommeennss), com respaldo na aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr de sua investidura, na dinamização da hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr que o enquadra e no pressuposto do bom eessttaaddoo ddiisscciipplliinnaarr (ddiisscciipplliinnaa mmiilliittaarr).

Neste contexto é mister a pressuposição de que esses militares nomeados comandantes estejam preparados para essa complexa investidura.

Na realidade – como faço refe-rência em outra obra18 - essa ética foi inúmeras vezes atropelada. Na antiguidade grandes chefes políticos foram gene-rais bem sucedidos... A posse efetiva dos meios bélicos e o sentimento do poder que eles representavam, a consciência do próprio valor como ccoommaannddaannttee mmiilliittaa

rr – cabo-de-guerra e condutor de homens –, o nível hierárquico do lucubrante ambicioso e as circunstâncias políticas no momento das lucubrações, transformavam, com rela-

17 Cabo-de-guerra, segundo o Dicionário Eletrônico Aurélio é “chefe ou comandante militar, esp. o que planejou e/ou comandou campanha(s); militar(es) importante(s), vitorioso(s); estrategista militar”; nes-te ensaio, entretanto, oriento seu significado para os comandantes militares, cuja responsabilidade engloba a preparação e o emprego da força militar sob seu comando, no papel de braço armado do Estado. 18 Matéria estudada no Livro 2 desta trilogia, “O caráter dos Soldados”.

o inimigo

seus combatentes

CONDUTOR DE HOMENSCONDUTOR DE HOMENSCONDUTOR DE HOMENS

CABOCABOCABO---DEDEDE---GUERRAGUERRAGUERRA

comandante militarcomandante militar

Ilustração 9 - Como ccoonndduuttoorr ddee sseeuuss hhoommeennss o co-mandante é o líder que desenha seu triângulo de autoridade (Ilustração 7 – página 18); como ccaabboo--ddee--gguueerrrraa, em nome do Estado e enquadrado em sua estrutura de combate, o comandante é o chefe que cria e aplica o poder das armas (Ilustração 13, página 35).

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tiva facilidade, generais em monarcas ou em ditadores. A impossibilidade de uma contestação física capaz de anular e reverter essa grave violação da confiança per-mitia que logo se institucionalizasse. O que foram, por isso, as dinastias reais senão uma sequência de monarcas com origem em algum general vitorioso? Essa quebra da ética militar, com o desenvolvimento das sociedades humanas e a modernização do conceito de Estado soberano, foi se tornando mais difícil e as razões arguidas para concretizá-la – embora recorrentes - se tornaram mais complexas e quase im-possíveis dentro de um Estado democrático moderno ocidental (colapso do Estado, transformação espúria do ppooddeerr, manipulação por outro Estado. etc).

A História, todavia, está repleta de exemplos de llííddeerreess políticos que, eles mes-mos generais de valor, conduziram seus exércitos a grandes feitos de conquista. Essa qualificação de “general vitorioso”, sempre fascinou os homens. As nações modernas, ao serem politicamente organizadas pelo Estado, atribuem ao llííddeerr exe-cutivo máximo que o representa internamente e no concerto dos demais Estados nacionais soberanos, o comando supremo de suas forças armadas. Uma forma de subordiná-las à vontade da grande política, responsável pela defesa dos interesses nacionais e pela custódia da pppeeerrreeennniiidddaaadddeee dddaaa pppááátttrrr iiiaaa.

Preciso firmar outros dois conceitos para prosseguir: vejo a NNaaççããoo como a institu-

ição universal reconhecida como um aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo eessppoonnttâânneeoo,, ppeerrmmaanneennttee, orgulhoso de sua unidade e soberania - a ssoocciieeddaaddee nnaacciioonnaall -, surgida da aspiração coletiva dentro de um processo histórico específico, pela perseverante e manifesta vontade de seus membros, fixados em um território e ligados por laços culturais, econômicos e, muitas vezes, étnicos e linguísticos. Entendo que o EEssttaaddoo--nnaaççããoo democrático moderno, outro conceito, é um conjunto de instituições que organiza o poder comum para promover a ordenação política de uma nação - com a ma-nifestação da v

escalão de comando considerado

1o. escalão de comando executor

2o. escalão de comando executor

voonnttaaddee nnaacciioonnaa

ll e em consonância com a realidade histórico-cultural que essa nação representa, no contexto moral e ético da formação de sua nacionalidade - e se capacita soberanamente à prática dos atos necessários19 para garantir essa ordenação, bem como para defen-der os valores envolvidos, exercendo de forma flexível a pressão coerciva que pode levar, quando preciso, ao limite extremo da força que legitima e à qual pode recorrer como recurso monopólico para a solução de conflitos internos ou externos. O Estado

19 “Soberano é quem pratica o ato necessário”, afirmou do jurista alemão Carl Schmitt, 1888/1985.

acionamento como um todoacionamento como um todopapel fundamental da hierarquia militar parapapel fundamental da hierarquia militar parao emprego de uma organizao emprego de uma organizaçção ão de combatede combate

3o. escalão de comando executor

TC CMT TC CMT

CAPITÃO CMTCAPITÃO CMT

TENENTE CMTTENENTE CMT

GEN BDA CMT

Ilustração 10 - AA hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr ccoommoo aaggeennttee aaggrreeggaa--ddoorr: com a aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr definida e preservada de forma peculiar, cria-se, pelos papéis agregador da hhiieerraarr--qquuiiaa mmiilliittaarr e garantidor da ddiisscciipplliinnaa mmiilliittaarr, uma organi-zação de guerra capaz de ser acionada como um instru-mento ssóólliiddoo, ccoonnffiiáávveell e iinnddiissssoocciiáávveell. O acionamento inicial – a decisão e as consequentes ordens para que seja cumprida – comprometem toda a estrutura subjacente sem truncamentos ou postergações, no tempo e no espaço.

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foi “aappaarreecceennddoo”, portanto, como uma ffuunnççããoo ccoolleettiivvaa ppaarraa “oorrddeennaarr ee ccoonnttrroollaarr ccoonn--dduuttaass” nas sociedades humanas que surgiam e formavam as nações20.

A propósito do envolvimento do EEssttaaddoo, de seus Soldados e da ssoocciieeddaaddee nnaacciioo--nnaall nessas disputas, reexaminemos o quadro da Ilustração 8 (página 20). Trata-se de uma sinopse gráfica bastante genérica que indica o retorno, em essência, do papel dos Soldados nos primeiros aaggrruuppaammeennttooss hhuummaannooss, ou seja, a integração com o agrupamento e seu desejo natural e legítimo de sobrevivência coletiva para, nos di-as de hoje, a integração com a sociedade nacional para garantir a pppeeerrreeennniiidddaaadddeee dddaaa pppááátttrrr iiiaaa em nome do EEssttaaddoo que detém a custódia dessa infinitude. A quebra da ééttiiccaa no exercício da aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr que vimos tratando, portanto, é bastante mais difí-cil com a ideia de braço armado do EEssttaaddoo e com a consciência do ddooggmmaa ssóócciioo--ppoollííttiiccoo ddee ppeerreenniiddaaddee ddaa ppááttrriiaa e do sentimento de dever patriótico entre os cida-dãos, particularmente quando as forças armadas não tiverem participação direta na condução da política de defesa (Ministério da Defesa).

EEmm rreellaaççããoo àà aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr nnããoo eexxiissttee ddeelleeggaaççããoo ddee aauuttoorriiddaaddee – de ppooddeerr, consequentemente. Em cada nível subjacente da escala hierárquica está presente como realidade concreta, inserida no contexto do aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee conside-rado, uma nova aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr com clara definição de subordinação à vontade expressa do nível superior, mas independente de delegação desse nível e com ppoo--ddeerr específico deliberado na lei. Inviolável, portanto, pois que suprimi-la, limitá-la, anulá-la, distorcê-la ou, de qualquer forma interferir na sua integridade, seria a ne-gação da própria hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr,, emasculadora da força de combate, como tal.

A hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr está definida para a sua aplicação de origem que é o emprego de uma força de guerra no confronto violento e organizado contra o iinniimmiiggoo. A com-preensão da hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr fora desse sentido original – bastante comum entre leigos ou detratores das AArrmmaass -, como uma simples linha vertical de postos e gra-duações definidora de subordinações sucessivas é imprópria e equivocada: sugere uma “ordem de bicadas”...21 de salários... de vantagens... de mordomias... sempre denotando um crescente benefício aos níveis mais elevados e, decrescente, desfa-vorecendo os níveis de subordinação. Uma visão desinformada e deletéria. Na sua correta acepção, como o grande arcabouço da organização militar de guerra, a hhiiee--rraarrqquuiiaa mmiilliittaarr reflete a experiência contínua de dez milênios voltada para esse pro-pósito. O conceito desse ddiissttiinnttiivvoo mmiilliittaarr,, ppoorr ccoonnsseegguuiinnttee,, ddeevvee rreefflleettiirr eessssaass ccoonnssii--ddeerraaççõõeess:

HHiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr é uma rígida escala de postos e graduações defini-dora de funções e responsabilidades que cria uma ordem impessoal dentro das organizações de guerra com escalões de aauuttoorriiddaaddee e de subordina-ção, ativados como um todo e, ao mesmo tempo, tornados aptos a avigo-rar a impulsão para a vitória militar dentro do combate segundo a vontade matriz do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr do escalão considerado (Ilustração 10, anterior).

Em princípio, um ccoommaannddaannttee mmiilliittaa

rr pode ser afastado de sua investidura por su-as próprias razões, uma vez aceitas, ou por graves razões relacionadas com o cum-

20 Um estudo do Estado, baseado em opiniões das maiores autoridades do assunto, está desenvolvi-do no Livro 3 da trilogia “O espírito combatente”, Parte I, “As forças armadas”, “O Estado, a perenida-de da Pátria e o monopólio legítimo da força”. 21 “Pecking order”, a ordem ou a hierarquia da bicada existente em determinas espécies de aves que determina a subordinação indiscutível por essa pequena agressão (“quem bica quem dentro do gali-nheiro?”).

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primento de suas responsabilidades de comando e as superiores necessidades da administração militar. Enquanto for comandante, no entanto, não poderá ter o ppooddeerr de sua investidura limitado ou, de alguma forma, constrangido.

Tenho feito referências aos ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess, objeto central da matéria aborda-da no Livro 2, “O caráter dos Soldados”. Devo descrevê-los resumidamente para prosseguir:

DDiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess são destaques para treze fenômenos que iden-tificam a base do ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr das oorrggaanniizzaaççõõeess ddee ccoommbbaattee e revelam os vvaalloorreess ccoolleettiivvooss que os sustentam: (1) o ââânnniiimmmooo dddeee sssaaacccrrr iii fff íííccciiiooo como uma forte disposição vocacional; a (2) cccoooeeesssãããooo mmmiii lll iii tttaaarrr da qual decor-rem o (3) eeessspppííírrr iii tttooo dddeee cccooorrrpppooo, a (4) cccaaammmaaarrraaadddaaagggeeemmm mmmiii lll iii tttaaarrr, o (5) cccuuulll tttooo dddaaa ggglllóóórrr iiiaaa mmmiii lll iii tttaaarrr e a (6) mmmííísssttt iiicccaaa mmmiii lll iii tttaaarrr; a sustentação das três características da força militar de combate: (7) sssooolll iiidddeeezzz, (8) cccooonnnfff iiiaaabbbiii lll iiidddaaadddeee e (9) iiinnndddiiissssssoooccciiiaaabbbiii lll iiidddaaadddeee a-tivadas pelos fatores (10) aaauuutttooorrr iiidddaaadddeee mmmiii lll iii tttaaarrr, (11) hhhiiieeerrraaarrrqqquuuiiiaaa mmmiii lll iii tttaaarrr e (12) dddiiisssccciiippplll iiinnnaaa mmmiii lll iii tttaaarrr (criando e desenvolvendo a autoconfiança coletiva); final-mente, como uma moldura de tudo, a sensibilidade de cada SSoollddaaddoo para o sseennttiimmeennttoo de (13) hhhooonnnrrraaa mmmiii lll iii tttaaarrr, voltado para alguns vvaalloorreess de susten-tação da instituição das AArrmmaass.22

A discussão de “EEssttaaddoo eemm AArrmmaass” e de “NNaaççããoo eemm AArrmmaass” que propus em meus

textos da trilogia “O espírito combatente”, em princípio não altera a ééttiiccaa mmiilliittaarr alu-dida23. Para o entendimento desta matéria, todavia, alguns conceitos técnicos sobre os conflitos armados modernos devem ser examinados (1) em função do direciona-mento da ação militar que empreendem, (2) dos meios bélicos que empregam e da (3) amplitude político-econômica das causas que os motivam; apresento-os na or-dem alfabética24:

GGuueerrrraa cciivviill (ou gguueerrrraa iinntteerrnnaa), em relação ao direcionamento do conflito, designa o emprego das Armas de um Estado soberano contra a ação bélica orga-nizada de nacionais que contestam sua autoridade obrigando-o a reagir com legi-timidade inicial para a repressão.

GGuueerrrraa eexxtteerrnnaa, em relação ao direcionamento do conflito, designa o conflito armado de um Estado nacional soberano com outro (ou mais de um) ou com ini-migos organizados não-nacionais.

GGuueerrrraa iinntteerrnnaa (gguueerrrraa cciivviill, acima). GGuueerrrraa lliimmiittaaddaa, quanto ao emprego dos meios bélicos das Armas envolvidas,

designa o conflito armado onde há, entre os contendores, a disposição inicial ou subsequente de limitar os meios bélicos disponíveis para emprego.

GGuueerrrraa llooccaalliizzaaddaa, quanto à amplitude político-econômica das causas e moti-vações do conflito, sem as pressões iniciais de uma guerra mundial ou contornan-do-as, designa o conflito armado em que há uma disposição dominante do mais forte contendor ou daquele ao qual coube a iniciativa da ação, em limitar suas me-tas políticas, consequentemente seus objetivos militares, definindo, em princípio, o espaço geográfico em que se desenvolverão as operações.

GGuueerrrraa mmuunnddiiaall

, em relação à amplitude político-econômica das causa e moti-vações do conflito, designa o choque armado provavelmente motivado pelo anta-gonismo entre pólos político econômicos do mundo moderno com o envolvimento de um bom número de Estados intermediários e contingentes em torno de Estados

22 Esse é o assunto central do Livro 2 desta trilogia, “O caráter dos Soldados”. 23 A matéria foi tratada no Livro 3 desta trilogia, “A imitação do combate”. 24 Apresentei esses conceitos no Livro 3 da trilogia “A imitação do combate”, Leitura complementar 01 “Guerras –alguns conceitos”.

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fortes e hegemônicos, principais interessados e defensores dos valores envolvi-dos.

GGuueerrrraa ttoottaall, quanto ao emprego dos meios bélicos disponíveis das Armas en-volvidas, designa o conflito armado onde há a disposição inicial, de um ou dos demais contendores, para o emprego de todos os meios bélicos disponíveis ou, pela evolução dos acontecimentos, essa disposição é assumida.

Pela clareza e ostensibilidade das razões e motivações, pela fácil identificação delas com os vvaalloorreess nacionais considerados em perigo, pelos efeitos da propagan-da de mobilização e pelo envolvimento concreto, direto ou indireto, dos cidadãos com a conscrição universal, em Estados democráticos ou não, as gguueerrrraass mmuunnddiiaaiiss, ou gguueerrrraass eexxtteerrnnaass, são inicialmente mais compreensíveis para as pessoas co-muns. Por isso, acolhem-nas emocionalmente envolvendo-se nas obrigações e res-trições ditas “de guerra” como o cumprimento de um dever patriótico indiscutível e inalienável. Ao comentar a evolução das motivações de cidadãos e combatentes para se envolverem nas guerras contemporâneas, às quais chamou de guerras to-tais, Hans J. Morgenthau afirmou em 194825:

“O serviço militar universal, apoiado no recrutamento, constituiu o grande vínculo mediante o qual se tornaram vitoriosas as ideias de nacio-nalismo e de universalismo nacionalista. Não seria de esperar que fossem inspirados por considerações morais e ideais nem os mercenários nem aquele rebotalho arrebanhado para o serviço militar, nem muito menos as pessoas decentes por este sequestradas - os quais, em seu conjunto for-mavam os soldados rasos dos exércitos no período de guerra limitada, an-tes do século XIX.”

O empenho e o sacrifício dos cidadãos nas gguueerrrraass mmuunnddiiaaiiss ou eexxtteerrnnaass podem criar, desse modo, autênticos heróis nacionais.

As gguueerrrraass llooccaalliizzaaddaa

ss contemporâneas, de um modo geral, para Estados inter-ventores e que as mantêm distantes de seus territórios, são desencadeadas por ar-gumentos mais intrincados e menos compreensíveis para os cidadãos comuns. Normalmente há um quadro político regional distante, onde a intervenção resulta de complexos e pouco claros interesses e conveniências na solução, o que leva a dis-puta matriz do conflito para longe. Nessas guerras periféricas, do ponto de vista de Estados democráticos interferentes, assim, há significativa inconveniência de uma mobilização por conscrição universal. Podemos alinhar, para isso, quatro argumen-tos de valor: (1) a expectativa, nesses conflitos, de uma rápida intervenção exige a manutenção de forças aprestadas, (2) a dificuldade de compreensão popular para as “razões de Estado” sugere forças profissionais que não necessitam, como uma força de conscritos o exigiria, de razões claras e permanentes para a luta armada e para o sacrifício a que estarão submetidas, (3) o interesse em manter a sociedade nacional fora de envolvimento emocional direto como o mundo presenciou no drama ameri-cano do Vietnã, e, sobretudo, (4) a vulnerabilidade à qual ficaria exposto o patrimô-nio humano e físico dos beligerantes interventores face à tecnologia disponível nos armamentos e equipamentos. O empenho e o sacrifício dos Soldados nessas guer-ras podem identificar heróis militares, mas percebemos, haverá dificuldade para se reconhecer o típico herói nacional de uma guerra mundial. Tudo sugere a necessi-dade de substituir a “nação em armas” que se insinuou após a Guerra dos Cem A-nos, tornou-se consensual com a Paz de Westfália no fim da “Guerra dos Trinta A-

25 Hans J. Morgenthau, “A política entre as nações” - Capítulo XXII, “Guerra total”/página 684.

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nos” (1618/1648) e consolidou-se com Revolução Francesa, pelo “Estado em armas” por delegação da sociedade. Profissionaliza-se a intervenção armada e, com isso, fica eliminado o grande risco da ooppiinniiããoo ppúúbblliiccaa nnaacciioonnaall se transformar em pressão da vvoonnttaaddee nnaacciioonnaall para o encerramento do conflito - ou da participação nele -, es-timulando a mídia internacional a parti pris (ooppiinniiããoo ppúúbblliiccaa mmuunnddiiaall). Essa profissio-nalização, entretanto, se processa sem a alienação do povo (hoje, das ssoocciieeddaaddeess nnaacciioonnaaiiss) que caracterizava as disputas dinásticas medievais e o mercenarismo. Estou aludindo ao relacionamento internacional dos Estados soberanos modernos que, no ocidente, evoluiu da influência de duas unidades jurídicas, o antigo “Império Romano” e, na Idade Média, a “Cristandade” (até o século XVI).

O “Estado em armas” não ab-roga a velha e lógica necessidade do apoio ao con-flito armado que caracterizava uma “Nação em armas” e que promoveu o universa-lismo nacionalista aludido por Morguenthau. Assim sendo, definem-se novas preo-cupações para os llííddeerreess políticos, pois, ao suprimir, com a guerra profissionalizada, a emoção coletiva superlativa que envolveria a sociedade nacional, pode criar uma disputa político-partidária para mantê-la ou encerrá-la. Devo explicar. Nas democra-cias liberais e representativas envolvidas em guerras localizadas, quando há a ex-pectativa de alternância de ppooddeerr em prazos relativamente curtos (quatro ou cinco anos) poderão surgir, com a tardança da vitória militar ou por esse desiderato não se enquadrar claramente nos processos da dinâmica democrática, pressões político-partidárias e, consequentemente, de opinião pública, são capazes de influir na vvoonn--ttaaddee nnaacciioonnaall para modificar o emprego do eessqquueemmaa ddee ppooddeerr vigente e seus efeitos considerados negativos com a aplicação de força. A ação bélica do “Estado em ar-mas”, dessa forma, deverá ser rápida e eficaz além de competentemente cuidadosa com a ooppiinniiããoo ppúúbblliiccaa nnaacciioonnaall em relação ao conflito que coloca em curso. Qual-quer percalço ou dificuldade adicional desencadeará a manipulação externa da ooppii--nniiããoo ppúúbblliiccaa iinntteerrnnaacciioonnaall - fora de controle do Estado envolvido - e os esforços in-ternos de adversários políticos para modificar a vvoonnttaaddee nnaacciioonnaall que afastará ou manterá o llííddeerr no poder dentro ou fora de um quadro de eleições. Um chefe de Es-tado democrático liberal representativo, portanto, poderá ser contestado em sua de-cisão de guerra se perder a opinião pública para o exercício da liderança política.

Só a emoção coletiva e o envolvimento afetivo dos cidadãos norte-americanos com a saída da depressão e os valores postos em cheque no conflito 1939/1945 - uma gguueerrrraa mmuunnddiiaall - mantiveram no poder Franklin D. Roosevelt (1933/1945, em qua-tro mandatos) para conduzi-los no esforço de recuperação e de guerra até a vitória final sobre o “Eixo”. As intervenções norte-americanas no Iraque no Afeganistão – gguueerrrraass llooccaalliizzaaddaass – estão nesse quadro de percalços políticos internos em decor-rência da alternância de poder no processo democrático representativo.

Na gguueerrrraa llooccaalliizzaaddaa as relações do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr com seus comandados e suas responsabilidades de lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr enquadram-se em duas situações apon-tadas em outra obra26. Em primeiro lugar os Soldados devem manter e sentir fortes vínculos com a nação que representam em confronto com um iinniimmiigg

oo longínquo que, em princício, pode não ter perpetrado agressão direta a seu país, ele próprio apontado e possivelmente se sentindo como o ádvena invasor. A agressão terrorista, por exemplo, não apresenta clara e ostensivamente a cara do agressor e

26 Livro 2 desta trilogia “O caráter dos Soldados”, item “A realidade político-social que envolve os Sol-dados”.

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não define a responsabilidade de um Estado pelo acometimento. A perda dessa conexão com a nação, pois, pode afetar o mmoorraall ddaa ttrrooppaa e abater a vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa. É essencial que seja mantida. A segunda situação – geradora de uma cone-xão de lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr - indica o recurso complementar necessário para garantir a dinâmica de funcionamento de uma força armada, ligado a esse processo interno da relação líder/liderados. Com o respaldo das razões do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr, os Solda-dos compreenderão e consolidarão os valores que sustentam os ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess e aceitarão as razões e motivações políticas para a ação militar. Por que essa ne-cessidade? A discussão e o reconhecimento das razões de Estado e da lei identifi-cam um processo político. Os Soldados, em princípio, deverão permanecer afasta-dos desse tipo de envolvimento fora de seu âmbito profissional, mas não alheios a ele. A conexão de lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr, assim, os informa e os dirige pela participação das lideranças interferentes cujo inter-relacionamento coerente e confiável dentro da escala hhiieerráárrqquuiiccaa mmiilliittaarr consubstanciará, no seu topo, a sujeição às razões de Es-tado e da lei, pela subordinação do generalíssimo da força de combate ao chefe do Estado ou do governo (Ilustração 8, página 20).

Por essa importância transcendental nas oorrggaanniizzaaççõõeess ddee ccoommbbaattee, incluo a aauuttoo--rriiddaaddee mmiilliittaarr como um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess que estudei no Livro 2 da trilo-gia “O espírito combatente” e a defini como a aauuttoorriiddaaddee legalmente outorgada a um militar em função de sua posição dentro da hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr e de suas responsabili-dades como comandante (ou, como já referi mais acima, em outras situações ou cargos fora de uma oorrggaanniizzaaççããoo ddee ccoommbbaattee).

Todo o estudo sobre os vvaalloorreess ccoolleettiivvooss que sustentam os militares e a

instituição das forças armadas deve ser centrado na história e na dinâmica o-peracional das oorrggaanniizzaaççõõeess ddee ccoommbbaattee (uunniiddaaddeess ccoonnssttiittuuííddaass). Foi aí e no penoso processo que as fez evoluir ao longo de dez milênios que esses vvaalloo--rreess se transformaram nos ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess que defini (página 24).

444 ––– OOO pppaaapppeeelll dddaaa dddiiisssccciiipppllliiinnnaaa eee dddaaa hhhiiieeerrraaarrrqqquuuiiiaaa mmmiiillliiitttaaarrreeesss Nesses eessccaallõõeess ddee ccoommaannddoo, assim, as aauuttoorriiddaaddeess mmiilliittaarreess existentes, bastan-

te em si mesmas, ficam vinculadas com responsabilidades de subordinação assegu-rada pelo eessttaaddoo ddiisscciipplliinnaarr (Ilustração 11, adiante) que é a situação de ordem e obedi-ência consciente e inteligente que se estabelece entre os militares de uma força de combate, para criar-lhe, como meta, as condições necessárias à promoção da vio-lência organizada em nome do Estado, conservando seu vvaalloorr e nnaattuurreezzaa mesmo quando sujeita a pressões desagregadoras e a risco permanente e extremo (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess, página 24).

“CCoonnsscciieennttee ee iinntteelliiggeennttee” é um enfoque moderno que não dispensa, todavia, o vetor de ppooddeerr do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr (aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr) para garanti-la. Sentimos de forma clara que entre antigos Soldados, arrebanhados sob vara, compulsados à conscrição implacável, mercenários de todas as origens e disposição duvidosa para o cumprimento de seus contratos, interessados sobremaneira no butim ou partici-pantes assalariados de complicadas disputas dinásticas, a pressão desse vetor seria mais forte, mais sensível e mais ostensiva, com justiça rápida, inflexível e punições severas ao pé do distúrbio disciplinar.

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A ddiisscciipplliinnaa mmiilliittaarr, em si, poderia significar apenas uma faculdade para a organi-zação de combate, como uma situação virtual. Existir ou não existir. Se, no entanto, existir como um estado, ou seja, como a condição emocional, psicológica ou moral de um combatente, permanente, influenciadora de seu comportamento dentro de uma oorrggaanniizzaaççããoo ddee ccoommbbaattee, mostrará a predisposição para a obediência em nome da vitória militar, o dominante desafio ancestral dos Soldados (Ilustração 11, ao lado). Se não existir esse estado, a própria organização militar deixaria de ter sentido. Se-ria um blefe. Algo inócuo e sem valor que sucumbiria à primeira crise porque estaria negando a aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr. Mesmo com a existência de bom eessttaaddoo ddiisscciipplliinnaarr,

entretanto, à medida que as forças de combate se tornavam mais complexas, um grande problema se apresentava. Precisavam ser ativadas e empregadas como um todo, sem a quebra de coerência com a vontade matriz (missão) em sua dinâmica; sem a perda de seu vigor coletivo de luta e possibilitando um fluxo contínuo de decisões, ações, resultados e reações, transformando a manifestação da vontade do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr de mais alto nível em impulso homogêneo, autêntico, tecnicamente coerente e adequado à realidade di-versificada do campo de batalha, até o último arqueiro

retesar a corda de seu arco ou o fundibulário preparar sua funda para o arremesso do míssil. Esse foi sendo o objeto da hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr.

A interação da capacidade de acionamento da aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr, com a

garantia de obediência assegurada pelo eessttaaddoo ddiisscciipplliinnaarr e do sucesso agre-gador garantido pela hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr, ativam efetivamente três características requeridas pela prática contínua de dez milênios para uma força de combate, tornado-a ssóólliiddaa,, ccoonnffiiáávveell ee iinnddiissssoocciiáávveell para um confronto armado capaz de impor a derrota a um inimigo igualmente disposto à vitória de suas Armas.

Na sequência desse processo, em uma organização de guerra acionada para o

combate real ou simulado, desde as pequenas frações, subunidades e unidades que moldeiam o combate tático (tática militar), até as grandes unidades e os grandes co-mandos que definem os elementos da batalha estratégica (estratégia militar), ficam de-finidos eessccaallõõeess ddee ccoommaannddoo como degraus hierárquicos com ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess e suas responsabilidades irretorquíveis (aauuttoorriiddaaddeess mmiilliittaarreess), mas rigidamente subor-dinadas à vontade matriz do nível de comando superior dentro de procedimentos garantidos pelo eessttaaddoo ddiisscciipplliinnaarr. Cria-se dessa forma o instrumento destinado à

comandante superior

comandantes subordinados

permanenteatitude de obediênciaatitude de obediência

nníível do vel do estado estado disciplinardisciplinarseguraexpectativa de obediênciaexpectativa de obediência

comandantecomandante

Ilustração 11 - AA ddiisscciipplliinnaa mmiilliittaarr ccoommoo aaggeennttee ggaarraannttiiddoorr: a per-manente atitude e a segura expectativa de obediência à aauuttoorriiddaaddeemmiilliittaarr em relação, respectivamente, ao nível superior e aos níveis subordinados de determinado escalão de comando da hhiieerraarrqquuiiaammiilliittaarr, garantem um instrumento de combate que pode ser acionado como um todo, mantendo-se ssóólliiddoo, ccoonnffiiáávveell e iinnddiissssoocciiáávveell.

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ação violenta organizada que executa uma vontade superior indiscutível, sempre preservada, traduzida e mantida com práticas e rotinas pertinentes, coerentes e concorrentes.

O vigor da estrutura militar de guerra reside nessa conjunção de ccoommaannddaann--

tteess mmiilliittaarreess escalonados verticalmente e voltados com devotamento absoluto para a execução e conclusão de uma mesma penosa façanha.

555 ––– OOO eeeqqquuuiiilllíííbbbrrriiiooo nnnooo tttrrriiiââânnnggguuulllooo dddaaa aaauuutttooorrriiidddaaadddeee mmmiiillliiitttaaarrr O triângulo equilátero invertido (ilustração 7, página 18, e Ilustração 12, abaixo) sugere

a lógica de uma relação de equilíbrio na ação/reação do processo de liderança, bus-cando compensar qualificações, aptidões e o exercício tempestivo de coerção para assegurar o correto comportamento do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr que aciona a força em questão; só assim ele obterá a aauuttoorriiddaaddee rreessuullttaannttee conveniente às suas responsa-bilidades dentro do processo dinâmico do escalão de comando que integra pela hhiiee--rraarrqquuiiaa mmiilliittaarr que o compreende. Há, sempre, pela existência de qualidades ou de-feitos humanos ou profissionais no líder de um aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo o perigo de defor-mações nesse equilíbrio e, no caso de um aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee, mesmo para um ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr cujo eennqquuaaddrraammeennttoo o submete ao acompanhamento permanente do comandante superior. São três referências perturbadoras da relação de aauuttoorriiddaaddee para cada ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr, determinantes de desequilíbrios no comportamento de liderança e no efeito dele: oo vvéérrttiiccee ccooaattoorr,, oo vvéérrttiiccee rreeccooggnniittiivvoo ee oo vvéérrttiiccee ppeerrssuuaassoorr.

Persuasão deficiente, por exemplo, poderá ser compensada na recognição do preparo do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr para o exercício do comando face ao inimigo. Menos reconhecido esse preparo, o ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr tentará persuadir seus combatentes em situações mais complexas. Inibido para punir ou, simplesmente, exigir, terá de ser acatado e, certamente, irá aprender a dosagem correta e oportuna de coerção. Exagerado, com temperamento autoritário, terá de compreender a importância da aauuttoorriiddaaddee rreeccoonnhheecciiddaa ou ppeerrssuuaaddiiddaa...

Afastando-me, um pouco, do nível de generalidade que estabeleci para esse tex-to, farei uma digressão para tentar elucidar a matéria em foco.

No universo castrense o ccaarriissmmaa, consciente ou inconscientemente, pode provo-car deformações graves na aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr de um ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr que apre-

Ilustração 12 - O comandante militar, seu triângulo de autori-dade e seus desafios de equilíbrio.

autoridadeautoridadepersuadidapersuadida

(( vvéérticerticepersuasorpersuasor))

autoridadeimposta

( vértice coator)

autoridadeautoridadereconhecidareconhecida(( vvéérticerticerecognitivorecognitivo))

autoridade autoridade autoridade militarmilitarmilitar

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sente ênfase deformadora nas setas coloridas da Ilustração 5 (página 13) ou facilitar sobremaneira seu desempenho quando houver equilíbrio no triângulo. Entendo o ccaarriissmmaa como uma espécie de dote natural da personalidade amoldado ao conjunto inato de qualidades, habilidades ou, mesmo, de características físicas que envol-vem, seduzem e fazem com que um ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr desperte, de imediato, a aprovação e a simpatia de seus subordinados. Encarando apenas um dos aspectos que contribuem para o ccaarriissmm

l

aa, talvez o de menor importância, mas certamente o de mais fácil compreensão, relembro uma expressão francesa, “le physique du rôle” – “o físico (compleição física) do papel (da função)”, as características físicas apropriadas à função, à atividade profissional – para fazer algumas indagações instigantes:

Qual seria o “physique du rôle” para o maestro de uma grande orquestra sinfônica: alto? Esguio? Vestindo uma impecável casaca preta de abas es-tabanadas? Com uma vasta e esvoaçante cabeleira? Nariz aquilino afila-do? Grandes e ágeis olhos de expressão enérgica? Se esse for, de fato, o “physique du rôle” para a expectativa de um grande regente, que efeito i-mediato provocaria no auditório a figura desconhecida de um hominho bai-xo... gordo... calvo... lento, suarento e desleixado, ao empunhar a batuta e assomar o estrado do regente? Ou de uma mulher?

E o comandante militar de um batalhão de infantaria, qual seria seu “physique du rôle”? Pálido, esquálido, com um registro vocal em falsete, cabisbaixo, com o equipamento desajustado como se portasse objetos es-tranhos à sua natureza, uniforme jegue, gago, com um tique nervoso que o faz piscar os olhos acompanhado de um trejeito ridículo nos músculos da face, olhar tímido que foge do interlocutor, antipático... Ou saudável, sólido, desempenado, registro vocal forte e másculo, equipamento ajustado como algo natural, quase orgânico, olhar firme, catadura enérgica que encara o interlocutor, mas não o agride, simpático.

Ficaríamos surpresos se o tal gordinho desleixado e calvo se revelasse um gênio ao reger uma grande orquestra sinfônica e certamente perplexos ao reconhecer o caricato comandante como um grande ll ííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee.

O que parece inquestionável é que sem o “physique du rôle” um ccoommaannddaannttee mmiillii--ttaarr desconhecido terá maiores dificuldades para ser reconhecido como chefe ou líder e que esses atributos meramente físicos são capazes de criar uma atitude inicial-mente favorável para o exercício do comando. Essas expectativas pré-fantasiadas estão ligadas a estereótipos que se fixaram no imaginário das plateias e admirado-res da música clássica, para o esguio maestro de cabeleira esvoaçante, ou no ima-ginário dos combatentes do mundo inteiro, para um guapo e valente lll ííídddeeerrr dddeee cccooommm---bbbaaattteee.

O candidato político a cargo executivo, antes de ser eleito, exercitará nas duras jornadas de campanha sua capacidade suasória para convencer os eleitores e rece-ber em troca o apoio e a adesão deles; exibirá, concomitantemente, suas qualifica-ções para o posto que almeja a fim de ser reconhecido como capacitado para tal pretensão. Se conquistar o eleitorado e for eleito receberá o poder que completará o triângulo e permitirá o dimensionamento de sua aauuttoorriiddaaddee rreessuullttaannttee. O “marketing” político que se socorre de tecnologia moderna sem regras e sem controle, pelo ludí-brio dos eleitores, deforma e desacredita esse processo natural fundamental para o

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exercício da democracia27. A consideração da ppeerrssoonnaalliiddaaddee como “o conjunto de aspectos psíquicos que, tomados como uma unidade, distinguem uma pessoa, es-pecialmente os que diretamente se relacionam com valores sociais” 28 e do mmiittoo co-mo estereótipo firmado no imaginário coletivo sobre o valor de um chefe ou líder, que transcendem padrões comuns, tanto no candidato político como no militar no-meado, favorecerão ou, ao contrário, dificultarão seus desempenhos (alguns mitos mili-tares modernos surgidos e firmados em guerras mundiais: Rommel? Paton? MacArthur? Montgo-mery?; e entre nós, no século XIX: Osório? Caxias? Bolívar? San Martin?).

O ccaarriissmmaa pode ser identificado tanto em líderes introversos e silenciosos (o coro-nel Bramble, personagem de André Maurois) como, ao contrário, em líderes extrovertidos, falastrões inveterados ou burlescos histriões (Leonel Brizola? Benito Mussolini? Jânio Qua-dros? Fidel Castro?). Em contrapartida no reconhecimento das habilitações de um llííddeerr (aauuttoorriiddaaddee rreeccoonnhheecciiddaa), no seu empenho de persuasor bem sucedido (aauuttoorriiddaaddee ppeerrssuuaaddiiddaa) ou na pressão coersiva que exerce sobre seus subordinados (aauuttoorriiddaa--ddee iimmppoossttaa), o ccaarriissmmaa pode provocar desfigurações notáveis. O llííddeerr carismático autocrático apresenta deformações perigosas no exercício da coerção gerando faná-tica submissão e medo acachapante entre seus liderados (Adolf Hitler?); o llííddeerr caris-mático persuasor apresenta exageros na sua capacidade de convencimento geran-do facciosismo “esclarecido” entre seus liderados (Vladimir Uliânov “Lênin”? alguns pasto-res das igrejas evangélicas?); o llííddeerr carismático erudito, pela admiração superlativa de suas qualificações, gera sectarismo automático entre seus liderados (Jânio Quadros?).

As exagerações que embuti nessas três circunstâncias servem para forçar a ca-racterização.

666 ––– AAA cccaaadddeeeiiiaaa d ddeee cccooommmaaannndddooo A ddeecciissããoo mmiilliittaarr é o epílogo de um processo pessoal/funcional que subentende a

intelecção de uma situação - inferência mediata da mmiissssããoo mmiilliittaarr recebida do esca-lão superior -, a avaliação da necessidade de intervenção e, quando julgada oportu-na, a formulação dessa intervenção com a participação dos elementos subordinados que conformam o aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee considerado; a qualidade e a tempesti-vidade do ato decisório revelam o valor e a consciência profissional do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr que decide exercitando sua grande responsabilidade de comando. Essa for-mulação de interferência se expressa na mmiissssããoo mmiilliittaarr para seus escalões subordi-nados, como algo tangível, perceptível e avaliável capaz de despertar a rreessppoonnssaabbii--lliiddaaddee mmiilliittaarr em quem a recebe por definir o objeto e a orientação do acionamento que a motivou. A rreessppoonnssaabbiilliiddaaddee mmiilliittaarr assim despertada, afinal, é o sseennttiimmeenn--ttoo ético profissional na consciência de um Soldado – fundamental para dar efetivida-de operacional à hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr -, quando este reconhece para si determinada incumbência - aa mmiissssãã

oo -, identifica o superior hierárquico ou o dispositivo legal que a definiu, aceita sua realização como sendo um encargo pessoal/funcional, sente-se

197 Esse é um problema que não está sendo considerado pelas grandes democracias do mundo e que, com as deformações que acarreta, cada vez mais visíveis, provoca um processo de descrédito que aumenta as chances de aventureiros sem qualificações. 28 Definição do Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, (1.0).

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com capacidade de realizá-la e determinado a concluí-la tempestivamente com su-cesso29.

A aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr do comandante de um agrupamento de combate (a partir deste ponto, com intuito simplificador, dispensarei o adjetivo “resultante” para expressá-la) só terá senti-do em um contexto de acato irrestrito à orientação matriz da missão que o aciona e de proteção dos interesses coletivos no universo de seu comando. Com a hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr e o eessttaaddoo ddiisscciipplliinnaarr em bom nível, ficam preservadas as características de ssoolliiddeezz, de ccoonnffiiaabbiilliiddaaddee e de iinnddiissssoocciiaabbiilliiddaaddee da força de combate em questão, surgidas de uma boa preparação (instrução militar, qualificação individual e adestramento). Não encontraria justificativa fora dessa motivação. O desvio desse enfoque tende a provocar o enfraquecimento dos ssuuppoorrtteess ppssiiccoollóóggiiccooss ccoolleettiivvooss, a perda de unida-de, a indisciplina, a inconfiabilidade de seu comando e o esfacelamento do espírito coletivo pelo entorpecimento de vvaalloorreess militares.

Um desastre para uma força de combate.

A propósito dessas considerações, recordo o sinistro voo da “fortaleza-voadora” B-29 transportando a primeira ogiva nuclear contra alvo humano para ser lançada sobre a cidade de Hiroshima. Essa ação foi perpetrada por um diminuto grupo de militares como o ato final da febril atividade de um complexo secreto de pesquisa, testes e fabricação. Os protagonistas transformaram-se compulsoriamente em es-pectrais executantes de um ccrriimmee ccoonnttrraa aa HHuummaanniiddaaddee, em sua trágica missão de seis de agosto de 1945, clímax do projeto “Manhattan” (ccrriimmeess ccoonnttrraa aa HHuummaanniiddaaddee são delitos reconhecidos internacionalmente como praticados contra a espécie hu-mana tais como o extermínio, as deportações, o genocídio, o terrorismo - bombar-deios estratégicos de cidades? emprego de armas de destruição em massa? devas-tações ecológicas? Percebemos que esse conceito precisa ser mais bem definido e estendido na jurisprudência internacional). Os tripulantes daquela aeronave, todavia, não precisariam pertencer às forças armadas, mas, pode-se argumentar, quem os substituiria? Embora a instituição das Armas norte-americanas não tivesse participa-do como tal na decisão e na execução da agressão que se perpetrava. Hoje, entre-tanto, os arsenais e os botões nucleares estão entregues aos Soldados dos países que os possuem e isso põe uma grande questão ética que precisa ser discutida re-tomando a realidade social militar dentro de oorrggaanniizzaaççõõeess ddee ccoommbbaattee como alertei anteriormente, origem dos valores castrenses. Muito embora a decisão de emprego permaneça com o Estado, como de resto o próprio emprego da força militar. A ddiissccii--pplliinnaa mmiilliittaarr vista como servidão, estúpida e reflexa fora dessa ambiência profissional e Soldados a ela reduzidos sob a ameaça das sanções previstas nos regulamentos disciplinares e nos códigos penais militares, forçados a abandonar seus valores na-turais, deve ser um conflito ultrapassado. É o lamento de De Vigni que não deve prosperar no século XXI30. Ninguém pode cometer ignobilidades em nome e ao ape-lo da honradez e da salvação da pátria porque, então, tudo já estaria perdido e a própria pátria aviltada; a ddiisscciipplliinnaa mmiilliittaarr deve ser uma atitude de obediência cons-ciente e inteligente para criar um instrumento de guerra qquuee mmaanntteennhhaa,, eessssee éé oo

29 Essa matéria é abordada no Livro 3, “A imitação do combate”, item “Sobre o senso militar de res-ponsabilidade”. 30 "Servidão e grandeza militares" - Alfred De Vigny - Biblioteca do Exército Editora/1975.

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ppoonnttoo ccrruucciiaall,, ooss vvaalloorreess mmoorraaiiss ddaa ssoocciieeddaaddee ppaarraa aa qquuaall eexxiissttee eemm nnoommee ddaa qquuaall ssee eessttáá ccoommbbaatteennddoo.

TTeerrrroorriissmmoo (11) é um apelo político de ação violenta desesperada, que agride a moral e a ética vigentes em Estados sedentários31 por perpetrar ccrriimmeess ccoonnttrraa aa HHuummaanniiddaaddee e cujo propósito final é contrapor-se em vantagem, por esse atalho espúrio, aos eessqquueemmaass ddee ppooddeerr tradicionais quando esses esquemas - segundo os promotores do terror -, submetem minorias ou asfixiam causas sociopolíticas que dizem representar.

TTeerrrroorriissmmoo (22), em outra acepção, referindo-se à responsabilidade de Estados e dito “institucional”, caracteriza-se pela pressão imoral e aética do Estado, ao e-xercitar o autoritarismo extremo, com desrespeito aos direitos humanos e domínio sobre a vida e a morte das pessoas com a ameaça ou a prática de ccrriimmeess ccoonnttrraa aa HHuummaanniiddaaddee, para submetê-las pelo medo sufocante e paralisante que se estende às comunidades e, na expressão mais ampla, por toda a sociedade nacional sob sua jurisdição ou em relação a seus iinniimmiiggooss externos.

Não seriam expressões do ttteeerrrrrrooorrr iiisssmmmooo, as vitórias militares a qualquer preço? O singelo cálculo aritmético de baixas nacionais poupadas em detrimento do cuidado para que a ação militar não tresande o miasma da violência pura e imoral?

O comportamento nazista dentro da Alemanha, a agressão alemã a Londres em 1941/1942, o revide Aliado sobre cidades alemãs e aquela sinistra aventura sobre Hiroshima e Nagasaki, além de caracterizarem ccrriimmeess ccoonnttrraa aa HHuummaanniiddaaddee, aponta-ram uma escalada perigosa para o futuro dos Soldados profissionais. A instituição das Armas norte-americanas, como tal, não participou do projeto “Manhattan” e é preciso que se reconheça esse fato histórico. Provavelmente para manter o grave segredo de uma gravíssima decisão. OOss ppoollííttiiccooss ddee uummaa ppoottêênncciiaa hheeggeemmôônniiccaa sseemmpprree ssee jjuullggaarrããoo ddoonnooss ddaa mmoorraall ee ddaa ééttiiccaa uunniivveerrssaaiiss ee,, eemm nnoommee ddee sseeuuss pprrooppóó--ssiittooss,, eennccoonnttrraarrããoo jjuussttiiffiiccaattiivvaass ppaarraa ooss aattooss qquuee ooss ppeerrppeettrraarreemm. Os desvios anterio-res, no entanto, contaram com o envolvimento direto dos Soldados e aa ccoonnttiinnuuiiddaaddee ddeessssee cciirrccuuiittoo ddee ppeerrddaass ooss eessttaarriiaa eennccaammiinnhhaannddoo ppaarraa aa aacceeiittaaççããoo ddaa iiddeeiiaa ee ddaass pprrááttiiccaass tteerrrroorriissttaass.

Esse dilema, portanto, abarca o emprego de meios de combate ou instrumentos letais contra alvos militares ou fora do interesse técnico militar direto das forças em operações. A destruição daquelas duas cidades japonesas deve ter surpreendido os comandantes militares do Pacífico, japoneses e norte-americanos. O debute dessa agressão genocida e seu resultado quase instantâneo para a rendição do Japão a-profundou uma insólita confusão de vvaalloorree

ss entre os Soldados, iniciada, como vi-mos, na Europa pelos nazistas e assumida pelos Aliados no revide até o colapso final de Hitler. O General MacArthur na Guerra da Coreia (1952), um dos possíveis surpreendidos no 6 de agosto de 1945, todavia, foi exonerado pelo Presidente Tru-man por não aceitar a limitação de recursos militares para conclusão daquele con-fronto assumido pela ONU. Os chineses ajudavam a Coreia do Norte como “unida-des voluntárias” e, na visão da estratégia operacional do general, a fronteira do Rio Yalu, ao norte, teria de ser ultrapassada para desarticular o auxílio chinês. Os Esta-dos Unidos, uma grande e indiscutível potência vitoriosa da Segunda Guerra Mundi-al, entretanto, temiam mexer em casa de marimbondo com Rússia e a China já po-tências nucleares.

31 Sugiro a leitura complementar 5, “A lógica sedentária e o terrorismo internacional” do Livro 3 “A imitação do combate”.

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Os políticos, portanto, àquela altura tinham assumido a responsabilidade pela de-cisão do recurso nuclear. Seguiu-se a estratégia do medo no longo período de Guer-ra Fria. Soldados fora, mas sempre com possíveis executantes de decisões insensa-tas. No encerramento do longo conflito com o Vietnam, novamente, os Estados Uni-dos, pela pressão interna nacional, aceitaram a “derrota” sem cogitar sequer da a-meaça de emprego de seus avassaladores recursos bélicos, nucleares e não-nucleares, ainda que tenham ensaiado devastações com napalm32. Os superiores hierárquicos em quaisquer níveis, ao darem ordens, devem ter em mente essa evo-lução: aarrmmaass oouu rreeccuurrssooss ddee ttooddaa aa oorrddeemm ccaappaazzeess ddee ccrriiaarr ttrraaggééddiiaass qquuee ccoonnffiigguu--rreemm ccrriimmeess ccoonnttrraa aa HHuummaanniiddaaddee nnããoo ppooddeemm sseerr eemmpprreeggaaddaass eemm aallvvooss mmiilliittaarreess oouu,, pprriinncciippaallmmeennttee,, eemm aallvvooss ffoorraa ddoo iinntteerreessssee ddiirreettoo ddaass ooppeerraaççõõeess mmiilliittaarreess eemm ccuurrssoo. Particularmente aqueles que o fizerem com o respaldo em cargos ou funções fora das estruturas de confronto direto com o inimigo: as aauuttoorriiddaaddeess mmiilliittaarreess “sem co-mando direto sobre agrupamentos de combate”...

A decisão sobre Hiroshima e Nagasaki foi política? Os Soldados precisam ficar afastados dessas decisões e atentos a seus vvaalloorreess. O apelo ao ccrriimmee ccoonnttrraa aa HHuu--mmaanniiddaaddee, uma vez entregue à clara responsabilidade dos llííddeerreess políticos provoca-rá, como resultado, o abandono consensual desse recurso espúrio executado por simples ordens e pressionamento de botões. Ao aceitarem o “trabalho” sujo, todavia, dariam o respaldo que necessitam para perpetraram a barbárie travestida de recurso legítimo... Essa delicada tese não pode dar guarida à ingenuidade ou a esperanças absurdas. As batalhas terrestres, navais ou aéreas compreendem privações parale-las, dramas paisanos e tragédias. Os cidadãos não beligerantes de uma nação en-volvida pela guerra participam conscientemente do esforço material e psicológico para que suas forças armadas obtenham a vitória militar. Quando a guerra se de-senvolve em seu próprio território, pagam um pesado tributo. A Batalha de Stalin-grado (hoje Volgogrado) iniciada em junho de 1942 é um exemplo clássico que mostra a necessidade de se estabelecer uma fronteira jurídica entre esses martírios ima-nentes à guerra e os ccrriimmeess ddee gguueerrrraa (delitos identificados como violações das leis da guerra firmadas em tratados e convenções) e entre estes e os ccrriimmeess ccoonnttrraa aa HHuummaanniiddaaddee (ex-termínio, deportações, genocídio, terrorismo). A destruição de cidades no decurso de uma campanha militar apresenta-se como um evento especial, respaldado por interesse militar direto aceito pelos beligerantes que as atacam ou que as defendem e deve ser entendido dentro das circunstâncias de cada conflito. Fora delas será apelo ter-rorista e do destrambelho de valores que tiram do confronto militar sua essência an-cestral – ou, podemos dizer -, ssuuaa ddeeccêênncciiaa ééttiiccaa. Sem cedermos à romântica inge-nuidade do de cavaleiros medievais. EEiiss,, ppoorrttaannttoo,, uummaa ddiissccuussssããoo aattuuaallííssssiimmaa ee nnee--cceessssáárriiaa eennttrree SSoollddaaddooss ee ppoollííttiiccooss ddeessttee nnoovvoo ssééccuulloo.

As operações de guerra no Iraque e os fatos envolvendo ambos os lados, con-quistadores e conquistados, mostram essa tendência que o terrorismo gera entre combatentes regulares. A compulsão ou a dúvida sobre o envolvimento de forças armadas no combate direto ao terrorismo por forças militares está criando uma nova fronteira de conspurcação para os Soldados. Trata-se de uma tendência que já pro-voca a dispensa ou a desatenção para o exalçamento de vvaalloorreess pprrooffiissssiioonnaaiiss mmiilliittaa--rree

ss que refletem a nação, permitindo a contratação de “serviços” privados: uma em-

32 Conjunto de líquidos inflamáveis à base de ácidos naftênico e palmítico, origem da sigla, posto fora de uso por convenção da ONU em 1980.

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presa norte-americana, a “Blackwater – Worldwide”, entre outras, está fazendo con-tratos com governos e para interessados do mundo inteiro, inclusive forças regula-res, de serviços de segurança armada, de apoio logístico de combate e de opera-ções especializadas com forças mercenárias contra o terrorismo. Empregam tecno-logia de ponta e armamentos sofisticados.33

É justamente neste contexto intensamente ético militar que devemos compreen-

der a ccaaddeeiiaa ddee ccoommaannddoo – uma conjunção de ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess como aauuttoorriiddaaddeess mmiilliittaarreess escalonadas verticalmente, voltada para uma tarefa matriz irretorquível de acionamento e de coordenação para a execução de missão tática ou de manobra estratégica militar, em todos os eessccaallõõeess ddee ccoommaannddoo dos envolvidos, com responsabilidades definidas para o resultado que advirá de três esforços: dddeee aaagggrrruuupppaaaçççãããooo, dddeee cccooonnncccooorrrrrrêêênnnccciiiaaa e dddeee cccooonnnvvveeerrrgggêêênnnccciiiaaa dddeee eeefffeeeiii tttooosss (Ilustração 13). A garantia de sucesso na aaççããoo mmiilliittaarr reside no pleno exercício da aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr, do bom eessttaaddoo ddiisscciipplliinnaarr e da hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr. A dinâmica desse processo, devido à importância capital de seus resultados, deve estar protegida por vvaalloorreess ddee hhhooonnnrrraaa mmmiiillliiitttaaarrr, ou seja, por aasssseennttiimmeennttooss incorporados ao ccaarráátteerr iinnddiivvii--dduuaall dos Soldados que refletem, de forma mística exacerbada, a importância que cada um deles atribui aos ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess e aos fundamentos filosóficos relacio-nados com a compreensão da realidade social militar, definidores das qualidades morais, éticas e profissionais professadas coletivamente pelo aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoomm--bbaattee ao qual pertencem. (examine a Ilustração 14, adiante, para identificar a ccaaddeeiiaa ddee ccoommaann--ddoo).

AA mmoorraalliiddaaddee ddaa aaççããoo mmiilliittaarr eessttáá ssuujjeeiittaa,, ddee ffoorrmmaa iinneeqquuíívvooccaa ee iinnccoonntteessttáávveell àà mmoorraalliiddaaddee ddaa nnaaççããoo qquuee pprroommoovvee aa gguueerrrraa. Se o EEssttaaddoo--nnaaççãã

oo não se precaver contra esses desvios – aceitando-os ou promovendo-os -, estará transformando os Soldados, braços armados de sua ação política, em terroristas assaltantes, assassi-

33 “Blackwater – a ascensão do exército mercenário mais poderoso do mundo” – Jeremy Scahill, Companhia das Letras, 2008. Estão no Iraque e Afeganistão. Na América do Sul, contratam chilenos, colombianos e peruanos. O governo brasileiro, ao arrepio do Congresso, já autorizou a venda de supertucano da EMBRAER para a “Blackwater”; isso tem importância? Sim: Estado Brasileiro não está considerando a ética da ação militar e vende suas armas para quem as quiser comprar...

esforço de concorrência

esforço de concorrência

esforço de concorrência

esforço deconvergência

ação militar ofensiva

inimigo

e

esf

sforço de agrupação

orço de agrupação

fixação

reserva

manobra

Ilustração 13 - EEssqquueemmaa ggrrááffiiccoo ddaa aaççããoo ooffeennssiivvaa vviioolleennttaa oorrggaannii--zzaaddaa: preservação da organização de combate como um todo, para evitar o tresmalho (esforço de agrupação retângulo cinza), coorde-nação e manutenção de concomitância nas ações, para permitir a manobra (esforço de concorrência três setas coloridas) e obtenção da convergência de efeitos sobre o inimigo para a vitória das Armas (esforço de convergência grande seta azul-negra). Na ação defensi-va os esforços são semelhantes.

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nos e genocidas34. A corrida insensata das armas de destruição máxima caracteri-zou o confronto militar da Segunda Guerra Mundial. Hoje em dia, o terrorismo inter-nacional e o envolvimento dos Soldados em seu confronto direto assinalam, sem dúvida, um abominável alçapão para o abastardamento das forças armadas, sem glória e sem retorno. Além da perda de ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess (página 24).

O ccuullttoo ddaa ggllóórriiaa mmiilliittaarr (um dos ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess que seria afetado) é o ssuuppoorrttee ppssiiccoollóóggiiccoo ccoolleettiivvoo criado pelo sseennttiimmeennttoo ccoolleettiivvoo de emulação com o passado militar de uma força armada, que deriva da consciência grupal para o sacrifício em nome dos vvaalloorreess da organização militar, confirmada por feitos heroicos praticados pelas suas Armas ou, individualmente, por seus integrantes, orgulhosamente re-conhecidos como passíveis de serem repetidos no futuro.

Esse ccuullttoo ddaa ggllóórriiaa mmiilliittaarr representa, portanto, o zelo por uma memória ativa e influente de vvaalloorreess mmiilliittaarreess e de hhhooonnnrrraaa mmmiii lll iii tttaaarrr. Além disso, para as democracias que se expandem pelo mundo dito civilizado, um intento importante, orientador des-ses vvaalloorreess mmiilliittaarreess pprrooffiissssiioonnaaiiss, é o discernimento ético de que “bboomm ppaarraa nnóóss nnããoo éé aappeennaass eessccoollhheerr lliivvrreemmeennttee,, mmaass eessccoollhheerr lliivvrreemmeennttee oo qquuee éé bboo

mm”35.

34 Os Estados totalitários estão mais próximos desses desvios; a existência de instituições de segu-rança protegidas por sigilo, embora necessárias mesmo nos Estados democráticos, pode permitir o desenvolvimento de atividades autônomas pautadas por valores próprios: bbaassttaa qquuee ssee llhheess eexxiijjaa rreessuullttaaddooss sseemm oo aaccoommppaannhhaammeennttoo ddooss rreessppeeccttiivvooss mmééttooddooss ee pprroocceessssooss. 35 Afonso Gomez-Lobo em “Morality and the human goods” (Ryan Professor of Metaphysic and Moral Philosophy, Georgetown University, USA).

Ilustração 14 – Identifique os escalões de comando (linhas pontilhadas coloridas) que defi-nem níveis hierárquicos e as cadeias de comando (cada sequência contínua de setas brancas) que ligam o comandante superior aos comandantes de níveis subjacentes no âmbito de uma organização de combate aqui simplificada por uma estrutura ternária.

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“A FASCINANTE GESTÃO DE UM ESPÍRITO” um sistema de liderança militar

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777 ––– DDDuuuaaasss fffuuunnnçççõõõeeesss,,, dddoooiiisss eeesssfffooorrrçççooosss eee uuummm sssóóó ppprrrooopppóóósssiiitttooo “CCoommaannddaannttee//llííddeerr” é uma expressão criada para a trilogia “O espírito combaten-

te”, aparentemente redundante, apenas para enfatizar, nos três textos paradidáticos que a compõem, essa dupla função do Soldado de mais alto posto – o mais antigo nesse posto - ou mais graduado – o mais antigo nessa graduação -, de uma oorrggaannii--zzaaççããoo ddee ccoommbbaattee onde é ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr por força dessa antiguidade ou por nomeação, como efetivo nessa investidura; normalmente, neste último caso, co-mandantes de unidades, de grandes unidades e de grandes comandos. Nas subuni-dades e nas pequenas frações, pela necessidade de flexibilidade para atender às variações e mudanças das rotinas administrativas ou, com maiores razões, sob fogo, esses comandos militares são preenchidos automática e rapidamente.

A expressão ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr refere-se: primeiro (1), ao chefe militar que ele deve ser, isto é, aquele que exerce a aaççããoo ddee ccoommaannddoo (página 18), dentro do proces-so dessa atividade no escalonamento hierárquico que o enquadra, para dirigir o em-prego do seu agrupamento como força de combate; segundo (2), ao lll ííídddeeerrr dddeee cccooommm---bbbaaattteee que também deve ser, quero dizer, aquele que exerce a lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr no mesmo escalonamento hierárquico que o enquadra, para desenvolver e manter a energia positiva do ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr no seu aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee, do mmoorraall e da vvoonnttaaddee ccoolleettiivvaa da força para a ação que irá empreender.

A liderança militar, sob fogo ou nas atividades de preparação da força terrestre, é a função do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr que o define, pois, como lll ííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee no ssiiss--tteemmaa ddee lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr.

O ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr precisa ser um llííddeerr, o que significa em termos práticos, um condutor de seus comandados, mantendo-os com vvaalloorreess ccoolleettiivvooss definidos e bem inculcados, com o ânimo forte e com vvoonnttaaddee ccoolleettiivvaa determinada e irreversível pa-ra a ação em vista. Um bom llííddeerr ddee ccoommbbaattee deve ser, também, um competente chefe (ccaabboo--ddee--gguueerrrraa), conhecedor de seu mister e com autoridade para exercê-lo. A boa lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr serve ao pleno exercício profissional na preparação, na ma-nutenção dos padrões de excelência e no emprego da força como instrumento de guerra.

Por que?

Sete conceitos formulados para a trilogia “O espírito combatente”, poderão instruir uma resposta a essa indagação:

CCaammaarraaddaa ddee AArrmmaass é uma expressão de referência genérica a militar perten-cente a uma força singular em relação aos restantes militares da mesma força, como indivíduos ou coletividade, independente de posicionamento hierárquico, ou seja, os superiores, os subordinados e os companheiros de idêntico patamar hie-rárquico;

CCaappaacciittaaççããoo ooppeerraacciioonnaall é a situação de uma força de combate definida pelo seu valor como agrupamento de guerra, desde o nníívveell bbáássiiccoo ddee ooppeerraacciioonnaalliiddaaddee até a existência efetiva do ppooddeerr ddee ccoommbbaattee;

EEffiicciiêênncciiaa ooppeerraacciioonnaall é a capacidade técnico-administrativa da organização militar para desempenhar, com eficiência, as atividades e ações correspondentes às missões que lhe são atribuídas em quadro de organização, dinamizando os re-cursos materiais e humanos que definem o seu grau de operacionalidade;

NNíívveell bbáássiiccoo ddee ooppeerraacciioonnaalliiddaaddee define uma situação limite entre a opera-cionalidade e a perda da operacionalidade, isto é, o limite abaixo do qual uma for-ça de combate perde sua oorrggaanniicciiddaaddee ooppeerraacciioonnaall;

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O

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Orrggaanniicciiddaaddee ooppeerraacciioonnaall da força de combate é uma expressão que define uma qualidade dessa força por manter assegurado o funcionamento de seus ssiiss--tteemmaass oorrggâânniiccooss eesssseenncciiaaiiss;

PPooddeerr ddee ccoommbbaattee é a definição mais elevada da ccaappaacciittaaççããoo ooppeerraacciioonnaall pa-ra um agrupamento de guerra, representando sua qualificação global para desen-volver o combate e expressando a eficácia que se lhe deve exigir para opor-se a determinado iinniimmiiggoo; resulta de um nível de eeffiicciiêênncciiaa ooppeerraacciioonnaall com preparação completa e de dois fatores, (1) o valor profissional do seu lll ííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee e (2) a densidade de seu eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee;

SSiisstteemmaass oorrggâânniiccooss eesssseenncciiaaiiss são sistemas característicos das organiza-ções militares de guerra que conformam um conjunto integrado e harmônico, cada um deles voltado para determinado propósito operacional - seja para conduzir o combate, seja para apoiá-lo (exemplos: s. de comando, s. de suprimentos, s. de comunicações, s. de armas, s. de evacuação e hospitalização, s. de informações de combate, s. de transporte, s. de recompletamento, s. de manutenção, s. de i-dentificação e sepultamento, etc.).

Porque... O combatente individualmente habi-

litado e entrosado com seus ccaammaarraa--ddaass ddee AArrmmaass nas técnicas e táticas coletivas do aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee que integram deve ser, também, uumm ccoommbbaatteennttee aanniimmaaddoo incluindo-se em uummaa ffoorrççaa ddee gguueerrrraa iigguuaallmmeennttee mmoottiivvaaddaa para suas pesadas tarefas de risco. O preparo técnico e tático desses homens e de seus conjuntos operacionais é obtido pela iinnssttrruuççããoo mmiilliittaarr (Ilustração 15, ao lado), uma das três atividades essenciais do cciirrccuuiittoo--ffiimm3636 voltada para o ensino profissio-nal eminentemente prático que os qualifica para as funções individuais e adestra os diversos aaggrruuppaammeennttooss ao nível adequado de ccaappaacciittaaççããoo ooppeerraacciioonnaall.

Da necessidade de “animação” e de “motivação”, todavia, decorre outro esforço concomitante e contínuo, também sob a responsabilidade dos ccoommaannddaanntteess mmiilliittaa--rreess ee ddee cujo sucesso dependerá o bom ou o mau efeito de uma lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr.

Um ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr tem, portanto, duas funções que o obrigam a exercer dois esforços simultâneos com um só propósito: o bboomm ddeesseemmppeennhhoo – digamos físico e de “estado de espírito” - de seu agrupamento nos treinamentos coletivos (iimmiittaaççããoo ddoo ccoommbbaattee) ou, se for necessário, sob fogo ou pressão de iinniimmiiggoo. A trilogia “O espírito combatente”, como já afirmei, trata principalmente das atividades de lliiddeerraann--ççaa mmiilliittaarr sugerindo no seu Livro 1 um método, definindo no Livro 2 os vvaalloorree

ss em questão nos processos psicossociais correspondentes e analisando no Livro 3 as vicissitudes desses processos, que devem ser identificadas, anuladas ou revertidas.

36 O ppllaanneejjaammeennttoo ooppeerraacciioonnaall ddee eemmpprreeggoo, o ddeesseennvvoollvviimmeennttoo ddaa ddoouuttrriinnaa e a iinnssttrruuççããoo mmiilliittaarr (um assunto abordado no Livro 3, no item “Sobre a atividade/fim”.

Ilustração 15 – O inter-relacionamento e a interdependência lógica das três atividades do circuito/fim.

CIRCUITO/FIM

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888 ––– EEEqqquuuííívvvooocccooo rrreeecccooorrrrrreeennnttteee MMííssttiiccaa mmiilliittaarr, um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess, como ssuuppoorrttee ppssiiccoollóóggiiccoo ccoolleettii--

vvoo, é a densa aattiittuuddee de altivez, defesa e devotamento aos vvaalloorreess emblemáticos da organização militar e ao seu papel institucional, manifestada e demonstrada por ca-da um de seus integrantes em todas as suas atividades profissionais. Sendo uma aattiittuuddee, pode ser entendida como um traço psicológico grupal que caracteriza uma disposição coletiva previsível em um aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo, favorável ou desfavorá-vel em face de objetos sociais ou situações sociais de conflito. A mmííssttiiccaa mmiilliittaarr é, pois, uma aattiittuuddee positiva que exerce influência sobre o mmoorraall ddaa ttrrooppaa e provoca uma reação de respeito a todos quantos a possam identificar de fora.

Já a mmííssttiiccaa ddoo ccoommaannddoo, como um culto específico entre Soldados, é uma aattii--ttuuddee de respeito acendrado inspirado e estimulado pela dignidade da investidura de ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr que representa legitimamente a aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr. É preservada com seriedade e carinho pelas instituições militares do mundo inteiro. Todo o profis-sional das Armas com formação para o oficialato ou para os quadros subalternos, absorve, desde suas primeiras experiências na caserna e envolvimento com rotinas castrenses, forte impressão com a atmosfera e a aura de admiração intensa dessa função e, de modo especial, em relação ao seu próprio comandante. Há, pela clara identificação da aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr na figura do comandante, um sseennttiimmeennttoo de que todos dele dependem e nele devem confiar. Embora comandantes de frações e de subunidades sejam igualmente comandantes militares na acepção deste ensaio, es-sa mística se refere com maior intensidade e envolvimento institucional aos coman-dantes de unidades, grandes unidades e grandes comandos – pelo ppooddeerr definido nos regulamentos disciplinares, pelas nomeações festejadas, solenidades de assun-ção e entrega de comando, toques de corneta ou de clarim identificadores e assina-ladores de presença, exórdios e bandas de música, continências, galerias de retra-tos, etc.. O comandante de unidade, todavia, pela proximidade física com a tropa é a figura que maior impressão causa entre seus comandados. Confirmando ou não confirmando as expectativas geradas pela mística. Ninguém os esquece.

Nas guerras o interesse midiático se fixa nos comandantes militares de grandes comandos. Dentro das forças militares de combate, entretanto, o interesse dos com-batentes está voltado para seus comandantes de unidades, de subunidades e de frações. Uma biografia profissional militar não pode dispensar o exercício do coman-do. Comandar é uma meta de carreira porque, sobretudo é um teste inexorável de valor militar para quem comanda pelo período logicamente plausível de uma nomea-ção. O mau comandante, como apreciação genérica, recebe uma espécie de aná-tema profissional se tiver desempenho ruim tornado público e oficial, particularmente em relação a crises e sua superação. É preciso que assim seja. Viver intensa e cor-retamente essa mística e encarar responsabilidades diuturnas de comando, portan-to, transforma-se em experiência memorável. A relevância que a instituição das Ar-mas dá ao ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr, ao seu desempenho e à preservação da aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr que recebeu como outorga ao ser nomeado, tem significado transcendente para uma força de combate porque sua valia operacional será dependente do valor profissional de seus comandantes. O primeiro comandante de tropa (unidade), sem-pre será referência muito nítida para jovens aspirantes a oficial ou recrutas. É im-possível esquecê-los. Os comandantes pretéritos balizam a vida profissional de cada Soldado.

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Nada obstante, ao examinarmos a dinâmica psicossocial de um aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee, como uma irreflexão, somos tentados a dar ao ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr impor-tância sociológica maior do que ao agrupamento de combatentes que comanda com a responsabilidade de prepará-lo e eventualmente empregá-lo como força capaz de aplicar a violência organizada em nome do Estado ao qual todos devem a existência e a atividade. Por ser um aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo “engendrado”, isto é, instituído jus-tamente por essa outorga administrativa de aauuttoorriiddaaddee - o ato que nomeia o coman-dante e cria a aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr - estabelece aparentemente um destaque ao nome-ado. A necessária mística do comando corrobora com esse equívoco de análise e apreciação. Na verdade e à luz da ssoocciioollooggiiaa mmiilliittaarr, aa rreeaalliiddaaddee ddee uumm ccoommaannddaann--ttee éé eexxpplliiccaaddaa ee jjuussttiiffiiccaaddaa ppeellaa nneecceessssiiddaaddee pprriimmííggeennaa ddee sseeuu ccoommaannddoo, isto é, de um singular aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo iinnssttiittuuííddoo,, iinnssttiittuucciioonnaall – uma força armada no seu limite nacional e em relação ao respectivo comandante em chefe. O ccoommaannddaann--ttee mmiilliittaarr em qualquer escalão é, de fato, uma consequência do seu agrupamento de guerra e não sua causa - assim deve ser considerado, como no processo espontâ-neo natural dos aaggrruuppaammeennttooss hhuummaannooss -, embora seja preservado com mística ca-racterística e receba a outorga administrativa de autoridade para dar sentido, natu-reza e valor aos combatentes que o integram (reexamine com atenção intelectiva o texto do grande destaque da página 10). Os Estados nacionais soberanos necessitam de um bra-ço armado para custodiar a infinitude da pátria. E esse braço, representando a razão e a essência dessa necessidade, deve ter um comandante em chefe e, pela imposi-ção da hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr, uma ccaaddeeiiaa ddee ccoommaannddoo adequada à sua estrutura.

No processo natural essa autoridade “aparece”, como vimos, como uma função coletiva espontânea (conceituação de Mucchielli, na página 7). O processo institucional é desencadeado pela outorga administrativa da aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr. Tanto lá como cá, o aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo é a meta primordial. A inversão dessa importância entre o aa--ggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee e seu ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr, bastante comum, provoca defor-mações graves de enfoque e suas sequelas. A mesma inversão equivocada identifi-caria a prevalência do llííddeerr político, chefe do Estado, sobre a sociedade nacional e seus vvaalloorreess ou de qualquer llííddeerr sobre o aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo que lhe deu exis-tência. Uma incongruência.

A correção dessa disposição errônea, em sentido invertido dos dois elementos fundamentais do aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee, o corpo de combatentes e seu ccoommaann--ddaannttee mmiilliittaarr, determinou minha preocupação principal ao definir a matéria e a epí-grafe do Livro 1 (“o método”) da trilogia “O espírito combatente”, “Eia, avante! – a energia dos agrupamentos humanos”:

“AAss ppeessssooaass ssããoo eesssseenncciiaaiiss,, mmaass oo ddeessaaffiioo ddoo llííddeerr éé ccoommpprreeeennddeerr

oo aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo qquuee lliiddeerraa ccoommoo uummaa eennttiiddaaddee pplluurraall,, ccoomm eessppíírriittoo pprróópprriioo,, ppaarraa ttrraattáá--lloo ee ccoonndduuzzii--lloo aassssiimm”

999 --- MMMuuudddaaannnçççaaa dddeee fffooocccooo Já vimos (página 21) que a aççããoo ddee ccoommaannddoo é o conjunto de atividades executivas

do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr de um aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee que abarca suas responsabi-lidades desde a preparação até o emprego dessa força ( o chefe), prevalecentes com ânimo adequado sob quaisquer circunstâncias ( o llííddeerr), com respaldo na aauuttoo--

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rriiddaaddee mmiilliittaarr de sua investidura, na dinamização da hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr que o enqua-dra e no pressuposto do bom eessttaaddoo ddiisscciipplliinnaarr (ddiisscciipplliinnaa mmiilliittaarr).

O processo e a estrutura decisória para preparar uma força, organizá-la e acioná-la como um instrumento que deve estar apto ao choque armado ou que, por circuns-tâncias especiais, fica obrigado a procurá-lo – a própria aaççããoo ddee ccoommaannddoo, portanto - mantêm em torno do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr, desde tempos imemoriais, certa disposição para ajudá-lo ressurtida do eessttaaddoo ddiisscciipplliinnaarr e da situação crítica de combate, assim como do envolvimento coletivo emocional com essa problemática: a luta, “à outran-ce”, pela vitória militar e pela sobrevivência do grupo e de cada um dos seus comba-tentes (“vencer ou morrer!” e “vencer sem morrer!”).37

Essa “disposição” a que aludi, nos níveis mais elevados da ccaaddeeiiaa ddee ccoommaannddoo,, se institucionalizou em estados-maiores orientados para a instrução do comandante sobre a realidade da crise que enfrenta ou do problema que deve solucionar, como também dos fatores intervenientes em ações contínuas e prolongadas, no tempo disponível e no espaço em que se desdobram. São estruturas, na pirâmide hierár-quica, de complexidade proporcional ao nível de abrangência do eessccaallããoo ddee ccoommaann--ddoo envolvido. Os estados-maiores de unidades ou de escalões superiores, pela complicação crescente do universo crítico abarcado e da contínua mutação das cir-cunstâncias que envolvem operações militares em uma zona de ação ou, no seu limite de continuidade geográfica, no teatro de operações, devem dominar até as minudências que de alguma forma interessarem as decisões do assessorado como ccaabboo--ddee--gguueerrrraa (Ilustração 9, página 21). O comandante não poderia ter esse domínio sem um acudimento competente, objetivo e contínuo. Nos níveis mais próximos do contato direto com os combatentes executantes, subunidades e pequenas frações, esse assessoramento existe, mas pela descomplicação de suas áreas de combate permaneceu espontâneo e intuitivo dispensando estruturas específicas.

O fluxo de informações para essa assessoria dentro de aaggrruuppaammeennttooss ddee ccoommbbaa--ttee com estados-maiores organizados, como uma seiva que os mantêm vivos e vigo-rosos, é franco, intenso e contínuo. A princípio, para a preparação da força de combate partindo de ordens que determinam planejamento, coordenação de todos os escalões de comando envolvidos e supervisão permanente. Subsequentemente, após o início das atividades de treinamento ou sob pressão de inimigo em opera-ções de guerra, reagindo a um fluxo de informações de acompanhamento, as inter-venções do escalão matriz se destinam à correção de desvios impostos pela consta-tação de deficiências na qualificação individual dos combatentes, de insuficiência no adestramento dos conjuntos operacionais envolvidos ou na reação do inimigo, para determinar e orientar, respectivamente, revisões e correções na instrução militar ou na conduta do combate, capazes de evitar o colapso ou estender o sucesso.

Já com referência à ggeessttããoo ddoo eessppíírriittoo ccoolleettiivvoo de um aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee (vvaalloorreess//ddiissppoossiiççããoo//rraazzõõeess//mmoottiivvaaççõõeess), entendido como uma alma grupal perma-nente, que o prepara para suportar as tensões do choque armado que se organiza ou está em curso de execução mantendo esse ânimo em bom nível a despeito das pressões e reações destruidoras provenientes do iinniimmiigg

oo, existem problemas. Para

37 “Os recursos tecnológicos para a guerra e a valorização da vida dos combatentes, sem dúvida, acarretarão problemas novos para a liderança militar. "Vencer sem morrer!", poderá ser um novo ideal guerreiro para este novo milênio” (assertiva retirada do Livro 2, “os valores”, “O caráter dos Solda-dos”, da trilogia “O espírito combatente”.

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identificá-los devemos olhar o ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr sob o prisma de ccoonndduuttoorr ddee hhoo--mmeennss (Ilustração 9, página 21), como um lll ííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee. Neste contexto dinâmico há uma tradicional deficiência que decorre do pressuposto e da sempiterna esperan-ça na existência do “bboomm sseennssoo”, da “iinnttuuiiççããoo pprrooffiissssiioonnaall” e, particularmente, do “ttaa--lleennttoo” entre os ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess. A ser correta a pressuposição teriam de apre-sentar sensibilidade especial e qualidades pessoais homogêneas e universais ine-rentes à própria investidura do comando...

Essa sensível gestão compreende três componentes essenciais, (1) a sustenta-ção dos vvaalloorreess ccoolleettiivvooss relacionados com o ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall dos combatentes, (2) a avaliação e a manutenção do bom eessttaaddoo ddoo mmoorraall ddaa ffoorrççaa que os exalta (mmoo--rraall ddaa ttrrooppaa) e a (3) apreciação continuada da intensidade e do grau adequados da vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa que os impulsiona para o que irão empreender. O grande propósito dessa alma coletiva – o eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee – é obter a perseverança como aattiittuuddee ccoolleettiivvaa, a disposição permanente para a ação e o arrojo sob fogo. Há, todavia, nos estudos de situação de combate, uma infrequência acomodada e ausência de orien-tação e objetividade na busca relacionada com esse tipo de cálculo de valores e re-ferências ditas abstratas, mas vitais para uma vitória militar. Sempre faltam indica-ções consistentes e não existe um fluxo especializado de dados para que essa ava-liação possa ser feita tempestiva, contínua e permanentemente e, o que será vivífi-co, com a frutuosidade capaz de servir de respaldo à aaççããoo ddee ccoommaannddoo.

Criar e manter essa ambiência dentro de seu aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee é uma grave responsabilidade do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr como ccoonndduuttoorr ddee hhoommeennss e lll ííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee. O fluxo de informações precisas e empáticas para esse assessoramento, no entanto,,, não é franco, nem intenso e nem contínuo.

Por quê? Simplesmente porque o “bboomm sseennssoo”, a “iinnttuuiiççããoo pprrooffiissssiioonnaall” e o “ttaalleenn--ttoo” para o exercício das Armas não são qualificações universais, espontâneas ou existentes obrigatoriamente entre ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess e entre seus assessores e estados-maiores não existem especialistas ou, de alguma forma, seus integrantes não estão suficientemente despertados para esse conhecimento e para a importân-cia capital desse assessoramento. E não adiantaria “contratar psicólogos” alienados da ambiência vivida como se insiste na preparação equivocada de uma equipe de futebol... É, entre SSoollddaaddooss, o ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr de um aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee que deverá vivenciar e resolver essa grave questão; entre jogadores de uma equipe de futebol espera-se que o técnico (“head coatch”) tenha essa aptidão.

TTaalleennttoo mmiilliittaarr é o atributo de um Soldado vocacionado que revela aptidão na-

tural, gosto espontâneo, capacidade inata para as Armas, particularmente impor-tante entre ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess dos escalões de batalha (grandes unidade e grandes comandos), quando neles se identificam qualidades físicas, intelectuais, psicológicas e de liderança, objetivas e positivas para o exercício do comando sob fogo ou nas atividades do cciirrccuuiittoo//ffiimm, que estendem seu desempenho para níveis de excelência acima do comum e, além de tudo, desvelam uma mestria que lhes permite ações e reações reflexo-intuitivas corretas e tempestivas.

IInnttuuiiççããoo pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr,, para um ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr e sua aaççããoo ddee ccoo--mmaannddoo sob crise, é a excepcional faculdade de perceber, discernir ou pressentir coisas, independentemente de raciocínio ou de análise.

CCiirrccuuiittoo//ffiimm (cciirrccuuiittoo bbáássiiccoo ddoo pprroocceessssoo ffiinnaallííssttiiccoo mmiilliittaarr) corresponde a uma dinâmica sistêmica de três atividades fundamentais - o planejamento operacional de emprego, o desenvolvimento da doutrina militar e a instrução militar para a busca da eexxppeerriiêênncciiaa mmiilliittaarr iinnddiirreettaa -, capaz de dar sentido útil a uma força arma-

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da, de qualificá-la como uma estrutura operacional lógica e de destacá-la como autônoma entre suas congêneres estrangeiras (aauuttoonnoommiiaa iinnssttiittuucciioonnaall).

BBoomm sseennssoo mmiilliittaarr é a capacidade ou aptidão de um ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr para distinguir o verdadeiro do falso, o bom do mau, o bem do mal, em questões rela-cionadas com suas responsabilidades correntes como ccaabboo--ddee--gguueerrrraa e, princi-palmente como ccoonndduuttoorr ddee hhoommeennss ( lll ííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee), que não careçam de so-luções técnicas, científicas ou não exijam raciocínio elaborado.

AAuuttoonnoommiiaa iinnssttiittuucciioonnaall, neste texto, refere-se à capacidade adquirida e man-tida por uma força armada de se estruturar com fundamento em sua própria reali-dade e circunstâncias, codificando uma original doutrina militar de emprego com o aproveitamento de sua eexxppeerriiêênncciiaa mmiilliittaarr ddiirreettaa válida e, mais importante como manancial permanente, de sua eexxppeerriiêênncciiaa mmiilliittaarr iinnddiirreettaa, o que lhe permite de-senvolver projetos tecnológicos de seu interesse e conveniência.

EExxppeerriiêênncciiaa mmiilliittaarr ddiirreettaa é o registro compilado e ordenado da vivência de uma força militar, com seus aaggrruuppaammeennttooss ddee ccoommbbaattee sob fogo ou sob pressão de iinniimmiiggoo.

EExxppeerriiêênncciiaa mmiilliittaarr iinnddiirreettaa é o registro compilado e ordenado da prática de uma força militar, obtido durante sua preparação pela inter-relação sistêmica do planejamento operacional de emprego, do desenvolvimento da doutrina e da exe-cução de uma atividade capaz de influir nesse aprendizado e de ensaiá-lo conti-nuamente, ou seja, da instrução militar que qualifica os combatentes e adestra os aaggrruuppaammeennttooss ddee ccoommbbaattee em todos os níveis. A eexxppeerriiêênncciiaa mmiilliittaarr iinnddiirreettaa é, por-tanto, fruto das três atividades essenciais do cciirrccuuiittoo bbáássiiccoo ddoo pprroocceessssoo ffiinnaallííssttiiccoo (cciirrccuuiittoo//ffiimm).

A iiinnntttuuuiiiçççãããooo ppprrrooofff iiissssssiiiooonnnaaalll a que aludi, resultará do conhecimento adquirido, da prática e da experiência acumulada com a impulsão interior do ttaalleennttoo mmiilliittaarr existente como atributo. E não haverá nada de esotérico nessa faculdade de perceber, discernir e pressentir coisas importantes para seus propósitos de vitória militar na complexidade e no caos de um combate, dentro das circunstâncias e restrições existentes38.

OO eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee representa a síntese e o equilíbrio da energia positiva que se instala nas organizações militares operacionais bem preparadas, pela inter-relação psicossociológica do bom ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr, do mmoorraall ddaa ttrrooppaa e da vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa.

O eessttaaddoo ddoo eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee define uma apreciação e avaliação do eessppíí--rriittoo ccoommbbaatteennttee em determinado momento, nas circunstâncias que envolvem o aa--ggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee apreciado e avaliado.

Foi esse afligimento que me envolveu no desenvolvimento dos textos da trilogia

“O espírito combatente”, deslocando o foco principal de análise da procura e identifi-cação de qualidades pessoais no llííddeerr – uma conduta intelectual muito comum entre os estudiosos da matéria – para, isso sim, a identificação preliminar dos efeitos de-sejados de seu comportamento de liderança sobre os combatentes. Preteri o ccoo--mmaannddaannttee mmiilliittaarr, como um artifício de análise, para focar o eessttaaddoo ddoo eessppíírriittoo ccoomm--bbaatteennttee desejável para seu aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaatt

ee (enfoque 2 na Ilustração 16, adian-te).

38 Essa matéria foi abordada do Livro 3, “A imitação do combate”, item “Sobre a iniciativa, o talento e a ousadia dos Soldados”.

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O reconhecimento das qualidades e qualificações pessoais, necessárias ao su-cesso de sua lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr, com essa inversão, decorreria do conhecimento des-se desiderato sobre seus liderados e da sua capacidade para obtê-lo e para mantê-lo. Provocaria justamente o que estou apontando como necessidade: a implantação de um método específico de gestão para o “espírito dos exércitos”, uma expressão cuja origem apontarei em seguida e que comprova uma preocupação multimilenária com o fenômeno; desde quando, a partir do neolítico, as motivações para a guerra foram deixando de ser claras e evidentes para os homens envolvidos com agresso-res que ameaçavam diretamente sua grei, suas famílias, seus pertences e seus meios de subsistência.

Xenofonte, o soldado e historiador grego do século IV a. C., faz uma alusão a es-se espírito no pequeno trecho do registro de um longo diálogo entre o rei persa Cambises e seu filho Ciro, durante uma marcha para a fronteira da Média, quando o preparava para sua primeira experiência guerreira:

“Lembra-te, meu filho, das outras coisas que nos parecia de grave im-portância não perder de vista? Ciro respondeu neste teor - Muito bem me recordo. Um dia em que eu vos fui pedir dinheiro para pagar ao mestre que dizia ter-me instruído na ciência do general, vós mo destes, e comigo tives-tes este diálogo: - Teu mestre deu-te alguma lição de economia doméstica,

Qual deve ser o Qual deve ser o Qual deve ser o espespespííírito coletivo rito coletivo rito coletivo

de uma forde uma forde uma forççça a a de combate?de combate?de combate?

!

Quais as virtudes Quais as virtudes Quais as virtudes

11Como fica o espComo fica o espíírito coletivo rito coletivo

e qualificae qualificae qualificaççções de ões de ões de um comandante?um comandante?um comandante?

22de seus combatentes...?de seus combatentes...?

Como deve ser e agir umComo deve ser e agir umcomandante para obter e mantercomandante para obter e manter

esse espesse espíírito coletivo?rito coletivo?

Ilustração 16 - O segundo enfoque (2), como um artifício de análise, prioriza o agrupamento de combate em relação à figura do seu comandante. Com isso, as qualificações e a problemática de um líder militar serão objetivamente definidas para o desenvolvimento, a manutenção e a recuperação do espírito coletivo (espírito combatente) em seus liderados, além de proporcionar a implantação de um processo específico de gestão para esse propósito.

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visto que os soldados em um exército na têm menos necessidade do que os domésticos em sua casa? - Não - Deu-te alguma lição acerca do modo de conservar a saúde e o vigor dos soldados, pedindo isto a atenção do general tanto como a estratégia propriamente dita? - Não - Ensinou-te a maneira de adestrar os soldados no exercícios bélicos? - Não – Ensinou-te a infundir coragem às tropas, sendo a coragem o que constitui a principal diferença dos exércitos? – Não – Fez-te algum discurso a respeito do mé-todo de conter os soldados nos limites da obediência? – Não – Então em que te instruiu teu mestre, para dizer que te ensinou a ciência de um gene-ral? – Ensinou-me a tática militar – A tática é um pequeno ramo da ciência de um general.”39

Xenofonte resumiu essas observações em outra incisiva asserção: “O exército que for para a luta com o espírito fortalecido, em geral não será derrotado pelo inimigo.”

O eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee é, em essência, o velho

“espírito dos exércitos” aludido por Xenofonte há 2400 anos.

39 “Ciropedia - Clássicos Jackson”, volume I, página 56 - W. M. Jackson Inc.

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PPPRRRIIIMMMEEEIIIRRRAAA PPPAAARRRTTTEEE --- aaa gggeeessstttãããooo dddooo eeessspppííírrriiitttooo cccooommmbbbaaattteeennnttteee

Desvendar o valor militar do comandante inimigo (personali-dade, caráter, coragem, competência e capacidade de liderança) e o estado do espírito coletivo de suas forças deve ser uma preocupação permanente do bom cccaaabbbooo---dddeee---ggguuueeerrrrrraaa que se prepa-ra para enfrentá-los ou, o que é mais impositivo ao profissional das Armas, se instrui para conhecer o processo desse desven-damento.

O descuido, a qualquer tempo, com o eeessstttaaadddooo dddooo eeessspppííírrriiitttooo

cccooommmbbbaaattteeennnttteee de seus próprios liderados, todavia, desqualifica o lllííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee e o desconhecimento do processo de desvelo por esse espírito debilita a aaaçççãããooo dddeee cccooommmaaannndddooo.

LLLííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee é o ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr que lidera o aaggrruuppaammeennttoo

ddee ccoommbbaattee de seu comando, devotando-se ininterruptamente (1) à exercitação geral dos valores que sustentam os ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess e conformam o ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr desse agrupamento, (2) à melhora da disposição de seus combatentes para suportar todo o tipo de pressão desagregadora mantendo em bom nível o mmoorraall ddaa ttrrooppaa e (3) ao estímulo e direcionamento correto e tempestivo da vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa para a aaççããoo mmiilliittaarr que lhe for atribuída - na preparação ou no combate sob pressão do iinniimmiiggoo -, a qualquer tempo e sob quaisquer circunstâncias.

O bom lll ííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee cria, dessa forma e dentro do contexto mi-litar dos eessccaallõõeess ddee ccoommaannddoo onde se insere, as melhores condições psicológicas coletivas para a condução do seu agrupamento aos pro-pósitos que justificam a existência de uma força de guerra como bra-ço armado do Estado.

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OOO LLLÍÍÍDDDEEERRR DDDEEE CCCOOOMMMBBBAAATTTEEE EEE AAA IIINNNSSSTTTIIITTTUUUCCCIIIOOONNNAAALLLIIIZZZAAAÇÇÇÃÃÃOOO DDDAAA “““MMMAAAGGGIIIAAA”””

111000 ––– LLLiiinnnhhhaaagggeeemmm dddeee lllííídddeeerrreeesss mmmiiillliiitttaaarrreeesss::: uuummm rrreeecccuuurrrsssooo dddeee aaannnááállliiissseee As considerações introdutórias que fiz, de olho na preparação do leitor militar para

o desenvolvimento desta Primeira Parte do presente ensaio, permitem contrapor (a) a ideia tradicional de ccaaddeeiiaa ddee ccoommaannddoo que se relaciona com a dinâmica da aaççããoo ddee ccoommaannddoo ee ressalta espontaneamente os ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess como ccaabbooss--ddee--gguueerrrraa empenhados e envolvidos no emprego militar de seus aaggrruuppaammeennttooss ddee ccoommbbaattee ou na contínua preparação para essa possibilidade como braço armado do Estado, com (b) a noção de lliinnhhaaggeemm ddee llííddeerreess, uma nova expressão que proponho justamente para a abordagem que farei neste item. Não porei meus leitores militares diante de fatos novos, apenas uma nova interpretação e ênfase aos fenômenos a partir de alguns conceitos.

LLiiddeerraannççaa, função do llííddeerr, compreende um conjunto de atividades voltadas para o aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo de liderados, destinadas a identificar, manter e con-solidar os vvaalloorreess do ccaarráátteerr ccoolleettiivvoo desse agrupamento, sustentando-lhe o mmoorraall ccoolleettiivvoo em níveis adequados e desenvolvendo-lhe a vvoonnttaaddee ccoolleettiivvaa para as a-ções necessárias, além de acompanhar esse processo anímico e interferir, sem-pre que necessário, em sua dinâmica para assegurar os melhores resultados rela-cionados com as razões de existência e de permanência do dito agrupamento.

LLiiddeerraannççaa mmiilliittaarr, sob fogo ou nas atividades de preparação da força terrestre, é a função do comandante militar que o define como lll ííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee no sis-tema de liderança militar.

LLiiddeerreess mmiilliittaarreess iinntteerrffeerreenntteess, na escala vertical da hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr, são aqueles ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess que intervêm, pela abrangência de suas funções e responsabilidades de comando, no processo de lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr que desenvolve e mantém a energia coletiva do caráter, do moral e da vontade nos aaggrruuppaammeennttooss ddee ccoommbbaattee, correspondentes àquela escala,

LLLiiinnnhhhaaagggeeemmm dddeee lll ííídddeeerrreeesss mmmiiilll iiitttaaarrreeesss iiinnnttteeerrrfffeeerrreeennnttteeesss (ascendente ou descendente), neste ensaio, é uma expressão que se refere ao conjunto dos llííddeerreess mmiilliittaarreess iinntteerr--ffeerreenntteess considerados em seu desdobramento vertical sequencial para a ffuunn--ççããoo lliiddeerraannççaa de um ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr, coincidente com a ccaaddeeiiaa ddee ccoommaann--ddoo de uma força terrestre para a ffuunnççããoo cchheeffiiaa, desde o grande líder, coman-dante em chefe no maior escalão da força terrestre, até o llííddeerr iinntteerrffeerreennttee ( cccooo---mmmaaannndddaaannnttteee mmmiii lll iii tttaaarrr) do escalão considerado ou, no sentido inverso, deste escalão ao comandante em chefe.

Essa linhagem, portanto, se sobrepõe, sintônica, aos integrantes da ccaaddeeiiaa ddee ccoommaannddoo: são os mesmos protagonistas dos comandos militares de um aaggrruuppaammeenn--ttoo ddee ccoommbbaattee (ccaaddeeiiaa ddee ccoommaannddoo) envolvidos com a função chefia ee qquuee,, ccoommoo llííddee--rreess mmiilliittaarreess,, ddeevveemm ttaammbbéémm aatteennddeerr àà ffuunnççããoo lliiddeerraannççaa. Foi por essa sobreposição síncrona que senti necessidade da expressão didática “ccoommaannddaannttee//llííddeerr” ao escre-ver a trilogia “O espírito combatente”. Procuro, esse é o ponto, por uma ardileza de análise, compor uma visão distinta das duas dinâmicas: a dinâmica dos canais de comando e a dinâmica peculiar da lliinnhhaaggeemm ddee llííddeerreess mmiilliittaarreess iinntteerrffeerreenntteess (recorra, na página 36, à Ilustração 14 e às Ilustrações 17 e 18, na página 49).

Refiro-me, todavia, a um processo real e absolutamente integrado às responsabi-lidades do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr.

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Por que, então, aponto como tese deste ensaio a necessidade de se con-siderar um sssiiisssttteeemmmaaa dddeee lll iiidddeeerrraaannnçççaaa mmmiiilll iiitttaaarrr em um quadro de atividades concomi-tantes, espontâneas, concorrentes, interativas, cooperativas e que supõe cui-dados diretores e supervisores já existentes na ccaaddeeiiaa ddee ccoommaannddoo (aaççããoo ddee ccoommaannddoo)?

Prossiga a leitura com o auxilio das Ilustrações 17 e 18 (na página seguinte), mas antes, examinando essas Ilustrações, procure identificar as duas dinâmi-

cas que cada uma apresenta SSóó eennttããoo rreettoommee aa lleeiittuurraa aabbaaiixxoo

Ilustração 17: a aaççããoo ddee ccoommaannddoo é unidirecional e axiomática com interação de contingente assimétrico, de comandante para comandante subordinado e resulta de três ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess, existentes justamente para assegurar-lhe eficácia: aa aauu--ttoorriiddaaddee mmiilliittaarr como agente acionador, aa hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr como agente agregador e aa ddiisscciipplliinnaa mmiilliittaarr como agente garantidor. Além disso, como a própria expressão sugere, a aaççããoo ddee ccoommaannddoo possui dinâmica própria decorrente da pressão perma-nente, contínua e específica das decisões superiores, das doutrinas administrativa e operacional e das missões e ordens de todo o tipo - administrança, treinamento e combate. Corresponde, pois à essência da aaççããoo mmiilliittaarr. Assinalamos cinco eessccaallõõeess ddee ccoommaannddoo nesse exemplo gráfico onde a palavra chave é “ aaaccciiiooonnnaaammmeeennntttooo”.

Ilustração 18: a lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr decorre de uma preocupação complementar imprescindível à aaççããoo ddee ccoommaannddoo, de zelo pelos valores do ccaarráátteerr ccoolleettiivvoo, manu-tenção do bom eessttaaddoo ddoo mmoorraall ddaa ttrrooppaa e da vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa, para criar e manter em bom nível o eessttaaddoo ddoo eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee. A homogeneidade e a estabilidade desse espírito coletivo são de suma importância para um aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee.

A ideia de um sistema específico, portanto, decorre da necessidade de

mão dupla em um canal singular de ligações entre líderes - interação de con-tingente recíproco como prática de llííddeerreess mmiilliittaarreess iinntteerrffeerreenntteess com essa preocupação - envolvendo aaccoommppaannhhaammeennttoo ppeerrmmaanneennttee,, aajjuusstteess,, aavvaalliiaaççõõeess,, iinntteerrpprreettaaççõõeess ee iinniicciiaattiivvaass, com demanda nos níveis superiores e respostas nos níveis inferiores de contato direto ou vice-versa.

Identificamos cinco nníívveeiiss ddee aavvaalliiaaççããoo nesse outro exemplo gráfico e a palavra

chave para essa dinâmica é, por isso, “ aaavvvaaalll iiiaaaçççãããooo”. O processo de lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr, todavia, uma vez deixado “ao curso das coisas”,

não gerará dinâmica específica com orientação clara ou definida – apenas invocará sensibilidade, talento, bom senso e entendimento entre os protagonistas, confiando poética e demasiadamente no transcurso natural das pressões desagregadoras das crises e do combate sobre combatentes psicologicamente vulneráveis e no compor-tamento espontâneo, tempestivo e correto dos llííddeerreess mmiilliittaarreess envolvidos...

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“A FASCINANTE GESTÃO DE UM ESPÍRITO” um sistema de liderança militar

DINÂMICA DOS CANAIS DE COMANDOEM UMA BRIGADA

(com simplifica(com simplificaçção ternão ternáária atria atéé grupo de combate)grupo de combate)

DINÂMICA DA LINHAGEM DE LÍDERES INTERFERENTESEM UMA BRIGADA

(com simplifica(com simplificaçção ternão ternáária atria atéé grupo de combate)grupo de combate)

brigadabrigada

unidadeunidade

subunidadesubunidade

frafraççãoão

grupogrupo

interação de contingente recíproco (duodirecional: mão dupla)

AvaliaAvaliaçção atenta,ão atenta,abrangenteabrangente

e ininterruptae ininterruptapara para pronta pronta

intervenintervençção pela ão pela aaçção de comandoão de comando

níveis de avaliação(definição de responsabilidade)

palavra-chave:AVALIAÇÃO

Ilustração 18 – Visão gráfica simplificada do processo dinâmico na lliinnhhaaggeemm ddee llííddeerreess mmiilliittaarreess correspondente à função liderança dos ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess (a mesma brigada e os mesmos co-mandantes - amplie-a com o “zoom” de 200% ou acima).

Ilustração 17 – Visão gráfica simplificada do processo dinâmico da aaççããoo ddee ccoommaannddoo correspondente à função chefia dos ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess (uma brigada e seus coman-dantes - amplie-a com o “zoom” de 200% ou acima)

brigadabrigada

unidadeunidade

subunidadesubunidade

frafraççãoão

grupogrupo

interação de contingente assimétrico (unidirecional)

escalões de comando

AAçção de ão de comandocomando(autoridade

militar,hierarquia militar e

disciplina militar):

rotina de decisões e ordens

para apreparação e emprego

da força militar

(considerando as avaliações

da função-liderança)

(administrança treinamento e

combate)

palavra-chave:

ACIONAMENTO

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São, portanto, dois esforços distintos e concomitantes, com responsabili-dades peculiares, não-excludentes e não-conflitantes.

A ffuunnççããoo lliiddeerraannççaa não pode ser interpretada como a preocupação isolada de um llííddeerr mmiilliittaarr em determinado eessccaallããoo ddee ccoommaannddoo, embora abrangente no seu uni-verso de ação, mas como uma função conjunta, de responsabilidades verticalmente integradas e de desempenhos integrativos, coerentes e, sobretudo, relacionados com as responsabilidades da ffuunnççããoo cchheeffiiaa desse e de todos os comandantes no acionamento de seus respectivos aaggrruuppaammeennttooss ddee ccoommbbaattee. AA rreellaaççããoo eennttrree aa ffuunn--ççããoo cchheeffiiaa ee aa ffuunnççããoo lliiddeerraannççaa ddeevvee sseerr ffaattoorr ddee iinntteeggrraaççããoo ddeesssseess ddooiiss oobbjjeettooss àà aaççããoo ddee ccoommaannddoo. Foi esse raciocínio que me levou à conclusão da importância de responsabilidades, preocupações e ações, igualmente abrangentes, concomitantes e convergentes ao processo decisório do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr no seu universo de comando (aaggrruuppaammeennttooss ddee ccoommbbaattee subordinados). Surgiu, então, espontânea, a ideia de uma lliinnhhaaggeemm ddee llííddeerreess.

Não é o umbigo40 de determinado llííddeerr mmiilliittaarr - comandante orgulhoso e cioso de sua outorga -, que está em questão. O que realmente deverá ser posto em questão é o desempenho conjunto de toda uma lliinnhhaaggeemm ddee llííddeerreess mmiilliittaarreess seus subordi-nados e dele próprio, em relação ao llííddeerr mmiilliittaarr que o enquadra, voltados com de-terminação, acuidade e empenho contínuo para a manutenção dos vvaalloorreess mmiilliittaarreess ccoolleettiivvooss do ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr, para o mmoorraall ddaa ttrrooppaa e para a vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa. Atentos, cada um, para a dinâmica do que se pode chamar de lliiddeerraannççaa ddee ccoommbbaattee, acima e abaixo de seu escalão. Uma tese exposta no item 9 (página 41) e resumida na Ilustração 16 (página 44).

Em termos gráficos isso representaria a rigorosa sobreposição das Ilustrações 17 e 18, da página anterior (se o leitor militar criar slides poderá fazer um exercício concreto).

LLííddeerr ddee ccoommbbaattee é o ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr que, no exercício de uma função es-pecial dessa investidura, lidera o aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee de seu comando, de-votando-se ininterruptamente (1) à exercitação geral dos valores que sustentam os ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess e conformam o ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr desse agrupamento, (2) à melhora da disposição de seus combatentes para suportar todo o tipo de pressão desagregadora mantendo em bom nível o mmoorraall ddaa ttrrooppaa e (3) ao estímu-lo e direcionamento correto e tempestivo da vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa para a aaççããoo mmiilliittaarr que lhe for atribuída - na preparação (iimmiittaaççããoo ddoo ccoommbbaattee) ou no combate real sob pressão do iinniimmiiggoo -, a qualquer tempo e sob quaisquer circunstâncias.

O bom lll ííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee cria, dessa forma e dentro do contexto militar dos eess--ccaallõõeess ddee ccoommaannddoo onde se insere, as melhores condições psicológicas coletivas para a condução do seu agrupamento aos propósitos que justificam a existência de uma força de guerra como braço armado do Estado.

É para esse homem e suas graves responsabilidades que devemos organizar um sistema de informações especializadas que funcione contínua e objetivamente.

Para arejar algumas ideias pertinentes exploro um episódio/fantasia sugerido pela

realidade militar universal, embora descrito com exageros de uma caricatura. A tropa do primeiro escalão de uma BBrriiggaaddaa ddee IInnffaannttaarriiaa, estava re-

unida nos arredores da localidade portuária de AANNCCOORRAAGGEE

MM no a-guardo de embarque para uma missão no exterior recebida havia seis meses. A situação no destino era crítica. O comandante da brigada,

40 “Olhar o próprio umbigo” é uma boa expressão para caracterizar esse isolamento involuntariamente pretensioso.

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GGeenneerraall AAllffaa, contrariado ccoomm ooss rreessuullttaaddooss ddee sseeuu ccoommaannddoo queixava-se reservadamente entre camaradas da brigada que assistiam aos pre-parativos - GGeenneerraaiiss BBrraavvoo e CChhaarrlliiee: “O TTCC FFuullaannoo””,, referia-se a um comandante de unidade de sua brigada relacionado para o embarque e que chamava a atenção pelas dificuldades que procurava solucionar, “éé mmeeuu ppiioorr ccoommaannddaannttee; deixa para traz suas instalações de parada mal conservadas e sujas; embarca uma tropa indisciplinada, não disposta ao trabalho e desleixada com o equipamento e uniformes... MMeeuu mmeellhhoorr ccoommaannddaannttee, fora de dúvida, é o TTCC BBeellttrraannoo””,, referia-se a outro de seus comandantes de unidade, também relacionado, “instalações de parada conservadas e asseadas, tropa disciplinada e cuidadosa com equipamentos e uniformes e, sobretudo”, apontava para a zona de reu-nião da unidade onde se percebia movimentação ordenada e fisionomi-as calmas e determinadas, “sempre disposta a qualquer sacrifício”.

O queixume do GGeenneerraall AAllffaa não incluía ssuuaa pprróópprriiaa oommiissssããoo ccuullppoossaa no EECC, truncando o que deveria ser uma rotina... Sua falha o compelia a conviver com distorções de vvaalloorreess no ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr de seus comandados e a admitir unidades com níveis diferentes em rela-ção ao eessttaaddoo ddoo mmoorraall e da vvoonnttaaddee ccoolleettiivvaa. Sem vãs lamentações, por que não agira com determinação para homogeneizar o assentimen-to a vvaalloorreess ccoolleettiivvooss e o nível do mmoorraall ddaa ttrrooppaa e da vvoonnttaaddee ccoolleettiivvaa entre suas unidades? Com certeza o TTCC FFuullaannoo – o tal mau comandan-te – insidia na mesma oommiissssããoo ccuullppoossaa em relação a seus comandantes de subunidade...

Os iinnddíícciiooss ddee ppeerrddaa ou enfraquecimento de vvaalloorreess ddoo ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr, de deterioração do mmoorraall ddaa ttrrooppaa e de perda da vvoonnttaaddee ccoolleettiivvaa, na brigada do GGeenneerraall AAllffaa no episódio/fantasia acima, deveriam ser preocupações anteriores ao recebimento da missão de embarque com o envolvimento dos comandantes de fra-ção e de subunidade da unidade criticada do TTCC FFuullaannoo, além dos escalões superio-res acima desse “comentário” tardio entre os comandantes de brigada. É provável que esse FFuullaannoo não pudesse embarcar como ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr para uma missão no exterior... Esses indícios deveriam estar sendo procurados e avaliados perma-nentemente, como em uma rotina médica que acompanha e avalia os sinais vitais de um paciente e emprega o estetoscópio para auscultar seus órgãos essenciais. Algo estudado, discutido e avaliado pelos ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess da ccaaddeeiiaa ddee ccoommaannddoo a ponto de criar entre todos uma saudável apreensão característica de lliiddeerraannççaa mmiillii--ttaarr. Como, também, se os houvesse é claro, alguns ssiinnaaiiss ddee rreeccuuppeerraaççããoo da situa-ção que motivou os comentários do GGeenneerraall AAllffaa. Esses sinais seriam conhecidos por todos os ccoommaannddaanntteess iinntteerrffeerreenntteess envolvendo-os em uma vivência comparti-lhada para nutri-los.

A tropa do TTCC FFuullaannoo vivia um estado de perdas estabilizadas ou, o que seria mais desastroso, havia um processo em curso de aviltamento de vvaalloorreess, do mmoorraall ddaa ttrrooppaa ou da vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa que invalidasse o llííddeerr militar como tal? Essa situa-ção - ou esse processo deletério - deveria estar sendo acompanhada pelos ccoommaann--ddaanntteess mmiilliittaarreess envolvidos, particularmente aqueles mais próximos do contato direto com a tropa, os comandantes de frações, os comandantes de subunidades, mais o próprio TTCC FFuullaannoo, o GGeenn AAllffaa Comandante da Brigada e seus comandantes superi-ores quando necessário, onde, afinal, esses indícios de perda e esses sinais de re-cuperação poderiam ser identificados como perigosas anomalias capazes de depri-mir o espírito coletivo de uma força militar de combate (eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee) ou como o

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sucesso da ação de lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr para esconjurá-los. É nesse vaivém e sobe e desce vertical de informações técnicas como indícios, sinais, avaliações, etc., que as responsabilidades de lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr ficam postas em evidência para as aaççõõeess ddee ccoommaannddoo necessárias. E para identificar responsáveis e acicatar reações tempesti-vas, saudáveis e objetivas.

Como, ademais, determinar o significado preciso desses indícios (iinntteerrpprreettaaççããoo) e qual seria o grau de interferência negativa no ppooddeerr ddee ccoommbbaattee da brigada do GGee--nneerraall AAllffaa (aavvaalliiaaççããoo)? Como recuperar a unidade do TTCC FFuullaannoo? Que ssiinnaaiiss ddee rreeccuu--ppeerraaççããoo seriam procurados? Qual seria a aaççããoo ddee ccoommaannddoo do GGeenneerraall AAllffaa para corrigir os efeitos de sua omissão?

Ao invés de responder a essas questões o maior responsável assistia, passivo e pouco ético, ao embarque de uma unidade de sua brigada, “enferma” e cuja “enfer-midade” altamente contagiosa colocava em perigo sua missão, mesmo, ainda, no porto de embarque da localidade de AANNCCOORRAAGGEEMM...

UUmm eexxeemmpplloo rreeaall: observei, durante muito tempo, nas rotinas militares do Exército Brasileiro (entre 1949 e 1982), um fenômeno inquietante no exercício da liderança entre comandantes de unidades de uma mesma região (coronéis, tenentes-coronéis ou seus substitutos) ou, dentro de uma mesma unidade, entre capitães, seus substitu-tos e suas subunidades ou entre oficiais subalternos (primeiros-tenentes, segundos- tenentes e aspirantes-a-oficial ou seus substitutos) e suas frações. Esses llííddeerreess militares, trabalhando indireta ou diretamente em diversos níveis com recrutas da mesma região e origem cultural semelhante obtinham efeitos diversos sobre o moral de seus comandados. Esse fenômeno decorria de negligência, de descuidos ou de completa desatenção para a formação do ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr de seus lidera-dos, ocasionados por interferência deficiente ou equivocada, na linhagem descen-dente de seus llííddeerreess mmiilliittaarreess. O bom llííddeerr mmiilliittaarr criava soldados arrojados, leais e dispostos ao trabalho e ao sacrifício. Um llííddeerr desatento à sua liderança, transfor-mava seus subordinados em indolentes executantes, com a disciplina comprometi-da, pouco dispostos à ação e ao trabalho. O primeiro era considerado talentoso, lí-der natural e o segundo não era apontado como causa pela sua “turma” indigesta..., mas escusado como tolerante e bondoso.

Essas divergências indicando falta de homogeneidade no mmoorraall ddaa ttrrooppaa e na vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa no âmbito de unidades e de grandes unidades podem passar des-percebidas fora das crises e do combate, mas serão letais quando os aaggrruuppaammeennttooss ddee ccoommbbaattee envolvidos estiverem submetidos a pressões desagregadoras. Rotinas de preparação ditadas pela iinnssttrruuççããoo mmiilliittaarr de contingentes conscritos ou dominan-temente conscritos, desligadas dessa preocupação com o espírito coletivo (eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee) trarão, como consequência, o desvirtuamento profissional dos quadros permanentes e a perda de vvaalloorr e de nnaattuurreezzaa ddaa ffoorrççaa mmiilliittaarr.

Dentro de uma força militar profissionalizada as consequências serão mais gra-ves, pois incorporam a perda de seu vvaalloorr e a descaracterização de sua nnaattuurreezzaa como algo definitivo e de difícil reversão. Com entender vvaalloorr e nnaattuurreezzaa? VVaalloorr de uma força militar de combate é uma expressão que define a “importância militar in-trínseca de um elemento operacional relacionada com seu nível, seu efetivo e, con-sequentemente, com a expectativa de ppooddeerr ddee ccoommbbaattee que representa. A expres-são dessa referida importância se completa, normalmente, com a definição da nnaattuu--rreezzaa dominante do grupamento de força considerado”; nnaattuurreezzaa de uma força militar

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de combate é a característica de organização relacionada com o emprego e papel operacional que um aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee possui, definida, basicamente, pela sua designação sem referência ao seu vvaalloorr - fuzileiro, apoio, infantaria motorizada, cavalaria mecanizada, artilharia de campanha, engenharia de construção, etc..

No universo de uma subunidade, pela proximidade dos comandantes e comanda-dos o fenômeno notado à época de minhas observações, se apresentava uniforme na excelência ou depauperamento e dependia do comportamento profissional do capitão ou de seus substitutos. É possível que um ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr se omita como líder e espere que seus subordinados o sigam tão somente pela disciplina e senti-mento do dever fundamentados no temor dos rigores da lei militar (Ilustração 7, página 18). O exercício do comando, tal como deve ser encarado, entretanto, não dispensa o llííddeerr com seu triângulo de aauuttoorriiddaaddee equilibrado (Ilustração 12, página 29). Uma ati-vidade executada sobre um universo humano semelhante, portanto - mesma gente, idêntica cultura, o mesmo sexo, mesma faixa etária e todos envolvidos por circuns-tâncias sócio econômicas análogas – resultava, no exemplo que invoquei, em notá-vel variação no desenvolvimento do mmoorraall ccoolleettiivvoo. Na verdade, é preciso assinalar, o fenômeno observado apontava uma ausência de integração entre ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess nos diversos eessccaallõõeess ddee ccoommaannddoo41 e com o processo de lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr deixado “ao curso das coisas”...

IInnddíícciiooss ddee ppeerrddaass e ssiinnaaiiss ddee rreeccuuppeerraaççããoo, portanto, são elementos essenciais de uma busca específica, constante e objetiva orientada para vvaalloorreess militares cole-tivos, eessttaaddoo ddoo mmoorraall ddaa ttrrooppaa considerada e a tenência coletiva da vontade. Esses iinnddíícciiooss ou esses ssiinnaaiiss não são constatações banais, intuitivas ou espontâneas, detectáveis por alguém desavisado, desorientado ou despreparado. Por serem abs-tratos, tanto uns como outros se caracterizam pela vinculação às perdas e à recupe-ração, respectivamente, de vvaalloorreess, do mmoorraall ccoolleettiivvoo e da vvoonnttaaddee ccoolleettiivvaa. Algo imprescindível para todos os ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess da ccaaddeeiiaa ddee ccoommaannddoo, pelo singular fluxo/refluxo interpretativo na lliinnhhaaggeemm ddee lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr da qual fazem parte.

O leitor militar certamente já percebeu que a desinteligência no estudo da lliiddeerraann--ççaa mmiilliittaarr ao qual já me referi (Item 8, página 39), decorre do tradicional e equivocado enfoque na figura do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr como centro do processo e não no agru-pamento de liderados como objeto matriz do mesmo, proposta inicial do Livro I da trilogia “O espírito combatente” (Ilustração 16, página 44), ou seja, a criação da energia coletiva que descrevi no mesmo Livro 1 e identifiquei, somente para simplificar a re-ferência, pela sigla EECC (mmééttooddoo ddee ccrriiaaççããoo ddaa eenneerrggiiaa ccoolleettiivvaa ddoo eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee).

O EECC define a ordenação metodológica de todos os processos psicossociais con-duzidos pelo llííddeerr militar (ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr) e pelos seus llííddeerreess iinntteerrffeerreenntteess nos aa--ggrruuppaammeennttooss ddee ccoommbbaattee (ccaaddeeiiaa ddee ccoommaannddoo) para consolidar os vvaalloorreess do ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr, desenvolver e manter em bom eessttaaddoo oo mmoorraall ddaa ttrrooppaa, estimular e propiciar a formação da forte vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa para a ação conveniente e oportu-na. A ordenação desses processos, como uma inferência espontânea, não pode ser definida em seus elementos psicológicos coletivos por comandantes estimulados aleatoriamente para o papel de llííddeerr, fora do contexto da aaççããoo mmiilliittaa

rr da força terres-tre à qual pertencem, onde devem ser corresponsáveis, atuantes e integrados.

41 Livro 1 desta trilogia “Eia, avante!”, item “Líderes interferentes e líderes solidários – um sistema de liderança militar?”

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Os elementos recolhidos e avaliados pelo ssiisstteemmaa ddee lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr que estou insinuando, portanto, devem ser postos à disposição dos ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess pa-ra ampliar a aaççããoo ddee ccoommaannddoo com o insight dessas avaliações e interpretações. 111111 ––– IIInnndddíííccciiiooosss qqquuueee aaassssssooommmbbbrrraaammm eee sssiiinnnaaaiiisss qqquuueee eeennncccooorrraaajjjaaammm

A Ilustração 19, em seguida, é uma representação gráfica que deve ser deslin-dada pelo ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr de acordo com sua sensibilidade, mas que de uma forma geral aponta uma sequência com prioridade intuitiva: a consolidação dos vvaalloo--rreess militares coletivos, a preocupação com o eessttaaddoo ddoo mmoorraall ddaa ttrrooppaa e, afinal, o despertamento da vvoonnttaaddee ccoolleettiivvaa para a ação a ser empreendida (vvaalloorreess,, ddiissppoossii--ççããoo ee aaççããoo). Indica, também, a sugestão de concomitância dentro dessa prioridade de esforços: atentando aqui, acudindo ali e observando acolá...

A obediência a essa sequência, digamos, normal no treinamento e na preparação durante a iinnssttrruuççããoo mmiilliittaarr, pode ser alterada pelo llííddeerr militar, em situações específicas de crise ou em face de necessidades pontuais para o exercício da própria lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr.

Um novo llííddeerr somente conseguirá compensar a premência de tempo para consolidar seu triângulo de aauuttoorriiddaaddee em face da gravidade de uma crise, com o sentimento coletivo de confiança na sua liderança (Ilustração 12, página 29). É muito comum na área militar que um comandante assuma seu cargo em situação de crise aberta no aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee de seu novo comando (um novo comandante que substitui o anterior por baixa de combate, sob forte pressão do inimigo, parece ser uma situa-ção pressentida nas armas base).

O suicídio do Presidente Getúlio Vargas, em agosto de 1954, gerou em Porto Alegre, RS, uma série de distúrbios estimulados pelo pouco conhe-cimento dos acontecimentos em curso no Rio de Janeiro e pela revolta po-pular com aquele epílogo trágico de uma longa crise política que vinha en-curralando o Presidente. Getúlio gozava de um imenso prestígio popular pelo ccaarriissmm

aa de sua figura e pela liderança na defesa dos menos favoreci-dos. O então jovem Capitão de Infantaria Rubem Carlos Ludwig, 28, foi surpreendido por esses acontecimentos vivendo a situação de trânsito, transferido do 9º. Regimento de Infantaria, Pelotas, RS, para o comando da 3ª. Companhia de Guardas, Porto Alegre, RS. Ainda não se apresenta-ra para a nova comissão, mas percebera que deveria fazê-lo imediatamen-te pelos desdobramentos rápidos das manifestações populares que se tor-navam mais graves, a cada momento. Sentiu que não poderia perder tem-po. Estava à paisana e, mesmo assim, acorreu à sede de seu futuro co-mando por volta do meio dia de 24 de agosto de 1954. Encontrou a Com-panhia desarticulada no comando interino de um 1º. Tenente QAO acos-sado pelos acontecimentos e solicitações de toda a ordem42. O ambiente

42 Posso inferir que seu triângulo de autoridade apresentava fragilidade no vértice recognitivo?

Ilustração 19 - Visão geral de um método para a liderança militar e o seguimento natu-ral para o processo psicológico interativo do EC.

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era de estupefação e inércia. Sentiu suas responsabilidades de ccoommaannddaann--ttee mmiilliittaarr e, com a presença dos Oficiais convocados por sua solicitação, assumiu o comando no gabinete que seria seu. Determinou, como sua primeira ordem sob crise, que a Companhia entrasse em forma, em ordem de marcha na rua Vieira de Castro, em frente ao Portão das Armas. Apre-sentou-se aos seus comandados – curiosos e nervosos - com o cinto de guarnição sobre seus trajes civis e exortou-os à disciplina e à confiança em seus atos. Foi justamente essa atitude coletiva de soldados, graduados e Oficiais que se instalou instantânea e definitivamente em relação a seu no-vo e impávido comandante.

Horas depois o Capitão Ludwig se apresentaria ao surpreso Comandan-te da Região Militar por ter assumido o comando da 3ª. Companhia de Guardas sob crise. A percepção da urgência na aaççããoo ddee ccoommaannddoo o justifi-caria43.

PPeessssooaass eemm ppeerriiggoo oouu ssoobb tteennssããoo tteennddeemm aa aacceeiittaarr rraappiiddaammeennttee oo llííddeerr qquuee ssee rreevveellee ccoonnffiiáávveell. Assentirão aos seus vvaalloorreess sem muito discuti-los, estarão tocadas por suas razões e motivações e dispostas à ação que indicar. Nesses momentos, buscar a confiança ou expor-se para ser avaliado como novo líder, passa a ser uma prioridade de lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr.

O que fazer para detectar esses momentos nem sempre claros?

AA cceerrtteezzaa iinnttuuiittiivvaa ddaa rreessppoossttaa oouu ddaa aaççããoo ccoorrrreettaa iimmeeddiiaattaa ccoorrrreessppoonnddee àà mmaaggiiaa sseeccrreettaa ddooss llííddeerreess nnaattooss,, ggeennuuíínnooss ee iinnttuuiittiivvooss:: ccaarráátteerr ffoorrttee ee,, ccoommoo ddeeccoorrrrêênncciiaa,, ccoonnffiiaabbiilliiddaaddee eevviiddeennttee ee ffrraannccaa..

A confiança é uma qualidade essencial para o exercício da liderança. O ccaarráátteerr

iinnddiivviidduuaall do llííddeerr é absolutamente relevante para que esse sseennttiimmeennttoo se instale no aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo que lidera. Quais seriam os iinnddíícciiooss de falta de confiança no líder? Se detectados se tornariam assombradores. Quais seriam os ssiinnaaiiss encoraja-dores de restabelecimento dessa confiança? Qual seria a “receita” para essa recu-peração?

1 Põe-se, assim, uma primeira questão: éé rraazzooáávveell qquuee eessppeerreemmooss ddee ttoo--

ddooss ooss cccooommmaaannndddaaannnttteeesss mmmiiilll iiitttaaarrreeesss ddee uummaa ccaaddeeiiaa ddee ccoommaannddoo eessssaa ““ mmmaaagggiiiaaa”” eexxeerr--cciittaaddaa ppeellaa ““ iiinnntttuuuiiiçççãããooo”” oouu ““ tttaaallleeennntttooo iiinnnaaatttooo”” ddoo lll ííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee nnaa ffoogguueeiirraa ddee uummaa ccrriissee??

Não. É ilógico e implausível que se espere o comportamento “mágico” como atri-

buto corrente entre ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess quando, de fato, é a infrequente qualida-de de favorecidos pela mercê da “lâmpada de Aladim”44.

Existem, todavia, todos os elementos de análise digamos, ao pé da obra. Basta que tenhamos “coletores” preparados e orientados para essa coleta de iinnddíícciiooss

e de

43 O general-de-brigada Rubem Carlos Ludwig – Infantaria/1948 e Estado-maior/1964 foi Comandante da 3ª. Companhia de Guardas, Comandante do 18º. Batalhão de Infantaria Motorizado, Ministro Che-fe do Gabinete Militar da Presidência da República e Ministro da Educação e Cultura do governo Fi-gueiredo. Faleceu em 18/08/1989. 44 Tropo que utilizei no Livro 1 desta trilogia, “Eia, avante!”.

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ssiinnaaiiss e “intérpretes” competentes para tornar essas observações imediatamente práticas e úteis à tempestiva aaççããoo ddee ccoommaannddoo de reversão e de recuperação. Os comandantes de pequenas frações, tenentes e sargentos, com o conhecimento dire-to de cada combatente, ppooddeemm iiddeennttiiffiiccaarr iinnddíícciiooss ddee ppeerrddaass de todo o tipo nos seus respectivos universos de liderança e ddeevveemm ssaabbeerr iinntteerrpprreettáá--llooss; os comandantes militares de subunidades, da mesma forma, ppooddeemm aatteennttaarr ppaarraa eessssaa iiddeennttiiffiiccaaççããoo em suas companhias, baterias ou esquadrões e, com as razões de seu nível de co-nhecimento e de universo de observação mais amplo, ddeevveemm ssaabbeerr iinntteerrpprreettáá--llooss reunindo essas observações em um todo; os comandantes de unidades, em univer-sos de maior amplitude ainda (batalhões, grupos ou regimentos) e com maiores ra-zões por já disporem de estados-maiores, ppooddeemm eemmpprreeeennddeerr eessssaa bbuussccaa ddee iinnddíí--cciiooss valendo-se da acuidade desenvolvida e da capacidade interpretativa dos esca-lões subjacentes abordando-os em conjunto. Nesse processo, ppoorr ssaabbeerreemm iinntteerrpprree--ttaarr ooss ffeennôômmeennooss ppssiiccoossssoocciiaaiiss ssoobbrree ooss qquuaaiiss eessttããoo ddeebbrruuççaaddooss, de forma natural e espontânea, é possível que providências neutralizadoras, compensadoras e estimu-ladoras sejam adotadas por cada comandante no sentido da reversão imediata de perdas em seus respectivos comandos. No âmbito das brigadas e dos escalões de comando superiores, com atenção permanente para cada uma de suas unidades ou grandes unidades, em particular das armas base, os estados maiores ppooddeemm iinnttee--ggrraarr ccoonnttiinnuuaammeennttee eesssseess iinnddíícciiooss nnããoo ssoolluucciioonnaaddooss ee iinntteerrpprreettáá--llooss ppaarraa qquuee oo ccoo--mmaannddaannttee mmiilliittaarr ddeesssseess eessccaallõõeess ppoossssaa hhoommooggeenneeiizzaarr,, ccoonnssoolliiddaarr ee mmaanntteerr oo eessppíí--rriittoo ccoommbbaatteennttee.

Essa contrapartida de ação a partir dos iinnddíícciiooss ddee ppeerrddaa redundaria em retomada de um processo restaurador que precisa ser acompanhado pelos ssiinnaaiiss ddee rreeccuuppee--rraaççããoo e para os quais, da mesma forma, toda a linhagem de líderes deveria estar afeita.

A segunda questão que se põe, portanto é a seguinte: ccoommoo ccrriiaarr eessssee

ccoonnhheecciimmeennttoo ee eennvvoollvveerr ttooddaa aa lll iiinnnhhhaaagggeeemmm dddeee lll ííídddeeerrreeesss mmmiiilll iiitttaaarrreeesss nnaa iiddeennttiiffiiccaaççããoo pprreecciissaa ee ooppoorrttuunnaa ddee iiinnndddíííccciiiooosss dddeee pppeeerrrdddaaa ee nnoo rreellaacciioonnaammeennttoo iigguuaallmmeennttee iinnee--qquuíívvooccoo ee tteemmppeessttiivvoo ddoo ““rreemmééddiioo””,, iissttoo éé,, ddaa aaççããoo ddee ccoommaannddoo ppaarraa rreevveerrtteerr oouu aa nneeuuttrraalliizzaarr oo pprroobblleemmaa ee pprroovvooccaarr ooss bbeennffaazzeejjooss sssiiinnnaaaiiisss dddeeessssssaaa rrreeevvveeerrrsssãããooo??

Sem escorraçar os nossos “mágicos” – que os temos -, portanto, a institucionali-

zação dessa “magia” deve estender a faculdade de identificar iinnddíícciiooss ddee ppeerrddaass e ssiinnaaiiss ddee rreeccuuppeerraaççããoo de toda a ordem à lliinnhhaaggeemm ddee llííddeerreess iinntteerrffeerreenntteess.

Embora se trate de um processo natural em aaggrruuppaammeennttooss hhuummaannooss eessppoonnttâânneeooss e semelhante nos aaggrruuppaammeennttooss hhuummaannooss iinnssttiittuuííddooss, por ser pouco franco e muito técnico (entendimento dos processos psicossociais que geram a dinâmica coletiva dos agrupamentos de combate), forças terrestres modernas, já vimos, não podem confiá-lo à tradicional expectativa da “intuição profissional” e do “talento inato” entre comandantes militares. Nem é razoável que esse conhecimento técnico científico fundamentado na ssoocciioollooggiiaa mmiilliittaarr,, nnaa ppssiiccoollooggiiaa mmiilliittaarr ee nnaa ppssiiccoossssoocciioollooggiiaa mmiilliittaarr sseejjaamm eexxiiggiiddooss ee ddoommiinnaaddooss ccoorrrreettaammeennttee ppeellaa lliinnhhaaggeemm ddee llííddeerreess. Embora devam ser estudados no nível superior (AMAN), mestrado (ESAO) e doutorado (ECEME) na

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“A FASCINANTE GESTÃO DE UM ESPÍRITO” um sistema de liderança militar

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formação militar dos profissionais das Armas Brasileiras45. Os iinnddíícciiooss ddee ppeerrddaa re-lacionados com vvaalloorreess ccoolleettiivvooss militares (ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess, página 24), com o eessttaaddoo ddoo mmoorraall ddaa ttrrooppaa ou com o vigor da vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa, precisam ser descritos para uma identificação precoce que evite o desastre e permita a oportuna aaççããoo ddee ccoo--mmaannddoo atentando para a conveniência da força terrestre como instrumento de guerra capaz de suportar as pressões dissociadoras das crises e do combate, mantendo-se sólida, confiável e indissociável em todos os seus eessccaallõõeess ddee ccoommaannddoo. Da mesma forma em relação à identificação dos ssiinnaaiiss ddee rreeccuuppeerraaççããoo.

Tanto a recuperação como a perda podem ser reveladas por claras evidências ou escafandrando sutilezas (observação, por exemplo, entre combatentes influentes no grupo considerado, de rictos de desdém, de incredibilidade ou de desinteresse à pa-lavra do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr...).

Quem deve interpretar adequadamente os fenômenos psicossociais que

sustentam ou abatem agrupamentos de combate em todos os escalões de co-mando? Quem deve traduzi-los em iinnddíícciiooss ddee ppeerrddaa ou ssiinnaaiiss ddee rreeccuuppeerraaççããoo em cada um desses escalões e em relação a cada valor relacionado com os ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess? Ou ao mmoorraall ddaa ttrrooppaa? Ou à vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa?

Os llííddeerreess ddee ccoommbbaattee não podem administrar “centros de estudos” ou “laborató-

rios de pesquisas psicossociológicas” em seus respectivos agrupamentos de comba-te... A instituição das Armas Brasileiras, portanto, precisa definir indícios de perda e sinais de recuperação universais para que as lideranças interferentes conduzam um processo prático, objetivo, consciente e homogêneo que lhes permita consolidá-los e apreciá-los segundo a abrangência de seus respectivos nníívveeiiss ddee aavvaalliiaaççããoo (Ilustra-ção 18, página 49), com preocupações voltadas para o ccoommppoorrttaammeennttoo das lideranças subordinadas e para o pessoal chave sob seu controle. Devem, da mesma forma, intervir quando houver desvios em relação à orientação superior, ou quando pude-rem constatar omissão, equívoco, dificuldade ou incapacidade nos ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess subordinados (llííddeerreess iinntteerrffeerreenntteess).

111222 ––– LLLiiidddeeerrraaannnçççaaa dddeee cccooommmbbbaaattteee::: iiinnnvvvaaasssãããooo eeessspppúúúrrriiiaaa dddaaa mmmííídddiiiaaa eeellleeetttrrrôôônnniiicccaaa

Há mais de quatro décadas vivi e acompanhei intensamente a interferência de

uma mídia eletrônica manipulada tempestiva e competentemente para anular, de forma cabal e inapelável, a ação de comando de um Chefe Militar sobre seu grande comando, transformando-o, de adversário especificamente recomendado e alertado em relação à ação e às intenções de um Governador de sua área, em melancólico adesista46. Na época o radinho de pilha era uma espécie de coqueluche. Todos, par-ticularmente os jovens, possuíam uma daquelas pequenas novidades transistoriza-das e as mantinham permanentemente junto ao ouvido para escutar a pregação do

45 Essa tem sido a minha pregação: enquanto estive na ativa e, por meus textos da trilogia “O espírito combatente”, como atividade que me impus na reserva e na reforma . 46 Para que fique apenas como exemplo didático, não menciono os nomes relacionados a fatos já históricos, conhecidos e ocorridos no Estado do Rio Grande do Sul de 25 de agosto a oito de setem-bro de 1961. Já me referi a esse episódio nos livros da trilogia “O espírito combatente” e citei os no-mes. Fui protagonista desses fatos e me coloquei frontalmente, um jovem capitão, contra a adesão.

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Governador, que se tornara fonte direta de notícias importantes e gerara em torno de si uma expectativa pela evolução do movimento que dirigia. Nos quartéis, aque-las caixinhas infernais permaneceram junto às orelhas dos sargentos, veiculando-lhes razões e estímulos, com referências diretas aos graduados, para a resistência ou reação a qualquer ordem fora das suas teses políticas. O argucioso Governador sabia que ao trazer o Chefe Militar da área para o seu lado, criaria uma situação ir-reversível. A morosidade na ação de comando do Chefe Militar provocara, assim, um envolvimento psicológico de tal intensidade sobre os comandos militares subordina-dos que se sentiu emparedado por duas opções: ceder e salvar seu comando ou contrapor-se ao Governador ficando só como um melancólico comandante de alguns comandantes sem tropa. Preferiu ceder e, com isso, manter a aparência de chefe corajoso e independente. Transformou-se, na verdade, no triste vulto de um homem profundamente envergonhado de sua sina, deixando de fazer o que seus superiores esperavam que fizesse, quando lhe deram o comando. Sua decisão de adesão dis-pensou os comandantes subordinados, naquele momento, do esforço, tornado im-possível, de reversão da sólida vontade regional despertada pelo Governador com suas razões e motivações, que engolfou a tropa federal. Ocorreram apenas algumas defecções; sem tropa, porém. A maioria foi, afinal, envolvida naquela onda avassa-ladora. O Governador fez prevalecer sua proposição e dividiu as Forças Armadas, criando, com vantagem para sua tese, o grande fator determinante das manobras e conchavos políticos subsequentes.

O episódio ainda não foi suficientemente estudado pelos militares brasileiros, co-mo uma importante experiência que demonstrou a fragilidade da liderança moderna incapaz de anular o enfraquecimento da vontade provocado por um meio de comu-nicação de massa. Ou de provocar o seu fortalecimento por esse meio. Intuitivamen-te o Governador atuara sobre o caráter regional fortalecendo alguns de seus valores e corrompera valores profissionais militares substituindo-os por outros. A partir desse novo quadro psicológico coletivo, manteve elevado o moral regional o que contribuiu, numa reação em cadeia, para as adesões e defecções. Venceu, com um simples radinho de pilha sem a necessidade de um só tiro, a mais importante concentração de forças militares terrestres no País... É claro que contou com a surpresa, com a estagnação paralisante e com a conseqüente omissão do Chefe Militar.

Cinquenta anos depois dessas confusões surgiram engenhocas eletrônicas cada vez menores, cada vez mais ousadas em seus efeitos e façanhas, cada vez mais simples e cada vez mais baratas. São fenomenais veículos da mídia eletrônica com amplitude universal. Em 2008 o noticiário internacional divulgou um fato que ilustra essa incrível evolução e a invasão que perpetra na atividade militar. Transcrevo-o na versão difundida pela BBC Brasil:

“Secretária eletrônica registra batalha no Afeganistão Os pais de um soldado americano que está no Afeganistão receberam

uma mensagem na secretária eletrônica de casa com a gravação de uma batalha em que o filho esteve envolvido. Stephen Phillips, de 22 anos, ti-nha ligado para os pais de seu celular antes da batalha e, sem querer, en-quanto lutava contra insurgentes afegãos, a tecla de rediscagem foi aper-tada. O número da casa dos pais de Phillips em Otis, no Estado do Ore-gon, foi discado, e os sons do tiroteio foram gravados. A maior parte dos sons nos três minutos de gravação é de tiros, mas também podem ser ou-vidos gritos como "mais munição" e palavrões. A gravação foi colocada no site YouTube, e acabou ouvida mais de 200 mil vezes. Constrangimento -

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Segundo Jack Izzard, repórter da BBC em Washington, os pais do solda-do, Sandie e Jeff Petee, ouviram a mensagem gravada depois de voltarem de um shopping da cidade. ‘O amigo dele morreu há um ano no Iraque e pensei: Meu Deus, esta pode ser a última vez que ouço a voz de meu filho no telefone', disse Sandie Petee. ‘É algo que um pai realmente não quer ouvir’, disse Jeff Petee. ‘É uma mensagem horrível de se receber de seu fi-lho no Afeganistão.’ Logo depois de ouvir a gravação, os pais do soldado tentaram ligar para Phillips e, depois de algumas horas, conseguiram falar com ele, descobrindo que ninguém de sua unidade do Exército tinha ficado ferido na batalha. Os pais afirmaram que quando tocaram a mensagem pa-ra Phillips, o soldado ficou constrangido com os palavrões. Ele disse: 'Não deixem a vovó ouvir isso', contou Sandie Petee.” (sic)

A tecnologia de um iphone, por exemplo, coloca na palma da mão de um ser hu-mano algo que o conecta com o planeta em tempo real e com qualidade irrefutável de som, imagem e dados, disponibilizando GPS (“Global Positioning Sistem”), telefonia, câmara (filme e foto), multimídia e conexão com a Internet. Tanto recebe como envia. Tudo a um preço financiado que não impedirá que um recruta ou um cabo, com a emulação de uma moda jovem, deixe de comprar como um ato de extrema satisfa-ção para assumir a propriedade de um objeto de desejo de sua geração. E logo o dominarão no uso e emprego, por mais intrincado que nos pareça. Aposto que o es-tarão comprando com o primeiro salário que receberem no quartel...

O fenômeno não é novo, invadiu a vida dos seres humanos de todo o planeta e tem a chancela do progresso, da tecnologia e da modernidade. Cada vez mais está acessível por perder o valor venal, tecnológico propriamente dito, para a lucrosíssi-ma exploração dos serviços que organizam. O sofisticado objeto do desejo é prati-camente gratuito ao interessado que, sem atentar para a transferência, assume res-ponsabilidades de pagamento de serviços que oferecem e que parecem não terem limites. O fenômeno banaliza a mídia eletrônica e seu incrível vetor de propagação que é a telefonia celular.

Há, entretanto – e os ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess devem estar atentos para o problema -, uma interferência espúria dessa mídia eletrônica que pode fugir ao controle do llíí--ddeerr ddee ccoommbbaattee. Se os combatentes do Vietnã tivessem ouvido com a tecnologia atual de um iphone, diretamente de seus familiares, o que ocorria nos Estados Uni-dos provavelmente os problemas do general West Moreland seriam bem mais agu-dos e o colapso do moral poderia ter sido catastrófico e bastante antecipado. Esta é uma realidade que deve ser analisada para produzir análises objetivas, recomenda-ções precisas e medidas de controle e de neutralização. É um desafio para a mo-derna lliiddeerraannççaa ddee ccoommbbaatt

lee que não pode confundir direitos humanos ou o conceito

de liberdade dos cidadãos com os deveres e as preocupações de um ll ííídddeeerrr dddeee cccooommm---bbbaaattteee para conduzir transcendentes operações militares.

SSóó uumm ssiisstteemmaa sseerráá ccaappaazz ddee aasssseegguurraarr aa ffoorrmmaaççããoo,, aa hhoommooggeenneeiizzaaççããoo,, aa

mmaannuutteennççããoo ee aa ccoonndduuççããoo ddee ppeerrsseevveerraannttee aappeerrffeeiiççooaammeennttoo ddooss ppaaddrrõõeess aaddee--qquuaaddooss aa aallmmaa ccoolleettiivvaa ddee uummaa ffoorrççaa ddee ccoommbbaattee ((oo eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee)) eemm ttooddooss ooss sseeuuss eessccaallõõeess ddee ccoommaannddoo,, bbeemm ccoommoo aa iimmppeeddiiççããoo ddee iinnggeerrêênncciiaass eessppúúrriiaass..

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111333 ––– “““SSSIIILLLIIIMMMIIIEEEBBB””” “““SSSiiisssttteeemmmaaa dddeee llliiidddeeerrraaannnçççaaa mmmiiillliiitttaaarrr dddooo EEExxxééérrrccciiitttooo BBBrrraaasssiiillleeeiiirrrooo”””

As teses da Trilogia “O espírito combatente“ sugerem uma orientação prática para o exercício da lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr e abrem uma ampla janela para a pesquisa sistemáti-ca em prol desse propósito, particularmente no âmbito dos pequenos agrupamentos de combate. Entendo que as três grandes instituições de ensino militar no Exército Brasileiros, a Academia Militar da Agulhas Negras (nível superior), a Escola de Aper-feiçoamento de Oficiais (nível mestrado) e a Escola de Comando e Estado-maior (nível doutorado), com o interesse voltado para seus respectivos universos (candidatos, discen-tes e egressos), poderão criar e orientar as atividades de um sistema permanente de pesquisa para a identificação dos elementos – iinnddíícciiooss, ssiinnaaiiss, dados, fatores, tra-ços, indicações – e coleta de exemplos que permitam uma base procedente para a ação do líder (vvaalloorreess//ddiissppoossiiççããoo//rraazzõõeess//mmoottiivvaaççõõeess) e diagnose do estado do eessppíí--rriittoo ccoommbbaatteennttee. Pelo seu interesse no trabalho de treinamento de equipes, a Escola de Educação Física do Exército deveria participar desse projeto.

OOBBJJEETTIIVVOO DDOO PPRROOJJEETTOO:: ccrriiaaççããoo ddee uumm eelloo ppeerrmmaanneennttee eennttrree aa oobbsseerrvvaaççããoo

ddee ffaattooss ee ffeennôômmeennooss ssoocciiaaiiss ee ppssiiccoollóóggiiccooss mmiilliittaarreess ((iinnvveessttiiggaaççããoo eemmppíírriiccaa)) ee aa eexxpplliiccaaççããoo cciieennttííffiiccaa ((ppssiiccoossssoocciiaall)),, tteennddoo eemm vviissttaa aa ffoorrmmuullaaççããoo ddee bbaasseess tteeóórriiccaass ssóólliiddaass ee ccoonnvveenniieenntteess ppaarraa aa oorriieennttaaççããoo pprrááttiiccaa ddaa ggeessttããoo ddoo eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee eemm ttooddooss ooss eessccaallõõeess ddee ccoommaannddoo ddaa ffoorrççaa tteerrrreessttrree bbrraassiilleeiirraa ((““ssiisstteemmaa ddee lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr”” –– ““SSIILLIIMMIIEEBB””))..

Os psicólogos sociais concordam que toda a relação de autoridade configura um fenômeno psicossocial. Dentro dessa ideia, referindo-se ao domínio do interesse grupal e ao papel da aauuttoorriiddaaddee de um llííddeerr, o psicólogo e pedagogo corso Roger Mucchielli – que citei no início deste ensaio - afirma que

“no fundo a organização do grupo faz surgir o grupo como ser-superior-a-seus-membros e impõem deveres específicos a seus membros” (sic)47.

Os aaggrruuppaammeennttooss ddee ccoommbbaattee, entretanto, como uunniiddaaddeess ccoonnssttiittuuííddaass dentro das forças armadas, ssããoo aaggrruuppaammeennttooss hhuummaannooss mmuuiittoo eessppeecciiaaiiss, instituídos e pre-parados para a execução coletiva de ações violentas, sob as mais severas condi-ções de repulsa e de pressões desagregadoras, padecendo permanentemente o risco da anulação individual indiscriminada e imprevisível, por baixa de qualquer um de seus integrantes – os combatentes – e de destruição como força capaz de execu-tar coletivamente as ditas ações com as quais, afinal, pode envolver-se. Dentro des-se quadro, portanto, oo eessttuuddoo ddaa rreellaaççããoo ddaa aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr eemm ccaaddaa aaggrruuppaa--mmeennttoo ddee ccoommbbaattee nnoo ccoonntteexxttoo ddooss eessccaallõõeess hhiieerráárrqquuiiccooss ddee uummaa ffoorrççaa tteerrrreess--ttrree,, ppprrreeeccciiisssaaa iiidddeeennntttiiifffiiicccaaarrr sssuuuaaasss vvvaaarrriiiááávvveeeiiisss eee eeessstttuuudddááá---lllaaasss cccooommm ooo nnneeexxxooo dddooosss tttrrreeezzzeee dddiiissstttiiinnn---tttiiivvvooosss mmmiiillliiitttaaarrreeesss qqquuueee aaasss aaammmpppaaarrraaammm

(página 24); uma vez reconhecidas, essas variáveis se tornam peculiares pelo efeito desses distintivos sobre elas.

47 “Psicologia da relação de autoridade”- Roger Mucchielli - Martins Fontes Editora Ltda/1979 (página 34).

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Registro algumas tentativas e indico os conceitos para apoiá-las (em corpo

menor, na ordem em que estão sugeridos nos itens de 111))) a 111555))) e repetindo-os para cada um)48:

111))) Dentro dos diversos níveis de cccaaapppaaaccciiitttaaaçççãããooo ooopppeeerrraaaccciiiooonnnaaalll, variações do ssseeennn---tttiiimmmeeennntttooo cccooollleeetttiiivvvooo em relação ao combate real que, sem ser uma meta profissio-nal, deve ser inspiradora e determinante, pois é para essa situação que os aaa---gggrrruuupppaaammmeeennntttooosss dddeee cccooommmbbbaaattteee estão estruturados (ambiente/meta em relação à ati-tude de defesa e de ações defensivas face ao iiinnniiimmmiiigggooo que pressiona, em rela-ção à expectativa de ações ofensivas sobre o iiinnniiimmmiiigggooo que se defende, nas a-ções descentralizadas, etc.):

CCaappaacciittaaççããoo ooppeerraacciioonnaall é a situação de uma força de combate definida pelo seu valor como a-grupamento de guerra, desde o nníívveell bbáássiiccoo ddee ooppeerraacciioonnaalliiddaaddee até a existência efetiva do ppooddeerr ddee ccoommbbaattee (conceito já apresentado).

NNíívveell bbáássiiccoo ddee ooppeerraacciioonnaalliiddaaddee define uma situação limite entre a operacionalidade e a perda da operacionalidade, isto é, o limite abaixo do qual uma força de combate perde sua oorrggaanniicciiddaaddee ooppee--rraacciioonnaall (conceito já apresentado).

PPooddeerr ddee ccoommbbaattee é a definição mais elevada da ccaappaacciittaaççããoo ooppeerraacciioonnaall para um agrupamento de guerra, representando sua qualificação global para desenvolver o combate e expressando a eficácia que se lhe deve exigir para opor-se a determinado inimigo; resulta de um nível de eeffiicciiêênncciiaa ooppeerraacciioo--nnaall com preparação completa e de dois fatores, (1) o valor profissional do seu comandante militar e (2) a densidade de seu eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee (conceito já apresentado).

EEffiicciiêênncciiaa ooppeerraacciioonnaall é a capacidade técnico-administrativa da organização militar para desem-penhar, com eficiência, as atividades e ações correspondentes às missões que lhe são atribuídas em Quadro de Organização, dinamizando os recursos materiais e humanos que definem o seu grau de o-peracionalidade (conceito já apresentado).

OOrrggaanniicciiddaaddee ooppeerraacciioonnaall da força de combate é uma expressão que define uma qualidade des-sa força por manter assegurado o funcionamento de seus ssiisstteemmaass oorrggâânniiccooss eesssseenncciiaaiiss (conceito já apresentado).

AAggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee (ou aaggrruuppaammeennttoo ddee gguueerrrraa) é uma expressão que designa qualquer uunniiddaaddee ccoonnssttiittuuííddaa, dentro das forças armadas, destinada ao combate terrestre direto (por extensão, naval ou aéreo).

SSeennttiimmeennttoo ccoolleettiivvoo como traço psicológico grupal, caracteriza expressão emocional em um aa--ggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo que se manifesta, de uma mesma forma, como qualidade coletiva permanente.

Ambiente/meta é a visualização do quadro crítico de pressões dissociadoras extremas sobre a aaççããoo mmiilliittaarr, característico do combate terrestre moderno, para especular sobre essa atividade e, com base nessa especulação, organizar e conduzir a preparação dos aaggrruuppaammeennttooss ddee ccoommbbaattee preser-vando-lhes o eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee..

IInniimmiiggoo (no singular ou no plural), nesta Trilogia, é o antagonista externo ou interno de um Estado nacional soberano, política e fisicamente identificado, com o qual existem desavenças incontornáveis e - com o reconhecimento de ambos - sem solução possível por meios não-traumáticos, que dizem res-peito a vvaalloorreess vitais, inegociáveis por sua relação direta ou indireta com a perenidade da pátria e com o bem estar de sua ssoocciieeddaaddee nnaacciioonnaall.

222))) efeitos provocados pelas variações na dinâmica vertical sui generis da hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr sobre o senso de rreessppoonnssaabbiilliiddaaddee mmiilliittaarr:

HHiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess) é uma rígida escala de postos e graduações definidora de funções e responsabilidades que cria uma ordem impessoal com níveis de autoridade e de subordinação, ativados como um todo e, ao mesmo tempo, tornados aptos a avigorar a impulsão para a vitória militar dentro do combate segundo a vontade matriz do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr (conceito já apresentado).

RReessppoonnssaabbiilliiddaaddee mmiilliittaarr é o sentimento ético-profissional que se gera na consciência de um Sol-dado - fundamental para dar efetividade operacional à hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaa

rr -, quando reconhece para si determinada incumbência, identifica o superior hierárquico ou o dispositivo legal que a definiu, aceita

48 Esses conceitos, em sua maioria, foram formulados para apoiar os três textos da trilogia “O espírito combatente” e estão apresentados na medida em que são necessários ao entendimento das matérias deste ensaio; sugiro ao leitor militar, caso necessite de outros esclarecimentos, consulta ao “Glossá-rio de Apoio” do Livro 3 “A imitação do combate” (sites do COTER ou do C Doc EX).

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sua realização como sendo um encargo pessoal-funcional, sente-se com capacidade de realizá-la e de-terminado a concluí-la tempestivamente com sucesso (conceito já apresentado);

HHHooonnnrrraaa mmmiii lll iii tttaaarrr (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess) é a expressão emocional de um SSoollddaaddoo que se manifesta em relação à vvaalloorreess ddee hhoonnrraa mmiilliittaarr, de forma permanente, destacada e mística, como qua-lidade de seu caráter.

VVaalloorreess ddee hhhooonnnrrraaa mmmiii lll iii tttaaarrr são assentimentos incorporados ao ccaarráátteerr iinnddiivviidduuaall dos SSoollddaaddooss que refletem, de forma mística exacerbada, a importância que cada um deles atribui a fundamentos filosófi-cos - relacionados com a compreensão da realidade social militar -, definidores das qualidades morais, éticas e profissionais professadas coletivamente pelo aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee ao qual pertencem.

333))) as características do agrupamento militar como uunniiddaaddee ccoonnssttiittuuííddaa na relação aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr e ddiisscciipplliinnaa mmiilliittaarr:

UUnniiddaaddee ccoonnssttiittuuííddaa é uma expressão que se refere aos diversos agrupamentos operacionais com quadro de organização definido e com a designação do comandante e demais homens em suas respectivas funções, com equipamentos e armamentos distribuídos (conceito já apresentado).

AAuuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess) é a autoridade legalmente outorgada a um Soldado em função de sua posição dentro da hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr e de suas responsabilidades como co-mandante ou chefe (conceito já apresentado),

DDiisscciipplliinnaa mmiilliittaarr (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess, procure eessttaaddoo ddiisscciipplliinnaarr, abaixo). DDiisscciipplliinnaammeennttoo mmiilliittaarr é um processo coletivo de natureza psicológica (psicossocial, na verdade)

que, ao buscar o eessttaaddoo ddiisscciipplliinnaarr, tem como objetivo a consolidação, dentro de uma força de comba-te, do respeito à aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr, à hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr e aos valores profissionais, essenciais a essa força e que deve ser conduzido pelos ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess - sob a orientação do de maior nível hie-rárquico -, com sensibilidade, determinação e lucidez no curso da preparação dessa força (instrução individual e adestramento dos agrupamentos constituídos).

EEssttaaddoo ddiisscciipplliinnaarr é a situação de ordem e obediência consciente e inteligente que se estabelece entre os militares de uma força de combate, para criar-lhe, como meta, as condições necessárias à promoção da violência organizada em nome do Estado, conservando seu valor e natureza mesmo quando sujeita a pressões desagregadoras e a risco permanente e extremo (conceito já apresentado).

444))) a personalidade do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr na relação com o grupo e do gru-po com ele:

PPeerrssoonnaalliiddaaddee é “o conjunto de aspectos psíquicos que, tomados como uma unidade, distinguem uma pessoa, especialmente os que diretamente se relacionam com vvaalloorreess sociais”.

CCoommaannddaannttee mmiilliittaarr é o militar mais antigo, mais graduado ou de mais alto posto de um aaggrruuppaa--mmeennttoo ddee ccoommbbaattee, como uunniiddaaddee ccoonnssttiittuuííddaa, ao qual foi outorgada legal ou administrativamente, a aauu--ttoorriiddaaddee mmiilliittaarr para empregar seu agrupamento como força de combate e conduzi-lo, nas melhores condições físicas e psicológicas, à vitória militar ou a superação da crise em que está envolvido e cujas responsabilidades como lll ííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee abrangem, ainda, para esses propósitos, a preparação téc-nica individual de seus combatentes, o adestramento tático da força sob seu comando, a consolidação dos vvaalloorreess ccoolleettiivvooss do ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr, a manutenção em alto nível do mmoorraall ddee ssuuaa ttrrooppaa e da forte vvoonnttaaddee ccoolleettiivvaa da força lidera para as ações que empreende.

555))) o grau de intensidade da crise, como ambiente/meta para os agrupamen-tos de guerra e seus efeitos sobre a ssoolliiddeezz, a ccoonnffiiaabbiilliiddaaddee e a iinnddiissssoocciiaabbiillii--ddaaddee da força militar (nnaattuurreezzaa ddaa ffoorrççaa mmiilliittaarr, eennqquuaaddrraammeennttoo, expectativa de emprego da violência ou de engajamento com o inimigo):

Ambiente/meta é a visualização do quadro crítico de pressões dissociadoras extremas sobre a aaççããoo mmiilliittaarr, característico do combate terrestre moderno, para especular sobre essa atividade e, com base nessa especulação, organizar e conduzir a preparação dos aaggrruuppaammeennttooss ddee ccoommbbaattee preser-vando-lhes o eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee (conceito já apresentado)..

SSoolliiddeezz da força de combate (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess) é uma das três características que essa força detém, capaz de gerar um sentimento coletivo positivo entre seus integrantes - ou em rela-ção a ela -, decorrente da convicção geral de que está apta para a ação, reação e subsistência sob pressões desagregadoras como uma qualificação grupal segura, firme e estável (procure ccoonnffiiaabbiilliiddaaddee e iinnddiissssoocciiaabbiilliiddaaddee).

CCoonnffiiaabbiilliiddaaddee da força de combate (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess) é uma das três característi-cas que essa força detém, capaz de gerar um sentimento coletivo positivo entre seus integrantes - ou em relação a ela -, referente à qualidade de sua doutrina de emprego e ao nível de ccaappaacciittaaççããoo ooppeerraa--cciioonnaall para empregá-la (procure ssoolliiddeezz e iinnddiissssoocciiaabbiilliiddaaddee).

IInnddiissssoocciiaabbiilliiddaaddee da força de combate (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess) é uma das três caracte-rísticas que essa força detém, capaz de gerar um sentimento coletivo positivo entre seus integrantes - ou em relação a ela -, que decorre da presciência de que, afinal, a organização militar à qual perten-cem permanecerá integrada, sem esfacelo, pelo permanente entendimento entre seus componentes estruturais de execução e de comando e pela agilidade na ligação entre esses dois instrumentos da ação (procure ccoonnffiiaabbiilliiddaaddee e ssoolliiddeezz).

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“A FASCINANTE GESTÃO DE UM ESPÍRITO” um sistema de liderança militar

João Manoel Simch Brochado – janeiro de 2010 63

NNaattuurreezzaa de uma força militar de combate é a característica de organização relacionada com o emprego e papel operacional que um aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee possui, definida, basicamente, pela sua designação sem referência ao seu vvaalloorr (conceito já apresentado).

EEnnqquuaaddrraammeennttoo define uma situação administrativa permanente e característica dos agrupamen-tos hierarquizados, que facilita o controle cerrado e a proximidade física dos integrantes como regra dominante, o que estimula o processo psicossocial interativo que desenvolve o ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall, mantém o mmoorraall ccoolleettiivvoo e fortalece a vvoonnttaaddee ggrruuppaall - operações descentralizadas modificam essa si-tuação (conceito já apresentado).

666))) efeitos da falta de homogeneidade nas relações da aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr – discrepâncias entre a ação do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr e de seus ccoommaannddaanntteess mmiillii--ttaarreess interferentes:

AAuuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess) é a aauuttoorriiddaaddee legalmente outorgada a um Soldado em função de sua posição dentro da hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr e de suas responsabilidades como co-mandante ou chefe.

CCoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess iinntteerrffeerreenntteess, na escala vertical da hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr ((ccaaddeeiiaa ddee ccoommaann--ddoo)), são aqueles que intervêm, pela abrangência de suas funções e responsabilidades de direção, co-mando ou chefia, no processo que desenvolve e mantém a energia coletiva do caráter, do moral e da vontade nos aaggrruuppaammeennttooss ddee ccoommbbaattee, correspondentes àquela escala.

LLiinnhhaaggeemm ddee llííddeerreess mmiilliittaarreess iinntteerrffeerreenntteess (ascendente ou descendente), neste ensaio, é uma expressão que se refere ao conjunto dos llííddeerreess mmiilliittaarreess iinntteerrffeerreenntteess considerados em seu desdo-bramento vertical sequencial para a ffuunnççããoo lliiddeerraannççaa de um ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr, coincidente com a ccaa--ddeeiiaa ddee ccoommaannddoo de uma força terrestre para a ffuunnççããoo cchheeffiiaa, desde o grande líder, comandante em chefe no maior escalão da força terrestre, até o llííddeerr iinntteerrffeerreennttee (ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr) do escalão con-siderado (ou no sentido inverso, deste escalão ao comandante em chefe).

777))) os efeitos do sistema de substituição (recompletamento) sobre o comba-tente e sobre o grupo:

RReeccoommpplleettaammeennttoo, “(1) É a atividade logística que compreende a obtenção, o processamento, a instrução e a distribuição de pessoal avulso para o preenchimento de claros de forças militares em ope-rações ou de uunniiddaaddeess ccoonnssttiittuuííddaass para a substituição de forças desgastadas em decorrência de ele-vada incidência de claros ou de permanência na linha de frente; (2) é o indivíduo ou a uunniiddaaddee ccoonnssttiittuu--ííddaa prontos para serem distribuídos ou recebidos para forças militares em operações.”49

888))) as variações dos ssuuppoorrtteess ppssiiccoollóóggiiccooss ccoolleettiivvooss e seus efeitos sobre a lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr e sobre o vvaalloorr e a nnaattuurreezzaa ddaa ffoorrççaa considerada - o âânniimmoo ddee ssaaccrriiffíícciioo, a ccooeessããoo mmiilliittaarr, o eessppíírriittoo ddee ccoorrppoo, a ccaammaarraaddaaggeemm mmiilliittaarr, o ccuullttoo ddaa ggllóórriiaa mmiilliittaarr, a mmííssttiiccaa mmiilliittaarr:

SSuuppoorrttee ppssiiccoollóóggiiccoo ccoolleettiivvoo define um complexo de influências psicossociológicas que se revela por uma certa unidade e similitude de motivação, capaz de sustentar o moral coletivo em nível adequa-do no âmbito de um agrupamento humano (conceito já apresentado).

LLiiddeerraannççaa mmiilliittaarr (sob fogo ou nas atividades de preparação da força terrestre), função do ccoo--mmaannddaannttee mmiilliittaarr no ssiisstteemmaa ddee lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr, é a capacidade de um líder militar compreender o a-grupamento de combate sob seu comando como uma entidade psicológica plural, para consolidar seu ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr, elevar o mmoorraall ddaa ttrrooppaa e desenvolver forte vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa para a ação a ser empreendida, tratando-o de forma integrada - sem o despercebimento da importância de cada combatente - para obter os melhores resultados relacionados com as razões de existência, de perma-nência e de emprego desse agrupamento dentro da organização de guerra à qual está incorporado (conceito já apresentado).

NNaattuurreezzaa de uma força militar de combate é a característica de organização relacionada com o emprego e papel operacional que um aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee possui, definida, basicamente, pela sua designação sem referência ao seu vvaalloorr - fuzileiro, apoio, infantaria motorizada, cavalaria mecanizada, artilharia de campanha, engenharia de construção, etc. (conceito já apresentado).

ÂÂnniimmoo ddee ssaaccrriiffíícciioo (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess) é a forte disposição vocacional dos Solda-dos que fundamenta o ccaarráátteerr ccoolleettiivvoo dos aaggrruuppaammeennttooss ddee ccoommbbaattee, e os dispõe a renúncias voluntá-rias e a privações extremas para o cumprimento do dever militar.

CCooeessããoo mmiilliittaarr (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess), como uma forte e primitiva sugestão aglutinan-te, é a situação de harmonia que se cria no âmbito das organizações militares de combate decorrente da aceitação, por parte de seus integrantes, dos propósitos e das responsabilidades que representam, com os riscos, sacrifícios e servidões que lhes correspondem, gerando vigorosa integração social entre os Soldados.

EEssppíírriittoo ddee ccoorrppoo (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess), como um ssuuppoorrttee ppssiiccoollóóggiiccoo ccoolleettiivv

oo, é a disposição especial que sustenta uma pequena fração, uma subunidade, uma unidade, uma grande u-

49 “Dicionário Militar Brasileiro”, inédito, BIBLIEX.

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nidade, um grande comando ou toda uma força singular (a força terrestre, a força naval ou a força aé-rea) como agrupamentos de guerra, revelando uma consciência coletiva entre seus combatentes, que os liga ao próprio corpo em qualquer escalão considerado, ao seu passado e presente institucionais, à crença otimista arraigada em seu futuro e, a despeito de tudo, em sua permanência como força de combate capaz e respeitada.

CCaammaarraaddaaggeemm mmiilliittaarr (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess) é o ssuuppoorrttee ppssiiccoollóóggiiccoo ccoolleettiivvoo que se cria entre Soldados pelo relacionamento solidário decorrente das atividades profissionais que exigem sacrifício para todos, risco comum e esforço integrado.

CCuullttoo ddaa ggllóórriiaa mmiilliittaarr (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess) é o ssuuppoorrttee ppssiiccoollóóggiiccoo ccoolleettiivvoo criado pelo sentimento coletivo de emulação com o passado militar de uma força armada, que deriva da cons-ciência grupal para o sacrifício em nome dos valores da organização militar, confirmada por feitos he-roicos praticados pelas suas Armas ou, individualmente, por seus integrantes, orgulhosamente reco-nhecidos como passíveis de serem repetidos no futuro (conceito já apresentado).

MMííssttiiccaa mmiilliittaarr (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess), como ssuuppoorrttee ppssiiccoollóóggiiccoo ccoolleettiivvoo, é a densa aattii--ttuuddee ccoolleettiivvaa de altivez, defesa e devotamento aos valores emblemáticos da organização militar e ao seu papel institucional, manifestada e demonstrada por cada um de seus integrantes em todas as suas atividades profissionais (conceito já apresentado).

999))) o grau de integração social do agrupamento, em seus quatro aspectos: (1) o nível técnico/tático individual dos combatentes, (2) o eessppíírriittoo mmiilliittaarr de cada comandante, (3) o nível de adestramento do agrupamento e (4) a consoli-dação, em seu âmbito, do ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr:

AAggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee (ou aaggrruuppaammeennttoo ddee gguueerrrraa) é uma expressão que designa qualquer uunniiddaaddee ccoonnssttiittuuííddaa, dentro das forças armadas, destinada ao combate terrestre direto (por extensão, naval ou aéreo).

EEssppíírriittoo mmiilliittaarr revela o espírito profissional de cada militar, visto e avaliado fora do contexto cole-tivo, e decorre de vviirrttuuddeess mmiilliittaarreess professadas e incorporadas ao seu ccaarráátteerr iinnddiivviidduuaall, o que influen-cia o relacionamento ético – ééttiiccaa mmiilliittaarr – entre ccaammaarraaddaass ddee AArrmmaass e entre cada um deles e a pró-pria Corporação singular que integram.

CCaarráátteerr iinnddiivviidduuaall de um Soldado é o conjunto de valores que ele aceita e professa pela sua for-mação anterior, familiar, escolar, religiosa, comunitária e de cidadão, acrescido dos valores que susten-tam as vviirrttuuddeess mmiilliittaarreess que lhe vão definir o eessppíírriittoo mmiilliittaarr capaz de motivá-lo à integração com o a-grupamento de combate. Esse acréscimo deverá ter desenvolvimento concomitante à consolidação do ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr.

VViirrttuuddeess mmiilliittaarreess são disposições constantes do ccaarráátteerr iinnddiivviidduuaall dos Soldados, justamente o que se entende ser, genericamente, o eessppíírriittoo mmiilliittaarr de cada um - definido pelos valores que profes-sam por inclinação pessoal ou sugestão afetiva -, capazes de induzi-los às práticas consentâneas com o relacionamento entre ccaammaarraaddaass ddee AArrmmaass e entre cada um deles e a corporação considerada no seu sentido amplo (Marinha, Exército ou Força Aérea) e, além disso, com o eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee dos exércitos, isto é, com o bem para essa disposição profissional coletiva (procure ééttiiccaa mmiilliittaarr na página 179).

CCaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr é o caráter coletivo dos Soldados conformado pelo conjunto de valo-res que sustentam os ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess, ou seja, o âânniimmoo ddee ssaaccrriiffíícciioo como uma forte disposição vo-cacional; a ccooeessããoo mmiilliittaarr da qual decorrem o eessppíírriittoo ddee ccoorrppoo, a ccaammaarraaddaaggeemm mmiilliittaarr, o ccuullttoo ddaa ggllóó--rriiaa mmiilliittaarr e a mmííssttiiccaa mmiilliittaarr; a sustentação das três características da força militar de combate: ssoolliiddeezz, ccoonnffiiaabbiilliiddaaddee e iinnddiissssoocciiaabbiilliiddaaddee ativadas pelos fatores aauuttoorriiddaaddee, hhiieerraarrqquuiiaa e ddiisscciipplliinnaa militares (um suporte que permite o desenvolvimento da autoconfiança coletiva); finalmente, como uma moldura de tudo, o envolvimento de cada Soldado com o sentimento individual de hhhooonnnrrraaa mmmiii llliii ttt aaarrr.

111000))) os efeitos das baixas de ccaammaarraaddaass ddee AArrmmaass sobre o mmoorraall ddaa ttrrooppaa e sobre a vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa:

CCaammaarraaddaa ddee AArrmmaass é uma expressão de referência genérica a militar pertencente a uma força singular em relação aos restantes militares da mesma força, como indivíduos ou coletividade, indepen-dente de posicionamento hierárquico, ou seja, os superiores, os subordinados e os companheiros de idêntico patamar hierárquico.

MMoorraall ddaa ttrrooppaa é o estado de espírito, apreciado coletivamente no âmbito de um aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee, resultante do mmoorraall iinnddiivviidduuaall de cada um de seus combatentes, criando, nesse agrupamen-to, uma energia positiva ou negativa, que interferirá, de forma determinante, no desenvolvimento da vvoonnttaaddee ccoolleettiivvaa; inicia-se, assim, um processo interativo que contamina psicologicamente os integran-tes do agrupamento considerado, caracterizando um novo envolvimento e um novo fenômeno,

VVoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa é a vvoonnttaaddee ccoolleettiivvaa instalada no âmbito de um aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee. VVoonnttaaddee ccoolleettiivvaa é a manifestação extroversa e ativa dentro de um aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo, ex-

pressa com gradação na sua intensidade, de um consenso de ação coletiva para um fim proposto a ser procurado e atingido, surgido na consciência grupal por um processo interativo dominado pelas razões persuasoras que formaram a vvoonnttaaddee iinnddiivviidduuaall da maioria dos integrantes do aaggrruuppaammeennttoo.

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“A FASCINANTE GESTÃO DE UM ESPÍRITO” um sistema de liderança militar

João Manoel Simch Brochado – janeiro de 2010 65

111111))) as variações relacionadas com a avaliação, dentro do agrupamento, do ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr, do mmoorraall ddaa ttrrooppaa e da vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa:

AAggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee (ou aaggrruuppaammeennttoo ddee gguueerrrraa) é uma expressão que designa qualquer uunniiddaaddee ccoonnssttiittuuííddaa, dentro das forças armadas, destinada ao combate terrestre direto (por extensão, naval ou aéreo).

UUnniiddaaddee ccoonnssttiittuuííddaa é uma expressão que se refere aos diversos agrupamentos operacionais com quadro de organização definido e com a designação do comandante e demais homens em suas respectivas funções, com equipamentos e armamentos distribuídos (conceito já apresentado).

CCaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr é o caráter coletivo dos Soldados conformado pelo conjunto de valo-res que sustentam os ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess, ou seja, o âânniimmoo ddee ssaaccrriiffíícciioo como uma forte disposição vo-cacional; a ccooeessããoo mmiilliittaarr da qual decorrem o eessppíírriittoo ddee ccoorrppoo, a ccaammaarraaddaaggeemm mmiilliittaarr, o ccuullttoo ddaa ggllóó--rriiaa mmiilliittaarr e a mmííssttiiccaa mmiilliittaarr; a sustentação das três características da força militar de combate: ssoolliiddeezz, ccoonnffiiaabbiilliiddaaddee e iinnddiissssoocciiaabbiilliiddaaddee ativadas pelos fatores aauuttoorriiddaaddee, hhiieerraarrqquuiiaa e ddiisscciipplliinnaa militares (um suporte que permite o desenvolvimento da autoconfiança coletiva); finalmente, como uma moldura de tudo, o envolvimento de cada Soldado com o sentimento individual de hhhooonnnrrraaa mmmiii llliii ttt aaarrr.

HHHooonnnrrraaa mmmiii lll iii tttaaarrr (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess) é a expressão emocional de um SSoollddaaddoo que se manifesta em relação a vvaalloorreess ddee hhhooonnnrrraaa mmmiii lll iii ttt aaarrr, de forma permanente, destacada e mística, como qua-lidade de seu caráter.

VVaalloorreess ddee hhhooonnnrrraaa mmmiii lll iii tttaaarrr são assentimentos incorporados ao ccaarráátteerr iinnddiivviidduuaall dos SSoollddaaddooss que refletem, de forma mística exacerbada, a importância que cada um deles atribui aos ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess e aos fundamentos filosóficos relacionados com a compreensão da realidade social militar, definidores das qualidades morais, éticas e profissionais professadas coletivamente pelo aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee ao qual pertencem.

MMoorraall ddaa ttrrooppaa é o estado de espírito, apreciado coletivamente no âmbito de um aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee, resultante do mmoorraall iinnddiivviidduuaall de cada um de seus combatentes, criando, nesse agrupamen-to, uma energia positiva ou negativa, que interferirá, de forma determinante, no desenvolvimento da vvoonnttaaddee ccoolleettiivvaa; inicia-se, assim, um processo interativo que contamina psicologicamente os integran-tes do agrupamento considerado, caracterizando um novo envolvimento e um novo fenômeno.

VVoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa é a vvoonnttaaddee ccoolleettiivvaa instalada no âmbito de um aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee. VVoonnttaaddee ccoolleettiivvaa é a manifestação extroversa e ativa dentro de um aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo, ex-

pressa com gradação na sua intensidade, de um consenso de ação coletiva para um fim proposto a ser procurado e atingido, surgido na consciência grupal por um processo interativo dominado pelas razões persuasoras que formaram a vvoonnttaaddee iinnddiivviidduuaall da maioria dos integrantes do aaggrruuppaammeennttoo.

111222))) a existência de vvaalloorreess ddee hhhooonnnrrraaa mmmiiilll iiitttaaarrr, o grau de importância desses vvaalloorreess para cada combatente, bem como seus efeitos sobre a madureza do agrupamento, sobre o mmoorraall ddaa ttrrooppaa e sobre a vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa:

VVaalloorreess ddee hhhooonnnrrraaa mmmiii lll iii tttaaarrr são assentimentos incorporados ao ccaarráátteerr iinnddiivviidduuaall dos Soldados que refletem, de forma mística exacerbada, a importância que cada um deles atribui aos ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess e aos fundamentos filosóficos relacionados com a compreensão da realidade social militar, definidores das qualidades morais, éticas e profissionais professadas coletivamente pelo aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee ao qual pertencem (conceito já apresentado).

MMoorraall ddaa ttrrooppaa é o estado de espírito, apreciado coletivamente no âmbito de um aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee, resultante do mmoorraall iinnddiivviidduuaall de cada um de seus combatentes, criando, nesse agrupamen-to, uma energia positiva ou negativa, que interferirá, de forma determinante, no desenvolvimento da vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa; inicia-se, assim, um processo interativo que contamina psicologicamente os integran-tes do agrupamento considerado, caracterizando um novo envolvimento e um novo fenômeno (conceito já apresentado).

VVoonnttaaddee ccoolleettiivvaa é a manifestação extroversa e ativa dentro de um aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo, ex-pressa com gradação na sua intensidade, de um consenso de ação coletiva para um fim proposto a ser procurado e atingido, surgido na consciência grupal por um processo interativo dominado pelas razões persuasoras que formaram a vvoonnttaaddee iinnddiivviidduuaall da maioria dos integrantes do aaggrruuppaammeennttoo (conceito já apresentado).

VVoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa é a vvoonnttaaddee ccoolleettiivvaa instalada no âmbito de uma organização militar operacional (conceito já apresentado).

111333))) as variações do eessttaaddoo ddiisscciipplliinnaarr na integração social do agrupamento: EEssttaaddoo ddiisscciipplliinnaarr é a situação de ordem e obediência consciente e inteligente que se estabelece

entre os militares de uma força de combate, para criar-lhe, como meta, as condições necessárias à promoção da violência organizada em nome do Estado, conservando seu valor e natureza mesmo quando sujeita a pressões desagregadoras e a risco permanente e extremo (conceito já apresentado).

111444))) as variações do mmoorraall ddaa ttrrooppaa e da vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa face ao desvirtua-mento da iiddeennttiiddaaddee iinnssttiittuucciioonnaall, à deterioração da oorrggaanniicciiddaaddee ooppeerraacciioonnaall e ao depauperamento da vvooccaaççããoo mmiilliittaarr e do eessppíírriittoo mmiilliittaarr:

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MMoorraall ddaa ttrrooppaa é o estado de espírito, apreciado coletivamente no âmbito de um aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee, resultante do mmoorraall iinnddiivviidduuaall de cada um de seus combatentes, criando, nesse agrupamen-to, uma energia positiva ou negativa, que interferirá, de forma determinante, no desenvolvimento da vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa; inicia-se, assim, um processo interativo que contamina psicologicamente os integran-tes do agrupamento considerado, caracterizando um novo envolvimento e um novo fenômeno (conceito já apresentado).

VVoonnttaaddee ccoolleettiivvaa é a manifestação extroversa e ativa dentro de um aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo, ex-pressa com gradação na sua intensidade, de um consenso de ação coletiva para um fim proposto a ser procurado e atingido, surgido na consciência grupal por um processo interativo dominado pelas razões persuasoras que formaram a vvoonnttaaddee iinnddiivviidduuaall da maioria dos integrantes do aaggrruuppaammeennttoo (conceito já apresentado).

VVoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa é a vvoonnttaaddee ccoolleettiivvaa instalada no âmbito de uma organização militar operacional (conceito já apresentado).

IIddeennttiiddaaddee iinnssttiittuucciioonnaall, neste ensaio, é o claro reconhecimento público da importância e do sen-tido social de forças armadas como instituições permanentes ligadas à preservação dos valores eter-nos da Pátria e base do sistema social de coerção do Estado.

OOrrggaanniicciiddaaddee ooppeerraacciioonnaall da força de combate é uma expressão que define uma qualidade des-sa força por manter assegurado o funcionamento de seus ssiisstteemmaass oorrggâânniiccooss eesssseenncciiaaiiss ((conceito já apresentado)).

VVooccaaççããoo pprrooffiissssiioonnaall no sentido genérico é o conjunto de atributos que caracterizam o envolvi-mento físico-afetivo de um indivíduo com determinada profissão organizada exigente, em princípio, de habilitações invulgares, de espírito de sacrifício, de dedicação acendrada, de orgulho profissional e - em muitas delas – de risco, provocando-lhe, desde cedo, uma espécie de fascinação para a auto-identificação com as aptidões necessárias, com os traços psicofisiológicos convenientes (temperamen-to), com as motivações e com os propósitos sociais que a atividade profissional revela.

VVooccaaççããoo mmiilliittaarr é a vvooccaaççããoo pprrooffiissssiioonnaall voltada para as Armas que, pela espontaneidade do pró-prio processo que a consolida entre Soldados, com seus elementos de tteemmppeerraammeennttoo individual, gené-ticos ou inatos, revela-se como uma exigência pulsional decorrente de uma dinâmica vocacional muito peculiar que impele o militar vocacionado, de forma arrebatada, para as atividades e metas de sua pro-fissão como forma de satisfazer o estado de paixão, de excitação, de entusiasmo, de exaltação nacio-nalista e, muitas vezes, de tensão, que cria.

111555))) identificar os conflitos da função lliiddeerraannççaa: LLiiddeerraannççaa, função do líder, compreende um conjunto de atividades voltadas para o aaggrruuppaammeennttoo

hhuummaannoo de liderados, destinadas a identificar, manter e consolidar os vvaalloorreess do ccaarráátteerr ccoolleettiivvoo desse agrupamento, sustentando-lhe o mmoorraall ccoolleettiivvoo em níveis adequados e desenvolvendo-lhe a vvoonnttaaddee ccoolleettiivvaa para as ações necessárias, além de acompanhar esse processo anímico e interferir, sempre que necessário, em sua dinâmica para assegurar os melhores resultados relacionados com as razões de existência e de permanência do dito agrupamento.

LLiiddeerraannççaa mmiilliittaarr, sob fogo ou nas atividades de preparação da força terrestre, é a função do ccoo--mmaannddaannttee mmiilliittaarr que o define como llííddeerr ddee ccoommbbaattee no ssiisstteemmaa ddee lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr.

LLííddeerr é o integrante de um aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo eessppoonnttâânneeoo, destacado no processo psicológico interativo interno como condutor natural ou imposto; nos aaggrruuppaammeennttooss hhuummaannooss iinnssttiittuuííddooss, é o inte-grante inserido nessa congregação social por decisão externa, para conduzi-la. Ambos, llííddeerr iinntteeggrraaddoo ou llííddeerr oouuttoorrggaaddoo, devem devotar-se à exercitação geral dos vvaalloorreess apropriados ao universo de seus liderados como base para a consolidação do ccaarráátteerr ccoolleettiivvoo, à melhora da disposição de todos para a vida e para as atividades profissionais mantendo em bom nível o mmoorraall ccoolleettiivvoo e ao estímulo e dire-cionamento da vvoonnttaaddee ccoolleettiivvaa para a ação conveniente e oportuna. O bom llííddeerr cria, dessa forma, as melhores condições psicológicas coletivas para a condução do agrupamento que lidera aos propósitos que justificam sua existência natural ou que determinaram sua criação.

LLLííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaa ttteee é o ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr que lidera o aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee de seu comando, devotando-se ininterruptamente (1) à exercitação geral dos vvaalloorreess que sustentam os ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaa--rreess e conformam o ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr desse agrupamento, (2) à melhora da disposição de seus combatentes para suportar todo o tipo de pressão desagregadora mantendo em bom nível o mmoorraall ddaa ttrrooppaa e (3) ao estímulo e direcionamento correto e tempestivo da vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa para a ação militarr que lhe for atribuída - na preparação ou no combate sob pressão do iinniimmiiggoo -, a qualquer tempo e sob quaisquer circunstâncias. O bom llííddeerr ddee ccoommbbaattee cria, dessa forma e dentro do contexto militar dos escalões de comando onde se insere, as melhores condições psicológicas coletivas para a condução do seu agrupamento aos propósitos que justificam a existência de uma força de guerra como braço armado do Estado.

LLííddeerr iinntteerrffeerreennttee (ou comandante/líder interferente), na escala vertical da hierarquia militar, é a-quele que intervém, pela abrangência de suas funções e responsabilidades de comando, no processo que desenvolve e mantém a energia coletiva do caráter, do moral e da vontade nas organizações mili-tares operacionais abarcadas por essa escala, como o propósito geral de criar, desenvolver e manter o espírito combatente.

CCaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr é o caráter coletivo dos Soldados conformado pelo conjunto de valo-res que sustentam os ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess, ou seja, o âânniimmoo ddee ssaaccrriiffíícciioo como uma forte disposição vo-cacional; a ccooeessããoo mmiilliittaarr da qual decorrem o eessppíírriittoo ddee ccoorrppoo, a ccaammaarraaddaaggeemm mmiilliittaarr, o ccuullttoo ddaa ggllóó--rriiaa mmiilliittaarr e a mmííssttiiccaa mmiilliittaarr; a sustentação das três características da força militar de combate: ssoolliiddeezz, ccoonnffiiaabbiilliiddaaddee e iinnddiissssoocciiaabbiilliiddaaddee ativadas pelos fatores aauuttoorriiddaaddee, hhiieerraarrqquuiiaa e ddiisscciipplliinnaa militares

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João Manoel Simch Brochado – janeiro de 2010 67

(um suporte que permite o desenvolvimento da autoconfiança coletiva); finalmente, como uma moldura de tudo, o envolvimento de cada Soldado com o sentimento individual de hhhooonnnrrraaa mmmiii llliii ttt aaarrr.

CCoommaannddaannttee mmiilliittaarr é o militar mais antigo, mais graduado ou de mais alto posto de um aaggrruuppaa--mmeennttoo ddee ccoommbbaattee, como uunniiddaaddee ccoonnssttiittuuííddaa, ao qual foi outorgada legal ou administrativamente, a aauu--ttoorriiddaaddee mmiilliittaarr para empregar seu agrupamento como força de combate e conduzi-lo, nas melhores condições físicas e psicológicas, à vitória militar ou a superação da crise em que está envolvido e cujas responsabilidades como lll ííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee abrangem, ainda, para esses propósitos, a preparação téc-nica individual de seus combatentes, o adestramento tático da força sob seu comando, a consolidação dos vvaalloorreess ccoolleettiivvooss do ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr, a manutenção em alto nível do mmoorraall ddee ssuuaa ttrrooppaa e da forte vvoonnttaaddee ccoolleettiivvaa da força lidera para as ações que empreende.

EEEtttccc...,,, EEEtttccc......

A identificação dessas variáveis e seus efeitos sobre as uunniiddaaddeess ccoonnssttiittuuííddaass da força terrestre caracterizam o aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee como algo sociologicamente singular em relação a qualquer outro aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo, em particular porque só existirá como tal, nnaa mmeeddiiddaa eemm qquuee ssee mmaannttiivveerr eemmppeennhhaaddoo eemm ppooddeerr sseerr,, qquuaannddoo nneecceessssáárriioo,, uumm eexxeeccuuttoorr eexxppeeddiittoo ddee vviioollêênncciiaa oorrggaanniizzaaddaa ee ddiirriiggiiddaa. As observações provenientes da experiência e da tradição militar empírica relatada, transmitida e incorporada ao conhecimento profissional aceito e professado – como um passo im-portante a ser dado – devem ser provocadas por um planejamento objetivo e enca-minhadas à explicação científica da ppssiiccoossssoocciioollooggiiaa mmiilliittaarr. A investigação dessa ciência social para a fenomenologia militar,...

...“então, adquirirá pouco a pouco, um caráter planificado, evitando a dispersão e a disparidade. Só assim poderão ser suficientemente explicita-das suas bases teóricas: postulados, conceitos fundamentais com as suas definições e as suas hipóteses precisas formuladas em termos de relações entre variáveis determinadas” 50.

A definição desse objetivo orientou meu interesse de estudo que, afinal, resultou na Trilogia “O espírito combatente”, ou seja: vincular permanentemente a observa-ção no campo das organizações militares de combate com a identificação do fenô-meno psicossocial que explique o observado, com o propósito de homogeneizar e orientar a qualidade da lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr para a obtenção, a manutenção ou a recu-peração do eessttaaddoo ddoo eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee.

111444 ––– MMMooobbbiiillliiizzzaaaçççãããooo eee pppeeesssqqquuuiiisssaaa cccooommmeeeçççaaannnttteeesss Entretanto, para explicar de forma cabal toda a dinâmica psicossocial dos aaggrruu--

ppaammeennttooss ddee ccoommbbaattee referida na Trilogia “O espírito combatente” e transformar es-se fenômeno no principal respaldo teórico da formação e da orientação dos ccoommaann--ddaanntteess mmiilliittaarree

ss da força terrestre, sugiro cinco grandes atividades (com a indicação dos conceitos relacionados, apresentados em corpo menor e na ordem em que estão sugeri-dos nessas atividades – da primeira à quinta -, repetindo-os para cada uma):

50 Transcrevo a orientação e as palavras de Jean Maisonneuve, em sua “INTRODUÇÃO À PSICOSSOCIOLOGIA”, RÉS, Editora, Ltda, Porto, Portugal (página 38), para definir o objetivo espe-cífico dessa pesquisa na área militar.

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PPPRRRIIIMMMEEEIIIRRRAAA aaa cccúúúpppuuulllaaa Criação de um organismo de cúpula permanente e especializado, no nível

mais elevado do comando da força terrestre (COTER), para implantar, orientar, supervisionar, coordenar e avaliar os efeitos do que deverá ser um consolida-

do e ativo sistema de liderança militar.

SSiisstteemmaa “pode ser definido como um conjunto de elementos inter-relacionados que interagem no desempenho de uma função.”51

SSiisstteemmaa ddee lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr, neste ensaio e na sua maior amplitude, é o sistema de informações que abrange o conjunto das lliiddeerraannççaass mmiilliittaarreess iinntteerrffeerreenntteess que dirige, supervisiona e promove a ho-mogeneidade nos resultados da lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr relacionados com a obtenção e manutenção do eessppíírrii--ttoo ccoommbbaatteennttee no âmbito da força terrestre ( EEECCC).

Cada eessccaallããoo ddee ccoommaannddoo, entretanto, poderá definir um subsistema coerente e integrado verticalmente aos subsistemas dos eessccaallõõeess ddee ccoommaannddoo mais elevados até a conformação de um grande ssiisstteemmaa ddee lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr ddiirreettoorr –– aaccoommppaannhhee nnaa Ilustração 20,, aaoo llaaddoo:

Visualizemos esses feixes subjacentes de linhas divergentes atentando, inicialmente, para as atividades e preocupações de um comandante de ba-talhão e seus comandantes de subunidades (Ilustração 19, página 54: recorra à Ilustração 17, página 49); em seguida, de cada um desses comandantes de

subunidade e seus comandantes de fração; ainda, de cada um desses comandantes de fração e seus comandantes de grupo; mais, de cada um desses comandantes de grupo e seus comandantes de esquadra; enfim, de cada um desses comandantes de esquadra e seus homens. O próprio batalhão – qquuee ddeeffiinnee uumm ssuubbssiisstteemmaa - com visão mais ampla e a partir do eessccaallããoo ddee ccoommaannddoo superior,

estará incluído em ssuubbssiisstteemmaass eessppeeccííffiiccooss ddee bbrriiggaaddaa,, ddee ddiivviissããoo,, eettcc... O comando da força terrestre comporá, com a máxima amplitude, o grande ssiisstteemmaa ddee lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr ddiirreettoorr ((CCOOTTEERR)). A descentralização de opera-ções não poderá truncar essa orientação sistêmica (ddee qquuee ffoorrmmaa uummaa ffoorr--ççaa ddeessttaaccaaddaa ppaarraa ooppeerraaççõõeess ffoorraa ddoo TTeerrrriittóórriioo NNaacciioonnaall –– aa FFEEBB nnaa IIttáálliiaa

51 Professor Jorge Henrique C. Fernandes.

X

Ilustração 20 - Liderança militar no nível de um batalhão de infantaria: um subsistema (ppoonnttiillhhaaddoo vveerrddee) que abrange-ria os subsistemas das suas subunidades (ppoonnttiillhhaaddoo vveerrmmee--llhhoo) e de suas frações (ppoonnttiillhhaaddoo aazzuull ffeerrrreettee), além de per-tencer ao subsistema da brigada que o enquadra (ppoonnttiillhhaaddoo aazzuull), etc., até o grande sistema de liderança militar diretor.

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oouu oo ccoonnttiinnggeennttee bbrraassiilleeiirroo nnoo HHaaiittii,, ppoorr eexxeemmpplloo -- ssee mmaanntteerriiaa ppaarrttiicciippaannttee ddeessssee fflluuxxoo ee rreefflluuxxoo ddee ddaaddooss ee ddee aavvaalliiaaççõõeess??)

A integração inicial desses subsistemas garantirá a homogeneidade do processo de avaliações contínuas e permanentes e de seus resultados sobre o eessppíírriittoo ccoomm--bbaatteennttee da força terrestre em qualquer momento e em qualquer situação. Para isso, deverá ocorrer,

111 – O recolhimento de dados para análise de resultados; 222 – A implantação de rotinas para a coleta, avaliação e organização de mate-

rial para estudo; 333 – A preparação de publicação periódica com a participação dos interessa-

dos e envolvidos com a problemática do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr, difundindo resul-tados e informações (“liderança militar”).

SSSEEEGGGUUUNNNDDDAAA aaa bbbaaassseee Definição da base para a ação do cccooommmaaannndddaaannnttteee mmmiiillliiitttaaarrr

444 – Com fundamento nos estudos apresentados nos três Livros da Trilogia “O espírito combatente” 52, quais são os valores morais, éticos, espirituais, profissionais e existenciais que devem conformar o ccaarráátteerr ccoolleettiivvoo do solda-do brasileiro - ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr bbrraassiilleeiirroo? (vvaalloorreess que sustentam os treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess, valores emblemáticos, valores universais, valores que pos-sam diferençar os diversos níveis de responsabilidade para soldados, graduados, oficiais, valores específicos para as diversas armas, serviços e especialidades e uma oorriieennttaaççããoo ggeennéérriiccaa ssoobbrree vvaalloorreess ddee hhhooonnnrrraaa mmmiii lll iii tttaaarrr).

VVaalloorreess (em relação ao assentimento coletivo ou individual) (11) como assentimento incorporado ao ccaarráátteerr ccoolleettiivvoo, os vvaalloorreess caracterizam a importância atribuída por um aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo a fun-damentos filosóficos, relacionados com a compreensão da realidade, que definem qualidades morais, éticas, espirituais, profissionais e existenciais professadas pela coletividade; (22) como assentimento in-corporado ao ccaarráátteerr iinnddiivviidduuaall, os vvaalloorreess definem a importância que uma pessoa atribui a fundamen-tos filosóficos, relacionados com a compreensão da realidade, que definem qualidades morais, éticas, espirituais, profissionais e existenciais por ela professadas.

VVaalloorreess eessppiirriittuuaaiiss são vvaalloorreess que se relacionam com o assentimento incorporado ao ccaarráátteerr iinn--ddiivviidduuaall ou ccoolleettiivvoo, em orientações e poderes subjetivos, intemporais e sobrenaturais sob os quais os seres humanos devem pautar suas vidas.

VVaalloorreess ééttiiccooss são vvaalloorreess que se relacionam com o assentimento incorporado ao ccaarráátteerr iinnddiivvii--dduuaall oouu ccoolleettiivvoo, na importância do aprimoramento da vida de relação e que, para isso, os seres huma-nos devem ter sua conduta social qualificada segundo determinados juízos de apreciação, como ade-quada ou inadequada.

VVaalloorreess eexxiisstteenncciiaaiiss são vvaalloorreess que se relacionam com o assentimento incorporado ao ccaarráátteerr iinnddiivviidduuaall ou ccoolleettiivvoo, provindo de instintos que dominam a consciência profunda dos seres humanos em relação à preservação da própria vida, da busca permanente do menor sacrifício para vivê-la e da permanência de sua espécie.

VVaalloorreess mmoorraaiiss são vvaalloorreess que se relacionam com o assentimento incorporado ao ccaarráátteerr iinnddiivvii--dduuaall ou ccoolleettiivvoo, no sentido absoluto, na importância e na necessidade do ser humano preservar sua dignidade e a dignidade de seus semelhantes (as variações culturais e a evolução do conceito de dig-nidade humana têm sido capazes, ao longo da história, de definir vvaalloorreess mmoorraaiiss diferençados).

VVaalloorreess pprrooffiissssiioonnaaiiss são vallores que se relacionam com o assentimento incorporado ao ccaarráátteerr iinnddiivviidduuaall ou ccoolleettiivvoo, nas qualidades objetivas e subjetivas que sustentam as profissões de uma soci-edade humana e as atividades de seus respectivos profissionais (nas profissões, além desses vvaalloorree

ss

52 Apresento esses textos porque sou o autor e esse foi meu propósito, mas entendo que o funda-mento deva ser ampliado com todo o tipo de colaboração e de textos disponíveis no Brasil e no exte-rior.

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específicos, devem ser considerados os vvaalloorreess ééttiiccooss para o relacionamento institucional ou para o re-lacionamento de seus profissionais com os objetos de suas atividades).

VVaalloorreess ddee hhoonnrraa são assentimentos incorporados ao ccaarráátteerr iinnddiivviidduuaall que refletem, de forma mística, a importância singular que uma pessoa atribui a fundamentos filosóficos - relacionados com a compreensão da realidade social e à própria sobrevivência do aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo que integra -, de-finidores das qualidades morais, éticas, espirituais, profissionais e existenciais professadas coletiva-mente por esse agrupamento.

VVaalloorreess ddee hhhooonnnrrraaa mmmiii lll iii tttaaarrr são assentimentos incorporados ao ccaarráátteerr iinnddiivviidduuaall dos Soldados que refletem, de forma mística exacerbada, a importância que cada um deles atribui aos ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess e aos fundamentos filosóficos relacionados com a compreensão da realidade social militar, definidores das qualidades morais, éticas e profissionais professadas coletivamente pelo aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee ao qual pertencem.

VVaalloorreess eesssseenncciiaaiiss (vvaalloorreess sobrelevantes ou vvaalloorreess emblemáticos) são vvaalloorreess do ccaarráátteerr ccoolleettii--vvoo que geram os iinntteerreesssseess eesssseenncciiaaiiss ccoommuunnss estimulantes e sustentadores da convivência e da uni-ão nos aaggrruuppaammeennttooss hhuummaannooss.

DDiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess (matéria tratada no Livro 2 da Trilogia “O espírito combatente”) são desta-ques para treze fenômenos que identificam a base do ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr das organizações de combate e revelam os valores coletivos que os sustentam: (1) o ânimo de sacrifício como uma forte disposição vocacional; (2) a coesão militar da qual decorrem o (3) espírito de corpo, a (4) camarada-gem militar, o (5) culto da glória militar e a (6) mística militar; a sustentação das três características da força militar de combate: (7) solidez, (8) confiabilidade e (9) indissociabilidade ativadas pelos fatores (10) autoridade, (11) hierarquia e (12) disciplina militares (criando e desenvolvendo a autoconfiança co-letiva); finalmente, como uma moldura de tudo, a sensibilidade de cada SSoollddaaddoo para o sentimento de (13) hhoonnrraa mmiilliittaarr.

CCaarráátteerr ccoolleettiivvoo é definido pelo conjunto de vvaalloorreess aceitos e professados pela maioria dos inte-grantes de um aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo, base para a conformação de aattiittuuddeess, sseennttiimmeennttooss, ccoommppoorrttaa--mmeennttooss e rreeaaççõõeess comuns, capazes de conferir a esse agrupamento como um todo, um peculiar perfil psicológico.

CCaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr (enfoque principal do Livro 2 da trilogia “O espírito combatente”) é o ccaarráátteerr ccoolleettiivvoo dos SSoollddaaddooss conformado pelo conjunto de vvaalloorreess que sustentam os ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaa--rreess.

555 – Como definir, para cada vvaalloorr do ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr bbrraassiilleeiirroo, as aattiittuuddeess, os sseennttiimmeennttooss, os ccoommppoorrttaammeennttooss e as rreeaaççõõeess que o identificam quando interiorizado em cada soldado ou instalado nos agrupamentos de combate?

CCaarráátteerr ccoolleettiivvoo é definido pelo conjunto de vvaalloorreess aceitos e professados pela maioria dos inte-grantes de um aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo, base para a conformação de aattiittuuddeess, sseennttiimmeennttooss, ccoommppoorrttaa--mmeennttooss e rreeaaççõõeess comuns, capazes de conferir a esse agrupamento como um todo, um peculiar perfil psicológico.

CCaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr é o ccaarráátteerr ccoolleettiivvoo dos Soldados conformado pelo conjunto de vvaalloo--rreess que sustentam os ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess, ou seja, o âânniimmoo ddee ssaaccrriiffíícciioo como uma forte disposição vo-cacional; a ccooeessããoo mmiilliittaarr da qual decorrem o eessppíírriittoo ddee ccoorrppoo, a ccaammaarraaddaaggeemm mmiilliittaarr, o ccuullttoo ddaa ggllóó--rriiaa mmiilliittaarr e a mmííssttiiccaa mmiilliittaarr; a sustentação das três características da força militar de combate: ssoolliiddeezz, ccoonnffiiaabbiilliiddaaddee e iinnddiissssoocciiaabbiilliiddaaddee ativadas pelos fatores aauuttoorriiddaaddee, hhiieerraarrqquuiiaa e ddiisscciipplliinnaa militares (um suporte que permite o desenvolvimento da autoconfiança coletiva); finalmente, como uma moldura de tudo, o envolvimento de cada Soldado com o sentimento individual de hhhooonnnrrraaa mmmiii llliii ttt aaarrr.

AAttiittuuddee ccoolleettiivvaa (atitude grupal), como um traço psicológico grupal, caracteriza a disposição previ-sível em um agrupamento humano, favorável ou desfavorável em face de objetos sociais ou situações sociais de conflito.

SSeennttiimmeennttoo ccoolleettiivvoo, como traço psicológico grupal, caracteriza a expressão emocional de um a-grupamento humano e se manifesta, de uma mesma forma, como qualidade coletiva permanente.

SSeennttiimmeennttoo iinnddiivviidduuaall, como traço psicológico de uma pessoa, é a disposição emocional individu-al que se manifesta, de uma mesma forma, como qualidade permanente nessa pessoa.

SSeennttiimmeennttoo iinnddiivviidduuaall ddee hhoonnrraa é a disposição individual que se manifesta, de uma mesma for-ma, como qualidade permanente do caráter de uma pessoa em relação a vvaalloorreess ddee hhoonnrraa destacados coletivamente no aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo ao qual está integrada.

CCoommppoorrttaammeennttooss (11) como traços psicológicos grupais, caracterizam atividades com padrões co-muns que geram procedimentos coletivos repetitivos em um aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo; (22) como traços psicológicos de uma pessoa, são atividades individuais que determinam procedimentos repetitivos nes-sa pessoa.

RReeaaççõõeess (11) como traços psicológicos grupais, caracterizam respostas emocionais coletivas, em um aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo, a estímulos intensos que se apresentem de inopino; (22) como traços psico-lógicos de uma pessoa, são respostas emocionais individuais a estímulos intensos que se apresentem de inopino.

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“A FASCINANTE GESTÃO DE UM ESPÍRITO” um sistema de liderança militar

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TTTEEERRRCCCEEEIIIRRRAAA aaa dddiiiaaagggnnnooossseee Definição dos elementos mais importantes para a diagnose do eessttaaddoo ddoo

eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee

Considerar as seguintes questões para quatro níveis de comando e liderança: fra-ções e subunidades, unidades, grandes unidades e grandes comandos:

666 – Quais seriam os elementos de apreciação e avaliação do ccaarráátteerr iinnddiivvii--dduuaall ddoo ccoommbbaatteennttee (o eessppíírriittoo mmiilliittaarr)?

CCaarráátteerr iinnddiivviidduuaall é o conjunto de vvaalloorreess aceitos e professados por uma pessoa que serve de base para o desenvolvimento de suas aattiittuuddeess, seus sseennttiimmeennttooss, seus ccoommppoorrttaammeennttooss e suas rreeaa--ççõõeess, com todos os procedimentos que lhes decorrem, capaz de conferir a essa pessoa um perfil psico-lógico próprio.

EEssppíírriittoo mmiilliittaarr revela o espírito profissional de cada militar, visto e avaliado fora do contexto cole-tivo, e decorre de vviirrttuuddeess mmiilliittaarreess professadas e incorporadas ao seu ccaarráátteerr iinnddiivviidduuaall, o que influen-cia o relacionamento ético – ééttiiccaa mmiilliittaarr – entre ccaammaarraaddaass ddee AArrmmaass e entre cada um deles e a pró-pria Corporação singular que integram.

VViirrttuuddeess mmiilliittaarreess são disposições constantes do ccaarráátteerr iinnddiivviidduuaall dos Soldados, justamente o que se entende ser, genericamente, o eessppíírriittoo mmiilliittaarr de cada um - definido pelos vvaalloorreess que profes-sam por inclinação pessoal ou sugestão afetiva -, capazes de induzi-los às práticas consentâneas com o relacionamento entre ccaammaarraaddaass ddee AArrmmaass e entre cada um deles e a corporação considerada no seu sentido amplo (Marinha, Exército ou Força Aérea) e, além disso, com o eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee dos exércitos, isto é, com o bem para essa disposição profissional coletiva.

ÉÉttiiccaa mmiilliittaarr, no âmbito das relações com o conhecimento científico (ciências humanas aplicadas ao agrupamento militar), é a parte da ssoocciioollooggiiaa mmiilliittaarr que investiga a definição e o rigor dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o ccoommppoorrttaammeennttoo dos militares considerados indivi-dualmente no relacionamento entre ccaammaarraaddaass ddee AArrmmaass e entre cada um deles e - em visão abran-gente -, a grande corporação que integram, isto é, o Exército, a Marinha ou a Força Aérea (conceito já apresentado na página 179; procure vviirrttuuddeess mmiilliittaarreess, acima)53.

CCaammaarraaddaa ddee AArrmmaass é uma expressão de referência genérica a militar pertencente a uma força singular em relação aos restantes militares da mesma força, como indivíduos ou coletividade, indepen-dente de posicionamento hierárquico, ou seja, os superiores, os subordinados e os companheiros de idêntico patamar hierárquico (conceito já apresentado).

777 – Quais seriam os elementos de apreciação e avaliação do ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr?

CCaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr (enfoque principal do Livro 2 da trilogia “O espírito combatente”) é o ccaarráátteerr ccoolleettiivvoo dos SSoollddaaddooss conformado pelo conjunto de vvaalloorreess que sustentam os ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaa--rreess.

ÂÂnniimmoo ddee ssaaccrriiffíícciioo (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess) é a forte disposição vocacional dos Solda-dos que fundamenta o caráter coletivo dos aaggrruuppaammeennttooss ddee ccoommbbaattee, e os dispõe a renúncias voluntá-rias e a privações extremas para o cumprimento do dever militar.

CCooeessããoo mmiilliittaarr (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess), como uma forte e primitiva sugestão aglutinante – impulso de conjunção -, é a situação de harmonia que se cria no âmbito das organizações militares de combate decorrente da aceitação, por parte de seus integrantes, dos propósitos e das responsabili-dades que representam, com os riscos, sacrifícios e servidões que lhes correspondem, gerando uma vigorosa integração social entre os Soldados.

EEssppíírriittoo ddee ccoorrppoo (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess), como um ssuuppoorrttee ppssiiccoollóóggiiccoo ccoolleettiivv

oo, é a disposição especial que sustenta uma pequena fração, uma subunidade, uma unidade, uma grande u-nidade, um grande comando ou toda uma força singular (a força terrestre, a força naval ou a força aé-rea) como agrupamentos de guerra, revelando uma consciência coletiva entre seus combatentes, que os liga ao próprio corpo em qualquer escalão considerado, ao seu passado e presente institucionais, à crença otimista arraigada em seu futuro e, a despeito de tudo, em sua permanência como força de combate capaz e respeitada.

53 A Constituição Brasileira de 1988, referindo-se às Forças Armadas Brasileiras, em seu Capítulo II – Das Forças Armadas, Artigo 142, afirma que “são instituições nacionais permanentes e regulares” e deixa que se subentenda cada uma delas, de per se, como “instituição nacional permanente e regu-lar”. A referência à “grande corporação”, nesse conceito, portanto, não exclui essa acepção, mas, certamente, está mais relacionada com as estruturas operacionais que representam.

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“A FASCINANTE GESTÃO DE UM ESPÍRITO” um sistema de liderança militar

João Manoel Simch Brochado – janeiro de 2010 72

CCaammaarraaddaaggeemm mmiilliittaarr (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess) é o suporte psicológico coletivo que se cria entre Soldados pelo relacionamento solidário decorrente das atividades profissionais que exigem sacrifício para todos, risco comum e esforço integrado.

CCuullttoo ddaa ggllóórriiaa mmiilliittaarr (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess) é o ssuuppoorrttee ppssiiccoollóóggiiccoo ccoolleettiivvoo criado pelo sentimento coletivo de emulação com o passado militar de uma força armada, que deriva da cons-ciência grupal para o sacrifício em nome dos valores da organização militar, confirmada por feitos he-roicos praticados pelas suas Armas ou, individualmente, por seus integrantes, orgulhosamente reco-nhecidos como passíveis de serem repetidos no futuro.

MMííssttiiccaa mmiilliittaarr (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess), como ssuuppoorrttee ppssiiccoollóóggiiccoo ccoolleettiivvoo, é a densa aattii--ttuuddee ccoolleettiivvaa de altivez, defesa e devotamento aos valores emblemáticos da organização militar e ao seu papel institucional, manifestada e demonstrada por cada um de seus integrantes em todas as suas atividades profissionais.

SSoolliiddeezz da força de combate (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess) é uma das três características que essa força detém, capaz de gerar um sseennttiimmeennttoo ccoolleettiivvoo positivo entre seus integrantes - ou em rela-ção a ela -, decorrente da convicção geral de que está apta para a ação, reação e subsistência sob pressões desagregadoras como uma qualificação grupal segura, firme e estável (procure ccoonnffiiaabbiilliiddaaddee e iinnddiissssoocciiaabbiilliiddaaddee).

CCoonnffiiaabbiilliiddaaddee da força de combate (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess) é uma das três característi-cas que essa força detém, capaz de gerar um sentimento coletivo positivo entre seus integrantes - ou em relação a ela -, referente à qualidade de sua doutrina de emprego e ao nível de capacitação opera-cional para empregá-la (procure ssoolliiddeezz e iinnddiissssoocciiaabbiilliiddaaddee).

IInnddiissssoocciiaabbiilliiddaaddee da força de combate (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess) é uma das três caracte-rísticas que essa força detém, capaz de gerar um sseennttiimmeennttoo ccoolleettiivvoo positivo entre seus integrantes - ou em relação a ela -, que decorre da presciência de que, afinal, a organização militar à qual perten-cem permanecerá integrada, sem esfacelo, pelo permanente entendimento entre seus componentes estruturais de execução e de comando e pela agilidade na ligação entre esses dois instrumentos da ação (procure ccoonnffiiaabbiilliiddaaddee e ssoolliiddeezz).

AAuuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess) é a autoridade legalmente outorgada a um Soldado em função de sua posição dentro da hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr e de suas responsabilidades como co-mandante ou chefe.

HHiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess) é uma rígida escala de postos e graduações definidora de funções e responsabilidades que cria uma ordem impessoal com níveis de autoridade e de subordinação, ativados como um todo e, ao mesmo tempo, tornados aptos a avigorar a impulsão para a vitória militar dentro do combate segundo a vontade matriz do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr.

DDiisscciipplliinnaammeennttoo mmiilliittaarr (ddiisscciipplliinnaa mmiilliittaarr um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess, procure eessttaaddoo ddiissccii--pplliinnaarr) é um processo coletivo de natureza psicológica (psicossocial, na verdade) que, ao buscar o eess--ttaaddoo ddiisscciipplliinnaarr, tem como objetivo a consolidação, dentro de uma força de combate, do respeito à aauu--ttoorriiddaaddee mmiilliittaarr, à hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaarr e aos vvaalloorreess profissionais, essenciais a essa força e que deve ser conduzido pelos ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess - sob a orientação do de maior nível hierárquico -, com sensibi-lidade, determinação e lucidez no curso da preparação dessa força (instrução individual e adestramen-to dos agrupamentos constituídos)

HHHooonnnrrraaa mmmiii lll iii tttaaarrr (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess) é a expressão emocional de um Soldado que se manifesta em relação à vvaalloorreess ddee hhhooonnnrrraaa mmmiii lll iii ttt aaarrr, de forma permanente, destacada e mística, como qua-lidade de seu caráter.

888 – Quais seriam os elementos de apreciação e avaliação do eessttaaddoo ddoo mmoo--rraall iinnddiivviidduuaall ddoo ccoommbbaatteennttee?

EEssttaaddoo ddoo mmoorraall (eessttaaddoo ddoo mmoorraall iinnddiivviidduuaall, ccoolleettiivvoo, nnaacciioonnaall, rreeggiioonnaall, pprrooffiissssiioonnaall, etc.) define uma apreciação e avaliação do nível do mmoorraall iinnddiivviidduuaall ou do mmoorraall ccoolleettiivvoo em determinado momen-to, nas circunstâncias que envolvem a pessoa ou o aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo apreciado e avaliado.

MMoorraall iinnddiivviidduuaall é o estado de espírito de uma pessoa, resultante de sua disposição física, de seu sseennttiimmeennttoo de dignidade, de sua confiança nos chefes e llííddeerreess sob os quais está sujeita, dos seus pensamentos, opiniões e ideias, capazes de influenciar positiva ou negativamente sua disposição para assumir responsabilidades, para cumprir deveres e para cooperar com os grupos familial, profissional e social nos quais está inserida.

MMoorraall ccoolleettiivvoo é o estado de espírito, apreciado coletivamente no âmbito de um agrupamento hu-mano, resultante do mmoorraall iinnddiivviidduuaall de cada um de seus integrantes, criando nesse agrupamento uma energia positiva ou negativa, que interferirá, de forma determinante, no desenvolvimento da vvoonnttaaddee ccoolleettiivvaa; inicia-se, assim, um processo interativo que contamina psicologicamente os integrantes do a-grupamento considerado, caracterizando um novo envolvimento e um novo fenômeno.

999 – Que iinnddíícciiooss poderão mostrar uma tendência de depressão ou de alta no mmoorraall iinnddiivviidduuaall ddoo ccoommbbaatteennttee?

111000 – Quais seriam os elementos de apreciação e avaliação (ssiinnaaiiss) do eessttaaddoo ddoo mmoorraall ddaa ttrrooppaa?

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111111 – Que iiinnndddíííccciiiooosss poderão mostrar uma tendência de depressão ou de alta no mmoorraall ddaa ttrrooppaa?

111222 – Quais seriam os elementos de apreciação e avaliação (ssiinnaaiiss) da vvoonnttaa--ddee ddaa ffoorrççaa (vvoonnttaaddee ccoolleettiivvaa instalada em determinada organização operacio-nal)?

VVoonnttaaddee iinnddiivviidduuaall é a mentalização de uma ação que pode ou não ser praticada por uma pessoa em obediência a um impulso ou a motivos ditados por sua razão; caracteriza-se, assim, um sentimento individual extroverso e ativo que advém da certeza e que incita a busca do fim proposto por essa facul-dade de mentalizar, podendo ser identificado dentro de uma escala de gradação de intensidade.

VVoonnttaaddee ccoolleettiivvaa é a manifestação extroversa e ativa dentro de um agrupamento humano, ex-pressa com gradação na sua intensidade, de um consenso de ação coletiva para um fim proposto a ser procurado e atingido, surgido na consciência grupal por um processo interativo dominado pelas razões persuasoras que formaram a vvoonnttaaddee iinnddiivviidduuaall da maioria dos integrantes do agrupamento.

VVoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa é a vvoonnttaaddee ccoolleettiivvaa instalada no âmbito de uma organização militar operacional. VVoonnttaaddee--íímmppeettoo, para esclarecimento do leitor, é a vvoonnttaaddee iinnddiivviidduuaall ou ccoolleettiivvaa estimulada por

motivações fortes e apelos emocionais intensos capazes de gerar manifestação impetuosa e rompante com vigorosa energia de ação o que, por isso mesmo, determina uma duração limitada para o impulso criado.

111333 – Que iinnddíícciiooss poderão apontar o enfraquecimento ou o fortalecimento dessa vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa?

111444 – Quais seriam os elementos de apreciação e avaliação (ssiinnaaiiss) do eessttaaddoo ddoo eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee, tal como o entendemos na Trilogia “O espírito combatente”?

EEssttaaddoo ddoo eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee define uma apreciação e avaliação do eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee em de-terminado momento, nas circunstâncias que envolvem o agrupamento de combate apreciado e avalia-do.

EEssppíírriittoo ccoommbbaatteennttee representa a síntese e o equilíbrio da energia positiva que se instala nas or-ganizações militares operacionais bem preparadas, pela inter-relação psicossociológica do bom ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr, do mmoorraall ddaa ttrrooppaa e da vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa.

CCoonnsscciiêênncciiaa ccoolleettiivvaa aattiivvaa é a percepção dos vvaalloorreess que conformam o ccaarráátteerr ccoolleettiivvoo de um agrupamento humano, instalada no âmbito desse agrupamento como uma faculdade grupal e que, por estímulo de liderança, passa a exercer supervisão constrangedora - pela vigilância, pela permanência e pela continuidade -, sobre eventuais desvios desses valores em atitudes incorretas, comportamentos inadequados, sentimentos impróprios ou reações indesejáveis por parte de cada um de seus integran-tes.

QQQUUUAAARRRTTTAAA aaa ooorrriiieeennntttaaaçççãããooo Orientação para os ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess

111555 – QQuuaall sseerriiaa aa oorriieennttaaççããoo ppaarraa aa aaççããoo ddee lliiddeerraannççaa ddooss ccoommaannddaanntteess mmiillii--ttaarreess ddee ffrraaççõõeess ee ssuubbuunniiddaaddeess?? DDooss ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess ddee uunniiddaaddeess?? DDooss ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess ddee ggrraannddeess uunniiddaaddeess?? DDooss ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess ddee ggrraannddeess ccoommaannddooss??

LLiiddeerraannççaa mmiilliittaarr, sob fogo ou nas atividades de preparação da força terrestre, é a função do ccoo--mmaannddaannttee mmiilliittaarr que o define como llííddeerr ddee ccoommbbaattee no ssiisstteemmaa ddee lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr.

UUnniiddaaddee ccoonnssttiittuuííddaa é uma expressão que se refere aos diversos agrupamentos operacionais com quadro de organização definido e com a designação do comandante e demais homens em suas respectivas funções, com equipamentos e armamentos distribuídos (conceito já apresentado),

LLííddeerr ddee ccoommbbaattee é o ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr que lidera o aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee de seu comando, devotando-se ininterruptamente (1) à exercitação geral dos vvaalloorreess que sustentam os ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaa--rreess e conformam o ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr desse agrupamento, (2) à melhora da disposição de seus combatentes para suportar todo o tipo de pressão desagregadora mantendo em bom nível o mmoorraall ddaa ttrrooppaa e (3) ao estímulo e direcionamento correto e tempestivo da vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa para a ação militarr que lhe for atribuída - na preparação ou no combate sob pressão do iinniimmiiggoo -, a qualquer tempo e sob quaisquer circunstâncias. O bom llííddeerr ddee ccoommbbaattee cria, dessa forma e dentro do contexto militar dos escalões de comando onde se insere, as melhores condições psicológicas coletivas para a condução

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do seu agrupamento aos propósitos que justificam a existência de uma força de guerra como braço armado do Estado.

CCoommaannddaannttee mmiilliittaarr é o militar mais antigo, mais graduado ou de mais alto posto de um aaggrruuppaa--mmeennttoo ddee ccoommbbaattee, como uunniiddaaddee ccoonnssttiittuuííddaa, ao qual foi outorgada legal ou administrativamente, a aauu--ttoorriiddaaddee mmiilliittaarr para empregar seu agrupamento como força de combate e conduzi-lo, nas melhores condições físicas e psicológicas, à vitória militar ou a superação da crise em que está envolvido e cujas responsabilidades como lll ííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee abrangem, ainda, para esses propósitos, a preparação téc-nica individual de seus combatentes, o adestramento tático da força sob seu comando, a consolidação dos vvaalloorreess ccoolleettiivvooss do ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr, a manutenção em alto nível do mmoorraall ccoolleettiivvoo de sua tropa e da forte vvoonnttaaddee ccoolleettiivvaa da força lidera para as ações que empreende.

QQQUUUIIINNNTTTAAA ooo eeessstttuuudddooo Envolvimento concomitante dos profissionais das Armas com a

ppssiiccoossssoocciioollooggiiaa mmiilliittaarr.

111666 – Estímulo ao estudo e à formulação inicial de uma introdução à ppssiiccooss--ssoocciioollooggiiaa mmiilliittaarr com a proposta de currículos para a AMAN, para a ESAO e para a ECEME:

PPssiiccoossssoocciioollooggiiaa mmiilliittaarr é o estudo da interinfluência entre a natureza da organização militar de guerra (uma questão da ssoocciioollooggiiaa mmiilliittaarr) e os fenômenos psicológicos individuais e grupais (uma questão da ppssiiccoollooggiiaa mmiilliittaarr) determinados pela singularidade dessa natureza.

“É possível e útil distinguir em psicossociologia vários níveis de análise dos comportamentos soci-ais: o do comportamento social e individual; o das relações interpessoais; o dos comportamentos de grupo e de processos coletivos.” 54

SSoocciioollooggiiaa mmiilliitar é o estudo objetivo das relações humanas peculiares que se estabelecem entre Soldados (indivíduo indivíduo, indivíduo agrupamento, agrupamento agrupamento), consciente e inconscientemente, em todas as atividades no âmbito da organização militar de guerra, em diferentes situações, desde sua preparação até sua aplicação traumática no combate, no limite extremo de pres-sões desagregadoras.

PPssiiccoollooggiiaa mmiilliittaarr é o estudo dos estados e processos mentais dos Soldados considerados indivi-dualmente em seus aaggrruuppaammeennttooss ddee ccoommbbaattee.

111777 – Reorientar e realimentar a direção desse projeto ou de suas pesquisas; 111888 – Promover eventos (seminários de formação, de aperfeiçoamento e de

exploração) para criar cultura científica em relação à problemática da ppssiiccooss--ssoocciioollooggiiaa mmiilliittaarr, discutir e consolidar ideias e resultados particularmente vol-tados para a liderança militar;

111999

– Definir a matéria e as abordagens convenientes a cursos avulsos e aos currículos escolares.

54 Jean Maisoneuve, “INTRODUÇÃO À PSICOSSOCIOLOGIA” – RÉS – Editora, Ltda/Porto/Portugal.

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SSSEEEGGGUUUNNNDDDAAA PPPAAARRRTTTEEE --- nnnooovvvaaa dddiiinnnâââmmmiiicccaaa dddeee llliiidddeeerrraaannnçççaaa mmmiiillliiitttaaarrr

EEEssstttaaadddooo---nnnaaaçççãããooo ddeemmooccrrááttiiccoo mmooddeerrnnoo é um conjunto de institu-ições que organiza o poder comum para promover a ordenação política de uma nação - com a manifestação da vontade nacio-nal e em consonância com a realidade histórico-cultural que es-sa nação representa, no contexto moral e ético da formação de sua nacionalidade - e se capacita soberanamente à prática dos atos necessários para garantir essa ordenação, bem como para defender os valores envolvidos, exercendo de forma flexível a pressão coerciva que pode levar, quando preciso, ao limite ex-tremo da força que legitima e à qual pode recorrer como recur-so monopólico para a solução de conflitos internos ou exter-nos.

A existência de Armas preparadas para o confronto bélico

sem terem vivido essa experiência traumática é segura para o Estado nação que as organiza e mantém. O registro histórico dessa prática sem preparo, no entanto, é sempre melancólico. A primeira situação pode não ser heróica, mas é honesta e patrió-tica e a segunda, ao contrário, revela o ultraje do leso-patriotismo.

A constatação de um espírito coletivo denso e inquebrantável

é uma indicação certa de preparo do agrupamento de combate avaliado e de competência da sua lll iiidddeeerrraaannnçççaaa mmmiiilll iiitttaaarrr. É preciso, entretanto, que essa situação ideal possa se estender, pela aaa---çççãããooo dddeee cccooommmaaannndddooo, à toda força militar como ccoonnddiiççããoo ssiinnee qquuaa nnoonn de sua existência como tal.

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OOO CCCOOONNNTTTUUUBBBÉÉÉRRRNNNIIIOOO PPPEEERRRMMMAAANNNEEENNNTTTEEE DDDOOOSSS LLLÍÍÍDDDEEERRREEESSS MMMIIILLLIIITTTAAARRREEESSS

111555 ––– AAAzzzáááfffaaammmaaa tttrrraaannnsssfffooorrrmmmaaadddooorrraaa Todo o trabalho indicado no item 13 (página 60) definido como de “mmoobbiilliizzaaççããoo ee

ppeessqquuiissaa ccoommeeççaanntteess” e balizado por cinco grandes atividades, será capaz de gerar, com um resultado pratico, ppprrr iiimmmeeeiiirrrooo, uma estrutura de cúpula no COTER – definição do ssiisstteemmaa ddee lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr ddiirreettoo

srr, isto é, do próprio SILIMIEB (implantação, ori-

entação, supervisão, coordenação e avaliação); sseeeggguuunnndddooo, a primeira edição experi-mental de um manual destinado aos ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess para o exercício da ffuunn--ççããoo lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr (“Liderança militar de combate”, esse poderia ser o título) oferecido em três textos de orientação específica para a diagnose do eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee e para busca de iiinnndddíííccciiiooosss e sssiiinnnaaaiiisss em cinco eessccaallõõeess ddee ccoommaannddoo - (1) “Comandantes de frações e de subunidades”, (2) “Comandantes de unidades”, (3) “Comandantes de grandes unidades e de grandes comandos” -; ttteeerrrccceeeiiirrrooo, a incorporação de ma-térias afins aos currículos de algumas escolas militares brasileiras (AMAN, ESAO, ECEME e ESEFEX) e a rotina de boa agitação intelectual do Exército com cursos, se-minários presenciais ou à distância, pelo portal do CEP/DEP, via Internet, palestras, etc..

Com esses instrumentos orientadores devem ser estabelecidas rotinas peculiares para a permanente identificação desses iiinnndddíííccciiiooosss e sssiiinnnaaaiiisss e, consequentemente, para a geração de um fluxo/refluxo contínuo de informações inerentes ao exercício da lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr pelos canais de comando (lliinnhhaaggeemm ddooss llííddeerreess) que sirvam objeti-vamente a avaliações que (1) identifiquem o processo de consolidação dos vvaalloorreess relacionados com o ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr ou com o acompanhamento de distúr-bios ou perdas em relação a esse processo; além disso, também, devem ser produ-zidas informações (2) relacionadas com o eessttaaddoo ddoo mmoorraall ddaa ttrrooppaa e com (3) a vvoonn--ttaaddee ddaa ffoorrççaa para o cumprimento de suas rotinas, em relação a determinada ação em curso ou a ser empreendida. O fluxo ascendente deve ter o destino ditado pela determinação superior, pelo interesse manifesto ou deduzido na lliinnhhaaggeemm ddee llííddeerreess. O fluxo descendente será ditado pelo interesse dos llííddeerreess mmiilliittaarreess para completar a diagnose do eessttaaddoo ddoo eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee nos seus respectivos eessccaallõõeess ddee ccoo--mmaannddoo ou do escalão superior, ou para orientar a homogeneização de vvaalloorreess e “es-tados” em seu subsistema em seu âmbito (eessttaaddoo ddoo mmoorraall ccoolleettiivvoo, estado ddaa vvoonn--ttaaddee ccoolleettiivvaa e, de uma forma geral, do próprio eessttaaddoo ddoo eessppíírriittoo ccoolleettiivvoo).

Esse será o quadro ideal para o exercício da lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr: uma preocupação persistente com sua eficácia que resulte, objetivamente, (a) no envolvimento de to-dos os integrantes dos aaggrruuppaammeennttooss ddee ccoommbbaattee com inquietações, providências, análises, buscas, avaliações, discussão de resultados, (b) na interpretação de sssiiinnnaaaiiisss ou iiinnndddíííccciiiooosss, no comprometimento da lliinnhhaaggeemm ddee llííddeerreess e, finalmente, com isso, (c) na incorporação definitiva e irreversível de atenção para a ffuunnççããoo lliiddeerraannççaa pelos ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess de todos os níveis. Deixar-se-á de lado a “tradicional” atitude passiva que espera, anseia e aposta no surgimento mágico, da intuição e do talento nos momentos de crise. Abandonar-se-á, também, as avaliações amadorísticas, dile-tantistas, emocionais, genéricas e imprecisas. Na verdade, portanto, será iniciada uma grande metamorfose que transfará a situação de impassibilidade culposa em azáfama investigativa, avaliadora, criativa, corretiva e orientadora.

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111666 ––– RRReeelllaaatttooosss pppeeerrriiióóódddiiicccooosss eee eeevvveeennntttuuuaaaiiisss Essa geração de informações positivas ou negativas atualizadas por períodos ou

referente a novas e recentes constatações, sem embaraçar a espontaneidade e a continuidade da atividade – desburocratizada, portanto -, terá de ser difundida em relatos regulares e eventuais de acompanhamento ou para que provoquem decisões oportunas de lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr em cada eessccaallããoo ddee ccoommaannddoo onde devam ser inte-gradas. Exemplo: o destaque positivo ou negativo de um ccoommppoorrttaammeennttoo iinnddiivviidduuaall ou ccoolleettiivvoo, a incidência ou ausência de punições que revelem algum vvaalloorr suporte de ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess relegado ou de eessppíírriittoo mmiilliittaarr, um sinal, ou indício, etc., de-vem provocar, quando for o caso, no eessccaallããoo ddee ccoommaannddoo que os avalia providên-cias corretivas e homogeneizadoras nesse âmbito (orientação geral, recomendações específicas e acompanhamento subsequente). Essa reação de lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr se repetirá ao longo do fluxo ascendente da informação.

Tentarei comprovar a importância prática desse fluxo/refluxo contínuo pelo cami-nho inverso, examinando um grave desregramento provocado por sua relegação:

Todos acompanhamos, em julho de 2008, dentro de um processo midiá-tico de desvalorização de uma pesquisa que colocava as Forças Armadas Brasileiras como a mais respeitada e confiável instituição nacional, a cena patética de um tenente, da Arma de Infantaria e oriundo da Academia Mili-tar das Agulhas Negras, profissional das Armas, portanto, em pranto con-vulso e sonoro, descontrolado, depondo na Justiça em sessão ostensiva televisada para todos os noticiosos, já contestado pelas declarações de seus subordinados e apontado como causador de uma tragédia desneces-sária e absurda, envolvendo licenciosos jovens favelados e ferozes trafi-cantes 55. A despeito da impropriedade da missão que cumpria (Livro 2, “O caráter dos Soldados”, item “Militares substantivos e militares adjetivos”, Quadro 2), a in-dagação que faço, retórica e no interesse deste ensaio, é a seguinte: é a-ceitável que um militar de carreira com responsabilidade de comando seja surpreendido em atividade profissional sem o respaldo de valores adequa-dos internalizados e professados? É possível que um ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr imagine que sua ação indigna possa ser justificada pela defesa do seu pundonor ferido ou de sua própria “dignidade”? Ou da dignidade de sua Instituição? Ou em nome da dignidade de sua Pátria?

SSee aa rreessppoossttaa ffoossssee aaffiirrmmaattiivvaa ee ddee ccoonnsseennssoo,, ttuuddoo eessttaarriiaa ppeerrddiiddoo:: aalléémm ddaa ppaattéé--ttiiccaa ffiigguurraa ddaaqquueellee aaccuussaaddoo,, aa pprrooffiissssããoo mmiilliittaarr,, aa IInnssttiittuuiiççããoo ddaass AArrmmaass ee aa pprróópprriiaa PPááttrriiaa ccuussttooddiiaaddaa ppoorr ssoollddaaddooss ddeessttrraammbbeellhhaaddooss...... Os valores nacionais, porque se referem ao mais importante, abrangente e singular aaggrruuppaammeennttoo hhuummaannoo eessppoonnttââ--nneeoo, permanente, que é a NNaaççããoo, devem ser referências norteadoras das relações sociais e de conduta para a definição de todos os valores dos aaggrruuppaammeennttooss hhuummaa--nnooss eessppoonnttâânneeooss e iinnssttiittuuííddoo

ss subjacentes e com existência legal ou consuetudinária no domínio que o Estado delimita. O raciocínio inverso é falso, deformador e deleté-rio.

55 Refiro-me ao episódio da participação de tropa do Exército Brasileiro na segurança de uma obra eleitoreira (“Projeto Cimento Social”) no Morro da Providência e que culminou com a morte violenta e cruel de quatro jovens: um crime perpetrado com a aquiescência de um Tenente e que gerou como-ção nacional estimulada pela mídia. O tenente se apresentou à mídia como uma ruína de valores militares (equivocado com os valores do ccaarráátteerr mmiilliittaarr pprrooffiissssiioonnaall e sem professar os valores indivi-duais que revelam e mantêm o verdadeiro eessppíírriittoo mmiilliittaarr).

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“A FASCINANTE GESTÃO DE UM ESPÍRITO” um sistema de liderança militar

De quem devemos cobrar esse destrambelho de valores perdidos, extraviados ou

deformados? Dos superiores, das escolas, da Instituição das Armas? Creio que todos estamos envolvidos na identificação das causas!56 A ausência de vvaalloorreess profissionais ou seu definhamento, quando esses valores

não são identificados ou constantemente avaliados e cobrados, podem ter início no descuido da preparação e do treinamento empregando recursos e métodos sim-plesmente importados e aplicados sem o necessário respaldo justificador. Cria-se um profissional inseguro - eis a grande incongruência -, quando estaríamos preten-dendo criá-lo resoluto e sólido dentro de modernos cânones.

Abnego gritarias, pressões avassaladoras, riscos superlativos, “tenentadas”, sem a referência ou o respaldo esclarecedor e permanente de valores pretendidos ou a resguardar.

É bastante comum em forças terrestres atuais, o envolvimento dos conscritos ou, mesmo, de voluntários novos, em uma ambiência inicial de pressão, de coerção, de ameaças e de gritos, quase insuportáveis, levada ao limite físico e psicológico de cada indivíduo no treinamento inicial, sem a preocupação concomitante de apontar, discutir e consolidar os valores coletivos em nome dos quais foram recebidos e es-tão sendo treinados. Esse artifício - normalmente encarado como uma rotina obriga-tória por parte dos graduados e oficiais subalternos que o executam sem orientação e supervisão superior de lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr - sem serem negados ou aprovados cla-ramente, portanto -, provoca, de qualquer modo, dentro da inexorabilidade do berrei-ro, um sentimento defensivo de coesão entre os afetados, que acaba sendo o nas-cedouro da ccaammaarraaddaaggeemm mmiilliittaarr e do eessppíírriittoo ddee ccoorrppoo.

A ideia inspiradora do confronto direto com iinniimmiiggoo e a necessidade da vitória mili-tar terrestre caracterizar seu domínio físico ou destruição, justificam essa preocupa-ção com o enrijecimento do combatente. Esses ssuuppoorrtteess ppssiiccoollóóggiiccooss ccoolleettiivvooss, en-tretanto, se desenvolvem com as marcas de um equívoco de origem: o exercício de uma intimidação sem explicação racional concomitante, criando uma situação inexo-rável e inapelável que, é bem possível, estará confirmando a expectativa da maioria a respeito da experiência que viveria dentro das forças armadas.

Por interferência da ffuunnççããoo lliiddeerraannççaa dos ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess, a consciência do processo de ddiisscciipplliinnaammeennttoo, desde o início do treinamento militar, deverá racionali-zar e orientar melhormente esse esforço em criar para os recrutas, conscritos ou voluntários, isso sim, a atmosfera grupal de superação física e psicológica tão impor-tante a um combatente, fazendo surgir a ccooeessããoo mmiilliittaarr, não como um mecanismo de defesa contra os “senhores das Armas”, mas como um sentimento gregário em cujo centripetismo estarão incluídos e envolvidos os habilitandos e seus treinadores para fazer face - quando isso for necessário - aos traumas de um encontro face a face com o iinniimmiigg

oo para uma disputa de vida ou de morte 57. É um bom motivo para manter os recrutas, em princípio, durante a condução da qualificação individual de cada um, reunidos no grupo em cujo âmbito, pela observação das suas aptidões e - o que seria desejável - pelo resultado de um teste sociométrico, serão qualificados

56 Na inatividade desde abril de 1982, com oitenta e dois anos de idade, estou envolvido. 57 Forças aéreas ou navais, pela grande e direta dependência com os equipamentos que as susten-tam e a expectativa de uma luta sem o confronto cerrado e contínuo com o inimigo, reagem de outra forma o que determina outros critérios de treinamento.

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em funções definitivas para a constituição de suas frações de combate (Livro 3 da trilo-gia “O espírito combatente”, item “Sobre o disciplinamento militar”).

A guerra é um tormento social que deve ser evitado por todos os meios políticos não-traumáticos disponíveis pelos Estados em dissensão; mmaass aa gguueerrrraa nnããoo ppooddee sseerr iimmoorraall, uma vez que é conduzida por instituições sociais de defesa do Estado (forças armadas), com a delegação legítima para preservarem os valores nacionais - morais, éticos, espirituais e existenciais - de suas respectivas nacionalidades, de alguma forma questionados pelas motivações e argumentos do recurso violento e traumático que os envolve. Essa moralidade da guerra deve se refletir sobre todas as ações militares abarcadas pelo estado de beligerância, o que, afinal, fornece os elementos para a tipificação dos chamados crimes de guerra e justifica, em princípio, a criação de tribunais para o julgamento dos responsáveis por infrações convencio-nadas pelos Estados em confronto bélico 58 - mesmo que, sabemos, a moral na polí-tica internacional seja um assunto obscuro e polêmico, forças militares de combate, apesar de instrumentos dessa política, não podem enveredar por desvios degrada-dores.

A violência pura entre Soldados só poderia ser admitida - raciocinemos pelo ab-surdo -, se a guerra fosse um fenômeno isolado, absolutamente imoral e aético, des-ligado do processo político dos Estados envolvidos, representando um enfrentamen-to de exércitos dispensados dos valores que fundamentam as nacionalidades em conflito. Forças mercenárias podem estar próximas dessa amoralidade e, quando imprescindíveis, devem ser rigorosamente controladas59. As guerras ou, simples-mente, os combates que envolvem choques entre culturas diferentes também apre-sentam esse risco, muito embora o processo de globalização tenha iniciado uma tendência para a homogeneização de alguns valores considerados universais. O desafio do terrorismo, mal interpretado, pode também provocar essa descambação para o exercício da violência pura e imoral, dentro de forças armadas impropriamen-te destinadas a confrontá-lo diretamente. O combate ao narcotráfico, da mesma for-ma. A permanente possibilidade - outro exemplo sensível -, em caso de grave per-turbação da ordem interna, do emprego de forças terrestres para restaurar a autori-dade de um Estado nacional soberano a quem servem como recurso de coerção máxima, impõe cuidados para impedir esses equívocos.

Essas considerações, aprofundadas em outro texto (Livro 3 da trilogia “O espírito com-batente”, item “Sobre a atividade-fim”), alertam para a necessidade de um acompanha-mento contínuo do processo anímico que envolve vvaalloorreess e “eessttaaddooss” - estado do mmoorraall ddaa ttrrooppaa e eessttaaddoo ddaa vvoonnttaaddee ccoolleettiivvaa --, com questionamentos periódicos e eventuais, ditados pela importância das respostas ou pelo estrago que a desatenção possa provocar nos indivíduos (combatentes considerados individualmente) e no aggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaatt

ee ao qual pertencem (unidades constituídas da força terres-tre).

Certamente não nos constrangeríamos mais com o espetáculo deprimente do e-xemplo que relembrei no início deste item (página 77).

58 Ação permanente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e seu esforço pela prevalência do Direito Internacional Humanitário que inclui as convenções de Genebra. 59 Matéria abordada em “O caráter dos Soldados”, Livro 2 desta trilogia, no item “A realidade político-social que envolve os Soldados”.

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111777 --- AAA cccooorrrrrreeetttiiivvvaaa eee ttteeemmmpppeeessstttiiivvvaaa aaaçççãããooo dddeee cccooommmaaannndddooo Dentro do quadro criado pelas cinco atividades recomendadas (item 13, página 60),

uma vez fixada a ideia de lliinnhhaaggeemm ddee lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr e analisados os princípios básicos sob os quais poderá funcionar, estaremos em condições de imaginar a di-nâmica desse funcionamento que terá de buscar informações especializadas e lan-çá-las nos ccaannaaiiss ddee ccoommaannddoo dentro de critérios específicos, com oportunidade ou periodicidade conveniente para produzir em cada eessccaallããoo avaliações para a aaççããoo ddee ccoommaannddoo imediata: um vvaalloorr extraviado, o mmoorraall ddaa ttrrooppaa deprimido, a vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa quebrantada são constatações que exigem providências afervoradas.

Os destinatários dessas informações são os ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess que detêm a aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr e que, a um só tempo, resolvem o problema de emprego de seus aaggrruuppaammeennttooss ddee ccoommbbaattee consoante a orientação do escalão superior e procuram acompanhar e interferir na manutenção ou recuperação do eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee.

A criação de um sistema – o SILIMIEB - não teria sentido prático se não provo-casse uma espécie de exacerbação da atenção contínua dos ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess, na função liderança, capaz de estimular atividades, interesses e ação corretiva es-pecífica com conhecimento de causa e, sobretudo, tempestividade.

111888 ––– AAAtttiiitttuuudddeee eee cccooommmpppooorrrtttaaammmeeennntttooo dddeee llliiidddeeerrraaannnçççaaa mmmiiillliiitttaaarrr Farei referência à disposição profissional conveniente à função liderança, favorá-

vel ao exercício da lliiddeerraannççaa ddee ccoommbbaattee e ao que chamo de contubérnio entre lide-res interferentes: algo além da ccaammaarraaddaaggeemm mmiilliittaarr, aprofundado pelo conhecimen-to pessoal que é capaz de estreitar essas relações em torno das atividades castren-ses rotineiras e críticas.

O lll ííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee deve considerar, como fundamento de sua atividade, que ca-da ser humano representa uma individualidade psicossomática e, dessa forma, cada um de seus combatentes merece um acompanhamento contínuo pelos seus llííddeerreess iinntteerrffeerreenntteess de contato físico – comandantes de pequenas frações -, e indi-reto por intermédio da lliinnhhaaggeemm ddee llííddeerreess acima desses escalões. O comportamen-to de um combatente, tanto pelo efeito benéfico quanto pela sequela deletéria em relação aos propósitos coletivos, deve ser monitorado pelo ssiisstteemmaa ddee lliiddeerraannççaa mmiillii--ttaarr, particularmente quando sua pequena fração estiver em situações críticas ou sob fogo 60.

O “conhecimento pessoal” entre militares, em determinadas circunstâncias, age como um potencializador da ccaammaarraaddaaggeemm mmiilliittaarr (um dos treze ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess, ssuuppoorrttee ppssiiccoollóóggiiccoo ccoolleettiivvoo que se cria entre Soldados pelo relacionamento solidário decorrente das atividades profissionais que exigem sacrifício para todos, risco co-mum e esforço integrado). Esse distintivo - a ccaammaarraaddaaggeemm mmiilliittaarr – corresponde a uma aattiittuuddee ccoolleettiivvaa que reflete boa vontade, simpatia entre Soldados em geral que se reconhecem e identificam sob os mesmos problemas e esforços. Camaradas são, incontinenti, solidários quando isso for necessário e esse importante ddiissttiinnttiivvoo mmiilliittaa

rr envolve todos os integrantes de uma força de guerra. O “conhecimento pessoal”,

60 Tratei dessa matéria, desenvolvendo um exemplo prático, no Livro 1, “Eia, avante!”, da trilogia “O espírito combatente” (Capítulo 5, “Agrupamentos institucionais hierarquizados e não hierarquizados”, no item “Agrupamentos institucionais militares – o exame de um caso”); Edição Eletrônica de janeiro de 2009, nos sites das bibliotecas do COTER e do C Doc do Exército.

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como o expresso e destaco, entretanto, os aproxima de forma mais vigorosa quando existe como decorrência do contato físico próximo e contínuo que corresponda ao conceito de “grupo psicológico”.

Segundo Krach, Crutchfield e Ballachie – “Individual in Society”, Nova York, 1962 -, “ggrruuppoo ppssiiccoollóóggiiccoo éé oo ccoonnjjuunnttoo iinntteeggrraaddoo ppoorr ppeessssooaass ssuujjeeii--ttaass aa ggrraannddeess pprreessssõõeess,, qquuee ssee ccoonnhheecceemm,, qquuee pprrooccuurraamm oobbjjeettiivvooss ccoo--mmuunnss,, ppoossssuueemm iinntteerreesssseess eesssseenncciiaaiiss ccoommuunnss ee aa mmeessmmaa iiddeeoollooggiiaa;; lluuttaamm ppeellaa pprróópprriiaa ssoobbrreevviivvêênncciiaa ee iinntteerraaggeemm ccoomm ffrreeqquuêênncciiaa ssoobb cciirrccuunnssttâânncciiaass ddrraammááttiiccaass.”

Os escalões de pequeno valor, se os considerarmos isoladamente, sob a lideran-ça de oficiais subalternos ou graduados das diversas armas ou serviços – onde o “conhecimento pessoal” é espontâneo -, são “ggrruuppooss ppssiiccoollóóggiiccooss”” matrizes da inte-ração social imprescindível à força militar considerada como um todo 61. Os roma-nos, de forma empírica, já tinham a consciência dessa importância e a materializa-vam na “contubernia” - que gerou o vocábulo contubérnio da língua portuguesa - base da organização de uma legião (a menor organização dentro de uma legião ro-mana). Com variações ao longo dos séculos, ao tempo de Julio César a “contuber-nia” era integrada por oito legionários e dez dessas pequenas frações formavam uma centúria, seis centúrias uma coorte e dez coortes uma legião. Esse é o aspecto que o ssiisstteemmaa ddee lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr deve explorar em benefício do que pretende, onde exista ou possa existir o contato físico com as características e nas circunstâncias de um “ggrruuppoo ppssiiccoollóóggiiccoo””,, vvaallee ddiizzeerr,, nnoo ddeesseemmppeennhhoo ddaass aattiivviiddaaddeess ddee ttrraabbaallhhoo de frações e de pequenas frações.

O “ccoonnhheecciimmeennttoo ppeessssooaall”, em princípio, também deve existir entre llííddeerreess iinntteerrffee--rreenntteess dos níveis acima e abaixo de um eessccaallããoo ddee ccoommaannddoo considerado para facili-tar o entendimento e complementar a avaliação de reações à aaççããoo ddee ccoommaannddoo: o comandante de uma brigada deve “conhecer” seus comandantes de unidades, es-ses comandantes de unidades devem “conhecer” seus comandantes de subunida-des e esses últimos devem “conhecer” seus comandante de frações quando, então, ficam caracterizados os “ggrruuppooss ppssiiccoollóóggiiccooss” onde todos se “conhecem”.

Já o aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee, visto em seu escalão e em seu universo interativo, define uma entidade psicofísica que, à semelhança de cada combatente que o in-tegra, possui um corpo físico e uma alma coletiva. Esse fato psicológico, portanto, deve homogeneizar comportamentos, atitudes e reações de individualidades psi-cossomáticas para integrarem essa entidade psicofísica muito especial.

As alegações deste item dão sentido prático à epígrafe deste Livro 1 da trilogia “O espírito combatente”: “As pessoas são essenciais, mas o desafio do líder é compre-ender o agrupamento humano que lidera como uma entidade plural, com espírito pró-prio, para tratá-lo e conduzi-lo assim.”

Feitas essas considerações, na prática da lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr e na realidade do em-

preendimento de ações como força de combate – no treinamento ou no cumprimen-to efetivo de uma missão sob fogo ou fortes tensões desagregadoras -, muitas ve-zes, o ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr sente a necessidade de um contato, vvviiisss---ààà---vvviiisss

(pronúncia: “viz a vi”), com seus comandantes subordinados. As crises, os prazos prementes e o forte

61 Assunto abordado no Livro 3, “A imitação do combate”, item “Sobre a ética militar, os camaradas de Armas”.

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sentimento da importância imediata de resultados atiçam esse anseio de interação. O lll ííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee, então, quando aalleerrttaaddoo ppeellooss eelleemmeennttooss ddoo ssiisstteemmaa ddee lliiddeerraann--ççaa mmiilliittaarr, sobreleva o ccaabboo--ddee--gguueerrrraa pela consciência da necessidade de pôr-se à vista de seus combatentes para que sintam seu empenho e suas convicções, sua determinação e sua confiabilidade e, da mesma forma e no sentido inverso, pelo de-sejo de interpretar as reações fisionômicas de seus ouvintes e de perscrutar-lhes a alma para ajuizar os efeitos de suas concitações relacionadas com avaliação do eess--ttaaddoo ddoo eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee reinante e sua evolução para níveis compatíveis com a sequência das ações (Ilustração 9, página 21).

O eennccoonnttrroo ddee lll ííídddeeerrreeesss dddeee cccooommmbbbaaattteee ccoomm sseeuuss lliiddeerraaddooss -- cchhaammaarreeii ddee vis-à-vis de combate - é, na prática dessa liderança e na realidade das rotinas castrenses, sob quaisquer circunstâncias, a convocação para reunião presencial promovida por ccoo--mmaannddaannttee mmiilliittaarr com a participação dos ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess iinntteerrffeerreenntteess, até o nível conveniente aos assuntos do EECC que serão tratados, visando a orientação ou a reorientação da metodologia de liderança, a interpretação de situações, a homoge-neização de procedimentos, a definição de resultados, a avaliação de dificuldades e a discussão de soluções em relação ao eessttaaddoo ddoo eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee de um modo geral e, em particular, sobre a condução do EECC, ou seja, sobre os vvaalloorreess ccoolleettiivvooss do ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr de seu aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee, sobre o eessttaaddoo ddoo mmoorraall ddaa ttrrooppaa considerada e sobre a vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa para a ação em curso, ou que será empreendida ou que já foi concluída. Qualquer reunião presencial para o exercício do comando (aaççããoo ddee ccoommaannddoo), entretanto, além dos problemas de em-prego da força, poderá abordar os assuntos de lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr.

Se não houver um aaallleeerrrtttaaa ooopppooorrrtttuuunnnooo que clame pelo encontro (vis-à-vis de combate), o bom termo da aaaçççãããooo dddeee cccooommmaaannndddooo ficará na dependência aleatória do ttaalleennttoo inato e da iinnttuuiiççããoo pprrooffiissssiioonnaall do ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr... O que sem-pre será uma temeridade.

Podemos sempre contar, como um fato trivial, com a disponibilidade de lll ííí---dddeeerrreeesss dddeee cccooommmbbbaaattteee no estalão de um Caxias, que assumiu em outubro de 1866 o comando supremo das forças imperiais brasileiras combinadas para dirimir problemas de liderança (reorganização, preparação e recuperação do espírito combaten-te)? De um Rommel criativo, audaz e carismático para atordoar os comandan-tes inimigos de forças superiores? De um Montgomery tenaz e obstinado para recuperar o moral britânico em agosto de 1942 no Norte da África? De um Osó-rio destemido e autêntico para salvar as Armas do Império na maior batalha terrestre do nosso subcontinente, em 24 de maio de 1866?

Nenhuma força militar terrestre do mundo o poderia. A tecnologia moderna, em princípio, não substitui esse saudável contubérnio en-

tre seres humanos empenhados em esforços ingentes e trágicos. Existem, todavia, situações em que o contato físico entre o ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr e seus llííddeerreess mmiilliittaarreess iinntteerrffeerreenntteess pode ser complementado ou reforçado pelos meios de comunicação operacional disponíveis de voz, de imagem ou de ambas, além do manuscrito de próprio punho. Só o bom senso e a experiência da lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr poderão indicar a inclusão desses recursos “indiretos”.

A compulsão ao contato físico, procurando a defrontação com seus comandantes subordinados, trazendo-os para o encontro ou encontrando-os em determinado lo-cal, exercita a essência do ssiisstteemmaa ddee lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr. Um ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr de

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fração ou de pequena fração, pelo contato físico e permanente que mantém, já está, em princípio, dentro dessa circunstância de contiguidade. Aí, precisamente, reside a importância desses escalões. Um tenente, mesmo assim, muitas vezes precisa ouvir a voz de seu capitão ou de seu comandante de unidade, olhando-os nos olhos, para que o sistema funcione plenamente. Nos escalões mais elevados, a tecnologia de comunicação eletrônico/digital, com imagens de alta resolução e confiabilidade ab-soluta não dispensa essa eventual aproximação física de llííddeerreess mmiilliittaarreess.

Será pertinente no ponto conclusivo deste item e do presente ensaio, o e-

xame de alguns exemplos de vvviiisss---ààà---vvviiisss dddeee cccooommmbbbaaattteee, para que o leitor militar perceba a importância da institucionalização da magia inata em seres privilegi-ados, tornando-a, sem qualquer efeito de banalização, aaalllgggooo dddiiissspppooonnnííívvveeelll pppaaarrraaa ooosss lll ííídddeeerrreeesss m mmiiillliiitttaaarrreeesss dddaaasss fffooorrrçççaaasss ttteeerrrrrreeessstttrrreeesss bbbrrraaasssiiillleeeiiirrraaasss.

Transcrevo, para sensibilizar o leitor militar, o texto de um documento histórico “burocrático”, quase deprimente, inócuo, sem a magia de um lll ííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee ta-lentoso e intuitivo, que pretendia ser um instrumento neutralizador do efeito mítico desestabilizador de um ccoommaannddaannttee mmiilliittaarr iinniimmiiggoo com essas características, já apelidado como “The desert fox” pela soldadesca do VIII Exército Britânico no Norte da África (1941/1942, Segunda Guerra Mundial) e assim conhecido e difundido pela mídia mundial (“Der wustenfuchs”). Foi distribuído aos seus destinatários com o intui-to de reverter uma situação crítica no mmoorraa

ll das forças britânicas: “A todos os comandantes e chefes de Estado-Maior do Quartel-General

do B. T. E. e M. E. F. (Teatro de Operações Britânico Oriental e Força do Oriente Médio)

Existe um perigo real de que nosso amigo Rommel esteja se tornando uma espécie de mágico e espantalho para nossas tropas, que estão falan-do demais nele. Ele não é, de forma alguma, um super-homem, ainda que, sem dúvida, seja bastante ativo e hábil. Mesmo que ele fosse um super-homem, seria ainda altamente indesejável que nossos homens lhe atribu-íssem poderes sobrenaturais.

Desejo desfazer, por todos os meios disponíveis, a ideia de que Rom-mel represente qualquer coisa mais do que um general alemão como os outros. É importante que nos cuidemos para não falar sempre em Rommel quando desejamos nos referir ao inimigo na Líbia. Devemos referir-nos aos “alemães”, às “forças do Eixo” ou ao “inimigo” e deixar de repisar as refe-rências a Rommel.

Solicito que sejam tomadas medidas para que esta ordem entre imedia-tamente em execução e seja considerada por todos os comandos, sob o ponto-de-vista psicológico, como assunto de alta importância.

Assinado: C. J. Auchinleck 62 General, Comandante-Chefe – Força do Oriente Médio” (Sic)

Em relação a esse documento, em citação inicial no capítulo II do livro “Rommel”

de autoria do General Desmond Young 63, intitulado “Nosso amigo Rommel”, o autor, que serviu com o signatário ao tempo da assinatura, observou com uma nota de ro-dapé:

62 Com o término da Segundo Guerra Mundial, Marechal Sir Claude J. E. Auchinleck. 63 (BIBLIEX/1975 – Coleção General Benício, volume 127).

João Manoel Simch Brochado – janeiro de 2010 83

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”Ainda que eu me recorde perfeitamente desta ordem, como acontece

com a maioria do pessoal que serviu no Oriente Médio, não consegui ob-ter, nem mesmo de seu signatário, uma cópia do original. Por isto tive que confiar na versão de uma tradução para o alemão, encontrada entre os do-cumentos de Rommel, por sua família. Pode haver diferenças no texto das duas, o sentido, porém, é o mesmo.”

O Marechal de Campo Visconde Montgomery de Alamein, K. G., sentiu essa ne-cessidade de contato físico e autêntico, antes de assumir o comando do Oitavo Exército Britânico no norte da África, em 13 de agosto de 1942 (receberia oficialmente o comando do General Auchinleck, no dia 15). Percebeu que precisava expor-se à análise de seus comandantes subordinados como um lllííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee confiável e determinado e a encará-los diretamente. Só assim mudaria a atitude das forças britânicas engajadas naquela frente e recuperaria o moral seriamente abalado em face de uma sequência desastrada de perdas e derrotas infringidas por um inimigo disposto e embalado por sucessos, sob um comando mítico e com a iniciativa das ações. Procurava reverter um perigoso quadro, segundo sua constatação, de resignação geral das tropas britânicas no norte da África com a su-perioridade de Rommel 64. Sentiu o mau reflexo da atitude passiva, sem compensa-ções psicológicas por parte do comando das operações, que o planejamento opera-cional vigente materializava com a alternativa de retirada para o delta do Nilo ou pa-ra o sul, subindo no curso do grande rio ou, ainda, admitindo sucessivos fracassos, para a Palestina, em face da possibilidade de um ataque potente do inimigo que se mantinha ativo e ofensivo. Esses planos haviam sido elaborados por determinação do general Auchinleck, cansado e frustrado com os últimos insucessos de várias ten-tativas para interromper o novo fluxo alemão no deserto.

Ilustração 21 – O vitorioso em pose: Marechal Bernard Law Montgomery, Visconde de Alamein (Monty).

Sem a sensibilidade de um líder para perceber o fenômeno que gerava, apesar de ser bom chefe militar, Auchinleck vinha transmitindo desalento aos soldados e refor-çando, dentro de suas tropas, o mito do inimigo valente, capaz, esperto, rápido, sur-preendente e, dessa forma, imbatível. Uma vitória no norte da África era absoluta-mente necessária aos ingleses para compensar a “vergonha de Cingapura” que o-correra em fevereiro daquele ano e, também, para causar efeito sobre a timidez da participação dos seus aliados americanos 65. Esse era o quadro que sensibilizara o novo ccoommaannddaannttee mmiilliittaa

rr para o vis-à-vis de combate.

64 Marechal-de-campo do Exército Alemão (Wehrmacht) Erwin Johannes Eugen Rommel ( 15/11/1891

14/10/1944). Comandante de 7ª. Divisão Panzer, “Divisão fantasma” (1939), Comandante-em-chefe do Afrika Korps (1941/1943) e do Grupo de Exércitos B da Frente Ocidental, na Europa (1944). 65 “A defesa da ilha (de Cingapura) era dificultada pelo fato de sua base naval ter sido construída para resistir a ataques vindos do mar. Assim, quando os japoneses vieram pela porta dos fundos, desem-barcando na ilha à força em 08/02/1942, foram rapidamente capazes de estabelecer uma base de operações. Embora numericamente inferiores aos defensores, os japoneses estavam mais bem lide-rados, mais bem treinados e mais bem apoiados pelo ar. Logo estavam empurrando os ingleses para o sul, e apesar das exortações de Churchill para que se lutasse até a morte pela honra do império, as

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“Monty” propagou, de imediato, sua determinação de permanecer nas posições -

fazendo alusão direta à famosa defesa dos espartanos nas Termópilas - e de ali morrer se fosse preciso. Em dois dias de ação pessoal e agitação, reverteu, de for-ma surpreendente, o quadro do mmoorraall ddaass ttrrooppaass britânicas. Promoveu, em quarenta

e oito horas de deslocamentos e encontros, os contatos que desejava e obteve incrível reviravolta na história da guerra no norte da África. Pelo menos em relação a esse episódio, o Marechal teve razão para definir sua doutrina de comando com uma só palavra: “liderança!”

Os planos de guerra e de combate podem ser elaborados silenciosa e burocraticamente. Mudá-los de retraimentos e de retiradas que refletiam uma aattiittuuddee de derrota para uma aattiittuuddee de obstinação pela vitória, fincando pé, não cedendo, contra-atacando e assumindo a iniciativa das ações, não seria possível apenas com a troca de planos e de planejadores o que, de certa forma, poderia satisfazer ao ccaabboo--ddee--gguueerrrraa, mas não ao llííddeerr mmiilliittaarr. Mesmo que acrescentasse ordens e

recomendações, ou exortações e concitações às mudanças e a novos tempos de ofensiva. Obter a transformação de uma força “abatida” para um poderoso Exército disposto à vitória e, sobretudo, à expulsão de uma incômoda “raposa” daquelas a-reias, só seria possível se ele próprio desse o recado. Foi o que fez.

Ilustração 22 – Uma esperta rapo-sa em atividade: Marechal-de-campo Erwin Rommel (esquerda).

A história brasileira registra um exemplo edificante dessa

sensibilidade de llííddeerr mmiilliittaarr na atividade febril do General Manoel Luis Osório, durante a batalha de Tuyuty a 24 de maio de 1866. O velho ccaabboo--ddee--gguueerrrraa mantinha, como lll ííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee, a percepção dos pontos nevrálgicos do comba-te que pareciam, apenas, ferozes entreveros, onde, para sal-var a batalha, o mmoorraall ddaa ttrrooppaa não podia quebrantar-se nem esmorecer a vvoonnttaaddee ddee ffoorrççaa para lutar: sentia essa neces-sidade e arrojava-se ao perigo para sustentá-la e, com isso, salvar as Armas do Império como um chefe conhecedor de seu “métier” e um lll ííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee

capaz. A exortação es-crita de Osório antes da batalha, “É fácil a missão de co-mandar homens livres...”, só ficou para a História porque foi inequivocamente confirmada no combate. Sua faina heróica durou o tempo da refrega, até a vitória ficar assegurada:

Ilustração 23 - Manoel Luis Osório, Marquês do Herval, o Vanguardeiro.

“Durante a batalha Osório demonstrava mais uma vez seu valor como tático. Infunde coragem a todos pela sua atitude pessoal, pompeia a bravu-ra para estimular as energias” (...); “a galope sempre, chapéu-chile, de es-pada em punho, percorria a linha de fogo de ponta a ponta e a tudo aten-

forças britânicas, cerca de 60.000 homens no total, capitularam depois de uma semana, a 15/02/1942, com Cingapura em chamas a seu redor. Este foi um dos piores reveses jamais ocorridos na história militar britânica.” (“A Segunda Guerra Mundial (Resumo)”)

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dia. Tinha o dom da ubiquidade.” (...); “Osório multiplicou-se; não houve soldado brasileiro, que combatesse nesse dia, que não o visse passar como um raio, entre os maiores perigos da batalha e que, no exemplo sublime que lhe dava o chefe, não sentisse o coração pulsar-lhe de entusi-asmo e de valor invencível...” 66.

Outro exemplo de talento e intuição, pouco mais

tarde e ainda cá em nossas plagas, pode caracterizar, setenta e seis anos antes do exemplo de Montgomery no Norte da África, o mesmo sentimento de expor-se e de buscar o vis-à-vis de combate com os líderes subordinados sob crise ou sob a premência de prazos: a ação do Marechal de Exército Marquês de Caxias, a partir de 19 de novembro de 1866 no acampamento de Tuyuty, quando assumiu o comando do Exército Imperial Brasileiro e da Esquadra. Encontrou as forças brasileiras, com o alastramento do cólera-morbo, de moral baixo, desequipadas, mal armadas, sem remonta, envolvidas com atividades estranhas à guerra, refletindo, de alguma forma o desentendimento anterior entre os comandantes do Exército e a Armada 67. Sentiu que deveria expor-se e impor-se como lll ííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee

confiável e empenhou-se na busca do contato físico diário com seus comandantes de corpos e de batalhões. Todos

o viram e passaram a identificá-lo como uma figura que os conduziria, como o fez, à vitória e à glória.

Ilustração 24 – O pacificador im-placável: Marechal de Exército, Mar-quês de Caxias (1866)

“O Marquês multiplica-se em atividade. Marca revistas. Intensifica a ins-trução. Fiscaliza pessoalmente todos os exercícios. Três horas a cavalo, pelo menos, percorre todos os acampamentos, examinando-lhes a higiene, o asseio e a disciplina, e dirige, em pessoa, a instrução de vários corpos. Verifica-se do Diário de Operações que Caxias, num dia, pela manhã, diri-ge o exercício de um batalhão; à tarde, o de uma brigada formada por três batalhões. No dia seguinte, passa em revista toda a cavalaria do Exército. E no terceiro dia assiste ao exercício geral da artilharia! (...) Organizador tudo vê e prevê. Não descansa. É rigoroso nas suas observações. Tanto se faz enérgico nas punições como generoso nas recompensas.” 68

Kuwait, fevereiro de 1991. Dentro de uma situação recente de combate, entretan-

to, algo anômalo fica caracterizado no depoimento de um voluntário, “marine” norte-

66 Citações de J. B. Magalhães – “Osório – Síntese de seu perfil histórico” – Biblioteca do Exército – Editora. 67 O Exército Imperial Brasileiro em operações no território paraguaio, vitorioso em 24 de maio de 1866, entrara em um período de estagnação no acampamento de Tuyuty, após o revés de Curupayty – e de desentendimentos e suscetibilidades entre os altos chefes militares envolvendo o General Manoel Marques de Sousa, Barão de Porto Alegre e o Almirante Joaquim Marques Lisboa, Barão de Tamandaré. 68 “Caxias” – Affonso de Carvalho – Biblioteca do Exército, Editora.

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americano na “Operação Tempestade no Deserto”, Guerra do Golfo de 1991, que se desdobrou de 25 a 28 de fevereiro ao longo dos campos petrolíferos em chamas no deserto do Kuwait. O autor descreve, do ponto de vista de um simples “jarhead” 69, uma operação militar relâmpago, descentralizada, com assistência de alta tecnologia e pletora de meios modernos de combate – apoio aéreo e naval, blindados e viatu-ras especializadas, artilharia de longa distância e precisão, mísseis táticos potentís-simos e precisos, comunicação de som limpo e imagem de alta resolução, resguardo sanitário e contra a guerra química, equipamentos individuais de proteção física (crânio, olhos, ouvidos, joelhos, cotovelos, tornozelos, tórax e abdome), visão notur-na, suprimentos abundantes, munições sofisticadas e de alto poder explosivo ou perfurante, armamento individual de última geração, eficaz e confiável, etc.. No cur-so do relato, contudo, o autor deixa transparecer a existência de llííddeerreess e combaten-tes inadequadamente preparados e desinformados para um esforço de curta dura-ção ( VVVooonnntttaaadddeee ííímmmpppeeetttooo, para esclarecimento do leitor, é a vvoonnttaaddee iinnddiivviidduuaall ou ccoolleettiivvaa estimulada por motivações fortes e apelos emocionais intensos capazes de gerar manifestação impetuosa e rompante com vigorosa energia de ação o que, por isso mesmo, determina uma duração limitada para o impulso criado), o que criou dificuldades (ou desatenção?) para esse contubérnio ao qual me refiro entre llííddeerreess mmiilliittaarreess na linhagem de dupla sensibilidade dos líderes interferentes, dos altos escalões às pequenas frações em contato ou buscando-o. Trata-se de um livro autobiográfico de sucesso que deu origem a um filme com a boa direção de Sam Mendes (“Soldado anônimo”). Como resultado dessa predominância obsedante de equipamentos e armamentos e a despeito da vitória rápida e arrasadora – ou por causa disso -, o depoimento assinala fuzileiros navais confusos, psicologicamente descompensados, faltos de liderança e com motivações duvidosas. Bons argumen-tos para a confirmação da tese do sistema de l

Ilustração 25 – Campos petrolíferos em chamas no deserto (Kuwait, 1991).

liiddeerraannççaa mmiilliittaarr que manteria, desde a preparação, os líderes informados do eessttaaddoo ddoo eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee e os compulsa-ria a soluções.

Sempre considerei que os ddiissttiinnttiivvooss mmiilliittaarreess estão mais correta e solidamente desenvolvidos e consolidados em forças terrestres onde o enquadramento está in-culcado na mente dos combatentes e o enfrentamento do inimigo sublima-se no eeesss---pppííírrr iii tttooo dddaaa bbbaaaiiiooonnneeetttaaa, isto é, próximo e violento. Além do mais, são estruturas militares de combate matrizes a partir das quais as forças navais e, modernamente, as forças aéreas foram se conformando. As distorções, atenuações e exagerações nas carac-terísticas (ssoolliiddeezz, ccoonnffiiaabbiilliiddaaddee e iinnddiissssoocciiaabbiilliiddaaddee) e seus fatores ativantes (ddiissccii--pplliinnaa mmiilliittaarr, aauuttoorriiddaaddee mmiilliittaarr e hhiieerraarrqquuiiaa mmiilliittaa

rr)70, portanto, têm sentido por esta-rem modificados, muitos deles, em face da necessidade prática das rotinas de pre-

69 Título do livro: “Jarhead” (“cabeça-de-jarro”, gíria que se refere ao soldado pelo seu corte de cabelo); autor: Anthony Swofford (o soldado Swof, no texto). 70 Nas demais forças singulares - naval e aérea -, por não dependerem desse sentimento geral de proximidade com o inimigo e se envolverem, fundamentalmente, com a eficácia de seus equipamen-tos (navios e aeronaves), o problema de preparação é, nos seus aspectos psicológicos de sustenta-ção e motivação, menos complexo. O que pode gerar o que estou assinalando e seus fuzileiros na-vais, por essa influência, apresentarem sequelas deformadoras.

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paração e das ações de combate. O que o livro descreve - especulo -, como uma história de “marines”, talvez não tivesse ocorrido ou ocorresse com menor intensida-de entre forças de combate do exército norte-americano, sujeitas, na mesma época, a situações e surpresas semelhantes.

Ilustração 26 – Forja de llííddeerreess ddee ccoommbbaattee brasileiros: Portão Monumental das Armas - Academia Militar das Agulhas Negras.

Qualquer evento para aaççããoo ddee ccoommaannddoo precisa abordar ou referir-se à problemá-tica de lliiddeerraannççaa mmiilliittaarr (esse foi o sentido da atividade de Caxias no acampamento de Tuyuty, a partir de novembro de 1866: tratar do corpo e da alma das forças impe-riais). Já um procedimento específico, com a participação dos ccoommaannddaanntteess mmiilliittaarreess iinntteerrffeerreenntteess, até o nível conveniente aos assuntos do EC que serão tratados, pode-rá enfocar:

- a orientação ou a reorientação da dinâmica de liderança, - a interpretação de situações, a homogeneização de procedimentos, - a definição de resultados que serão buscados, - a avaliação de dificuldades existentes para obtê-los e - a discussão de soluções em relação ao eessttaaddoo ddoo eessppíírriittoo ccoommbbaatteennttee de um

modo geral e, em particular, sobre a condução do EC, ou seja, sobre os vvaalloorreess ccoo--lleettiivvooss do ccaarráátteerr pprrooffiissssiioonnaall mmiilliittaarr de seu aaggrruuppaammeennttoo ddee ccoommbbaattee, sobre o esta-do mmoorraall ddaa ttrrooppaa considerada e sobre a vvoonnttaaddee ddaa ffoorrççaa para a ação em curso, ou que será empreendida ou que já foi concluída.

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Esses cinco itens conformam o propósito de Montgomery no norte da África em agosto de 1942: tratar da alma das forças britânicas.

LLLííídddeeerrr dddeee cccooommmbbbaaattteee ééé aaa qqquuuaaallliiifffiiicccaaaçççãããooo fffuuunnndddaaammmeeennntttaaalll dddooo ppprrrooofffiiissssssiiiooonnnaaalll dddaaasss AAArrrmmmaaasss

dddeeessstttiiinnnaaadddooo aaaooo cccooommmaaannndddooo mmmiiilll iiitttaaarrr eeemmm qqquuuaaalllqqquuueeerrr n nnííívvveeelll... AAA eeexxxpppeeerrriiiêêênnnccciiiaaa dddiiirrreeetttaaa dddooo cccooommm---bbbaaattteee dddeeevvveee ssseeerrr cccooonnnsssiiidddeeerrraaadddaaa,,, sssiiimmmpppllleeesssmmmeeennnttteee,,, uuummmaaa ooocccooorrrrrrêêênnnccciiiaaa hhhiiissstttóóórrriiicccaaa fffaaaccctttííívvveeelll... EEEssstttaaarrr ppprrreeepppaaarrraaadddooo pppaaarrraaa vvviiivvvêêê---lllaaa ssseeeggguuurrraaa,,, c ccooonnnsssccciiieeennnttteee,,, ooorrrggguuulllhhhooosssaaa eee vvviiitttooorrriiiooosssaaammmeeennnttteee,,, eeennntttrrreeetttaaannntttooo,,, dddeeefffiiinnneee aaa eeessssssêêênnnccciiiaaa dddaaa mmmíííssstttiiicccaaa mmmiiilll iiitttaaarrr...

OOO q qquuueee sssãããooo,,, aaafffiiinnnaaalll,,, ooosss SSSooollldddaaadddooosss dddooo EEEssstttaaadddooo BBBrrraaasssiiillleeeiiirrrooo??? PPPrrreeeccciiisssaaammm ssseee ssseeennntttiiirrr eee ssseee aaacccrrreeedddiiitttaaarrr cccooommmbbbaaattteeennnttteeesss eee iiinnnttteeegggrrraaannnttteeesss dddeee uuummmaaa fffooorrrçççaaa dddeee cccooommmbbbaaattteee... EEE eeesssssseee ssseeennntttiii---mmmeeennntttooo dddeeevvveee aaassssssuuummmiiirrr uuummm cccaaarrráááttteeerrr dddiiissstttiiinnntttooo,,, i iinnnaaalllhhheeeááávvveeelll eee pppeeerrrmmmaaannneeennnttteee...

Brasília, janeiro de 2010 João Manoel Simch Brochado Cel Ref (Infantaria e Estado-maior)

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RRREEELLLAAAÇÇÇÃÃÃOOO DDDAAASSS IIILLLUUUSSSTTTRRRAAAÇÇÇÕÕÕEEESSS RRREEEFFFEEERRREEENNNTTTEEESSS AAAOOO EEENNNSSSAAAIIIOOO “““AAA FFFAAASSSCCCIIINNNAAANNNTTTEEE GGGEEESSSTTTÃÃÃOOO DDDEEE UUUMMM EEESSSPPPÍÍÍRRRIIITTTOOO”””

Ilustração 01 (“Agrupamentos humanos”)....................................................................07 Ilustração 02 (“Um longo processo natural”)................................................................08 Ilustração 03 (“A evolução da família humana”)...........................................................08 Ilustração 04 (“A origem do Estado?”)......................................................................... 09 Ilustração 05 (“Autoridade resultante”).........................................................................13 Ilustração 06 (“Características e fatores ativantes”)....................................................17 Ilustração 07 (“Autoridade militar”)...............................................................................18 Ilustração 08 (“Evolução das sociedades humanas”).................................................20 Ilustração 09 (“O comandante militar”).........................................................................21 Ilustração 10 (“A hierarquia militar”).............................................................................22 Ilustração 11 (“Estado disciplinar”)...............................................................................28 Ilustração 12 (“Triângulo equilibrado”).........................................................................29 Ilustração 13 (“Ação militar”)..........................................................................................35 Ilustração 14 (“Escalão de comando e cadeia de comando”).....................................36 Ilustração 15 (“Circuito-fim”)..........................................................................................38 Ilustração 16 (“Dois enfoques”).....................................................................................44 Ilustração 17 (“A função-chefia”)...................................................................................49 Ilustração 18 (“A função-liderança”)..............................................................................49 Ilustração 19 (“A metodologia”).....................................................................................54 Ilustração 20 (“Sistema e subsistemas”).......................................................................68 Ilustração 21 (“Pose do vitorioso”)................................................................................84 Ilustração 22 (“Uma esperta raposa em atividade”).....................................................85 Ilustração 23 (“O Vanguardeiro”)...................................................................................85 Ilustração 24 (“Pacificador implacável”).......................................................................86 Ilustração 25 (“Deserto em chamas”)............................................................................87 Ilustração 26 (“Forja de lll ííídddeeerrreeesss dddeee cccooommmbbbaaattteee”)................................................................88