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A VEZ DO MESTRE CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA VANESSA SIQUEIRA DE OLIVEIRA PSICOPEDAGOGIA NA FAMÍLIA E ESCOLA Rio de Janeiro 2010

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A VEZ DO MESTRE

CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM

PSICOPEDAGOGIA

VANESSA SIQUEIRA DE OLIVEIRA

PSICOPEDAGOGIA NA FAMÍLIA E ESCOLA

Rio de Janeiro

2010

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VANESSA SIQUEIRA DE OLIVEIRA

PSICOPEDAGOGIA NA FAMÍLIA E ESCOLA

Trabalho apresentado à A

Vez do Mestre conclusão do Curso

de pós graduação, sob orientação da

professora Carly Machado.

Rio de Janeiro

2010

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AGRADECIMENTO

Agradeço em especial a Deus que me

deus forças para chegar até aqui;

Aos meus pais, pelo apoio e carinho;

Ao meu marido Dito, pelo incentivo e

compreensão e ao meu baby

Guilherme.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho

monográfico, a todos que de alguma

forma positiva, contribuíram para o

meu crescimento educacional, pela

troca de saber e em especial aos

meus pais e meu marido que muito

colaboraram para a realização deste

trabalho.

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"Nenhum de nós é tão bom, e inteligente quanto todos nós..."

Marilyn Ferguson

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RESUMO

A psicopedagogia, se preocupa em solucionar a complexa trama dos

processos geradores de problemas da aprendizagem, a Psicopedagogia

ocupa-se de uma análise que abrange não só os planos dos desvios, mas

procura entendê-los a partir dos padrões de normalidade. Contribui para o

nosso próprio aprender, para o das pessoas que estão construindo sua

formação de ensinastes/aprendentes e para o de todos aqueles que de alguma

forma se relacionam com profissionais desta área, em uma perspectiva de rede

de interação social e também uma ação que nos causa muito interesse e

satisfação. É assim que se ampliam os personagens que compõem a nossa

história

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METODOLOGIA

A proposta deste trabalho é uma pesquisa bibliográfica realizada

utilizando as área da pedagogia, psicologia e psicopedagogia. Com o objetivo

de observar a relação entre família, escola e aprendizagem.

Tendo como referencia diversos autores entre eles: Jurandir Freire

Costa, Alicia Fernández, Teresa Haguette e Roberto Macedo.

,

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................... 09

CAPÍTULO 1

Família e Aprendizagem 12

CAPÍTULO 2

Escola e Aprendizagem 19

CAPÍTULO 3

Psicopedagogia, família e escola. 25

CONCLUSÃO....................................................................................................... 35

BIBLIOGRAFIA.................................................................................................... 37

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INTRODUÇÃO

Esse trabalho terá como foco a psicopedagogia em função de dois eixos:

a família e a escola. Até porque a família e a escola são espaços privilegiados

do advento do homem.

A psicopedagogia se preocupa e se ocupa da aprendizagem humana,

pois o objeto de estudo é sempre o “sujeito aprendente”, isto quer dizer que o

psicopedagogo está comprometido com qualquer modalidade de aprendizagem

e não só a acontecida ou provocada pela escola, portanto a psicopedagogia

esta inserida em todos os lugares onde ocorre qualquer tipo de aprendizagem.

Portanto a psicopedagogia que sempre teve como objetivo a construção

do conhecimento de uma forma mais consistente e humana, ela é um instituto

de ajuda, uma alavanca estimuladora para o educador em exercício de sua

prática pedagógica. Ela veio então permitir junto a pedagogia, a didática,

sociologia, enfim as diversas ciências humanas, vêm propiciar o

enriquecimento dos nossos olhares, para os nossos alunos num processo de

ensinar e aprender.

Enfim, a escolha do tema significa também uma atitude pessoal ao

desejar compreendê-lo melhor par viabilizar tais conhecimentos do meu

trabalho como profissional. A mediação do professor é primordial para que o

educando posa atuar com maior motivação na apreensão de conteúdos

trabalhados, assimilação e incorporação, sendo de vital importância para o

processo de aprendizagem e construção do conhecimento.

Propor qualquer projeto educacional que vise a formação de sujeitos ao

se pensar na mediatização dos conteúdos, no caminho percorrido pelo aluno

para se apropriar das informações e construir seus conhecimentos, é também

uma excelente oportunidade de reavaliar nossos modelos e nossas práticas

pedagógicas.

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A aprendizagem é um fenômeno complexo, holístico, uma reorganização

de percepções que permite que se apreenda novas relações e se ganhe

ampliada a percepção do mundo.

Compreender como ocorre a formação e a construção do conhecimento

do educando, suas percepções, ampliações e a mediação docente,

fundamentadas em lógicas de estudiosos como Piaget, Freud e Lajonquiére

serão o caminho traçado, como referencial teórico para alcançarmos a

proposta inicialmente posta de tematizar a aprendizagem escolar A

necessidade de se estudar a relação família e escola se sustenta e é

reafirmada quando o professor se esmera por considerar o aluno, sem perder

de vista a globalidade da pessoa, ou seja, compreendendo que quando se

ingressa no sistema escolar, não se deixa de ser filho, irmão, amigo etc.

Segundo Paro (2000), pesquisador que realizou um estudo sobre o

papel da família no desenvolvimento escolar de alunos do ensino fundamental,

o distanciamento entre escola e família não deveria ser tão grande, pois para

ele, a escola não ”assimilou quase nada de todo o progresso da psicologia da

educação e da didática, utilizando métodos de ensino muito próximos e

idênticos aos do senso comum predominantes nas relações familiares”(p.16). O

autor se remete ao fato de que, a atual escola dos filhos, é bastante parecida

com a escola que os pais freqüentaram, e por isso, estes últimos não deveriam

sentir-se tão distanciados do sistema educacional, e também o professor,

embora admita a necessidade da participação dos pais na escola, não sabe

bem como encaminhá-la. Nas palavras de Paro; “parece haver, por um lado,

uma incapacidade de compreensão por parte dos pais, daquilo que é

transmitido na escola; por outro lado, uma falta de habilidade dos professores

para promoverem essa comunicação” (p.68).

Infelizmente, as pesquisas que relacionam as instituições escola e

família são de número bastante reduzido, comparando-se à proporcionalidade

deste número, a importância essencial dessa relação para o desempenho

escolar das crianças. Esperamos ampliar nossa perspectiva, reconstruindo,

descontruindo, adquirindo e construindo conhecimentos sobre o tema proposto,

principalmente no aspecto da mediação docente como fator de

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incentivação/motivação nas relações do educando com os objetos de

conhecimento e o meio.

Antigamente costumava-se atribuir à criança, toda culpa por seu

fracasso escolar. Hoje, porém, já se reconhece que as dificuldades em

aprendizagem não se dão no vazio, e sim em contextos, tanto situacionais,

quanto interpessoais. Não podemos falar de dificuldades tendo somente a

criança como ponto de referência: o "contexto" em que a criança se encontra

precisa ser considerado. Assim, quer a família, quer a escola, podem ser

grandes responsáveis pela determinação dos distúrbios de aprendizagem.

A escolha do referido tema foi o fato de atuar junto a crianças com

inúmeros problemas de aprendizagem. Algumas não aprendem, ou aprendem

mal, outras apresentam dificuldades de adaptaçào à escola. Até que ponto a

influência da família está presente nesses problemas ?

No primeiro capitulo será abordado o tema Família e Aprendizagem, no

segundo capitulo Escola e Aprendizagem e no terceiro capitulo

Psicopedagogia, família e escola.

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CAPÍTULO 1

FAMÍLIA E APRENDIZAGEM

É possível desenvolver um trabalho psicopedagógico que inclua também

a família. Fazer um trabalho psicopedagógico interligado a uma terapia com a

família amplia sobremaneira as possibilidades de investimento nos recursos

pessoais e familiares dos pacientes que chegam ao consultório. Não podemos

esquecer de que os relacionamentos humanos possuem múltiplas facetas, pois

cada um de nós desempenha na vida uma enorme variedade de papéis, muitos

dos quais justamente com alicerces na dinâmica família/indivíduo: papel de pai,

de mãe, de filho, filha, de avô, avó, de irmão, irmã, para apenas citarmos os

referentes à família nuclear.

“se pensarmos no problema da aprendizagem como só derivado do organismo ou só da inteligência, para sua cura não haverá necessidade de recorrer à família. Se, ao contrário, as patologias no aprender surgissem na criança ou adolescente somente a partir de sua função equilibradora do sistema familiar, não necessitaríamos, para seu diagnóstico e cura, recorrer ao sujeito separadamente de sua família. Ao considerar o sintoma como resultante da articulação construtiva do organismo, corpo, inteligência e a estrutura do desejo, incluido no meio familiar (e determinado por ele) no qual seu sintoma tem sentido e funcionalidade...é que podemos observar o possível ‘atrape’ da inteligência’. (FERNÁNDEZ,1994:98)

O sucesso ou insucesso dos outros inumeráveis papéis que teremos de

exercer ao longo de nossa história dependerão, em grande parte, do sucesso

ou insucesso de nossas relações dentro do sistema familiar. Poder investir

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neste sistema é, então, poder desenvolver meios eficazes de atuação em

vários outros sistemas, entre eles a escola. É neste ponto de confluência que

surge a riqueza de um trabalho psicopedagógico em parceria com um trabalho

de terapia de família. Tem-se percebido, na prática, que as queixas, sejam elas

quais forem - dificuldade de atenção e concentração, no processo de aquisição

da leitura e da escrita, no processo matemático, na organização, no tempo e

espaço, nos relacionamentos, etc - sempre implicam a inclusão das instituições

e, principalmente, a da família: o indivíduo nunca está sozinho no espaço

terapêutico, pois traz com ele próprio todas essas relações.

Quando uma família procura o psicopedagógico, o que ela pede é que a

ajude-a a ver em que ponto de sua história ela ficou paralisada, que nó impede

seu perfeito funcionamento, ou qual padrão de ligação não satisfaz. Alícia

Fernandez, afirma que as famílias constroem histórias sobre suas vidas, e

depois, com o passar dos tempos, elas se tornam as próprias histórias que

contam. Por isto, a maneira como se organiza uma família está intimamente

relacionada à visão que ela tem de si mesma. Com o passar do tempo, essa

visão acaba por ajudar a construir os mitos familiares que, por sua vez,

reforçam a visão que a família tem de si, e assim, sucessivamente.

“ pensando nas relações do grupo familiar, segundo a teoria dos sistemas, podemos dizer que neste, o comportamneto de cada um dos membros é interdependente do comportamento dos outros. O grupo familiar pode então, ser visto como um conjunto que funciona como uma totalidade e no qual as particularidades dos membros não bastam para explicar o comportamento de todos. Assim a análise de uma família não é a soma das análises de seus membros”. (CAPRA,1997:24)

Muitas vezes, quando a família leva os seus problemas ao

psicopedagógico, o que se tem realmente são as definições que criou para si

própria, e que acabam por funcionar como carcereiras: tentar escapar delas é

como apalpar a morte, pois não se pode imaginar a vida de outra maneira.

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Numa dinâmica familiar, os vínculos emocionais que atam uns aos outros têm a

densidade de um fio de aço: possibilitar movê-los, flexibilizá-los ou desatá-los é

convidar os membros de um sistema familiar a percorrer um caminho cheio de

perigos, mas com possibilidades imensas de novas descobertas.

Nesse sistema, tudo aparece em forma de interações: não há o indivíduo

sozinho, mas o indivíduo em interação com...Assim, uma mulher, enquanto

esposa de um homem autoritário, pode funcionar como submissa, enquanto ela

mesma é uma déspota na relação com os filhos. Estes, por sua vez, com cada

um de seus irmãos podem agir de uma maneira: dóceis com alguns, durões

com outros, dominadores com um mais novo, e assim por diante. Ao

experienciar as formas de atuação da família, por sua vez, revê-se suas

próprias formas de atuação: ao filiar-se ao sistema familiar, possibilita que os

membros daquele sistema também se filiem ao psicopedagogo. E é por meio

da conquista da confiança na figura do psicopedagogo que se tornam

plausíveis as mudanças necessárias.

“a pouca diferença entre os membros da família leva a uma confusão de papeis que provoca perturbações na estrutura hierárquica da família, com invenções nas quais os filhos tornam-se pais e os pais tornam-se filhos, ou são todos irmãos, sem haver uma divisão nítida de papéis. A família nuclear não se separará o suficiente das respectivas famílias de origem e não estabelecem, o que Minuchin chama de fronteiras geracionais.” (GROISMAN,1996:127)

A prática psicopedagógica deve ter um olhar voltado para a saúde, para

o desenvolvimento do potencial do sujeito como construtor do conhecimento, e,

para tal, deve auxiliá-lo a sair do espaço e do tempo em que está,

ressignificando sua aprendizagem. Deve também olhar as dificuldades -sejam

cognitivas ou afetivas - como oportunidades de crescimento, pois todo

indivíduo aprende além dos aspectos educacionais ou pedagógicos. Ela pode

ter como suporte teórico os saberes das outras ciências, construindo-se e

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articulando-se em diferentes níveis, e, neste aspecto, articula-se muito bem

com a terapia familiar sistêmica. Lembrando a fala de Lino de Macedo:

"Qualquer pessoa pode beneficiar-se da psicopedagogia, pois ela é também

uma prestadora de serviços. Como o conhecimento não tem fronteiras e nem

proprietários, ela aceita o sujeito do conhecimento tal como ele se apresenta."

Normalmente, quando as famílias procuram um psicopedagogo,

percebe-se uma diferença muito interessante: as famílias que procuram vaga

para crianças até a 4ª série, em sua maioria, ainda está naquele período em

que não aceitou bem a dificuldade da criança, ainda tem a esperança de que

um dia ela irá para uma escola "normal".

“ uma criança pode desistir da escola porque aceita uma responsabilidade emocional, encarregando-se do cuidado de algum membro da família. Isso se produz em resposta à depressão da mãe e da falta de disponibilidade emocional do pai, que de maneira inconsciente, ratifica a necessidade que tem a esposa, que seu filho a cuide. “ (CAPRA, 1997:189)

Existe a vergonha porque a criança precisa de uma escola diferente;

eles querem ver como é " a cara dos outros alunos", aparece o preconceito.

Por outro lado, os pais do Ensino Médio (antigo Colegial), são pais com maior

tranqüilidade em aceitar aquele filho diferente, já trilharam um caminho vêem a

possibilidade de continuar. Percebe-se uma aceitação maior, não existe mais

as questões do preconceito, na sua maioria estabeleceram um relacionamento

mais amplo dentro da comunidade.

Pode-se observar uma clara analogia entre a aceitação de um filho

diferente e as fases que Macedo descreveu para a aceitação do luto:

sentimentos como raiva, ansiedade e medo, a família está desorganizada

internamente, tendem a esconder essas crianças do mundo externo, da

realidade. Depois disso vai existindo um salto qualitativo onde os pais

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começam a trabalhar melhor esta idéia e vão passando para uma fase de

maior aceitação, de mais organização.

O desenvolvimento do ser humano ocorre simultaneamente nos níveis

emocional, físico, de pensamento e de linguagem e, para que ele aconteça,

participam fatores da própria criança, como a maturidade neurológica, por

exemplo, e fatores ambientais, presentes nas relações estabelecidas com o

espaço físico e com as pessoas com as quais a criança convive.

A família tem papel fundamental nesse desenvolvimento, fornecendo os

primeiros relacionamentos da vida do bebê, onde ocorrem as primeiras trocas

de sensações, emoções e linguagem, desde os primeiros momentos de vida.

A mãe ou a pessoa que assume os cuidados com o bebê acaba entrando em

uma “sintonia fina” de comunicação que lhe permite um grau de compreensão

da linguagem da criança, a ponto de perceber, através das diferentes inflexões

do choro, se o bebê está com fome, ou sono, por exemplo.

Nessa relação, a criança, por sua vez, também vai interpretando a

comunicação da mãe, comparando-a com a sua própria e evoluindo

lingüisticamente até que emita as primeiras palavras com significado.

É importante perceber que o pai, a partir de um determinado momento

passa também a fazer parte desse relacionamento, que inicialmente é feito

mais com a figura materna, e que sua participação é primordial no processo.

A linguagem é uma das aprendizagens infantis, entendendo-se o

conceito de aprendizagem como um processo de contínua adaptação ao meio.

Esse processo é construído pela criança durante o seu desenvolvimento e

está, no início da vida, basicamente relacionado ao ambiente familiar.

O bebê, inicialmente possui reflexos que lhe garantem a sobrevivência,

como, por exemplo, o reflexo de sucção que possibilita sua alimentação.

Depois, ele inicia a aprendizagem, passando de reflexos para comportamentos

aprendidos, como sugar objetos pelo prazer da sensação que produzem. A

evolução acontece a partir dos reflexos, que se transforma em comportamentos

aprendidos que, posteriormente, chegam ao nível da representação mental, ou

seja, da capacidade de pensar sobre as pessoas, objetos e situações na

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ausência física deles. A representação mental inicia-se mais tarde,

aproximadamente aos dois anos de idade.

Durante os seus primeiros anos, a criança aprende habilidades que

serão importantes por toda a vida, tais como andar, comunicar-se através da

fala, controlar esfíncteres (não necessitar mais de fraldas) e comer utilizando

as próprias mãos, dentre outras.

Nas situações em que ocorrem essas aprendizagens, nas quais a

criança encontra-se geralmente no ambiente familiar são desenvolvidas

também formas de aprender que influenciarão a aprendizagem futura,

influenciando-a até a vida adulta.

Quando esse processo ocorre de forma adequada, a aprendizagem

acontece de forma equilibrada, contudo, há situações familiares que não

favorecem esse desenvolvimento. Em uma família onde, por exemplo, não são

dados à criança o amor, a atenção, o tempo e as condições necessárias para

que ela brinque, explore os objetos e situações, experimente sensações e

aprenda com elas, pode ocorrer o desenvolvimento de um tipo de

aprendizagem superficial, que pode levar a dificuldades de aprendizagem

escolar ou alterações de linguagem.

Como podem perceber, os membros da família, em especial as figuras

materna e paterna, são muito importantes e o ideal é que sempre se tenha em

mente a promoção do contato com a criança, levando em conta as mudanças

atuais na sociedade e as exigências econômicas , que fazem com que cada

vez menos se tenha tempo para o contato familiar.

É preciso também ter conhecimento das mudanças que a família tem

sofrido e trabalhar com elas. Atualmente as mulheres têm ocupado cada vez

mais espaço no mercado de trabalho, o que muitas vezes as afasta da casa e

do contato diário com os filhos. Os pais, por outro lado, têm participado mais, o

que é importante, pois, além de dividirem com a mãe o cuidado com os filhos,

fornecem a eles referências especificamente masculinas que são importantes

para o seu desenvolvimento.

Em casos de dificuldades de aprendizagem, é sempre importante

procurar ajuda profissional, para que se possa, além de trabalhar com a criança

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no sentido de favorecer sua aprendizagem, compreender também os aspectos

familiares envolvidos e orientar os pais para que possam estimular o

desenvolvimento do filho de forma adequada.

É importante saber que, ainda que os pais disponham de pouco tempo

para estar com os filhos no dia-a-dia, vale mais um contato de dez minutos

diariamente com qualidade do que passar um dia inteiro com a criança ao final

de um mês como forma de recuperar o tempo perdido.

Os relacionamentos entre pais e filhos devem ser verdadeiros e ocorrer

de forma prazerosa para todos, pois não basta estar em um mesmo espaço

físico, é necessário que haja uma interação, na qual exista comunicação de

sentimentos e idéias para que se possa estimular a aprendizagem.

É preciso também que a família respeite a criança, no seu estágio de

desenvolvimento, em relação a seus sentimentos, sem, contudo, deixar de

transmitir valores ou de colocar a ela os limites necessários, o que é

fundamental para que ela aprenda não só conteúdos escolares, mas que possa

conviver em sociedade, adaptando-se com sucesso, realizando transformações

e, principalmente, sendo mais feliz.

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CAPÍTULO 2

ESCOLA E APRENDIZAGEM

“ ...entendemos que o desenvolvimento se realiza através do desenvolvimento social. O contexto social retroalimenta as percepções da realidade e vai criando sígnos, sinais, indicadores, através dos quais as crianças aprendem a construir o mundo e a atuar nele. Portanto, a interação com omeio, que incluiu sempre as outras pessoas, é peça chave para que se produza a aprendizagem. O mundo se constrói através da linguagem criando contextos significativos que se acrescentam e modificam pela diversidade de relaçòes que se estabelecem. Desde esta perspectiva, afirma-se que a aprendizagem se produz na e através da rede social.”(DABAS,1997:4)

No que se refere à instituição escolar sabe-se que, na maioria das

vezes, o que aparece como problema de aprendizagem é muito mais um

fracasso do sistema ensinante do que uma problemática do aprendente. No

mundo atual, surgem novos conhecimentos e avanços tecnológicos de forma

acelerada. Novos valores, representações e crenças se impõem. Por outro

lado, percebe-se que as amplas discussões sobre o compromisso político e a

competência técnica dos educadores não produziram o avanço que se

esperava nas questões ligadas aos processos de ensino/aprendizagem. Hoje

nos meios educacionais, ao lado de um trabalho com o conhecimento das

disciplinas escolares e do contexto onde a escola se insere, enfatiza-se as

características pessoais dos educadores: suas expectativas, suas convicções,

suas vivências - o fator pessoa do professor. Ressaltar esse fato já significa um

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avanço, entretanto não se tem apontado alternativas de atuação para que essa

integração ocorra

“A instituição educacional é uma unidade social empenhada em concretizar desejos comuns já instituídos no meio no qual se insere. Nesta tarefa interagem grupos nas dimensões pedagógica, sociológica e administrativa, promovendo a circulação dos saberes de uma certa cultura, expressando-se através de um conjunto de códigos que exprimem e regulam a atividade de educar, objetivando a adaptação e a inclusão dos indivíduos no meio social.”(WINNICOTT,1990:72)

Percebe-se na especificidade da instituição educacional uma interação

que se dá em três dimensões dentro do mesmo espaço, inseridas na dimensão

social mais ampla: O SUJEITO; O CONHECIMENTO; O OUTRO.

É na interseção destas dimensões, neste novo espaço criado através da

interação, que surge e subsiste a instituição educacional – ESCOLA. A

psicopedagogia institucional busca a interpretação do fenômeno

"aprendizagem" a partir de um olhar macro da instituição como um todo

(holístico), através do diagnóstico psicopedagógico institucional; que possuí

seus próprios referenciais teóricos e permite a compreensão da realidade do

fenômeno e dos entraves à sua manifestação.

“um problema é aquilo que uma pessoa vive como uma dificuldade que ele define como tal para si mesmo ou para outra pessoa. Por isso, um problema se relaciona com a forma com que uma pessoa vê a si mesma ou a outra pessoa e com a maneira com que ele ou ela constrói um domínio social que assim aceita tal maneira de ver.”(MATURANA,1995:65)

O diagnóstico psicopedagógico institucional permite tomadas de decisão

mais acertadas nos momentos de crise, a antecipação de tais momentos e os

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caminhos para evitá-los e ainda o planejamento adequado para o alcance dos

objetivos da instituição. Deve, assim, ser uma atividade constante na escola,

principalmente em virtude da característica dinâmica do modelo de instituição.

O sistema tem uma força brutal. Se colocarmos uma criança mais frágil

num sistema onde ela vai ser engolida, isso não pode ser bom em hipótese

alguma, ela não tem recursos para lidar com este sistema, ela não pode fazer

frente à força desse sistema

“...para que um problema exista uma pessoa deve especificá-lo e a outra aceitá-lo. Potanto, todo problema implica uma comunicação e toda comunicação e toda comunicação leva implícita uma congruência dinâmica entre os interlocutores, os quais coordenam suas condutas através dela...” (MATURANA,1995:65)

A psicopedagogia está ganhando um espaço muito grande, muito forte e

muito bom. Conta-se com bons cursos de especialização, consistentes,

abarcando uma base teórica ampla. Esses cursos também contemplam a

formação clínica, com prática e supervisão. Assim, o profissional adquire

condições de desenvolver um trabalho de excelência.

Ao mesmo tempo, nota-se nas escolas, nas empresas e nas clínicas um

espaço aberto para o psicopedagogo. A psicopedagogia vem se consolidando

como área de conhecimento, como área de atuação, trabalhando

interdisciplinarmente e fazendo as pessoas compreenderem que aprender não

é algo necessariamente ligado ao ensino sistematizado, à escola.

"Aprender é algo que se faz o tempo todo, durante toda a vida. Depois que deixamos de fazer as coisas por reflexos, tudo o que fazemos demanda aprendizagem. Aprendemos nas empresas, aprendemos nas instituições, aprendemos nas escolas, aprendemos com as famílias e nas famílias", o que amplia muito o campo do psicopedagogo.”(SCOZ,2000:71)

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Esta comunicação trata de um enfoque em Psicopedagogia.

Psicopedagogia definida como a área que estuda e lida com o processo de

aprendizagem e suas dificuldades sendo psicopedagogo entendido como

aquele que desempenha essa ação. Esta exposição refere-se a mais de duas

décadas de prática profissional e de dados de pesquisas, que focalizam o

aluno em situações de aprendizagem, quer com professores em classe de

escolas públicas, quer com o psicopedagogo em atendimento individual. A

análise desses dados evidenciou diferentes maneiras de o aluno lidar com o

que lhe é ensinado e mostrou implicações das atitudes de professores e de

psicopedagogos nesse processo do aprendiz.

Criar os filhos, educá-los, prepará-los para agir com responsabilidade e

segurança no conturbado mundo em que hoje vivemos é uma tarefa tão

exigente e desafiadora quanto prazerosa e gratificante.

Considerando que o ser humano aprende o tempo todo, nas mais

diversas instâncias que a vida lhe apresenta, o papel da família é fundamental,

pois é ela que decide, desde cedo, o quê seus filhos precisam aprender, quais

as instituições que devem freqüentar, o que é necessário saberem para

tomarem as decisões que os beneficiem no futuro.

“... na concessão de poder, através da disposição a escutar e obedecer, que as interações humanas geram algumas das peculiaridades que caracterizam determinados sistemas sociais, sejam estes parceiros, família ou sociedades como as entidades políticas onde o terapeuta tem que atuar...”(MATURANA,1998:66)

Escolher a escola adequada às expectativas da família e que, ao mesmo

tempo, seja do agrado da criança, é um empreendimento cujo sucesso

depende, em grande parte, da perspicácia e habilidade dos pais ao avaliar

diferentes propostas. Estar atento ao projeto educativo e ao perfil disciplinar da

instituição auxilia a optar por aquela cujos valores e fundamentos mais se

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assemelhem aos da família em termos de exigências, posturas, visão de

mundo. Conhecer as dependências e possibilidades da escola, seus

diferenciais, bem como os profissionais que estarão encarregados da educação

de seu filho também é recomendado.

“Tanto quanto a convivência e o relacionamento familiar são fatores fundamentais para o desenvolvimento individual, a inserção da criança no universo coletivo, a mediação entre ela e o mundo, entre ela e o conhecimento, sua adaptação ao ambiente escolar, o relacionamento com os professores e funcionários da Escola, a convivência com os colegas, são fatores decisivos para o seu desenvolvimento social.” (FERNÁNDEZ,1994:98)

Entender o indivíduo como parte de um sistema, ou todo, organizado,

com elementos que interagem entre si, influenciando cada parte e sendo por

ela influenciado, traz uma luz à compreensão acerca do desenvolvimento

humano, contribuindo para a reflexão sobre os contextos familiar e escolar, que

tanto podem ser elementos de continência, inclusão e segurança, como fontes

de conflitos, com ênfase nas perdas que se podem apresentar no percurso.

“...de acordo com a visão sistêmica, as propriedades essenciais de um organismo, ou sistemas vivo, são propriedades do todo, que nenhuma das partes possui. Elas surgem das interações e das relações e das partes. Elas são destruídas quando o sistema é dissecado, física ou teoricamente, em elementos isolados. Embora pensamos discernir individuais em qualquer sistemas, essas partes não são isoladas e a natureza do todo é sempre diferente da mera soma das partes.” (CAPRA,1997:43)

Família e escola são pontos de apoio e sustentação ao ser humano; são

marcos de referência existencial. Quanto melhor for a parceria entre ambas,

mais positivos e significativos serão os resultados na formação do sujeito. A

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participação dos pais na educação formal dos filhos deve ser constante e

consciente. Vida familiar e vida escolar são simultâneas e complementares. É

importante que pais, professores, filhos/alunos compartilhem experiências,

entendam e trabalhem as questões envolvidas no seu dia- a- dia sem cair no

julgamento “culpado x inocente”, mas buscando compreender as nuances de

cada situação, uma vez que tudo o que se relaciona aos filhos tem a ver, de

algum modo, com os pais e vice-versa, bem como tudo que se relaciona aos

alunos tem a ver, sob algum ângulo, com a escola e vice-versa.

Assim, cabe aos pais e à escola a preciosa tarefa de transformar a

criança imatura e inexperiente em cidadão maduro, participativo, atuante,

consciente de seus deveres e direitos, possibilidades e atribuições.

“o conhecimento do conhecimento compromete. Compromete-nos a tomar uma atitude de permanente vigilância contra a tentação da certeza, e reconhecer que nossas certezas não são provas da verdade como se o mundo que cada um de nós vê fosse o mundo, e não um mundo, que produzimos com outros. Compromete-nos porque, ao não saber que sabemos, não podemos negar o que sabemos”. (MATURANA,1998:69)

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CAPÍTULO 3

PSICOPEDAGOGIA, FAMÍLIA E ESCOLA

O setor de psicopedagogia até mais ou menos 1985 era responsável por

toda a parte educacional, inclusive Escola e Unidades. Depois, com a

ampliação da escola, formou-se o Setor Escolar, autônomo e o Setor de

Reeducação psicopedagógica concentrando-se na parte de terapias

trabalhando no sentido de desenvolver o aspecto cognitivo da personalidade,

tratando, e às vezes evitando problemas maiores de aprendizagem.

Um trabalho psicopedagógico pode auxiliar os educadores a

compreender os processos de ensino/aprendizagem a partir da integração de

uma multiplicidade de fatores intervenientes: cognitivos, afetivos, orgânicos e

sociais. Um ponto importante a ser assinalado é que por vezes os sintomas das

dificuldades de aprendizagem e dos problemas de aprendizagem são

parecidos e em ambos os casos os alunos demonstram que não conseguem

aprender.

Como a psicopedagogia é uma área que estuda e lida com os processos

de aprendizagem e com os problemas dele decorrentes pode auxiliar os

educadores a fazer essa distinção, ou seja, as dificuldades de aprendizagem,

que podem ser solucionadas pelos próprios professores, dos problemas de

aprendizagem, que necessitam da intervenção de profissionais especializados.

Essa distinção permite que os educadores das escolas façam uma triagem

criteriosa dos alunos, abandonando posturas patologizantes ou indiferentes

frente aos processos de aprendizagem, delimitando com maior clareza seus

espaços de atuação. As crianças com problemas de aprendizagem necessitam

de um atendimento psicopedagógico clínico, onde busca-se libertar a

inteligência, mobilizar a circulação do conhecimento possibilitando a autoria de

pensamento.

Os conhecimentos da psicopedagogia têm oferecido inúmeras

contribuições à educação, justamente por tratar-se de uma área de

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conhecimento e de atuação que nos últimos vinte anos vem aprofundando

questões na tentativa de compreender como os indivíduos aprendem. A

Associação Brasileira de Psicopedagogia ocupa um importante papel frente à

essas questões. Por tratar-se de uma instituição de cunho eminentemente

científico/social, têm promovido nos últimos vinte anos, a abertura de espaços

de discussão e de intercâmbio de conhecimentos com profissionais de várias

áreas de atuação do Brasil e de outros países.

A partir dessas atividades e da atuação dos psicopedagogos nas

clínicas, nas instituições escolares, nas universidades e no campo da pesquisa

científica, a psicopedagogia construiu e continua construindo não só técnicas

de diagnóstico e de atendimento psicopedagógico clínico e institucional, mas

também um campo de conhecimentos especializados e avançados no que se

refere aos processos de ensino/aprendizagem.

“todo homem tem direito ao pleno acesso ao saber acumulado ao longo da hitória humana, representado pela cultura. A leitura e a escrita representam ferramentas fundamentais a esse acesso. A escola e a família são espaços privilegiados do advento do homem.” (MACEDO, 2000:69)

Há vinte anos a Psicopedagogia vem construindo conhecimentos e

possibilidades de atuação em torno desse tema. Como diz Alícia Fernandez,

ela transita pelas fendas, pelos espaços entre objetividade/subjetividade,

ensinante/aprendente e é aí que está a sua força. A Psicopedagogia tem muito

a ensinar sobre o vínculo professor/aluno, professor/escola e sua incidência na

construção do conhecimento e na constituição subjetiva de alunos e

educadores. A Psicopedagogia tem trabalhado com as relações entre as

modalidades de ensino da escola e dos professores e as modalidades de

aprendizagem de alunos e educadores. A Psicopedagogia oferece inúmeros

conhecimentos e formas de atuação para a abertura de espaços

objetivos/subjetivos onde a autoria de pensamento de alunos e professores

seja possível e, conseqüentemente, a aprendizagem ocorra. Além disso,

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alguns psicopedagogos têm realizado trabalhos com grupos de educadores

resgatando suas histórias de aprendizagem, ressignificando seus modelos de

aprendentes/ensinantes; têm proporcionado a abertura de espaços vivenciais

para que os educadores reconheçam a própria autoria de pensamento,

permitindo assim que seus alunos também sejam sujeitos pensantes. Espaços

onde os educadores se conectam com a angústia de conhecer e de

desconhecer redimensionando seus vínculos com os alunos.

“A psicopedagogia não é uma especialidade (porque especialidade é condição disciplinar), psicopedagogia é uma teoria de vida, de postura, é filosofia, é ciência que ainda está para ser estudada com instrumentos próprios, portanto é uma atividade surgida de uma demanda da própria escola que não conseguia resolver seus problemas. “(BIRMAN,1998:26)

O psicopedagogo tem que trabalhar dentro das diferenças, entrar de

cabeça dentro de um paradoxo que faz parte de nossa vida, por isso tem que

ter muita reflexão. A questão da aprendizagem é uma questão central da

psicopedagogia, existem milhões de teorias para se explicar à aprendizagem,

mas nunca explicaremos totalmente a aprendizagem, porque nós fazemos

parte da aprendizagem, a aprendizagem é processo, aprendizagem é vida, não

é finito, ou melhor, só deixamos de aprender quando morremos, nossa última

aprendizagem é aprender a morrer. Nenhuma teoria de aprendizagem será

abrangente para se trabalhar, então trabalhamos parte deste todo que pode

representar o todo, mas não é o todo, porque o todo é muito mais do que a

soma de suas partes.

“Cabe ao psicopedagogo inicialmente diferenciar as situações facilitadoras/dificultadoras pelas quais as pessoas passaram resgatando seu processo.”(BIRMAN,1998:40)

A Psicologia Educacional, como área profissional, caracteriza-se, por

atividades de treinamento de crianças com problemas de aprendizagem e

comportamento baseados em teorias do comportamento.

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A Pedagogia tem sua própria ciência e muitas das descobertas da

Psicologia são utilizadas para definir métodos, técnicas e estratégias de ensino,

mas parece que isso não está mais dando certo nas escolas visto o alto nível

de reprovação e evasão escolar. A psicopedagogia se baseie nas descobertas

da psicologia, dos métodos, técnicas e estratégias da pedagogia cada uma

dessas disciplinas tem seu campo específico, e o psicopedagogo se firmar num

determinado encontro que não é nem pedagógico, nem psicológico, uma outra

entidade, que tem personalidade, características, objetivos e destino próprio.

Não vou também entrar aqui na discussão sobre os cursos de formação de

psicólogos e de pedagogos que já estão defasados e sucateados e nos cursos

de psicopedagogia que também não estão adequados aos novos tempos que

se aproximam, isso fica para uma outra oportunidade.

“Em certos aspectos vejo a evolução da Psicopedagogia no Brasil nestes últimos anos com otimismo. Por outro lado, preocupa-me a proliferação de cursos de psicopedagogia em Instituições que visam apenas a parte financeira, e conseqüentemente geram práticas irresponsáveis em nome da psicopedagogia.” (SCOZ, 1992:34)

O preparo do pedagogo é uma questão que me mobiliza profundamente.

O meu desejo é falar sobre este ponto por horas a fio, para demonstrar minha

indignação com o descaso dos nossos governantes frente a educação no

nosso país. O ensino nas instituições do governo é da pior qualidade. O que

tenho constatado é um caos absoluto. Porém, tenho observado recentemente

uma crescente demanda em relação ao psicopedagogo nas instituições

particulares e até mesmo a iniciativa de alguns municípios na implantação da

carreira de psicopedagogo institucional.

A Psicopedagogia teve uma evolução invejável, nestes 20 anos, pois

partiu de uma preocupação com um aspecto específico da questão da

aprendizagem (a dificuldade de aprendizagem) e hoje estuda o ser

cognoscente como um ser inteiro, mergulhado em um contexto, com

possibilidades de aprendizagem em vários âmbitos da sociedade.

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Para Macedo, a psicopedagogia,

“tem se caracterizado como uma área que evoluiu rapidamente por ser uma das áreas do conhecimento necessárias na era da informação e da comunicação. A área de estudo que aprofundou os conhecimentos e experimentou relacioná-lo com a prática, nestes últimos 20 anos, foi a Psicopedagogia, e por isso está sendo reconhecida e valorizada.”(MACEDO, 2000: 70)

Muitas pessoas com espírito investigativo e empreendedor tomaram

parte deste movimento, chamado Psicopedagogia, e graças a elas esta área

encontra-se tão fortalecida. A Psicopedagogia está muito presente nas atuais

propostas educacionais nacionais, em forma de assessoria, de bibliografia e,

principalmente, em forma de idéias, as quais já vêm sendo colocadas em

prática em muitos pontos do país. A Psicopedagogia se preocupou, nestes

anos todos, com o "aprender a aprender"; "aprender a fazer" de forma

autônoma; com o "aprender a ser" humano; o "aprender a compartilhar" o

mundo, a natureza, as idéias, as intenções e as ações. É importante que as

pessoas saibam que a Psicopedagogia chegou aonde chegou por mérito dos

psicopedagogos, e não por causa de alguma lei criada 40 anos atrás.

A Psicopedagogia cresceu tanto que, apesar de ter somente 20 anos,

aqui no Brasil, está tendo o poder de assustar psicólogos, pedagogos e

fonoaudiólogos que, por algum motivo, desejaram ficar à parte desse

movimento e agora se percebem ameaçados pela atualidade dos estudos, pela

profundidade do trabalho, pela qualidade das pesquisas e pelo desejo destes

profissionais de regulamentarem esta atividade, para que não se caracterize

como "terra de ninguém", e pessoas menos preparadas possam se utilizar de

uma fachada em detrimento do desenvolvimento de pessoas.

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“O que acredito, de coração, é que não importa se o nome é Psicopedagogia, Psicologia Educacional, Pedagogia Terapêutica, Fonoaudiologia Educacional, e nem se quem deve fazer a intervenção tenha uma profissão regulamentada; o que realmente importa é que esta intervenção seja realizada tendo como foco a completude de cada pessoa, a seriedade e o conhecimento do profissional envolvido.” (SCOZ, 1992:35)

No século passado, aconteceram importantes integrações disciplinares,

visando entender a complexidade do mundo. Os limites começaram a ficar

mais frouxos, e surgiram as disciplinas que fazem interseção, tais como: a

Engenharia Mecânica, o Desenho Técnico, a Educação Física, a Educação

Informática, a Arte Educação e outras.

A Psicopedagogia surge neste contexto em que a Visão Sistêmica, os

Estudos Holísticos, Ecológicos, a Epistemologia Convergente, a complexidade

tentam compreender o homem em interação, num interjogo de influências entre

ele e o meio em que vive.

“Vejo a humanidade ainda é muito primitiva, elitista, pré-conceituosa, segmentada em disciplinas e em "especialista" e depois dos ‘especialistas em especialista’, mostrando a fragilidade em não se dar conta mais de todo o saber que existe hoje.”(GOFFMAN,1985:112)

Se nos despojarmos das nossas "arrogâncias" de donas do saber,

daríamos um salto tão desejado e esperado para humanidade que se baseia

na humildade de sabermos frágeis perante o saber. A aprendermos a lidar e a

conter as nossas angustias e ansiedades, e vermos no outro o nosso parceiro

e não o nosso rival, só assim daremos um grande salto nas nossas relações

inter e intrapessoais, este será o novo profissional.

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"Os diferentes níveis de Realidade são acessíveis ao conhecimento humano graças à existência de diferentes níveis de percepção, que se acham em correspondência biunívoca com os níveis de realidade... sem jamais esgotá-la completamente. (RUBSTEIN, 1996:23)·

A Psicopedagogia Redentora, ao surgir no Brasil, acaba alimentando

com o sonho do projeto “interdisciplinar”, o Zeitgeist da disciplinarização

tecnocrata . As neurociências, o desenvolvimento dos discursos patologizantes

sobre o não-aprender, o psicologismo aliado a uma visão psicométrica do

comportamento humano, Behaviorista, experimental, representa muito bem

esse período de formação histórica da área.

Uma Psicopedagogia que se instrumentalizou politicamente situando-se

nos movimentos de apartheid entre manifestações etnocêntricas e cínicas.

Rotulações, estigmas. Uma Psicopedagogia Band-aid que violenta

simbolicamente as relações do sujeito com o conhecimento a partir de um sem-

número de sessões, de “olhares e ouvidourias” porque ciência, porque área

especializada em desmontar o grande quebra-cabeça do não-aprender. Assim,

percebe-se que a Psicopedagogia vai, também, participar do processo de crise

paradigmática, de crítica ao método científico positivista.

“A ação educativa se passa num ambiente determinado,

historicamente construído, e seu entendimento é fundamental para a

compreensão dos agentes e das ações educativas e suas

potencialidades.” (Scoz, 1992: 4).

Por conseguinte, em meados dos anos 80, em conjunto com as

transformações sócio-culturais, os impactos de um processo de mundialização

dos espaços, ao exercício de ideologização em massa, movimento este

propiciado pelas transformações nas formas de ser e de se comunicar entre os

homens ocorridas pelo advento da Revolução das Informações, a

Psicopedagogia, paralelamente com a Psicologia e a Pedagogia, vai receber a

influência das idéias acionalistas do Construcionismo Social, do Interacionismo

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Simbólico, Escola de Chicago, Etnometodologia, nas idéias de Pearce, Mead,

Schwartz, Alain Coulon etc.

De forma mais historicizada, aqui no Brasil, discute-se Lev Seminovitch

Vygotsky e seu sócio-culturalismo interacionista no âmbito da Psicologia; Paulo

Freire, Gadotti e Carlos Brandão, nas esferas da Pedagogia. Enfatiza-se uma

Pedagogia do Oprimido. E, nessa nova concepção, faz-se urgente que a

Psicopedagogia amplie seu campo de ação. Sempre considerando as

dimensões pedagógicas, sociais e políticas do fracasso escolar, a fim de

alcançar as populações de estudantes que penetram nas escolas e não

conseguem aprender.

Aprender é uma atividade desejante construída sob a égide de uma

relação familiar saudável e segura. A aprendizagem, ganha significado dentro

do contexto familiar e social, ainda que a apropriação dos conteúdos seja

individual. Acredita-se que o ambiente familiar estável e afetivo contribui

positivamente para o bom desempenho da criança na escola, embora não

garanta o seu sucesso, uma vez que este, depende de outros fatores que não

exclusivamente os familiares.

Tais pressupostos permitem afirmar que o processo de desenvolvimento

do indivíduo, bem como sua aprendizagem, sofrem influência direta das

mudanças ocorridas na estrutura social. Ao se modificarem as relações do

homem com o trabalho, a partir de novos instrumentos e novas condições

impostas pela industria de consumo, transformam-se também as relações entre

os indivíduos, afetando sobremaneira a estrutura e dinâmica familiar que

compõe o tecido social.

Assim, a família uma vez considerada como mediadora entre o indivíduo

e a sociedade, oferecendo recursos para uma relação dialética e ativa, não

pode deixar de ser analisada fora do contexto das transformações sociais

ocasionadas pelas mudanças no sistema produtivo. As modificações na

relação do indivíduo com o trabalho acarretaram novos posicionamentos tanto

da mulher quanto do homem, que indiscutivelmente refletiram na família

contemporânea determinando novos mapeamentos em sua estruturação e

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diferentes referenciais que norteiam as relações entre marido e mulher e entre

pais e filhos.

A família se modifica através dos tempos, mas em termos conceituais, é

um sistema de vínculos afetivos onde deverá ocorrer o processo de

humanização. A transformação histórica do contexto sociocultural resulta de

um processo em constante evolução ao qual a estrutura familiar vai se

moldando. No entanto, é importante considerar que por maiores que sejam as

modificações na configuração familiar, essa instituição “permanece como

unidade básica de crescimento e experiência, desempenho ou falha”

(ACKERMAN, 1980 p.29), contribuindo assim, tanto para o desenvolvimento

saudável quanto patológico de seus componentes.

Se por um lado as conquistas no âmbito do trabalho promoveram uma

maior inserção da mulher em diferentes segmentos da sociedade, por outro,

essa mesma conquista roubou a possibilidade de controle de seu tempo,

sobretudo no que se refere à dedicação aos filhos e ao desempenho da função

educativa dentro da família. Como conseqüência, houve uma necessidade de

reorganização das funções entre marido e esposa, impondo aos homens o

desempenho de papéis que anteriormente eram exercidos exclusivamente

pelas mulheres.

Nesta perspectiva, a família, para Horkheimer e Adorno (1973) está

indissoluvelmente ligada à sociedade e seu destino dependerá do processo

social e não de sua existência por si só.

Ao analisar as transformações familiares ocorridas na

contemporaneidade, Kehl (apud COMPARATO; MONTEIRO, 2001) ressalta o

caráter nostálgico atribuído a família ideal, nuclear e estruturada, que gera uma

espécie de dívida tanto da família quanto da mulher atual, fomentada pela

industria cultural e pelos meios de comunicação. O peso maior desta dívida

recai sobre a mulher, que foi quem mais abandonou suas posições tradicionais

na família nos últimos tempos.

A família contemporânea, configurada sob novos arranjos, tem sido

muitas vezes considerada como desestruturada, o que fundamenta a

justificativa do grande aumento no número das psicopatologias de diferentes

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ordens, incluindo as dificuldades na aprendizagem escolar. Isso tem resultado

em uma busca significativa por atendimentos psicoterápicos e

psicopedagógicos, frente às falhas da criança em conseguir acompanhar o que

se determina atualmente como um desenvolvimento normal da aprendizagem

na escola.

O excesso de informações e de referenciais que norteiam a educação de

filhos ocorre para Kehl (apud COMPARATO; MONTEIRO, 2001) na proporção

inversa da autoridade dos pais. Na cultura atual, marcada pelo narcisismo e

pelo individualismo, os filhos se tornaram a esperança de imortalidade e de

perfeição para os pais. Assim, esta expectativa envolvida por desejo de

garantias e de certezas, muitas vezes impede os pais de por si só se

responsabilizarem pela educação dos filhos, para não correrem o risco de errar

sozinhos e, sobretudo, de carregarem a culpa pelos problemas apresentados

pelos filhos.

A educação e a formação do indivíduo estão hoje sobredeterminadas

pelo sistema capitalista e pela ciência que, com seus saberes, define o tipo

ideal de pai, de mãe, de filhos, de alunos e de escola que a sociedade de

consumo necessita.

Com isso, a família sofre os efeitos da industrialização, pois quando o

modo de ser dos homens se torna padronizado, a família deixa de ser livre para

educar. Na medida em que o trabalho invade as casas, perde-se a autonomia e

a privacidade, submetendo a família a fazer constantes adaptações para se

enquadrar num modelo pré-determinado e marcado pela transitoriedade.

Verifica-se assim, que não há somente uma dissolução da autoridade

familiar, mas também o surgimento e a busca de “novas autoridades” que

atendam as demandas dos pais de dividir a responsabilidade pela educação de

seus filhos, uma vez que hoje, a dedicação e a disponibilidade dos pais

também está sobredeterminada pelo tempo que o trabalho não consumiu.

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CONCLUSÃO

Antes a psicopedagogia era tida somente para casos particularmente

excluídos.

O profissional da educação que quer acompanhar a educação dos

tempos e se inteirar dos problemas que ocorrem a fim de ajudar na resolução,

não pode ignorar a ajuda da psicopedagogia.

Diversos autores que tratam da pedagogia, enfatizam seu caráter

específico, por criar seu próprio objeto de estudo, utilizando conhecimentos de

outras ciências, dessa forma a psicopedagogia, trata muito bem dos casos de

dificuldades escolares, em todos os níveis e direções.

“falar sobre psicopedagogia é, necessariamente, falar sobre a

articulação entre educação e psicologia, articulação essa que

desafia estudiosos e práticos dessas duas áreas. Embora quase

sempre presente no relato de inúmeros trabalhos científicos que

tratam principalmente dos problemas ligados à aprendizagem, o

termo psicopedagogia não consegue adquirir clareza na sua

dimensão conceitual.” (NEVES, Maria M. Abud DABAS,1997:64)

Concluindo, a psicopedagogia apesar de não se saber claramente a

dimensão de seus saberes, sabe-se que a educação de hoje, não seria

desenvolvida, da forma que é, sem sua ajuda.

Fazer entender os distúrbios escolares, de comportamento e de

aprendizagem só é possível com a psicopedagogia, bem como resolver tais

distúrbios. O fracasso escolar tem seu fim onde inicia a ação psicopedagógica.

A psicopedagogia, mergulha profundamente na descoberta das causas,

procura analisar todo o ambiente que cerca o seu objeto de estudo, a fim de

analisar a sua construção, só assim, acredita poder resultados promissores.

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Para qualquer tipo de descoberta dentro da psicopedagogia, é preciso

manter uma base de afetividade e compreensão freqüente. A fim de obter

resultados sinceros e verídicos.

Embora saiba-se que o sucesso na superação dos problemas depende

muito da psicopedagogia, muitos ainda mantém um absurdo descaso em

relação a este saber.

Se a psicopedagogia fosse explorada como deveria, certamente, não

teríamos tantos casos de fracasso e evasão escolar, indisciplina, etc.

Sabe-se então que não cabe saber sobre a psicopedagogia, é preciso

saber usá-la, tirar proveito desta. Através da psicopedagogia, além de

conhecer, e entender os problemas e solucioná-los, é possível também

preveni-los.

A psicopedagogia não se mostra eficiente somente na instituição, seu

trabalho é também eficiente no sistema familiar. Agindo em conjunto com o

desenvolvimento escolar, é possível solucionar muitos problemas até então

desprovidos de solução.

Assim, o encaminhamento psicopedagógico torna-se necessário, em

casos em que a criança ou adolescente sofre prejuízo de acompanhamento

escolar devido a sua desatenção. Não costumando ser comum o quadro de

hiperatividade acompanhado por problemas emocionais. As crianças ou

adolescentes hiperativos apresentam um ritmo de aprendizagem diferenciado,

caracterizado por dificuldades de executar tarefas pedagógicas com

autonomia. Estão sempre necessitando de ouvir repetidamente as regras para

conseguirem compreendê-las.

Do mesmo modo, a proposta psicopedagógica vem favorecer um vínculo

direto com o aprendiz permitindo que seu envolvimento ocorra num tempo

adequado para sua escuta. Procurando desenvolver atividades de jogos que

estimulem seu raciocínio e trabalhe com seu desempenho participativo.

Através da mediação no processo psicopedagógico, leva-se a criança a

sentir-se mais segura no seu desempenho pedagógico e em sua adaptação

escolar.

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A orientação para os pais de como lidar com seus filhos hiperativos é

fundamental na comunicação familiar e na interação com amigos. A

possibilidade de alteração no desempenho de uma criança pela interferência

do outro, qualitativamente considerando, é fundamental para o seu

desenvolvimento. A criança recolhe prazerosamente os conceitos aprendidos,

adquirindo a linguagem das relações dos adultos, ao repeti-las quando se

apresentam motivantes.

Desde os primeiros anos de vida, a criança começa a participar do

processo ensino-aprendizagem: suas primeiras palavras, gestos e ações.

Do laço familiar surge a base do comportamento infantil de livre

expressão, pois a criança tende a imitar aqueles que a rodeiam. Tal processo

expandir-se-á a partir do momento que a criança comece a freqüentar a escola,

assim, modificar-se-á gradualmente, aumentando seu conhecimento.

Partindo do pressuposto de que a escola é a extensão do lar, podemos

dizer que esta deve intensificar a interação entre a criança e a família, o que

favorecerá o processo educativo e a formação dos indivíduos.

O trabalho dos pais integrado à escola torna-se essencial para que

ambos falem a mesma linguagem, auxiliando na aprendizagem do educando. É

importante que os pais participem constantemente das atividades

proporcionadas pela escola, incentivando seus filhos para o mesmo, pois esta

união de esforços enriquecerá todo o processo de ensino-aprendizagem.

O principal objetivo dessa interação é o trabalho em conjunto, que tem o

intuito de propiciar o desenvolvimento de comportamentos, que contribuirão na

formação integral do educando.

Sugere-se que em uma primeira reunião a escola informe aos pais sobre

as leis de ensino que estão em vigor, sobre os Parâmetros Curriculares

Nacionais, o Plano Curricular, que visa ao desenvolvimento dos processos

educacionais, a filosofia da escola, a metodologia de ensino adotada e as fases

de desenvolvimento que os alunos estão vivenciando, bem como suas

implicações.

À escola cabe planejar os objetivos, transformando a realidade num

processo contínuo e dinâmico, com uma proposta pedagógica coerente com a

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sua clientela, reconhecendo que a aprendizagem é constituída na interação do

conhecimento, na realidade e vivência no âmbito familiar.

Assim, considerando uma abordagem sócio-cultural, a capacidade do se

humano de planejar, imaginar situações não vivenciadas e projetar ações a

serem realizadas posteriormente, é considerada como atividade psicológica

superior que se processa particularmente nas situações humanas em seu

espaço-temporal. O cuidado psicopedagógico deve promover, para a criança,

condições básicas para que ela supere sua dificuldade de atenção e compense

essa dificuldade com uma percepção mais consciente de sua limitação.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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