a vista da pirâmide - parte 2

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2006 Vítor de Figueiredo FRC TOMO 2 A VISTA DA PIRÂMIDE Colectânea de artigos de carácter espiritual e esotérico publicado regularmente na imprensa escrita pelo Autor.

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Coletânea de artigos de caráter espiritual e esotérico publicados na imprensa escrita.

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Page 1: A Vista da Pirâmide - Parte 2

2006

Vítor de Figueiredo FRC

TOMO 2

A VISTA DA PIRÂMIDE Colectânea de artigos de carácter espiritual e esotérico publicado regularmente na imprensa escrita pelo Autor.

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Círculo do Graal

Vítor de Figueiredo, FRC Página 1

A VISTA DA PIRÂMIDE

ÍNDICE

II PARTE

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Vítor de Figueiredo, FRC Página 2

ARTIGOS POR TEMAS:

ESPIRITUALIDADE E TERAPÊUTICA PSÍQUICA

* COMUNICAÇÃO PSÍQUICA

* TERAPÊUTICA PSÍQUICA (1)

* TERAPÊUTICA PSÍQUICA (2)

* O MILAGRE

***

A BUSCA DO CAMINHO

* A BUSCA (1)

* A BUSCA (2)

***

UNIVERSO

* THREE CONTROVERSIAL QUESTIONS (1)

* THREE CONTROVERSIAL QUESTIONS (2)

ADENDA

***

QUESTÕES DIVERSAS

* CARTA A CLÁUDIA

* LOBSANG RAMPA – A HISTÓRIA

* VIAGEM ASTRAL

***

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Vítor de Figueiredo, FRC Página 3

SÍNTESE

***

ADENDA

CARTAS E RESPOSTAS

* E-MAIL DE UMA AMIGA DO SUL DO BRASIL

* NOSSA RESPOSTA

* E-MAIL DE UMA AMIGA DO NORTE DE PORTUGAL

* NOSSA RESPOSTA

* E-MAIL DE UMA AMIGA DE S.PAULO, SOBRE SONHOS

* NOSSA RESPOSTA

* SEGUNDO E-MAIL DA MESMA AMIGA DE S.PAULO – BRASIL

* NOSSA RESPOSTA

* RESPOSTA A "BUSCANDO RESPOSTAS"

* NOSSA RESPOSTA

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Vítor de Figueiredo, FRC Página 4

ESPIRITUALIDADE E TERAPÊUTICA PSÍQUICA

COMUNICAÇÃO PSÍQUICA

(Publicado no “Jornal do Incrível” Nº. 374, em 13/1/87)

"O essencial é invisível aos olhos... Só se vê bem com o coração"

(A. Saint-Exupéry - "O Pequeno Príncipe")

Respondemos hoje à carta da nossa leitora Marília Nunes Mendes, de

Lisboa, que aqui resumimos: " Meu marido ficou primeiro sem o pai, depois sem a mãe e, por último,

sem uma tia, solteira, com 93 anos de idade, que o criou e a quem dedicava grande afeição. Antes do falecimento e durante um longo período, a senhora foi medicada com "Parentrovite", injectável, medicamento que tem um cheiro muito activo. A senhora faleceu há cerca de dois meses. Não temos mais este medicamento em casa, mas desde o seu falecimento que eu, meu marido e minha cunhada, andamos intrigados com o cheiro do "Parentrovite", que todos nós agora sentimos, por diversas vezes, aqui em casa. Gostaríamos de ser esclarecidos."

Cara leitora: Se tem acompanhado desde o início desta Secção as respostas que temos

formulado para outros leitores sobre temas diversos, como a "Reencarnação", etc., certamente a nossa tentativa de explicação para o caso que nos relatou fará maior sentido para si.

Embora a sua carta nos leve a crer que a leitora está predisposta a aceitar

uma interpretação que transcende a comum 4ª. Dimensão – o "Espaço-Tempo" – que a maioria das pessoas julga ser a realidade última do Universo, somos tentados a dizer-lhe que, concebendo a realidade limitada aos seus cinco sentidos, e a Vida e a Morte como eventos isolados e não interdependentes, essa maioria terá sempre imensa dificuldade em descodificar o conteúdo das respostas que aqui elaboramos. São mensagens que transcendem, necessariamente, o código normal do entendimento pragmático e do horizonte objectivo.

Para perguntas do foro extra-sensorial, todavia, as respostas implicam

uma linguagem do domínio metafísico, mesmo que não possam, de imediato, ser compreendidas com o sentido que lhes pretendemos imprimir aqui. É o risco inevitável que assume uma Secção dedicada a assuntos que, para essa maioria

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de pessoas – quase toda silenciosa, senão indiferente – são tabu, rotulados de insólitos e incríveis e cuja seriedade, obviamente, desprezam.

Partimos do princípio que a leitora compreende a possibilidade de uma

"linguagem" e "comunicação" de natureza psíquica (que não psicológica, como é geralmente entendida esta palavra), entre as pessoas vivas e entre as vivas e as "desencarnadas", e muito além da percepção racional e sensorial com que vulgarmente nos inter-relacionamos com o mundo que nos cerca. Assim, podemos afirmar-lhe seguramente que esse tipo de "comunicação" é relativamente possível para pessoas que já desenvolveram minimamente a capacidade de percepção e de harmonização psíquicas.

Embora não devamos restringir essa capacidade aos médiuns espíritas,

alargando-a ao âmbito de alguns espiritualistas e místicos mais evoluídos, são bastante conhecidos, por exemplo, os seguintes casos: o da inglesa Rosemary Brown, compondo música no estilo de famosos compositores já falecidos, que reputados melómanos e críticos atribuem sem dúvidas à autoria de Brahms, Lizst, Schumann, etc. O do brasileiro Luiz António Gaspareto, pintando em transe mediúnico quadros reconhecidamente de autoria de pintores "desencarnados", como Goya, Rembrandt, Velasquez e outros; e o de Francisco Xavier, que já foi proposto para o Nobel da Paz, psicografando obras inéditas de vários escritores há muito falecidos.

Em todos os casos, renomados críticos concordam que esses quadros,

composições musicais e livros, não podiam ser criados pelos três espíritas citados e, sim, fielmente executados, conforme instruções "comunicadas" de outro "plano" (ou do "Além", como soe dizer-se vulgarmente).

Escutámos essas composições, gravadas em cassete por Rosemary

Brown, vimos Gaspareto pintar os quadros, em transe e com ambas as mãos, na Televisão de S. Paulo – Brasil, e conhecemos os livros de "Chico Xavier", possuidor de uma extraordinária personalidade humanista. Não duvidamos da sua honestidade e por isso os citamos aqui.

Todavia, existem pessoas que não são médiuns espíritas, e são mesmo

menos experientes do que estes, que também recebem "mensagens" psíquicas, autênticas, de personalidades já ausentes do nosso Mundo físico. E, às vezes, até, de pessoas que ainda estão encarnadas na Terra, interpretando-as como "avisos", "premonições", ou simples contactos de natureza afectiva, os quais explicam como algo sentido ou percebido em outro nível que não o dos sentidos físicos, o que leva a concluir que esses tipos de "comunicação" são descodificados no foro do Subconsciente.

As pessoas fisicamente ausentes deste Mundo não deixam de existir, só

porque não têm corpo físico. "Morte" e Vida são ilusões da nossa Mente e apenas dois aspectos aparentes de uma mesma realidade. Portanto, é natural que nós tentemos comunicar com eles e que eles desejem também, do Plano Vibratório onde se encontram, comunicar connosco. Os desencarnados fazem-no pelos meios possíveis e na "linguagem" que cada um de nós, aqui,

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diferentemente evoluído e capacitado, pode interpretar e sentir psiquicamente. E muitos, ainda neste Mundo, fazem-no, geralmente, de modo involuntário e subconsciente, no mesmo nível psíquico.

Se a leitora (ou seu marido ou sua cunhada) tivessem determinada

experiência desta ordem e alguma prática de técnicas místicas, certamente que as "mensagens" de "aproximação", de "contacto" e de "presença" de sua tia, poderiam ser percebidas num outro nível, sem o recurso dela – por hipótese – a um canal secundário, sensorial, para a vossa percepção: o aroma forte do Parentrovite que os leva a lembrá-la, a fazer-se "presente" para a leitora e outros familiares.

Não podemos afirmar, todavia, que assim seja. É normal sentirmos a

presença dos "desencarnados" (e também dos vivos, às vezes distantes), neste mundo físico em que nos situamos, através dos vários canais sensoriais e de diversas formas: pela audição (vozes, música, ruídos, apelos); pelo olfacto (aromas de flores, de medicamentos, de perfumes); pela visão (sombras, luzes, "presenças" ténues, contornos de pessoas) e pelo tacto (toques, puxões, carícias), etc.

Assim, julgamos perceber no aroma forte do medicamento que ela usou

em vida, a "resposta" ou "correspondência" possível aos sentimentos da leitora, e de seus familiares, que são, com certeza, de profundo afecto e forte ligação à senhora, que ainda os une, a despeito da sua "partida" deste plano. Esse afecto intenso, mesmo de modo subconsciente e sem expressão em palavras, mas existente em íntimas emoções de saudade, de apego e constância de recordações, leva sua tia a tentar religar-se às pessoas físicas que também amava, utilizando o "código" intrínseco à sua pessoa, que pode manifestar para a vossa percepção sensorial, para o vosso nível cognitivo: o aroma do Parentrovite. Através dele "afirma" que "ainda aí está", em casa; "diz-vos", pelo "sinal" físico que podem entender no momento, que ela "está próxima".

E não é verdade? Não estão, muitas vezes, os "falecidos" mais próximos

de nós do que certos vivos? Não acreditamos que os "desencarnados" desejem perturbar-nos, neste

plano; acreditamos, sim, que "contactem", ou manifestem vontade de "comunicar" connosco, apenas em decorrência de uma forte ligação afectiva que perdura neles e que, sem corpo físico, os leva a criar, de alguma forma, um "canal" de comunicação. Não abdicamos de algum romantismo em considerar que após a sua ausência do Mundo sensorial onde viveram connosco uma convivência íntima, um amor profundo, um relacionamento duradouro, conjugal, fraternal, filial, etc., persista neles um elevado nível vibratório, assim como, geralmente, também em nós, o qual "aproxima", provoca e torna possível essa "união psíquica", esse "Fio de Ariadne" que elimina as limitações de tempo, espaço e planos de manifestação.

Queremos ainda dizer-lhe, e aos muitos outros leitores que nos lêem, que

existem técnicas místicas (onde o Amor está implícito) que podem ser

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voluntária e conscientemente praticadas para o desenvolvimento da capacidade "telepática" de "harmonização" psíquica com outros seres, vivos ou não, as quais, obviamente, não cabem nesta resposta.

Diz-se que "O Amor é uma corrente de prata" que une a alma daquele que

partiu com aqueles que ficaram, e que essa alma ausente permanece, de forma intangível, durante bastante tempo, próxima daqueles a quem amou e que a amaram, tentando comunicar a sua saudade e afecto aos entes que lhe são queridos. Além de tentar ajudá-los em seus problemas mundanos, deseja manifestar-se para que, aqueles que continuam seu Carma nesta Terra, percebam que essa Personalidade-Alma continua a existir e que não há nada a que possamos chamar de "Morte".

Feliz será a leitora, e seus familiares, se puderem compreender isto. Para finalizar, note que todas as experiências psíquicas contêm na sua

oculta linguagem uma mensagem maior, que é a de proporcionarem oportunidades para reflexão, como degraus impulsionadores, cada vez mais significativos e profundos, na senda da Evolução Interior e na Expansão da Consciência.

Se a memória me ajudar, cito de cor Fernando Pessoa, que dizia:

"A Morte é a curva da estrada; Morrer é só deixar de ser visto…"

***

VITOR DE FIGUEIREDO, FRC

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TERAPÊUTICA PSÍQUICA (1)

(Publicado no "Jornal do Incrível" n.º 381, de 3/3/87)

"Prof. Kheops: Há uns quinze dias comprei a revista "Ele e Ela" e li uma reportagem sobre uma curandeira, nos arredores de

Lisboa, que faz autênticos "milagres" no seu "consultório" (uma garagem), curando com as mãos dezenas de pessoas, até cegos, portugueses e estrangeiros, que ali a procuram. Ela não consegue explicar os seus poderes e diz que "Cura porque o Dr.

Sousa Martins o quer". O Dr. Sousa Martins é um conhecido médico de Alhandra, já falecido, cuja estátua está no Campo

Mártires da Pátria, em Lisboa, e onde aflui em romagem muita gente que o considera santo. Qual é a sua opinião sobre ela? É

possível isto, ou é charlatanice? MARIA DO CARMO REIS – LOURES."

Cara leitora: Não tínhamos conhecimento da reportagem a que alude e até desconhecíamos a existência dessa Revista; todavia, já a procurámos e adquirimos.

Completando a sua pergunta – e porque nos parece interessante aos

leitores – transcrevemos da mesma Revista um excerto do final da reportagem:

"Quem é, de facto, esta mulher, que não sabe nem quer aprender a ler, pouco ou nada come – afirmam que algo a alimenta – e atrai até si muita gente que a olha com veneração? Saberá ela algo que escapa ao comum dos mortais, ou tudo não passa de aproveitamento da crendice popular? Impossível responder. Tal como S. Tomé, "Ver para crer" é a solução. Porém, com ou sem curandeira – porque muitos há que não a conhecem – a Fé no poder de Sousa Martins é aqui a via escolhida. E, como diz o ditado, "a Fé move montanhas". Ou, neste caso, ordena, por processos que a ciência oficial ainda não percebe, o funcionamento do organismo..." Antes de abordarmos objectivamente o caso, gostaríamos de contar-lhe uma pequena "história" pessoal, verídica, ocorrida connosco no Brasil, há anos, que servirá como ilustração do nosso comentário, que faremos a seguir. Não estranhe os aspectos bem humorados da "história" – apesar dos aspectos bem sérios da mesma e do respeito que as pessoas envolvidas nos merecem. Por natureza, sempre achámos que a dedicação à espiritualidade e ao misticismo – praticados de maneira séria e consciente – não são incompatíveis com a graça e o humor, úteis para lhes retirar a cortina de mistério e de "tabu" com que as pessoas – especialmente na Europa – vêem estes assuntos, chamados ainda de paranormais, transcendentes ou milagrosos. Conduzimos no Brasil, e dentro das actividades da Organização Esotérica e místico-filosófica onde trabalhámos longo tempo, palestras informativas e de

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debate social, filosófico e místico, com pessoas de muitos credos e níveis sociais, e sempre nos permitimos mesclar as abordagens intrinsecamente sérias desses temas com humor e um posicionamento natural e realista. No Brasil, onde a generalidade das pessoas acredita em Deus e pratica a espiritualidade em sua vida diária, mesmo quando pouco cultas, essa discussão bem-humorada dos princípios religiosos, filosóficos, místicos e existencialistas, é intrínseca ao carácter lúdico e optimista dos brasileiros. Passemos à "história": Um fornecedor habitual da Organização onde trabalhávamos, descendente de família tradicional Alemã e proprietário de uma indústria importante na cidade, procurou-nos um dia e solicitou-nos que, pessoalmente, por um lado, e através do departamento respectivo da Organização, por outro, procedêssemos a uma mentalização metafísica (chamemos-lhe assim) de tratamento e protecção à distância, para a esposa, a qual estava então internada numa Casa de Saúde para dar à luz o seu primeiro filho. Ele estava preocupado e ansioso. Tranquilizámo-lo de que o faríamos. Deu-nos o nome da esposa, e o trabalho mental e psíquico foi efectuado do modo que nos era habitual, em que funcionávamos apenas como um canal receptor e transmissor das vibrações curativas e construtivas da Mente Universal. Uns oito dias depois, procurou-nos de novo, agradecido e satisfeito porque o parto tinha corrido optimamente e já era pai de um garoto lindo. Esquecemos o caso, parecido com milhares de outros, mas fomos surpreendidos, uns dias mais tarde, pela sua volta, aflito e transtornado, pois sua esposa estava agora muito doente e o clínico geral que chamara de emergência não soubera diagnosticar o mal, a febre era altíssima, etc. O parto tinha sido feito na melhor Casa de Saúde da cidade, pelo melhor obstetra, um conhecido e conceituado clínico. Fizemos-lhe algumas perguntas sobre a esposa, de natureza íntima, e concluímos, ali mesmo, sobre a doença dela, brincando para o descontrair: "Pois, por incrível que pareça, sua mulher está com uma infecção pós-puerperal. Provavelmente o pessoal hospitalar ignora que um célebre médico do século passado – o Dr. Ommerweiss – tenha pugnado e sido pioneiro pela anti-sepsia no parto, quando o número de mulheres que morriam ao dar à luz ou uns dias depois, era maior do que as que se salvavam.

E continuámos: "Permita-nos aconselhá-lo a fazer de imediato três coisas:

Primeira: chame um bom obstetra e diga-lhe que suspeita da infecção que lhe referimos, certamente por falta de assepsia do pessoal de enfermagem; Segunda: chegue a casa e force o melhor e mais confiante sorriso que puder; apele para pensamentos positivos e construtivos, para aliviar a sua

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tensão e brinque um pouco com a esposa, para ajudá-la, enquanto o médico não chegar; Terceira: diga-lhe que fique receptiva (se ela puder crer), pois nós vamos incluí-la no trabalho de "cura metafísica à distância" que é feita habitualmente na Organização. E nós, pessoalmente, também a faremos à noite, em casa. Vá tranquilo e, em breve, ela ficará bem. Confie na Energia Curativa e Construtiva Cósmica. Três dias depois ele retornou, alegre e feliz. A esposa estava salva e ambos faziam questão que nós (eu, mulher e filho) os visitássemos em casa, para ela nos conhecer. Não era normal visitarmos as pessoas beneficiadas, mas ele insistiu e no sábado seguinte fomos visitar o casal.

A senhora, desprezando a convalescença, tinha ido de manhã ao supermercado e depois deitara-se, pois estava com fortes dores nas costas. Fomos vê-la ao quarto, onde estava toda a família, e ela, deitada de bruços, sem poder voltar-se, agradeceu-nos muito. Como de costume, e com humildade, justificámo-nos, dizendo que pessoalmente nada fazíamos, que não tínhamos quaisquer dotes especiais e que éramos apenas meios de serviço da Mente Cósmica; que não esquecesse de agradecer ao médico que a tratara e ao marido, etc. etc. Então, embora bem-intencionada, em sua ignorância, ela disse algo que nos provocou uma reacção humorística e cordial. Ela disse:

- "Pois… Vocês, os bruxos, são incríveis!..." Respondemos: "Essa, não conseguimos engolir, D. Elisa, nem com um copo de água, e olhe que estamos com sede." O marido riu e disse:

"Mãe, traga um copo de água para o Prof. Kheops." E acrescentou: "Desculpe... Minha mulher é formada, é farmacêutica, mas dessas coisas místicas não percebe nada, tal como eu. Não leve a mal...

Ela ficou atrapalhada e emendou: "Bem, não era bem isso que eu queria dizer... Mágicos! Isso! Vocês são uns grandes mágicos! Bem hajam!"

Replicámos: "Olhe, D. Elisa, essa foi pior ainda e também não aguentamos essa!" E fizemos menção de sair, rindo, fingindo-nos ofendidos.

"Ah, desculpem – tornou ela – é a minha cabeça... O que eu queria mesmo dizer era Feiticeiros..." Era demais… E caímos todos na gargalhada. Então, ela riu também. E pediu: "Bem, então digam lá como é que vocês fazem essas coisas... É que eu estou com muitas dores nas costas e, já agora, podiam fazer-me passar isto, para eu poder virar-me e sentar-me..."

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Foi a nossa vez. Apontei-lhe o nosso filho, de seis anos, que estava a brincar com um carrinho no chão do quarto, e respondi-lhe, com ar grave, "posando" de Guru:

"Olhe, D. Elisa, esses tratamentos vulgares, como dores nas costas, enxaquecas, unhas encravadas, queda de cabelo, panarícios, calos infectados, verrugas, etc., são com o nosso filho. É ele quem resolve..."

Ela abriu a boca de espanto e nós brincámos, ainda: "Os místicos evoluídos tratam só de doenças graves: câncer, enfartes, septicemias, congestões cerebrais, mongolismo, lepra, psoríase, artrite reumatóide, e às vezes colamos pernas partidas e cabeças cortadas! Portanto, isso é com ele." E chamámo-lo: "Luís! Vem cá!... Tira as dores nas costas à D. Elisa!... Que ela não se pode voltar! Ela ficou na expectativa... O meu garoto aproximou-se, subiu para cima da cama e destapou-lhe as costas; olhou fixamente para o tecto e espetou-lhe os dedos gorduchos da mão esquerda nos locais onde ela se queixava de dor e concentrou-se, por uns dois minutos, inocente e convicto; tornou a tapá-la e disse-lhe, na pressa de voltar a brincar com o seu carrito de plástico: "Já está. Tá boa." Lentamente, ela mexeu-se um pouco e começou a voltar-se na cama; sentou-se e de olhos arregalados fixou-nos a todos (que ríamos, gozando a cena) e disse, com espanto: "Gozado!... Não é que as dores passaram mesmo?!..." E nós dissemos: "Luís, safa-te, senão a D. Elisa ainda vai chamar-te feiticeiro e colocar-te um osso no nariz..." Encerramos aqui esta primeira parte do assunto, esclarecendo a nossa leitora de que, profissionalmente, nunca praticámos a arte e as técnicas de cura, quer à distância, quer por imposição das mãos ou outros métodos. Fazemo-lo somente em casos de familiares e pessoas amigas que no-las solicitam, em decorrência do nosso conhecimento destes métodos terapêuticos, como no caso vertente, e noutros que talvez contemos mais tarde. Todavia, não encerramos sem antes a esclarecermos de que a razão por que o nosso garoto fazia passar a dor, resultava de uma técnica mais popular e simples, embora obedecendo ao mesmo princípio natural de canalização de energia psíquica (ao dispor de todos nós, e não de alguns privilegiados), que lhe transmiti, aprendida num Curso muito conhecido de Controlo da Mente e adaptada por nós ao seu espírito infantil. Como se sabe, as crianças são suficientemente inocentes e amorosas para acreditarem em sua ligação natural à Mente Cósmica; (o cepticismo, nos adultos, só os atrapalha); por isso, a fim de auxiliar a mãe, durante a nossa ausência (muitas vezes sofrendo de dores reumáticas, ciática, etc.), ensinámos-lhe o seguinte, com muita singeleza: "Pensa em Jesus e que d’Ele vem sempre uma luz azul para o teu braço, e daí para os dedos, que poderá fazer passar as dores das pessoas. Concentra-te e deixa essa luz vir e ir para onde dói, e usa-a mesmo em ti, se te magoares alguma vez." Foi esta a técnica que ele usou na senhora.

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Como o espaço é curto, na próxima semana trataremos o assunto em detalhe, expressando então a nossa opinião sobre a curandeira. Afinal, a história que contámos e a aplicação de energia através das mãos (ou dos dedos) devem ter-lhe dado a certeza de que a curandeira nada faz de especial.

***

VITOR DE FIGUEIREDO, FRC

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TERAPÊUTICA PSÍQUICA (2)

(Publicado no "Jornal do Incrível" n.º 382, de 10/3/87)

Completamos hoje a resposta que iniciámos na semana passada,

nesta Secção, à nossa leitora Maria do Carmo Reis, de Loures. A questão dela – para informação dos leitores que não tenham lido o

número anterior – resumiu-se a solicitar a nossa opinião sobre uma curandeira (tema de reportagem na revista "Ele e Ela") que faz curas "milagrosas" pela aposição das mãos, incorporando, parece, o Dr. Sousa Martins, médico de Alhandra, já falecido.

O assunto reveste dois aspectos distintos: O primeiro, acerca dos

"poderes" que a curandeira atribui ao espírito do falecido médico, actuando, portanto, como "médium" de incorporação, segundo a terminologia do espiritismo Kardecista. O segundo, o poder de curar pacientes que a procuram, do país e do estrangeiro, com a aposição das mãos. Conhecemos no Brasil várias pessoas que, actuando como "médiuns", exercem clínica geral em Centros Espíritas e consultórios particulares, os quais tivemos até ocasião de consultar pessoalmente. Sem quaisquer indícios de fraude, diagnosticam doenças e tratam milhares de doentes, em transe, incorporando eles o espírito ou entidade de um médico já falecido que, através do "médium", fala com o paciente, e cuja receita este faz automaticamente por psicografia.

O mais célebre de todos os curadores espíritas foi o falecido José Arigó (o

primeiro a incorporar o Dr. Fritz, há muito falecido). Arigó, que foi algumas vezes preso por não ser médico licenciado e a Lei brasileira o ter considerado no exercício ilegal de Medicina e Cirurgia, pois também praticava pequenas e grandes cirurgias sem qualquer assepsia e sem consequências infecciosas. Usava apenas um canivete meio ferrugento ou uma faca vulgar de cozinha, operando tumores, cataratas, etc. Foi inclusivamente libertado uma vez da cadeia, por ordem do então Presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira, por ter curado a filha deste último, Márcia, de certa doença grave.

Parapsicólogos, investigadores e médicos de todo o Mundo, usando

câmaras de cinema e de televisão, jamais detectaram nele qualquer fraude. Vimos vários filmes destas operações incríveis em encontros e congressos espíritas, no Brasil. Não deixam dúvidas.

Na data em que escrevemos é também célebre no Brasil, e à prova de

embuste ou fraude, o Dr. Edson Cavalcanti de Queiroz (médico formado), vivendo no Recife, que incorpora também o referido Dr. Fritz. O Dr. Edson, trabalhando num Centro Espírita (Kardecista), não só diagnostica e trata localmente, em transe, milhares de pessoas desenganadas pela medicina Alopática (e Homeopática, muito difundida naquele país), como se desloca constantemente a várias cidades brasileiras para operar. Efectua também

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cirurgia e terapêutica psíquicas, à distância, conhecendo somente o nome, a residência e uma fotografia do doente.

Poderíamos citar aqui, se o espaço o permitisse, inúmeros casos, com

total isenção, pois não somos nem nunca fomos espíritas. Temos mesmo pontos de vista pessoais bastante diferentes sobre as práticas dessa Instituição, que respeitamos e admiramos pela Fraternidade e o auxílio social altruísta que observámos em vários centros do Brasil. Assim, cara leitora, nossa opinião – isenta – é a de que o histórico de actividades dos "médiuns" da Religião Espírita Kardecista (como é considerada no Brasil) e, em certos casos, no Espiritismo da Umbanda, não permite duvidar que esse trabalho de diagnóstico e de cura seja autêntico, mesmo explicável para nós sob outro ângulo. Já tivemos ocasião de abordar no n.º 374 deste Jornal, embora de forma leve e apropriada ao caso particular ali tratado, a possibilidade de uma comunicação psíquica entre os vivos e entre estes e os desencarnados.

Pessoalmente, e parecendo paradoxal, não aceitamos a teoria espírita de

que um espírito incorpore num "médium" e possa substituir a sua personalidade, actuando em vez dela. Nem mesmo acreditamos em espíritos individualizados. Não negamos o fenómeno, cuja evidência e autenticidade já testemunhámos e acima descrevemos, mas interpretamo-lo de modo objectivo bem diferente e não restrito somente aos "médiuns" espíritas. Achamos que o método de comunicação com aqueles que já transitaram para outro "plano" vibratório (e julgamos haver vários), chamados vulgarmente "desencarnados" ou "falecidos", depende da capacidade pessoal e evolutiva de um espiritualista (e não só do espírita) para se "sintonizar" e se "harmonizar" com a frequência vibratória da personalidade anímica do "falecido", recebendo dele mensagens psíquicas que pode depois interpretar ao nível da sua Consciência Subjectiva. E esta descodificação é o mais difícil, e presta-se a erros e falsas interpretações, pois não é uma "linguagem" de palavras.

Acreditamos, pois, que no caso da curandeira, ela possa fazê-lo, ou por

sincera admiração pelo Dr. Sousa Martins, que a leva a "elevar-se" vibratoriamente até ele, utilizando talvez de forma intuitiva e inconsciente os princípios técnicos da "visualização"e "harmonização", que são indispensáveis, ou porque sendo suficientemente evoluída (embora o não saiba, em sua dita boçalidade e rudeza mundanas) exerça essa capacidade natural de comunicar com o Além, "sintonizando" o referido médico.

É uma capacidade que todos nós possuímos mas que, geralmente, se

manifesta apenas naqueles que já desenvolveram esse conhecimento e sabem utilizá-lo. Não acreditamos, porém, que os espíritos se materializem aqui na Terra, e deploramos que certos "médiuns" levem, às vezes, as pessoas que a eles recorrem como guias a acreditar nisso, perturbando-as e tornando-as mais infelizes do que antes, por errónea interpretação das mensagens psíquicas. Assim, estamos convencidos de que os chamados "médiuns" – que fazem um esplêndido e reconhecido trabalho humanitário, como por exemplo, o Dr. Edson Cavalcanti de Queiroz – são personalidades de consciência evoluída e conhecedores dos princípios e técnicas de contacto psíquico com os

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"desencarnados" – visualização e comunhão – dotados da compreensão esotérica de que a Vida é una (compreendendo pois, aquilo que a maioria chama de "morte") e de que o AMOR é o componente básico da correcta comunicação extra-sensorial com os "ausentes" do plano físico.

Resta-nos agora apreciar sucintamente o segundo aspecto desta questão:

o da cura pela aposição das mãos no corpo dos pacientes. Pelo que lemos na revista, supomos que a famosa curandeira desconheça tanto as técnicas de harmonização com os "mortos" como o postulado que faremos seguidamente sobre a cura pela transmissão de energia em tratamentos ditos paranormais.

Normalmente, quem conhece os princípios de terapêutica metafísica, ou

os usa de modo discreto e reservado, não alardeando esse conhecimento ou, mesmo desejando aplicá-los em auxílio dos que precisam, não o faz, com receio de ser mal compreendido e prejudicado pelo rótulo de "bruxo", "feiticeiro" ou coisa parecida, neste Mundo ainda ignorante e distante da Luz. Os curadores profissionais, os Espíritas, e as clínicas organizadas (abundantes no Brasil) são a excepção à regra.

A técnica que o nosso garoto usou, e que contámos na história da semana

passada, é muito mais fácil de aplicar (por todos nós) do que explicar. Compreendemos, por isso, que a leitora não apreenda com a clareza desejável o que tentamos agora clarificar. A própria curandeira, como vimos, o faz sem saber explicar em que princípios se baseia e parece não distinguir no seu trabalho o binómio: a) CURA PELAS MÃOS – b) INCORPORAÇÃO MEDIÚNICA DO DR. SOUSA MARTINS. E deixa-nos sem saber (e ela também não sabe, provavelmente) se é o Dr. Sousa Martins que faz as curas mediúnicas através dela, ou se é ela simplesmente com o uso das mãos. Os "médiuns" não usam, normalmente, as mãos, a não ser em "passes" harmonizadores, nos centros públicos, e é isto que é estranho na curadora, dita médium, a aposição das mãos.

Afinal, tudo é simples de perceber quando se sabe e aceita que existe uma

única Força ou Energia no Universo, dual em polaridade, presente em todas as formas de Vida, cujas propriedades são criativas, curativas e construtivas, e que ao longo dos séculos vem sendo designada por vários nomes, em variadas culturas, religiões e filosofias, e até por curadores e pesquisadores. Os místicos chamaram-lhe "Força Vital"; os gregos, "Pneuma"; os chineses, "Chi"; os japoneses, "Ki"; os Yoguins hindus, "Prana"; os egípcios, "Ka"; Freud, "Líbido"; Reichenbach, "Od"; Reich, "Orgónio"; Mesmer, "Magnetismo Animal"; etc.

Mais recentemente, essa Energia deu lugar à criação de uma nova ciência

parapsicológica – a BIOENERGÉTICA ou BIOPSICOENERGÉTICA. Parece-nos ser a técnica escolhida pela curandeira Barbara Ivanova, de Moscovo, que a usa pelo telefone e que a intitula "Essência Energética". E vamos descobri-la na base de inúmeras outras técnicas terapêuticas, como a medicina tradicional da Índia antiga e dos Lamas do Tibete, assim como em variadas formas de aplicação natural, pela massagem manual, pela aposição das mãos, pela colocação dos dedos, ou até mesmo pelo pensamento, pela transmissão "telepática",

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Vítor de Figueiredo, FRC Página 16

metafísica, do envio de vibrações dessa Energia ao doente desarmonizado, bem como o uso de agulhas, aparelhos, etc.

As técnicas tomaram vários nomes: "ELECTRO-ACUPUNCTURA",

"MASSAGEM","ACUPUNCTURA", "ACUPRESSÃO", "SHIATSU", "DO-IN", "REFLEXOLOGIA", "APOSIÇÃO DE MÃOS", etc.. Os nomes e as técnicas variam, mas o objectivo é sempre o de restaurar o equilíbrio energético do paciente, quer descongestionando um ponto ou área do Corpo Humano (ou de um animal) obstruída no seu fluxo normal, ou revitalizando uma parte do organismo que se encontra carecida de energia, debilitada, do que resultam doenças, lesões e/ou dores. Essa Força Vital, abundante e gratuita, pode ser transmitida por qualquer pessoa a outra, pessoalmente ou à distância, sem qualquer perigo, embora todos os tratamentos, seja qual for a técnica usada, impliquem cuidados de higiene, privacidade e ética.

Aqueles que confiam na perfeição da Mente Universal, usam essa energia

na terapêutica manual que (pela sua alta qualidade vibratória) é curativa, e em certas doenças ou lesões se aplica positiva ou negativamente, consoante a técnica aplicada, extraindo-a do ar simplesmente pela respiração e deixando-a fluir pelas mãos e dedos, numa cura localizada. Ou, nos tratamentos à distância, através do pensamento e vibração dirigidos, quer o paciente o saiba, quer não, resultando melhor quando este acredita e confia no método.

Não há nisto qualquer mistério ou transcendência, a não ser que se

pretenda enganar o próximo, tirar partido dos incautos, ou especular com a posse especial de poderes miraculosos. Aliás, há um axioma espírita que diz: "Dá de graça o que de graça recebeste".

Não temos espaço aqui, nem é nosso propósito explicar à leitora (e a

outros leitores) as metodologias intrínsecas aos tratamentos energéticos, que têm seus detalhes quanto à forma de respirar, de posicionar o paciente, de usar cada uma das mãos, ou da relaxação necessária para o tratamento manual ou à distância. Existem livros e organizações sérias que as ensinam e cabe a cada um estudá-las, na medida do seu interesse pelo assunto.

Notas posteriores: O Dr. Edson Cavalcanti de Queiroz faleceu uns

anos depois deste artigo, de forma violenta. Actualmente existem já outras técnicas bastante difundidas, como o

Reiki, oriundo do Japão, por exemplo, que nada acrescenta àquilo que aqui foi dito ou tem de novo. Parece-nos, apenas, mais um aproveitamento da Energia Universal para a comercialização organizada na sociedade de consumo em que vivemos.

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VITOR DE FIGUEIREDO, FRC

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O MILAGRE

(Publicado no "Jornal do Incrível" n.º 404, de 11/8/87)

Vamos hoje responder à carta recebida da nossa leitora Susana Costa, de S. Braz de Alportel, na qual intuímos uma profunda

seriedade, apesar de quanto ela possa parecer, à primeira vista, irrisória. Resumimos sua carta:

"É sempre com muitíssimo entusiasmo e interesse que leio e releio a

vossa Secção sobre Mentalismo, Espiritismo, etc. Estes assuntos sempre me têm fascinado e sinto o desejo de saber cada vez mais sobre estes assuntos transcendentais. Gostaria que me elucidasse sobre algumas coisas, para mim muito confusas e inacreditáveis."

"Têm-me falado acerca da "mesinha de pé de galo", sem nunca ter

assistido a nenhuma sessão. Contudo, uma amiga de setenta anos, que me merece muita consideração e crédito, tem-me contado coisas estranhas e incríveis. Diz ela que tem "um guia espiritual" com quem conversa muito através da "mesinha", o qual considera um "amigo espiritual" que a protege, e que este lhe oferece prendas – medalhas, anéis e pulseiras em prata ou ouro – que, no Natal, encontra no sapato ou debaixo da almofada, e no bolo de aniversário quando ela faz anos."

"Será isso possível? Para mim é espantosamente confuso e eu desejo muito compreender isto para poder acreditar sem dúvidas. Tenho lido muito sobre estes assuntos mas nunca encontrei nada parecido com o que a minha amiga me diz. Será que é realidade? Devo acreditar? Estou num mar de dúvidas."

Enquanto líamos a carta da leitora, vieram à nossa memória certas

lembranças que, sendo diferentes, têm o mesmo traço de ligação com o insólito e a aparente "impossibilidade" de ocorrência de certos fenómenos no mundo físico. Tentámos algumas vezes, em público, falar e descrever fenómenos como a LEVITAÇÃO, e casos de pessoas que publicamente a fizeram, como Douglas Hume na Inglaterra e Mirabelli no Brasil; a INVISIBILIDADE (possibilidade de se fazer ocultar fisicamente aos olhos alheios) que certos místicos conseguem; e mesmo a PSICOMETRIA, na qual um contacto com um objecto pessoal permite intuir e descrever experiências, emoções e sentimentos do seu possuidor, pelas vibrações (e "memórias") desse objecto – um anel, um relógio, etc. Sempre – com raras excepções – obtivemos sorrisos complacentes, de incredulidade, ou mesmo opiniões claras da impossibilidade destes fenómenos ocorrerem. Em termos parapsicológicos, o caso que nos conta seria explicável pela TELEQUINÉSIA (movimentação de objectos à distância sem o uso de meios físicos), se tratasse, por exemplo, da transferência dos objectos de um lugar físico (a casa ao lado, um quarto próximo) para outro, por uma pessoa encarnada, mas não cremos que seja aceitável sob este aspecto no caso que a

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leitora descreveu, o qual envolve, segundo percebemos, a PROSOPOPESE (ou incorporação de um "espírito" – Personalidade-Alma fora do plano físico – que se comunica com a sua amiga), a qual seria, como interpreta o Espiritismo Kardecista, um "médium".

Não pudemos encontrar pois, qualquer explicação ou "caso" similar em termos de Parapsicologia e, apesar de não conhecermos profundamente o leque de fenómenos abrangidos pelo Espiritismo de Allan Kardec, estamos convictos de que a própria Federação Espírita Portuguesa não endossará como possível e verdadeiro este fenómeno. A leitora poderá consultar, se quiser, aquela Federação, com a qual nós não temos contacto. Histórica e religiosamente, são conhecidos alguns casos de materializações, vulgarmente ditas de "milagres", ocorridas com Jesus – a multiplicação do pão e dos peixes – e com a Rainha Santa Isabel – a transformação de pão em rosas, etc.

Alguns Grandes Mestres – Avatares da Humanidade (e alguns místicos e

Yoguins avançados) – dos quais Cristo é, inegavelmente, o maior – detêm o poder de controlo sobre as Leis Naturais que regem o equilíbrio da Vida e da Matéria Física. Sabemos todos – e isso já foi aqui tratado – que todas as coisas, ditas materiais porque parecem, ilusoriamente, ser de material sólido e inerte, são na realidade constituídas por átomos e suas partículas infinitamente pequenas (protões, neutrões, electrões, quarks), em contínua interacção e vibração, que se aglomeram em grandes massas moleculares, como uma rocha ou parede, por exemplo, deixando entre si espaços "vazios". Matéria também convertível em Energia, conforme demonstrou Einstein. Estes espaços não são realmente vazios, porque no interior dos átomos e entre estes, existem partículas virtuais das Energias ou Forças Fundamentais que ligam e mantêm os átomos e suas partículas em equilíbrio no sistema, em suas interacções e através dos seus campos.

Todavia, para fácil entendimento da leitora, é preferível que conceba o

átomo como um pequeno sistema solar (e uma parede, por exemplo, como vários sistemas solares unidos), onde cada planeta (um electrão) gravita à volta do seu Sol (o núcleo atómico). No mundo microscópico da matéria, isto não é exactamente assim, mas, a menos que a leitora conheça Física Atómica, é preferível ficar com esta imagem simples. Assim como a Terra não choca com o Sol (embora isso possa eventualmente ocorrer) ou a Lua com a Terra, em virtude da Lei da Gravitação (cuja descrição devemos a Newton), também a Força Electromagnética mantém os electrões afastados do núcleo do átomo, como se fossem pequenos planetas à volta do Sol. Se assim não fosse, também não estaríamos aqui.

Aqueles que levitam anulam a Força da Gravitação, erguendo seu corpo

no ar sem qualquer sustentação (diz-se que alguns médiuns conseguem fazê-lo) (e parece que os Egípcios também a usaram para erguer as pesadas pedras na construção das Pirâmides); os Místicos criam mentalmente uma "nuvem" ou "parede" materiais, que os ocultam, dominando e transmutando moléculas e átomos da matéria; e assim como também certos adeptos da Parapsicologia fazem com a energia da Mente, certos objectos moverem-se de um lugar para outro, não é de estranhar, pois, que um Grande Mestre da Humanidade como

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foi Jesus, tivesse o poder de, mentalmente, transmutar também os átomos e moléculas da matéria, a seu bel-prazer. Simplesmente alterando as suas vibrações, Cristo transformava-as, circunstancialmente, quer multiplicando pães e peixes, quer transformando água em vinho, quer mesmo fazendo curas, e operando a sua própria Ressurreição, o que, aos olhos da Humanidade, parecem "milagres" impossíveis. Assim são interpretados pelas diversas crenças religiosas. Para nós, todavia, Cristo foi, simplesmente, um verdadeiro Avatar Místico, capaz de dominar as Leis Naturais Universais.

Pusemos de parte neste comentário, cara leitora, a existência de possíveis aspectos de fraude humana, de que possa ser vítima a sua amiga, ou mesmo de embuste da parte dela para consigo (para impressioná-la), porque não queremos emitir aqui nenhum juízo crítico negativo ao caso, nem endossar qualquer ideia que possa ridicularizar o Espiritismo Kardecista, porque – embora não sejamos Espíritas e tenhamos reservas quanto aos seus métodos e interpretações dos fenómenos – respeitamos sempre as crenças alheias.

Aliás, nossa opinião sob esse aspecto, está claramente enunciada na resposta que demos a uma leitora, no n.º 382 deste Jornal, onde claramente expusemos a nossa opinião quanto ao transe mediúnico. Quanto à "Mesa de Pé de Galo", ela sempre nos pareceu um aparato dissociado de qualquer necessidade espiritualista e, talvez apropriada às muitas fraudes e artifícios que ocorrem na maioria das sessões particulares.

Frequentámos Centros Espíritas no Brasil, e por tudo o que vimos,

concluímos que havia seriedade no trabalho efectuado, um forte sentido de fraternidade e solidariedade social, e nunca ouvimos falar em "mesas de pé de galo". Particularmente, tomámos parte em sessões de "Mesa Ouíja", por exemplo, e qualquer mesa servia para o efeito. Talvez a "mesinha" de que nos falou tenha sido confundida com a "Mesa de pé de Galo", denominação antiga em Portugal e, ao que julgo, associada a sessões clandestinas de Espiritismo. Parece-nos que qualquer pessoa é livre de praticar a Religião, Crença ou Filosofia que quiser mas, certamente, de acordo com as regras e hábitos modernos de viver e de ser, sem ter de recorrer a arcaicos aparatos que, só por si, não conferem seriedade às práticas. É o caso da "mesa de pé de galo".

Para encerrar, podemos dizer à leitora que, pessoalmente, e até prova em contrário, não acreditamos na veracidade do fenómeno descrito. E não é por desconhecermos a possibilidade de ele poder ocorrer num nível mais avançado. É exactamente por o conhecermos. Mesmo porque a possível "comunhão" de sua amiga com um Mestre Cósmico se traduziria certamente em "milagres" coerentes e nunca no aparecimento de prendas mundanas, próprias de enamorados "encarnados" neste planeta materialista. Pulseiras, anéis, ouro, prata, são ilusões de valor para quem não divisa ainda valores mais elevados. Nenhum Mestre desencarnado se afirmaria por isso. Afinal, tira-se um Protão e um Electrão ao ouro e ele torna-se Mercúrio. O caminho, amiga Susana Costa nunca será por aí.

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VITOR DE FIGUEIREDO, FRC

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A BUSCA DO CAMINHO

A BUSCA (1)

(“Publicado no Jornal do Incrível” nºs 391, de 12/5/87)

"Qualquer caminho é, apenas, um caminho, e não constitui insulto

algum, para si mesmo ou para os outros, abandoná-lo quando assim ordena o seu coração. Olhe cada caminho com cuidado e atenção.

Tente-o tantas vezes quantas julgar necessárias; então, faça a si mesmo, e apenas a si mesmo, uma pergunta:

possui esse caminho um coração? Em caso afirmativo, o caminho é bom. Em caso contrário, esse caminho não possui importância

alguma".

(CARLOS CASTAÑEDA)

Ao longo do nosso percurso e busca pessoais, conhecemos várias pessoas que buscam a espiritualidade, com posições muito diferenciadas.

Sem qualquer intenção de as rotular ou criticar, podemos

arbitrariamente agrupá-las em quatro grandes estágios, diferentes, por onde percorrem (e nós o fizemos também), mais ou menos transitoriamente, o indefinido e tortuoso caminho da Luz, da "Verdade" e de Deus. Talvez a definição destas situações sirvam para alguma reflexão do leitor e de outros interessados neste assunto.

1.– "O INTELECTUAL – CULTURAL – RACIONAL"

É o grupo de pessoas que, isoladas, independentes e bastante dialécticas

(parecendo até diletantes do Conhecimento), não aderem a qualquer

Instituição, Filosofia ou Religião. Procuram descobrir a coerência da vida, o

sentido da existência e o mistério do Universo e da Criação, através da sua auto-

suficiência intelectual e racional, sem qualquer compromisso com dogmas ou

"verdades" estabelecidas, relativas como sempre elas são, e não acreditando em

Deus. São os livres-pensadores da Espiritualidade, honesta e esforçadamente

convencidos de que, esgotando a pirâmide do conhecimento daqueles que

singraram a "Via Dolorosa" (na Arte, na Filosofia, na Ciência, na Sociologia, no

Humanismo, etc.), conseguirão através dos livros, dos conceitos e das ideias,

pela análise e reflexão, chegar à "Verdade" e a uma concepção de Deus. Este

grupo chega normalmente, quase no final desta "Via-Sacra", já desiludido e

gasto, à literatura do "insólito", do paranormal, do Mentalismo Positivo,

panaceia exotérica (não esotérica) que geralmente estimula para uma aventura

cultural mais séria e aprofundada e, mais tarde, para portais ocultos mais

profundos.

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É a fase Napoleon Hill, Rhine, Dale Carnegie, Harold Sherman, Joseph Murphy, Vernon Howard, Lobsang Rampa, Jacques Bergier, Richard Bach, Og Mandino, U. S. Andersen, Saint-Exupery, depois Paul Brunton, Castañeda, etc.

2. – "O RELIGIOSO TRADICIONAL" É o grupo de indivíduos que, simplesmente, pertence e mais ou menos

pratica (consoante o seu grau de convicção, satisfação ou necessidade) uma Religião antiga, consagrada e tradicional, bastando-lhe a sua Fé simples em Deus, a autoridade dos instrutores e a doutrina, rigidamente dogmática ou não, porém indiscutível e isenta de qualquer dialéctica; geralmente consideram-na verdadeira e superior a qualquer outra opção ou via espiritual. Como exemplo, as Igrejas Cristãs, o Judaísmo, o Budismo, o Catolicismo, as Igrejas Ortodoxas, etc.

3.– "O ESPIRITUALISTA" (OU RELIGIOSO NÃO TRADICIONAL)

É aquele grupo de pessoas que não se identifica com as vias "Intelectual-

Racional", "Religiosa Tradicional" ou qualquer outra, e segue uma das numerosas sendas do conhecimento e aprendizado, mais ou menos religioso, espiritualista e/ou filosófico, opcionais, em Fundações, Associações, Fraternidades, Igrejas e Religiões não Tradicionais, que se caracterizam principalmente por sua fundação relativamente recente, sem alicerces num Grande Mestre ou Avatar da Humanidade reconhecido, sem "Egrégora" (termo profundo, difícil de definir aqui), e que foram criadas por um ou mais indivíduos e por sua inspiração, filosofia ou crenças pessoais.

É o caso das "Testemunhas de Jeová", "Igreja Mórmon", "Racionalismo

Cristão", "Meditação Transcendental", "Ordem do Graal", "Análise Transaccional", "Igreja da Unificação" (Rev.º Moon), "Fé Bahai", "Igreja Messiânica", "Logosofia", "Neo-Sannyas", de Rajneesh (Osho), "Igreja Japonesa Seicho-No-Iê", "Espiritismo Kardecista", "Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento", Eubiose, "Umbanda", "Candomblé", "Escola de Khrisnamurti", de "Gurdjieff", a "Fraternidade Rosacruz" de Max Heindel, "Antroposofia", "Teosofia", etc.

Todas variam nos métodos e ensinamentos e perseguem o mesmo

objectivo básico do encontro com Deus e do aperfeiçoamento dos filiados, através de estudos e práticas intrínsecas.

4.– "O MÍSTICO" – "ESOTÉRICO"

É aquele grupo que não se identifica com nenhum dos outros caminhos, não aceita a Fé pura e simples, nem somente a busca intelectual-racional (por onde provavelmente transitou), nem mesmo a aceitação de métodos espiritualistas não fundamentados na experiência e comprovação pessoal; deseja e pratica o seu encontro individual com Deus, o conhecimento de si mesmo e a união pessoal com a Mente Divina, pela harmonização e meditação e,

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ainda deseja alcançar algum dia um estado superior de consciência – a Consciência Cósmica.

Congregam-se em Organizações ou Ordens antigas, Ritualísticas, Esotéricas, Iniciáticas e Tradicionais. São as pessoas que buscam Deus directamente, sentindo-O imanente e panteisticamente dentro de si e em todas as coisas, e que procuram o aperfeiçoamento da personalidade, do Ser Interior, e a evolução da sua consciência pessoal, percebendo-a ligada tanto a Deus quanto aos semelhantes. Embora com métodos e práticas diferentes, exemplificamos os adeptos da "Maçonaria", da "Ordem Rosacruz – AMORC", do "Movimento Sufi Internacional", etc.

Cabe dizer aqui, no entanto, que certas Religiões, Movimentos ou

Instituições, são profundamente Místicas, como o Budismo (que não é uma Religião), o Zen, o Yoga, o Hinduísmo, etc.

Estas classificações e generalizações são arbitrárias; também ocorre que

as pessoas transitem de um grupo para outro, de uma para outra instituição, situando-se em mais de um grupo ou organização ao mesmo tempo, ou até mesmo se desiludam de determinada senda, que abandonam, temporária ou definitivamente, às vezes nem tentando qualquer outra senda alternativa.

É oportuno referir também que o facto de uma pessoa se situar dentro de

qualquer dos grupos ou instituições, não faz dela um autêntico espiritualista, religioso ou místico. Em nosso percurso pessoal pelas vias citadas, na busca da "Verdade" e de Deus, encontrámos casos particulares de pessoas que (sem as julgarmos), poderíamos definir, se necessário, na nossa óptica particular, como:

– Os DILETANTES, que apenas superficialmente circulam pelos

corredores externos, sociais, das organizações, não comprometidos com qualquer desejo de transformação interior e de aperfeiçoamento.

– Os ESCAPANTES, que apenas pretendem fugir temporariamente aos

seus problemas psicológicos e existenciais, não buscando qualquer conhecimento profundo, mas somente coragem para resolvê-los junto dos mais preparados.

– Os FANÁTICOS, senhores soberanos, ortodoxos e "donos da

"Verdade", com quem o diálogo é inútil, os quais policiam por sua conta e iniciativa aqueles que consideram menos sinceros e dedicados, julgando e discriminando severamente os companheiros de trilha.

– Os SALTIMBANCOS, que pulam de instituição em instituição,

continuamente, já que nenhuma lhes serve; procuram o êxito fácil, resultados imediatos, evolução acelerada e compensações a breve prazo que, na realidade, não existem.

– Os OPORTUNISTAS, que buscam situações de privilégio, liderança,

distinção ou vantagens materiais, a troco de um apostolado e aprendizado fictícios e breves.

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– Os INOCENTES, aqueles que buscam idealmente encontrar nos

portais das organizações, ao entrar, companheiros sábios, já iluminados e de grande desenvolvimento moral, com conhecimento e sabedoria adiantados, quase divinos, e que, em breve tempo se chocam e desiludem ao reconhecê-los quase ou iguais a eles em seu aprendizado e limitações humanas.

– Os QUE BUSCAM PODER, aqueles que se filiam às Organizações

para receber, a breve prazo, "forças", segredos, técnicas e poderes metafísicos especiais, para dominarem o semelhante e obterem êxitos rápidos, como o prémio maior da Lotaria, a promoção rápida no emprego ou o amor da vizinha.

Com excepção dos INOCENTES que, às vezes, persistem, todos estes

indivíduos se auto-eliminam cedo, pois facilmente compreendem que nenhuma das vias espiritualistas, por mais simples que seja, serve seus propósitos de apego, de hedonismo, de egocentrismo ou materialismo, e só muito mais tarde (ou nunca) entenderão que o importante é o conhecimento de si mesmo, a descoberta e encontro com Deus em seu interior, a consciência de que a única chave do segredo da transformação é o AMOR, e que o EGO é a causa de todas as misérias, dores e fracassos, e dos ódios e conflitos humanos neste Mundo.

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VITOR DE FIGUEIREDO, FRC

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A BUSCA (2)

(Publicado no “Jornal do Incrível” nº 392, de 19/5/87)

“O caminho vai sendo criado pela sua caminhada.

Não está ali esperando por você. Ele começa no momento em que você inicia sua viagem. Sai de você tal como o fio da aranha.

Acontece através de você. Você o cria e então caminha sobre ele. E quanto mais você caminha, mais o cria.”

(BHAGWAN SHREE RAJNEESH

“O Caminho das Nuvens Brancas”)

Na semana passada iniciámos uma resposta ao nosso leitor "Ignotus",

que nos solicitou nomes de organizações e seus endereços, e de livros que o orientassem em Misticismo, Parapsicologia, Mentalismo e Espiritismo. Demos ao leitor, então, várias justificativas do motivo por que não satisfazíamos totalmente a sua solicitação, e estamos convictos de que, ao invés, as considerações que fizemos sobre o assunto, e que hoje completamos, o ajudarão mais do que a simples menção dos nomes de instituições, endereços e títulos dos livros que desejava.

Ao escrever-nos, o leitor não ponderou na complexa encruzilhada de

caminhos para a "Verdade" que são as quatro vias citadas anteriormente – tão diferentes em seus fundamentos e métodos (embora conduzam à mesma meta) – que jamais poderia explorá-los ao mesmo tempo, sem sérios conflitos interiores e confusão mental.

Há, realmente, profundas diferenças em conceitos e métodos entre o

Misticismo e o Espiritismo, seja este de Allan Kardec, de Umbanda ou de Candomblé. Também não vemos como o leitor resolveria (a não ser que seja um mero pesquisador e estudioso superficial das correntes espiritualistas) a abissal diferença entre o sistema de trabalho objectivo e científico da Parapsicologia (em nossa opinião estagnada actualmente e quase no extremo dos seus objectivos) e os métodos, muito mais metafísicos e profundos, do Misticismo e do Espiritismo, pois nenhum destes se propõe a provas empíricas dos seus postulados e conceitos, como ocorre com a Parapsicologia.

Quanto ao Mentalismo, como nós o entendemos (compreensão teórica e

utilização prática da Mente individual, como extensão da Mente Total Cósmica), pode considerar-se como sendo um dos ramos do aprendizado místico e da Parapsicologia, com certa importância básica. Contudo, o Mentalismo é quase a base única de trabalho de certas organizações ditas espiritualistas e está muito difundido na literatura especializada, que o explorou até à exaustão (enriquecendo muitos autores), pelo que preferimos considerá-lo, neste nível de vulgarização, mais como um atalho auxiliar do que como uma via principal.

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Nas três principais correntes espíritas (Kardec, Candomblé e Umbanda) existem centenas de obras, em grande parte psicografadas por médiuns (isto é, cuja autoria atribuem a pessoas falecidas), que as recebem em transe. Quanto ao Mentalismo, não erraremos muito se dissermos que o número de livros em Português é superior a mil, distribuídos pelas suas múltiplas ramificações titulares de "Pensamento Positivo", "Poder Mental", (Consecução de riqueza, Felicidade, Realização Pessoal e outros objectivos pelo uso metódico da Mente"), "Criação Mental", "Terapêutica Mental", "Psicocinesia", "Telepatia", "Telecinesia", etc.

O verdadeiro Misticismo é uma corrente menos prolixa em literatura auxiliar mas, se juntarmos só as edições particularizadas de várias Organizações Rosacruzes e Maçons, como exemplo, contaremos cerca de seiscentas obras ou mais, em Português. Quanto às obras que tratam genericamente de Parapsicologia, distribuídas e editadas com certa parcimónia por algumas editoras e, particularmente, por Instituições de Terapêutica e Pesquisa Parapsicológica, serão talvez umas cem. Teríamos de consultar muitos catálogos de Editoras e de instituições para podermos dar aqui dados mais precisos. Para quem não quis ou não pôde aventurar-se numa busca longa e cuidadosa dos caminhos de evolução pessoal, é difícil dar-se conta da extensão e amplitude do grande labirinto das sendas espirituais. É um verdadeiro "Jardim dos Caminhos que se Bifurcam", citando um conto de Jorge Luís Borges. É o que ocorre similarmente nas áreas Tecnológicas e Científicas. Hoje é quase impossível alguém dedicar-se abrangentemente à Medicina Alopática ou à Informática, por exemplo. Cada interessado terá de especializar-se apenas numa área delas, porque o desenvolvimento, a informação e a literatura das diversas especializações são tão vastos que um ser humano não pode conhecê-los totalmente.

Assim é a Espiritualidade, onde se pode seguir apenas e idealmente uma via principal, uma instituição seleccionada pelo próprio interessado e, quando muito, fazer pequenas e breves incursões diletantes nas vias paralelas ou nos atalhos; umas são iniciáticas, outras não. Algumas têm templos e rituais, outras não; algumas são esotéricas, outras exotéricas. Algumas dependem da presença e orientação de um Mestre, de um Guru, ou de um Dirigente Espiritual, enquanto outras não. Algumas exigem uma dedicação e filiação exclusivas, mas outras permitem a liberdade do filiado pertencer e actuar noutras. Algumas cobram quotas, duodécimos do salário ou mensalidades fixas; outras pedem donativos ou compra de livros. Muitas vendem livros, cassetes, etc., para a sua manutenção, outras não.

Algumas exigem provas de dedicação, exames de aproveitamento, etc., enquanto outras confiam ao adepto a sua própria avaliação. Às vezes têm livros básicos das suas doutrinas; outras vezes os livros constituem, apenas, material de estudo auxiliar. É um mundo aparte, com as suas regras, disciplinas, obrigações, compensações, satisfações, etc., difícil de particularizar.

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Em rigor, o que estávamos querendo dizer ao leitor, desde o início, é que

nenhuma via se pode indicar, pois é o próprio que deve encontrá-la, descobrir a que lhe cabe, em razão do seu estágio interior de compreensão, do seu próprio esforço, merecimento, e mesmo experiência, e necessariamente em resultado de sua sinceridade, de seu desejo ardente de conhecer, de transformar-se, de evoluir.

Sua escolha irá depender da dimensão da sua carência de Deus, do

espaço vazio da taça que deseja encher, das motivações cármicas e psíquicas da sua consciência, do trajecto espiritual já percorrido. É um código secreto, íntimo, que só aquele que busca pode descobrir em si mesmo e que ninguém poderá adivinhar. Só ele mesmo sabe quanta água pode matar a sua sede e que fonte o saciará.

A experiência alheia, particularmente neste foro, infelizmente não serve.

Experiência psíquica não pode transmitir-se. Cada Ser Humano tem de viver suas próprias experiências e provações para delas extrair suas conclusões, as quais, passando a convicções íntimas e pessoais, sedimentando-se em sua "Personalidade-Alma", (consciência activa e subconsciente), adquirem então a força consistente de valores, certezas e conhecimento autêntico. Em certos casos, outras pessoas podem oferecer coordenadas, orientação, indicações, que podem ajudar quem busca a tentar um caminho, a ver melhor dentro de si, mas nada mais do que isso.

A verdade é que cada um daqueles que estão num dos quatro estágios

descritos em nosso artigo anterior, está certo e no seu lugar, aquele lugar que se assemelha a ele e tem consonância com o seu actual grau de evolução. Não pode ser criticado nem deve ser compelido ou influenciado a deixá-lo.

Os intelectuais, intransigentes com a Fé, dialécticos que bebem até ao

limite das forças a taça de fel da busca inglória pelo caminho da razão, estão certos. Os que podem ser simples e buscar Deus pela Fé, sem questionamentos científicos e/ou meta psíquicos, estão certos. Os que procuram a outra via do conhecimento espiritual-religioso para chegarem a Deus, estão também no seu lugar. Até mesmo alguns que duvidam de tudo e de todos, agnósticos que sentem bastar-lhes ter Deus no coração, sem Fé, sem livros, sem conhecimento maior, estão num estágio de desenvolvimento coerente com o que sentem e compreendem.

Assim, também os místicos, que não aceitam a Fé simples nem apenas o

caminho intelectual e empírico do Conhecimento; os que procuram e intuem Deus em todas as coisas, chegando a Ele pela dura experiência e comprovação pessoal. Prezando tanto a Arte quanto a Ciência, tanto o caminho externo de aprendizado quanto o interno, estão certos, em seu rumo para o "Céu" que sabem estar dentro de cada um deles.

Amigo e leitor "Ignotus": assim como a Felicidade não está na meta da

chegada e sim nas pequenas estações da viagem, assim também o percurso para

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Vítor de Figueiredo, FRC Página 27

o encontro secreto connosco mesmos não pode ser programado. Começa-se a caminhar, um dia, sem direcção e sem horizonte, e é durante a viagem que os atalhos e as bifurcações nos vão levando para a "verdadeira" estrada que é a nossa e para o nosso objectivo desconhecido.

Não se pode antecipar e prever que se vai por aqui ou por ali; nem

quando se vai mudar de caminho para seguir outro, que há-de levar a outro, talvez. Não se podem programar racionalmente as etapas, as opções, o destino. Não há mapa. O caminho abre-se dentro de nós conforme a preparação e os pequenos avanços e progressos interiores, o sentido íntimo da alegria e conforto na busca, a minimização do "Ego", o desapego às coisas materiais para além do conforto necessário; e define-se à medida que o percorremos e expandimos a nossa consciência das coisas.

Esta é a chave: vê-se mais longe, sobem-se mais degraus, divisa-se mais

Luz, à medida que a nossa consciência se expande e o nosso coração se torna mais compassivo e amoroso. Mesmo os "oásis", que são falsas miragens para testar a autenticidade da nossa busca, serão ou não ultrapassados conforme o ardor da procura e a sede que o leitor tiver. O deserto é imenso, sem trilhas marcadas, e só o leitor saberá encontrar as suas, para descobrir o "seu" verdadeiro "oásis". Só a bússola de seu coração e de sua Mente o encaminharão na direcção "certa". Tudo o que por direito Divino nos pertence, chegará até nós – mais cedo ou mais tarde – na medida em que a pequena chama interna do nosso Ser ganha o direito à Luz Maior, à Realização, à Bem-Aventurança.

E, então, "Quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece". Não existe realmente um caminho para a busca de Deus, porque a viagem

é interior, pessoal. "Existem Organizações sérias e livros, que ensinam", sim, mas eles são apenas meios, auxílios, setas orientadoras das mil trilhas disponíveis e, seja qual for a que seguirmos, transitória ou definitivamente, o importante é o nosso gradativo e real desenvolvimento interior, a Luz que conseguimos fazer brilhar dentro de nós.

O conselho de Buda, aos discípulos, era: "Sejam a vossa própria Luz!".

Tente o leitor alimentá-la e torná-la mais viva, e dentro de si ela iluminará o melhor caminho. E se não o conseguir ainda, se a claridade na sua alma ainda lhe parecer insuficiente, simplesmente siga com ela. Não pare! Caminhe sempre! – E saiba ou não, irá na "direcção certa", ao encontro de si mesmo. E jamais se sentirá perdido ou desorientado, pois Deus estará consigo. Nada mais lhe será preciso. Deus, em seu interior, sabe qual é a sua trilha. Oiça-O simplesmente e, melhor do que ninguém, Ele o conduzirá. Não precisa de Fé, basta a Confiança! "Fide" (Fé) é Confiança.

Afinal, tudo é simples. O grande segredo da busca é não procurar fora de

nós o que se encontra em nosso interior. Aí reside Deus, e é aí, portanto, que estão todos os segredos, todos os mistérios, o Mestre de cada um de nós, a "nossa Verdade", a Luz e a Paz que almejamos nas trilhas externas; pois, maior do que todo o nosso conhecimento científico e filosófico para provar ou negar a

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nossa divindade, mais deslumbrante do que a alquimia da nossa transformação evolutiva e da sabedoria das nossas certezas, mais profundo do que a nossa meditação e exaltação de nossas preces, é aquele momento, puro, único, inocente, sentido bem no âmago de nossa alma, quando finalmente "sabemos" que Deus existe em nós, se realiza através de nós, e nós somos, simplesmente, parte d’Ele.

Nada mais há para discutir ou procurar. Não mais "Pisaremos as flores

para ir buscar relva". Não mais dividiremos Deus de nós e nós d’Ele. Caminhando com Ele, caminhamos o nosso verdadeiro caminho. Exactamente como Cristo tentou fazer-nos compreender, como Seu enviado;

"Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida"; "Ninguém vai ao Pai senão por mim".

E, uma vez que empreendemos a Jornada, é só caminhar. "Tudo o resto

nos será dado por acréscimo".

***

VITOR DE FIGUEIREDO, FRC

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UNIVERSO

THREE CONTROVERSIAL QUESTIONS (1)

(Publicado no "Jornal do Incrível" n.º 402, de 28/7/87)

Há algum tempo que aguardávamos oportunidade para responder à

carta de H. M. RUSSEL, do Porto. Quase desistimos de traduzi-la, não por tê-la escrito em Inglês, mas pela hieroglífica caligrafia. Também hesitámos em responder-lhe, quer pelo seu conteúdo

controverso e especulativo, cuja temática nos parecia não interessar à maioria dos leitores, quer porque os nossos pontos de vista se

afiguravam, a Priori, conflituosos com os do leitor e não sabermos se o nosso comentário podia ser-lhe útil e construtivo.

Tendo decidido responder-lhe, vamos tentar, todavia, contornar

estes obstáculos, pela simples razão de que não nos sentiríamos bem connosco mesmos se desconsiderássemos a primeira crítica que

recebemos ao nosso trabalho, desde que aqui o iniciámos.

Afinal, mais do que os muitos elogios e incentivos que temos recebido, talvez sejam as críticas e os desafios que melhor nos

ajudam a superar as nossas limitações e que mais nos constroem. "Palmas" são agradáveis ao nosso Ego mas não nos concitam tanto à

auto-reflexão e evolução pessoal quanto as críticas ou pontos de vista contrários, pois estes levam-nos a reflectir sobre as nossas

relativas "verdades".

Servimo-nos, pois, da tradução livre que fizemos da carta do leitor para comentarmos as suas observações.

“DEÍSMO VERSUS PANTEÍSMO"

Diz-nos H. M. RUSSEL:

"NO ARTIGO "A VISTA DA PIRÂMIDE", VOCÊ (PROF. KEOPS), FAZ AFIRMAÇÕES CUJO SIGNIFICADO ESTÁ LONGE DE SER EVIDENTE. "DEUS ESTÁ NA PEDRA", POR EXEMPLO. SE DEUS ESTÁ EM TODA A PARTE E EM TODAS AS COISAS, ATÉ NA MERDA (SIC), ENTÃO PARECE QUE AQUILO QUE DISTINGUE UMA COISA DA OUTRA NÃO É AFECTADO DE QUALQUER MODO, PELO QUE A DECLARAÇÃO CARECE DE SENTIDO, A MENOS QUE VOCÊ QUEIRA QUE REVERENCIEMOS AS PEDRAS, ASSIM COMO OS ANTIGOS CATÓLICOS ADORAVAM UMA CUSTÓDIA DE OURO OU DE PRATA, OU UM CÁLICE".

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Antes de tudo, e reconhecendo que a frase "Deus está na pedra", deslocada do seu contexto, se presta a especulações, temos de dizer-lhe que a frase não é nossa. Fomos descobri-la no n.º 387 deste Jornal, quando iniciámos uma série de artigos, em resposta a leitores, sobre a AURA HUMANA, e pertence ao leitor que ali citámos. A frase completa – relembramos – é: "DEUS ESTÁ NA PEDRA QUE PISAMOS, NA ÁRVORE, NO ANIMAL, ETC." Embora não conheçamos o referido leitor, nem as suas convicções místico-religiosas, assumimos aqui – agora – essa frase, como se fosse nossa, para não fugirmos à questão e por ela evidenciar um conceito que, além da sua base MONOTEÍSTA, se insere coerentemente no TEÍSMO ou, mais próxima das nossas convicções pessoais, no MISTICISMO PANTEÍSTA.

Sem espaço e motivação para historiarmos aqui o Panteísmo, desde a sua

concepção na Religião Hindu e na sua divindade, BRAHMA, dez séculos antes de Cristo, depois aceite por alguns filósofos gregos e, modernamente encontrada em SPINOZA e HEGEL, por exemplo, limitamo-nos a esclarecer que a afirmação do citado leitor se inscreve no princípio Panteísta de que (não Deus, exactamente) a Essência ou Consciência de Deus está imanente em todas as coisas da matéria e em todos os seres viventes.

Tentando compreender a crença pessoal do leitor Russel – em face da sua

estranheza quanto à existência do Poder e Inteligência Divinos também nos objectos materiais – julgamos tê-lo percebido como um crente DEÍSTA, à semelhança da grande maioria portuguesa, a qual concebe, geralmente, a existência de um Deus antropomórfico (conceito antiquado ainda prevalecente), semelhante ao Ser Humano em seu aspecto físico, ou mesmo mental, separado e distinto da Sua Criação Universal. Por outras palavras, e esta é a sua diferenciação básica do Panteísmo, o leitor aceita, provavelmente, a ideia Deísta e comum de um Deus Omnipresente e Omnisciente, Transcendente, sim, porém ausente e isolado do Homem e do Mundo, que se reverencia como um ídolo algo distante e exterior.

Que podemos dizer-lhe? Que está no seu democrático direito, assim como

J. Morais Cruz, o referido leitor, e nós no nosso. São concepções e modos de ser e estar diferentes, no mesmo Mundo. Contudo, os nossos conceitos são tão evidentes (ou abstractos) quanto os seus, Mr. Russel, não é verdade? Se o leitor disser que Deus não está na pedra, nós temos o direito de dizer-lhe que essa afirmação também não é evidente, no sentido empírico de poder prová-lo pelo intelecto e meios físicos ou sensoriais, já que nenhuma definição de Deus é realmente possível. Nem mesmo se poderá dizer que "DEUS É", o que pressupõe o contrário – que "DEUS NÃO É".

Não dissemos que fosse necessário ou coerente reverenciar as pedras ou

outros objectos, numa concepção Panteísta da Criação, o que seria recuar ao POLITEÍSMO ou ANIMISMO primitivos; mas afirmamos ao leitor, e não temos nenhum receio em confessar-lhe, a nossa íntima admiração pela transcendente e Divina Criação, que sentimos estar infusa em todas as coisas e em todos os companheiros de jornada terrena. Quanto mais a conhecemos mais ela nos deslumbra.

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Compreendemos que o leitor não possa sentir esse júbilo e êxtase,

verdadeiramente religioso, que é perceber a "Unidade na Diversidade" (apesar de nunca termos pertencido a qualquer Religião). Cremos que é assim que sentem não só os místicos mas também os mais evoluídos cientistas. Não foi isso que sentiram Einstein, Eddington, Wheller, John Dalton, Sir James Jean, Charon, Teillard de Chardin?

Conforme dissemos em nossos artigos sobre a Aura, o que distingue

umas coisas das outras, na sua aparência e na nossa percepção, no nível macrocósmico, é a frequência vibratória dos átomos e agregados moleculares que as constituem.

Sabemos que estas afirmações não são de fácil compreensão para o leitor,

nem de significação evidente. Não o são, infelizmente, para muita gente. Mas a nós não nos motiva vir aqui discutir o óbvio. É por isso que atingimos poucos, mas a satisfação de "tocarmos" alguns, creia, compensa o nosso trabalho e gratifica o nosso esforço.

Deixando de lado o segundo parágrafo da carta do leitor, irrelevante e de

confuso sentido, passamos ao terceiro parágrafo da carta de H. Russel:

A "CIÊNCIA CRISTÃ"

"AS NOÇÕES ENCONTRADAS NO SEU ARTIGO SÃO ENCONTRADAS NA RELIGIÃO DA SENHORA MARY BAKER EDDY (FUNDADORA DA

CIÊNCIA CRISTÃ). QUANDO SUGERIU QUE DEUS É TUDO EM TUDO, ISTO É, QUE TODAS AS COISAS SÃO A MENTE E AS SUAS IDEIAS. AS

IDEIAS DELA SÃO UM ECO DA FILOSOFIA DE PLOTINO. MAS SE A EXISTÊNCIA DA MATÉRIA PODE SER NEGADA (COMO O FOI POR ELA E

SEUS DISCÍPULOS, SENÃO TAMBÉM POR VOCÊ NO DITO ARTIGO), ENTÃO DEVE SER ADMITIDO QUE AQUILO QUE PODE SER NEGADO É,

TAMBÉM, DE FACTO, EXISTENTE (CONFORME OS TEÓLOGOS ARGUMENTAM CONTRA OS ATEUS); SE A MATÉRIA NÃO EXISTE, A CIÊNCIA CRISTÃ NÃO NECESSITARIA DE NEGÁ-LA E CONTINUAR

NEGANDO-A".

H. Russel veio lembrar-nos a personalidade singular, quiçá genial, de

uma mulher pouco conhecida na Europa, que soube transformar a sua vida de extrema pobreza e doença numa "mensagem" extraordinária de Fé, Positivismo e Esperança para o Mundo, criando a "Ciência Cristã", ou "Igreja de Cristo Cientista".

Não sabemos se ela leu ou não Plotino, o que nada a desmereceria, mas sabemos que ela se inspirou em Cristo. Também não conhecemos suficientemente os fundamentos da "Ciência Cristã" para avaliarmos se a comparação que o leitor faz entre os nossos conceitos e os de Mary Baker Eddy

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são uma crítica ou um elogio, e se é legítimo o paralelo estabelecido. De qualquer modo, o livre arbítrio do leitor não interfere com o nosso, ao admirarmos esta mulher, que tinha tudo para ser apenas um "pobre diabo" fracassado e dominou a sua própria vida, dedicando-se à felicidade dos outros.

A partir de um acidente, num leito de hospital, só e prostrada, uma súbita

inspiração na conhecida frase de Cristo ao paralítico (Mateus IX-2-7) que Ele curou, levou Mary Baker Eddy a levantar-se e a descobrir – segundo suas palavras – a "Ciência da Divina Cura Metafísica". Abriu depois a "Escola Metafísica de Massassuchets", embrião da "Ciência Cristã do Bem-Estar Físico e Espiritual" e seu sistema científico de cura Divina.

Não cremos que a interpretação do leitor esteja correcta quanto à

negação da matéria pela "Ciência Cristã" e, no nosso caso, não está. Estudar, tentar interpretar e explicar a natureza da matéria Universal é bem diferente de negá-la; de resto, qualquer estudante adolescente conhece a consagrada fórmula de Einstein – E=Mc2. É óbvio, mesmo sem querermos endereçar aqui o leitor para os domínios esclarecidos da Física Moderna, que MATÉRIA é apenas uma palavra para exprimir a ENERGIA (se quiser, "LUZ") condensada em baixas frequências vibratórias, que dá, realmente, aos sentidos, a ilusão de solidez e imobilidade, o que explicámos suficientemente no n.º 387 deste Jornal.

Não temos intenções polémicas e não nos preocupa a comparação do leitor. O que nos aflige – isso, sim – é que Mary Baker Eddy tenha revelado sua "mensagem" ao Mundo há mais de cem anos (assim

como outros, de modo até mais transcendente) e que o Mundo ainda permaneça tão céptico, egocêntrico e materialista. Embora

tenhamos, pessoalmente, certa reserva quanto à transcendência de Instituições Mentalistas, temos de reconhecer que, no estado actual

da Civilização, a "Ciência Cristã" (se ainda está actuante), será muito útil ao Homem carecido de coerência, de esperança, e de

conhecimento, à semelhança de outras Organizações que postulam a Fé ou o Poder da Mente como meios de transformação da vida

humana, ainda na sua grande maioria debatendo-se desesperadamente e apenas pela sobrevivência.

Podem não ser a melhor "mensagem" para o Homem incapaz de

dominar a sua vida. Mas são um valioso auxílio para que, algum dia, os leitores encontrem um caminho melhor. E eles existem.

***

VITOR DE FIGUEIREDO, FRC

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THREE CONTROVERSIAL QUESTIONS (2)

(Publicado no "Jornal do Incrível n.º 403, de 4/8/87)

Encerramos hoje o nosso debate, que não desejamos tornar em polémica, com o leitor H. M. RUSSEL, do Porto, comentando a terceira questão da sua carta, na qual, de acordo com a nossa

tradução, nos diz o seguinte:

"....SE É VERDADE QUE A "CIÊNCIA AFIRMA HOJE QUE NÃO SE PODE SEPARAR O OBSERVADOR DO OBJECTO OBSERVADO", ISSO NÃO É EQUIVALENTE A DIZER QUE ELES SÃO IDÊNTICOS, E SIMPLESMENTE QUE ELES SÃO INSEPARÁVEIS ( EM ALGUM SENTIDO SIGNIFICATIVO). OS FÍSICOS FUNDAMENTAIS NÃO PRECISAM IMPOR QUE O MUNDO OBSERVADO É EXCLUSIVAMENTE UMA GIGANTESCA PROJECÇÃO DA "MENTE" INDIVIDUAL DO CIENTISTA, QUER NÓS ENCONTREMOS OU NÃO O PLURALISMO QUE ISSO FILOSOFICAMENTE ENVOLVE, AGRADÁVEL OU NÃO." E continua H. M. Russel: "OS "MÍSTICOS" PARECEM ESTAR IMPLICANDO QUE NO NÍVEL MICROSCÓPICO NÃO HÁ MANEIRA DE DISTINGUIR O REAL E O FANTÁSTICO SE, NA VERDADE, EXISTE, PARA ELES, QUALQUER DISTINÇÃO. ESSE CAMINHO PARECE-ME A ROTA PARA A LOUCURA. EM ALGUM PONTO, NÓS PRECISAMOS CRITÉRIOS (PARA SEPARAR A VERDADE DA FALSIDADE). TODAVIA, SE TUDO O QUE EXISTE SOU EU PRÓPRIO, COMO OBSERVADOR, QUE CRITÉRIOS PODE HAVER?"

A VISÃO ACTUAL DO UNIVERSO

Ponderámos detidamente na relutância do leitor e na sua transparente resistência em aceitar os actuais postulados da Física

Moderna, os quais estabelecem uma clara e intrínseca relação entre a Consciência Humana e os componentes do mundo atómico

microscópico. Achamo-la natural, mas ainda incompreensível para muitas pessoas, apesar do advento da Teoria Quântica ter ocorrido há mais de sessenta anos atrás (1920-1927), quando ela abalou de

forma revolucionária e insofismável as estruturas mecanicistas da Física Clássica.

Ainda hoje ela parece constituir uma inovação inaceitável e inconcebível, mesmo para muitos estudiosos, porque anula todos os conceitos cartesianos que, até então, estruturavam o Universo como um gigantesco relógio, uma grande máquina e que, distraídos, julgam ainda vigorar. Já em 1930 James

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Jeans dizia que "O UNIVERSO SE PARECE MUITO MAIS COM UM IMENSO PENSAMENTO DO QUE COM UMA GRANDE MÁQUINA".

A dúvida do Sr. Russel quanto à ortodoxa e clássica separação entre sujeito e objecto não tem já, na verdade, qualquer razão de ser, como a Física Quântica demonstrou, indubitavelmente, não "impondo" e, sim, expondo ao Homem uma nova realidade do mundo físico, realidade que é criada, fundamentalmente, pela observação humana.

Também ao aprofundarmos os componentes básicos e

microcósmicos da matéria e dos seres vivos (átomos e suas partículas) que, obviamente, incluem o Homem, não se encontram

quaisquer elementos químicos e atómicos que os diferenciem, isto é, que sejam especialmente característicos dos seres vivos e dos

objectos materiais. Todavia, é útil dizer que o Homem apenas dispõe de vinte e sete desses elementos químicos (atómicos), em seu corpo,

comuns aos reinos mineral e vegetal.

O que diferencia o Homem dos outros seres vivos e dos objectos materiais (a matéria inanimada) (além da Alma, que é um privilégio do Homem e dos outros animais, apenas), é a qualidade de Consciência (ou Mente, para simplificar aqui) que o Homem possui de forma superior e desenvolvida. No mundo vegetal e material essa consciência existe também, mas em potenciais de tal modo inferiores, que levam ordinariamente a supor-se que os objectos materiais e os vegetais não a possuam minimamente.

Essa diferença de níveis de Consciência (que evolui desde o nascimento

até à maturidade humana) é, obviamente, flagrante entre o Homem e os outros animais, mas muito mais ainda entre ele e o mundo vegetal e, de modo abissal, para as coisas materiais, à semelhança do que ocorre também com os níveis de Consciência dos próprios seres humanos que, naturalmente, são bastante desiguais entre eles. Cremos que isto ficou claro quando, anteriormente, e ao longo de sete semanas, tecemos aqui vários comentários, agrupados depois num Ensaio sob o título de "O HOMEM E A MENTE".

O espaço de que dispomos e a natureza específica da linguagem e das

experiências científicas, não nos permitem descrever aqui ao leitor as várias teorias, conceitos e postulados da Física Quântica, que mudou radicalmente a anterior visão humana do Mundo e nos afastou definitivamente da Física determinista e mecânica, resultante das concepções de Newton e dos seus seguidores.

Se o leitor tiver interesse em compreender o actual mundo em que vive e

puder gastar algumas das suas "muitas libras acumuladas" (citadas em sua carta), poderá estudar, compreender e reflectir sobre a célebre polémica entre Einstein e Niels Bohr, caracterizada pela frase contestatária de Einstein: "DEUS NÃO JOGA DADOS"; e mais ainda, reflectir sobre o "PARADOXO DE EPR" (de EINSTEIN, PODOLSKY E ROSEN), as "CONEXÕES NÃO LOCAIS", o "TEOREMA DA DESIGUALDADE", de BELL, as experiências de ALAIN

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ASPECT e de outros físicos que provaram, definitivamente, que Einstein não tinha razão em sua polémica, apesar da sua genialidade).

Assim, poderá o nosso leitor reformular, cremos, seu cepticismo ao

encontrar o "PRINCÍPIO DA INCERTEZA", ou da "Indeterminação", de Heisenberg, no conceito da imprevisibilidade do comportamento das partículas subatómicas, que é aleatório e não determinável, assim como a singular "EXPERIÊNCIA DAS DUAS FENDAS", de Young (e de Feynman): – o electrão que passa, ao mesmo tempo, por duas fendas; – a extraordinária teoria do "GATO DE SCHODRINGER", etc. Então, algum dia, compreenderá a actual visão científica do Universo.

Os místicos – em sua refutada sabedoria – e as religiões orientais – o

"Zen", o "Taoísmo", o "Vedanta", o "Yoga", etc. – sustentam há séculos a dualidade de todas as coisas da Criação e a complementaridade, unidade e interconexão de todas as partes do Todo Cósmico, assim como a ilusão ("Maya") da matéria do Universo, onde átomos, partículas subatómicas, moléculas e células, constituem uma teia de relações entrelaçadas, interactivas e nunca isoladas umas das outras.

É nesse Universo que o velho axioma "A NATUREZA TEM HORROR AO

VAZIO" se concretiza com a visão das partículas virtuais das quatro Forças Equilibradoras Universais a preencherem todo o espaço-tempo concebível.

Enquanto foram apenas os místicos e essas religiões, e não a Ciência, a

postularem esses conceitos, as pessoas de espírito racional, pragmático e cartesiano, puderam viver tranquilas com as suas convicções, porque era fácil taxar de visionários os sábios orientais, os religiosos e os místicos, e ridicularizá-los, só porque não apresentavam provas empíricas dos seus conhecimentos milenares e conceitos do Universo. Afinal, a grande maioria já endeusava a Ciência como a grande portadora da "Verdade", e só esta podia ser acreditada em decorrência da sua exegese de experimentação, repetição, demonstração matemática e provas facilmente intelectivas.

Agora que a Ciência vem confirmando as afirmações místicas e religiosas

tradicionais, as "Verdades" intuídas por alguns filósofos gregos antigos e a sabedoria antiga de velhas civilizações e das tradições Egípcia, Chinesa e Hindu, algumas pessoas, entre aquelas que podem aperceber-se disto, resistem, paradoxalmente, a crer também na "Verdade" científica Quântica, que alguns físicos geniais demonstraram (com indiscutíveis provas matemáticas) ser a "última" e, até hoje, imbatível interpretação coerente e cognoscível do Universo em que vivemos.

Talvez essas pessoas adoptem agora essa posição por a Teoria Quântica

ter coincidido (especialmente a Corrente Gnóstica de Princeton) com esses conceitos esotéricos e ocultos, trazendo uma definição de "funcionamento" da Criação Universal que sintetiza os opostos de Fé e Razão, de Conhecimento e Intuição, de Matéria e Espírito. O leitor parece-nos ser ainda uma dessas

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pessoas de ideias obsoletas ao exigir critérios de distinção, de separação, que já não existem.

Ao nível macrocósmico ainda podemos iludir-nos, mas no nível

microcósmico e elementar das partículas (que, afinal, estruturam e sustentam a teia vibratória do Universo), não há diferenças e tudo é singularmente igual. Se isso lhe parece "loucura", ela já não é somente dos sábios e dos místicos; é a "loucura" da Física Moderna, que parece ter chegado perto da Realidade Divina.

E não é só o leitor que existe como observador; tudo existe, dentro e fora

de si, interligado, conectado, mas sem que se possa dizer, como antes, que o átomo ou o electrão sejam "coisas materiais". A visão antiga de um mundo concreto, fora de si, palpável, exacto, externo ao leitor, desapareceu. O electrão é, ao mesmo tempo, tanto um "corpúsculo" ("grãozinho" material na vulgar percepção cognitiva) quanto uma "onda" (perturbação, ou vibração, que se propaga), assim como todas as outras partículas elementares. Nada é, actualmente, considerado como certo e determinado, e tudo fica no nível da probabilidade, da incerteza, do aleatório.

A distinção entre Mente e Corpo, Sujeito e Objecto, Mundo Interior e

Exterior, Essência e Substância, como muito bem intuiu Heisenberg, já não tem sustentação científica e razão de ser.

A Mente interage de forma efectiva – cientificamente comprovada – com

a natureza essencial da matéria, e o próprio conceito de um efeito precedente de uma causa foi anulado, ao perceber-se que não há regras mecânicas estabelecidas e previsíveis no nível subatómico. A ideia "fantástica" de que o comportamento aleatório e não controlável de um electrão possa influir nos "chips" de um computador e perturbar um programa, ou de um pensamento poder fazer disparar um míssil, sem intervenção humana, já existe e não é nossa.

E não é brincadeira de místicos. São postulados já comprovados da Nova

Física transformadora do Mundo que, a par da Engenharia Genética e da Biofísica, estão tocando, talvez de modo subtil, o invisível rosto de Deus.

O leitor exige critérios para distinguir a Verdade da Falsidade, o Real do

Fantástico, e atribui aos místicos a rota para a loucura. Nós, amigo Russel, não quisemos aqui basear-nos no Misticismo, mas na Ciência actual, na Física dos nossos dias, que ultrapassou em sua "loucura" a Escolástica de Galileu, o Determinismo de Newton, a própria "Relatividade" de Einstein, apesar de este ter grandemente contribuído para a Teoria Quântica que, paradoxalmente, negou, por não conseguir assumir o conceito quântico de "ACASO", ou de "INCAUSALIDADE" no mundo físico, conceito resultante da famosa interpretação de Copenhaga.

Palavras como "REAL", "FANTÁSTICO", "VERDADE", "FALSIDADE", já

não fazem sentido hoje, quando se começa a conhecer profundamente os fundamentos do funcionamento do Universo. Perceber isto, talvez exija uma

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certa abstracção e, julgamos, nunca é acessível de imediato a todos, e nem é mesmo uma questão de cultura.

Afinal, em 1900, antes de Einstein, ainda se discutia a realidade do ÁTOMO, discernido por Lêucipo e Democrito muitos séculos antes.

Os critérios da TEORIA QUÂNTICA sobre o Universo têm um defeito – o

mesmo da sabedoria mística: são inteligíveis mas não podem ser facilmente concebidos e visualizados. De resto, as grandes revoluções nas "verdades" científicas sempre passaram, fatalmente, pela incompreensão, o escárnio, o cepticismo, às vezes até pelo "Santo Ofício" e, normalmente, pela "resistência à mudança", tão característica do Ser Humano.

Devemos a um grande cortejo de heróis – e de alguns mártires – a visão que temos hoje da Criação. Platão, Giordano Bruno, Nicolau de Cusa, Kepler, Galileu, Descartes, Newton, Einstein, Planck, Bohr, Fermi, Dirac, etc., foram corrigindo ao longo do tempo as respectivas "Verdades" e os critérios de "Realidade" que lhes eram contemporâneos. Não é o trabalho nem uma fantasia de um homem mas de muitos sábios, místicos e cientistas.

Assim, esta visão actual é decorrente do conhecimento do passado e de

grandes conceitos reformadores, tais como o de a Terra não ser o centro do Universo (Copérnico), a Teoria Evolucionista (de Darwin), a confirmação científica da existência do Inconsciente no Ser Humano (de Freud), o Inconsciente Colectivo (de Jung), a Gravitação Universal (de Newton), e outros que fizeram, em suas épocas, muita gente letrada enterrar a cabeça na areia como os avestruzes, incapazes de aceitarem essas novas "verdades" em sua limitada compreensão dogmática, científica ou religiosa.

O novo Universo, amigo Russel, queiramos ou não, assenta modernamente nas Teorias de Relatividade, de Einstein, na Lei da Gravitação, de Newton – que Einstein só parcialmente modificou – e na Física Quântica, de Max Planck e Niels Bohr, principalmente.

É óbvio que a Realidade sempre ficará além de todas as teorias científicas

humanas. E a ausência de motivação moral e de visão intuitiva na Ciência não deve impedir-nos, todavia, de buscarmos essa Realidade em nosso Eu Interior.

É somente pela meditação e no silêncio transcendente do Ser Interior individual e colectivo de cada um de nós que todas as dualidades se harmonizam e que a "Indeterminação", as "Conexões não Causais", a "Curvatura do Espaço", a "Fusão do Espaço-Tempo", e outras teorias perturbadoras da nossa razão, acabam fazendo sentido.

É onde a Tese e a Antítese do Mundo encontram uma luminosa Síntese. É

aí que podemos, realmente, discernir o mistério de tudo, o "Véu de Ísis", sempre oculto e desafiador, e o sorriso omnisciente de Deus, o Alfa complacente com o Ómega da nossa ignorância.

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VITOR DE FIGUEIREDO, FRC

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ADENDA

Adenda de 1 de Julho de 2006, obviamente interessante apenas ao leitor deste livro que possa desejar ir além da resposta ao leitor, motivador deste artigo, escrito há cerca de 19 anos:

Há muito tempo que as pessoas perguntam "de que coisa é feito o

Mundo" e "qual a coisa que o mantém unido", na busca de uma definição da sua construção fundamental.

Fundamental é a palavra importante, crendo que existam blocos de

construção simples e sem estrutura e que nada tenham de inferior ou menores do que eles.

Antigamente reduziam-se as bases do nosso Mundo a elementos

fundamentais: a Terra, Ar, Fogo e Água, concebidos nas cosmogonias dos filósofos pré-socráticos.

Todavia, sabemos hoje que esses conceitos foram ultrapassados por

Democrito quando nos disse que a Realidade era constituída por Espaço e Átomos.

Mas, no avanço do conhecimento, concluiu-se que o Átomo, tido até

então como o bloco fundamental e único da construção, tinha uma estrutura menor: um núcleo denso e positivo e uma nuvem de electrões negativos em seu redor, à semelhança da Terra e seus planetas e estrelas.

Os cientistas pensaram então que o bloco fundamental seria esse núcleo,

até descobrirem que ele era constituído por protões, de carga positiva, e de neutrões, sem carga.

Estavam assim erroneamente descobertos os tijolos fundamentais do Universo, pois, afinal, protões e neutrões são compostos de partículas muito menores, denominadas Quarks.

O núcleo do átomo é dez mil vezes mais pequeno do que o átomo total e os electrões e quarks calculam-se, sem certezas, serem dez vezes menores ainda.

Todavia, talvez não sejam ainda estas partículas fundamentais e se acabe

por descobrir que estas sejam compostas por outras ainda menores. A Física procura cada vez mais outras partículas e tenta encontrar padrões universais para se saber como os blocos de construção fundamentais interagem uns com os outros.

Não quero alongar-me muito aqui, e por isso resumo aqui o Modelo Padrão, a teoria actual dos Físicos, a qual explica, como se fosse uma nova tabela periódica dos elementos, o que é o Mundo e como ele se mantém unido. Essa teoria é simples e compreensível abarcando as centenas de partículas existentes e as suas interacções, do seguinte modo:

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Vítor de Figueiredo, FRC Página 39

- 6 Quarks, normalmente designados em três pares: up/down, charmoso/estranho e top/ bottom;

- 6 Leptões, dos quais o mais conhecido é o Electrão; - Outros dois são o Muão e o Tau, com carga, mas com muito mais massa

do que o Electrão; - Os outros são os 3 tipos de Neutrinos, com massa pequena, sem carga e

difíceis de serem encontrados. Este conjunto, de Leptões, Quarks e neutrinos, formam o "Modelo

Padrão". Considere-se, todavia, que para cada partícula existe uma antipartícula;

as massas e o "spin" são iguais, mas têm cargas eléctricas opostas, resultando que cada par de partícula e anti partícula, ao encontrar-se, se aniquilam, gerando energia.

Exemplos: a anti partícula do electrão é o positrão; do protão é o anti

protão. Os Quarks têm também os anti quarks. Já sabemos que o Mundo é feito de Quarks e Leptões, falta-nos saber

como o Mundo se mantém unido. O Universo deve a sua existência á interacção das partículas

fundamentais, e essa interacção é processada pelas 4 Forças Fundamentais, que abaixo citamos.

Há quatro Forças Fundamentais no Universo: A Gravidade, A Força

Electromagnética, a Força Nuclear Forte e a Força Nuclear Fraca. Unificam-se no padrão sob o nome de Bosões. A Força Electromagnética (E-M) atrai os objectos com cargas opostas e

repele aqueles que têm cargas iguais. A partícula transportadora desta força E-M é o Fotão. Os fotões têm

massa zero e viajam sempre à velocidade da luz, em todo o espectro electromagnético de raio-X, luz visível, ondas de rádio, etc.

A Força E-M permite que os átomos se unam na formação de moléculas,

mantendo o Mundo unido, simplesmente porque os protões e os electrões têm cargas opostas.

Mas uma outra dúvida nos assalta agora: o que mantém o núcleo do

átomo, (composto de protões e neutrões unidos), sabendo nós que os neutrões não têm carga e os protões são carregados positivamente e se repelem uns aos

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Vítor de Figueiredo, FRC Página 40

outros? Deveriam explodir… A Força E-M não é suficientemente forte e a Gravidade também é fraca para os manter juntos.

É um bocadinho complicado mas para desvendarmos isso temos de saber

que os quarks dos protões e neutrões, no núcleo, além da carga electromagnética que possuem têm uma outra carga chamada COR. A Força entre partículas com Cor é muito forte e, assim, é chamada de Força Forte. As partículas transportadoras dos Hadrões (quarks grudados) são denominadas Gluões, que possuem estranhamente carga de Cor. (do inglês gluon ou do verbo To Glue, colar).

Assim, é a Força Forte que nos leva a crer que é ela que mantém os

protões e neutrões unidos no Núcleo, porque mantém os quarks juntos por terem carga de COR. A Criação previu tudo e construiu tudo para funcionar de modo maravilhoso. Mas, ainda temos de saber que há algo mais: não está explicado o que mantém o núcleo unido porque protões e neutrões são de cor neutra. Todavia, os protões são de carga eléctrica positiva.

Então? A Força Forte é forte mesmo. Ela, entre os quarks de um protão e

os quarks de outro é suficientemente poderosa para superar a força electromagnética repulsiva, o que se chama "interacção forte residual".

E Essa interacção é que mantém o Núcleo unido. Um espanto! Para abreviar, e não cansar o leitor, referimo-nos sumariamente à Força

Fraca, cujas partículas transportadoras das interacções fracas são as partículas W+, W- e a Z. As W são electricamente carregadas e a Z é neutra.

O Modelo Padrão uniu as duas interacções Electromagnética e Fraca

numa só interacção: "Electrofraca" Faz parte do modelo que mantém o Mundo unido. E a Gravidade, cuja partícula transportadora ainda não se conhece? Talvez se encontre um dia o Gravitão… É uma das interacções fundamentais e o Modelo Padrão não consegue

explicá-la correctamente, o que é um dos problemas não resolvidos, actualmente, pela Física.

Assim, ela não é incluída nos cálculos da Física, de modo que o Modelo

funciona sem explicar a Força Gravitacional.

***

VITOR DE FIGUEIREDO, FRC

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QUESTÕES DIVERSAS

CARTA A CLÁUDIA

(Publicado no "Jornal do Incrível" n.º 393, de 26/5/87)

"Quando um único Homem chega à plenitude do Amor,

neutraliza o ódio de milhões.”

(MAHATMA GANDHI)

Recebemos carta de uma leitora, apenas identificada como

CLÁUDIA, de Alenquer, a qual, curiosamente, não nos pôs nenhum

problema, talvez porque ela própria seja o problema. Sua carta

desafia mais a nossa intuição do que a nossa experiência, pois

mostra-nos apenas o pico emerso de um complexo "iceberg"

submerso.

Diz-nos Cláudia em sua carta: "O POVO PORTUGUÊS NÃO GOSTA DE PESSOAS SOBREDOTADAS. TODOS SE AFASTAM DE MIM QUANDO OS ULTRAPASSO..."

Acreditamos, cara leitora, que isso ocorra, não somente em Portugal mas em todas as latitudes. Tirando os ídolos (cantores de rock, estrelas de cinema, futebolistas, etc.), que as pessoas veneram porque se identificam com eles em suas frustradas realizações, a História mostra-nos que todos aqueles que ousaram pensar, agir e comportar-se em frontal desacordo com a maioria, os chamados "revolucionários", (e neste sentido o Cristo o foi para os Romanos, e Fariseus da sua época), foram geralmente ignorados, desprezados, banidos ou condenados pela Sociedade, conforme o contexto social, histórico, religioso e geográfico em que se manifestaram.

Assim, Cristo foi crucificado; Reich morreu na prisão; Galileu teve de

abjurar suas convicções perante a Inquisição; Sócrates, condenado, tomou cicuta; Rajneesh foi banido de muitos países; João Huss, Jacques de Molay, Joana D'Arc, Giordano Bruno, foram imolados nas fogueiras da Inquisição. A História conta-nos também inúmeros casos daqueles que foram silenciados, deportados, ou se suicidaram, por terem ousado ser diferentes da massa comum e renovado ideias e conceitos estratificados, considerados dogmáticos e inabaláveis.

De um modo geral, a Civilização não tolera os loucos, os criminosos, os

génios e, simplesmente, elimina-os do seu convívio, pois eles são incómodos e

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"anormais". Hoje, todavia, em sociedades democráticas, os "diferentes", portadores de novas verdades e teorias, conseguem ser suportados, mas são normalmente marginalizados ou ignorados, o que, de certa maneira, é uma forma de morte. O silêncio elimina as suas mensagens e frustra-os em suas realizações. A lista de poetas, artistas, visionários ou inventores que são desprezados, presos ou afastados e jamais reconhecidos, é enorme.

É óbvio que a leitora não se insere especificamente em nenhum dos casos

que citámos mas, pelo que nos conta (e isso transparece claramente da sua carta), está em sério conflito com o mundo, embora este seu mundo se possa entender apenas no reduzido contexto social e/ou familiar do seu "habitat", onde não a consideram nem valorizam.

Provavelmente (permita a nossa sinceridade), isso acontece exactamente

porque deseja ser reconhecida como superdotada e choca as pessoas ao demonstrar-lhes, com o seu amor-próprio ferido, que os "ultrapassa" no seu modo de ser e de estar na vida.

Vejamos um pouco mais da sua carta, com toda a problemática e revolta

que dela se desprende, sintomática de uma continuada frustração em seus objectivos:

"LEVEI UMA VIDA INTEIRA SEM SABER QUEM EU ERA, QUE FORÇA ESPIRITUAL TÃO FORTE, ESTRANHA E MARAVILHOSA, ME DOMINAVA DESDE A INFÂNCIA; AO MESMO TEMPO, A INTELIGÊNCIA DESENVOLVIA-SE EM MIM COM DEMASIADOS RECURSOS; IMAGINAÇÃO, HABILIDADE, PERSPICÁCIA, SENSIBILIDADE, ETC. ERA MUITO INVEJADA PORQUE EM TUDO ME DISTINGUIA DOS OUTROS. SENTIA INSPIRAÇÕES DE SABEDORIA; ISSO CAUSAVA-ME DIFICULDADES POR NÃO SABER QUAL O CAMINHO A ESCOLHER, PORQUE EM TUDO ME SAÍA MUITO BEM E CADA DIA TINHA UMA INSPIRAÇÃO DIFERENTE; SEMPRE ACHAVA TODAS AS COISAS DEMASIADO FÁCEIS. ÀS VEZES, EM MEDITAÇÕES, TINHA PENSAMENTOS FORA DO COMUM; O MEU CÉREBRO ASCENDIA DEMASIADO E EU SENTIA A LOUCURA DA SAPIÊNCIA, UM SABER DUMA FILOSOFIA E ESTAR NA VIDA DIFERENTES; E NUNCA NINGUÉM ESTEVE À ALTURA DE ME ENTENDER."

Vemos aqui que a leitora se julga única, privilegiada, incompreendida, superior e estranha a si mesma, diferente de todos. Todavia, o curioso é que estes sentimentos são alguns dos condimentos da massa em que fermentam as personalidades dos artistas, dos poetas, dos místicos, dos génios e – por que não dizê-lo? – Também dos esquizofrénicos e psicóticos, conforme a direcção para onde essa "Força Estranha" (como diria Gal Costa) é por eles canalizada, compreendida e administrada por eles. Não obstante, os "diferentes", os superiormente dotados, os portadores de mensagens cósmicas, todos esses que, involuntariamente, são privilegiados com essa consciência diferenciada da maioria, recebida com mais ou menos compreensão do seu Ser Interior, da Mente Cósmica, ou até mesmo, como Santa Teresa de Ávila, directamente da visão de Deus, todos esses – dizíamos – têm de pagar um elevado preço pela sua grandeza.

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E esse preço implica terem de "baixar" ao nível de compreensão e

consciência da maioria, não podendo pretender que essa maioria, "normal", os reconheça como maiores ou melhores. De resto, essas experiências, ocorridas em níveis superiores de consciência, jamais serão entendidas por quem não as viveu; por isso, muitos poetas, escritores, pintores e outros, foram incompreendidos e desprezados. Muitos génios só foram reconhecidos "Post mortem", e essa é também a razão por que os místicos se remetem à solidão e ao silêncio.

Fazemos estas considerações sem conhecermos a leitora e apenas

baseados nas palavras da sua única carta. Cláudia fala-nos a certa altura, da "loucura da sapiência" que sentia, e sugere-se-nos dizer-lhe que a fronteira entre a superconsciência, atingida por alguns homens, e a esquizofrenia, é uma ténue parede de papel onde é perigoso encostar-se. E há uma diferença fundamental: santos, místicos e esquizofrénicos fazem a "viagem" ao distante e desconhecido "planeta" da Luz e da sabedoria maiores. Só que os santos e místicos voltam sãos, conscientes, ao mundo comportamental "normal" de todos nós, mas os esquizofrénicos não. Estes ficam pairando por lá, Deus sabe onde, com suas asas de papel colorido.

Diz, finalmente, a leitora:

"CANSAVA-ME DA ROTINA; SEMPRE TINHA NOVAS IDEIAS E NÃO SABIA QUAL SERIA A MINHA ESCOLHA NO FUTURO. CERTO DIA, ISOLEI-ME DURANTE ALGUM TEMPO, FIQUEI DOENTE E DESCOBRI O MEU CAMINHO, A MINHA VOCAÇÃO (PREDITA) E, APESAR DE TUDO, NÃO ERA A INTELECTUALIDADE, ERA ALGO DE UMA ENORME RESPONSABILIDADE E SACRIFÍCIO, E ERA A RESPOSTA A TODO O MEU VIVER DESDE A INFÂNCIA, A QUAL DESEJO CONTAR. ESCOLHI ESTE JORNAL COMO PRIMEIRO A DAR ESTAS INFORMAÇÕES; SE DENTRO DE DIAS NÃO OBTIVER RESPOSTA, OBVIAMENTE, PROCURAREI OUTRO."

Queremos – com a honestidade que sempre usamos – dizer à leitora,

mesmo desconhecendo qual o tipo e amplitude da experiência a que aludiu e em que grau de consciência ela ocorreu e, ainda, sem sabermos se ela cabe ou não nesta Secção (em extensão e natureza), porque é difícil tentar transmitir ao próximo experiências pessoais do foro psíquico. As pessoas não as compreendem e assim, obviamente, não as podem acreditar como possíveis.

Aceitámos comentar hoje o tema da sua carta porque a leitora disse no

seu início: "PENSO QUE ESTE ASSUNTO SERÁ INDICADO PARA O SR. PROF. KHEOPS".

Desvanece-nos a sua confiança e consideração e, porque gostaríamos de

ajudá-la, aqui estamos. Contudo, o teor final da sua carta parece envolver a necessidade de uma longa narrativa ou de uma entrevista pessoal e, se assim é, opinamos que se dirija, no futuro, directamente à Direcção do Jornal ou mesmo, como pensou, a outro Jornal.

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Parece-nos (e esperamos que não se fira com a nossa sinceridade) que,

mais importante do que a possível "revelação" que tenha recebido, é o conflito (que transparece das suas palavras) existente entre si e os outros. E é evidente que ele a torna uma pessoa deprimida, ansiosa, e também isolada e angustiada. Por um lado, parece-nos que a leitora não soube até agora (através da introspecção, da reflexão e da intuição) descodificar com clareza e serenidade as mensagens do seu "Eu Interior", do subconsciente que a liga ao Todo Cósmico, ficando objectivamente confusa e desorientada; por outro lado ainda, não soube ou não pôde encontrar o auxílio de alguém qualificado, ou de uma Instituição Mística ou Espiritualista, para lhe possibilitarem a orientação adequada quanto ao tipo de experiências que lhe foi dado viver.

A nossa experiência diz-nos que aqueles que se percebem como

superdotados, plenos de sabedoria e evoluídos interiormente (e isso pode ocorrer, quer pela percepção objectiva de experiências subconscientemente acumuladas em vidas passadas, quer por "iluminação" ocorrida em súbito contacto com a Mente Divina (o que é caso raro), não competem com os semelhantes, ajudam-nos; não tentam "ultrapassá-los" nem lhes suscitam inveja ou discórdia; acompanham-nos e comportam-se como iguais a eles; são humildes (sem se humilharem), e compreensivos para com eles (sem ostentação), tolerantes (sem superioridade) e amorosos (sem esperarem retribuição).

Estas são as facetas básicas dessas personalidades evoluídas, que são

empáticas com o sofrimento, a luta pela vida e a miséria humanos (que também conhecem bem); e são também pessoas que, geralmente, são simples como as crianças, amam a Vida e a Criação, compartilham com todos seu conhecimento, experiência e amor (se possível, impessoal e anonimamente). E estão em paz consigo mesmos e com o Mundo, pois sentem Deus em seu coração e têm consciência de estar servindo a sua obra, ao nível mundano.

Nossas palavras são para dialogar com a leitora, tentar entendê-la e não

julgá-la. A leitora não está só, se souber interrogar a sua Mente e orientar-se com aqueles que já subiram o "Gólgota" da dura experiência de viver. E pode também pedir a Deus (como O conceber) que a ilumine, em suas dúvidas quanto ao objectivo da "revelação".

Se a leitora foi realmente abençoada com a Sabedoria Cósmica, com uma

revelação superior e com talentos e virtudes que não são concedidos a todos nós, perguntamos: O que fez com eles? Já os compartilhou com os menos favorecidos que tacteiam no escuro? Usou-os para o autodomínio da sua existência e para tornar o Mundo melhor? Transformou-os em Bondade, Serviço e Amor, e distribuiu-os pelos carentes e solitários? É isto que é necessário para ser coerente com a distinção Cósmica se esta lhe foi realmente concedida.

Costuma dizer-se que Deus nunca dá aos Homens uma cruz tão pesada

que eles não possam carregar. Nas suas palavras, a leitora parece-nos não querer aceitar a possível "missão" de responsabilidade e sacrifício, segundo nos

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diz, como se o seu cumprimento implique alguma perda ou renúncia a uma vida normal de compensações mundanas. É neste aspecto que opinamos que uma "missão" ou tarefa de natureza invulgar que lhe tenha sido cometida pela Mente Cósmica, jamais poderá ser um sacrifício. Antes, deverá ser entendida pela leitora como um privilégio que é necessário compreender e cumprir, não só porque ela faz parte, cremos, da evolução pessoal da sua Personalidade-Alma, como da grande tarefa que a todos cabe mas só alguns empreendem, a de aperfeiçoamento do Mundo em que vivemos.

Amiga Cláudia: Lembre-se de que é conforme plantamos que nós

colhemos. Como dizia S. Francisco de Assis, "Não pode ser-se compreendido sem compreender. Não pode ser-se amado sem amar". Nada se recebe sem, primeiro, doar. O Mundo, como nós o vemos, é somente uma projecção do que somos. Esqueça-se de si e dê ao próximo todo o Amor que haja em sua alma. Assim, como disse Gandhi: "NEUTRALIZARÁ O ÓDIO DE MILHÕES". Tornará o Mundo mais humano. Simplesmente, como faz a Madre Teresa de Calcutá: AMANDO O PRÓXIMO COMO A SI MESMA.

***

VITOR DE FIGUEIREDO, FRC

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LOBSANG RAMPA – A HISTÓRIA

(Publicado no "Jornal do Incrível" n.º 386, de 7/4/87)

Um dos aspectos éticos que devem ser observados pelos adeptos de Misticismo – na busca humilde e sincera do seu encontro directo

com Deus, que concebe imanente em si mesmo e em toda a Criação – é "NÃO JULGAR".

De um lado, qualquer julgamento, crítica ou juízo do semelhante sempre

será parcial, pois é impossível a alguém que tenha de julgar o próximo, mesmo com espírito da mais rigorosa isenção, poder dispor de todas as informações e coordenadas intrínsecas às razões objectivas e subjectivas das acções e reacções de outro ser humano.

Por outro lado, qualquer julgamento impõe, implicitamente, a

impossibilidade de compreendermos o comportamento dos outros em sua própria realidade, condicionados que estamos a apreciá-los em nossa visão pessoal, subliminar, com os nossos olhos e a nossa consciência; isto é, julgando-os, não como eles são e se comportam mas, como nós somos e nos comportaríamos nas mesmas condições. Neste sentido, toda a crítica e avaliação do outro é uma extensão de nós próprios, pelo que a justiça humana, autêntica, é impossível.

Por isso, hesitámos em responder ao leitor Inácio S. Moura, de Vila Nova

de Gaia, que nos apresentou a seguinte questão: "É T. LOBSANG RAMPA uma pessoa de crédito ou não passa de um

embusteiro? Sempre gostei dos seus livros (foi através deles que entrei no mundo da Parapsicologia), mas desde há uns tempos que os deixei de ler, depois de algumas afirmações negativas a seu respeito".

Em resumo, o que o leitor nos solicita é um juízo que, em nossa

interpretação, parece conter dois aspectos básicos: a) Autenticidade de T. Lobsang Rampa como sacerdote Lama do

Budismo Tibetano; e b) Autenticidade do conteúdo místico-religioso da sua obra, baseada nas

práticas e doutrinas do Budismo do Tibete. Antes de nos pronunciarmos sobre estes aspectos, parece-nos necessário

que o leitor compreenda o seguinte: É de acordo com o estágio evolutivo individual, e seu consequente senso

de valores, que as pessoas buscam e encontram (no processo de realização das suas motivações interiores), os livros, os amigos, as religiões, as ideologias, o

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conhecimento, entre as mil opções que fazem em sua vida. Tudo é, afinal, resultado da busca subconsciente das coisas que têm ressonância e empatia com aquilo que sentem e que interiormente são. Citando de cor ERNEST HEMINGWAY, dizia ele num dos seus livros, mais ou menos o seguinte: "O que acontece às pessoas não é o que elas desejam ou merecem, é o que se assemelha com elas".

No grupo daqueles que buscam o insólito, o transcendente, o Esotérico,

por íntimo imperativo da sua consciência, a grande maioria parte sozinha, desaconselhada, indecisa e inocentemente ignorante nessa aventura. (Aqueles que acreditam em reencarnação dizem que sempre temos de continuar o aprendizado anterior, de voltar à mesma estrada, já em parte percorrida). Assim, quase todos começam da mesma maneira, geralmente através dos livros, e sua natural falta de preparação e de orientação leva-os também à procura de literatura do género, de "linguagem" mais fácil e sensacional.

É quando encontram os livros de Lobsang Rampa. É o chamado "mal

necessário", considerando a escuridão do túnel do conhecimento espiritualista e metafísico, área que o Ocidente mantém mal iluminada e de trânsito difícil, sobretudo em alguns países mais atrasados da Europa.

"Quem não passou por Lobsang Rampa que atire a primeira pedra...",

dizia um assistente numa palestra nossa, e com óbvia razão. No início da nossa "caminhada" temos, com inocência e heroicidade, de

bater em muitas portas erradas, subir penosamente as vertentes da montanha da Luz, sem certeza alguma de acharmos, algum dia, o "pico" confortável ou a porta "certa" para nós, já que não existe qualquer "Céu" ou "Paraíso" seguros e adequados para todos. As raras setas indicativas do "caminho" são pouco visíveis, e qualquer atalho sempre parece – em nossa pressa de chegar à "Verdade" – a senda óptima. O problema é que sempre obtemos – na inflexível Lei de Causa e Efeito, motor da evolução – não o que desejamos, mas aquilo que, no momento, se parece com o que somos. É só na medida do esforço e da persistência que as "lanternas" começam a surgir e a aclarar o caminho.

Um pouco de humor, se me permite: um amigo nosso, brasileiro, que

praticava o Budismo Zen e dava sempre um "show" de humor em suas palestras, foi inquirido uma vez por uma senhora (que lhe disse ser leitora de Rampa e que ele, Rampa, lhe ensinara tudo e a preenchia totalmente) perguntou-lhe se ele via algum inconveniente nisso. E ele, então, respondeu-lhe:

"Bem, mais vale ter mau hálito do que não ter hálito nenhum... Ainda

pode tratar-se!" Se o leitor duvida que Lobsang Rampa seja um Mestre autêntico é porque

já o ultrapassou, já saiu dessa trilha, desse degrau necessário no rumo do conhecimento, para se encaminhar na direcção de uma Religião, de uma Organização ou Ordem Mística, ou mesmo de outro autor ou autores que estejam de acordo com a sua actual e última necessidade de conhecimento.

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Não queremos frustrar o nosso leitor sem lhe darmos uma resposta

menos pessoal e mais objectiva. Todas as informações que colhemos ao longo do nosso aprendizado sobre o autor referido, mormente no Brasil, e até em Instituições Budistas que frequentámos como visitantes, apontaram-nos sempre e conclusivamente para as seguintes conclusões:

a) De Lobsang Rampa nunca ter sido, como indivíduo físico e psíquico,

na encarnação terrena em que produziu seus livros, um Monge Lama Tibetano; b) De ser incrível e mesmo ridícula a ideia de que Cyril Henry Hoskins,

(também conhecido como Dr. Kuan, ou Carl Kuansuo), tenha "incorporado", como adulto, a Personalidade-Alma de um Sacerdote Lama Tibetano, chamado T. Lobsang Rampa, nome com o qual Cyril iniciou a sua obra;

c) De Cyril ter sido, pura e simplesmente, filho de um modesto

canalizador, nascido e criado numa pequena cidade do interior de Inglaterra, o qual, tendo pesquisado sobre o Budismo Tibetano, decidiu escrever sobre o assunto. Desempregado e pressionado por dificuldades financeiras, apresentou a um editor, então, o livro "A Terceira Visão" (The Third Eye), que se tornou um "best-seller".

Para nós, que acreditamos firmemente na reencarnação, seria aceitável que, no seu nascimento, Cyril tivesse recebido a

Personalidade-Alma de um sacerdote Lama que tivesse sido na existência anterior, de cuja consciência e sabedoria viria a beneficiar

para a obra que mais tarde faria. Infelizmente, não foi isso que ocorreu nem o que Lobsang Rampa disse. Sustentou firmemente a

justificativa de que a alma de um Lama se apossara do seu corpo físico, quando adulto, tomando a sua individualidade, fenómeno que

intitulou, obviamente, de "Transmigração". Seria injusto omitir ou negar o mérito que coube a Lobsang Rampa, como

autor de vários livros (fosse ele quem fosse), os quais, à sua revelia, contribuíram, na época, de modo acessível e popular, para a divulgação de vários assuntos esotéricos e metafísicos e despertaram o interesse de milhões de pessoas para o foro espiritualista.

Mais seriamente, é o mesmo mérito que creditamos ao livro "O Despertar

dos Mágicos", de Louis Pawells e Jacques Bergier, e às obras de Dale Carnegie, Joseph Murphy, Vernon Howard, Rhine e, mais recentemente, a Og Mandino, além de outros autores que foram pioneiros na implantação do Mentalismo Positivo, no Domínio da Mente sobre a Matéria, na Parapsicologia, etc.

Visando uma indispensável exegese mística e esotérica, não seríamos

honestos com os leitores se omitíssemos a nossa opinião sobre o perigo – para as pessoas sem cultura mística e sem experiência selectiva – de certas práticas tratadas por Rampa nos seus livros. Mormente da incorrecta e superficial apresentação de alguns ensinamentos nas suas obras, emergentes de um nítido

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objectivo de êxito comercial e sensacionalismo, os quais visaram insensatamente satisfazer um público consumista ainda não exigente e pouco esclarecido.

Das correntes importantes do Budismo – o Mayana, o Hinayana e o Zen

– o Vajrayana (Lamaísmo, ou Budismo Tibetano) é o mais completo e profundo sistema Budista. Que nos conste, nem os Dalai Lamas, seus chefes espirituais, nem mesmo os Lamas, escreveram livros, mesmo enquanto seu sistema de governo religioso não foi perturbado e eles puderam viver tranquilamente em seus mosteiros no Tibete.

Conhecemos apenas uma obra oriunda do Tibete, que remonta a um

antigo manuscrito em poder dos monges desde o ano de 732 e que, depois de traduzido para o Chinês com permissão especial do Dalai Lama da época, foi posteriormente traduzido para Inglês, em 1749, e publicado na Inglaterra em 1760. Esta obra parece ter sido escrita pelo Faraó Akhnaton (Amenhotep IV) do Egipto, entre 1360 e 1350 antes de Cristo. Seu título é: "A Vós Confio...". É uma verdadeira Bíblia de ensinamentos místicos. Uma obra rara e iluminada.

Julgo interessante, agora que o Budismo está muito divulgado no

Ocidente, esclarecer um pouco mais sobre ele. Actualmente é considerado dividido entre duas grandes correntes, que decorreram do cisma ocorrido cem anos depois da morte de Buda, em 380 AC: a "Theravada", denominada "Escola dos Anciãos" ou "Veículo Pequeno" (Hinayana), e o Mayana, o “Veículo da Solidariedade” ou "Grande Veículo".

Basicamente, a Theravada, (ou Hinayana), considera-se mais exegético e

original, como sendo um caminho de salvação individual e auto-redenção, cabendo a cada discípulo, leigo ou monge, responsabilizar-se pelo seu desenvolvimento religioso e ético. Todavia, apenas os monges poderão chegar à sua salvação.

Todavia, a corrente Mayana concebe e acredita que todos os crentes

poderão alcançar a redenção, monges ou leigos, pois considera o Buda como o verdadeiro salvador, enquanto no Hinayana Buda é somente um ideal, uma Luz para o alcance do Nirvana. O Mayana segue o exemplo de Buda que renunciou a alcançar o Nirvana (Iluminação ou Consciência Cósmica) que, não obstante, atingiu, por compaixão com os semelhantes, sendo hoje muito diferente do Budismo Hinayana na sua filosofia e prática.

É especialmente interessante o estudo do Budismo, pela diferença entre

estas duas correntes, no que respeita à sua visão intrínseca sobre a Lei do Karma, estudo que o espaço não nos permite explicar neste artigo.

Acrescentamos, apenas, que nas últimas décadas houve um interesse

especial sobre dois movimentos desencadeados no interior do Mayana, o Vajrayana tibetano, ou Lamaísmo, (Veículo Diamante), que decorreu da fusão com a religião local, a Bon, e o Zen Japonês (meditação) muito mais disseminado no Japão de que na China.

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Os autores ocidentais que estudaram profundamente o Budismo são

raros, até hoje. Destacamos Allan Watts, teólogo inglês e D. T. Suzuki, um japonês que escrevia em inglês, os quais divulgaram o Budismo Zen no Ocidente. O Lamaísmo foi divulgado por Evans-Wentz e Alexandra David-Neel, esta de origem francesa, a única mulher que, (com excepção de Madame Blavatsky, co-fundadora da Teosofia), viveu com os Lamas e foi iniciada por eles; suas obras são autênticas e importantes sobre o Budismo Tibetano.

Depois da ocupação do Tibete pela China Marxista, em 1951, da fuga do

Dalai Lama e de alguns Lamas para a Índia, em 1959, e depois de muitos monges terem vindo para o Ocidente, alguns deles fundaram Instituições Budistas na Escócia e Estados Unidos, como o "Nyingma Institute". E então escreveram alguns livros sobre o Budismo. Que saibamos, Lobsang Rampa não foi nenhum deles e não esteve ligado às Lamaserias ou às organizações budistas, quer no Tibete quer na Escócia ou nos Estados Unidos.

O próprio Dalai Lama, em 1972, questionado por um jornalista

canadiano, esclareceu que nem Lobsang Rampa nem seus trabalhos literários mereciam qualquer crédito, por serem fruto de imaginação e ficção do autor.

Terminamos com a nossa opinião particular de que Cyril Hoskins – ou

Carl Kuansuo – ou Dr. Kuan – ou, finalmente, Tuesday Lobsang Rampa – pagou um preço caro para tornar verosímil a sua personagem de monge Tibetano, em termos de saúde, intranquilidade e frustração, lutando a vida inteira contra os cépticos e mantendo um obsessivo conflito com os jornalistas de todo o Mundo que, sem lhe darem tréguas, procuraram desmascará-lo.

Escondendo-lhes as mil facetas de sua vida aventurosa, tentando impor

uma coerência impossível para as inúmeras justificativas e contradições quanto à sua verdadeira identidade, isolando-se e tornando-se amargo, distante, auto-suficiente e cínico, Lobsang Rampa descoloriu e ofuscou o flagrante valor divulgador e pioneiro da sua obra, para um público carente de conhecimento místico, na época, não obstante a sua duvidosa legitimidade e as imperfeições que a enfermam.

Todavia, "Quem não passou por Lobsang Rampa que atire a primeira

pedra..."

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VITOR DE FIGUEIREDO, FRC

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"VIAGEM ASTRAL"

(Publicado no "Jornal do Incrível" n.º 373, de 6/1/87)

"Li, em parte, um livro sobre "VIAGEM ASTRAL" mas não compreendi bem a técnica. Poderá o Prof. Kheops esclarecer-me?"

Marcos Costa Barata – Setúbal

Amigo leitor: Há bastante literatura sobre "Viagem Astral"; infelizmente,

e quase na generalidade, ela é bastante carecida de fundamentos sérios, por tudo o que conhecemos. Ainda bem que o leitor não foi levado a fazer a experiência, como já ocorreu com várias pessoas, as quais, ao que sabemos, se perturbaram em certo grau.

É claro que cada pessoa tem o livre arbítrio de escolher os livros que

deseja, ou a que é impelido em razão do seu estágio de conhecimento, motivo porque não citamos aqui os livros que consideramos úteis ou francamente prejudiciais e mesmo perigosos sobre o tema, e também porque não desejamos servir alguém com prejuízo de outrem. O ideal é que o leitor e outros interessados se documentem mais profundamente sobre o assunto numa "Escola" idónea, mística, pois a prática da denominada "Viagem Astral" sem orientação adequada pode, realmente, ser perigosa, em nossa opinião.

"VIAGEM ASTRAL" é uma designação popular, e mesmo demasiado

vulgar, para uma experiência mística séria, que pode ser aprendida devidamente e correctamente praticada, e neste caso sem perigo. Não lhe recomendamos aqui nenhuma Instituição porque não desejamos fazer distinções nesta Secção. Mais correctamente, vamos designá-la por " Projecção Psíquica", "Desdobramento Psíquico" ou "Projecção do Corpo Astral".

Atendendo à simplicidade intencional com que desejamos explicá-la aqui,

ela consiste numa técnica – ou método – que permite ao interessado projectar – voluntária e conscientemente, note – a sua parte psíquica (corpo psíquico, consciência) separando-a do Corpo Físico.

Poderá, então, "viajar" para onde lhe aprouver, com plena consciência,

embora subjectiva, de tempo e espaço, e das impressões e resultados da experiência de sair do corpo físico, interpenetrar as coisas materiais com a sua substância imaterial, voltar ao corpo quando quiser, etc.

Esta experiência, transcendente em sua natureza, obviamente, não pode

aprender-se em livros (embora não haja mal em somente lê-los), nem deve levar à prática da projecção com base nos seus ensinamentos.

O aspecto mais importante é o do Corpo Físico dever permanecer sempre

ligado ao Corpo Psíquico pelo chamado "Cordão de Prata", o qual, quebrando-se acidentalmente na "Viagem", impossibilitará o praticante de se reincorporar ao

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Vítor de Figueiredo, FRC Página 52

Corpo Físico. Obviamente, isso significa a "Morte", pois é, afinal, em outras palavras, uma Alma que se desprendeu do seu Corpo, como ocorre na "Morte" natural ou resultante de acidente, doença, etc.

Estamos convencidos de que uma grande maioria de pessoas faz

"Projecções", inconscientemente, durante o sono e, por isso achamos perigoso acordar-se alguém abruptamente. Também ocorre que a maioria das pessoas confunde as suas "Projecções" com sonhos quando, ao acordar, se recorda deles. A diferença é que, geralmente, as "Projecções" deixam impressões e sensações mais vivas e nítidas na consciência objectiva do que os sonhos, e causam um certo mal-estar, como dores de cabeça, enjoos e tonturas, quando são acordadas, por exemplo, pelo relógio despertador, por um ruído forte, súbita luz intensa no quarto ou movimentos do cônjuge. E isto acontece porque o Corpo Psíquico não pôde ajustar-se em tempo necessário e naturalmente ao Corpo Físico.

Afinal, é a Alma que possui um Corpo e não o contrário, pelo que é

perfeitamente natural que o seu atributo, a Consciência, não necessitando de renovar energia, como acontece com o Corpo Físico, possa, mesmo sem um desejo objectivo manifestado pelo praticante, permitir-se a experiências, cuja razão exacta não conhecemos mas podemos supor ser a de completar o seu aprimoramento, que o Corpo Físico normalmente veicula e possibilita mas com algumas limitações.

Certos místicos avançados "trabalham" com o Corpo Psíquico durante o

descanso e recuperação de energia do Corpo Físico, não só praticando voluntariamente a "Projecção" mas também induzindo o Corpo Psíquico a fazê-la autonomamente durante o sono.

Para terminar, há uma ética rígida e uma responsabilidade cármica para

a violação desta ética na prática da "Projecção", pelo que o estudante, devidamente encaminhado, só chega a fazê-la com perfeito controlo quando se sente preparado pelo merecimento e evolução pessoal do seu Ser Interior.

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VITOR DE FIGUEIREDO, FRC

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Círculo do Graal

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SÍNTESE

(Publicado no "Jornal do Incrível" n.º 412, de 6/10/87)

"Na sua visita a diversos planetas, o Pequeno Príncipe chegou ao mais pequeno de todos: um planeta onde só cabiam um lampião e

um homem que o acendia. Um planeta estranho, que parecia não ter qualquer serventia". "Talvez este homem seja mesmo absurdo. Todavia, é menos absurdo do que o Rei, o Vaidoso, o homem de negócios, o bêbado. Seu trabalho, pelo menos, tem um sentido.

Quando acende o lampião é como se ele fizesse nascer mais uma estrela, mais uma flor. E quando o apaga, contudo, é uma estrela ou uma flor que adormecem. É uma bonita ocupação. E é útil porque é

bonita."

(A. SAINT-EXUPÉRY – " O Pequeno Príncipe")

Ao longo de quarenta e três semanas estivemos aqui, disponíveis às cartas dos leitores, cumprindo uma Secção de Correspondência que, no género, supomos ter sido, até agora, única e original em jornais portugueses. Devemo-la ao "Jornal do Incrível", por ter acreditado em nossa proposta, e também aos leitores que a tornaram possível com suas cartas, dando-lhe razão de ser e continuidade. Agora, no momento em que decidimos suspendê-la para nos concedermos um tempo de pausa e reflexão, agradecemos à Direcção deste Jornal a confiança que em nós depositou e todo o apoio que nos deu para a existência de "A Vista da Pirâmide", assim como aos leitores que nos honraram com a sua correspondência e nos acreditaram como portadores de conhecimento e suficiente experiência para com eles dialogarmos em suas dúvidas.

Alguns leitores questionaram-nos ultimamente sobre o nosso idealismo,

neste Mundo conturbado, e sobre essa experiência, segundo eles, incapazes de detonarem qualquer espécie de desejável e mínima transformação da sociedade, rotulando-nos de "D.Quixote" aventureiro nas coisas do espírito e da vida, esgrimindo, não contra "moinhos de vento" mas, contra o materialismo, o egocentrismo e o racionalismo do Homem actual, de maneira utópica e vã.

Na verdade, não criámos esta Secção com a intenção de convencer ou

influenciar quem quer que fosse à nossa "verdade". Sabemos que só podem ser "despertos e "tocados" aqueles que têm ouvidos para ouvir e olhos para ver. As pessoas acreditam naquilo que podem ou querem acreditar e nada pode ser feito em contrário, pois cada uma delas é aquilo que pensa e sente, e toma como "verdade" o que pode compreender, o que faz da "Verdade" uma coisa absolutamente relativa e pessoal.

Vai longe o tempo do nosso idealismo, do desejo de converter os outros à

nossa maneira de ver o Mundo e de pensar a Vida, quando, nos cafés, nas redacções dos jornais literários ou nas esquinas de rua, noite dentro,

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discutíamos Nietzsche, Florbela Espanca, Camus, Sartre, Guerra Junqueiro ou Fernando Pessoa, em nossa roda de jovens, pintores e poetas sonhadores. Chamavam-nos, jocosamente, então, o "Salvador da Humanidade", porque críamos no valor da bondade, da dignidade, do amor ao próximo, e tentávamos pôr em prática nossas ideias e convicções.

Vai longe o tempo em que vivíamos, com outros idealistas, numa velha

casa do Areeiro, fazendo poesia, tecendo sonhos de Fraternidade e reforma do Mundo, e grandes e utópicos projectos de lares para as crianças pobres deste país, estudando e nos deslumbrando com o Espiritismo, de Allan Kardec, o Rosacrucianismo, de Max Heindel, as filosofias de Spinoza, de Platão, Sócrates, Hegel, descobrindo Kafka e Rimbaud, Verlaine e Maeterlink, Marcel Proust, a "Beat Generation", Saroyan, Pappini, etc.

Longe vão os longos dias a escrevermos contos e poemas para modificar o

Mundo com a nossa mensagem de revolta, pela injustiça, o desamor, a dualidade da riqueza e da miséria, a opressão e exploração do povo humilde e inculto, pelo direito à liberdade, que levava à prisão e ao exílio, quando líamos Redol, Sebastião da Gama e Soeiro Pereira Gomes, às escondidas.

Não somos saudosistas. Aprendemos que viver do passado é alimentar

neuroses. Aprendemos, também, que não existe futuro nem passado. Que o futuro é sempre hoje e sempre o resultado fatal do que fizemos, sentimos e pensámos ontem, e que só a consciência dos erros nos permite ir acertando, cada vez mais, ao longo dos dias, se pudermos manter a serenidade e a lucidez. E aprendemos sempre com os outros, vivos ou mortos, dialogando com os vivos ou lendo e repensando as suas experiências, lutas, conquistas, fracassos; e que não há outra maneira de aprender senão com eles e com as nossas próprias experiências, de acerto e erro, de vitória e derrota, de riso e de lágrima, quando sobre elas reflectimos e quando conseguimos sentir o êxito sem orgulho e o fracasso com serenidade e humildade. Ambos fazem parte do nosso crescimento e são efémeros e transitórios.

Aprendemos que todos os pensamentos e sentimentos negativos se

voltam contra nós como "boomerangs" implacáveis, e só nos oprimem e reduzem, enquanto os positivos nos libertam, expandem, melhoram-nos e auxiliam a Humanidade a crescer e a evoluir, pois o Todo se torna sempre maior do que a soma das partes.

Aprendemos, em quatro Continentes, que uma só vida é curta para nos

realizarmos e limarmos todas as arestas do carvão bruto que somos, mas que, através de muitas encarnações, chegaremos a ser o diamante límpido em que temos de tornar-nos, queiramos ou não. Por isso, não tememos a "Morte"; ela não existe, a não ser como uma inevitável transição de plano, para podermos despir a veste gasta do corpo e vestirmos uma roupagem nova, que nos permite continuarmos o nosso aprendizado, a auto transformação, o caminho que levará à sabedoria e perfeição, neste Planeta de provas e desafios, que testa a nossa capacidade diária de perdão, de compreensão, de tolerância e de amor.

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A experiência nos ensinou que teremos de reduzir em cada dia o Ego para fazer desabrochar mais o "EU", pelo conhecimento, pelo domínio dos sentidos, pela expansão da Consciência, pelo desabrochar lento da ROSA que é a nossa alma, em nosso interior, enquanto carregamos a CRUZ que, pouco a pouco, será mais leve. "É O TEMPO QUE PERDEMOS COM A NOSSA ROSA O QUE TORNA A NOSSA ROSA IMPORTANTE", dizia Saint-Exupéry. É preciso que a alimentemos com LUZ em cada dia. É preciso que a reguemos diariamente, se necessário mesmo com as nossas lágrimas, para que floresça cada vez mais.

Aprendemos, em quarenta e cinco anos de reflexão, que tudo no Universo

está interligado – pessoas, árvores, coisas, animais, flores, e que todo o atentado às coisas da Criação, toda a violência contra a Natureza, toda a violação ao direito humano de estar e de ser, se reflecte em nós e no Todo em que existimos, como passos para trás na caminhada evolutiva do Universo. Um "Fio de Ariadne" invisível liga tudo ao Todo, e o Todo ao Arquitecto Cósmico que pensou o Universo e o fez existir no ponto Alfa de si mesmo; é o Rosto que jamais poderemos ver, subjacente à Realidade, que jamais poderemos conhecer aqui, em sua plenitude, o insondável mistério que nenhuma Ciência, Religião ou Filosofia conseguirá, alguma vez, definir com exactidão. Se alguém O conheceu jamais o pôde descrever.

Aprendemos, em várias latitudes, que todas as Filosofias, Teorias

Científicas, Teologias e Cosmogonias Místicas e Religiosas, interpretações políticas, sociológicas, económicas e humanistas, se aproximam da realidade do Homem e do Universo e da interacção Cosmos-Homem, umas mais e outras menos, mas nenhuma, até hoje, definiu a Verdade da Criação, do Universo, do Homem e de Deus.

Cremos na Reencarnação, no Carma e na Evolução, como Leis Sábias,

entre as leis naturais que regulam o equilíbrio e perpetuidade do Todo. Cremos na dualidade de todas as coisas, na sua complementaridade e na sua invisível relação, como os Místicos e os Orientais sempre disseram e a Física Quântica demonstrou, ao nível microcósmico. Se tudo na Criação está em eterna e cíclica mutação, como é possível querer reduzir o Homem e sua Alma a Nascimento e Morte?

Acreditamos, pois, numa Justiça Imanente e Divina que nos iguala a

todos em responsabilidade para connosco e para com os seres vivos e as coisas da Natureza, e que, não nos punindo, nos leva ao aperfeiçoamento gradativo, à evolução da nossa Consciência, à integração cada vez maior com o Todo, à harmonização com tudo e todos os que povoam este Planeta e o Universo. Um dia, perceberemos todos, em nós mesmos, a mesma imagem suprema de Deus, porque então saberemos que podemos criar, transformar e amar como Deus.

Aprendemos ainda que as descobertas de todos os grandes génios da

Humanidade não são maiores do que o Mistério da simetria de um cristal, da "sabedoria" de um electrão que "conhece" a posição de outro electrão e se comunica com ele, e que a Gravitação, de Newton, a Lei da Relatividade Geral ou da Equivalência de Massa e Energia, de Einstein, o Princípio da Incerteza, de

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Heisenberg, os "Quarks" (Tijolos do Universo), de Murray-Gell-Mann, e outras "verdades" são, até agora, brilhantes interpretações da Realidade, mas não a própria e indecifrável Realidade deste Universo incausado e eterno.

A experiência, e não o idealismo, nos levou a concluir que nem a

"Sincronicidade", nem os Arquétipos e Mitos, de Jung, nem as tentativas biológicas de imitação do início da vida e das mutações genéticas, nem o ADN e sua dupla hélice, como computador da vida, são maiores do que o vermelho das papoilas, os desenhos simétricos e coloridos das asas das borboletas, a organização das formigas, o voo de certa classe de abelhas que, segundo a Aerodinâmica não podem voar, mas voam. E "sabemos" que todo o avanço científico e tecnológico da Informática, da Genética, da Robótica e da Máquina Bélica da Guerra nas Estrelas, dos foguetões espaciais e das centrais nucleares, não são mais importantes do que o gosto de um beijo de amor, o voo parado de um beija-flor, a perfeição de uma rosa ou de uma gota de orvalho, na manhã; e não são mais surpreendentes do que o sorriso de uma criança ou de uma lágrima de Mãe, feliz quando vê o milagre de uma célula espermatozóide fundida com a célula do seu óvulo, chorar e abrir os olhos, a seu lado, na brancura de um lençol que reúne todas as vibrações das cores do arco-íris.

Afinal, pensamos que a fome, o desamor, o egoísmo, a violência, as

armas, a droga e a Sida são o nosso Apocalipse diário. O Sol permitirá ainda cinco mil milhões de anos de vida na Terra para aprendermos mais, aqui, mas sempre haverá outros planetas para continuarmos e nos tornarmos, realmente, Homens-Irmãos. Até lá, os "Titanics" vão afundando, os "azuis" vão matando os "verdes" em nome das ideologias, das religiões ou dos interesses, os "Challenger's" vão caindo, os Governos passando. Guerras, ódios, civilizações, acabam. Estamos aqui, deixamos de estar, depois voltamos. As Bíblias, os Upanishades, os Alcorões, os Poetas, os Místicos, tentam explicar-nos e fazer-nos melhores. Mas só o conseguiremos pela expansão da nossa Consciência e anulação do Ego. O Homem e o Universo permanecem, como essenciais, enquanto vivemos e sonhamos dias de LUZ, de AMOR e de PAZ que tornem este Planeta realmente habitável e coerente. Um lugar, onde, mesmo que só exista um lampião, apareça alguém para acendê-lo. Para fazer nascer mais uma estrela ou uma flor. Ou, simplesmente, acenda em nossos destinos sombrios a chama da Esperança num Mundo humano e bom, renove a Fé em nossa alma descrente e nos reconduza à nossa condição superior de Irmãos na Criação, que amemos, realmente, nosso Pai, o inefável Deus que concebemos em nossa microscópica dimensão Cósmica.

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VITOR DE FIGUEIREDO, FRC

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ADENDA

CARTAS E RESPOSTAS (Num Site da Internet, em 2006)

E-MAIL DE UMA AMIGA DO SUL DO BRASIL E NOSSA RESPOSTA

“Olá, amigos: Primeiro quero parabenizá-los pelo espaço no site, principalmente pela

oportunidade de podermos interagir sobre a espiritualidade. Eu sou quase leiga, mas me identifico mais com a linha Kardecista,

portanto acredito que há reencarnação, consequentemente, vidas passadas. Eu entendo que a reencarnação é um resgate do que precisa ser

aprimorado ou o que ficou pendente em outras vidas, mas nem sempre conseguimos corrigir nossos defeitos ou cumprir com o que nos comprometemos ao encarnar.

Pergunta: Se a regressão nos permite conhecer, lembrar o passado,

identificar origem de problemas, entender muito do que estamos passando, porque é tão pouco usada para acelerar o processo de evolução de um espírito encarnado? Ou não há interligação?

Grata."

Nossa resposta: Agradecemos, desvanecidos, os parabéns que amavelmente nos enviou

pela abertura no "Site" da Secção "A Vista da Pirâmide". Não concordamos que seja quase leiga na espiritualidade, pois nos

surpreende com algo que não é comum a muita gente: a sua crença na Reencarnação, o que já representa um passo bem avançado na sua evolução espiritualista.

Todavia, a Reencarnação, bem fundamentada nas religiões orientais, não

é exclusiva do Espiritismo Kardecista, e pelo que conhecemos de você, acreditamos poder ser capaz de se abrir também a outras áreas de conhecimento, na descoberta de ângulos mais amplos para o contínuo aperfeiçoamento da sua Personalidade-Alma.

Como sabe, porque alude na sua carta ao "Resgate" cármico que as

reencarnações sucessivas permitem em cada existência na Terra, somos orientados no pré-nascimento, e ainda numa dimensão extra terrena, por

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Mestres desencarnados, e somos também induzidos, de acordo com a necessidade psíquica e estágio evolutivo em que estamos nesse momento, à escolha do local, país, "Habitat" e família para a nova encarnação, não só para resgatarmos os erros anteriores mas, sobretudo, para na nova existência na Terra podermos nos aprimorar.

É verdade que os próprios condicionalismos da existência frustram muito

as nossas intenções originais, assim como a memória subconsciente de quem fomos e que propósitos de resgate trouxemos, tende, natural e gradativamente, a nublar-se, absorvidos que somos pelas marés da vida, agindo de consciência activa na luta pela sobrevivência, profissão, realização pessoal, educação dos filhos, reveses, etc.

Além disso, a Natureza Divina da Criação sabiamente fez que não nos

lembremos em cada vida terrena das nossas personalidades e erros passados, para não vivermos marcados e estigmatizados por eles. Por vezes fomos bem maus e cometemos erros bem graves, permitindo que vivamos anestesiados e também pressionados pelo Ego a cairmos em tentações e diversões mundanas que, afinal, são humanas.

Assim, concordo quando nos diz que nem sempre conseguimos corrigir

nossos defeitos ou cumprirmos os propósitos com os quais nos comprometemos ao reencarnar. Parece um paradoxo: traz-se uma missão para cumprir na Terra que, pouco a pouco, esquece, sadiamente, pois, doutro modo, o Homem não suportaria viver com a consciência do que erroneamente cometeu em vidas passadas e, assim, tudo o que pode fazer em cada encarnação é expandir a sua consciência, aprimorando então o seu carácter para cada vez cometer menos erros e se tornar mais humano e fraterno.

Depois destas considerações, talvez exageradas para focar uma simples

pergunta que nos faz, falemos então um pouco da Regressão, objecto da sua pergunta.

Há várias opções preferenciais à regressão, a qual, satisfazendo a

curiosidade do paciente em saber quem foi e o que fez em vidas anteriores, também pode constituir uma experiência traumática, pois nega aquilo que a Divina Sabedoria nos quis ocultar. Alguns de nós fomos assassinos, venais, prostitutas, traidores, tiranos, etc., em nossas vidas pregressas. E isso seria duro e traumático assumir agora.

Muitas vezes, a regressão, quando feita por um bom e experiente

psicólogo, revela ao paciente a origem de certos traumas, medos, manias, tendências e fobias, e trazendo isso que está enterrado no Subconsciente à sua consciência objectiva concorre para ele os compreender e relevar, libertando-se deles. A regressão da memória induzida pelo psicólogo vai permitir que o paciente, ele mesmo, ajudado pelo psicólogo, entenda as razões dos seus comportamentos anormais, deixando então de afligir o paciente em sua vida normal.

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Bem, acho que muitas pessoas fazem regressão, sobretudo pela Hipnoterapia, o que acho desaconselhável pelo facto do paciente não tomar consciência directa da experiência, sabendo-a depois pelo Terapeuta. O Método da Regressão de Memória parece-me melhor.

Muitas pessoas não terão possibilidades económicas para a fazer,

desconfiam do método ou têm receio de expor seu íntimo a um estranho, homem ou mulher. E será que todos os Psicólogos e terapeutas são suficientemente honestos para confiarmos neles? E como separar o trigo do joio?

Não será melhor fazermos meditação, estudarmos a nossa personalidade

actual pela Astrologia, Numerologia, recorrermos ao I Ching em momentos de crise? Ou, simplesmente, pedirmos ajuda àqueles que através de auxílio psíquico, mesmo à distância, nos podem dar coragem, alívio de nossos males físicos ou psicológicos? Ou até mesmo nos filiarmos a uma Organização séria, Mística e Tradicional, como a AMORC, por exemplo, que nos encaminhe ao progressivo conhecimento de nós mesmos e talvez de nossas vidas anteriores?

São soluções alternativas, por vezes bem acessíveis e valiosas. Finalizando, mais importante é nos prepararmos agora, nesta vida, para

podermos ser cidadãos exemplares e honestos, fraternos, solidários com o próximo, realizados psicologicamente, mais evoluídos e humanos, para que minimizemos o nosso Carma e tenhamos uma vida futura feliz numa próxima Encarnação."

Fraterno Abraço. Lisboa, 20/01/2006 VITOR DE FIGUEIREDO, FRC

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E-MAIL DE UMA AMIGA DO NORTE DE PORTUGAL

(23/01/2006)

ASSUNTO: SONHO – Penso que não.

“Olá Vítor,

Desculpe incomodá-lo, mas realmente tive um sonho, se é que foi sonho, muito estranho.

Isto aconteceu de sábado para domingo, já perto da manhã de

domingo; acordei por volta das 06H00 da manhã e acho que me lembrei de imediato do que lhe vou contar.

Acordei a pensar numa boneca de madeira, de pau-santo, que um tio

meu me ofereceu, era eu menina e moça. Essa boneca esteve na minha casa de Lisboa, durante todo o tempo de

casada que lá vivi, cerca de 19 anos, não lhe dava muita importância; a importância que tinha, tinha-a apenas por ter sido uma prenda de uma pessoa de família de quem gostava muito.

Penso que a deva ter trazido para a minha casa do Norte, mas não me

lembro dela da casa onde vivi e onde vivo agora. Mas não ficou em Lisboa de certeza. O que foi feito da boneca varreu-se-me até ontem de manhã.

Fiquei muito impressionada porque acordei a pensar na boneca e

procurei-a em todos os armários e não a consegui encontrar. Fiquei muito impressionada, porque não percebi porque pensava tanto

na boneca e não conseguia deixar de pensar no mesmo. Só à noite se fez alguma luz; será que foi meu tio, já falecido, que me quis chamar a atenção? Rezei por ele e por minha tia…

Parece que fiquei mais descansada. Hoje já não penso, embora ainda vá

perguntar a meu ex marido se por acaso ele a levou quando saiu de casa. Terá sido um aviso dos céus?

Como interpreta este acontecimento? Será uma pergunta do

Inconsciente que veio até ao consciente só agora? Que lhe parece? Se tiver algum interesse este meu caso e se quiser publicar esteja à

vontade. Um beijo e muito obrigada M.”

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Nossa Resposta:

Cara amiga: Li a sua curiosa história e, de imediato, acorreram ao meu espírito

diversos sonhos que eu próprio tive e que outro dia pensei contar quando respondi à outra amiga, a qual me narrou dois sonhos. Acabei por não fazê-lo porque o interesse é a interpretação daqueles que as consulentes me contam.

Todavia, tem alguma informação útil na resposta àquela amiga, publicada há uns dias nesta Secção, para não me repetir.

O sonho que me colocou tem grande afinidade com o caso de uma senhora que me motivou uma resposta, em artigo, publicado no "Jornal do Incrível", ainda não publicado em "A Vista da Pirâmide", (site) que intitulei de "Comunicação Psíquica"

Ele está publicado neste livro. Leia-o para ficar com alguns subsídios mais sobre o tema do seu E-mail.

Amiga: Muito melhor do que o estado de Vigília, o sono favorece ainda mais a

possibilidade de contacto psíquico com pessoas desencarnadas (ou vivas e distantes), pelo facto da nossa actividade cerebral descer a níveis de inferior vibração, normalmente ao nível Teta (4 a 8 Hertz) – sono sereno e normal – ou a Delta (0,5 a 4 hertz) – sono profundo.

É quando o nosso Subconsciente está também mais receptivo a receber

mensagens e a transferi-las para a nossa consciência objectiva, então não distraída por ruídos, sons, aromas e contactos físicos externos na nossa actividade diurna.

Nossa Mente está assim disponível para esses contactos e, quando

acordamos, durante um breve período, vêm à nossa memória as impressões recentemente afloradas à Mente.

Aí tem a origem do sonho com essa boneca, muito tempo esquecida, e

não tenho dúvidas de que o seu Inconsciente a tenha trazido à tona da sua consciência, certamente porque num plano cósmico, superior ao nosso, seu tio ou tia, ou ambos, tenham querido em algum tempo desconhecido fazer-se lembrar à sobrinha que a estimavam, embora não possamos saber quando isso ocorreu no "tempo" terreno, já que no Cósmico o tempo não existe.

Fraterno abraço. Lisboa, 25/01/2006

VITOR DE FIGUEIREDO, FRC

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E-MAIL DE UMA AMIGA DE S. PAULO, SOBRE SONHOS

“Olá amigo Vitor!

Como os dois primeiros artigos publicados tratam da busca individual pelo conhecimento e aperfeiçoamento espiritual, gostaria (sabendo que existem muitas coisas que são misteriosas e cheias de significados e outras que têm até que uma explicação simples) que tu lesses o relato de dois sonhos que tive, com distância de cerca de sete anos entre eles, tratando ambos do mesmo assunto e ambientados no mesmo local (como se fossem continuação um do outro) e que para mim, tiveram vários significados ocultos que não consegui decifrar mas que em minha opinião, estão intimamente ligados com o "meu caminho", a "minha busca".

O Sonho:

Os dois sonhos que tive se constituem no que eu acredito sejam flashs de

uma vida que eu "teria" vivido, e é aí que reside minha dúvida. Seriam realmente dois flashs de uma vida anterior ou simples registro do meu subconsciente?

Sei lá, por isso recorri ao nobre amigo Vitor que acredito tenha, com

certeza, conhecimentos sobre os Mistérios Ocultos que eu posso garantir que não tenho.

Gostaria de ressaltar primeiramente que desde criança sempre fui

muito curiosa com relação a certas coisas, especialmente as místicas, e que sempre tive profunda afinidade com a Índia a ponto de sempre ter acreditado que já vivi (se houverem outras vidas) naquele lugar. A civilização egípcia pelo contrário, nunca me despertou grande interesse.

Tive dois sonhos exactamente sobre a mesma coisa, com espaço de

alguns anos entre eles. Não me recordo com precisão qual a distância entre os tais sonhos. O primeiro acho que foi no ano de 1996 (eu tinha 25 anos) e o segundo há pouco tempo, em 2003.

O primeiro sonho – 1996 (que eu chamo de A Iniciação) Sonhei que estava no Egito, e ia ser iniciada numa doutrina secreta. Eu

era uma mulher jovem (acho que tinha a mesma idade que a minha real na ocasião do sonho), era virgem e estava sob a tutela de um mestre, um sacerdote do qual eu tinha absoluta confiança, a ponto de entregar a minha vida a ele se fosse preciso.

Eu sei que templos e locais sagrados são sempre no alto, mas para

chegar no local desse templo, era preciso descer umas escadas largas, e a

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sensação de realidade era impressionante, sentia a textura da pedra nos meus pés.

O local estava todo iluminado por archotes, e ficava tudo alaranjado. As paredes eram completamente cobertas por hieróglifos em alto-relevo. Haviam colunas redondas, e elas também eram recobertas de inscrições.

Havia uma mesa. Um altar? Não sei dizer. Não me lembro dos objetos

que estavam sobre ela. Neste templo só serviam homens. Só haviam homens no local e me

recordo de me sentir um pouco constrangida, pois iam vestir uma roupa cerimonial em mim.

Lembro-me que estava com medo pois eu não tinha conhecimento

profundo ainda daquilo a que estava entregando a minha vida, mas tinha confiança no mestre, e olhava nos olhos dele; ele tinha um olhar tão seguro e sábio que me fazia sentir tranqüila.

Eles tiraram a minha roupa, e ele me explicava o sentido de cada coisa

que todos estavam fazendo naquele ritual. Ele então passou a recitar algo (uma oração, um texto ritualístico?)

numa língua que eu nunca ouvi na minha vida. Durante o sonho, embora fosse uma língua desconhecida, eu sabia exactamente o que ele estava falando, mas assim que despertei, o teor dessa "oração" fugiu-me da mente; na verdade eu acordei ainda lembrando dela, e quando corri para pegar um papel e escrevê-la, ela se diluiu completamente (rsss... devia haver um gravador de sonhos. rss)

Os auxiliares do mestre, vestiram sobre o meu corpo nu, um tipo de túnica toda branca e em seguida, vieram com um manto negro com capuz, que vestiram por cima da túnica branca.

Eu me senti um pouco temerosa e questionei o mestre, pois vestir um

manto negro, fazia parecer que nossa doutrina era voltada para a escuridão, que eu serviria a algo obscuro.

Foi então que meu mestre falou-me a única frase que consegui reter na

memória: "Mesmo que nossa doutrina seja revestida por um aparente manto de

obscuridade, nós sempre saberemos que em sua essência, ela carrega a pureza e a nobreza, assim como essa veste branca que você esconde sob o seu manto negro"

Ele me deu um sorriso de confiança e de autoridade, e cobriu minha

cabeça com o capuz negro. E eu acordei...

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O segundo sonho – 2003 (que eu chamo de A Invasão)

Estávamos numa sacada do castelo do Faraó (não pergunte que Faraó… Rsss… pois estávamos sendo invadidos), de onde tínhamos uma visão completa da cidade.

Ali estava a família do Faraó, os membros importantes da guarda e o

Sacerdote, que era o homem de confiança do Faraó (eu sempre pensei que o homem de confiança de um rei era o chefe da guarda. Rsss... mas nesse caso acho que o Faraó se importava mais com o seu espírito. rsss). Ah, estava eu também, rsss… Que já era sacerdotisa.

Me lembro que meu mestre estava preocupado com o destino do Faraó,

pois o Faraó não queria fugir. A rainha segurava o herdeiro do Faraó nos braços, ainda uma criança de colo, e estava com um ar muito apreensivo.

Me lembro nesse sonho também com assombrosa perfeição dos detalhes

da minha roupa (que era branca e os ornamentos em dourado). Lembro-me dos meus braceletes.

O Faraó era alguém muito amado. Era um homem alto. Tinha uma altivez, um olhar tão seguro, mas ele olhava para longe.

A vista da cidade era de dar um pouco de receio. Os invasores estavam

bem próximos já e ao longe as casas já estavam em chamas. Os invasores eram muito diferentes de nós, usavam outros tipos de

roupas e já estavam muito próximos do castelo. Meu mestre me olhava às vezes e nesses momentos eu percebia que ele

era a pessoa mais importante do mundo pra mim. Que eu o amava com um sentimento maior do que qualquer outro, embora eu fosse dedicada à vida sacerdotal de maneira completa.

Meu mestre estava começando a ficar apreensivo, não por nós (os

religiosos) mas pela família real. E ele argumentava com o Faraó o tempo todo (pois se o Faraó decidisse realmente não fugir, todos nós ficaríamos.) Mas a preocupação do sacerdote era com o herdeiro do Faraó.

E foi com esse argumento que ele venceu nosso monarca. Pediu que ele

seguisse pela rota de fuga que meu mestre havia preparado, em nome de sua descendência. Para que sua descendência sobrevivesse.

Nesse momento o Faraó cedeu, e os membros da guarda abriram uma

enorme passagem de pedra, que levava a um túnel muito longo, escuro, mas muito largo e alto (arre como tudo era grande por lá). Entramos nesse túnel, e a passagem de pedra foi novamente fechada. O caminho era iluminado somente pelos archotes que alguns homens carregavam e era difícil enxergar, me lembro de me apoiar na parede pois precisávamos correr. E novamente

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sentia os hieróglifos em alto relevo nas palmas das minhas mãos (uma das coisas mais impressionantes que já senti em um sonho).

A certa altura, divisamos uma luz a uma certa distância e quando nos

aproximamos, eram os invasores que haviam descoberto a rota de fuga e vindo ao nosso encontro pelo lado contrário.

Quando fizemos menção de voltar pelo mesmo caminho, percebemos

que não havia como voltar, que eles nos haviam emboscado dentro do túnel. Me lembro que antes deles chegarem perto o suficiente, olhei para o meu

mestre, e ele também estava olhando para mim. Mas não havia medo entre nós, pois havia a certeza de que nossa vida não acabaria ali, embora também sabíamos que aquela encarnação sim, aquela encarnação acabou ali.

E acordei... Se puderes dar uma opinião apenas, para mim já será um grande

presente, e nem será para o ano, será para a vida. Abraços fraternais.

Nossa resposta:

Cara amiga:

Seu mail é grande, com o relato muito claro dos sonhos que nos narrou,

mas a resposta terá de ser, tanto quanto possível, clara e sintética, porque a resposta pública não a atinge somente a você, mas a todos os leitores, os quais a poderiam julgar muito extensa.

Pergunta-me se os dois sonhos teriam sido "flashes" de uma vida anterior ou simples registo do Subconsciente...

A alternativa que colocou não tem razão de ser, pois, em qualquer dos casos, a memória de ambos os sonhos, e que foram muito lucidamente interpretados pelo seu consciente, só podiam provir de registos do seu Inconsciente.

Mais tarde, quando publicar aqui o meu ensaio "O Homem e a Mente", colherá bastantes subsídios para compreender a interacção entre o Subconsciente e o Consciente, à luz de vários critérios da Psicologia, os quais me parecem não interessar agora descrever.

Como sabe, certamente, o Inconsciente (ou Subconsciente) está directamente ligado à Memória Universal, conhecida por "Akasha" ou Registos Akásicos. De modo geral, ali se encontram inscritas as vivências e ocorrências das nossas vidas anteriores, pelo que se pode concluir desde já que, mormente nesta vida actual não tenha interesse pela Civilização Egípcia, ambos os sonhos nos endereçam para uma vida anterior que ali tenha tido.

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Todo o ambiente de seus sonhos, mesmo nos aspectos de arquitectura,

vestuário simbólico e ritualístico, apontam para as antigas "Escolas de Mistérios" do Antigo Egipto, de 1500 anos antes de Cristo. Essas Escolas Secretas de Sabedoria surgiram com o fundador da gloriosa 18.ª Dinastia Egípcia, o Faraó Aamoses I, (1575 a 1550 Ac).

Depois dele, outros Faraós reinaram, entre eles a Rainha Hatsepshut (o

único Faraó do sexo feminino) e a primeira grande mulher do Mundo, e então reinou o Faraó Tutmósis III, considerado o Fundador da actual Ordem Rosacruz – AMORC (Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis), tendo sido ele quem organizou e unificou essas Escolas de Mistério numa verdadeira Fraternidade, com a estrutura, normas e regulamentos que, praticamente, se mantêm até hoje na AMORC.

Sua descrição dos sonhos, especialmente no primeiro, lembrou-me das

Convocações Ritualísticas que, salvo alguns pormenores de vestuário e ausência do sagrado altar no Templo, chamado de "Shekhinah", são realizadas pelos Rosacruzes da AMORC.

Actualmente, a Ordem está no ano 3359 de existência, reportando-se ao

ano 1353 AC. como o da sua fundação, no Reinado do Faraó Amenófis IV (ou Amenhotep IV) (1367-1350 AC.), que tomou para si mesmo o nome de Akhnaton ao abolir todas as religiões politeístas que vigoravam no Egipto e criando a Doutrina de um único Deus para toda a Humanidade. Foi, assim, o primeiro Grande Mestre da AMORC e o grande Monoteísta.

Julgo, pois, que a memória de seus sonhos tem sua origem nessa época.

Todavia, parece-me errado o título do primeiro sonho – Iniciação – pois o que me narrou parece ser a actuação de uma das Virgens Vestais, mais tarde e modernamente chamadas "Columbas", que usam actualmente uma veste branca mas sem capuz ou capa preta. A Iniciação de membros, onde elas actuam realmente, não tem a característica do sonho que nos contou. Todavia, pode ter sido uma Iniciação para si, com outras características.

Poderá um dia certificar-se da veracidade desse sonho, como uma

vivência real, no período que citei e na ambiência desses templos, com uma Regressão que poderá tentar com um Psicólogo sério e habilitado, ou com um Terapeuta consagrado e de confiança, que o faça pela Técnica de Regressão de Memória e não pela Hipnoterapia, pois acho esta desaconselhável.

Fraterno Abraço. 20/01/2006 VITOR DE FIGUEIREDO, FRC

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SEGUNDO E-MAIL DA MESMA AMIGA, DE S.PAULO – BRASIL

1. A fé e o caminho espiritual 2. Egrégora

“A fé e o caminho

Eu acho que classificar as coisas é algo muito delicado, claro que a título de exemplificação para o leitor menos instruído é válido, pois as pessoas de alguma forma precisam entender a "diferença" entre as coisas, e isso decorre de sua própria diferença de nível evolutivo (pois uma pessoa pode ser extremamente culta e não obstante, ser incapaz de assimilar determinados conceitos). Por este prisma, para que as pessoas "aprendam", é valido classificar as coisas mesmo que seja para que a pessoa posteriormente reflita, discorde e estabeleça sua própria opinião (e este é o ponto talvez mais importante, o ponto em que a pessoa formula uma opinião acerca da busca pela espiritualidade).

No meu caso específico, acredito até que se deva compreender que existem diferenças entre crenças e doutrinas, mas não me preocupo com as classificações que se fazem. Minha visão é somente a de que doutrinas e crenças têm, assim como pessoas, níveis diferentes, os quais não me atrevo a especular pois não me vejo competente para tanto. Nesse aspeto, ainda acho difícil definir o que possa estabelecer ou determinar essa diferença. Para mim sua função realmente é somente a de se adequar às diferenças entre as pessoas, pois o objetivo é o mesmo.

Vou tomar uma afirmação de Eliphas Levi em seu livro "Os Paradoxos

da Sabedoria Oculta" (Paradoxo I) de 1836 para tecer um comentário: "A Religião é a poesia coletiva das grandes almas. Seus mitos são mais verdadeiros que a Verdade propriamente dita; mais vastos que o Infinito; mais duradouros que a Eternidade; por outras palavras, são essencialmente paradoxais".

Se a Religião (daí eu considero as Religiões oficiais ou as doutrinas) é uma poesia coletiva de grandes almas, as pessoas que foram alavancas para a formação das doutrinas existentes, foram grandes místicos (pessoas que tinham uma forte ligação e uma proximidade com o pensamento divino). As grandes almas portanto, tencionam expressar uma Verdade de Ordem Superior de maneira simples e clara, mas sua maneira metafórica de expressar-se (pois para determinadas verdades místicas não existe a forma

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direta de se expressar, ela não cabe), gera involuntariamente os dogmas e os paradoxos.

Creio portanto, que a Verdade seja algo simples em si mesmo, mas

intangível para a mente humana daí, é um caminho natural o da mitificação.

Para mim, existem duas qualidades de pessoas relevantes a serem observadas:

- os mergulhadores de grandes profundidades (os místicos) - que não se contentando com os ritos, buscam o verdadeiro sentido da espiritualidade; - e os nadadores superficiais de curtas distancias (assimiladores de dogmas) - que por necessidades pessoais menos exigentes, cultuam os ritos, decoram a doutrina e aceitam de bom grado os paradoxos para sentirem-se intimamente confortáveis.

Minha opinião pessoal, é a de que a Religião é a fonte onde o homem mata sua sede durante sua interminável busca pela Verdade.

E como diz um antigo provérbio: "A Verdade vem ao de cima". Aplicando à religião, isso não quer dizer que um suposto Deus patriarcal vai apanhar os mentirosos pela orelha e puni-los com uma justiça divina estereotipada e infantilizada mas sim, que o Tempo é Senhor de todas as coisas, que o Tempo é Deus portanto, os embustes à nossa clara visão da Verdade serão diluídos no éter da eternidade. EGRÉGORA

Egrégora é uma palavra meio complicada para se definir, uma vez que não consta do dicionário de língua portuguesa.

A primeira definição que tenho de Egrégora, é a que consta do glossário

teosófico de HPB, de 1892, em que ela é usada para definir seres astrais, e também os anjos do Livro de Enoch (Egrégores), que se apaixonaram pelas filhas dos homens, se unindo em mutuas execrações (puxa.. bastante complexo). Os ocultistas ao longo do tempo, transformaram isso em algo mais fácil de se entender, ou seja, um "Ser astral" formado a partir das energias geradas pelos membros de um determinado grupo. Partindo-se deste princípio, não consigo conceber a inexistência de Egrégora em determinadas doutrinas, uma vez que todo coletivo produz um ser astral.

Acredito sim que as Egrégoras não são de mesma natureza.

Talvez o que eu compreenda como distintas sejam: Egrégoras comuns

(como em tudo há), e "Grandes Egrégoras".

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Tomando como exemplo a Igreja Católica, sua Grande Egrégora seria o "Corpo Místico do Cristo" (sacrificial), o que acabou por ser degenerado pela própria instituição que permaneceu com os ritos e enraizou seus paradoxos.

Mas o "Corpo Místico do Cristo", acredito eu, é universal e continua

cumprindo sua grande missão hoje e desde sempre através de diversas sendas religiosas (unidas por esta poderosa Egrégora)

A Igreja Messiânica, que foi classificada como religião espiritualista sem Egrégora, tem sim sua Egrégora, a chamada Luz Divina, Ohikari, que junto com outros dois pilares (culto ao belo e corpo material purificado) fundamentam a doutrina. Eu pessoalmente acredito que o Ohikari é uma Egrégora dentro desta doutrina (uma vez que os membros tratam-na como um ser distinto do próprio fundador). Acho também que embora recentemente fundada (cerca de 50 anos), a doutrina messiânica possa tornar essa Egrégora muito poderosa.

Acredito nisso pois sendo portadores do Ohikari, todos os membros

fazem um esforço deliberado para formarem um somátorio de boas atitudes.

O Budismo é uma das doutrinas mais difíceis de se seguir como caminho (quando o caminhante é realmente devotado, rss) pois é individual (acho eu que não possuí uma Egrégora poderosa onde se apoiar), é solitária, daí o que nos leva a acreditar que a Egrégora seja de fundamental importância na "caminhada", pois o somatório dos sentimentos de todos os integrantes de uma ordem, quando deliberadamente voltados para um intuito, seja capaz de investir de força os seus membros. Não é à toa que Sakyamuni quase definhou (o caminho é árduo quando trilhado sozinho. Rsss) Daí eu me questiono: o fator Egrégora, não funcionaria como uma certa "alquimia" dentro de todas as doutrinas? Não seria responsável de certa forma por fenômenos que as pessoas costumam classificar como"graças", "milagres", "fatores inexplicáveis"?. Talvez não seja algo um pouco mais simples, e que as pessoas insistam em complicar? Uma parte da "alquimia" de que ouvimos genericamente falar, não seria a força de uma pessoa, intimamente ligada e alicerçada numa força gerada por uma coletividade de energia parecida, similar?

Bem, acho que vou deixar de ser "perguntona" e "faladeira".

Um grande abraço amigo Vitor, e desculpe se divaguei demasiado nas minhas reflexões.”

"Se amas a teu próximo, não digas: não há nada a fazer em teu

caso; antes deves dizer: posso auxiliar-te sem saber como"

(Paracelso - Felipe Bombast) ”

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Nossa Resposta:

Cara amiga: Recebi o seu extenso comentário concernente ao meu artigo "A Busca

(1)”, um verdadeiro artigo de opinião no qual expôs as suas muitas reflexões que, em sua maioria, não vou comentar.

Todavia, há dois aspectos sobre os quais me devo pronunciar,

relativamente à "Egrégora" que, conforme refere, foi classificada no meu artigo, acima referido, como não existente na Igreja Messiânica Mundial e noutras Instituições.

Considerando que todas as organizações, sociedades ou conjuntos de

pessoas agregadas para qualquer objectivo, sejam ou não espiritualistas, têm uma Egrégora, aglutinando pensamentos e vibrações dos seus participantes, para a sua finalidade, então é verdade que houve um aparente exagero da minha parte naquela afirmação.

O que queria destacar naquele artigo, escrito há cerca de vinte anos, era a

convicção de que somente certas Ordens e Instituições, mística e espiritualmente consagradas, tinham Egrégora, por terem fundamentos antigos, tradicionais, que em muitos séculos de existência sedimentaram uma Egrégora forte e duradoura, baseada na comunhão de personalidades terrestres por um ideal mas, principalmente, pela sua união vibratória e psíquica, numa hierárquica assembleia, com os Mestres Cósmicos.

Comparativamente, na Busca (1), disse que as Instituições (ali

classificadas) sem Egrégora, "se caracterizam principalmente por sua fundação relativamente recente, sem alicerces num Grande Mestre ou Avatar da Humanidade, reconhecido, e que foram criadas por um ou mais indivíduos, por sua inspiração, filosofia ou crenças pessoais".

Obviamente, estas últimas terão a sua Egrégora, mas não comparável. Cito abaixo o Prof. Adhemar Ramos, que no programa de Rádio da Rádio

Mundial, sobre "Consciência e Revelações e "Mistérios Revelados" (in Google), veio esclarecer o que eu pretendi dizer no Artigo "A Busca":

"No plano astral os desejos, vícios, sentimentos e emoções possuem formas coloridas que lembram formas de animais, que se juntam às formas de almas de encarnados e desencarnados, e às formas de seres e entidades típicas do astral. No plano mental, os pensamentos de objectos e coisas concretas possuem formas definidas similares às do plano físico, e pensamentos abstratos são vistos por símbolos típicos que podem ser interpretados pela linguagem simbólica superior estudada e pesquisada na iniciação. Estas

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explicações são necessárias para entendimento do Egrégora e principalmente para permitir a criação de egrégoras pessoais e coletivos".

" Egrégora é uma forma pensamento que é criada por pensamentos e

sentimentos, que adquire vida e que é alimentada pelas mentalizações e energias psíquicas. É uma entidade autónoma que se forma pela persistência e intensidade de correntes emocionais e mentais. Pensamentos e sentimentos fracos criam egrégoras mal definidos e de pouca vida ou duração, porém pensamentos e sentimentos fortes criam egrégoras poderosíssimos e de longa duração." (sic).

Grifos meus:

Respeito a Igreja Messiânica Mundial (Sekai Kyusei Kio, em japonês) e

visitei-a pessoalmente, em Curitiba, por um convite que me foi feito, e onde me foi dado o "Johrei" (1), após um pequeno curso, numa segunda visita. Foi fundada no Japão por Mokiti Okada, que adoptou o nome de Meishu-Sama, em 1935, e só chegou ao Brasil em 1955.

Espero que a amiga tenha entendido agora a distinção entre Instituições

Tradicionais, como a Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis – AMORC, cuja fundação se reporta ao ano de 1353 AC. com o Faraó Akhnaton, e outras relativamente recentes.

A Egrégora da AMORC é a seguinte: "A Egrégora Rosacruz é a união ou assembleia de

personalidades rosacruzes terrestres (membros activos e regulares da Ordem) e supra terrestres (Conclave dos Mestres Cósmicos, principalmente os encarregados da Senda Rosacruz), constituindo uma unidade hierarquizada e movida pelo ideal Rosacruz. Trata-se, portanto, de um "Sector" particular do campo ou plano psíquico, formado pela união das mentes daquelas personalidades em torno do ideal e da missão Rosacruz".

1) "Johrei" - Ritual de Purificação do Espírito, por revelação de Meishu-Sama, canalizando energia através da aposição das mãos, que alivia o corpo físico e o Espírito do receptor, e que é dado após um curso de Formação. Fraterno abraço. Lisboa, 30/01/2006 VITOR DE FIGUEIREDO, FRC

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RESPOSTA A "BUSCANDO RESPOSTAS"

NOTA PRÉVIA: Não publicamos neste livro a carta desta leitora, que se identificou no "site" apenas por "Buscando Respostas", porque mais tarde, contactada por nós, PARA A PRESENTE EDIÇÃO EM LIVRO, não autorizou a sua publicação, mesmo anónima. Conseguimos entender que interpretou mal a resposta que lhe demos, honesta e bem-intencionada. De resto, e considerando que a resposta por si mesma é, em parte, esclarecedora dos problemas que nos colocou originalmente, mesmo de forma confusa, achámos por bem publicá-la aqui.

Nossa Resposta:

"O Misticismo e a esquizofrenia encontram-se frequentemente

associados na literatura psiquiátrica. Alguns escritores sugerem que os místicos mostram uma forma especial de esquizofrenia ou outra

psicopatologia. Outros escrevem sobre a esquizofrenia numa linguagem altamente metafórica, quase mística, focalizando

principalmente a experiência da psicose, o que leva muitas pessoas a concluir que estes escritores estão pregando a esquizofrenia como

uma experiência importante e até mesmo desejável."

(Kenneth Wapnick in "Experiência Cósmica e Psicose – IV – Pequeno Tratado de Psicologia Transpessoal – Volume 5/IV" –

Editora Vozes, Lda. – Petrópolis – RJ – Brasil)

Cara amiga: Li a sua carta várias vezes e com muita atenção. Quero dizer-lhe que, se reparar bem, os dois artigos de "A Busca", assim

como os dois de "Carma" e o Ensaio a "Aura, Essa Desconhecida", (também publicada no "site"), não trataram, até agora, de quaisquer fenómenos paranormais, a que alude na sua carta.

Mais tarde, sim, publicaremos neste site outros artigos com temas mais

complexos que procurámos explicar quando respondemos aos leitores do "Jornal do Incrível".

Sua carta evidencia a postura de uma personalidade que reage às

emoções e não à razão, e que racionaliza as suas noções impulsivas. Contou-nos sumariamente duas experiências antigas, de partos

traumáticos, normais em obstetrícia e que, em certos casos, levam a parturiente

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a depressões pós-parto, as quais, felizmente para si, foram tratadas, como nos diz, e resolvidas com medicação e assistência apropriada.

Faltou dizer-nos que fenómenos ocorreram, pelo que não vemos aí

qualquer relação com a paranormalidade. Fala-nos depois de uma enorme amplitude de estudos que fez em várias

áreas da cultura, considerando que os assimilou de forma não programada, e que teve depois um contacto com um livro onde encontrou explicações para os fenómenos paranormais, livro que a marcou, sem nos dizer que fenómenos foram esses.

Mas, esses fenómenos – diz – materializavam-se e levaram-na a diversos

psiquiatras. E ficou paralítica por algum tempo em decorrência, parece, de condições físicas, psicológicas e espirituais.

E por essa paralisia (?) foi então encaminhada a um grupo que a orientou

para esclarecer todos os fenómenos paranormais (sempre eles, desconhecidos para nós) que experimentou anteriormente.

Estudou e finalmente encontrou explicação para os sentimentos e

emoções. Seu caso parece-nos ser o de alguém que se perde por não ter sabido

separar um possível caminho espiritual da vida prática e objectiva, com falta de lucidez e serenidade para discernir as coisas e misturando-as na sua busca de luz interior e da descoberta do Self (Eu).

Muita gente se confunde assim, procurando o êxito na profissão e na vida

prática, utilizando a experiência empírica e conhecimento profano na busca da paz interior, sem usar a intuição e sem buscar uma escola espiritualista orientadora.

Conta-nos também ter sido classificada em parâmetros científicos por

suas alucinações, dentro da Nosografia psicótica. Sobre isso vou fazer aqui um breve apontamento para elucidação dos

leitores: Nosografia é uma descrição metódica das doenças. Manuel da

Nóbrega e José Anchieta exerceram a prática clínica em apoio à conversão espiritual, além de importantes escritos de Nosografia exótica. (in "História da Medicina em Portugal", de J. A. Leitão. "Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa". Editora Verbo).

E então o que aprendeu na Parapsicologia leva-a, agora, finalmente, a

colocar-nos uma pergunta:

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"SERIAM OS FENÓMENOS QUE ME ACONTECIAM FABRICAÇÕES MENTAIS?"

Devo dizer-lhe que a Parapsicologia está hoje praticamente obsoleta, em

face do desenvolvimento do conhecimento espiritualista e místico, e a sua visão racional de alguns fenómenos com pouca importância, como as Cartas Zenner, a Radiestesia, etc., deixou-a pelo caminho, no fatal avanço das Ciências, da Psicologia e do Esoterismo.

Mas, como nunca os explicou, também não podemos responder-lhe. E

não sabemos se por "Mentais" quer significar o mesmo que nós entendemos como relativos à Mente, ou se nos pretendeu dizer, como é vulgar pensar-se, perturbações cerebrais ou do sistema nervoso.

Será que não identificou o mesmo que nós em relação à Mente? E se isto não servir para si, amiga, vai com certeza auxiliar alguns

leitores: Sirvo-me aqui do início do meu Ensaio "O Homem e a Mente", que fez

parte da colectânea de artigos publicados no "Jornal do Incrível".

E nele pergunto e respondo:

O QUE NÃO É A MENTE?

1. N ão é o cérebro, embora este a utilize em certas funções.

2. Não é individual, conquanto todos nós estejamos intrinsecamente ligados a

ela, através do Inconsciente, que nos permitir o acesso à Mente Cósmica

Universal.

3. Não é a Alma também (mas está intrinsecamente ligada a ela).

O QUE É, ENTÃO, A MENTE?

A MENTE É:

A) De Natureza vibratória; B) De Natureza Cósmica (como a Alma); C) Ubíqua e panteísta (está em todos os seres vivos, ao mesmo tempo, onde quer que se encontrem, diferenciada apenas na Personalidade-Alma de cada um, segundo sua experiência e evolução pessoal (como Consciência);

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D) Um atributo da Alma (como consciência); E) Assim, o Homem é dual em sua natureza – CORPO E ALMA – e trino em sua manifestação – CORPO – MENTE – ALMA.

Buscando alguma coerência, então podemos dizer que todos os fenómenos da Psique Humana são "Mentais", neste sentido, mas pareceu-me que lhes quis dar (sem o revelar) uma interpretação apenas fisiológica e psicológica em termos de emoções e sentimentos perturbados, e no âmbito estrito da Neurofisiologia (parte da Fisiologia que se ocupa das funções do sistema nervoso).

Seria bom destrinçar os distúrbios do sistema nervoso e do cérebro,

daquilo que é patológico e físico, e do que é "Mental", de modo a podermos intuir se estamos em presença de uma tendência esquizofrénica ou de um comportamento alucinatório esquizóide na compreensão dos tais fenómenos que afectaram a sua Consciência.

Nas Instituições espiritualistas, Igrejas e Ordens Místicas e Tradicionais,

é frequente aparecerem pessoas com distúrbios de personalidade, que as buscam porque se alienaram com experiências fisiológicas e/ou psicológicas, perturbadoras. Outras, porque querendo expandir rapidamente o seu nível de consciência, recorreram a drogas alucinatórias, práticas perigosas como as tentativas de "iluminação" pelo despertar da "Kundalini", exercícios não razoáveis com os chacras e, na maioria, supondo que nessas Instituições e Ordens esotéricas iriam encontrar lenitivo e cura.

Também não me parece ser solução para compensações cármicas tomar

atitudes forçadas para auxílio aos outros, julgando nós que seria melhor auxiliar-se a si mesma. "Ama o próximo como a ti mesmo" é uma máxima Cristã. Mas não deixe de amar-se a si mesma para poder amar os semelhantes.

Procure uma Ordem Iniciática, Mística, Esotérica e Tradicional ou uma

Instituição Espiritualista, Cristã, etc., que a oriente, entrando como neófita humilde e interessada no verdadeiro conhecimento, sem se preocupar com "fenómenos" aleatórios, e irá, pouco a pouco descobrindo o seu caminho.

E com perseverança irá encontrar, sem pressas, respostas para as suas

dúvidas (que nem soubemos bem quais são), sem questionamentos empíricos que a perturbam. Para isso não será a psicanálise que a ajudará, embora possa frequentá-la, mas para caminhar na senda espiritual deve conseguir separar as águas, no seu propósito, coisa que nos parece não ter feito nunca.

A solução de sua vida pode estar mais perto do que pensa. Use a intuição,

essa arma poderosa, medite na estrada que já percorreu e no alcance do objectivo que procura.

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Divida a profissão, a vida afectiva, o mundo profano, da senda mística ou simplesmente espiritualista. A escolha é sua. Questione menos e aprenda mais. Não precisa tirar os pés do chão e pensar que vai receber "asas" no início. A senda do autoconhecimento e da transformação da sua personalidade não é, como você julga, um caminho árduo e de sofrimento mas, pelo contrário, de grande deslumbramento, luminoso e sereno, positivo e construtivo.

Está muito por fazer consigo, amiga, na busca Espiritual. Acredite e

caminhe serenamente, com o desejo de conhecer-se a si mesma para encontrar Deus, e de expandir a sua consciência, ora perturbada pelo intelecto e a racionalidade que não apontam para estes caminhos.

Procure e achará. Bata e a Porta abrir-se-á. Esvazie a sua taça cheia de

conceitos, definições e certezas se a quiser encher de Paz e de Luz. Talvez esta resposta já possa ser um portão para um novo horizonte, uma

esperança para o encontro com a sua própria Alma. Pense nisso.

Fraterno abraço. Lisboa, 24/01/2006 VITOR DE FIGUEIREDO, FRC

***