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Nadam Guerra 2015 A Virgem do Alto do Moura

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Registro da exposição A VIRGEM DO ALTO DO MOURA, de Nadam Guerra, realizada no CENTRO CULTURAL BANCO DO NORDESTE, em Juazeiro do Norte, entre os dias 11 de dezembro de 2015 a 06 de fevereiro de 2016.

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Page 1: "A virgem do alto do moura" - Nadam Guerra

Nadam Guerra

2015A Virgem do Alto do Moura

Page 2: "A virgem do alto do moura" - Nadam Guerra

A Virgem do Alto do Moura

Nadam Guerra realiza objetos com cerâmica desde a sua infância. Sendo um pesquisador de seu fazer e também de sua História no Brasil, se config-urou coerente à sua trajetória realizar um projeto que dialogasse de modo direto com Mestre Vitalino, o célebre ceramista de Caruaru.

“Os 12 passos da Virgem do Alto do Moura”, portanto, se desdobra entre imagem e texto, assim como projetos anteriores do artista. Há aqui a von-tade de refletir sobre a relação entre documento e ficção. A partir da nar-rativa textual sobre um personagem novo dentro do panteão de figuras icônicas dessa região batizada por “Nordeste”, reina a Nossa Senhora do Alto do Moura, advinda das diversas esculturas em barro que representam cenas de casamento atribuídas ao Mestre Vitalino, recodificada e transfor-mada em uma realidade artística pelas mãos de Nadam Guerra. É nesse lugar entre o diálogo com aquilo que comumente ganhou a alcunha de “arte popular” e a sua própria experiência com o fazer do barro, mas que facilmente seria rotulado por “arte contemporânea” devido à sua formação e lugar de atuação, que o artista parece querer agir.

Não só um texto de sua autoria nasce desse encontro, mas três trabalhos: uma série de figuras de barro dos filhos que a Virgem do Alto do Moura teve durante sua trajetória pelos diversos cantos do mundo que possuem tradições do fazer cerâmico; outro grupo de representações dos encon-tros sexuais essenciais para a renovação energética da personagem em sua trajetória; um vídeo em que um historiador da arte português comenta uma série de vasos, também narrativos, encontrados após uma expedição arqueológica.

Desse modo, Nadam Guerra parece propor uma outra arqueologia, ou seja, trazer ao público uma visada para um Brasil que, longe de ser purista, está imerso em um caldeirão multicultural condizente ao tempo em que vive-mos e, claro, à nossa própria História.

Raphael Fonseca

É no mínimo gratificante realizar a presente exposição e reunir pela primeira vez tamanho número de obras realizadas por Euclides Terra, acompanhada de material documental e didático em torno da figura da Virgem do Alto do Moura.

Como é sabido, as circunstâncias biográficas desse importante artista bra-sileiro levam a caminhos historiográficos bifurcados. Há aqueles que acreditam que o artista teria sido nascido no estado de Minas Gerais durante a Grande Virada, além de outros que pensam que ele teria pro-duzido essas esculturas apenas no século V depois dessa mesma Virada. Nem mesmo as fontes de seu projeto iconográfico foram localizadas – seriam elas frutos de uma visão divina de um artista contemporâneo à pas-sagem da Virgem ou alguém que se baseou na fonte textual mais referida aos acontecimentos, ou seja, “Os 12 passos da Virgem do Alto do Moura”?

Nunca seremos capazes de responder a essas inquietações de modo obje-tivo – eis uma das melancolias e ao mesmo tempo uma das delícias do fazer de alguns arqueólogos, curadores e historiadores da arte. Na ausência de certezas, fica o convite ao público para que contemple tanto essas figuras antropomórficas plenas de aparatos alegóricos, além das placas de cerâmica que criam narrativas em torno da passagem da Virgem entre nós. Esses objetos são facilmente relacionáveis a outras produções de narrati-vas histórico-religiosas em culturas tão antigas como a egípcia, a indiana e a greco-romana. As placas, porém, se destacam pela unidade de estilo no fazer de Euclides Terra e no estado de conservação impressionante das mesmas. De todo modo, estudos recentes apontam que o tom mono-cromático das mesmas merece mais estudos e averiguação laboratorial já que fontes textuais antigas teciam elogios à policromia das mesmas. Teriam as cores sido apagadas pela ação do tempo?

Por fim, fico particularmente honrado em compartilhar pela primeira vez com o público residente no Ceará, um curto vídeo documental em que são mostradas as peças de cerâmica de inestimável qualidade recentemente encontradas em expedição arqueológica. Não havendo tempo suficiente para estudos mais profundos, mas entusiasmado pela relíquia da desco-berta, contribuí com uma leitura dessas obras em diálogo com o que se sabe da trajetória viajante da Virgem em nosso mundo.

Espera-se que essa exposição contribua com a maior disseminação da Virgem do Alto do Mouro e que futuras gerações de historiadores, arqueólogos, artistas e autores de ficção se sintam convidados a também contribuir com seus olhares direcionados a ela.

Juca Amélio

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A Virgem do Alto do Moura

Nadam Guerra realiza objetos com cerâmica desde a sua infância. Sendo um pesquisador de seu fazer e também de sua História no Brasil, se config-urou coerente à sua trajetória realizar um projeto que dialogasse de modo direto com Mestre Vitalino, o célebre ceramista de Caruaru.

“Os 12 passos da Virgem do Alto do Moura”, portanto, se desdobra entre imagem e texto, assim como projetos anteriores do artista. Há aqui a von-tade de refletir sobre a relação entre documento e ficção. A partir da nar-rativa textual sobre um personagem novo dentro do panteão de figuras icônicas dessa região batizada por “Nordeste”, reina a Nossa Senhora do Alto do Moura, advinda das diversas esculturas em barro que representam cenas de casamento atribuídas ao Mestre Vitalino, recodificada e transfor-mada em uma realidade artística pelas mãos de Nadam Guerra. É nesse lugar entre o diálogo com aquilo que comumente ganhou a alcunha de “arte popular” e a sua própria experiência com o fazer do barro, mas que facilmente seria rotulado por “arte contemporânea” devido à sua formação e lugar de atuação, que o artista parece querer agir.

Não só um texto de sua autoria nasce desse encontro, mas três trabalhos: uma série de figuras de barro dos filhos que a Virgem do Alto do Moura teve durante sua trajetória pelos diversos cantos do mundo que possuem tradições do fazer cerâmico; outro grupo de representações dos encon-tros sexuais essenciais para a renovação energética da personagem em sua trajetória; um vídeo em que um historiador da arte português comenta uma série de vasos, também narrativos, encontrados após uma expedição arqueológica.

Desse modo, Nadam Guerra parece propor uma outra arqueologia, ou seja, trazer ao público uma visada para um Brasil que, longe de ser purista, está imerso em um caldeirão multicultural condizente ao tempo em que vive-mos e, claro, à nossa própria História.

Raphael Fonseca

É no mínimo gratificante realizar a presente exposição e reunir pela primeira vez tamanho número de obras realizadas por Euclides Terra, acompanhada de material documental e didático em torno da figura da Virgem do Alto do Moura.

Como é sabido, as circunstâncias biográficas desse importante artista bra-sileiro levam a caminhos historiográficos bifurcados. Há aqueles que acreditam que o artista teria sido nascido no estado de Minas Gerais durante a Grande Virada, além de outros que pensam que ele teria pro-duzido essas esculturas apenas no século V depois dessa mesma Virada. Nem mesmo as fontes de seu projeto iconográfico foram localizadas – seriam elas frutos de uma visão divina de um artista contemporâneo à pas-sagem da Virgem ou alguém que se baseou na fonte textual mais referida aos acontecimentos, ou seja, “Os 12 passos da Virgem do Alto do Moura”?

Nunca seremos capazes de responder a essas inquietações de modo obje-tivo – eis uma das melancolias e ao mesmo tempo uma das delícias do fazer de alguns arqueólogos, curadores e historiadores da arte. Na ausência de certezas, fica o convite ao público para que contemple tanto essas figuras antropomórficas plenas de aparatos alegóricos, além das placas de cerâmica que criam narrativas em torno da passagem da Virgem entre nós. Esses objetos são facilmente relacionáveis a outras produções de narrati-vas histórico-religiosas em culturas tão antigas como a egípcia, a indiana e a greco-romana. As placas, porém, se destacam pela unidade de estilo no fazer de Euclides Terra e no estado de conservação impressionante das mesmas. De todo modo, estudos recentes apontam que o tom mono-cromático das mesmas merece mais estudos e averiguação laboratorial já que fontes textuais antigas teciam elogios à policromia das mesmas. Teriam as cores sido apagadas pela ação do tempo?

Por fim, fico particularmente honrado em compartilhar pela primeira vez com o público residente no Ceará, um curto vídeo documental em que são mostradas as peças de cerâmica de inestimável qualidade recentemente encontradas em expedição arqueológica. Não havendo tempo suficiente para estudos mais profundos, mas entusiasmado pela relíquia da desco-berta, contribuí com uma leitura dessas obras em diálogo com o que se sabe da trajetória viajante da Virgem em nosso mundo.

Espera-se que essa exposição contribua com a maior disseminação da Virgem do Alto do Mouro e que futuras gerações de historiadores, arqueólogos, artistas e autores de ficção se sintam convidados a também contribuir com seus olhares direcionados a ela.

Juca Amélio

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