a vida digital

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graffiare speciale

A Vida Digital

Nicholas NegroponteCopyright 1995

(Trechos selecionados por Paulo Vasconcellos)

Prefcio: GurusUma pequena homenagem aos verdadeiros malandros, particularmente aos imortais Dvorack (Walter Mercado de TI), Nick (New) Carr e Tom(a-lhe) Peters... O Meu Guru Quando, seu moo, careo d'um alento D'uma [declarao de] Viso pr enxergar J vou correndo atrs d'um homi D'algum que tenha um nome pr mostrar Como vou comprando, no sei lhe explicar Fui assim levando ele a me levar E na sua caretice ele um dia me disse Que Enxergava l Olha a Olha a, ai o meu Guru, olha a Olha a, o meu Guru E ele chega (Surrupiada de 'O Meu Guri', do grande Chico Buarque.) Chega com carro veloz e relusente E traz sempre o presente pra me encabular Tanta tendncia de ouro, seu moo Que haja bolso pr bancar Me trouxe uma bolsa j com tudo dentro Note, palm, tero e patu Inseno e uma penca de documentos Pra finalmente eu me achar, olha a Olha a, ai o meu Guru, olha a Olha a, o meu Guru

Gurus X ProvocadoresNo detesto todos os "gurus", como minha pardia pode fazer crer. H os legais: gente honesta que REALMENTE tem o que dizer. Prefiro aqueles que chamo "Provocadores" (tanto que no meu site (www.pfvasconcellos.eti.br) h uma seo s para eles). Na minha opinio, um guru de verdade s faz provocar. No vou perder tempo detonando os falsos profetas. Prefiro mostrar um trabalho srio. Uma grande provocao. Saca s: Message: 19 Date: 1.1.95 From: [email protected] To: [email protected] Subject: Bits and Atoms

The $400 Limit Applies to Atoms OnlyWhen returning from abroad, you must complete a customs declaration form. But have you ever declared the value of the bits you acquired while traveling? Have customs officers inquired whether you have a diskette that is worth hundreds of thousands of dollars? No. To them, the value of any diskette is the same - full or empty - only a few dollars, or the value of the atoms. I recently visited the headquarters of one of the United States's top five integrated-circuit manufacturers. I was asked to sign in and, in the process, was asked whether I had a laptop computer with me. Of course I did. The receptionist asked for the model, serial number, and the computer's value. "Roughly US$1 to $2 million," I said. "Oh, that cannot be, sir," she replied. "What do you mean? Let me see it." I showed her my old PowerBook (whose PowerPlate makes it an impressive 4 inches thick), and she estimated its value at $2,000. She wrote down that amount and I was allowed to enter. Our mind-set about value is driven by atoms. The General Agreement on Tariffs and Trade is about atoms. Even new movies and music are shipped as atoms. Companies declare their atoms on a balance sheet and depreciate them according to rigorous schedules. But their bits, often far more valuable, do not appear. Strange. Hehe. Nicholas Negroponte, do MIT. Reparem a data do e-mail (artigo da Wired): 1/Jan/95! Da minha homenagem: "A Vida Digital" vai fazer 10 anos!!

Mais um trechinho, 'profecia' dos ltimos passos do Google:

Library of the FutureThomas Jefferson introduced public libraries as a fundamental American right. What this forefather never considered was that every citizen could enter every library and borrow every book simultaneously, with a keystroke, not a hike. All of a sudden, those library atoms become library bits and are potentially accessible to anyone on the Net. This is not what Jefferson imagined. This is not what authors imagine. Worst of all, this is not what publishers imagine. The problem is simple. When information is embodied in atoms, there is a need for all sorts of industrial-age means and huge corporations for delivery. But suddenly, when the focus shifts to bits, the traditional big guys are no longer needed. Do-it-yourself publishing on the Internet makes sense. It does not for paper copy. Uma ltima provocao, agora de 01/Fev/95:

Bits Are BitsBut I did learn a few things as Imined my columns for the themes that run throughout Being Digital. The first is that bits are bits, but all bits are not created equal. The entire economic model of telecommunications -based on charging per minute, per mile, or per bit - is about to fall apart. As human-to-human communications become increasingly asynchronous, time will be meaningless (five hours of music will be delivered to you in less than five seconds). Distance is irrelevant: New York to London is only five miles further than New York to Newark via satellite. Sure, a bit of Gone with the Wind cannot be priced the same as a bit of e-mail. In fact, the expression "a bit of something" has new and enormous double meaning. Furthermore, we are clueless about the ownership of bits. Copyright law will disintegrate. In the United States, copyrights and patents are not even in the same branch of government. Copyright has very little logic: you can hum "Happy Birthday" in public to your heart's delight, but if you sing the words, you owe a royalty. Bits are bits indeed. But what they cost, who owns them, and how we interact with them are all up for grabs. O negrito meu. Pra lembrar que em 95 ainda no existiam Napsters, Kazaas e eDonkeys da vida... Ele j questionava copyrights e patentes bem antes do Creative Commons (creativecommons.org) e dos movimentos de Software Livre. Como Negroponte coerente pracas, d pra se deliciar com todas as colunas que ele escreveu pra Wired (http://web.media.mit.edu/~nicholas/Wired/). Aproveite!

A Vida DigitalO graffiare speciale vai comemorar os 10 anos da 1a edio de "A Vida Digital" (Being Digital) de Nicholas Negroponte. Depois do comentrio sobre gurus aproveitei a oportunidade para rello. Comprei a 1a edio em BH, em 95 mesmo. A viso de Negroponte impressionante. Suas "profecias" constrangem. Deveria ter carregado o livro na minha pasta desde ento. hehe

A tal 'homenagem' ser uma apropriao indbita d'alguns trechos do livro. Recomendo sua leitura. So s 200 pginas. A leitura fcil. E muito do que ele fala AINDA est por vir.

graffiare speciale #01

Sistemas Abertos"Costumo perguntar s pessoas se elas se lembram daquele livro de Tracy Kidder, 'The Soul of a new Machine'. Pergunto, ento, a algum que o tenha lido se capaz de lembrar-se do nome do fabricante do computador em questo. Ainda no encontrei quem se lembrasse. A Data General (essa era a tal empresa), a Wang e a Prime - no passado, empresas ambiciosas e de alto crescimento - demonstraram total desinteresse pelos sistemas abertos. Lembro-me de ter estado mesa de reunies de diretoria nas quais as pessoas argumentavam que sistemas proprietrios trariam uma grande vantagem em termos de concorrncia. Aquele que conseguisse desenvolver um sistema que fosse ao mesmo tempo popular e nico bloquearia a concorrncia. Parece lgico, mas trata-se de um completo equvoco, e por isso que as trs companhias mencionadas acima, alm de muitas outras, praticamente no existem mais. Essa tambm a razo pela qual a Apple est atualmente mudando sua estratgia. O conceito dos 'sistemas abertos' vital, um conceito que exercita a poro empreendedora de nossa economia e desafia tanto os sistemas proprietrios quanto os monoplios mais amplamente regulamentados. E ele est ganhando. Num sistema aberto, competimos com nossa prpria imaginao, e no contra uma chave e uma fechadura. O resultado no apenas um maior nmero de companhias bemsucedidas, mas tambm uma gama maior de alternativas para o consumidor e um setor comercial cada vez mais gil, capaz de rpidas mudanas e de um veloz crescimento. Um sistema aberto de verdade de domnio pblico, est totalmente disponvel na condio de uma fundao sobre a qual todos podem construir."Negrito meu. Trecho surrupiado da Pg 47. Quanta elegncia! 'Completo equvoco'!! hehe. Ainda no percebido por muitos... Daqui uns dias tem mais...

graffiare speciale #02

O Duelo Homem X Mquina"Eu tive em casa um videocassete muito inteligente, com reconhecimento de voz e um conhecimento de mim quase perfeitos. Eu podia pedir a ele que gravasse programas dizendo-lhes seus nomes e, em alguns casos, at supor que ele o faria automaticamente, sem que eu precisasse pedir. Ento, de repente, meu filho foi para a faculdade." ... "Um cachorro capaz de reconhec-lo pelo seu jeito de andar a uma distncia de mais de cem metros, ao passo que um computador nem sequer sabe que voc est diante dele. Quase todo bicho de estimao sabe quando voc est bravo, mas um computador no faz a menor idia. At um filhotinho de cachorro sabe quando fez algo errado: os computadores no." "O desafio para a prxima dcada no apenas oferecer s pessoas telas maiores, melhor qualidade de som e um painel grfico de comando fcil de usar. fazer computadores que conheam o usurio, aprendam quais so suas necessidades e entendam linguagens verbais e no verbais. Um computador deveria saber distinguir "Kissinger" de "kissing her", no por ser capaz de identificar a pequena diferena acstica, mas por compreender o sentido. Isso seria uma interface bem projetada." "O fardo da interao hoje em dia recai todo nos ombros do homem. Algo banal como imprimir um arquivo pode tornar-se um exerccio estafante, mais parecido com vodu do que com um comportamento humano respeitvel."(Pgs. 83 e 84)

10 anos se passaram e praticamente nada mudou. O reconhecimento de voz teve alguns ensaios promissores (lembram-se do ViaVoice, da IBM?), mas estacionaram. Alguns celulares so acionados por voz, mas isso nada perto da proposta de Negroponte. A MS estranhamente 'muda' quando o assunto 'voz'. Recentemente divulgava uma maravilhosa descoberta do seu centro de P&D: cones que 'corriam' em direo ao mouse numa operao 'arrastar/soltar'. Seria til em telas grandes! Pode?

graffiare speciale #03

Gurus tambm ErramAntes de prosseguir com a comemorao dos 10 anos de "A Vida Digital" de Nicholas Negroponte, um breve comentrio: Coincidncia ou no, Mr Billshit Gates passou a falar em "Digital Being" (ou vice-versa). Na CES disse que a prxima dcada ser a confirmao/consolidao da Vida Digital. Provavelmente ele planeja lanar um livro sobre o tema. Engraado q quando ele iniciou sua carreira de "escritor" deu o azar de seu 1o lanamento coincidir com "Being Digital" do Nicholas. Aconteceu em 1995. Ser que ele se lembra? Estar ele fazendo uma homenagem "tcita"? Deve tomar cuidado com as contradies. Afinal, Nicholas pode ser visto como um papa dos "modern-day sort of communists" (http://pfvasconcellos.blogspot.com/2005/01/poltico-dos-anos50.html). Chatice poltica de lado, o fato q se Mr Billshit quer mesmo disparar a dcada da digitalizao da vida (ou seria o contrrio?), deveria comear lendo "A Vida Digital". H tanto ainda por fazer... Sua demonstrao na CES s uma pequena prova disso. Mas o graffiare speciale de hoje tem um molho diferente. Vou destacar uma projeo equivocada (? - em parte) de Nicholas. Saca s:

"Contudo, tal e qual as empresas de informtica j extintas que s pensavam em sistemas proprietrios, os fabricantes de jogos tm at agora perdido a oportunidade de abrir seus sistemas fechados e competir com a imaginao. A Sega e a Nintendo tambm vo acabar desaparecendo se no acordarem para o fato de que os PCs esto comendo sua comida." "Os projetistas independentes de jogos tm, hoje, de perceber que seus produtos vo provavelmente se tornar best-sellers, se projetados para uma plataforma de uso geral, uma plataforma da qual somente a Intel planeja vender 100 milhes de unidades por ano. Por esse motivo, a computao grfica dos PCs vai se desenvolver com rapidez rumo quilo que vemos nos mais avanados videogames. Os jogos para PC vo suplantar os sistemas dedicados de jogos que conhecemos hoje."(Trecho extrado da pgina 103 da 1a edio)

Pois bem. Os PCs realmente avanaram muito. O portfolio de games oferecidos para a plataforma Wintel imensa. Mas, e da? Como explicar o inquestionvel sucesso da plataforma Playstation (Sony)? A Sony acaba de lanar o PSP (o Playstation porttil), apresentando-o como o 'walkman' do sculo XXI... A convergncia para o PC realmente parece lgica (at hj! No por acaso que foi o principal tema de Mr Billshit na CES). Mas eis que um console de videogame passa a ser tambm um DVD-player, dispositivo para acesso a Internet,... A convergncia parece inevitvel. Mas pr onde? O prximo graffiare speciale tentar responder.

graffiare speciale #04

Descentralizao"Esse agente de interface do futuro amide encarado como uma mquina central e onisciente de caractersticas orwellianas. Um resultado bem mais provvel que ele se componha de uma coletnea de programas de computador e aplicativos pessoais, todos eles muito bons em alguma coisa e timos em matria de intercomunicao. Baseio-me aqui no livro de Minsky 'The Society of Mind' (1987), no qual ele postula que a inteligncia no estar num processador central, mas no comportamento coletivo de um grande grupo de mquinas de usos mais especficos e altamente interconectadas." "Esse ponto de vista choca-se com uma srie de preconceitos que Mitchel Resnick, em seu livro 'Turtles, termites and traffic jams', de 1994, chama de o 'pensamento centralizador'. Ns estamos todos bastante condicionados a atribuir fenmenos complexos a algum tipo de agente controlador. comum supormos, por exemplo, que o pssaro a frente de um bando voando em V o que est no comando, e que os outros esto brincando de siga o mestre. No assim. A formao ordenada o resultado de uma srie de processadores de alta resposta que se comportam de forma individualizada e seguem regras harmoniosas, sem que haja um comandante. Resnick demonstra sua tese criando situaes nas quais as pessoas surpreendem-se fazendo parte de tal processo." "H pouco tempo, participei de uma dessas demonstraes de Resnick no auditrio Kresge do MIT. O pblico, cerca de 1200 pessoas, foi solicitado a bater palmas, e a tentar faz-lo em unssono. Sem o menor comando por parte de Resnick, e em menos de dois segundos, a sala inteira ps-se a bater palmas a um s tempo. Faa voc mesmo a experincia; o resultado poder ser espantoso, mesmo com grupos bem menores. A surpresa demonstrada pelos participantes revela em que pouca medida ns entendemos ou mesmo reconhecemos o surgimento da coerncia a partir da atividade de agentes independentes."(Pginas 137 e 138 de "A Vida Digital", de Nicholas Negroponte).

Pois bem, ta! Talvez o PC tenha em casa (ou no escritrio), um pouco mais de responsabilidade que ele tem hoje. Mas no ser um grande crebro central. Da que sua convivncia com um Playstation, por exemplo, deveria ser buscada. Vou destacar 2 termos: Convergncia e Convivncia (Colaborao?). Convergncia um conjunto de especializaes que faz sentido. (Gosto de chamar um conjunto 'sem sentido' de Combo). Ter uma cmera digital no meu celular faz sentido. til em alguns momentos. Por exemplo:

hehe...

Mas h um ponto de saturao. Qual? Temo que vamos aprender no tradicional "tentativa e erro". Infelizmente h muito foco em Convergncia e pouqussimo esforo em busca de Convivncia (acho que colaborao o prximo passo nessa escala de inteligncia). Se nossos bits no estranharem o dispositivo vizinho j uma grande vitria! Por exemplo: a imagem a de cima eu tive q enviar por e-mail, pq meu note no conseguiu reconhecer meu celular... nem via USB! tsc, tsc Post longo! Assunto muito bom... sigo nele oportunamente. Ah! Algum a falou em SOA (Services-Oriented Architecture)? Pois ... Esse papo todo a, levado pro mundo corporativo, tb faz todo o sentido do mundo. Ok... o post t longo...

graffiare speciale #05

Bits que descrevem Bits"Os computadores do futuro decerto sero capazes de compreender a narrativa em vdeo da mesma forma que voc ou eu, mas, ao longo dos prximos 30 anos, esse entendimento ficar restrito a reas bastante especficas, tais como o reconhecimento de rostos pelos caixas eletrnicos. Isso est muito distante da possibilidade de um computador depreender pelo vdeo que Seinfeld acaba de perder outra namorada. Assim, ns precisamos daqueles bits que descrevem a narrativa por intermdio de palavras-chave, precisamos de dados sobre o contedo e de referncias cruzadas."

"Nas prximas dcadas, os bits que descrevem outros bits, os ndices e os sumrios vo proliferar na transmisso digital. Eles sero inseridos pelo homem com o auxlio das mquinas, e o sero ou quando do lanamento do produto (como as legendas de hoje) ou mais tarde (pelos espectadores e pelos crticos). O resultado ser uma srie de bits contendo tantos cabealhos que seu computador ser de fato capaz de ajudlo a lidar com a vastido do contedo". ... "Os bits que informam sobre bits vo produzir uma mudana completa nas transmisses televisivas. Eles proporcionaro um gancho por onde agarrar o que for do seu interesse, e dotaro a rede de um meio de despachar bits para quem quer que os queira, esteja onde estiver. As redes vo afinal aprender o que de fato uma rede."(Surrupiado das pgs 155 e 156 da 1a edio (1995) de "A Vida Digital", de Nicholas Negroponte).

Pois bem, aos tais "bits que informam sobre bits" demos o nome "meta-dados". XML (eXtensible Markup Language) e seus derivados devem formar o padro 'de facto' para notao dos meta-dados. Devem? Debito minha dvida na conta da massa crtica (percepo!) que no chega. Alis, j usamos XML demais! J estamos at preocupados com o 'engarrafamento' que tal padro pode causar na net!! Mas, pr'eu, XML continua longe demais do lugar onde mais faria sentido: nas bases de dados corporativas. Outro dia eu explico.

graffiare speciale #06

O Fax da Vida"Se, 25 anos atrs, a comunidade dos cientistas da computao houvesse tentado predizer a percentagem dos novos textos que o computador hoje capaz de ler, eles a teriam estimado em 80% ou 90%. At por volta de 1980, eles podiam estar certos. Entra em cena, ento, a mquina de fax." "O fax uma mcula grave na paisagem da informao, um passo atrs cujas consequncias sero sentidas por muito tempo. Tal acusao parece um tapa na cara de um veculo de telecomunicao que aparentemente revolucionou a maneira pela qual conduzimos nossos negcios e, cada vez mais, nossa vida pessoal. Mas as pessoas no entendem o custo disso a longo prazo, as falhas no curto prazo e as alternativas." "O fax uma herana japonesa. No pelo fato de eles terem sido inteligentes o bastante para padroniz-lo e fabric-lo melhor do que ningum, como ocorreu com os videocassetes, mas porque sua cultura, sua lngua e seus hbitos empresariais so fortemente marcados pela imagem." "H apenas 10 anos, os negcios japoneses no eram conduzidos base de documentos, mas a viva voz e, em geral, face a face. Poucos eram os empresrios que possuam secretrias, e toda a correspondncia era com frequncia escrita mo. O equivalente japons de uma mquina de escrever parecia-se mais com uma fotocompositora, ostentando um brao eletromecnico posicionado sobre um denso gabarito de escolhas para produzir um nico ideograma kanji, de um total de mais de 60 mil." "A natureza pictogrfica do kanji tornou o fax natural. Uma vez que, poca, muito pouca coisa em lngua japonesa possua j forma legvel pelo computador, poucas eram as desvantagens. Por outro lado, para as lnguas simblicas como o ingls, o fax constituiu nada menos que um desastre, em se tratando da legibilidade pelo computador." "Com as 26 letras do alfabeto latino, os dez dgitos e um punhado de caracteres especiais, muito mais natural para ns pensar em termos dos caracteres ASCII de 8 bits. O fax, porm, nos fez ignorar isso. Hoje, a maioria das cartas comerciais, para citar um exemplo, so preparadas num editor de textos, impressas e enviadas por fax. Pense nisso. Preparamos os nossos documentos num formato inteiramente legvel pelo computador, to legvel que no nos custa nada mandar um corretor ortogrfico examin-los." "Bom, e o que fazemos ento? Imprimimos os documentos em papel timbrado, e eles perdem todas as propriedades do seu ser digital". "Depois, pegamos esse pedao de papel e colocamos no fax, onde ele (re)digitalizado para uma imagem, perdendo as poucas caractersticas que ainda houvesse no papel - o tato, a cor, o timbre. O fax despachado para seu destino, talvez um cesto de arame perto das mquinas de xerox. Se voc est entre os receptores menos afortunados, vai l-lo num papel pegajoso e de aparncia cancerosa, por vezes no cortado, uma reminiscncia de rolos antigos. Ora, faa-me o favor! Isso faz tanto sentido quanto enviarmos folhas de chs uns aos outros."

(Pgs. 162 e 163 da 1a edio)

Estamos em 2005 e TODO MUNDO ainda usa fax. O imediatismo cria 'desastres' assim. O email sofre de mal semelhante. (mal) utilizado em muita coisa. Serve de 'band-aid' pra sistemas mal concebidos. Pior que e-mail s as planilhas eletrnicas.

graffiare speciale #07

Comunidades Digitais"No ano 2000, haver mais gente se divertindo na Internet do que assistindo quilo que hoje chamamos de redes de televiso. A Internet vai desenvolver-se para alm dos MUDs (Multi-user Domains) e MOOs (MUD object-oriented) (que soam demasiado como um Woodstock da dcada de 1990, em formato digital) e comear a oferecer uma gama mais ampla de entretenimento." "A rdio Internet decerto uma dica para o futuro. Mas mesmo ela apenas a ponta do iceberg, pois, at agora, no se revelou muito mais do que um narrowcasting para um tipo especfico de hacker, como o demonstra um de seus maiores programas de entrevistas, o Geek of the Week." "A comunidade de usurios da Internet vai ocupar o centro da vida cotidiana. Sua demografia vai ficar cada vez mais parecida com a do prprio mundo. Como a Minitel francesa e a Prodigy americana aprenderam, a maior aplicao isolada das redes o e-mail. O valor real de uma rede tem menos a ver com informao do que com vida comunitria. A superestrada da informao mais do que um atalho para o acervo da Biblioteca do Congresso. Ela est criando um tecido social inteiramente novo e global."(Pgs. 158 e 159 de "A Vida Digital", de Nicholas Negroponte).

Orkut, Mercora, Shareaza e afins esto a para no deixar Negroponte mentir sozinho.

graffiare speciale #08

Interfaces Amigveis"O futuro provvel de todo e qualquer aparelho transformar-se num PC reduzido ou incrementado. Uma das razes para que se caminhe nessa direo tornar os aparelhos mais amigveis, mais fceis de usar e autoexplicativos. Pense um pouco em quantos aparelhos voc tem (forno de microondas, mquina de fax, telefone celular) cujas funes (algumas inteis) compem um vocabulrio gigantesco, o qual voc no se deu ao trabalho de aprender apenas porque demasiado difcil. a que o processamento embutido pode ajudar bastante, fazendo muito mais do que apenas garantir que o microondas no transforme seu queijo brie numa poa. Os aparelhos devem ser bons instrutores." "A idia do manual de instrues algo obsoleto. O fato de os fabricantes de software e hardware os despacharem juntamente com o produto no passa de uma perversidade. Nada pode instru-lo melhor sobre como usar a mquina do que a prpria mquina. Ela sabe o que voc est fazendo, o que acabou de fazer e pode at adivinhar o que voc far em seguida. Transformar essa conscincia da mquina num conhecimento de suas prprias operaes representa um passo pequeno para a cincia da computao, mas um enorme passo adiante e para longe do manual impresso que voc nunca sabe onde est e raramente entende." "Adicione-lhe alguma familiaridade com suas caractersticas pessoais (voc canhoto, tem problema de audio e pouca pacincia com coisas mecnicas), e a mquina pode se tornar uma assistente muito melhor no tocante a suas prprias operaes e manuteno do que qualquer documento. Os aparelhos de amanh no viro com quaisquer instrues impressas (a no ser pelo 'este lado para cima'). O 'termo de garantia' dever ser enviado eletronicamente para o fabricante pelo prprio aparelho, to logo ele sinta que foi instalado de forma satisfatria."

(Trecho extrado das pgs. 185 e 186 de "A Vida Digital", 1a edio brasileira)

Incrvel como de 1995 pra c parece que pouqussimo mudou, no? Ainda mais relendo o "Vida Digital". Negroponte est certssimo quando diz que, tecnicamente, sua proposta muito fcil de ser implementada. Ento pq nossos celulares ainda so acompanhados de manuais com dezenas de pginas? Preguia ou falta de viso? Uma certeza: tem muita oportunidade boa a! Nenhuma escondida. Ainda assim, todas muito boas!

graffiare speciale #09

A Nova Escola"Seymour Papert conta uma estria sobre um cirurgio de meados do sculo XIX transportado por mgica para uma moderna sala de operao. Ele no reconheceria coisa alguma, no saberia o que fazer ou como ajudar. A tecnologia moderna teria transformado por completo a prtica da medicina cirrgica, tornando-o incapaz de reconhec-la. Mas se um professor de escola primria de meados do sculo XIX fosse transportado pela mesma mquina do tempo para uma sala de aula atual, ele poderia dar prosseguimento s aulas do ponto em que seu colega de final de sculo XX as houvesse deixado, a no ser por um ou outro detalhe no contedo das matrias. H poucas diferenas fundamentais entre a maneira como ensinamos hoje e aquela como o fazamos h 150 anos. O emprego da tecnologia encontra-se quase no mesmo nvel. Na verdade, de acordo com pesquisa recente do ministrio da educao americano, o U.S. Department of Education, 84% dos nossos professores s consideram absolutamente 'essencial' um tipo de tecnologia da informao: uma fotocopiadora com um suprimento adequado de papel". "No obstante, estamos por fim nos afastando de um modelo linha dura de ensino - que tem atendido primordialmente a crianas compulsivamente serialistas -, rumo a um outro mais arejado, que no traa linhas to claras entre a arte e a cincia ou entre os lados direito e esquerdo do crebro. Quando uma criana utiliza uma linguagem de computador como Logo para fazer um desenho no seu monitor, essa imagem uma expresso artstica e matemtica ao mesmo tempo, podendo ser vista por qualquer um desses prismas. At mesmo algo abstrato como a matemtica pode hoje valer-se de elementos concretos das artes visuais". "Os computadores pessoais tornaro nossa futura populao adulta a um s tempo matematicamente mais capacitada e visualmente mais versada. Daqui a dez anos, provvel que nossos adolescentes estejam desfrutando de um panorama mais rico de opes, pois a busca do sucesso intelectual no pender tanto para o lado do rato de biblioteca, mas, em vez disso, oferecer uma gama mais ampla de estilos cognitivos, padres de aprendizado e formas de expresso". ... "Os hackers so os precursores dos novos e-xpressionistas".(Pgs 189, 190 e 191 da 1a edio)

A Wired de fevereiro traz uma matria muito legal sobre a "Vingana do Lado Direito do Crebro". (http://www.wired.com/wired/archive/13.02/brain.html)

graffiare speciale #10

Uma Era de OtimismoEncerro aqui a homenagem aos 10 anos do lanamento do livro A Vida Digital, de Nicholas Negroponte. Se a razo da homenagem ficou perdida em algum canto, relembro aqui em poucas palavras: trata-se do livro mais visionrio sobre tecnologia - particularmente a tecnologia da informao - que j li. Nicholas o escreveu, provavelmente, entre 93 e 94. A 1 edio em lngua portuguesa (que comprei numa das raras idas BH depois de adulto) foi impressa em maio de 95. O livro dividido em apenas 3 partes: Bits so Bits; Interface; e A Vida Digital. Parte das idias j havia aparecido na coluna que Nicholas mantinha da revista Wired (todos os artigos esto disponveis na seo Graffiare & Pizzas, do graffiti (pfvasconcellos.blogspot.com)). XML, SOA, web services, RFID, interfaces ricas, rede, impacto da Internet e o impacto da tecnologia na vida de todos. Est tudo ali, previsto no texto conciso e preciso do Sr. Negroponte. Bate um certo constrangimento por no ter aproveitado melhor boa parte dos insights que tive o privilgio de conhecer (e, de certa forma, entender) com tanta antecedncia. De qualquer forma, como j bloguei nesta srie, h muito ainda por fazer. Tambm j havia antecipado que este ltimo post da srie seria um tapa na cara. Trata-se de um trecho do eplogo chamado Uma Era de Otimismo. Saca s: Sou um otimista por natureza. Contudo, toda tecnologia ou ddiva da cincia possui seu lado obscuro, e a digitalizao no constitui exceo. Na prxima dcada, veremos casos de abuso de propriedade intelectual e de invaso de nossa privacidade.Enfrentaremos o vandalismo digital, a pirataria de software e o roubo de dados. E, pior do que isso: testemunharemos a perda de muitos empregos para sistemas totalmente automatizados, que em breve vo mudar o local de trabalho dos colarinhos-brancos na mesma medida em que transformaram a paisagem nas fbricas. A noo do emprego vitalcio numa nica empresa j comeou a desaparecer. A transformao radical da natureza de nossos mercados de trabalho medida que passarmos a trabalhar menos com tomos e mais com bits vai coincidir com a entrada on-line (e, literalmente, em fila) de uma fora de trabalho de 2 bilhes de trabalhadores indianos e chineses. Um projetista de software autnomo em Peoria estar competindo com seu colega em Pohang. O mesmo acontecer com um tipgrafo digital de Madri e seu correspondente em Madras. As companhias americanas j esto transferindo o desenvolvimento de hardware e a produo de software para a Rssia e para a ndia, no em busca de mo-de-obra no qualificada mais barata, mas para garantir para si uma fora de trabalho intelectual altamente especializada e aparentemente disposta a trabalhar mais duro, mais rpido e de forma mais disciplinada do que os trabalhadores americanos. ...

Matria especial da Wired sobre outsourcing offshore (Edio de Fev/2004). http://www.wired.com/wired/archive/12.02/india.html

Hoje, quando 20% do mundo consome 80% de seus recursos, quando um quarto de ns possui um padro de vida aceitvel e os outros trs quartos no, como superar essa diviso? Enquanto os polticos lutam munidos da bagagem da histria, uma nova gerao est surgindo na paisagem digital, desembaraada de muitos dos antigos preconceitos. Essa crianada est liberta da limitao imposta pela proximidade geogrfica como nico terreno para o desenvolvimento da amizade, da colaborao, do divertimento e da vizinhana. A tecnologia digital pode vir a ser uma fora natural a conduzir as pessoas para uma maior hamonia mundial. ... Meu otimismo no alimentado pela anteviso de alguma inveno ou descoberta. Encontrar a cura para o cncer e para a AIDS, descobrir uma forma aceitvel de controle populacional ou inventar uma mquina capaz de respirar o nosso ar, beber nossos oceanos e devolv-los depois, livres da poluio, so sonhos que podem ou no se realizar. A vida digital outra coisa. No estamos esperando por uma qualquer inveno. Ela est a. Agora. E quase gentica em sua natureza, pois cada gerao vai se tornar mais digital do que a anterior. Os bits de controle desse futuro digital esto mais do que nunca nas mos dos jovens. Nada seria capaz de me deixar mais feliz do que isso.(Surrupiado das pgs 195, 197 e 198)