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A vivência intencional da consciência pura em Husserl The intentional experience of pure consciousness in Husserl Carine Santos Nascimento 1 Resumo: Este artigo analisa a importância do conceito de intencionalidade compreendida como intencionalidade da consciência em Husserl enquanto ponto de partida para o estudo da Fenomenologia. Em um primeiro momento, o texto aborda em que medida a consciência pura é condição de possibilidade da vivência intencional e, para isso, é necessário destacar o caráter da atitude fenomenológica em detrimento da atitude natural, a saber, com a epoché fenomenológica. Em seguida, destaca as influências e divergências na Fenomenologia husserliana em relação à filosofia cartesiana, apresentando de forma sintética o trajeto percorrido por Descartes, e em que medida a diferenciação entre o cogito cartesiano e o eu-puro husserliano é relevante para a compreensão da análise fenomenológica do conhecimento. Palavras-chave: Intencionalidade. Consciência. Fenomenologia. Redução Fenomenológica. Résumé: Cet article analyse l'importance de la notion d'intentionnalité comprise comme l'intentionnalité de la conscience chez Husserl tandis que point de départ pour l'étude de la Phénoménologie. Dans un premier temps, le texte aborde dans quelle mesure la conscience pure est condition de possibilité de la vécu intentionnelle et, pour ce, il est nécessaire détacher le caractère de l'attitude phénoménologique au détriment de l'attitude naturelle, à savoir, avec l' epoché phénoménologique. Souligne ensuite les influences et les différences dans la Phénoménologie de Husserl au regard de la philosophie cartésienne, présentant synthétiquement le trajet parcouru par Descartes, et dans quelle mesure la différence entre le cogito cartésien et le je-pur husserlien est important pour la compréhension de l'analyse phénoménologique de la connaissance. Mots-clé: Intencionnalité. Conscience. Phénoménologie. Réduction phénoménologique. 1. Considerações iniciais Ao percorrer o conceito fenomenológico da consciência intencional de Edmund Husserl, buscaremos uma contextualização histórica das influências recebidas por ele e das tentativas de refutação de algumas ideias epistemológicas da época. Consideraremos sua intenção em devolver à filosofia o status científico, ao opor-se à forte influência do positivismo, do psicologismo e do naturalismo da época, estabelecendo a filosofia como ciência rigorosa. Analisaremos também em que medida Husserl reconhece o ego cartesiano como verdade apodítica, embora examine os equívocos no modo como 1 Graduanda em Filosofia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia UESB. Artigo desenvolvido durante Projeto de Iniciação Científica (PIBIC). Orientador: Prof. Dr. José Fábio da Silva Albuquerque. E-mail: [email protected]

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  • A vivncia intencional da conscincia pura em Husserl

    The intentional experience of pure consciousness in Husserl

    Carine Santos Nascimento1

    Resumo: Este artigo analisa a importncia do conceito de intencionalidade compreendida como

    intencionalidade da conscincia em Husserl enquanto ponto de partida para o estudo da

    Fenomenologia. Em um primeiro momento, o texto aborda em que medida a conscincia pura

    condio de possibilidade da vivncia intencional e, para isso, necessrio destacar o carter da

    atitude fenomenolgica em detrimento da atitude natural, a saber, com a epoch

    fenomenolgica. Em seguida, destaca as influncias e divergncias na Fenomenologia

    husserliana em relao filosofia cartesiana, apresentando de forma sinttica o trajeto

    percorrido por Descartes, e em que medida a diferenciao entre o cogito cartesiano e o eu-puro

    husserliano relevante para a compreenso da anlise fenomenolgica do conhecimento.

    Palavras-chave: Intencionalidade. Conscincia. Fenomenologia. Reduo Fenomenolgica.

    Rsum: Cet article analyse l'importance de la notion d'intentionnalit comprise comme

    l'intentionnalit de la conscience chez Husserl tandis que point de dpart pour l'tude de la

    Phnomnologie. Dans un premier temps, le texte aborde dans quelle mesure la conscience pure

    est condition de possibilit de la vcu intentionnelle et, pour ce, il est ncessaire dtacher le

    caractre de l'attitude phnomnologique au dtriment de l'attitude naturelle, savoir, avec

    l'epoch phnomnologique. Souligne ensuite les influences et les diffrences dans la

    Phnomnologie de Husserl au regard de la philosophie cartsienne, prsentant synthtiquement

    le trajet parcouru par Descartes, et dans quelle mesure la diffrence entre le cogito cartsien et le

    je-pur husserlien est important pour la comprhension de l'analyse phnomnologique de la

    connaissance.

    Mots-cl: Intencionnalit. Conscience. Phnomnologie. Rduction phnomnologique.

    1. Consideraes iniciais

    Ao percorrer o conceito fenomenolgico da conscincia intencional de Edmund

    Husserl, buscaremos uma contextualizao histrica das influncias recebidas por ele e

    das tentativas de refutao de algumas ideias epistemolgicas da poca. Consideraremos

    sua inteno em devolver filosofia o status cientfico, ao opor-se forte influncia do

    positivismo, do psicologismo e do naturalismo da poca, estabelecendo a filosofia como

    cincia rigorosa. Analisaremos tambm em que medida Husserl reconhece o ego

    cartesiano como verdade apodtica, embora examine os equvocos no modo como

    1 Graduanda em Filosofia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia UESB. Artigo

    desenvolvido durante Projeto de Iniciao Cientfica (PIBIC). Orientador: Prof. Dr. Jos Fbio da Silva

    Albuquerque. E-mail: [email protected]

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    Descartes o representou, visto que a intencionalidade husserliana acrescenta ao ego

    cogito o cogitatum, ou seja, se pensamos, pensamos em algo, a nossa conscincia

    sempre tem um direcionamento para algum objeto. E como percebemos esta relao?

    Por nossas intuies originrias; no modo como os fenmenos aparecem nossa

    conscincia, da a necessidade de um retorno s coisas mesmas.

    2. O desenvolvimento do conceito de intencionalidade em Husserl a partir da

    influncia de Brentano

    Husserl comea a desenvolver sua filosofia em uma poca de crise do

    pensamento filosfico2 ento desvinculado do conceito de cincia3; para essa, aquele j

    no se apresenta mais como meio capaz de interpretar sistematicamente a realidade. O

    mtodo cientfico da poca aponta que a filosofia sempre estivera perdida em

    especulaes no domnio das ideias, irrelevantes ao natural. O projeto husserliano, por

    sua vez, est comprometido com o intento de formular uma filosofia cientfica rigorosa,

    alcanando um fundamento inquestionvel do conhecimento atravs de um mbito de

    investigao que denominou de fenomenologia no sentido de um retorno s coisas

    mesmas, j que o fenmeno se revela como possibilidade interna e imediata na

    construo do conhecimento. A fenomenologia4 de Edmund Husserl, portanto, se

    apresenta como um modo de pensar o problema do conhecimento, agitando toda uma

    tradio filosfica metafsica, que em sua poca se encontrava em crise.

    A gnese do pensamento de Husserl, no que aludi fenomenologia da

    intencionalidade, fora influenciada por pensadores contemporneos a ele, destaque para

    Franz Brentano, um opositor da experincia como fundamento para o conhecimento

    2Sobre a crise mencionada ver Filosofa em Alemania de Schndelbach (1991); o autor destaca a crise de

    identidade da filosofia alem posterior a Hegel e o desenvolvimento das cincias. 3 Husserl viveu em uma poca ps-Hegel em que a filosofia perdeu o papel de modelo das Cincias,

    medida que estas passaram a se desenvolver com autonomia (ibidem, p. 87). O filsofo comprometido

    com sua determinao em dar a filosofia uma fundamentao rigorosa e consequentemente as demais

    cincias, explana uma crtica que aponta a fragilidade da fundamentao destas, tal aspecto apontado em

    suas obras e conferncias como a crise das cincias. 4 Segundo Dartigues (2005, p. 09-10) [...] o primeiro texto que figura esse termo o Novo rganon

    (1764) de Lambert [...] que entende por fenomenologia a teoria da iluso. talvez sob influncia de

    Lambert que Kant retoma esse termo, em 1770 designa a fenomenologia como uma disciplina

    propedutica que deve preceder metafsica. Com a Fenomenologia do Esprito deHegel em 1807 o

    termo entra definitivamente na tradio filosfica, designando a fenomenologia como filosofia do

    absoluto do esprito. Husserl por sua vez deu um significado novo a uma palavra j antiga, estabelecendo

    a fenomenologia pura, transcendental como possibilidade atravs da reduo eidtica. Em

    Heiddegger significa um conceito de mtodo, no determinando nenhum objeto particular, um como

    no um quid: como se manifesta a coisa investigada e como necessrio abord-la segundo seu modo de

    observao (DUBOIS, 2004, p. 23).

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    cientifico. Conforme Dartigues (2005, p. 15), ao propor um novo mtodo de

    conhecimento do psiquismo, Brentano destaca fundamentalmente os fenmenos

    psquicos, os quais comportam uma intencionalidade, a visada de um objeto. Para ele

    esses fenmenos psquicos podem ser percebidos e o modo de percepo original que

    deles temos constitui o seu conhecimento fundamental. A intencionalidade em Brentano

    a princpio se destaca por seu aspecto psquico, que se caracteriza pela in-existncia

    ontolgica do objeto intencional. Tal aspecto no se refere a no existncia do objeto,

    mas em existncia dentro da inteno o objeto existe enquanto representao dentro

    do sujeito e no fora dele, e direcionado intencionalmente para o fenmeno psquico.

    Todo e qualquer fenmeno psquico, caracterizado pelo que os

    escolsticos da Idade Mdia denominavam como inexistncia

    intencional (ou tambm mental) de um objeto e que ns [...]

    poderamos denominar como a referncia a um contedo, a direo

    para um objeto (pelo qual no se deve entender uma realidade) ou para

    objetividade imanente. Todo e qualquer fenmeno psquico contm

    em si qualquer coisa como objeto, se bem que cada um a seu modo.

    (BRENTANO apud HUSSERL, 2012, p. 315)5

    A ideia a priori de objeto intencional imanente conscincia, defendida por

    Brentano (e a princpio anuda por Husserl), fora alvo de crticas ao ser relacionada ao

    psicologismo6,embora o prprio Brentano se defenda de tal afirmativa no texto O

    psicologismo: Ou o porqu no sou um psicologista. Contudo, assim como no

    psicologismo, a sua investigao se voltava meramente ao ato psquico no qual no

    atribua diferena entre o objeto do conhecimento (noema) e o ato mesmo de conhecer

    (noesis). Conforme Carlos Alberto Ribeiro de Moura (2006, p. 38) o psicologismo

    5 Os escolsticos da Idade Mdia caracterizavam o objeto intencional da conscincia como imagens -

    como objeto mental, a intencionalidade era um fenmeno psicolgico no interior do sujeito. Em Brentano

    os objetos intencionais eram imanentes conscincia (no necessariamente um objeto real). Conforme

    Mccormick (1981, p. 228ss) a intencionalidade em Brentano fora influenciada pelos escolsticos, em

    especial Tomas de Aquino, medida que no Aquinate que Brentano retira a primeira das duas noes

    que formam seu conceito de Intencionalidade, a noo de inexistncia intencional. A noo de referncia

    a um contedo, visada de um objeto - assim objetividade imanente - se figura como a sua segunda noo

    de intencionalidade (ibid), que tambm segundo Mccormick est sob influncia escolstica.

    Posteriormente, novas descries dos atos psquicos levaram Brentano ao abandono dessa tese ontolgica

    que se caracterizava pelo objeto in-existente ou imanente, medida que reconhecer nessa um meio

    ineficaz para distinguir entre o psquico e o fsico. 6 Termo provindo da psicologia e que surgiu no sculo XIX. Husserl vai de encontro ao Psicologismo,

    pois em sua fenomenologia da Intencionalidade da conscincia, devemos levar em considerao atos da

    conscincia, os contedos do pensamento e no unicamente uma investigao do ato psquico do pensar

    que provm de eventos empricos. Segundo Abbagnano (2005, p. 811) no seu uso polmico, o termo

    constantemente empregado para designar a confuso entre a gnese psicolgica do conhecimento e sua

    validade; ou a tendncia a julgar justificada a validade de um conhecimento, quando na verdade s se

    explicou seu acontecimento na conscincia.

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    enquanto psicologia emprica (conscincia individualizada) exerce a epoch da validade

    em relao ao mundo, uma subjetividade que parte do mundo.

    Em 1901, nas Investigaes Lgicas, Husserl parte dessa conscincia

    psicologicamente decifrada (fenmenos psquicos) para empreender a purificao que

    levar subjetividade fenomenolgica. Essa se distingui daquela encontrada na

    psicologia emprica (conscincia individualizada) por ser uma conscincia

    eideticamente purificada e desligada de todo e qualquer indivduo mundano. Na

    psicologia o eu espiritual-conscincia definido como a unidade real (reell) dos

    vividos de um eu, onde esses vividos so acontecimentos reais (realen) (MOURA,

    2006, p 42). Sem embargo, a partir de 1906 Husserl reconhece contra o psicologismo7

    que a conscincia no nenhum vivido psquico, nenhum entrelaamento de vividos

    psquicos, nenhuma coisa, nenhum anexo (estado, atividade) em um objeto natural

    (ibidem, p 45). Deste modo, como antipsicologista, Husserl reconhece os vividos

    analisados pela fenomenologia como sendo irrealidades (irrealitten).

    3. A conscincia intencional em Husserl

    Na tentativa de embate ao psicologismo, Husserl desenvolve o seu prprio

    caminho para um conceito fenomenolgico de conscincia, embora no deixasse de

    caminhar segundo o postulado bsico explicitado por Brentano - conscincia como

    conscincia de algo, referente a algum objeto, esse direcionamento possvel pela

    intencionalidade. Na Quinta Investigao de Investigaes Lgicas, Husserl (2012, p.

    295ss) apresenta trs possveis significados para definir a conscincia: 1) relao das

    vivncias psquicas verificveis no fluxo das vivncias;2) percepo interna das prprias

    experincias;3) vivncia intencional. Ser nesse terceiro sentido que ele direcionar a

    7 Embora o artigo no tenha como foco o percurso que levou Husserl a ser contrrio ao psicologismo, mas

    sim, apresentar as caractersticas do que Husserl chama conscincia as quais distanciam sua perspectiva

    do psicologismo, indica-se ver Investigaes Lgicas (2014) - primeiro volume, em especial os 21 e 22

    (exemplo da calculadora) e o 51 (diferenciao entre o real e o ideal), com a finalidade de compreender

    seu posicionamento. Segundo Tourinho (2014) as crticas de Husserl apontam que o erro da pretenso

    psicologista a tentativa de fundamentao das leis da lgica na psicologia, tomando as puras leis do

    pensamento em termos de leis causais da natureza. O erro psicologista a confuso entre os domnios do

    real e do ideal no que tange ao pensamento, pois ao restringir a legalidade a ele aplicada, aos termos de

    leis psicofsicas ignora-se a dimenso ideal que sustenta a possibilidade de fundamentao do

    conhecimento. A inteno psicologista de fundamentar o conhecimento a partir do vis emprico,

    interpretando a conscincia como domnio factual natural, que faz com que o movimento caia na

    confuso acima mencionada teria por consequncia, segundo Husserl, o encobrimento da

    dimenso intencional da conscincia enquanto doadora de sentido e, ainda, o fado da condenao do

    pensamento a um relativismo ctico - sobre a ltima ver Tourinho (2011).

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    sua pesquisa fenomenolgica da intencionalidade. Em outras palavras, Husserl define

    conscincia como unidade de vivncias - totalidade de atos intencionais de

    significncias. A intencionalidade enquanto caracterstica fundamental da conscincia

    abrir portas significativas no desenvolvimento do pensamento husserliano. Para o

    filsofo, toda conscincia intencional por efetivamente se direcionar para algo, de tal

    modo, toda conscincia conscincia de um objeto intencional de uma visada, todos os

    vividos que tm em comum essas propriedades eidticas tambm se chamam vividos

    intencionais, uma vez que so conscincia de algo, eles so ditos intencionalmente

    referidos a esse algo (HUSSERL, 2006, p. 89). Contudo, rejeitando a ideia de

    inexistentia intentionalis, conscincia intencional no ser mais analisada como um

    conceito de intencionalidade psquica, mas em seu aspecto transcendental, a partir do a

    priori da correlao.

    Indubitavelmente, a ideia de Intencionalidade ocupou um papel central nas

    investigaes fenomenolgicas de Edmund Husserl, ponderando a correlao entre a

    conscincia e o mundo dos vividos. Na sua espontaneidade, a conscincia acolhe o

    mundo exterior (enquanto contedo objetivo do pensamento noema) e a ela mesma

    (ato psquico de conhecer noesis) como existentes independentes, caracterizando a

    atitude natural. Porm, Husserl inferi a necessidade de superao da visada de um

    objeto na atitude natural, pr-filosfica. Segundo ele, porque essa visada no direciona

    ao conhecimento verdadeiro, apenas continua atestando que existe realidade

    independente da conscincia por exemplo, diante de um objeto, apenas diz que ele

    existe em algum lugar e representado na conscincia. Tal aspecto no nos direciona

    intuio originria. Ser na correlao transcendental da conscincia com o mundo que

    Husserl prope um retorno s coisas mesmas, vivncia original do objeto, conforme

    Silva (2009, p. 48).

    A proposta de Husserl, portanto, a vivncia desses objetos na conscincia pura,

    ou seja, na subjetividade transcendental. A experincia transcendental, por sua vez, s

    pode ser pensada a partir do aspecto intencional dessa conscincia, quando destituda da

    sua atitude natural. Entrementes, como se d a superao da atitude natural e, por

    conseguinte, a conscincia pura entrelaada ao fluxo de vivncia visando

    conhecimentos vlidos? A saber, atravs da epoch fenomenolgica e da decorrente

    Reduo Transcendental. Com a suspenso fenomenolgica transcendental, o que se

    estabelece aparece (no como referncia a algo existente no mundo) conscincia

    pura destituda do contedo natural, o fenmeno.

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    Assim, a forma de ir s coisas mesmas, s intuies mais originrias, exige

    dirigir o olhar ao modo de doao imediata de sentido para a conscincia pura (que se

    mostra como fundamento absoluto da realidade, depois de colocarmos o mundo

    transcendente em suspenso), de onde emerge todo conhecimento vlido. O retorno s

    coisas mesmas, portanto, indica como as coisas se apresentam conscincia purificada e

    como as experimentamos, sentimos, vivenciamos, conhecemos. Conforme Bernet

    (2013, p. 118) o sentido ltimo da reduo fenomenolgica imbrica que os fenmenos

    verdadeiramente fenomenolgicos s aparecem quando eu decido investigar todos os

    objetos, possveis e reais, no seu modo de doao em relao a mim. Perceber

    fenomenologicamente a forma como o objeto se doa, se apresenta conscincia,

    representa a condio para a anlise do fundamento do conhecimento.

    Partindo das coisas mesmas, claras luz da evidncia, alcanamos o rigor da

    cincia e a filosofia enquanto cincia rigorosa, por isso, Husserl prope suspenso da

    atitude natural (epoch de conhecimentos que antecedem a evidncia apodtica), na qual

    est imbricada nossa concepo de mundo, para ento decorrer o critrio de evidncia

    fenomenolgica.

    Como Descartes, ele reivindica a suspenso da atitude natural, da

    crena no mundo externo [...] e a concentrao em nosso prprio ego.

    Esta suspenso da crena a Epoch [...]. H duas razes para a

    epoch e a decorrente reduo transcendental: 1.unicamente o ego e

    seus estados podem fornecer as fundaes certas e seguras para as

    cincias; 2.o ego e seus estados constituem um rico campo de

    investigao por mrito prprio um campo que Descartes descobriu,

    mas rapidamente deixou vago [...] (INWOOD, 2002, p. 67)

    A epoch fenomenolgica se caracteriza por um distanciamento contnuo da

    atitude natural por meio da atitude inquiridora. O termo grego , segundo Lwit

    (1957, p. 400) deriva da atitude ctica dos pirrnicos que se caracterizava por um estado

    contnuo de dvidas relativas aos dogmas, s verdades inquestionveis. Nessa atitude,

    ao suspender o juzo, no permitido negar nem nada afirmar, no se aceita nem se

    rejeita, mas apenas se mantm a postura ctica. Apesar dessa influncia relacionada ao

    termo, a epoch em Husserl ganha novas significaes, medida que no ser uma

    abordagem puramente ctica, mas, antes, uma atitude imprescindvel que retira a

    conscincia de uma postura ingnua do mundo natural.

    Por sua vez, a reduo fenomenolgica que sucede a epoch apresenta-se como

    um aspecto relevante para compreenso da fenomenologia intencional husserliana, pois

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    atravs dela que se torna possvel captar a realidade do objeto intencional em relao

    conscincia pura.

    Para Husserl, a Reduo Fenomenolgica [...] o mtodo de

    reconduo do olhar fenomenolgico da atitude natural do homem que

    vive imerso no mundo das coisas e das pessoas para a vida

    transcendental da conscincia e suas vivncias notico-noemtica,

    vivncias nas quais os objetos se constituem como correlatos de

    conscincia. (HEIDEGGER, 2012, p. 36-37)

    E onde se constitui os objetos intencionais? Nas vivncias da conscincia pura.

    relevante ressaltar aqui um aspecto da filosofia fenomenolgica de Edmund Husserl:

    no subjetividade que produz mundo, mas compe unidades de vivncias objetivas

    que possibilitam conhecimento de mundo. Conforme Fontana (2009, p. 4), no

    possvel fundar uma cincia absoluta da conscincia separada de seus vividos, pois h

    uma correlao necessria entre a subjetividade pura (conscincia) e a objetividade

    (mundo), nessa relao se constitui o campo transcendental. Sem conscincia o objeto

    seria indistinto, traz-lo luz atravs da conscincia pura enquanto possibilidade de

    conhecimento o que prope a fenomenologia husserliana8. Conforme Bernet (2013) o

    fenmeno - algo que aparece - testemunha o caminho de formao de sentido

    Assim, na sua acepo mais simples a constituio transcendental

    enfatiza o entrelaamento ou a correlao da experincia subjetiva,

    por um lado, e a determinao do sentido do objeto e modo de ser, por

    outro. (BERNET, 2013, p. 120).

    A reduo fenomenolgica, portanto, um meio metodolgico pelo qual o eu

    se capta puramente como vida de conscincia e o mundo objetivo no seu conjunto tal

    como precisamente para o ego . O eu puro apresenta-se como doador de significados

    em relao ao eu emprico mundano, Todo e qualquer ser mundano, espao-temporal,

    para mim porquanto o experiencio, percepciono [...] nele penso de algum modo [...].

    8 H vertentes opostas ao pensamento fenomenolgico husserliano. P.ex., Heidegger se destaca ao criticar

    a ideia da fenomenologia intencional, necessria a partir da conscincia pura. Ou seja, Heidegger se ope

    ideia de vivencia intencional possvel a partir da conscincia pura. Ao problematizar a questo da

    conscincia pura, Heidegger critica a tentativa husserliana de purificar a conscincia - enquanto fluxo

    contnuo de vivncias -, para depois analisar de forma minuciosa os atos especficos da conscincia;

    destacando que pureza no necessidade para a investigao da Intencionalidade, pois o carter da

    intencionalidade da conscincia j se encontra na atitude natural, assim Heidegger tambm rechaa a

    necessidade de superao da atitude natural (isso no significa que ele desconsidere a importncia da

    reduo transcendental), ao perceber a relevncia de uma relao cotidiana com os entes que se

    apresentam no mundo, destarte Heidegger insere um elemento hermenutico ontolgico na origem da

    ideia fenomenolgica.

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    Como bem sabido, Descartes designou tudo isso pela palavra cogitatio (HUSSERL,

    2013, p.6).

    4. Aspectos que diferem a dvida cartesiana da epoch fenomenolgica husserliana

    Se percorrermos o idealismo filosfico cartesiano, perceberemos aspectos

    similares filosofia de Husserl, medida que este tambm trilha o caminho cartesiano,

    embora o submetendo a reformulaes e questionamentos. Como sabido, Descartes,

    no intuito de se livrar dos prejuzos da infncia e opinies preconcebidas, estabelece o

    sentido da dvida metdica, ou seja, a reconstruo do saber.

    Era preciso, portanto, que, uma vez na vida, fossem postas abaixo

    todas as coisas, todas as opinies em que at ento confiara,

    recomeando dos primeiros fundamentos, se desejasse estabelecer em

    algum momento algo firme e permanente nas cincias.

    (DESCARTES, 2004, p. 21).

    Duvida a fim de determinar o indubitvel, com uma metodologia, segundo ele,

    confivel para sua nova cincia. No processo da dvida metdica, suspende o juzo

    temporariamente e, ao suspender as suas crenas, descarta conhecimentos construdos

    sob aspectos sensveis. Encaminha-se rumo s ideias inatas, s verdades dispostas luz

    da razo. Assim, a partir da dvida Descartes se depara com a constatao do eu

    pensante - a certeza do cogito-, ou seja, por mais que duvidasse de tudo no poderia

    duvidar de que estava pensando. Eu sou, eu existo; se sou, se existo, o que sou? Sou

    algo que pensa, coisa pensante (DESCARTES, 2004, p 27). Que isto? A saber, coisa

    que duvida, que entende, que afirma, que nega, que quer, que no quer, que imagina

    tambm e que sente (ibidem, p. 28). O eu pensante torna-se o ncleo fundamental da

    investigao filosfica, e a referncia para se alcanar o conhecimento.

    A diferenciao entre o cogito cartesiano e o eupuro husserliano relevante para

    se entender a anlise fenomenolgica do conhecimento. Para Descartes, a natureza do

    eu consiste apenas no pensamento e independe da existncia dos corpos; a evidncia da

    existncia do cogito a revelao do ser do pensamento. Para o filsofo, o eu

    concebido como uma coisa completa - e como substncia pensante subsiste

    independente de outra coisa (corpo). Descartes tem no conhecimento da prpria

    existncia um firme alicerce para o conhecimento das demais coisas. Para ele, conhecer

    significa conceber a verdade, por isso a relevncia do conhecimento sobre Deus. O

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    filsofo recorre ao ente Absoluto como aquele que garante nossas percepes claras e

    distintas, nossas verdades. Para Lwit (1957, p. 406) recorrer verdade divina tem seu

    sentido em Descartes, medida que Deus a garantia que temos da existncia das

    coisas exteriores e das ideias e representaes que possumos dessas coisas. Mas como

    problema prvio a isso, preciso assegurar tambm a verdade da existncia divina, para

    assim garantir a correspondncia do meu conhecimento e determinar o seu valor

    objetivo. A primeira tentativa de provar a existncia de Deus parte da anlise da ideia

    em sentido prprio, parte dos efeitos para a causa - princpio de causalidade. Para

    Descartes, Deus causa de si mesmo e se apresenta a partir da sua ideia impressa no

    entendimento da substncia pensante (ideias inatas) sem recurso experincia. Assim,

    Deus a causa e quem mantm a existncia, Deus a causa que movimenta e nos

    conserva no ser. O movimento do mundo posto em dvida para a certeza do eu e para a

    de Deus o movimento de regresso ao ser, que toda a metafsica (ALQUI, 1969, p.

    11).

    Conforme Onate (2006, p. 109), Husserl ao questionar a filosofia cartesiana

    detecta duas omisses no tratamento do cogito, a primeira refere-se falta de

    explorao minuciosa do carter metdico da dvida, que impediu a abertura ao mbito

    da epoch (exigindo a necessidade de um ente transcendente, Deus, como necessidade

    para clareza e distino do cogito). O que consequentemente leva a uma segunda

    omisso: a relevncia do carter intencional da conscincia pura. J para Lwit (1957,

    p.399ss), h trs principais caractersticas que diferem a epoch Husserliana da

    cartesiana: primeiro, a epoch em Husserl no implica elemento de negao, suspender

    a posio do mundo, se abster da crena na sua existncia, no significa, em Husserl,

    parar de crer para duvidar, [nem] neg-la, ou ficar na indeciso, mas, por assim dizer,

    retirar-se desta crena, no mais participar [dela]9. O segundo ponto consiste em que a

    epoch em Husserl, totalmente ao contrrio da dvida em Descartes, no provisria,

    mas definitiva, ele permanece na epoch, pois ela um mtodo eficaz para estabelecer

    do mundo uma cincia verdadeira. O terceiro aspecto se refere universalidade da

    epoch, pois em Descartes a posio do eu pensante aparece como uma limitao

    epoch, j que tudo no mundo (e o prprio mundo) est sujeito a epoch, exceto minha

    alma. Em Husserl, porm, o eu enquanto alma est sujeito a epoch.

    9 Todas as citaes traduzidas do francs so de responsabilidade da autora.

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    Como podemos suspender a crena sem a transformar em outra coisa,

    em uma dvida, uma indeciso, ou uma negao? [...] o eu que

    continua a crer no mundo, e aquele que suspende essa crena, no so

    o mesmo eu: a epoch implica, com efeito, um desdobramento do eu.

    Pela epoch se estabelece, acima do eu ingnuo, um eu filosfico ou

    fenomenolgico, um eu que no afirma, no duvida, nem nega, mas

    que um espectador desinteressado (LWIT, 1957, p. 400)

    A conscincia em Descartes no vai alm de si mesma, mas mantm a sua

    condio subjetiva; ou seja, quando estamos conscientes estamos conscientes de ns

    mesmos. O carter imanente formado por cogitationes (pensamentos) que constituem

    a vida consciente, conscincia psicolgica essa que est imbricada na atitude natural

    medida que direcionada por um fenmeno real res. Descartes ao suspender o juzo, e

    atravs da dvida metdica apenas nega a realidade, mas no caminha em direo

    oposta atitude natural e acaba por fim a ela retornando. De forma anloga Lwit

    (1957) destaca que Descartes nos direcionou terra prometida da filosofia. Com seu

    princpio de suspenso do juzo, obteve um mtodo capaz de levar enfim a filosofia ao

    seu fundamento ltimo. Mas, por que Descartes apesar de ter construdo fundamentos

    slidos, no alcanou um mtodo rigoroso para a fundamentao de uma cincia

    absoluta?

    Embora o cogito e seus cogitationes impliquem relaes intencionais, o sujeito

    em sua atitude natural no compreende o objeto como intencional. Descartes apenas

    duvidou da existncia das coisas fora do eu pensante, contudo no problematizou uma

    questo fundamental: como a conscincia imanente atinge a transcendncia que define o

    objeto. O sujeito em Descartes percebe, pensa, sente, entende algo, contudo, nossa

    conscincia no direcionada s coisas fora do eu pensante, mas s dedues que

    fazemos das coisas. Esses aspectos apresentam-se como vestgios da filosofia cartesiana

    a respeito do mundo, medida que Descartes apenas duvida da existncia do mundo

    (no apresentando como problema o sentido dessa existncia) ao contrrio de Husserl,

    que no duvida, mas, questiona a compreenso que dele temos. A ocupao com esse

    sentido suscita a necessidade de suspender a posio a respeito do ser do mundo. Eis o

    entendimento da epoch husserliana: compreender o sentido do conhecimento de mundo

    e seus contedos e assegurar a correspondncia entre o conhecimento do mundo e o

    mundo em si mesmo.

    Portanto, ao rechaar a subjetividade psicolgica enquanto interioridade do

    sujeito emprico como validade do conhecimento Husserl defende a noo do eu puro.

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    No o eu penso cartesiano como a origem de todo conhecimento, entrementes,

    quando penso, me direciono para um algo pensado. No h pensamento desligado de

    uma realidade objetiva, da resulta a proposta fenomenolgica de Husserl, voltar s

    coisas mesmas onde reside o conhecimento. O eu puro rechaa a filosofia tradicional

    medida que estabelece por meio da intencionalidade relao necessria entre

    subjetividade e objetividade, possibilitando a constituio de significado relacional das

    conexes eidticas.

    Husserl reconhece a importncia do cogito cartesiano e a valorizao do sujeito

    como meio para o conhecimento, mas alm de reconhecer as deficincias supracitadas,

    problematiza tambm a substancializao - ares cogitans. Para Husserl, Descartes se

    aproximou do conhecimento fenomenolgico ao valorizar o cogito, contudo ao

    substancializar a subjetividade a transforma em um ente da metafsica envolto em um

    princpio de causalidade e, embora com uma intuio originria, no fizera

    fenomenologia ao desconsiderar a relao transcendental do eu com os objetos. Husserl,

    por sua vez, reformula o ego cogito, acrescentando-lhe o cogitatum enquanto correlato

    de vividos intencionais.

    Nesse sentido, afirma Dartigues (2008, p.25) que com a epoch fenomenolgica

    h uma superao da dvida e do solipsismo cartesiano, pois o mundo permanece tal

    como era, com seus valores e significaes, e ao ego cogito resta a correlao entre o eu

    penso e o seu objeto de pensamento, cogitatum. O aspecto transcendental da

    fenomenologia o que difere o idealismo husserliano do idealismo cartesiano, a saber,

    com a fenomenologia da conscincia pura em Husserl superamos a atitude natural.

    5. Consideraes finais

    Ao refletirmos fenomenologicamente, deixamos de vivenciar os objetos como

    coisas no mundo presentes vista, que nos direciona ao conhecimento natural , e

    passamos a vivenciar as estruturas formadoras de significados desses objetos - ao

    retornarmos para a vivncia temtica dos prprios atos das experincias vividas. Em

    Husserl s possvel encontrar um fundamento para formao de uma cincia rigorosa

    nas experincias vividas puras, ou seja, a partir das anlises dos atos da conscincia.

    A fenomenologia uma filosofia do fluxo de vivncia pura e anuncia que no h

    objeto em si, como defendia os realistas, pois objeto sempre para um sujeito que lhe

    d significados (para os realistas a representao que fazemos das coisas esto nos

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    objetos em si mesmos, que so pontos de partida para o conhecimento, assim que

    apreendidos pelos sentidos e interpretados pelo intelecto); e que no h possibilidade de

    um conhecimento despojado de subjetividade como apregoava os positivistas. Com a

    fenomenologia transcendental Husserl contrape ainda o empirismo (p. ex. Locke) a

    experincia como meio de adquirir a validade de conhecimento , o idealismo, que aderi

    mente do sujeito como nico meio de conhecimento, e o racionalismo pois no h

    conhecimento separado de mundo , medida que conscincia sempre conscincia de

    alguma coisa. A fenomenologia husserliana com o eu puro transcendental tambm se

    diferencia do carter da conscincia psicolgica intencional do cogito cartesiano, pois

    esta no purificada e doadora de sentidos que se manifesta por meio da

    intencionalidade e no est em correlao com os vividos puros, mantendo-se na atitude

    natural na facticidade do mundo. Para Husserl, como apresentado no decorrer do texto,

    o fenmeno por si, na conscincia pura, que se mostra como meio eficaz para

    construo do conhecimento absoluto.

    Mostramos que a anlise fenomenolgica husserliana no meramente um

    exame da vivncia factual que correlaciona os objetos com a conscincia, ou ainda, um

    caminho para se alcanar uma conscincia pura to importante para o processo do

    conhecimento do fenmeno. Alcanar o eu puro em si mesmo no proposta

    fundamental em sua fenomenologia analtica intencional, mas a anlise dos prprios

    atos da conscincia pura, as vivncias que do significados, o vivido e suas relaes. O

    que importa o ato intencional, a vivncia do significar. A estrutura intencional

    indicada por ele relata a maneira como a conscincia pura se direciona para os objetos

    na essncia das experincias vividas. Conforme Albuquerque (2015), s na experincia

    do vivido possvel encontrar-se com a cincia, pois no projeto fenomenolgico

    husserliano a intencionalidade se d a partir das anlises das estruturas a priori dos

    comportamentos da conscincia, no fluxo das experincias vividas que nos direcionam a

    conhecimentos vlidos.

    Daqui a importncia da proposta da reduo transcendental, enquanto o processo

    necessrio para alcanar o comportamento da conscincia pura e o modo como seus

    objetos so apresentados. Verdades apodticas no se detm no mundo dado nas atitudes

    naturais, mas atravs da Reduo que reduz-me ao meu eu puro transcendental

    (HUSSERL 2013, p. 10) [...] reduzo o meu eu natural humano, e a minha vida

    anmica (Ibid. p. 63), o que possibilita a correlao entre subjetividade e mundo

    colocando em manifesto a intencionalidade. Esta enquanto resultado da reduo

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    fenomenolgica mostra o fundamento transcendental como condio de possibilidade

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