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MESTRADO EM ESTUDOS CHINESES A Vida Empresarial Chinesa em Portugal Sociedade Chinesa Fátima Cristina das Neves Patrício 20122010 A vida empresarial da diáspora chinesa em Portugal está muito associada à sua cultura e à sua família, tendo como base as relações sociais, funciona com uma cultura de clã, autónoma e coesa, onde o espírito de entreajuda e solidariedade facilitam a sua integração no país de acolhimento.

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 MESTRADO EM ESTUDOS CHINESES 

A Vida Empresarial Chinesa em Portugal

Sociedade Chinesa  

Fátima Cristina das Neves Patrício 

20‐12‐2010  

  

                     

 

A vida empresarial da diáspora chinesa em Portugal está muito associada à sua cultura e à sua família, tendo como base as relações sociais, funciona com uma cultura de clã, autónoma e coesa, onde o espírito de entreajuda e solidariedade facilitam a sua integração no país de acolhimento.  

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Fátima Patrício – MEC UA

 

Índice 

 

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 1 

2. OBJECTIVOS ......................................................................................................................... 1 

3. ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DAS EMPRESAS CHINESAS EM PORTUGAL ................... 2 

       3.1 EMPRESAS FAMILIARES ........................................................................................................ 2 

       4. RELACIONAMENTO INTERNO E EXTERNO DAS EMPRESAS CHINESAS ................................... 4 

       4.1 CULTURA EMPRESARIAL DA DIÁSPORA CHINESA EM PORTUGAL ....................................... 4 

       4.1.1 CULTURA EMPRESARIAL  .................................................................................................. 5 

       4.2 NEGOCIAÇÕES COM EMPRESAS CHINESAS ......................................................................... 5 

      5. DIFICULDADES DE INTEGRAÇÃO DAS EMPRESAS CHINESAS EM PORTUGAL ......................... 8 

      6. O VÍNCULO DAS EMPRESAS CHINESAS COM A CHINA ........................................................... 8 

      7. CONCLUSÃO ............................................................................................................................ 9 

     8. BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................ 10 

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A VIDA EMPRESARIAL CHINESA EM PORTUGAL 1. INTRODUÇÃO

A Cultura e a História milenar da China orientaram ao longo dos anos a estrutura familiar tradicional chinesa, quer pelos seus valores socioculturais confucionistas quer pela estratégia política adoptada nas suas actividades económicas e empresariais. As empresas familiares chinesas reflectem a filosofia de vida de um povo para o qual a família é a base da organização, assumindo um papel central nos próprios negócios em qualquer local do mundo. A compreensão da vida empresarial da diáspora chinesa em Portugal só é possível após o estudo das empresas familiares chinesas e da relação existente entre si. Na cultura chinesa, contrariamente à cultura ocidental não existe distinção entre as relações profissionais, familiares ou sociais, estas moldam-se e formam uma rede dinâmica onde a formação é no local de trabalho e as decisões são espontâneas. O centro de decisões é sempre a família que funciona como uma corrente de informação, contribuindo assim, para a criação de riqueza e sucesso dos seus negócios. Estas empresas familiares funcionam em sistema de rede tendo como base uma cultura de clã, autónomas e coesas onde o espírito de entreajuda e solidariedade facilitam muito a integração no país de acolhimento. No entanto, estas empresas têm uma “obrigação familiar” assumida pelo núcleo social e familiar e baseada numa relação de confiança, fidelidade e honestidade que não deve ser quebrada, sob pena de perderem a “face” dentro da sua comunidade.

2. OBJECTIVOS O estudo da vida empresarial da diáspora chinesa em Portugal teve por base três objectivos fundamentais:

Conhecer a estrutura e funcionamento das empresas chinesas em Portugal.

Compreender o relacionamento entre os membros da empresa, com as

outras empresas chinesas e também, com as empresas portuguesas.

Identificar as dificuldades de integração (social, económico e cultural) em Portugal, país de acolhimento, e o vínculo existente com a China, país de origem.

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3. ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DAS EMPRESAS CHINESAS EM

PORTUGAL

3.1 EMPRESAS FAMILIARES De acordo com um famoso ditado chinês, quando um chinês é honrado, toda a sua família é honrada, quando ele é condenado, toda a sua família está condenada. A família tinha uma função essencialmente prática na sociedade agrária chinesa, mas Confúcius acrescentou-lhe uma dimensão moral e ampliou-a para uma dimensão das relações sociais. Nos seus pensamentos cada pessoa tem um papel importante como elo de ligação na rede da sociedade, a família é o alicerce das organizações chinesas e dos seus negócios. Embora sejam pensamentos de 500 A.C, continuam a ser pilares fortes da cultura chinesa. No caso específico dos chineses que vivem fora da China, o modelo de negócio de base familiar é muito mais forte, na China, este modelo de negócios diminuiu quando os governantes comunistas tentaram substituir a lealdade da família pela fidelidade ao partido. Mais recentemente, o aumento do número de empresas não estatais, muitas das quais são dirigidas por famílias, tem contribuído para que o modelo de negócios de família reapareça. Do estudo feito às empresas familiares chinesas a exercerem actividades em Portugal, salientam-se quatro características relevantes a ter em consideração:

As empresas adoptam todas, uma gestão familiar, ou seja, são chefiadas por uma figura patriarcal ou matriarcal, muitas vezes, é o fundador da empresa e os outros membros da família têm todos “posições-chaves” na empresa. As famílias podem ter as suas próprias sociedades, mas são unidas para formarem uma rede complexa, através de participações cruzadas entre elas. A tomada de decisão é informal e frequentemente ocorre em eventos como jantares em família. O organograma da empresa não fornece necessariamente informações sobre quem realmente detém o poder, muitas vezes, uma pessoa com um título influente pode ser apenas uma figura decorativa.

O Chefe de Família tem um papel dominante, ou seja, as famílias de empresários chineses geralmente são controladas por um chefe de família dominante que tem a última palavra em decisões importantes. Essa pessoa pode ter conselheiros que são membros da família ou amigos próximos, tais relacionamentos são mais importantes do que o organograma da empresa em si. As empresas portuguesas podem ter o seu trabalho facilitado se antes de contactarem as empresas chinesas, descobrirem quem realmente detém posições de poder e influência dentro delas.

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As funções e obrigações familiares são duradouras, isto que dizer que os chefes de empresas familiares chinesas são, geralmente, substituídos por outros membros da família que darão continuidade à tradição de negócios para a próxima geração, mesmo que ninguém da família tenha habilidade de administrar o negócio, os membros da família têm sempre preferência sobre gestores de fora. Muitas vezes, as participações na empresa estão divididos entre todos os filhos, que por sua vez, podem-se ramificar em diversas outras indústrias, o que leva a uma maior diversificação do negócio.

A contabilidade formal, nas empresas familiares chinesas é unicamente para efeitos fiscais, uma vez que as pessoas são avaliadas informalmente e a reputação pessoal é mais importante do que as realizações. As decisões são tomadas rapidamente, muitas vezes baseadas em recomendações pessoais. Para melhor compreensão das principais diferenças entre as práticas comerciais das empresas chinesas e das portuguesas, faço a comparação na tabela seguinte: Práticas Comerciais

COMO SÃO FEITAS? Portuguesas

Chinesas

Objectivos Maximizar o valor da empresa para os accionistas

Servir os interesses da família

Abertura Financeira

Elaborar relatórios financeiros públicos As informações financeiras são mantidas em segredo

Recursos Financeiros

Venda de títulos públicos Família e amigos da família

Transferência De Propriedade

São feitas fusões ou aquisições das empresas.

As empresas não são vendidas devido a obrigações familiares

Publicidade

A marca é promovida através de publicidade

Sem publicidade. Esta é feita através da rede familiar

Gestão

Gestão profissional. O recrutamento é feito com base nas qualificações pessoais

Os gestores (seniores) são recrutados no seio da família

Tempo

Ênfase a curto prazo tendo como meta o lucro e o valor para os accionistas

Ênfase a longo prazo como prestígio para a família

Em relação às características do negócio, as empresas chinesas são tipicamente microempresas e pequenas empresas, o que reduz a sua visibilidade e o risco dos seus negócios. Normalmente há uma diversificação do negócio, em sectores diferenciados e em zonas distintas do país. Esta flexibilidade proporciona uma maior rapidez de entrada e saída de um negócio ou de um segmento de mercado.

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No que respeita ao sector de actividade, as empresas chinesas em Portugal operam principalmente no sector dos serviços, em particular no comércio (retalhista e grossista) e na área do import-export, uma vez que o sector da restauração diminuiu nos últimos anos. No entanto, a escala de funcionamento abrange, não só o mercado nacional, mas também o mercado europeu, com uma perspectiva de cadeia de valor mais alargada, incluindo o sector secundário. Assiste-se também, a um investimento inovador na indústria (no sector têxtil e do vestuário). Embora os aspectos tradicionais das empresas chinesas continuem presentes, nota-se que devido à influência da globalização, estão a adoptar práticas de negócios cada vez mais consistentes com outras empresas de todo o mundo. Por exemplo, para além do carácter pessoal, os gestores estão sendo avaliados em outros atributos, tal como o conhecimento da indústria. Tradicionalmente, a passagem da empresa para a geração seguinte era um meio de manutenção do património familiar, agora, ela começa a ser vista como uma oportunidade de reorganização e no caso da comunidade empresarial chinesa em Portugal, abordada neste estudo, enquadra-se numa “imigração de oportunidade”, inserida na nova vaga de integração chinesa na economia mundial e em particular no mercado europeu. Por outro lado, muitos membros da família da nova geração recebem educação ocidental e começam a afastar-se da rede da família e do modelo conservador. A prova evidente, desta mudança é a existência de trabalhadores portugueses nas empresas chinesas, principalmente nas “lojas dos chineses” que segundo informação fornecida pelos próprios, ganham acima da média dos outros trabalhadores do comércio. Em relação aos membros chineses das empresas, são familiares ou amigos que também recebem “um bom salário”, conforme informação de um empresário abordado neste estudo, com direito a alojamento e à viagem para Portugal (esta é descontada posteriormente no ordenado). 4. O RELACIONAMENTO INTERNO E EXTERNO DAS EMPRESAS

CHINESAS 4.1 A CULTURA EMPRESARIAL DA DIÁSPORA CHINESA EM PORTUGAL

O conhecimento e compreensão das culturas são fundamentais para que possamos estabelecer ligações positivas com diferentes países. A influência do passado, da cultura empresarial, a distância hierárquica, o individualismo e o simples relacionamento pessoal são factores que ditam as diferenças entre os países. No caso específico de Portugal e da China, estes estão mais próximos comercialmente, mas muito mais distantes social e culturalmente.

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Com base nas dimensões culturais de Hofstede, que demonstram a influência das culturas nacionais e regionais no comportamento das sociedades e das organizações, podemos constatar que o índice de disparidade intercultural entre Portugal e a China é muito alto (IDI=118) mostrando que a distância relativa é grande, portanto existem diferenças culturais relevantes entre as culturas.

4.1.1 A cultura empresarial

Para melhor percepção deste fenómeno é necessário mencionar algumas noções básicas de cultura:

“A cultura pode ser descrita como o conjunto de valores, crenças, comportamentos, hábitos e atitudes que distinguem uma sociedade. A cultura de uma sociedade proporciona aos seus membros soluções de adaptação externa e integração interna” (WANG, 1995).

“A cultura nacional por sua vez – e alargando a definição de Hofstede (1980), pode ser definida como a “programação colectiva que distingue os membros de uma nação dos membros de outra nação”.

Quando falamos de cultura empresarial ou organizacional referimo-nos a um conjunto de práticas e valores definidos e desenvolvidos pela organização que moldam o pensamento e o comportamento dos indivíduos dessa organização. A cultura empresarial chinesa é um bom exemplo de uma cultura de Clã, caracterizada pela orientação interna, cujos atributos são a coesão, a participação, o trabalho em equipa e o sentimento de família. A liderança é normalmente representada por um mentor ou por uma figura parental cujas ligações de lealdade e tradição estão sempre presentes. “A ênfase estratégica está no desenvolvimento humano, moral e no empenhamento da equipa como via para o sucesso empresarial” (Sergeant,1998).

4.2 AS NEGOCIAÇÕES COM EMPRESAS CHINESAS Para um chinês é muito importante o estabelecimento do que eles denominam de “guanxi”, ou seja, um relacionamento pessoal de confiança entre as empresas familiares chinesas, garantindo assim apoio, parceria e oportunidade de negócios futuros. Para melhor compreensão do comportamento e das práticas organizacionais chinesas há que ter em conta alguns elementos fundamentais da cultura chinesa (Bjorkman e Lu,1999):

Respeito pela idade e pela hierarquia: o respeito pela autoridade resulta numa tomada de decisão centralizada e na aceitação da hierarquia, fruto de um sistema político da história recente da china durante a Revolução Cultural (1966-1976). 5

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É importante notar que as redes de guanxi estão entre os indivíduos e não nas empresas. Quando uma pessoa abandona um posto de trabalho, o seu substituto não herda a rede, daí a importância de estender o relacionamento a mais do que uma pessoa nas empresas que lidam com empresas chinesas. Para os chineses, a oferta de presentes simbólicos podem ajudar a fortalecer o relacionamento. O presente deve ser algo que tenha em conta os interesses do destinatário ou que seja algo da sua própria cidade natal. O presente não deve ser caro, para que não seja difícil retribuir o que poderia constranger o destinatário. Um negócio falhado não significa o fim de um relacionamento guanxi, pelo contrário, pode reforçar a relação, o facto de ter sobrevivido a momentos difíceis ajuda a aproximar as pessoas. Os chineses consideram a adversidade o melhor teste dum relacionamento.

É importante perceber que os chineses consideram o impacto duma decisão não só sobre a transacção em si, mas na rede, uma vez que manter o relacionamento é mais importante que um único negócio. A seguinte tabela resume algumas das diferenças entre os relacionamentos nas empresas portuguesas e nas chinesas: Atributos Como são feitos?

Portugueses Chineses Motivação Económica Económica e social Formalidade Formal e regras definidas Informal e regras flexíveis Individuo / Organização Separado Interligados Organizações em rede Independentes Dependência mútua Autoridade Administrativa

Contratos Confiança pessoal

O relacionamento entre as empresas chinesas em Portugal faz-se sobretudo como clientes e fornecedores, mas é notável a grande abrangência e complexidade da relação com outras empresas chinesas a operarem no espaço europeu (Espanha, França e Itália) cuja rede “guanxi” facilita as oportunidades de negócios noutros países europeus, comparativamente às empresas portuguesas (PMEs) limitadas ao mercado nacional. O relacionamento com as empresas portuguesas é mais significativo numa lógica de cliente do que de fornecedor e não existem parcerias, o que poderia revelar-se uma potencial vantagem para as empresas portuguesas, tanto no plano interno como na abordagem do mercado externo, principalmente do mercado chinês.

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5. AS DIFICULDADES DE INTEGRAÇÃO DAS EMPRESAS CHINESAS EM PORTUGAL

A maior dificuldade de integração é no domínio da língua portuguesa, nos valores e culturas diferentes, causando grandes problemas de comunicação e de compreensão das normas e da legislação portuguesa; a legalização de residência também não é fácil o que faz crescer o número de ilegais chineses em Portugal. Outra dificuldade apontada pelos empresários chineses é o acesso às estruturas básicas sociais, principalmente a nível da saúde. Os conceitos de saúde e de doença para os chineses são representações culturais bem diferentes das portuguesas, pelo que é fundamental conhecer os seus valores, hábitos e costumes para uma melhor orientação e satisfação das suas necessidades, sempre numa atitude de parceria e não de imposição o que pode conduzir à ineficácia do relacionamento. Outro factor que dificulta a integração da diáspora chinesa em Portugal é a pouca interacção e convivência com os portugueses o que realça a necessidade de amadurecer uma atitude de mais abertura, disponibilidade e conhecimento por parte do país de acolhimento. A sociedade portuguesa tem evoluído favoravelmente nesse sentido multicultural, mas será necessário promover mais ligações quer ao nível de estruturas sociais, quer ao nível da produção cultural, como sociedade moderna e receptora de movimentos migratórios que pretende ser. 6. O VÍNCULO DAS EMPRESAS CHINESAS COM A CHINA

O vínculo das empresas chinesas com a RPC (Republica Popular da China) é muito forte, especialmente com as suas províncias de origem, os empresários chineses contactados provém da Província de Zhejiang, localizada a sul de Shangai, da cidade de Wenzhou e da zona rural de Qintian. Esta ligação não se limita ao plano social, mas também a interesses económicos e a oportunidades de investimentos na China (no sector imobiliário) que com o apoio das autoridades regionais, funcionam também como elo de ligação para as exportações da RPC para a Europa. De salientar a função do associativismo chinês que dinamiza as relações económicas entre as empresas chinesas em Portugal e a China, dando-lhes um estatuto e tratamento especial.

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7. CONCLUSÃO A finalidade deste estudo foi reunir alguns elementos relevantes das empresas chinesas em Portugal para melhor definir a sua estrutura, funcionamento e relacionamento empresarial e assim poder entender como a sociedade chinesa actua fora do seu país de origem. Para isso, foi necessário desenvolver alguns conceitos básicos que orientam a vida chinesa: a sua cultura, valores, hábitos e estilo de vida. Para melhor compreender a vida empresarial chinesa em Portugal também é necessário equacionar todas as actuais implicações da globalização, ou seja, todas as suas facetas, uma vez que este processo não é só cultural ou económico, mas também laboral. A mobilidade das populações é uma constante nos dias de hoje, devido às grandes disparidades nas condições de vida e nas situações políticas dos países que leva à procura duma vida melhor. No caso específico das empresas da diáspora chinesa em Portugal, é claramente motivada por razões económicas, o que justifica a facilidade e rapidez de implementação dos seus negócios. Esta fixação está assegurada por uma rede de contactos (guanxi) e é sustentada na maioria por elementos familiares, embora, como constatado no estudo, assista-se a uma maior abertura nas empresas chinesas com a admissão de trabalhadores portugueses. No entanto, o relacionamento entre as duas comunidades (portuguesa e chinesa) é ainda distante e pouco aprofundado, mas sem hostilidades, talvez pela atitude fechada tanto pessoal como empresarial da diáspora chinesa em relação aos portugueses, mantendo-se grande parte do tempo na sua privacidade familiar. Como interpretar a estratégia de vida empresarial chinesa em Portugal? Uma resposta possível poderá ser o carácter provisório da comunidade chinesa, cujo objectivo é unicamente económico, pretendendo posteriormente regressar à China. Outra justificação está na dificuldade de comunicação (domínio da língua) com os portugueses, excepto na interacção comercial, o que origina um afastamento relacional e social. Considero que é importante explorar e activar o conhecimento sobre a diáspora chinesa em Portugal para que a convivência com o fenómeno multicultural seja uma realidade e que a sociedade portuguesa esteja mais consciente da sua composição pluralista e que assuma uma posição mais tolerante. Assim é crucial investir em iniciativas políticas, económicas, sociais e comunitárias mais assertivas no que respeita à integração e aceitação da comunidade chinesa. A nossa identidade não se constrói por oposição às outras identidades, mas por relacionamentos. A diversidade é um valor cultural, social, étnico e sobretudo ético e ideológico. Confucius disse “ Os homens são similares entre si por natureza, eles divergem gradualmente como resultado de costumes diferentes.”

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8. BILBIOGRAFIA

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