a violÊncia fÍsica e psicolÓgica na crianÇa de hoje … · quando cometida por uma pessoa de...
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Universidade Estadual de Maringá 02 a 04 de Dezembro de 2015
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A VIOLÊNCIA FÍSICA E PSICOLÓGICA NA CRIANÇA DE HOJE COM
DANOS NO ADULTO DE AMANHÃ
BUENO, Priscila da Rocha Luiz.
MAIO, Eliane Rose.
RESUMO Atualmente vemos muitos casos de agressão contra crianças e adolescentes, o que nos faz repensar muitos conceitos. Estas agressões em alguns casos são executadas pela própria família, ou na residência da criança/adolescente o que se caracteriza como violência familiar ou doméstica. Não se pode deixar que este tipo de violência ocorra, ainda mais porque a criança de hoje é o adulto de amanhã que formará famílias e pode desencadear uma cadeia de novas agressões e assim por diante. É importante levantar dados para entender através do histórico o que ocorre para que se dê a violência contra criança e adolescência – que pode ser física ou psicológica – e identificar o motivo pelo qual um ser mais frágil é acometido pela violência. Além disso, é importante frisar que se a violência não é executada por um adulto, mas presenciada ou outro que não faz nenhuma ação, esta violência é compartilhada, e quem assiste passa de testemunha para cúmplice. Sendo assim, a violência é um fenômeno complexo que precisa ser acompanhado devido à violação, opressão e exposição do direito ao desenvolvimento de quem sofre.
Palavras-chave: Criança e adolescência. Violência. Políticas públicas.
INTRODUÇÃO
Atualmente, o mundo é formado por cidadãos que desempenham e desenvolvem
um papel na sociedade, sendo que cada um tem a sua devida importância, independente
de sua idade, ou posição social. Um fato que sempre ganha destaque e que choca a todos
é a violência praticada contra crianças e adolescentes, principalmente quando esta é
realizada em um âmbito que é de familiaridade com o violentado, ou seja, em sua
maioria, a própria família pode executar tal ato.
De acordo com o histórico levantado no desenvolvimento deste artigo, não é de
hoje que crianças e adolescentes tem a sua imagem prejudicada, e físico e psicológico
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agredidos, pois desde a Grécia Antiga existiram provações que eram exigência para o
futuro adulto (até então adolescente) fizesse parte da sociedade. Claro que de lá para cá,
muito se evoluiu, leis foram criadas e existem dos mais variados tipos de órgãos para
que os direitos de crianças e adolescentes sejam mantidos, garantidos e os que infringem
estes direitos sejam punidos.
No entanto, há necessidade de entender o que se passa para que leve um familiar
a violentar uma criança próxima a si, ou seja, quais motivações passam pela análise
deste adulto para que cometa tal crime – seja ele físico, psicológico, sexual, pois a
violência pode se dar nestas e outras esferas.
A presente pesquisa toma por base o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA/90), que traz em seu art. 5º que nenhuma criança ou adolescente será objeto de
qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão, punindo na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus
direitos fundamentais, pois a concepção de que a violência sexual é uma violação de
direitos e se faz necessário o acompanhamento, ressaltando que na maioria dos casos,
outros direitos básicos da criança e de seus familiares também são violados.
O presente projeto justifica-se na mediada em que muito se têm falado e até
escrito sobre a violência que ocorre com crianças e adolescentes em diferentes espaços,
e ainda, embora repudiada em nossa sociedade a violência, em várias circunstâncias:
violência de exploração, abuso extrafamiliar ou intrafamiliar, está presente em todas as
classes sociais e, infelizmente, ocorre com maior frequência do que, em geral, se tem
conhecimento.
Os procedimentos metodológicos a serem realizados consistirão em
instrumentos baseados nas leis vigentes, em documentos, referências bibliográficas e
entrevistas com os profissionais que atuam nos órgãos citados acima e que acompanham
o processo dessas crianças/ desses casos que se encontram em situação de risco.
Este tema caracteriza-se devido aos casos de abusos e violência conhecidos cada
vez maiores, cometidos por adultos contra crianças e adolescentes em nossa sociedade.
1 OS DADOS DA VIOLÊNCIA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
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A violência é um comportamento que causa intencionalmente dano ou
intimidação moral a outra pessoa. O comportamento praticado pode invadir a
autonomia, integridade física ou psicológica e até mesmo a vida do outro. É o uso
excessivo da força que ultrapassa o necessário ou o esperado.
Todos os tipos de violência causam forte impacto na sociedade e principalmente,
as pessoas que a sofrem. Quando cometida por uma pessoa de fora do convívio familiar,
causa grande impacto, e ainda, agride a dignidade e evidencia o senso de
vulnerabilidade humana, condições que sustentam o plano simbólico do ser social.
Independente da cultura e da sociedade, a infância tem que ser reconhecida
como um valor universal e deve ser protegida contra quaisquer formas de negligência,
crueldade e exploração, pois ela é uma condição concreta de existência e em qualquer
parte do mundo e, enquanto seres políticos, a criança e o adolescente são sujeitos de
direitos, necessitando de proteção e cuidados de cidadãos especiais (AZEVEDO;
GUERRA, 2010).
Para que a criança e adolescente tenham seus direitos assegurados, o Estatuto da
Criança e Adolescente (ECA) se faz presente em nosso país, o que dá liberdade de
expressão à criança e também penaliza quem vai contra este direito.
O principal objetivo do Estatuto é especificar os direitos de crianças e adolescentes no que diz respeito à vida e à saúde, à liberdade, ao respeito e à dignidade, à educação, cultura, esporte e lazer, e à profissionalização e proteção no trabalho. Além disso, explicita claramente a condenação legal contra toda e qualquer forma de ameaça ou violação desses direitos, sob forma de violência, exploração, discriminação ou negligência, responsabilizando o Poder Público pela implementação de políticas sociais “que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência” (Art. 7º) (FALEIROS; FALEIROS, 2007, p. 71, 72)
No Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), consta que é dever da família,
da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta
prioridade, a efetivação dos direitos referente à vida, à saúde, à alimentação, à educação,
ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade,
à convivência familiar e comunitária. Ainda fica expresso que não deve haver nenhuma
criança ou adolescente sujeito a qualquer forma de negligência, discriminação,
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exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado,
por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais (BRASIL, 1990).
Historicamente o abandono, a negligência, o sacrifício e a violência contra
criança, sempre existiram, e eram aceitos por determinadas comunidades, chegando, em
algumas situações, ao filicíneo, declarado ou velado, que levava as taxas de mortalidade
infantil, a índices elevados.
Na França do século XVIII, estes níveis chegavam a mais de 25% das crianças
nascidas vivas. Foi a partir do final do século passado, que a criança, até então estorvo
inútil, passou a ser valorizada, sob a óptica de que deveria sobreviver para ser tornar
adulto produtivo. Foi com a Revolução Industrial especialmente em fins do século
XVIII, que a criança passou a ser protegida por interesses, antes de tudo, econômicos e
políticos. Estes fatos culminam com a própria história da medicina, em que a palavra
pediatria só surgiu em 1872, até então, cuidar de crianças era uma responsabilidade para
mulheres (MINAYO, 2002).
A partir do século XX que algumas iniciativas foram realizadas para reconhecer
o direito de crianças e adolescentes e fazer com que os abusos diminuíssem ou pelo
menos começassem a se valorizar os pequenos.
O século XX inaugura a linha de produção em série e a intensa exploração do trabalho infanto-juvenil provoca, por um lado, mudanças nas famílias e problemas sociais e de saúde coletiva e, por outro, o surgimento de políticas para a proteção de crianças e adolescentes. De uma realidade do capitalismo industrial de meados do século XIX, em que as crianças trabalhavam por mais de 16 horas, avançamos, ao final do século XX, para um paradigma de proteção integral (FALEIROS; FALEIROS, 2007, p. 16).
Abranches e Assis (2011) comentam que mesmo apesar da violência
psicológica, que atinge crianças e adolescentes, não ser recente, apenas há 30 anos
recebeu atenção internacional com crescente conscientização e sensibilização de
profissionais e do público em geral. Ainda colocam que “... é um fenômeno universal
que não tem limites culturais, sociais, ideológicos ou geográficos e ainda está envolto
por um pacto de silêncio, principal responsável pelo ainda tímido diagnóstico e pelo
reduzido número de notificações.” (ABRANCHES; ASSIS, 2011, p. 846).
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Certamente, não é coincidência que o Brasil seja conhecido como o país com a
pior distribuição de renda, o que pode também ser compreendido como violência
estrutural (GOMES; SILVA; NJAINE, 1999).
Embora seja equivocada a associação mecânica entre violência, pobreza,
criminalidade e violação dos direitos, predominante no senso comum, é perceptível que
as desigualdades econômicas e a miséria estão diretamente relacionadas com as taxas de
homicídio e com a violência não gratuita (GOMES; SILVA; NJAINE, 1999).
A mortalidade por homicídio ocorre em adolescentes e adultos jovens, do sexo
masculino residentes em áreas pobres e às vezes periféricas das grandes metrópoles; de
cor negra ou descendentes dessa etnia; com baixa escolaridade e pouca ou nenhuma
qualificação profissional (SOUZA, 1999).
Ainda Milani (1999) coloca que ao longo da história e em grande parte dos
povos, a adolescência tem sido identificada com os níveis mais elevados de
agressividade, transgressão e conflito. Ficou estabelecida uma relação direta entre
juventude e violência. Se suas premissas estiverem corretas, é possível considerar
sombrias as perspectivas da sociedade brasileira nos próximos dez a quinze anos.
Já Adorno (2009) coloca que a associação entre adolescência e criminalidade
não é inquietação exclusivamente própria de sociedades com acentuadas desigualdades
sociais e em que as políticas sociais governamentais, ainda que se esforcem por
minimizá-las, não logram assegurar direitos sociais fundamentais para grandes parcelas
da população urbana ou rural, cujo ônus recai preferencialmente sobre crianças e
adolescentes, como sugerem vários estudos.
Estudos das décadas de 70, 80 e 90 apontam para a grande preocupação com o
conceituar e definir a violência psicológica. Diferente das outras naturezas de violência,
com definição e conceitos mais claros possibilitando assim melhor detecção e
consequente intervenção, a violência psicológica é pouco diagnosticada apesar de ser
mais prevalente do que as outras formas de abuso (ABRANCHES; ASSIS, 2011).
O perfil demográfico do Brasil está iniciando uma “onda adolescente”, durante a
qual esse grupo etário tornou-se o mais numeroso da população. São mais de 34 milhões
de adolescentes, representando mais de 20% da população, o que vai impor grandes
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mudanças no país por suas demandas em relação ao sistema de ensino, mercado de
trabalho, lazer e cultura (JUNQUEIRA, 2007).
2 ONDE, COMO E POR QUE ACONTECE A VIOLÊNCIA CONTRA
CRIANÇA E ADOLESCENTE
Antes de introduzir a motivação pela violência ser executada contra as crianças e
adolescentes, deve-se distinguir o termo violência doméstica e violência familiar.
Faleiros e Faleiros (2010) colocam que esta distinção faz-se necessária para identificar e
quantificar cada tipo de violência. A violência doméstica refere-se ao lugar onde ela
ocorre: na casa, no lar. A violência familiar se refere à natureza dos laços parentais que
unem as vítimas e os autores da violência.
Um dos fatores para que os adolescentes tenham sido mergulhados nessa trama
da violência é a dificuldade de pais, profissionais de educação, de saúde, e governantes
em compreenderem as características e necessidades dessa etapa (AZEVEDO;
GUERRA, 2010).
A adolescência é marcada por profundas transformações nas quais se entrelaçam
processos de amadurecimento físico, mental, emocional, social e moral, que são
influenciados pelas peculiaridades inerentes a cada sujeito, pelo seu ambiente
sociocultural e pelo momento histórico, o que torna complexa a sua delimitação ou
conceituação (COSTA, 1999).
Milani (1999) coloca que muitas vezes a violência contra o adolescente ocorre
dentro da própria família e na casa onde reside o violentado.
Embora existam múltiplas formas de família em nossa sociedade, distintas dos moldes tradicionais, o fato é que, independente de sua estrutura, a família é o primeiro grupo, a primeira escola, a primeira comunidade e a primeira experiência de exercício da cidadania que todo indivíduo vivencia, sendo essa experiência profundamente marcante e, muitas vezes, determinante da trajetória de vida. No entanto, como laços de consangüinidade não asseguram o amor, frequentemente o convívio familiar é marcado pela violência doméstica – cujas principais vítimas são crianças, adolescentes... (MILANI, 1999, p. 3).
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A violência doméstica contra crianças e adolescentes é caracterizada pelo abuso
do poder disciplinar e coercitivo de pais ou responsáveis, que muitas vezes se prolonga
ao longo de meses e anos, sendo uma violação dos direitos essenciais da criança e do
adolescente em sua condição de humanidade (AZEVEDO; GUERRA, 1997).
Embora a situação da violência familiar esteja sempre presente e pouco
discutida, acreditamos que isso decorre principalmente do fato de ser a família
entendida como uma instituição privada e o que se passa no seu interior não dizer
respeito às pessoas que não fazem parte dela. Portanto, é o conjunto de normas, de
administração da propriedade patrimonial ou privada, dirigida pelo chefe da família
(CHAUÍ, 1999).
Com o advento da Constituição Federal de 1988, o Brasil avançou na percepção
da infância, sob a ótica do Direito Público. Declara-se o direito da criança e do
adolescente, segundo seu grau de maturidade, para manifestar opiniões, reagir à
violência, defender-se, e responder por seus atos quando maltrata os demais (RIBEIRO,
ROSSO; MARTINS, 2004).
No entanto, houve evolução quanto às normas e leis que incriminam a violência
familiar, focada na criança e adolescente. E apesar do avanço ocorrido na legislação e
na sociedade nas últimas décadas, que alterou o modo de vida, costumes e valores das
pessoas, a família não recuou na mesma proporção na violência contra crianças e
adolescentes, pois ainda assim a violência continua marcando presença tanto pelas ações
brutais quanto pela omissão do adulto.
A violência manifesta-se, segundo essa concepção, pela imposição do adulto
sobre a criança e/ou adolescente em situações, nas quais, a vítima da violência é sempre
o indivíduo que reagiu de alguma forma, contrariando a vontade do adulto. Para que
seja corrigido, de maneira que não repita a ação, esse indivíduo precisa ser punido pela
imposição da autoridade “superior” (RIBEIRO, ROSSO; MARTINS, 2004).
Garbarino et al (1996) elencaram cinco importantes comportamentos parentais
tóxicos do ponto de vista psicológico infantil para auxiliar na detecção deste abuso:
[..] rejeitar (recusar-se a reconhecer a importância da criança e a legitimidade de suas necessidades), isolar (separar a criança de experiências sociais normais impedindo-a de fazer amizades, e fazendo com que a criança
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acredite estar sozinha no mundo); aterrorizar (a criança é atacada verbalmente, criando um clima de medo e terror, fazendo-a acreditar que o mundo é hostil); ignorar (privar a criança de estimulação, reprimindo o desenvolvimento emocional e intelectual) e corromper (quando o adulto conduz negativamente a socialização da criança, estimula e reforça o seu engajamento em atos antissociais) (GARBARINO et al, 1996, p. 156)
Mesmo que a violência contra a criança e adolescente não sejam
presenciadas, qualquer pessoa da sociedade que esteja ciente que a violência
ocorre e não faz nada, se torna cúmplice da agressão. Ou seja, se sabe que a
agressão física, moral ou psicológica ocorrem, mas não faz nada para ajudar,
deve-se entender que essa pessoa concorda com as ações, mesmo que não tenha
consentimento.
Todo ato ou omissão praticado por pais, parentes ou responsáveis contra criança e/ou adolescente que sendo capaz de causar dano físico, sexual e/ou psicológico a vítima, implica de um lado, numa transgressão do poder/dever de proteção do adulto e, de outro, numa coisificação da infância, isto é, numa negação do direito que criança e adolescente têm de ser tratados como sujeitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento (AZEVEDO; GUERRA, 2010).
Ainda sobre a omissão daquela pessoa que tem ciência da agressão, mas nada
faz, temos Ribeiro, Rosso e Martins (2004) que colocam que é preciso que essas pessoas
se conscientizem de que a omissão quanto a casos de violência os tornam cúmplices ou
agressores passivos.
Mesmo que uma pessoa teve ciência da violência efetuada, muitas vezes esta não
leva ao conhecimento de autoridades e órgãos competentes por achar que o assunto é
familiar, de ordem privada e que não deve intrometer-se. A violência doméstica contra
criança e/ou adolescente é uma dura realidade, muito presente na sociedade. Contudo, a
maioria dos casos não chega a ser notificada aos órgãos competentes, pelo fato de as
pessoas não quererem se envolver em um assunto familiar, privado, dificultando assim o
trabalho de atendimento à vítima (RIBEIRO, ROSSO; MARTINS, 2004).
3 COMO EVITAR OU PREVENIR OS CASOS
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Faz-se mais que importante trazer as discussões sobre a violência na infância e
adolescência para dentro da escola, onde os docentes deparam-se constantemente com
situações em que a violência está presente da criança, a fim de que eles considerem a
realidade de vida das crianças e possam orientar os pais ou responsáveis, caso isso se
torne necessário.
Já Abranches e Assis (2011) colocam que alguns problemas identificados à
convivência de violência psicológica na infância e constatados nos estudos foram: mau
rendimento escolar; problemas emocionais (ansiedade, depressão, tentativa de suicídio e
transtorno de estresse póstraumático – TEPT); ser vítima de violência na comunidade e
na escola, transgredir normas e vivenciar violência no namoro.
Milani (2010) coloca que as crianças e adolescentes que foram agredidos,
apresentam alguns sinais na escola, pois seu rendimento é diferente:
... [elas] têm mais dificuldades de leitura e compreensão de textos [...], menor capacidade de atenção e concentração em tarefas [...], são ainda mais apáticas, desinteressadas pelas normas. Têm mais problemas disciplinares, mais suspensões, piores notas, repetências [...] O mau desempenho escolar afeta a autopercepção de competência e motivação para as atividades escolares. Esses aspectos estão associados a uma baixa auto-estima e à violência dentro das escolas (MILANI, 2010, p. 5).
Para Minayo e Souza (2003), a violência é uma questão fundamental para o setor
de saúde devido ao seu impacto nas condições de vida e de saúde da população,
especialmente quando acontece durante a infância, antes do completo crescimento e
desenvolvimento humano.
A observação constante do professor nas mudanças de comportamento dos
alunos e em atividades por eles realizadas, como a produção de textos, desenhos, e
outras que podem manifestar tensões, medos e angústias, contribui para a identificação
de situações de vitimização da criança e/ou adolescente no contexto familiar ou em
torno dele (RIBEIRO, ROSSO; MARTINS, 2004).
Desta forma é possível conferir a importância dos profissionais que trabalham
com essa clientela, principalmente os educadores, auxiliarem essa criança ou
adolescente mediante a denúncia. Somente através da comunicação do fato aos órgãos
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competentes é que poderemos quebrar esse ciclo da violência. Além disso, Ribeiro,
Rosso e Martins (2004) colocam que uma boa forma de se levantar e manter dados, é
utilizar os órgãos municipais existentes, conselhos tutelares existentes, entre outros.
Entre os principais mecanismos de execução das políticas em relação à criança e ao adolescente, os municípios contam com os Conselhos Municipais de Direito da Criança e/ou Adolescente, que se destinam à formulação, gestão e fiscalização de programas relacionados a crianças e/ou adolescentes, e os Conselhos Tutelares, que atuam quando ocorre a violação dos direitos previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente, juntamente com o Ministério Público e o Juiz da Infância e Adolescência (RIBEIRO, ROSSO; MARTINS, 2004, p. 122).
Para os familiares ao redor, cabe observar também, pois algumas ações, por
parte das crianças, denotam que algum abuso está ocorrendo. Milani (2010) define estes
comportamentos como:
Desconfia dos contatos com adultos; está sempre alerta, esperando que algo ruim aconteça; está sujeito a mudanças frequentes e severas de humor; tem receio dos pais e evita, muitas vezes, a sua casa (quando é estudante procura chegar cedo à escola e dela sair bem mais tarde); apreensivo quando outras crianças começam a chorar; demonstra comportamentos que poderiam ser considerados como extremos (agressivos, disruptivos, destrutivos ou excessivamente tímidos, passivos, submissos, retraídos); demonstra mudanças súbitas no desempenho escolar ou no comportamento; apresenta dificuldades de aprendizagem não atribuíveis a problemas físicos específicos ou a problemas no próprio ambiente escolar; revela que está sofrendo violência física. (MILANI, 2010, p.6)
Entre estas opções ainda restam os Fundos dos Direitos da Criança e do
Adolescente, os Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente (federal e estadual),
as Varas da Infância e da Juventude, as Promotorias da Infância e Juventude.
Também as Delegacias de Proteção à Criança e ao Adolescente, os Fóruns dos
Direitos da Criança e do Adolescente, os Centros de Defesa, a Defensoria Pública, as
Secretarias de governo estaduais e municipais executoras de políticas públicas e as
ONGs. Esta última é parte integrante da Rede de Proteção, nas funções de Promoção
(nos Conselhos de Direitos), Atendimento (em programas nas áreas de saúde, educação,
assistência, cultura, profissionalização e proteção especial), Controle (Fóruns DCA),
Defesa e Responsabilização (Centros de Defesa) (FALEIROS; FALEIROS, 2010).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando que o fenômeno da violência contra crianças ocorre por diferentes
questões sociais, culturais, políticas e pessoais, e sabendo que qualquer tentativa de ação
eficaz necessita atentar para a multiplicidade de ações interventivas, certifica-se que tal
multiplicidade de ações implica a participação conjunta de todas as áreas de
atendimento, ou seja a intersetoriariedade deve acontecer de maneira eficaz com as
secretarias: social, saúde, educação, justiça, segurança, dentre outras, e jamais deve ser
abarcada por uma única instituição, ainda que multiprofissional, tendo em vista o grande
número de situações de violência que ocorrem diariamente contra crianças e de
indivíduos nelas envolvidos.
De acordo com os dados bibliográficos levantados, o número de crianças e
adolescentes violentados é grande e não tem um padrão para a diminuição, a não ser
quando são feitas leis específicas e rígidas contra os que praticam tal violência.
Nestes dados, foi visto também que antigamente as crianças e adolescentes
tinham péssimo tratamento e parecia que sequer faziam parte da sociedade como
pessoas normais. Com o tempo, e muita evolução, foram criadas leis específicas para
que houvesse proteção contra eles, bem como desenvolvimento de órgãos responsáveis
por processar os crimes contra crianças e adolescentes, bem como elaboração de normas
para proteger cada vez mais.
A violência familiar ou violência doméstica se dão pelo simples motivo de
exercer poder sob alguém e como normalmente a criança ou adolescente são mais
indefesos do que um adulto, a violência recai sobre eles.
Neste artigo, foram identificados motivos básicos que levam à agressão física ou
psicológica de crianças e adolescentes, bem como identificação de órgãos competentes
que fazem intervenção por esta classe que é fragilizada, devido à pouca idade ou mesmo
força de expressão.
Além disso, verificaram-se alguns pontos de apoios, como a escola e
professores, por exemplo, que podem ser uma ponte e canal de comunicação entre as
crianças violentadas e os órgãos competentes.
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A violência física e psicológica que são praticadas contra crianças e adolescentes
existe, e faz-se necessário a criação de projetos ou mesmo uma maior atuação por parte
da assistência social existente, fornecida pelo Estado ou Município.
Como foi verificado, os motivos pelos quais os adultos são levados a cometer
violência contra a criança e o adolescente são vários, sem um único identificador, então,
é interessante que há políticas públicas eficientes e que atuem também em cima do
agressor, verificando o histórico disso, para que haja prevenção e que o fato não volte a
ocorrer, ou ainda, se ocorrer, que a criança seja acolhida por uma instituição, ou
realocada em um membro da família, para que seja afastado de seu agressor.
REFERÊNCIAS
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