a Última vontade e testamento

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Nenhum ser humano afirmaria, hoje em dia, entender inteiramente A Última Vontade e Testamento de ‘Abdu’l-Bahá. Para nós, “a geração da meia-luz”, é dada apenas uma tênue percepção de seus aspectos básicos – as principais instituições, a luz mais brilhante e a sombra mais escura, uma visão anuviada do todo e apenas um lampejo do sutil e oculto relacionamento entre seus elementos componentes.É essencial, considerar A Última Vontade eTestamento não como confirmação de concepções próprias, mas esperar, com paciência, até ler por completo o que o Autor tem a dizer.

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Page 4: A Última Vontade e Testamento

Outras Obras de ‘Abdu’l-Bahá:EPÍSTOLA A HAIA

EPÍSTOLA AO DR. AUGUSTE FOREL

EPÍSTOLAS DO PLANO DIVINO

NARRATIVA DE UM VIAJANTE

RESPOSTAS A ALGUMAS PERGUNTAS

SEGREDO DA CIVILIZAÇÃO DIVINA, OSELEÇÃO DOS ESCRITOS DE ‘ABDU’L-BAHÁ

TRIBUTO AOS FIÉIS

Coleção PALESTRAS DE ‘ABDU’L-BAHÁ:· Londres – 1911· Paris – 1911· Estados Unidos e Canadá – 1912 / A PROMULGAÇÃO DA PAZ

UNIVERSAL

Outras Obras com Escritos de ‘Abdu’l-Bahá:COLEÇÃO “SELEÇÃO DE ESCRITOS BAHÁ’ÍS”DIVINA ARTE DE VIVER, AORAÇÕES BAHÁ’ÍSREVELAÇÃO BAHÁ’Í, A

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Page 8: A Última Vontade e Testamento

Título original em inglês: The Will and Testament of ‘Abdu’l-BaháIntrodução: The Passing of ‘Abdu’l-BaháApêndices II e III: A Commentary on the Will and Testament

of ‘Abdu’l-Bahá

! Copyright 2006Todos os direitos em português reservados para:

Editora Bahá’í do BrasilCaixa Postal 108513800-973 – Mogi Mirim – SP

www.editorabahaibrasil.com.br

ISBN: 85-320-0146-7

1a Edição: 1954 (excertos)2a Edição: 19823a Edição: 2006 (revisada e ampliada)

Tradução:Testamento: Leonora S. ArmstrongIntrodução e Apêndices: Osmar Mendes

Revisão:Testamento: Maria Trude AlvesIntrodução e Apêndices: Coordenação Nacional Bahá’í de Tradução e

Revisão do Brasil

Capa: Gustavo Pallone de Figueiredo

Impressão: Prisma Printer Gráfica e Editora Ltda, Campinas – SP

Page 9: A Última Vontade e Testamento

SUMÁRIO

Prefácio ix

IntroduçãoO FALECIMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ xi

A ÚLTIMA VONTADE E TESTAMENTO

PRIMEIRA PARTE 1

SEGUNDA PARTE 19

TERCEIRA PARTE 27

APÊNDICES

Apêndice IA INFABILIDADE E O CONHECIMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ 35

Apêndice IICOMENTÁRIOS SOBRE A ÚLTIMA VONTADE E

TESTAMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ 43

Page 10: A Última Vontade e Testamento

viii

A ÚLTIMA VONTADE E TESTAMENTODE ‘ABDU’L-BAHÁ

Apêndice IIIO TÉRMINO DA GUARDIANIA INSTAURADA NA ÚLTIMA

VONTADE E TESTAMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ 74

Referências Bibliográficas 99

Page 11: A Última Vontade e Testamento

ix

PREFÁCIO

Esta nova edição de A Última Vontade e Testamento de‘Abdu’l-Bahá fez-se necessária, uma vez que adentramos noséculo XXI, trazer ao público de língua portuguesa algumasnovas informações acerca desta Carta Magna da Fé Bahá’í.

A Introdução inclusa nesta edição é uma carta escrita porlady Blomfield e Shoghi Effendi em janeiro de 1922, semanasdepois do falecimento de ‘Abdu’l-Bahá. Dirigida aos bahá’ísdo mundo, esta belíssima carta descreve os últimos momentosda vida terrena dAquele que foi o “Mistério de Deus” e “Servode Bahá”, e inclui passagens de Seus Escritos, além deexplanações de alguns trechos de Seu Testamento.

Foram inclusos, também, três apêndices. No apêndice Itemos uma explanação sobre a infabilidade de ‘Abdu’l-Baháescrita pela Casa Universal de Justiça. No apêndice II, umaprofunda e meritória explicação acerca de alguns tópicostratados na Última Vontade e Testamento, escrita por DavidHofman (1908-2003), que serviu como membro da CasaUniversal de Justiça por 25 anos, de 1963, quando da suaprimeira formação, até 1988, quando ele se aposentou. Noapêndice III, também escrito por Hofman, encontra-se umahistórica e convincente explanação acerca do “porquê” foifinda a Guardiania (com a morte prematura de Shoghi Effendiem 1957) instaurada por ‘Abdu’l-Bahá em Sua ÚltimaVontade e Testamento.

Esperamos que o leitor aprecie esta publicação e que possaaumentar seu conhecimento acerca deste importante

PREFÁCIO

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x

PREFÁCIO

Documento, dando-lhe convicção e argumentos irrefutáveisacerca do destino da Fé Bahá’í e de seu inquebrantávelConvênio.

Editora Bahá’í do Brasil

Page 13: A Última Vontade e Testamento

xi

PREFÁCIO

Haifa, Palestina, janeiro de 1922

Aos bahá’ís do mundo

Queridos amigos,

Sabemos que os amados de ‘Abdu’l-Bahá, em todas aspartes do mundo, estão ansiosamente esperando receberalguns detalhes dos últimos eventos de Sua ímpar emaravilhosa vida. É por esta razão que escrevemos o seguinterelato.

Nós viemos a compreender, agora, que o Mestre sabia dodia e da hora em que, concluída a Sua missão sobre a terra,regressaria ao abrigo do céu. Contudo, teve muito cuidadopara que Sua família não tivesse nenhuma premonição dopesar que se aproximava. Parece como se seus olhos fossemvelados por Ele, com Sua sempre amorosa consideração paracom entes queridos, para que não percebessem o significadode certos sonhos e outros sinais do evento culminante. Isso,compreendemos agora, era o que Ele queria para eles, com o

INTRODUÇÃO

O Falecimento de ‘Abdu’l-Bahá

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xii

INTRODUÇÃO

intuito de que suas energias fossem poupadas para enfrentara grande provação quando esta chegasse, e eles não estivessemenfraquecidos pela angústia mental, por antecipação.

Dos muitos sinais da proximidade da hora em que Elepoderia dizer de Seu trabalho na Terra – “Está terminado!” –os sonhos seguintes parecem se destacar. Menos de oitosemanas antes de Sua ascensão, o Mestre relatou isto à Suafamília:

Parecia que eu estava parado dentro de uma grandemesquita... No lugar do próprio Imame. Estava ciente deque um grande número de pessoas estava afluindo paradentro da mesquita; mais e mais gente se aglomerava,tomando seus lugares em fileiras atrás de mim até que seformou uma grande multidão. Então, de pé e em voz alta,entoei o “chamamento para oração”. De repente, me veio aidéia de sair da mesquita.

Uma vez lá fora, indaguei a mim mesmo: “Por qual razãoeu saí sem conduzir a oração? Mas, não importa; já que bradeio chamamento para a oração, a vasta multidão a entoarápor si mesma.”

Quando o Mestre faleceu, Sua família ponderou acercadeste sonho e o interpretou:

Ele chamava aquela vasta multidão – todas as pessoas, todasas religiões, todas as raças, todas as nações e todos os reinos– para a unidade e paz, para a irmandade e amor universais;e chamando-os, dirigiu-Se a Deus, o Todo-Amor, a cujocomando havia emitido o Chamado Magistral, passando aMensagem Divina. Esta mesma multidão – pessoas, religiões,raças, nações e reinos – continuarão a trabalhar para aquiloque Ele havia chamado-lhes e irão se empenhar a realizá-lopor eles mesmos.

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O FALECIMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

Algumas semanas após este sonho, o Mestre saiu do quartosolitário no jardim, que ultimamente ocupava e disse:

–– Tive um sonho, e vejam! A Abençoada Beleza entrou eme disse: “Destrua este quarto!”

A família, que desejava que Ele viesse dormir dentro decasa, e não estava contente com o fato dEle ficar sozinho denoite, exclamou:

–– Sim, Mestre, cremos que vosso sonho significa que oSenhor devia abandonar aquele quarto e vir para dentro decasa.

Quando Ele ouviu isso de nós, deu um sorriso significativocomo Se não concordasse com a nossa interpretação. Maistarde, compreendemos que o “quarto” realmente significavao templo de Seu corpo.

Um mês antes de Sua última hora, o dr. Sulayman RafatBey, um amigo turco que era hóspede na casa, recebeu umtelegrama comunicando-lhe a morte repentina de seu irmão.‘Abdu’l-Bahá, dirigindo-lhe palavras de consolo, cochichou:

–– Não fique triste, pois ele está apenas sendo transferidodeste plano para um mais sublime; eu também logo sereitransferido, pois meus dias estão contados.

Depois, batendo levemente no ombro, olhou no seu rostoe disse:

–– E será em breve!Na mesma semana, revelou uma Epístola para a América,

a qual inclui a seguinte prece:

Yá Bahá’u’l-Abhá! [Ó Tu, Glória das Glórias] Renunciei aomundo e seu povo, e estou com o coração partido e aflitopor causa dos infiéis. Na gaiola deste mundo bato asas comoum pássaro assustado e, todo dia, anseio levantar meu vôoem direção ao Teu Reino.

Yá Bahá’u’l-Abhá! Faze-me beber do cálice de sacrifício eliberta-me. Alivia-me destas angústias e provações, destas

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xiv

INTRODUÇÃO

aflições e dificuldades. Tu és Quem auxilia, Quem socorre,Quem protege, Quem estende a mão de ajuda.

Na última manhã de sexta-feira de Sua vida na Terra (25de novembro), disse às Suas filhas:

–– O casamento de Khusraw deve ser celebrado hoje. Sevocês estiverem muito ocupadas eu mesmo farei ospreparativos necessários, pois deve ser celebrado hoje...

‘Abdu’l-Bahá participou da prece do meio-dia, namesquita. Quando saiu, encontrou os pobres esperando poresmolas que costumava lhes dar toda sexta-feira. Neste dia,apesar do grande cansaço, Ele ficou em pé como de costume,enquanto dava uma moeda para cada um com Suas própriasmãos. Após o almoço, ditou algumas Epístolas, Suas últimas,a Rúhí Effendi. Quando já tinha descansado, caminhou pelojardim. Parecia estar em profundo devaneio.

Seu fiel e bom servo Isma’íl Aqá relata o seguinte:

Faz algum tempo, uns vinte dias antes do meu Mestre falecer,eu estava próximo ao jardim quando Lhe ouvi chamar umantigo crente dizendo:

–– Vem comigo, vamos admirar juntos a beleza do jardim.Veja o que o espírito de devoção pode realizar. Este lugarflorescente era, anos atrás, apenas um amontoado de pedras,e agora está verdejante com folhagem e flores. Meu desejo éque, após minha partida, os amados se levantem todos paraservir a Causa Divina, e agradar a Deus. Assim será! Embreve, se erguerão homens que darão vida ao mundo.

Poucos dias depois disso, Ele disse:–– Estou tão fatigado! Chegou a hora em que devo deixar

tudo e levantar vôo. Estou cansado demais para andar.E acrescentou:–– Foi durante os últimos dias da Abençoada Beleza

[Bahá’u’lláh], quando eu estava recolhendo Seus papéisespalhados sobre o sofá no Seu gabinete em Bahjí que Ele

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xv

O FALECIMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

virou para mim e disse: “É inútil recolhê-los, eu devo deixá-los e partir.” Eu também terminei meu trabalho, não possofazer mais nada, portanto, devo deixá-lo e aceitar minhapartida.

Três dias antes de Sua ascensão, sentado no jardim,chamou-me e disse:

–– Estou enjoado de tanto cansaço. Traga duas de tuaslaranjas para que por tua causa eu possa comê-las.

Assim fiz e, tendo acabado de comê-las, voltou-Se paramim e disse:

–– Tens algum dos teus limões doces? – ordenando queeu buscasse alguns.

Enquanto os arrancava, aproximou-Se do limoeirodizendo:

–– Não, eu tenho que colhê-los com minhas própriasmãos.

Após comer a fruta, voltou-Se para mim e perguntou:–– Que mais desejas?Então com um gesto terno de Suas mãos, de forma

comovente, enfática e deliberada, disse:–– Agora está terminado, está terminado.Estas palavras significativas penetraram a minha própria

alma. Cada vez que Ele as pronunciava, sentia como se umpunhal fosse cravado no meu coração. Eu entendi o que Elequis dizer, mas nunca pensei que Seu fim estivesse tãopróximo.

Foi este Isma’íl-Aqá, o jardineiro do Mestre por cerca detrinta anos, que na primeira semana após Sua ascensão, levadopor desesperado pesar, quietamente se desfez de todos os seuspertences, escreveu seu testamento, foi à presença da irmãdo Mestre e pediu perdão por qualquer falta que tivessecometido. Então, entregou as chaves do jardim a um servode confiança da Casa e levando consigo recursos com os quaispudesse encerrar sua vida no túmulo do seu amado Mestre,subiu a Montanha até aquele lugar sagrado, circulou três vezes

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xvi

INTRODUÇÃO

ao redor, e teria conseguido tirar a sua vida, não fosse aoportuna chegada de um amigo, que o alcançou a tempo deevitar a consumação de sua trágica intenção.

Continuando o relato, mais tarde, na noite de sexta-feira,Ele abençoou a noiva e o noivo que acabavam de contrairmatrimônio. Falou-lhes de modo comovente:

–– Khusraw – Ele disse – tu passaste tua infância ejuventude a serviço desta Casa; é minha esperança queenvelheças sob o mesmo teto, sempre e continuamenteservindo a Deus.

Pela noite, como de costume, participou da reunião deamigos na Sua própria sala de recepção.

Na manhã de sábado, 26 de novembro, levantou-Se bemcedo, veio até a sala e tomou um pouco de chá. Pediu pelocasaco de pele que pertencera a Bahá’u’lláh. Elefreqüentemente usava este casaco quando estava com frio ounão Se sentia bem. Ele o amava muito. Então, retirou-Se aoSeu quarto, deitou-Se na cama e disse:

–– Cubra-me. Estou com muito frio. Não dormi bem aúltima noite, senti frio. Isso é serio, é o começo.

Depois que mais cobertores foram colocados, Ele pediupelo casaco de pele que tinha tirado para ser colocado sobreEle. Esse dia, Ele estava um tanto febril. Ao anoitecer, Suatemperatura subiu para 40°C, porém cedeu durante a noite.Após à meia-noite, Ele pediu por chá.

Na manhã de domingo, 27 de novembro, Ele disse:–– Eu estou bem e vou me levantar como sempre e tomar

chá com vocês, na sala.Depois de ter Se vestido, foi persuadido a permanecer no

sofá, no Seu quarto.À tarde, mandou todos os amigos ao Santuário do Báb

onde, por ocasião do aniversário da declaração do Convênio,

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xvii

O FALECIMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

celebrava-se uma festa oferecida por um peregrino pársi* querecém-chegara da Índia.

Às quatro da tarde, sentado no sofá de Seu quarto, disse:–– Pede a minha irmã e a toda a família para virem tomar

chá comigo.Após o chá, recebeu o muftí de Haifa e o chefe da

municipalidade, junto com outra visita. Ficaram quase umahora. Ele falou-lhes de Bahá’u’lláh, contou Seu segundosonho, demonstrou uma amabilidade extraordinária, e atémais que Sua habitual cortesia. Ele então Se despediu deles eacompanhou-os até a porta da rua, apesar de seus apelos deque Ele devia ficar repousando no sofá. Depois, recebeu umavisita do chefe da polícia, um inglês, que também recebeusua porção da generosa amabilidade do Mestre. ‘Abdu’l-Bahápresenteou-lhe com alguns lenços de seda persa tecidos à mão,os quais este apreciava muito.

Seus quatro genros e Rúhí Effendi vieram vê-Lo depoisda reunião na montanha, e disseram:

–– O anfitrião da festa estava triste, porque o Senhor nãoestava lá.

Ele respondeu:–– Mas eu estava lá; embora meu corpo estivesse ausente,

meu espírito estava no meio de vocês. Eu estava presente comos amigos no Santuário. Os amigos não devem darimportância à ausência de meu corpo. Em espírito estou esempre estarei com os amigos, mesmo que esteja bem longe.

Na mesma noite, perguntou sobre a saúde de todos osmembros da casa, dos peregrinos e dos amigos em Haifa.

–– Muito bem, muito bem – disse quando informaramque ninguém estava enfermo.

Estas foram Suas últimas palavras relacionadas a Seusamigos.

*Áqá Rustam Ardashír.

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INTRODUÇÃO

Às oito da noite, depois de Se alimentar um pouco, retirou-Se para cama dizendo:

–– Estou muito bem.Disse para toda a família ir para a cama e descansar. Duas

de Suas filhas, no entanto, ficaram com Ele. Aquela noite, oMestre fora dormir bem calmo, sem febre alguma. Acordoucerca de 01h15m da madrugada, levantou-Se e foi até a mesaonde tomou um pouco de água. Tirou o primeiro roupão,dizendo:

–– Estou com muito calor.Voltou para a cama e quando Sua filha Rúhá Khánum,

mais tarde, se aproximou, encontrou-O deitado em paz e,assim que olhou no rosto dela, pediu para levantar as cortinas,dizendo:

–– Estou com dificuldade de respirar, me dê mais ar.Trouxeram água de rosa que Ele bebeu sentado na cama,

sem ajuda alguma. Deitou-Se novamente, e quando Lheofereceram algo para comer, comentou com uma voz clara einconfundível:

–– Vocês querem que eu coma algo e eu estou indo.Olhou para elas graciosamente. Seu rosto tão calmo,

Sua expressão tão serena, elas pensaram que tivesseadormecido...

Seu longo martírio havia terminado!Na manhã de segunda-feira, bem cedo, as notícias desta

repentina calamidade já havia se espalhado por toda a cidade,causando uma comoção e tumulto sem precedentes, eenchendo os corações com indescritível pesar.

E na manhã seguinte, terça-feira, em 29 de novembro[1921], o funeral foi feito – um funeral o qual nem Haifa,nem a Palestina nunca haviam visto. Tão profundo eram ossentimentos que uniu milhares de pessoas, representantes devárias religiões, raças e línguas.

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xix

O FALECIMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

O alto comissário da Palestina, sir Herbert Samuel, ogovernador de Jerusalém, o governador da Fenícia, os altosfuncionários do governo, os cônsules de vários paísesresidentes em Haifa, os líderes de várias comunidadesreligiosas, as altas personalidades da Palestina, judeus, cristãos,muçulmanos, drusos, egípcios, gregos, turcos, curdos e umahoste de Seus amigos americanos, europeus e nativos, homens,mulheres e crianças, tanto de classes altas como de classesbaixas, ao todo, cerca de dez mil, chorando a perda de seuAmado.

Esta impressionante e triunfal procissão era encabeçadapor uma guarda de honra formada pela polícia municipal,seguida por escoteiros das comunidades muçulmanas e cristãscom suas bandeiras ao alto, uma companhia de coristasmuçulmanos cantando versículos do Alcorão, os chefes dacomunidade muçulmana encabeçados pelo muftí, um grupode sacerdotes cristãos latinos, gregos e anglicanos, todosprecediam o ataúde sagrado carregado sobre os ombros deSeus amados. Logo atrás, vinham os membros de Sua família,junto com eles, o alto comissariado britânico, o governador*

de Jerusalém e o governador da Fenícia. Atrás deles vinhamos cônsules e as personalidades da região, seguidos pela vastamultidão daqueles que O respeitavam e amavam.

Nesse dia, não havia nenhuma nuvem no céu, nem barulhoalgum em toda a cidade ou o campo por onde passaram;somente o suave, lento e rítmico cântico do Islã nochamamento à prece, ou o agitado gemido soluçante dosdesamparados, chorando a perda de seu único amigo quelhes havia protegido em todas as dificuldades e tristezas, cujagenerosa bondade havia salvado a eles e suas crianças, da fome,durante os terríveis anos da “grande aflição”.

*Sir Ronald Storrs.

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xx

INTRODUÇÃO

–– Ó Deus, meu Deus – o povo pranteava num só coro –Nosso pai nos deixou, nosso pai nos deixou!

Ó como era portentosa aquela grande multidão! Pessoasde todas as religiões, raças e cores, unidas, de coração, pelaManifestação da Servitude no trabalho de toda a vida de‘Abdu’l-Bahá.

Conforme subiam lentamente o Monte Carmelo, a Vinhade Deus, o ataúde parecia, à distância, estar sustentado pormãos invisíveis, de tão alto acima das cabeças do povo era elecarregado. Depois de duas horas de caminhada, chegaramao jardim do Santuário do Báb.

O esquife sagrado foi cuidadosamente colocado sobre umamesa simples coberta com um manto de linho branco.Enquanto o enorme grupo se amontoava ao redor dotabernáculo de Seu corpo que aguardava para ser depositadoem Seu lugar de repouso, dentro da câmara contígua à doBáb, os representantes das várias denominações muçulmanas,cristãs e judias, todos com corações ardentes pelo fervorosoamor a ‘Abdu’l-Bahá, uns levados pelo impulso do momento,outros com preparo, ergueram suas vozes em elogio e lástima,prestando sua última homenagem de despedida ao seuAmado. Tão unidos estavam em aclamá-Lo como o educadore reconciliador sábio da raça humana nesta era perplexa etriste, que parecia restar nada para os bahá’ís dizerem.

O que segue são extratos de alguns dos discursos proferidosnaquela memorável ocasião.

O primeiro a falar foi Yúsuf al-Khatíb, um famoso oradormuçulmano. Ele disse:

Ó concurso de árabes e persas! Por quem lamenteis? Por acasoé por Aquele que ontem era grande em Sua vida e hoje éainda maior em Sua morte? Não derrameis lágrimas porAquele que partiu para o mundo da Eternidade, mas, chorempelo desaparecimento da Virtude e da Sabedoria, do

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xxi

O FALECIMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

Conhecimento e da Generosidade. Lamenteis por vósmesmos, pois vossa é a perda, enquanto Ele, vossodesaparecido, não é senão um honrado Caminhante passandodo vosso mundo mortal ao Lar eterno. Chorais uma horapor Aquele que por quase oitenta anos chorou por vós! Olhaia vossa direita, olhai a vossa esquerda, olhai o Oriente eolhai o Ocidente, e vede que glória e grandeza desapareceram!Aquele pilar da paz se desintegrou! Aqueles lábios eloqüentesse calaram. Ai! Nesta tribulação não há coração que nãosofra de angústia, não há olho que não esteja repleto delágrimas. Ai dos pobres, pois vede, a bondade separou-sedeles, ai dos órfãos, pois seu amoroso Pai não está mais comeles! Se a vida de sir ‘Abdu’l-Bahá ‘Abbás pudesse ser resgatadapor meio do sacrifício de muitas almas preciosas, elas, comcerteza, ofereceriam suas vidas alegremente pela dEle. Mas odecreto do Destino foi outro. Todos os destinos estão pré-ordenados e ninguém pode mudar o Decreto Divino. Quemsou eu para falar dos êxitos dEste líder da humanidade? Sãopor demais gloriosos para serem louvados, demasiados pararecontar. Basta dizer que Ele deixou em cada coração a maisprofunda impressão, em cada língua o mais maravilhosolouvor. E alguém que deixa uma recordação tão preciosa etão imperecível, na verdade, não está morto. Consolai-vos,pois, ó povo de Bahá! Suportai e sede pacientes; pois nenhumhomem, seja do Oriente ou do Ocidente, pode jamais vosconfortar; não, ele próprio está mais necessitado de consolo.

O orador seguinte foi Ibráhím Nassár, um célebre escritorcristão. Ele disse:

Eu choro pelo mundo, pois meu Senhor morreu; há outrosque, como eu, choram a morte do seu Senhor... Ó, amarga éa angústia causada por esta calamidade que corta o coração!Não é somente uma perda para a nossa terra, mas, uma afliçãomundial... Ele viveu por quase oitenta anos a vida dosMensageiros e apóstolos de Deus. Ele educou as almas dos

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xxii

INTRODUÇÃO

homens, foi benévolo com eles, guiou-os ao Caminho daVerdade. Desta maneira, elevou o Seu povo ao pináculo daglória, e grande será a Sua recompensa de Deus, a recompensados justos! Ouvi-me, ó povo! ‘Abbás não está morto, nemfoi extinta a luz de Bahá! Não, não! Esta luz brilhará cometerno esplendor. A lâmpada de Bahá, ‘Abbas, viveu umavida de bem, manifestou em Si mesmo a verdadeira vida doespírito. E agora Se uniu à glória, um puro anjo, ricamenterevestido por atos benevolentes, nobre em Suas preciosasvirtudes. Companheiros cristãos! Verdadeiramente estaiscarregando os restos mortais dEste Ser, eternamentepranteado, ao Seu último lugar de descanso, sabei com todacerteza que vosso ‘Abbas viverá em espírito entre vós,eternamente, por meio de Suas obras, Suas palavras, Suasvirtudes e toda a essência de Sua vida. Dizemos adeus aocorpo material de nosso ‘Abbas, e Seu corpo materialdesaparece de nossa vista, mas a Sua realidade, o nosso ‘Abbasespiritual, nunca sairá das nossas mentes, nossospensamentos, nossos corações e nossas línguas.

Ó grande e honrado Adormecido! Tu foste bom conosco,Tu nos guiaste, Tu nos ensinaste, Tu viveste entre nós, comgrandeza, com o pleno significado de grandeza; Tu nostornaste orgulhosos de Tuas ações e de Tuas palavras. Tuelevaste o Oriente ao cume da glória, mostraste amorosabondade às pessoas, as educaste na retidão e Te esforçasteaté o fim, até ganhares a coroa da glória. Descanse com alegriaà sombra da mercê do Senhor Teu Deus, e Eleverdadeiramente Te recompensará bem.

O escritor cristão foi seguido pelo muftí de Haifa,Muhammad Murád, que disse:

Não desejo exagerar em meu elogio a Este grande homem,pois a Sua mão disposta e auxiliadora no serviço dahumanidade, e a bela e maravilhosa história de Sua vida,dedicadas a fazer aquilo que é justo e benéfico, não podem

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xxiii

O FALECIMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

deixar de ser reconhecidas, salvo por aquele cujo coraçãoestiver cego...

Ó honrado Viajante! Tu viveste com grandeza e morrestecom grandeza. Esta grande procissão funeral não é senãouma prova gloriosa da Tua grandeza na vida e na Tua morte.Mas, ó Tu que perdemos! Tu, líder dos homens, generoso ebenévolo! A quem recorrerão os pobres, agora? Quem cuidarádos famintos? E dos desolados, da viúva e do órfão?

Que o Senhor inspire a toda Tua família e a Teus parentescom paciência nesta dolorosa calamidade, e Te emirja nooceano de Sua graça e mercê! Ele, verdadeiramente, é o Deusque ouve e responde as orações.

O oitavo orador foi Salomon Bouzaglo, uma das figurasproeminentes da população judaica de Haifa, que falou muitoeloqüentemente em francês. Eis aqui um resumo destediscurso:

É realmente estranho que numa era de total materialismo efalta de fé, apareça um grande filósofo como ‘Abdu’l-Bahá‘Abbás, por Quem pranteamos. Ele fala a nossos corações,nossas consciências. Ele satisfaz nossas almas sedentas comensinamentos e princípios que são a base de toda religião emoralidade. Em Seus escritos e palestras públicas, e em Suasconversas pessoais, Ele pôde sempre convencer o mais eruditoe o mais ortodoxo.

Sua vida foi um exemplo vivo de auto-sacrifício, o depreferir o bem dos outros ao Seu próprio.

A filosofia de ‘Abdu’l-Bahá é simples e clara, porém,sublime. Ela se harmoniza com o caráter humano. Suasvirtudes superam o preconceito e a superstição. ‘Abbás faleceuem Haifa, na Palestina, na Terra Santa, onde os Profetassempre têm aparecido. A antiga glória desta terra foirestabelecida. Nós não somos os únicos que pranteiam porEle, por Quem nos orgulhamos. Na Europa, na América,em todos os países, pessoas sedentas de justiça social e de

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xxiv

INTRODUÇÃO

irmandade, também choram por Ele. Foi vítima dedespotismo, de fanatismo e de intolerância. Durante décadas,‘Akká – a bastilha dos otomanos – O manteve como umprisioneiro. Bagdá, a capital dos abbassidas, também serviude prisão para Ele e Seu Pai. A Pérsia, antigo berço de filosofiadivina, desterrou seus filhos, cujas idéias foram concebidasem sua terra. Não estaremos diante de uma Vontade Divinae uma marcada preferência pela Terra Prometida que foi eserá o berço de todas as idéias generosas e nobres? Quemdeixou uma herança tão gloriosa não está morto. Quempromulgou tão nobres princípios é imortal na memória daposteridade.

Após os nove palestrantes terem feito suas evocações nofuneral, então, chegou o momento em que o ataúde quecontinha a Pérola da amorosa servidão foi, lentamente etriunfantemente introduzido no seu simples e santificado localde repouso.

Ó tristeza infinita! Que os pés amados não mais trilharãoesta terra! Que a presença, que inspirou tal devoção ereverência, retirou-se!

Dos muitos e diversos jornais que em todo o Oriente eOcidente publicaram, em suas colunas, relatos sobre estemomentoso evento, o seguinte se destaca como o mais notávelentre eles, o Le Temps, o principal jornal francês, em sua ediçãode 19 de dezembro de 1921, com o título “Um Conciliador”,descreve graficamente a vida de ‘Abdu’l-Bahá, sendo osseguintes, alguns de seus extratos:

Um profeta acabou de morrer na Palestina. Ele se chamavaAbdoul Baha, e era filho de Bahaou’llah, que criou obahaísmo, religião “unificada” que não é outra senão obábísmo que havia observado o Conde de Gobineau. O Báb,Messias do bábísmo, se propunha modestamente a regene“o escravo de seu pai”, não ambicionavam nada menos que

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O FALECIMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

a regeneração do mundo. Paris conheceu Abdoul Baha. Umancião magnífico e bondoso que difundiu entre nós a palavrasanta à cerca de dez anos. Ele estava vestido de uma simplesmanta verde oliva e portava um turbante branco.... Suapalavra era doce e calmante, como uma ladainha. Ele eraescutado com um prazer recolhido, mesmo que nada pudesseser entendido uma vez que falava persa... O bahaísmo, é emsuma a religião da caridade e da simplicidade. É ao mesmotempo amálgama do judaísmo, do cristianismo, doprotestantismo e do livre pensar. Abdoul Baha invocouZoroastro, Moisés, Muhammad e Jesus. Você pode acharque essa unificação é a um tempo muito numerosa e confusa.É que nada se compreende das coisas sacras se não se é tocadopela fé... Sob o turbante branco seus olhos refletiaminteligência e bondade. Ele era paternal, afetuoso e simples.Seu poder, parecia, lhe era dado porque sabia amar os homense ser amado por eles. Chamado a testemunhar sobre aexcelência dessa religião nós pudemos honestamente confessarnossa fé por essa fórmula: “Como as religiões são belasquando elas principiam.”

O Morning Post*, dois dias depois de Sua ascensão, entreoutros comentários altamente favoráveis, concluiu sua matériasobre o Movimento, com as seguintes palavras:

O venerado Baha’u’llah morreu em 1892 e o manto de suavisão religiosa recaiu sobre seu filho Abdul’Baha, quando,depois de quarenta anos de vida em prisão, as mudançasconstitucionais turcas permitiram-lhe visitar a Inglaterra, aFrança e a América. Suas persistentes mensagens com relaçãoà origem divina e unidade da humanidade eram tãoimpressionantes como as do próprio Mensageiro. Possuíauma singular cortesia. À sua mesa, budistas e muçulmanos,hindus e zoroastrianos, judeus e cristãos, sentavam em

*Este jornal britânico foi incorporado ao Daily Telegraph em 1937.

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INTRODUÇÃO

espírito de amizade. “Os seres humanos” dizia ele, “foramcriados por amor; que vivam em paz e amizade.”

O New York World de dezembro de 1921 publica oseguinte:

Nunca antes de ‘Abdu’l Baha, um líder de um movimentoreligioso oriental havia visitado os Estados Unidos... Tãorecente como junho deste ano, um correspondente especialdo “The World” que visitou este vidente, assim o descreveu:“Uma vez olhando para ‘Abdu’l Baha, a sua personalidadefica indelevelmente estampada na mente: a majestosa figuravenerável, vestida de um manto flutuante, sua cabeça coroadapor um turbante branco como o seu cabelo; os penetrantesolhos fundos cujos olhares abalam o coração; o sorriso queesparge sua doçura sobre todo...”

Mesmo no crepúsculo de sua vida, ‘Abdu’l Baha mantinhaum vivo interesse pelos assuntos do mundo. Quando ogeneral Allenby varreu a costa a partir do Egito, foi primeiroconsultar com ‘Abdu’l Baha. Quando os sionistas chegaramà sua Terra Prometida, eles procuraram ‘Abdu’l Baha paraconselhos. Ele tinha as mais brilhantes expectativas para aPalestina. ‘Abdu’l Baha acreditava que o bolchevismo seriauma advertência para o mundo irreligioso. Ele ensinou aigualdade entre o homem e a mulher, dizendo: “O mundoda humanidade tem duas asas, o homem e a mulher. Se umaasa é fraca, então o pássaro não pode voar...”

O Times of India em sua edição de janeiro de 1922, abreum de seus editoriais desta forma:

Em tempos mais normais que o presente, a morte de ‘Abdu’lBaha, que foi tristemente mencionada na Conferência Bahaide Bombaim, teria mexido com os sentimentos de muitosque, sem pertencerem à fraternidade bahai, simpatizam comseus princípios e admiram o trabalho de toda uma vida

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O FALECIMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

daqueles que a fundaram. Nós tomamos conhecimento,quase por acaso, do falecimento deste grande líder religioso,porém, este fato não nos impede que deixemos de lado otumulto dos acontecimentos correntes e considerar o queeste homem fez e o que almejava.

Esboçando, então resumidamente, um relato da Históriado Movimento, concluem:

Não nos compete, agora, julgar se a pureza, o misticismo eos elevados ideais do bahaismo continuarão inalterados apósa perda do grande líder, ou especular sobre se o bahaismo,um dia, se tornará uma força, no mundo, tão grande oumaior do que o cristianismo ou islamismo; prestamos umtributo, porém, à memória de um homem que exerceu umaenorme influência em prol do bem, e quem, embora estivessedestinado a ver muitas de suas idéias aparentementeestilhaçadas na guerra mundial, permaneceu fiel às suasconvicções e à sua crença na possibilidade de um reino depaz e amor, e quem, com muito mais efetividade que Tolstoi,mostrou ao Ocidente que a religião é uma força vital quejamais pode ser negligenciada.

Dos vastos números de telegramas e cabogramas decondolências que chegaram, mencionarei estes:

O SECRETÁRIO DE ESTADO DAS COLÔNIAS DE SUA MAJESTADE

BRITÂNICA, SR. WINSTON CHURCHILL, TELEGRAFOU À SUA

EXCELÊNCIA, O ALTO COMISSARIADO PARA A PALESTINA,DESEJANDO EXPRESSAR A ELE... COMUNICAR À COMUNIDADE BAHAI,EM NOME DO GOVERNO DE SUA MAJESTADE, SUA SIMPATIA E

CONDOLÊNCIA PELO FALECIMENTO DE SIR ‘ABDU’L-BAHA ABBAS

K.B.E.

Dos Estados Unidos, esta mensagem foi enviada para a TerraSanta, em nome do corpo executivo do Bahá’í Temple Unity:

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INTRODUÇÃO

ELE FAZ O QUE LHE APRAZ. CORAÇÕES CHORAM ANTE A MAIOR

TRIBULAÇÃO. AMIGOS AMERICANOS ENVIAM, ATRAVÉS DO CORPO

DA UNITY, AMOR RADIANTE, INFINITA CONDOLÊNCIA, DEVOÇÃO.PERMANECENDO FIRMES, CONSCIENTES DE SUA CONSTANTE

PRESENÇA E PROXIMIDADE.

O visconde Allenby, Alto Comissário para o Egito, envioua seguinte mensagem em 29 de novembro, também porintermédio de sir Herbert Samuel, o Alto Comissário para aPalestina:

FAVOR COMUNICAR AOS FAMILIARES DO FALECIDO SIR ‘ABDU’L-BAHA ‘ABBAS EFFENDI E A COMUNIDADE BAHAI MINHA SINCERA

CONDOLÊNCIA PELA PERDA DE SEU RESPEITADO LÍDER.

Os valorosos bahá’ís da Alemanha enviaram este telegramaà Folha Mais Sagrada:

TODOS OS CRENTES PROFUNDAMENTE COMOVIDOS PELA PERDA

IRREVOGÁVEL DA PRECIOSA VIDA DO NOSSO MESTRE. ORAMOS

PELA PROTEÇÃO CELESTIAL DA CAUSA SAGRADA E PROMETEMOS

FIDELIDADE E OBEDIÊNCIA AO CENTRO DO CONVÊNIO.

O Conselho de Ministros em Bagdá expediu estamensagem, datada de 8 de dezembro:

SUA ALTEZA SAYED ABDURRAHMAN, O PRIMEIRO-MINISTRO, DESEJA

ESTENDER SUA CONDOLÊNCIA À FAMÍLIA DE SUA SANTIDADE

‘ABDU’L-BAHA, PELA PERDA SOFRIDA.

Uma outra mensagem que chegou através do escritóriodo Alto Comissariado para a Palestina foi do comandantesupremo da Força Expedicionária Egípcia:

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O FALECIMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

GENERAL CONGREVE PEDE QUE VOCÊS TRANSMITAM SUA MAIS

PROFUNDA CONDOLÊNCIA À FAMÍLIA DO FINADO SIR ‘ABBAS AL-BAHAI.

A Sociedade Teológica em Londres comunicou o seguintea um dos seguidores da Fé em Haifa:

PARA A FAMÍLIA SAGRADA, A SOCIEDADE TEOSÓFICA TRANSMITE

PENSAMENTOS AFETUOSOS.

Uma figura destacada da cidade de Nazaré telegrafou:

COM O MAIS PROFUNDO PESAR E TRISTEZA, TRANSMITIMOS NOSSOS

PÊSAMES NA OCASIÃO DO OCASO DA ESTRELA DALVA DO ORIENTE.SOMOS DE DEUS E A ELE REGRESSAREMOS.

Os bahá’ís de Teerã enviaram a seguinte mensagem, atravésde sua Assembléia Espiritual, aos bahá’ís da América e daGrã-Bretanha:

A LUZ DO CONVÊNIO PASSOU DA VISTA PARA O CORAÇÃO. DIA DE

ENSINO, UNIDADE, ABNEGAÇÃO.

E finalmente, uma distinta figura da vida acadêmica daUniversidade de Oxford, um renomado professor ereconhecido erudito, cujo conhecimento da Causa lhe colocaà frente de seus colegas, em sua mensagem de condolênciasescrita em seu nome e de sua esposa, expressa o seguinte:

A PASSAGEM ATRAVÉS DO VÉU À VIDA INTEGRAL DEVE SER

ESPECIALMENTE MARAVILHOSA E ABENÇOADA PARA AQUELE QUE

SEMPRE FIXOU SEUS PENSAMENTOS NO ALTO E SE ESFORÇOU A

MANEJAR UMA EXALTADA VIDA AQUI EM BAIXO.

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INTRODUÇÃO

No sétimo dia depois da ascensão do Mestre foi distribuídomilho, em Seu nome, a cerca de mil pobres de Haifa semdistinção de raça ou religião, para os quais Ele fora sempreum amigo e protetor. A aflição deles por causa da perda do“Pai dos Pobres” era muito comovedora. Também, nosprimeiros sete dias, entre cinqüenta a cem pobres eram,diariamente, alimentados na casa do Mestre, no mesmo lugaronde fora Seu costume dar esmolas a eles.

No décimo-quarto dia houve uma festa em Sua memória,oferecida a cerca de seiscentas pessoas de Haifa, ‘Akká e asáreas próximas da Palestina e da Síria, pessoas de váriasreligiões, raças e cores. Mais de cem pobres foram tambémalimentados nesse dia. Estiveram presentes o governador daFenícia, muitos outros funcionários e alguns europeus.

A festa foi inteiramente preparada pelos membros dafamília do Mestre. As longas mesas estavam decoradas comfileiras de ramos de buganvílias. Suas graciosas flores de corpúrpura, mescladas com narcisos brancos e grandes travessasde laranjas douradas colhidas do jardim do amado Mestre,compunham uma pintura de encanto naquelas imponentessalas espaçosas, cuja única outra decoração era odeslumbrante, porém suave colorido dos singulares tapetespersas. Nenhum tipo de ornamentação trivial ou inútilobscurecia a extrema dignidade da simplicidade. Os hóspedestiveram, cada um e todos, a mesma recepção de boas-vindas.Não havia “lugares de preferência”. Aqui, como sempreacontecia na casa do Mestre, não se faziam distinções pessoais.

Depois do almoço, os convidados vieram para a grandesala central, esta também sem adorno salvo pelo retratodAquele a Quem eles haviam se reunido para honrar, e algunstapetes persas antigos pendurados na parede. Diante doretrato estava colocado um estrado de onde foram feitosdiscursos para a multidão absorta e silenciosa que escutavacom todo o coração.

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O FALECIMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

O governador da Fenícia, ao longo de seu discurso, disseo seguinte:

...A maioria de nós aqui, penso eu, temos uma clara imagemde sir ‘Abdu’l-Bahá ‘Abbás, de Sua digna figura caminhando,pensativo, em nossas ruas, de Seus modos corteses e graciosos,de Sua bondade, de Seu amor por crianças e flores, de Suagenerosidade e cuidado em relação aos pobres e sofridos. Eleera tão gentil e tão simples que, na Sua presença a genteesquecia que Ele era, também, um grande mestre e que Seusescritos e Suas conversações têm sido um consolo e umainspiração para centenas de milhares de pessoas no Orientee no Ocidente...

Os outros que seguiram, falaram em reconhecimento àobra e vida de ‘Abdu’l Bahá. Estes são somente alguns extratosde seus discursos:

Uma voz chamando alto, de Teerã, ecoou do Iraque, soandodas terras turcas, magnetizando a Terra Santa que respondeuà sua melodia e, onde ela cresceu, desenvolveu-se eaprofundou-se até, finalmente, suas reverberações ressoarampor todo o Egito, espalharam-se através dos mares até oOcidente e de lá, ao Novo Mundo.

Uma voz que convocando o gênero humano ao amor, àunidade e à paz; uma voz cuja fonte, tivesse sido qualqueroutra coisa salvo pureza de motivo, de modo algum teriaconseguido propagar suas ondas com a ligeireza de relâmpagoatravés do mundo todo.

Viva ‘Abbas, o orgulho e glória do Oriente, em uma épocaque tem testemunhado a ascensão do conhecimento e a quedado preconceito; Ele, que alcançou o glorioso cume degrandeza; Ele, a Quem os Estandartes do triunfo tem seapressado em acolher; Ele, cuja estrela surgiu na Pérsia,irradiando sua luz sobre as mentes dos homens, cujos sinaistêm se multiplicado até que se pôs, em plena radiância, neste

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INTRODUÇÃO

nosso horizonte; Ele, cujos princípios têm humilhado ospovos e famílias do mundo, tal como o próprio Bahá fizeraantes dEle...

Eu creio, e creio firmemente, que Aquele cuja perda nós,agora, lamentamos, tendo vivido oitenta anos neste mundoinferior, aconselhando os povos do mundo com Sua língua,guiando-os com Sua pena, pondo diante deles um beloexemplo através de Seus feitos gloriosos, Ele, agora, preferiuconduzir e guiá-los com Seu silêncio.

Vamos, então, nos nossos pensamentos e meditaçõesrender-Lhe nossos tributos. E embora no outro dia, na portadEle, eu fiz vocês chorarem, agora é meu dever apelar e pedira vocês que esqueçam sua dor e contenham a lamentação eparem de derramar lágrimas. Na verdade, sir ‘Abbas afastou-Se de nós, em corpo, mas Ele sempre viverá conosco em Seueterno espírito, em Seus maravilhosos feitos. Embora tenhafalecido, Ele deixou para nós uma gloriosa herança nasabedoria de Seus conselhos, na retidão de Seus ensinamentos,na benevolência de Suas ações, no exemplo de Sua preciosavida, na sublimidade de Seu esforço, no poder de Suavontade, Sua paciência e coragem, Sua firmeza até o final.

E finalmente vamos nos dirigir aos Seus Escritos [algumaspassagens de Sua Última Vontade e Testamento]:

SEUS AMIGOS

“Ó vós amados do Senhor! Nesta sagrada Dispensação, oconflito e a contenda de modo algum são permitidos. Todoagressor priva-se das graças de Deus. Incumbe a cada umdemonstrar o máximo grau de amor, retidão de conduta,sinceridade e verdadeira benevolência para com todos ospovos e raças da Terra, quer amigos, quer estranhos. Tãointenso deve ser o espírito de amor e bondade, que o estranhosinta-se um amigo e o inimigo, um verdadeiro irmão, nãoexistindo entre eles qualquer diferença. Pois a universalidade

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O FALECIMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

é Divina e toda limitação, terrena. Portanto, deve o homemesforçar-se para que sua realidade manifeste virtudes eperfeições cuja luz irradie sobre todos. A luz do sol brilhasobre o mundo inteiro, e as chuvas misericordiosas da DivinaProvidência caem sobre todos os povos. A brisa vivificadoraanima toda criatura vivente e todos os seres dotados de vidaobtêm seu quinhão à Sua mesa celestial. De igual modo, oafeto e a bondade daqueles que servem ao Deus, Uno eVerdadeiro devem-se estender generosa e universalmente atodo o gênero humano. A esse respeito, não se pode, emabsoluto, permitir qualquer restrição ou limitação.

Deveis, pois, ó meus amorosos amigos, associar-vos atodos os povos, a todas as raças e religiões do mundo, com amaior sinceridade, retidão, fidelidade, benevolência, boavontade e amizade, para que todo o mundo existente receba,copiosamente o santo êxtase das graças de Bahá, e assim,desvaneçam do mundo a ignorância, a inimizade, o ódio e orancor, e a escuridão da desconfiança entre as nações e raçasceda lugar à Luz da Unidade. Se membros de outros povos enações vos forem infiéis, mostrai-lhes vossa fidelidade; sevos forem injustos, tratai-os com justiça; se afastarem-se devós, procurai atraí-los; se vos mostrarem inimizade, sedeamigos para com eles; se envenenarem vossas vidas, adoçaisuas almas; se vos ferirem, sede um bálsamo para suas feridas.Tais são os atributos dos sinceros! Tais são os atributosdaqueles que dizem a verdade.”

“Ó vós, amados do Senhor! Empenhai-vos de todo coraçãoem proteger a Causa de Deus das investidas dos insinceros,pois tais almas torcem o que é reto e tornam contrários osresultados dos mais benévolos esforços.”

A RESPEITO DAS AFLIÇÕES E TESTES

“Ó Deus, meu Deus! Tu vês como este Teu servo injustiçado,está preso às garras de leões ferozes, de lobos vorazes, de

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INTRODUÇÃO

feras sanguinárias. Misericordiosamente ajuda-me, por meuamor a Ti, a fim de que eu possa sorver profundamente docálice que transborda de fidelidade a Ti e que está repleto deTuas generosas dádivas; para que eu, caído sobre o pó,permaneça prostrado, esvaído, enquanto minhas vestes setinjem de carmesim com meu sangue. É este meu desejo, oanseio de meu coração, minha esperança, meu orgulho,minha glória. Permite, ó Senhor, meu Deus, e meu Refúgio,que, em minha hora final, meu fim, semelhante ao almíscar,possa emitir sua fragrância de glória! Haverá alguma dádivamaior que esta? Não, por Tua glória! Invoco-Te para dartestemunho de que não passa dia algum sem que eu bebaabundamente desse cálice – tão lastimosas são as más açõespraticadas pelos rompedores do Convênio, aqueles queprovocaram discórdias, demonstraram sua malícia einstigaram sedição nesta terra e Te desonraram entre Teusservos. Senhor! Defende desses rompedores do Convênio apoderosíssima Fortaleza de Tua Fé e protege Teu Santuáriosecreto contra a investida dos ímpios. Tu és, em verdade, oPoderoso, o Potentíssimo, o Misericordioso, o Forte.”

“Senhor! Tu vês todas as coisas lamentarem-se por mim,enquanto parentes meus rejubilam-se com minhastribulações. Por Tua Glória, ó meu Deus! Até mesmo entremeus inimigos houve quem lamentasse as minhas provaçõese angústias e, entre os invejosos, alguns verteram lágrimaspor causa da minha angústia, do meu exílio e das minhasaflições. E isso fizeram por nada haverem encontrado emmim senão afeto e dedicação, nada testemunhado senãobondade e misericórdia. Quando viram-me levado pelacorrenteza das tribulações e adversidades, e exposto comoalvo às setas do destino, seus corações foram tocados pelacompaixão, seus olhos encheram-se de lágrimas e eles deramtestemunho, declarando: “O Senhor é nossa testemunha;nada vimos nele a não ser fidelidade, generosidade ecompaixão extrema.” Os rompedores do Convênio, contudo,pressagiadores do mal, cresceram mais ferozmente em seu

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O FALECIMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

rancor, regozijaram-se quando caí vítima das mais penosasprovações, tramaram contra mim e se divertiram com osdolorosos acontecimentos que me envolveram.”

UMA ORAÇÃO DE PROTEÇÃO AOS SEUS AMIGOS

“Ó Senhor, meu Deus! Ajuda aqueles que Te amam apermanecerem firmes em Tua Fé, a prosseguirem em Teuscaminhos e serem constantes em Tua Causa. Dispensa-lhesTua graça, para que resistam à investida do ego e da paixãoe se guiem pela luz da guia divina. Tu és o Poderoso, oBenévolo, O que subsiste por Si próprio, o Magnânimo, oCompassivo, o Onipotente, a Suprema Bondade.”

AOS SEUS INIMIGOS, UMA ORAÇÃO

“Ó Senhor meu Deus! Invoco-Te com minha língua e detodo coração, não os castigueis por sua crueldade e más ações,por suas malícias e perversidades, pois eles são insensatos eignóbeis, e não sabem o que fazem. Não discernem o bemdo mal, nem distinguem o certo do errado, nem a justiça dainjustiça. Seguem seus próprios desejos e andam nas pegadasdos mais imperfeitos e insensatos em seu meio. Ó meuSenhor! Tem piedade deles, protege-os de qualquer aflição,nesses tempos de dificuldades, e permite que todas asprovações e dificuldades sejam destinadas a este Teu servo,caído nesta cova tenebrosa. Torna-me alvo de todas as penas,e faze de mim um sacrifício por todos os Teus amados! ÓSenhor, Altíssimo! Seja minh’alma, minha vida, meu ser, meuespírito – tudo, oferecido em holocausto por eles! Ó Deus,meu Deus! Humilde, suplicante e prostrado diante de Ti,imploro-Te, com todo o ardor de minha invocação, queperdoes a quem quer que me tenha injuriado, que absolvaaquele que conspirou contra mim e me ofendeu, e apaguesas más ações daqueles que foram injustos para comigo.Concede-lhes Tuas boas dádivas, torna-os alegres, alivia-os

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INTRODUÇÃO

de sua dor, concede-lhes paz e prosperidade, dá-lhes Tuabênção e derrama sobre eles Tua generosidade! Tu és oPoderoso, o Benévolo, o Amparo no Perigo, O que subsistepor Si próprio!”

ENSINOU A IMPORTÂNCIA DE ENSINAR A CAUSA DE DEUS

“Ó vós que permaneceis firmes no Convênio! Ao chegar ahora em que esta ave injustiçada e de asas partidas tenhaalçado vôo para o Concurso Celestial, quando ela houver seapressado para o Reino do Invisível e seu corpo mortal tiverse perdido ou escondido sob o pó, incumbirá aos Afnán,que estão firmes no Convênio de Deus e que brotaram daÁrvore da Santidade; às Mãos [pilares] da Causa de Deus(sobre elas esteja a glória do Senhor) e a todos os amigos eamados – a todos, sem exceção – despertarem e se levantaremde coração e alma e de comum acordo para difundir as docesfragrâncias de Deus, ensinar Sua Causa e disseminar Sua Fé.Não devem descansar, nem que seja por um momento, nembuscar repouso. Devem se dispersar por todas as terras, passarpor todas as plagas e viajar através de todas as regiões.Despertos, infatigáveis, constantes até o fim, devem eleserguer em toda parte o brado triunfal: “Yá Bahá’u’l-Abhá!”[Ó Tu, Glória das Glórias!]; devem ganhar renome nomundo, onde quer que forem, arder intensamente como umavela, em toda reunião e em toda assembléia devem acender achama do amor divino; para que a luz da verdade surjaresplandecente no próprio coração do mundo, e uma vastaassembléia, por todo o Oriente e todo o Ocidente, reúna-seà sombra do Verbo de Deus, a fim de que as doces fragrânciasda santidade possam ser difundidas, as faces brilhemradiantemente, os corações sejam imbuídos do EspíritoDivino e as almas tornem-se celestiais.”

“Os discípulos de Cristo esqueceram-se de si mesmos e detodas as coisas terrenas, abandonaram toda preocupação e

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O FALECIMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

tudo o que lhes pertencia, purificaram-se do egoísmo e dapaixão e, com desprendimento absoluto, espalharam-se portoda parte, ocupando-se em chamar os povos do mundopara a Guia Divina, até que, finalmente, conseguiramtransformar o mundo em outro mundo, iluminando a faceda Terra. Até sua última hora, deram provas de sua abnegaçãono caminho dAquele Amado de Deus e, por fim, em diversasterras, sofreram martírio glorioso. Que os homens de açãosigam suas pegadas!”

“Se qualquer pessoa, ou qualquer reunião, tornar-se umobstáculo à difusão da Luz da Fé, os amados deverãoaconselhá-los, dizendo: “De todas as dádivas divinas, a maioré a dádiva do Ensino. Esta atrai para nós a Graça de Deus eé nossa primeira obrigação. Como poderemos nos privar detão grande dádiva? Não, nossas vidas, nossos bens, nossoconforto, nosso repouso – tudo oferecemos em sacrifício pelaBeleza de ‘Abhá, e ensinamos a Causa de Deus”. Cautela eprudência, contudo, devem ser observadas, conforme estáregistrado no Livro. O véu, de modo algum, deve sersubitamente tirado.”

O FUNDAMENTO DA FÉ DO POVO DE BAHÁ

“É esse o fundamento da crença do povo de Bahá (seja minhavida sacrificada por Ele). Sua Santidade, o Excelso (o Báb),é a manifestação da Unidade Divina e o Precursor da AntigaBeleza. Sua Santidade, a Beleza de Abhá (seja minha vidaum sacrifício por Seus amigos fiéis), é o SupremoManifestante de Deus e a Aurora de Sua Mais DivinaEssência. Todos os demais são Seus servos e fazem o que Eleordena.” Ao Sacratíssimo Livro, todos devem se voltar, equalquer coisa que nele não esteja expressamente tratada,deve ser referida à Casa Universal de Justiça. O que essaCasa resolver, seja por unanimidade ou por maioria, serárealmente a Verdade e a expressão da própria Vontade Divina.

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INTRODUÇÃO

Qualquer um que divirja dessa resolução é, em verdade, dosque amam a discórdia, demonstra malícia e se afasta doSenhor do Convênio.”

A RESPEITO DA LEALDADE DO POVO DE BAHÁ A RESPEITAR A

AUTORIDADE E LEIS DOS SEUS PAÍSES

“Ó vós, amados do Senhor! Incumbe-vos ser submissos atodos os monarcas que sejam justos e mostrar fidelidade atodo rei virtuoso. Servi aos soberanos do mundo com amáxima sinceridade e lealdade. Prestai-lhe obediência edesejai o seu bem. Sem sua licença e permissão, não vosintrometais em assuntos políticos, porque a deslealdade aosoberano justo é deslealdade ao próprio Deus.

É esse meu conselho e é o que Deus vos ordena. Bem-aventurados aqueles que assim agem!”

UMA ORAÇÃO DO FINAL DE UMA DAS SEÇÕES DO TESTAMENTO

“Ó Deus, meu Deus! Invoco a Ti, Teus Profetas e TeusMensageiros, Teus Santos e a todos os Teus Santificados paraque dêem testemunho de haver eu declarado Tuas provasconcludentemente aos Teus amados e lhes exposto comclareza todas as coisas, a fim de que vigiassem pela Tua Fé,guardassem Teu Caminho reto e protegessem Tua Leiresplandecente. Tu és, em verdade, Onisciente, oSapientíssimo!”

E agora, de Sua Vontade e Testamento nos voltamos àSuas Epístolas lendo as seguintes palavras de alerta, as quaisEle revela em Sua última Epístola geral aos Seus amados emtodo o mundo:

Ó amados, guardai a Causa de Deus! Que nenhum canto desereia vos iluda; não, antes, considerai o motivo de cada

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O FALECIMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

alma e ponderai o pensamento que acalenta. Sede de prontocautelosos e prevenidos. Evitai tal pessoa, mas não sejaisagressivos jamais! Abstende-vos da censura e da difamação edeixai-o nas Mãos de Deus.1

A predição clara e sem erros que Ele fez a respeito doglorioso destino da Causa num futuro próximo éforçosamente revelada numa carta que escreveu quando estavasob as ameaças do Comitê de Investigação durante ossombrios dias de Seu encarceramento em ‘Akká:

Ora, no mundo da existência, a Mão do poder divinoestabeleceu firmemente as bases desta mais sublime graça edesta maravilhosa dádiva. Tudo o que estiver latente noâmago deste Ciclo, gradualmente se tornará aparente emanifesto, pois agora é apenas o começo de seu crescimentoe o alvorecer da revelação de seus sinais. Até o final desteséculo e desta época, tornar-se-á claro e evidente quãomaravilhosa foi aquela torrente e quão grande aquela dádiva.2

Uma similar e ainda mais efetiva proclamação professandoo despontar do Movimento, Ele o faz em uma Epístolarevelada após a Grande Guerra a um amigo curdistanês,residente no Egito. Estas são Suas exatas palavras:

Agora, a respeito do versículo no Livro de Daniel, do qualpediste a interpretação, a saber: “Bem-aventurado o queespera e chega até mil trezentos e trinta e cinco dias.” Estesdias devem ser calculados como anos solares e não lunares.Pois de acordo com este cálculo um século terá transcorridodesde o alvorecer do Sol da Verdade; então os ensinamentosde Deus estarão firmemente estabelecidos sobre a Terra e aLuz Divina inundará o mundo de Oriente a Ocidente. Então,neste dia, os fiéis regozijar-se-ão!3

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INTRODUÇÃO

Confirmando e explicando mais tarde o sentido ocultodos versos mencionados acima, Ele revela o seguinte em umade Suas recentes Epístolas:

Ó servo de Deus! Os mil trezentos e trinta e cinco anos,antes mencionados, devem ser calculados a partir do dia daluta (hégira) de Sua Santidade Muhammad, o Apóstolo deDeus, saudações e bênção estejam sobre Ele, e que no finaldeste tempo os sinais estarão surgindo, a glória, a exaltação,o divulgar da Palavra de Deus através do Ocidente e doOriente tornar-se-á evidente.4

Em uma de Suas últimas Epístolas, aconselhando àcompanhia dos amigos de Deus, Ele alenta este encorajadore renovador espírito:

Não considerem a pessoa de ‘Abdu’l-Bahá, pois esta pessoaterá finalmente de se despedir de todos vocês; antes fixem oolhar no Verbo de Deus... Devem levantar-se e exaltar, seremfelizes e agradecidos, mesmo se ‘Abdu’l-Bahá estiver sob ofio da espada, confinado ou reduzido a frangalhos. Pois oque é de transcendente importância é o Templo Sagrado daCausa de Deus e não a moldura mortal de ‘Abdu’l-Bahá. Osamados de Deus devem levantar-se com tal firmeza, que, seporventura, num dado momento, centenas de almas setornarem alvo dos dardos das tribulações e até mesmo opróprio ‘Abdu’l-Bahá, nada afete ou diminua suas firmesresoluções, suas intenções, seus ardores, seus encantamentos,seus serviços à Causa de Deus... Isto, ó amados do Senhor, émeu conselho e minha exortação a vós. Bendito seja aqueleque o Senhor ajuda, mesmo se for em tentativa, nesta pura esantificada Epístola.5

A carta-circular publicada por ocasião da partida do Mestredeste mundo pela Assembléia Espiritual Local de Teerã,

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O FALECIMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

contém excertos de uma Epístola revelada quarenta anos atrás[1882] pela pena do Centro do Convênio, os quais citamosalguns:

Ó meus fiéis amados! Se algum dia acontecimentos aflitivosvierem a se desenrolar na Terra Santa, nunca se perturbemou se agitem, nem temam, nem fiquem pesarosos, pois tudoquanto acontecer fará com que o Verbo de Deus seja exaltadoe Suas divinas fragrâncias difundidas. Façam firmes seuspassos e com máxima constância levantem-se para servir SuaCausa... O Espírito de Deus e Sua glória estejam sobre aqueleque é firme e constante no Convênio!6

Entre Suas palestras a respeito de Seu passamento destemundo, Ele assegura a nós o seguinte:

Lembrem-se, quer eu esteja ou não na terra, minha presençaestará sempre com vocês.7

Novamente em uma Epístola endereçada a um dos amigosnos Estados Unidos da América, Ele descreve o futuro gloriosoda Árvore Sagrada de Deus, aonde Ele é o Supremo Ramo:

Não temas se este Ramo for decepado deste mundo materiale abandonar as suas folhas; não, as folhas hão de vicejar,pois este Ramo crescerá após ser cortado deste mundo inferior,e atingirá os mais sublimes pináculos da glória, e dará frutostais que perfumarão o mundo com sua fragrância.8

Sua derradeira Epístola, graciosamente revelada para umde Seus amados em Stuttgart, Ele conduz Suas reflexões sobreeste mundo transitório e dá conselhos aos Seus amados queainda habitam nele:

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INTRODUÇÃO

Ó tu, amado do Senhor! Neste mundo mortal nada, emabsoluto, permanece. Os povos da Terra moram e gastaminutilmente um número de dias nela; finalmente voltam aopó, fazendo parte do lar do silêncio eterno, deixando paratrás nenhuma realização, nenhuma bênção, nenhumresultado e nenhum fruto. Todos os dias de suas vidas sãodespendidos no vazio. Porém, as crianças do Reino plantamsementes no fértil solo da Verdade que, eventualmente,florescerá e trará muitas colheitas, podendo ser vantajosocom generosa graça ao crescimento da humanidade. Podeser que obtenham vida eterna, ganhem generosidadeimperecível e brilhem como estrelas radiantes no firmamentodo Reino Divino. A Glória das Glórias esteja sobre tu!9

E agora, o que poderia parecer mais direto, mais emotivopara finalizar este triste e agitado relato de Seus últimos dias,do que Suas muito comoventes e inspiradoras palavras?

Amigos! Está chegando o tempo quando não mais estareientre vós. Tenho feito tudo que podia ser feito. Tenho servidoa Causa de Bahá’u’lláh até o máximo de minha capacidade.Tenho trabalhado dia e noite, todos os anos de minha vida.Oh! Como desejo ver os amados assumindo asresponsabilidades da Causa! Agora é tempo de proclamar oReino de Bahá! Agora é hora de amor e união! Este é o diada harmonia espiritual dos amados de Deus! Tenho exauridotodos os recursos de minha força física, e o espírito da minhavida são as notícias bem-vindas da unidade do povo de Bahá.Estou dirigindo meus ouvidos na direção do leste e na direçãodo oeste, na direção do norte e na direção do sul, quiçá possaouvir as canções de amor e companheirismo entoadas nasreuniões dos fiéis. Meus dias estão contados, e, não restaalegria alguma para mim senão esta. Oh! Como anseio veros amigos unidos como um colar de pérolas cintilantes, comoas brilhantes plêiades, como os raios do Sol, como as gazelasde um prado!

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O FALECIMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

O Rouxinol místico está gorjeando para eles todos. Nãovão escutar? A Ave do Paraíso está cantando. Não lheprestarão atenção? O Anjo de Abhá está chamando-os. NãoO ouvirão? O Arauto do Convênio está suplicando. Nãoobedecerão?

Ah, eu estou esperando, esperando ouvir as jubilosasnotícias de que os crentes são a própria personificação desinceridade e veracidade, a encarnação de amor e amizade,os símbolos vivos de unidade e concórdia. Não irão alegrarmeu coração? Não satisfarão meu anseio? Não manifestarãomeu desejo? Não cumprirão o desejo do meu coração? Nãodarão ouvidos a meu chamado?

Estou esperando, esperando pacientemente.10

Fechamos com uma oração revelada por ‘Abdu’l-Bahá eque de agora em diante deverá ser recitada em Seu iluminadosepulcro:

Quem recitar esta oração com humildade e fervortrará alegria e contentamento ao coração deste Servo;

será como se, na realidade, se encontrasse com Ele,face a face.

ELE É O TODO-GLORIOSO!

Ó Deus, meu Deus! Humilde e em lágrimas, levanto asmãos suplicantes a Ti, e cubro minha face no pó desseTeu Limiar, o qual está elevado além do conhecimentodo sábio, acima do louvor de todos os que Te glorificam.Bondosamente dirige a Teu servo, humilde e submisso àTua porta, o olhar da Tua misericórdia, e imerge-o noOceano de Tua graça eterna.

Senhor! Ele é um pobre, humilde servo Teu, extasiado,implorando-Te, cativo em Tuas mãos, rogando-Tefervorosamente, pondo em Ti sua inteira confiança,

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INTRODUÇÃO

em prantos em Tua Presença, invocando-Te e pedindonestas palavras:

Ó Senhor, meu Deus! Concede-me Tua graça, paraque eu possa servir Teus bem-amados; fortalece-me emTeu serviço. Que minha fronte se ilumine com a luz deadoração em Tua santa corte e de súplica a Teu reino degrandeza. Que meu ego se esvaeça, com Tua ajuda, àentrada celestial de Tua porta, e eu me desprenda de tudodentro de Tuas santas plagas. Senhor! Do cálice daabnegação, permite-me sorver; com suas vestes, adorna-me; em seu oceano, imerge-me. Faze-me como pó nocaminho de Teus bem-amados, e permite que eu ofereçaminh’alma em holocausto pela terra que as pegadas deTeus eleitos em Teu caminho enobreceram, ó Senhor deGlória nas Supremas Alturas!

Com esta prece Teu servo Te invoca ao alvorecer e ànoite. Satisfaze o desejo de seu coração, ó Senhor! Iluminaseu coração e alegra sua alma. Acende esta lâmpada emserviço à Tua Causa e a Teus servos.

Tu és o Dispensador de Graças, o Compassivo, oGenerosíssimo, o Benévolo, o Clemente, oMisericordioso.11

ASSINAM:Sitarih Khánum (Lady Blomfield) e

Shoghi Effendi

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O FALECIMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

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PRIMEIRA PARTE

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odo louvor Àquele que, com a proteção de SeuConvênio, resguardou o Templo de Sua Causacontra os dardos da dúvida, e com as Hostes deSeu Testamento preservou o Santuário de Sua Mais

Benévola Lei e protegeu Seu Caminho Reto e Luminoso,detendo, assim, a investida da companhia dos rompedoresdo Convênio que ameaçavam subverter-lhe a EstruturaDivina; Àquele que velou por Sua Poderosíssima Fortaleza eSua Fé Toda-Gloriosa, ajudado por homens a quem a calúniado difamador não afeta, nem qualquer apelo, prestígio oupoder terreno pode desviar do Convênio de Deus e SeuTestamento, firmemente estabelecidos por Suas palavras clarase manifestas, reveladas e escritas pela Sua Pena Toda-Gloriosae registradas na Epístola Preservada.

Saudações e louvor, bênção e glória cubram aqueleramo primaz do Loto Sagrado e Divino, que brotouabençoado, tenro, verdejante e florescente, das Santas ÁrvoresGêmeas, a mais maravilhosa pérola, inestimável e sem igual,que cintila dos encapelados mares Gêmeos; e desçam sobreos ramos da Árvore da Santidade, os rebentos da ÁrvoreCelestial, aqueles que se mantiveram firmes e fiéis noConvênio, no Dia da Grande Divisão; sobre as Mãos [pilares]da Causa de Deus, que têm difundido largamente asFragrâncias Divinas, declarado Suas Provas, proclamado SuaFé, divulgado em toda parte Sua Lei, desprendido-se de tudo

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A ÚLTIMA VONTADE E TESTAMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

exceto dEle, simbolizado a retidão neste mundo e ateado oFogo do Amor de Deus nos próprios corações e almas deSeus servos; e sobre aqueles que acreditaram e secompenetraram, ficando firmes em Seu Convênio e seguindoa Luz que, após meu falecimento, brilha da Aurora da GuiaDivina – pois ei-lo! – ele é o ramo abençoado, sagrado, quebrotou das Santas Árvores Gêmeas. Bem-aventurado quemprocura abrigar-se à sua sombra, que ampara toda ahumanidade.

Ó vós, amados do Senhor! A maior de todas as coisas éa proteção da Verdadeira Fé de Deus, a preservação de SuaLei, a proteção de Sua Causa e o serviço à Sua Palavra. Dezmil almas derramaram rios de seu sagrado sangue nessecaminho, ofereceram-Lhe em holocausto suas vidas preciosas,apressaram-se, enlevadas de um santo êxtase, ao gloriosocampo do martírio, içaram o Estandarte da Fé Divina eescreveram com o próprio sangue vital, sobre a Epístola domundo, os versículos de Sua Unidade Divina. O sagrado peitode Sua Santidade, o Excelso, (seja minha vida oferecida emsacrifício a Ele) tornou-se alvo de inúmeros dardos detribulações e, em Mázindarán, os Abençoados pés da Belezade Abhá (seja minha vida oferecida em holocausto aos Seusamados) foram tão penosamente açoitados, que sangraram eficaram profundamente feridos. Também, Seu pescoço foicolocado em correntes usadas em cativeiro e prenderam-Lheos pés em um tronco. Durante um período de cinqüentaanos, caía sobre Ele, a todo instante, uma nova provação ecalamidade; novas aflições e preocupações O cercavam, comono caso de, após haver sofrido vicissitudes intensas, ter ficadosem lar, vagando de lugar em lugar; e ainda, caído vítima deoutros desgostos e tribulações. No Iraque, Aquele que é aEstrela Matinal do mundo foi a tal ponto exposto aos ardisdo povo da malícia que Lhe eclipsaram o esplendor. Mais

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PRIMEIRA PARTE

tarde, exilaram-No à Grande Cidade [Constantinopla] e delá à Terra do Mistério [Adrianópolis], de onde, afinal,transferiram-No para a Maior Prisão [‘Akká], penosamenteinjustiçado. Aquele a Quem o mundo injuriou (seja minhavida sacrificada por Seus amados) foi banido de cidade emcidade, por quatro vezes, até ser, finalmente, condenado àprisão perpétua, sendo então encarcerado nesta Prisão – umaprisão de salteadores, bandidos e homicidas. Tudo isso foiapenas uma das muitas provações que afligiram a AbençoadaBeleza, sendo as demais igualmente lastimosas.

E ainda outra de Suas provações foi a hostilidade, aflagrante injustiça, a iniqüidade e a rebelião de Mírzá Yahyá.Embora aquele Injustiçado, aquele Prisioneiro, o tivesseacalentado sempre, desde seus primeiros anos, com Suabenevolência, e lhe tivesse dispensado a todo momento Seucarinhoso desvelo, exaltando-lhe o nome, protegendo-ocontra todo infortúnio, tornando-o amado por aqueles destemundo e do vindouro, e a despeito dos firmes conselhos eexortações de Sua Santidade, o Excelso [o Báb] e de Suaadvertência clara e concludente:

“Acautela-te, acautela-te, para que as Dezenove Letrasdo Vivente e o que foi revelado no Bayán não sejamvelados de ti!”

No entanto, apesar de tudo isso, Mírzá Yahyá negou-O e tratou com falsidade, não acreditou nEle, lançou assementes da dúvida, fechou os olhos para Seus versículosmanifestos e deles se afastou. Oxalá tivesse se contentadocom isso! Mas não; até tentou derramar o sagrado sangue[de Bahá’u’lláh] e então, levantou um grande clamor etumulto ao seu redor, atribuindo a Bahá’u’lláh malevolênciae crueldade para com ele. Quanta sedição instigou e que

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tempestade de malícia fez surgir enquanto na Terra doMistério [Adrianópolis]! Finalmente, perpetrou aquilo quecausou o desterro do Sol do Mundo para esta, a Maior Prisão,e foi no Oeste desta Grande Prisão que, gravementeinjustiçado, o pôr deste Sol se fez.

Ó vós que permaneceis constantes e firmes noConvênio! O Centro da Sedição, o Promotor Primaz do Mal,Mírzá Muhammad ‘Alí, não mais se encontra à sombra daCausa, tendo rompido o Convênio, falsificado o TextoSagrado, infligido uma perda lastimável à verdadeira Fé deDeus, dispersado Seu povo e, com amargo rancor, tentadoinjuriar a ‘Abdu’l-Bahá, atacando com a máxima hostilidadeeste servo do Sagrado Limiar. Apanhando todos os dardos,ele os lançou com o fim de crivar o peito deste servo injuriado,não deixando de infligir a mim as mais graves feridas, etentando extinguir, com todos os venenos, a vida deste aflito.Juro pela mais sagrada Beleza de Abhá e pela Luz que irradiade Sua Santidade, o Excelso (seja minh’alma um sacrifíciopelos Seus humildes servos)! Por causa dessa iniqüidade, osque habitam o Pavilhão do Reino de Abhá têm-se lastimado,a Assembléia Celestial lamenta-se, as Donzelas Imortais doCéu erguem seu brado melancólico no Supremo Paraíso e acompanhia dos anjos suspira e emite seu gemido. Tãolastimáveis tornaram-se as ações dessa iníqua pessoa que comseu machado atingiu a raiz da Árvore Abençoada, atirou-secom ímpeto contra o Templo da Causa de Deus, feztransbordarem lágrimas de sangue dos olhos dos amados daAbençoada Beleza, animou e encorajou os inimigos do DeusUno e Verdadeiro, afastou da Causa de Deus, com seu repúdioao Convênio, muitos que buscavam a Verdade, revitalizou asesperanças frustradas dos seguidores de Yahyá, fez-sedetestado, induziu os inimigos do Máximo Nome a setornarem audazes e arrogantes, rejeitou os versículos firmes e

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PRIMEIRA PARTE

concludentes e lançou as sementes da dúvida. Se a prometidaajuda da Beleza Antiga não tivesse sido benignamenteconcedida, a todo momento, a este ser, por indigno que seja,aquele certamente teria destruído – não, mais ainda –exterminado a Causa de Deus, e subvertido completamentea Estrutura Divina. Mas, louvado seja o Senhor, o triunfanteauxílio do Reino de Abhá foi recebido, as hostes do Reino doalém apressaram-se para conceder a vitória. A Causa de Deusfoi largamente difundida, o chamado do Verdadeiroretumbou em toda parte, os ouvidos em todas as regiõesinclinaram-se para a Palavra de Deus, desfraldou-se SeuEstandarte, as insígnias da Santidade tremularam gloriosasno alto e os versículos que celebram Sua Unidade Divinaforam entoados. Desta forma, a fim de que a verdadeira Féde Deus possa ser amparada e protegida, Sua Lei possa serresguardada e preservada, e Sua Causa mantida salva e segura,incumbe a todos manterem-se fiéis ao Texto do claro efirmemente estabelecido e abençoado versículo, revelado arespeito dele. Nenhuma outra transgressão maior que estapoderá jamais ser imaginada. Diz Ele [Bahá’u’lláh], gloriosae santa é Sua Palavra:

“Meus amados amigos insensatos o tem consideradoaté mesmo como sendo meu companheiro; atearamsedição na terra e são, em verdade, os causadores demalefícios.”

Considerai, como é insensato o povo! Os que estiveramem Sua Presença [Bahá’u’lláh] e contemplaram SeuSemblante, têm reverberado largamente, no entanto, taispalavras vãs até que – exaltadas sejam Suas Palavras explícitas– Ele disse:

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“Se ele, por um momento, sair da sombra protetorada Causa, será seguramente reduzido ao nada.”

Refleti! Quanta importância Ele dá ao ato de se desviarpor apenas um momento: isto é, fosse ele inclinar-se paradireita ou para esquerda na largura de um fio de cabelo, seuafastamento seria claramente estabelecido e sua completainexistência tornada manifesta. E agora testemunhais comoa ira de Deus afligiu-o de todos os lados e como ele, dia a dia,precipita-se para a destruição. Dentro em breve vereis ele eseus associados, interna e externamente, condenados àcompleta ruína.

Qual desvio maior do que o rompimento do Convêniode Deus? Qual desvio maior do que a interpolação efalsificação das palavras e dos versículos do Texto Sagrado,assim como Mírzá Bádí’u’lláh declarou e deu testemunho!Que desvio pode ser maior do que caluniar o próprio Centrodo Convênio! Que desvio mais flagrante do que espalhar portoda parte declarações falsas e insensatas a respeito do Templodo Testamento de Deus! Qual desvio pode ser mais lastimáveldo que decretar a morte do Centro do Convênio, apoiando-se no sagrado versículo:

“Se alguém pretender... antes de expirarem mil anoscompletos,...”1

Enquanto que ele [Muhammad ‘Alí], no tempo daAbençoada Beleza, sem qualquer pudor declarou semelhantepretensão e foi refutado por Ele da maneira acimamencionada, estando ainda existente o texto de sua pretensão,escrito de próprio punho e lacrado com seu próprio selo.Qual desvio pode ser mais completo do que acusar falsamente

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PRIMEIRA PARTE

os amados de Deus? Qual desvio pode ser mais maléfico doque lhes causar prisão e encarceramento? Qual desvio podeser mais grave do que entregar nas mãos do governo asSagradas Escrituras e Epístolas, para que eles [o governo]talvez se levantassem, resolvidos a infligir morte a esteinjustiçado? Que desvio pode ser mais violento do queameaçar de ruína a Causa de Deus, forjar e traiçoeiramentefalsificar cartas e documentos com o fim de alarmar eperturbar o governo e levá-lo a derramar o sangue desteinjustiçado, estando tais cartas e documentos atualmente nasmãos do governo? Que desvio pode ser mais odioso do quesua iniqüidade e rebelião? Que desvio pode ser maisvergonhoso do que dispersar o grupo do povo da salvação?Que desvio pode ser mais infame do que as fracas e vãsinterpretações do povo da dúvida? Que desvio pode ser maismalicioso do que unir-se, de mãos dadas, aos estranhos einimigos de Deus?

Há poucos meses, juntamente com outros, aquele querompeu o Convênio preparou um documento repleto decalúnias e difamação, no qual – o Senhor o proíba! – entremuitas acusações difamatórias semelhantes, afigura uma emque ‘Abdu’l-Bahá é imputado como um inimigo perigoso,que deseja mal ao império. A tal ponto perturbaram as mentesdos membros do governo imperial que, finalmente, umcomitê de investigação foi mandado da sede do governo desua majestade, o qual, violando todos os preceitos de justiçae eqüidade dignos de sua majestade imperial – não, maisainda – com a mais flagrante injustiça, procedeu às suasinvestigações. Os inimigos do Deus Uno e Verdadeirocercaram-nos de todos os lados, explicando e ampliandoexcessivamente o texto do documento enquanto eles [osmembros do comitê], por sua vez, concordaram cegamente.Uma de suas numerosas calúnias foi que este servo havia içado

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uma bandeira nesta cidade, convocado o povo à sua sombra,estabelecido para si próprio uma nova soberania, erigido sobreo Monte Carmelo uma poderosa fortaleza, aglomerado aoSeu redor todos os povos desta terra e os obrigado a lhe seremobedientes, causado dissidência na Fé do Islã e – Deus oproíba! –feito um convênio com os seguidores de Cristovisando causar a mais grave ruptura no grande poder doimpério. Que o Senhor nos proteja de mentiras tão atrozes!

Segundo o direto e sagrado comando de Deus, é-nosproibido pronunciar calúnias, incumbe-nos demonstrar paze amizade, retidão de conduta, sinceridade e harmonia paracom todas as raças e povos do mundo. Devemos obedecer aogoverno do país e desejar seu bem, devemos considerar adeslealdade para com um rei justo como se fosse deslealdadepara com o próprio Deus, e a malevolência para com ogoverno como uma transgressão à Causa de Deus. Diantedestas palavras decisivas e finais, como é possível que estesprisioneiros se entreguem a tais vãs fantasias – encarcerados,como poderiam manifestar tamanha deslealdade? Mas, ai! Ocomitê de investigações já aprovou e confirmou essas calúniasde meu irmão e dos malévolos, e já as submeteu à presençade sua majestade, o soberano. Agora, neste momento,enfurece-se uma violenta tempestade ao redor desteprisioneiro que espera – seja favorável ou desfavorável – abenévola vontade de sua majestade, que o Senhor por Suagraça o ajude a ser justo! Em qualquer condição que esteja,com calma e tranqüilidade absolutas, eu, ‘Abdu’l-Bahá, estoupronto para o sacrifício de mim mesmo, resignando-me esubmetendo-me inteiramente à Vontade de Deus. É esta umatransgressão tão abominável, odiosa e maléfica?

De igual modo, o Centro focal do Ódio tinha comopropósito a morte de ‘Abdu’l-Bahá, sendo isto provado pelotestemunho do próprio Mírzá Shu’a’u’lláh, aqui incluso. É

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PRIMEIRA PARTE

evidente e incontestável que se ocupam, em segredo e com amaior sutileza, em conspirar contra mim. As seguintes sãosuas próprias palavras, por ele escritas nessa carta:

“Amaldiçôo, a todo momento, aquele que ateou essadiscórdia, invocando nestas palavras: ‘Senhor, nãotenhas compaixão dele.’ Espero que dentro em breveDeus torne manifesto aquele que não lhe tenhacompaixão, aquele que aparece agora em outras vestese sobre quem não posso explicar mais.”

Nestas palavras, faz ele referência ao sagrado versículoque começa do seguinte modo:

“Antes de expirado um milênio completo, quemafirmar ser portador...”2

Refleti! Com que ansiedade intentam a morte de‘Abdu’l-Bahá! Ponderai em vossos corações a frase: “Não possoexplicar mais” – e compreendei que intrigas estão tramandopara este fim. Receiam que, se explicada muito claramente ecaindo em mãos inimigas, a carta poderia impedir e frustrarseus desígnios. Esta frase apenas prediz a vinda de boas-novas,a saber, que todas as medidas necessárias a respeito disso jáforam tomadas.

Ó Deus, meu Deus! Tu vês como este Teu servoinjustiçado, está preso às garras de leões ferozes, de lobosvorazes, de feras sanguinárias. Misericordiosamente ajuda-me, por meu amor a Ti, a fim de que eu possa sorverprofundamente do cálice que transborda de fidelidade a Ti eque está repleto de Tuas generosas dádivas; para que eu, caídosobre o pó, permaneça prostrado, esvaído, enquanto minhasvestes se tinjem de carmesim com meu sangue. É este meu

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desejo, o anseio de meu coração, minha esperança, meuorgulho, minha glória. Permite, ó Senhor, meu Deus, e meuRefúgio, que, em minha hora final, meu fim, semelhante aoalmíscar, possa emitir sua fragrância de glória! Haverá algumadádiva maior que esta? Não, por Tua glória! Invoco-Te paradar testemunho de que não passa dia algum sem que eu bebaabundamente desse cálice – tão lastimosas são as más açõespraticadas pelos rompedores do Convênio, aqueles queprovocaram discórdias, demonstraram sua malícia einstigaram sedição nesta terra e Te desonraram entre Teusservos. Senhor! Defende desses rompedores do Convênio apoderosíssima Fortaleza de Tua Fé e protege Teu Santuáriosecreto contra a investida dos ímpios. Tu és, em verdade, oPoderoso, o Potentíssimo, o Misericordioso, o Forte.

Em suma, ó vós, amados do Senhor! O Centro deSedição, Mírzá Muhammad ‘Alí, segundo as decisivas palavrasde Deus e por causa de sua ilimitada transgressão, caiulastimavelmente e foi cortado da Santa Árvore. Em verdade,nós não os injuriamos, mas eles injuriaram a si mesmos!

Ó Deus, meu Deus! Guarda Teus servos fiéis contraos males do egoísmo e da paixão; protege-os, com os olhosvigilantes da Tua benevolência, contra todo rancor, ódio einveja; abriga-os na fortaleza inexpugnável de Tua Causa; e,imunes às setas da dúvida, torna-os manifestantes de Teusgloriosos sinais. Ilumina suas faces com os raios refulgentesemanados da Aurora de Tua Divina Unidade; alegra seuscorações com os versículos revelados de Teu Santo Reino;fortalece-os com Teu poder, que a tudo estremece, vindo daregião da Tua Glória. Tu és o Todo-Generoso, o Protetor, oOnipotente, o Misericordioso!

Ó vós que permaneceis firmes no Convênio! Ao chegara hora em que esta ave injustiçada e de asas partidas tenhaalçado vôo para o Concurso Celestial, quando ela houver se

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apressado para o Reino do Invisível e seu corpo mortal tiverse perdido ou escondido sob o pó, incumbirá aos Afnán,que estão firmes no Convênio de Deus e que brotaram daÁrvore da Santidade; às Mãos [pilares] da Causa de Deus(sobre elas esteja a glória do Senhor) e a todos os amigos eamados – a todos, sem exceção – despertarem e selevantarem de coração e alma e de comum acordo paradifundir as doces fragrâncias de Deus, ensinar Sua Causa edisseminar Sua Fé. Não devem descansar, nem que seja porum momento, nem buscar repouso. Devem se dispersarpor todas as terras, passar por todas as plagas e viajar atravésde todas as regiões. Despertos, infatigáveis, constantes atéo fim, devem eles erguer em toda parte o brado triunfal:“Yá Bahá’u’l-Abhá!” [Ó Tu, Glória das Glórias!]; devemganhar renome no mundo, onde quer que forem, arderintensamente como uma vela, em toda reunião e em todaassembléia devem acender a chama do amor divino; paraque a luz da verdade surja resplandecente no próprio coraçãodo mundo, e uma vasta assembléia, por todo o Oriente etodo o Ocidente, reúna-se à sombra do Verbo de Deus, afim de que as doces fragrâncias da santidade possam serdifundidas, as faces brilhem radiantemente, os coraçõessejam imbuídos do Espírito Divino e as almas tornem-secelestiais.

Nestes dias, a mais importante de todas as coisasconsiste em guiar as nações e os povos do mundo. Ensinara Causa é da máxima importância, pois é a pedra angulardo próprio alicerce. Este servo injustiçado tem passado osdias e as noites a promover a Causa e a exortar os povos aservi-la. Nem por um momento sequer, pôde ele descansar,enquanto não difundisse pelo mundo a fama da Causa deDeus e clamasse ao Oriente e Ocidente as melodias celestiaisdo Reino de Abhá. Os amados de Deus devem seguir este

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exemplo. Este é o segredo da fidelidade, este é o requisito daservitude ao Limiar de Bahá!

Os discípulos de Cristo esqueceram-se de si mesmos ede todas as coisas terrenas, abandonaram toda preocupaçãoe tudo o que lhes pertencia, purificaram-se do egoísmo e dapaixão e, com desprendimento absoluto, espalharam-se portoda parte, ocupando-se em chamar os povos do mundo paraa Guia Divina, até que, finalmente, conseguiram transformaro mundo em outro mundo, iluminando a face da Terra. Atésua última hora, deram provas de sua abnegação no caminhodAquele Amado de Deus e, por fim, em diversas terras,sofreram martírio glorioso. Que os homens de ação sigamsuas pegadas!

Ó meus amados amigos! Após o passamento desteinjustiçado, deverão os Aghsán [Ramos], os Afnán [Brotos]do Sagrado Loto, as Mãos [pilares] da Causa de Deus e osamados da Beleza de Abhá voltar-se para Shoghi Effendi – ojovem ramo que brotou dos Dois Lotos sagrados esantificados, o fruto da união dos Dois rebentos da Árvoreda Santidade – pois ele é o sinal de Deus, o ramo escolhido,o Guardião da Causa de Deus, aquele para quem devem sevoltar todos os Aghsán, Afnán, Mãos da Causa de Deus eSeus amados. É o expositor das palavras de Deus e a elesucederão os primogênitos de seus descendentes diretos.

O sagrado e jovem ramo, o Guardião da Causa deDeus, assim como a Casa Universal de Justiça a ser eleita eestabelecida universalmente, estão ambos sob o amparo e aproteção da Beleza de Abhá [Bahá’u’lláh], sendo abrigados eguiados infalivelmente pelo Excelso [O Báb] (seja minha vidasacrificada por ambos!). O que quer que decidam, provémde Deus. Quem a ele não obedecer, nem a eles, não estaráobedecendo a Deus; quem se revoltar contra ele, e contraeles, terá se revoltado contra Deus; quem se lhe opuser terá

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feito oposição a Deus; quem com eles contender, terácontendido com Deus; qualquer um que dispute com ele,estará disputando com Deus; qualquer um que o negue,terá negado a Deus; quem nele não acreditar, deixa de crerem Deus; quem se desviar, separar e afastar dele, em verdade,terá se desviado, separado e afastado de Deus. Que a ira, aviolenta indignação, a vingança de Deus caiam sobre talhomem! A poderosíssima fortaleza há de se conservar segurae inexpugnável, através da obediência àquele que é oGuardião da Causa de Deus. Incumbe a Casa de Justiça, atodos os membros dos Aghsán, Afnán, Mãos da Causa deDeus, mostrarem sua obediência, submissão e subordinaçãoao Guardião da Causa de Deus, dirigir-se a ele e seremhumildes em sua presença. Aquele que se lhe opuser, teráfeito oposição ao Verdadeiro, criará cisma na Causa de Deus,subverterá Sua Palavra e se tornará uma manifestação doCentro da Sedição. Acautelai-vos, acautelai-vos, para quenão se repitam os dias após a ascensão [de Bahá’u’lláh],quando o Centro da Sedição tornou-se arrogante e rebeldee, tomando por pretexto a Unidade Divina, despojou-se eperturbou e envenenou os outros. Não resta dúvida de queo jactancioso que pretende criar dissensão e discórdia nãodeclarará abertamente suas más intenções mas, ao contrário,semelhante ao ouro impuro, usará de diversas medidas evários pretextos para desfazer a união do povo de Bahá. Émeu objetivo demonstrar que as Mãos da Causa de Deusdevem estar sempre vigilantes, e logo que descubram estaralguém começando a se opor e a protestar contra o Guardiãoda Causa de Deus, devem expulsá-lo da comunidade deBahá e de modo algum aceitar dele qualquer desculpa. Quãofreqüentemente o erro lastimável tem-se disfarçado nasvestes da verdade, a fim de lançar as sementes da dúvidanos corações dos homens!

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Ó vós, amados do Senhor! Cumpre ao Guardião daCausa de Deus designar durante sua vida quem deve ser seusucessor, para que não surjam divergências após seupassamento. O designado deve manifestar em seu caráterdesprendimento de todas as coisas deste mundo, deve ser aessência da pureza e dar provas de possuir temor a Deus,conhecimento, sabedoria e erudição. Se, portanto, oprimogênito do Guardião da Causa de Deus não manifestarem sua pessoa a verdade das palavras: “A criança é da essênciasecreta do pai”, isto é, se não herdar a espiritualidade inerente(ao Guardião da Causa de Deus), não corresponder à suagloriosa linhagem com um caráter digno, então ele (oGuardião da Causa de Deus) deverá escolher outro ramopara ser seu sucessor.

As Mãos da Causa de Deus devem eleger nove pessoasde seu próprio seio, as quais se ocuparão continuamente comos importantes serviços a cargo do Guardião da Causa deDeus. A eleição destas nove pessoas deve ser feita unanimenteou por maioria, dentre as Mãos da Causa de Deus, e estas,quer seja por unanimidade quer por maioria, devem aprovara escolha daquele a quem o Guardião da Causa de Deus tenhaescolhido para ser seu sucessor. Essa aprovação deve ser dadade tal modo que os votos prós e contra não se distingam (istoé, por voto secreto).

Ó amigos! As Mãos da Causa de Deus devem sernomeadas e apontadas pelo Guardião da Causa de Deus.Todas devem estar à sua sombra e obedecer a seu imperativo.Se alguém, seja dentro ou fora do grupo das Mãos da Causade Deus, desobedecer e tentar causar divisão, a ira e vingançade Deus cairão sobre tal pessoa, pois terá causado cisma naverdadeira Fé Divina.

As obrigações das Mãos da Causa de Deus consistemem difundir as Fragrâncias Divinas, elevar as almas dos

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PRIMEIRA PARTE

homens, promover a educação, aperfeiçoar o caráter de todosos homens e ser, em todos os tempos e sob quaisquercondições, santificadas e desprendidas das coisas terrenas. Pelasua conduta, pelas suas maneiras, suas palavras e suas ações,devem elas manifestar temor a Deus.

Esse corpo das Mãos da Causa de Deus está sob adireção do Guardião da Causa de Deus. Ele devecontinuamente exortá-las a se esforçarem o máximo que lhesfor possível para difundir as doces fragrâncias Divinas e guiartodos os povos do mundo, pois é a luz da Guia Divina quefaz com que todo o universo seja iluminado. De modo algumé permissível – nem por um momento sequer – deixar deobedecer a este mandamento absoluto, obrigatório para todos,pois é o meio de transformar o mundo existente no Paraísode Abhá, de tornar celestial a face da Terra, de fazerdesaparecer o conflito entre os seres humanos, raças, naçõese governos, e os habitantes da Terra virem a ser como um sópovo, uma só raça, e o mundo todo, um lar. Caso surjamdivergências, deverão estas ser ajustadas, amigável econcludentemente, pelo Supremo Tribunal composto porrepresentantes de todos os governos e povos do mundo.

Ó vós amados do Senhor! Nesta sagrada Dispensação,o conflito e a contenda de modo algum são permitidos. Todoagressor priva-se das graças de Deus. Incumbe a cada umdemonstrar o máximo grau de amor, retidão de conduta,sinceridade e verdadeira benevolência para com todos os povose raças da Terra, quer amigos, quer estranhos. Tão intensodeve ser o espírito de amor e bondade, que o estranho sinta-se um amigo e o inimigo, um verdadeiro irmão, não existindoentre eles qualquer diferença. Pois a universalidade é Divinae toda limitação, terrena. Portanto, deve o homem esforçar-se para que sua realidade manifeste virtudes e perfeições cujaluz irradie sobre todos. A luz do sol brilha sobre o mundo

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inteiro, e as chuvas misericordiosas da Divina Providênciacaem sobre todos os povos. A brisa vivificadora anima todacriatura vivente e todos os seres dotados de vida obtêm seuquinhão à Sua mesa celestial. De igual modo, o afeto e abondade daqueles que servem ao Deus, Uno e Verdadeirodevem-se estender generosa e universalmente a todo o gênerohumano. A esse respeito, não se pode, em absoluto, permitirqualquer restrição ou limitação.

Deveis, pois, ó meus amorosos amigos, associar-vos atodos os povos, a todas as raças e religiões do mundo, com amaior sinceridade, retidão, fidelidade, benevolência, boavontade e amizade, para que todo o mundo existente receba,copiosamente o santo êxtase das graças de Bahá, e assim,desvaneçam do mundo a ignorância, a inimizade, o ódio e orancor, e a escuridão da desconfiança entre as nações e raçasceda lugar à Luz da Unidade. Se membros de outros povos enações vos forem infiéis, mostrai-lhes vossa fidelidade; se vosforem injustos, tratai-os com justiça; se afastarem-se de vós,procurai atraí-los; se vos mostrarem inimizade, sede amigospara com eles; se envenenarem vossas vidas, adoçai suas almas;se vos ferirem, sede um bálsamo para suas feridas. Tais são osatributos dos sinceros! Tais são os atributos daqueles quedizem a verdade.

E agora, com referência à Casa da Justiça que Deusordenou como a fonte de todo o bem e isenta de todo o erro,esta deve ser eleita por sufrágio universal, isto é, pelos crentes.Seus membros devem ser manifestações do temor a Deus eauroras do conhecimento e da compreensão; devem serconstantes na Fé Divina e benévolos para com toda ahumanidade. Entende-se por esta Casa, a Casa Universal deJustiça, isto é, em todos os países deve ser instituída umaCasa de Justiça secundária, e estas Casas de Justiça secundáriasdevem eleger os membros da Casa Universal. A esta devem-

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PRIMEIRA PARTE

se submeter todas as questões. Esta Casa fará todas as leis etodos os regulamentos que não foram previstos explicitamenteno Texto Sagrado. Resolverá todos os problemas difíceis, e oGuardião da Causa de Deus será seu sagrado dirigente edistinto membro perpétuo. Caso não esteja pessoalmente emtodas as deliberações, ele deve nomear alguém para representá-lo. Se qualquer membro cometer um erro prejudicial ao bemcomum, ficará a critério do Guardião da Causa de Deus aexpulsão desse membro, para cujo lugar, neste caso, as pessoasdeverão eleger outro. Esta Casa de Justiça decreta as leis, e ogoverno tem a seu cargo fazer cumpri-las. O corpo legislativodeve reforçar o executivo, e o executivo, por sua vez, deveapoiar e auxiliar o legislativo, de modo que, pela estreita uniãoe harmonia dessas duas forças, as bases da retidão e justiçatornem-se fortes e firmes, e assim todas as regiões do mundose transformem no próprio Paraíso.

Ó Senhor, meu Deus! Ajuda aqueles que Te amam apermanecerem firmes em Tua Fé, a prosseguirem em Teuscaminhos e serem constantes em Tua Causa. Dispensa-lhesTua graça, para que resistam à investida do ego e da paixão ese guiem pela luz da guia divina. Tu és o Poderoso, o Benévolo,O que subsiste por Si próprio, o Magnânimo, o Compassivo,o Onipotente, a Suprema Bondade.

Ó amigos de ‘Abdu’l-Bahá! Como sinal de Suas infinitasgraças, o Senhor favoreceu Seus servos benevolamente,providenciando uma oferta fixa em dinheiro (Huqúq) a ser-Lhe apresentada como um dever, embora Ele, o Verdadeiro,e Seus servos, em todos os tempos, tenham sidoindependentes de todas as coisas criadas, e Deus é, emverdade, o Possuidor de tudo, exaltado acima da necessidadede qualquer dádiva oferecida por Suas criaturas. Tal ofertafixa em dinheiro, no entanto, torna o povo firme e constante,e também, trazendo-lhe o acréscimo Divino. Deve ser feita

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por intermédio do Guardião da Causa de Deus, para queseja aplicada na difusão das Fragrâncias Divinas e na exaltaçãoda Sua Palavra, para fins benévolos e o bem-estar comum.

Ó vós, amados do Senhor! Incumbe-vos ser submissosa todos os monarcas que sejam justos e mostrar fidelidade atodo rei virtuoso. Servi aos soberanos do mundo com amáxima sinceridade e lealdade. Prestai-lhe obediência e desejaio seu bem. Sem sua licença e permissão, não vos intrometaisem assuntos políticos, porque a deslealdade ao soberano justoé deslealdade ao próprio Deus.

É esse meu conselho e é o que Deus vos ordena. Bem-aventurados aqueles que assim agem!

Nota: Por muito tempo este manuscrito haviasido guardado debaixo da terra, sendo assimafetado pela umidade, pois certos trechos semostravam danificados. Foi o que se verificouao trazê-lo para luz, mas foram deixadosintocados diante de lamentáveis fatos ocorridosna Terra Santa.

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PRIMEIRA PARTE

Ele é Deus!

meu Senhor, Anelo do meu coração, Tu a Quemsempre invoco, Tu que és meu Auxiliador e meuAmparo, meu Sustentáculo e meu Refúgio! Vêsque estou submerso em um oceano de calamidades

que me acabrunham a alma, de aflições que me oprimem ocoração, de tribulações que estão dispersando aqueles que Tureuniste, de vicissitudes e dores que põem em debandadaTeu rebanho. Cercam-me lastimáveis provações, enquantode todos os lados há perigos que me assediam. Tu me vêsimerso em um mar de tribulações inexcedíveis, mergulhadoem um abismo insondável, perseguido por meus inimigos econsumido pela chama de seu ódio – chama esta acesa pormeus parentes, com quem fizeste Teu poderoso Convênio efirme Testamento, no qual ordena-lhes que volvam seuscorações para este injuriado, que afastem de mim os insensatose os injustos, e que consultem este solitário a respeito de tudoem Teu Sagrado Livro, sobre o que possa causar divergência,a fim de que a Verdade se lhes revele, as dúvidas se desvaneçame Teus Sinais manifestos sejam largamente difundidos.

Agora, no entanto, ó Senhor, meu Deus, com Teusolhos que não dormem, vês que viraram as costas para TeuConvênio e o romperam, desviando-se de Teu Testamento,com ódio e deslealdade, e que se levantaram, intentandomalícia.

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Ainda mais severas tornaram-se as adversidades àmedida que tentavam, com crueldade insuportável, mederrotar e esmagar, enquanto difundiam por toda parte seuspergaminhos de dúvidas, lançando sobre mim calúniasinteiramente falsas. Ó meu Deus! Seu chefe não satisfeitocom isto, atreveu-se a interpolar Teu Livro, a alterarfraudulentamente Teu decisivo Texto Sagrado e falsificar oque fora revelado pela Tua Pena Toda-Gloriosa. E também oque Tu revelaste para aquele que perpetrou atos da maisflagrante crueldade contra Ti, que desacreditou em Ti e negouTeus maravilhosos Sinais – isso ele inseriu maliciosamentenaquilo que Tu revelastes para este Teu servo, injuriado nestemundo. Tudo isto ele fez a fim de enganar as almas doshomens e insuflar seus maus sussurros nos corações dos Teusdevotos. A isto, o segundo chefe deles testificou, confessando-o de próprio punho, lacrando-o com seu selo e o difundindopor todas as regiões. Ó meu Deus! Poderia haver injustiçamais lamentável do que esta? Nem assim descansaram, masainda envidaram esforços com obstinação, mentiras e falsasimputações, com escárnio e calúnia, a fim de incitarem sediçãono seio do governo desta terra e em outras partes, fazendocom que me julgassem semeador de sedição e instilando nasmentes aquilo que os ouvidos repugnam ouvir. Isto pôs ogoverno em alarma, enchendo de medo o soberano eincitando suspeitas entre os nobres. Mentes foramconfundidas, assuntos foram desvirtuados, almas foramperturbadas, o fogo da angústia e tristeza foi ateado dentrodos peitos, as Sagradas Folhas [da Família] foram abaladas econvulsionadas, vertendo lágrimas dos seus olhos, enquantoseus suspiros e lamentos se faziam ouvir e seus corações ardiamde lágrimas por este Teu servo injuriado, caído vítima nasmãos desses, seus parentes – não, antes – de seus própriosinimigos.

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SEGUNDA PARTE

Senhor! Tu vês todas as coisas lamentarem-se por mim,enquanto parentes meus rejubilam-se com minhastribulações. Por Tua Glória, ó meu Deus! Até mesmo entremeus inimigos houve quem lamentasse as minhas provaçõese angústias e, entre os invejosos, alguns verteram lágrimaspor causa da minha angústia, do meu exílio e das minhasaflições. E isso fizeram por nada haverem encontrado em mimsenão afeto e dedicação, nada testemunhado senão bondadee misericórdia. Quando viram-me levado pela correnteza dastribulações e adversidades, e exposto como alvo às setas dodestino, seus corações foram tocados pela compaixão, seusolhos encheram-se de lágrimas e eles deram testemunho,declarando: “O Senhor é nossa testemunha; nada vimos nelea não ser fidelidade, generosidade e compaixão extrema.” Osrompedores do Convênio, contudo, pressagiadores do mal,cresceram mais ferozmente em seu rancor, regozijaram-sequando caí vítima das mais penosas provações, tramaramcontra mim e se divertiram com os dolorosos acontecimentosque me envolveram.

Ó Senhor meu Deus! Invoco-Te com minha língua ede todo coração, não os castigueis por sua crueldade e másações, por suas malícias e perversidades, pois eles sãoinsensatos e ignóbeis, e não sabem o que fazem. Nãodiscernem o bem do mal, nem distinguem o certo do errado,nem a justiça da injustiça. Seguem seus próprios desejos eandam nas pegadas dos mais imperfeitos e insensatos em seumeio. Ó meu Senhor! Tem piedade deles, protege-os dequalquer aflição, nesses tempos de dificuldades, e permiteque todas as provações e dificuldades sejam destinadas a esteTeu servo, caído nesta cova tenebrosa. Torna-me alvo de todasas penas, e faze de mim um sacrifício por todos os Teusamados! Ó Senhor, Altíssimo! Seja minh’alma, minha vida,meu ser, meu espírito – tudo, oferecido em holocausto por

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eles! Ó Deus, meu Deus! Humilde, suplicante e prostradodiante de Ti, imploro-Te, com todo o ardor de minhainvocação, que perdoes a quem quer que me tenha injuriado,que absolva aquele que conspirou contra mim e me ofendeu,e apagues as más ações daqueles que foram injustos paracomigo. Concede-lhes Tuas boas dádivas, torna-os alegres,alivia-os de sua dor, concede-lhes paz e prosperidade, dá-lhes Tua bênção e derrama sobre eles Tua generosidade! Tu éso Poderoso, o Benévolo, o Amparo no Perigo, O que subsistepor Si próprio!

Ó amigos ternamente amados! Estou agora em grandeperigo e a esperança de até mesmo uma só hora de vida estáperdida para mim. Sinto-me, pois, obrigado a escrever estaslinhas para a proteção da Causa de Deus e a preservação deSua Lei, a fim de salvaguardar Sua Palavra e SeusEnsinamentos. Pela Antiga Beleza! Este injuriado jamaisalimentou, nem alimenta, rancor, de modo algum, contraqualquer pessoa; para com ninguém nutre ele malevolência enenhuma palavra pronuncia que não seja para o bem domundo. Minha suprema obrigação, no entanto, impele-me,forçosamente, a guardar e preservar a Causa de Deus. Assim,com o maior pesar, aconselho-vos, dizendo: “Guardai a Causade Deus, protegei Sua Lei e tende receio profundo de qualquerdiscórdia. É esse o fundamento da crença do povo de Bahá(seja minha vida sacrificada por Ele). Sua Santidade, o Excelso(o Báb), é a manifestação da Unidade Divina e o Precursorda Antiga Beleza. Sua Santidade, a Beleza de Abhá (seja minhavida um sacrifício por Seus amigos fiéis), é o SupremoManifestante de Deus e a Aurora de Sua Mais Divina Essência.Todos os demais são Seus servos e fazem o que Ele ordena.”Ao Sacratíssimo Livro, todos devem se voltar, e qualquer coisaque nele não esteja expressamente tratada, deve ser referida àCasa Universal de Justiça. O que essa Casa resolver, seja por

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SEGUNDA PARTE

unanimidade ou por maioria, será realmente a Verdade e aexpressão da própria Vontade Divina. Qualquer um quedivirja dessa resolução é, em verdade, dos que amam adiscórdia, demonstra malícia e se afasta do Senhor doConvênio. Entende-se por esta Casa, aquela Casa Universalde Justiça a ser eleita dentre todos os países, isto é, daquelaspartes do Oriente e do Ocidente em que se encontrem osamados, segundo o método usual das eleições nos paísesocidentais como a Inglaterra.

Incumbe a esses membros [da Casa Universal deJustiça] reunirem-se em um determinado lugar e deliberarsobre quaisquer problemas que tenham causado divergências,sobre questões obscuras e assuntos não expressamente tratadosno Livro. Qualquer decisão tomada por eles terá o mesmoefeito do próprio Texto. E já que essa Casa de Justiça tem opoder de decretar leis relativas às transações diárias – leis quenão estejam expressamente registradas no Livro – assim, cabe-lhe também o poder de revogá-las. Por exemplo, a Casa deJustiça decreta hoje uma certa lei e a põe em vigor, e daqui acem anos, havendo as circunstâncias mudado radicalmente,sendo outras as condições, a Casa de Justiça de então terá opoder de alterar a lei anterior de acordo com as exigências dotempo. Poderá fazer isso porque a referida lei não faz partedo explícito Texto Divino. A Casa de Justiça é tanto apromulgadora, como a anuladora de suas próprias leis.

E agora, um dos maiores e mais fundamentaisprincípios da Causa de Deus é a necessidade de se afastar eevitar inteiramente os rompedores do Convênio, pois elesdestruirão totalmente a Causa de Deus, exterminarão a SuaLei e tornarão nulos todos os esforços despendidos nopassado. Ó amigos! Incumbe-vos recordar com ternura astribulações de Sua Santidade, o Excelso, e demonstrar vossafidelidade à Sempre-Abençoada Beleza. Deve-se fazer o

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máximo esforço para que não provem ter sido improfícuastodas essas angústias, tribulações e aflições, para que todoesse sangue puro e sagrado não tenha sido tão profusamentederramado em vão no Caminho de Deus. Bem sabeis o queperpetraram as mãos do Centro de Sedição, MírzáMuhammad-‘Alí, e seus associados. Um de seus atos foi acorrupção do Texto Sagrado, do qual vós todos estais cientes,sabendo – louvado seja o Senhor – que se acha evidente,provado e confirmado pelo testemunho de seu irmão, MírzáBadí’u’lláh, cuja confissão está escrita de próprio punho, tendoseu selo, e foi impressa e largamente difundida. Este é apenasum de seus atos maus. Pode se imaginar uma transgressãomais flagrante do que esta, a interpolação do Texto Sagrado?Não, pela justiça do Senhor! Suas transgressões estão escritase registradas em um folheto separado. Queira Deus, vós oexaminareis.

Em resumo, segundo o explícito Texto Divino, a menortransgressão fará desse homem uma criatura arruinada, e qualtransgressão mais lastimável do que a de tentar destruir oEdifício Divino, romper o Convênio, desviar-se doTestamento, falsificar o Texto Sagrado, disseminar as sementesda dúvida, caluniar a ‘Abdu’l-Bahá, apresentar pretensões paraas quais Deus não deu autorização, incitar distúrbios, envidaresforços para derramar o próprio sangue de ‘Abdu’l-Bahá, emuitas outras coisas das quais vós todos estais cientes. Torna-se assim evidente que, se esse homem conseguir trazerdesunião para a Causa de Deus, ele a destruirá completamentee a exterminará. Guardai-vos de vos aproximardes dessehomem, pois aproximar-se dele é pior do que se aproximardo fogo!

Deus Misericordioso! Após haver Mírzá Badí’u’lláhdeclarado de próprio punho que esse homem (Muhammad-‘Alí) rompera o Convênio, e depois de proclamar sua

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SEGUNDA PARTE

falsificação do Texto Sagrado, ele percebeu que, mesmo quese voltasse para a Fé Verdadeira e prestasse lealdade aoConvênio e Testamento, de modo algum, estaria promovendoseus próprios desejos egoístas. Assim arrependendo-se edeplorando o que fizera, tentou secretamente recolher suasconfissões impressas e intrigou maliciosamente com o Centrode Sedição contra mim, informando-lhe diariamente dosacontecimentos em meu lar. Até mesmo teve destacadaparticipação nos atos perniciosos que foram recentementecometidos. Louvado seja Deus, a situação recuperou suaestabilidade anterior e os amados amigos conseguiram umapaz parcial. Não obstante, desde o dia em que ele entrou denovo em nosso meio, começou outra vez a espalhar assementes da mais lastimável sedição. Algumas de suasmaquinações e intrigas serão registradas em folheto separado.

É meu propósito, entretanto, mostrar que incumbeaos amigos constantes e firmes no Convênio e Testamentomanterem-se sempre despertos para que, após o passamentodeste injuriado, esse ativo e enérgico perpetrador de más açõesnão possa causar desunião, espalhar secretamente as sementesda dúvida e sedição e extirpar completamente a Causa deDeus. Mil vezes evitai sua companhia. Sede atentos evigilantes. Observai e examinai e se qualquer pessoa, sejaaberta ou secretamente, tiver a menor associação com ele,expulsai-a de vosso meio, pois esta haverá certamente decausar desunião e prejuízo.

Ó vós, amados do Senhor! Empenhai-vos de todocoração em proteger a Causa de Deus das investidas dosinsinceros, pois tais almas torcem o que é reto e tornamcontrários os resultados dos mais benévolos esforços.

Ó Deus, meu Deus! Invoco a Ti, Teus Profetas e TeusMensageiros, Teus Santos e a todos os Teus Santificados paraque dêem testemunho de haver eu declarado Tuas provas

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concludentemente aos Teus amados e lhes exposto com clarezatodas as coisas, a fim de que vigiassem pela Tua Fé, guardassemTeu Caminho reto e protegessem Tua Lei resplandecente. Tués, em verdade, Onisciente, o Sapientíssimo!

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SEGUNDA PARTE

Ele é a Testemunha, o Todo-Suficiente!

meu Deus, meu Bem-Amado, Desejo do meucoração! Tu sabes, Tu vês, o que sobreveio a esteservo Teu, que se humilhou diante de Tua Porta, econheces os pecados cometidos contra ele pelo

povo da malícia, aqueles que romperam Teu Convênio evoltaram as costas para Teu Testamento. Durante o dia,afligiram-me com as setas do ódio e à noite, conspiraramsecretamente a fim de me prejudicarem. Ao amanhecer,cometeram o que causou lamentos ao Concurso Celestial e,ao anoitecer, desembainharam contra mim a espada da tiraniae, na presença dos ímpios, lançaram sobre mim seus dardosda calúnia. Não obstante suas más ações, este Teu humildeservo manteve-se paciente, suportando toda aflição e provaçãode suas mãos, apesar de, através de Tua força e Teu poder, elefosse capaz de destruir suas palavras, apagar seu fogo e detera chama de sua rebeldia.

Tu vês, ó meu Deus, como através de minha paciência,tolerância e silêncio, fiz com que aumentassem sua crueldade,sua arrogância e seu orgulho. Por Tua Glória, ó Bem-Amado!Desacreditaram em Ti e se rebelaram contra Ti, de tal modoque não me deixaram um momento sequer de repouso etranqüilidade, para que eu pudesse me levantar, digna eapropriadamente, a fim de exaltar Tua Palavra entre a

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humanidade e pudesse servir em Teu Limiar de Santidadecom o coração transbordando com o júbilo dos habitantesdo Reino de Abhá.

Senhor! Minha taça de angústia transborda, e de todosos lados atacam-me golpes enfurecidos. Os dardos da afliçãoenvolveram-me e as setas do sofrimento choveram sobre mim.Assim a tribulação me acabrunhou e minha força, diante dainvestida dos inimigos, converteu-se em fraqueza dentro demim, enquanto fiquei só e abandonado em meio às minhasvicissitudes. Senhor! Tem compaixão de mim, faze-me subira Ti próprio e permite que eu sorva do Cálice do Martírio,pois o mundo, com toda sua vastidão, não mais me podeconter.

Tu és, em verdade, o Misericordioso, o Compassivo, oGeneroso, a Suma Bondade!

Ó vós, os verdadeiros, sinceros e fiéis amigos desteinjuriado! Todos sabem e acreditam que calamidades e afliçõessobrevieram a este injuriado, este prisioneiro, nas mãosdaqueles que romperam o Convênio, no tempo em que, apóso pôr do Sol do Mundo, seu coração fora consumido pelachama de Sua perda.

Quando, em todas as partes da Terra, os inimigos deDeus, aproveitando a ocasião do passamento do Sol daVerdade, fizeram seu ataque subitamente e com todas as suasforças; nesse tempo e em meio a tão grande calamidade, osrompedores do Convênio levantaram-se com extremacrueldade, resolvidos a causar dano e incitar um espírito deinimizade. A todo momento cometeram uma má ação e seempenharam em espalhar as sementes da mais lastimávelsedição, tentando arruinar a estrutura do Convênio. Mas esteinjuriado, este prisioneiro, fez o possível para encobrir e velarsuas ações, para que talvez se arrependessem. Sua paciência etolerância em face dessas más ações, porém, tornaram os

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TERCEIRA PARTE

rebeldes ainda mais arrogantes e atrevidos; até que, por meiode folhetos escritos de próprio punho, espalharam as sementesda dúvida, imprimindo estes folhetos e os difundindolargamente pelo mundo inteiro, convictos de que, com taistolices, pudessem invalidar o Convênio e o Testamento.

Com isto, os amados do Senhor levantaram-se,inspirados com a maior confiança e constância e, ajudadospelo poder do Reino, pela Força Divina, pela Graça do céu,pelo auxílio infalível e pelas Dádivas Celestiais, resistiram aosinimigos do Convênio em quase setenta tratados e, baseando-se em provas concludentes, evidências inequívocas e textosclaros das Sagradas Escrituras, refutaram os pergaminhos dadúvida e os folhetos daninhos. O Centro de Sedição viu-seentão confuso em seus ardis, afligido pela ira de Deus,mergulhado em tal degradação e infâmia que haverão de duraraté o Dia do Juízo. Rebaixada e miserável é a condição dopovo que comete más ações, daqueles que se encontram emlastimável privação!

E à medida que vinham perdendo sua causa, vendoinúteis seus esforços contra os amados de Deus, viram oEstandarte de Seu Testamento flutuar em todas as regiões etestemunharam o poder do Convênio do Misericordioso, coma chama da inveja ardendo dentro deles de modo indescritível.Com o máximo vigor, esforço, rancor e inimizade, seguiramoutro caminho, andaram em outra vereda, delinearam outroplano: o de atear sedição no coração do próprio governo, eassim fazerem com que este injuriado, este prisioneiro,aparecesse como instigador de contenda, inimigo do governo,desprezador e oponente da coroa. Talvez causassem a mortede ‘Abdu’l-Bahá e fizessem perecer seu nome, abrindo, destemodo, uma arena onde os inimigos do Convênio pudessemavançar e esporear seus corcéis, infligir a todos uma dolorosaperda e subverter as próprias bases da estrutura da Causa de

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Deus. Pois tão lastimável é o procedimento desse povo falso,que se torna assim como um machado batendo na própriaraiz da Árvore Abençoada. Se fosse-lhes permitido continuar,essas pessoas exterminariam, em poucos dias, a Causa deDeus, Sua Palavra e a si próprias.

Os amados do Senhor devem, pois, evitá-lascompletamente, afastar-se delas, frustrar suas maquinações emaus sussurros, guardar a Lei de Deus e Sua religião, ocupar-se – todos, sem exceção – em difundir largamente as docesfragrâncias de Deus e envidar o melhor de seus esforços naproclamação de Seus Ensinamentos.

Se qualquer pessoa, ou qualquer reunião, tornar-se umobstáculo à difusão da Luz da Fé, os amados deverãoaconselhá-los, dizendo: “De todas as dádivas divinas, a maioré a dádiva do Ensino. Esta atrai para nós a Graça de Deus e énossa primeira obrigação. Como poderemos nos privar detão grande dádiva? Não, nossas vidas, nossos bens, nossoconforto, nosso repouso – tudo oferecemos em sacrifício pelaBeleza de ‘Abhá, e ensinamos a Causa de Deus.” Cautela eprudência, contudo, devem ser observadas, conforme estáregistrado no Livro. O véu, de modo algum, deve sersubitamente tirado. A Glória das Glórias esteja sobre vós.

Ó vós, fiéis amados de ‘Abdu’l-Bahá! Incumbe-voscuidar ao máximo de Shoghi Effendi, o broto que ramificoue o fruto que foi concebido pelas duas sagradas e divinasÁrvores-de-Lótus, para que o pó do desânimo e da tristezanão lhe macule a natureza radiante, para que dia a dia lheaumentem o contentamento, o júbilo e a espiritualidade, eassim ele cresça e se torne uma árvore frutífera.

Pois ele é, após ‘Abdu’l-Bahá, o Guardião da Causa deDeus, e os Afnán, as Mãos [pilares] da Causa e os amados doSenhor devem obedecer-lhe e a ele se dirigir. Quem não lheobedecer, terá deixado de obedecer a Deus; quem dele se

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TERCEIRA PARTE

afastar, ter-se-á afastado de Deus; e, qualquer um que o negueestará negando ao Verdadeiro. Acautelai-vos para queninguém interprete erroneamente estas palavras e – do mesmomodo que aqueles que romperam o Convênio depois do Diada Ascensão [de Bahá’u’lláh] – dê um pretexto, levante oestandarte da revolta, torne-se obstinado e abra amplamentea porta da falsa interpretação. A ninguém é concedido o direitode difundir sua própria opinião ou expressar suas convicçõesparticulares. Todos devem se dirigir ao Centro da Causa e àCasa de Justiça, para que sejam guiados. E quem se volverpara qualquer outra coisa terá, em verdade, cometido umerro lastimável.

Esteja sobre vós a Glória das Glórias!

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A ÚLTIMA VONTADE E TESTAMENTO DE ‘ABDU’L-BAHÁ

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PRIMEIRA PARTE

A Infalibilidade e o Conhecimentode ‘Abdu’l-Bahá

1. PERGUNTAS DE DOIS BAHÁ’ÍS À CASA UNIVERSAL DE JUSTIÇA

28 de abril de 1982

À Casa Universal de Justiça

Queridos amigos,

Diversas questões relacionadas à infalibilidade de ‘Abdu’l-Bahá e à autoridade e interpretação de algumas de Suasdeclarações têm nos preocupado recentemente. Nossasperguntas podem ser definidas como segue:

(1) Bahá’u’lláh afirma explicitamente e define ainfalibilidade de ‘Abdu’l-Bahá em alguns de SeusEscritos?

Temos conhecimento de muitas das declarações sobre‘Abdu’l-Bahá que são usualmente citadas nos Escritos deBahá’u’lláh. Também estamos conscientes das declarações de

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APÊNDICE I

Bahá’u’lláh com relação aos graus de infalibilidade e aInfalibilidade Máxima dos Manifestantes de Deus. Cientesde que tais declarações confirmam inabalavelmente ainfalibilidade de ‘Abdu’l-Bahá e não deixam qualquer possíveldesculpa para os bahá’ís não seguirem e obedecerem a Ele,não conseguimos descobrir, seja nos Escritos de Bahá’u’lláhou nos Escritos e textos autorizados de ‘Abdu’l-Bahá, qualquerafirmativa sobre a infalibilidade dEle mesmo.

(2) Qual o grau de autoridade dos escritos e dasdeclarações autorizadas de ‘Abdu’l-Bahá com relação aassuntos não relacionados diretamente com a Fé Bahá’íou com a religião de um modo geral?

O Guardião afirma que sua infalibilidade (do Guardião)se aplica somente às declarações relacionadas estritamentecom a Causa e com a interpretação dos ensinamentos. Elediz não ser uma autoridade infalível sobre outros assuntos,como economia, ciência, etc. Tais afirmativas se aplicamtambém a ‘Abdu’l-Bahá?

(3) Podem determinadas afirmativas de ‘Abdu’l-Bahá,não relacionadas diretamente com a Fé Bahá’í, seremconsideradas como verdadeiras somente quanto aotempo e ao lugar onde foram feitas, ou são umaexpressão mais universal da verdade?

Particularmente, estamos interessados em algumas dasdeclarações de ‘Abdu’l-Bahá concernentes a assuntoscientíficos. Tais afirmativas podem ser entendidas no contextode um público do início do século XX, ao qual foram feitas(e então serem entendidas como possivelmente uma expressãomenor da verdade do que aquela que é hoje encontrada na

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ciência), ou são afirmativas mais abrangentes de verdades quea ciência irá descobrir e corroborar no futuro?

Por exemplo, ‘Abdu’l-Bahá faz várias afirmativasconcernentes ao éter, um meio hipotético através do qual sepropagam as ondas de luz. Para uma audiência do início doséculo XX com algum conhecimento científico, essasafirmativas poderiam ter sido entendidas instantaneamentee poderiam ter reforçado vigorosamente os pontos que‘Abdu’l-Bahá desejava enfatizar. As teorias científicas atuais,porém, não usam o conceito do éter e na verdade acredita-se,com fortes evidências, que um éter na forma mencionadanas teorias do século XIX não existe. Devemos então tomaras afirmativas de ‘Abdu’l-Bahá com relação ao éter comoafirmativas mais completas do que as feitas pela ciência naatualidade, e talvez uma tentativa de construir uma “teoriabahá’í sobre o éter”, ou tais afirmativas podem serinterpretadas no contexto do tempo em que foram feitas?

Também temos dificuldades em interpretar as declaraçõesde ‘Abdu’l-Bahá sobre evolução.

Ficaríamos muito gratos em receber qualquer informaçãoou comentário que nos ajudem a solucionar essas questões.

Com o mais caloroso amor bahá’í,

[ASSINAM OS AUTORES]

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2. RESPOSTA DA CASA UNIVERSAL DE JUSTIÇA

Haifa, 3 de junho de 1982

Aos srs. .... e .....

Caros amigos bahá’ís,

A Casa Universal de Justiça nos instruiu a acusar orecebimento de sua carta datada de 28 de abril e fazer osseguintes comentários concernentes às suas três perguntas.

Era desejo expresso de Bahá’u’lláh que após Ele, os amigosdeveriam “voltar-se” para ‘Abdu’l-Bahá. Bahá’u’lláh tambémdisse em Seu Livro das Leis que tudo aquilo que não estivesseclaro em Seus Escritos deveria ser “referido” a Seu SupremoRamo brotado da Raiz Antiga. (Cf. A Ordem Mundial deBahá’u’lláh, 2003, p. 182). Em uma das Epístolas de ‘Abdu’l-Bahá publicada em Seleção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá (1993,p.194), Ele cita as passagens acima mencionadas e asinterpreta como significando que “qualquer coisa que Ele(‘Abdu’l-Bahá) diz é a verdade real”. ‘Abdu’l-Bahá diz mais,referindo-se àqueles que não O aceitam como o Intérpreteda Palavra de Deus:

“Quem se desviar de minha interpretação será vítima de suaprópria fantasia.”

(A Ordem Mundial de Bahá’u’lláh, 2003, p. 182)

Ainda mais, na revista Star of the West - vol. XII, p. 227,‘Abdu’l-Bahá interpreta os textos da “Epístola do Ramo” comosignificando “qualquer coisa que Sua (de ‘Abdu’l-Bahá) penaregistre é correto...”.

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Nada existe nos Escritos que nos possa levar a concluirsobre o que Shoghi Effendi diz sobre si mesmo com relaçãoa declarações de assuntos não relacionados diretamente à Fése aplicam, também, a ‘Abdu’l-Bahá. Porém, temos asserçõesque indicam que a posição de ‘Abdu’l-Bahá na Fé é tal quenão encontramos “paralelo” nas Dispensações do passado.Por exemplo, Bahá’u’lláh, adicionalmente à Sua referênciaao Centro de Seu Convênio como o “Mistério de Deus”,afirma que ‘Abdu’l-Bahá deve ser considerado como uma“exaltada obra” de Deus, e “uma Palavra que Deus adornoucom o ornamento de Seu próprio Ser, e o fez soberano sobrea Terra e sobre tudo o que nela existe...”. E de Shoghi Effenditemos a afirmativa incontestável que o Guardião da Fé,embora tendo o “abrigo” e a “proteção” de Bahá’u’lláh e doBáb, “permanece essencialmente humano”, enquanto que arespeito de ‘Abdu’l-Bahá, Shoghi Effendi afirmacategoricamente que “na pessoa de ‘Abdu’l-Bahá ascaracterísticas incompatíveis de uma natureza humana e umconhecimento e perfeição super-humanos foramamalgamados e estão inteiramente harmonizados”.

Com referência à sua pergunta sobre o “éter”, as váriasdefinições desta palavra conforme expressas no DicionárioInglês Oxford, todas se referem à uma realidade física, porexemplo, “um elemento”, “uma substância”, “um meio”, todasimplicando em uma realidade física e objetiva e, conformevocês dizem, este foi um conceito posicionado pelos cientistasdo século XIX para explicar a propagação das ondas de luz.Deve ter sido assim entendido pelas audiências às quais‘Abdu’l-Bahá Se dirigia. Porém, no capítulo XVI de Respostasa Algumas Perguntas, ‘Abdu’l-Bahá dedica um capítulo inteiropara explicar as diferenças entre as coisas que são “perceptíveisaos sentidos” que Ele chama de “objetivas ou sensíveis”, e asrealidades do “intelecto” que não têm “forma externa e

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nenhum lugar” e “não são perceptíveis aos sentidos”. Ele dáexemplos de ambos os “tipos” de “conhecimento humano”.O primeiro tipo é óbvio e não necessita de explicaçõesadicionais. Para ilustrar o segundo, deu os seguintes exemplos:amor, pesar, felicidade, o poder do intelecto, o espíritohumano e a “matéria etérea” (no original em persa a palavra“etérea” tem o mesmo sentido de “etérica”). Ele afirmaclaramente que: “mesmo a matéria etérea, as forças da qualse diz em física serem calor, luz, eletricidade e magnetismo, éuma realidade intelectual, não sendo sensível”. Em outraspalavras, o “éter” é um conceito concebido intelectualmentepara explicar certos fenômenos. No tempo devido, quandoos cientistas não mais puderem confirmar a existência físicado “éter” através de suas esmeradas experiências, eles criarãooutros conceitos intelectuais para explicar o mesmofenômeno.

Ao considerar o vasto alcance da “infalibilidade”divinamente conferida, a pessoa deve estar atenta, evitando oentendimento literal e as limitações da mentalidade quefreqüentemente caracterizam as discussões deste assunto nomundo cristão. O Manifestante de Deus (e em grau menor‘Abdu’l-Bahá e Shoghi Effendi), tem de transmitir elevadosconceitos cobrindo o inteiro campo da vida humana eatividade das pessoas cujo conhecimento atual e alcance deentendimento estão muito abaixo do dEle. Ele deve usar omeio limitado da linguagem humana contra a limitada e,muitas vezes errônea, experiência decorrente do conhecimentotradicional de Sua audiência e o entendimento corrente, paraelevá-la a um nível inteiramente novo de conscientização econduta. É uma tendência humana, contra a qual oManifestante nos adverte comparar Suas afirmativas com opadrão inexato do conhecimento adquirido da humanidade.A tendência é pegá-los e colocá-los dentro de uma ou outra

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das categorias existentes da ciência ou da filosofia humana,enquanto que, na realidade, eles transcendem todas e irão, seentendidos de forma apropriada, abrir novos e amploshorizontes ao nosso entendimento.

Algumas das elocuções do Manifestante são claras e óbvias.Entre essas estão as leis de conduta. Outras são elucidaçõesque conduzem as pessoas de seu presente nível deentendimento para um novo. Outras são alusões ainda nãomanifestadas, cujos significados tornar-se-ão aparentessomente quando o conhecimento e entendimento do leitorcrescerem. E todas integram uma grande Revelação com oobjetivo de elevar a humanidade a novos patamares de suaevolução.

É bem possível que encontremos alguma afirmativaembutida em termos familiares a audiência, à qual foi feitapela primeira vez, mas que é agora estranha para nós. Porexemplo, em resposta a uma pergunta sobre a referência deBahá’u’lláh ao “Quarto Céu”, no Kitáb-i-Íqán, o Guardião,através de sua secretária, afirmou:

“Com relação à ascensão de Sua Santidade Cristo ao quartocéu, revelada no Livro da Certeza, Shoghi Effendi diz que otermo ‘quarto céu’ é utilizado para estar em conformidadecom as teorias e os termos dos antigos astrônomos que tinhamo apoio dos seguidores da seita xiita, e já que o Livro daCerteza foi originalmente revelado para orientação daquelaseita, o termo em questão, portanto, foi utilizado emconformidade com suas teorias.”

(Traduzido do árabe)

Ao estudar tais afirmativas, no entanto, devemos ter ahumildade de apreciar devidamente as limitações de nossoconhecimento e perspectivas, e sempre nos esforçarmos paraentender o propósito de Bahá’u’lláh em mencioná-las,

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tentando olhar para Ele com Seus próprios olhos, como seassim o fosse.

Espera-se que as explicações acima sejam úteis a vocês emseus estudos de assuntos sobre os quais demonstraraminteresse.

Com amorosas saudações bahá’ís,

[ASSINA: DEPARTAMENTO DE SECRETARIADO]

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Comentários sobre a Última Vontadee Testamento de ‘Abdu’l-Bahá

POR DAVID HOFMAN1

A Civilização é a expressão social do espírito humano. Emtodas as épocas da História este espírito expressou-se em um“Evangelho” ou “Livro”, e todas as eras exigiam sua própriavoz para clamar seus ideais latentes na selva da confusãovigente – um período de transição de uma era social paraoutra.

A Fé Bahá’í é reconhecida como a expressão do espíritodesta era, e Bahá’u’lláh, seu Autor, aclamado por Seusseguidores como o Mensageiro de Deus para os dias atuais.Sua Revelação trata diretamente de todos os problemas daatualidade, de uma forma espiritual e prática.

A Última Vontade e Testamento de ‘Abdu’l-Bahá, Seu filho[metaforicamente], constitui o “laço indissolúvel” entre aprópria Revelação e a ordem mundial que a Revelação estádestinada a promover.

“As energias criadoras liberadas pela Lei de Bahá’u’lláh,penetrando e evoluindo na mente de ‘Abdu’l-Bahá,produziram, pelo próprio contato e pela íntima interação,um Instrumento que pode ser considerado a Carta da Nova

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Ordem Mundial, a qual é, a um tempo, a glória e a promessadesta Dispensação suprema.”2

Nenhum ser humano afirmaria, hoje em dia, entenderinteiramente A Última Vontade e Testamento de ‘Abdu’l-Bahá.Para nós, “a geração da meia-luz”, é dada apenas uma tênuepercepção de seus aspectos básicos – as principais instituições,a luz mais brilhante e a sombra mais escura, uma visãoanuviada do todo e apenas um lampejo do sutil e ocultorelacionamento entre seus elementos componentes.

Mas, por isso, nos é dada também a oportunidade de nosaprofundarmos nesse mistério, buscarmos alcançar, mais emais, na luz sempre crescente desta extraordinária alvorada,o panorama geral, e alcançarmos – pela experiência dasociedade bahá’í que o Espírito todo-poderoso de Bahá’u’lláhjá propiciou e pelo esforço para entendermos o mistério deSua Revelação – uma visão mais clara daquela Ordem Divinada qual A Última Vontade e Testamento é a Carta Magna.

Afim de obtermos um entendimento mais completo, énecessário analisarmos esse extraordinário Documento comoanalisaríamos uma obra de arte; livre de todas as concepçõesobjetivas, formatos, cores, instituições, métodos, livres,particularmente, de qualquer expectativa e do conceito de“contos do passado”. É essencial, considerar A Última Vontadee Testamento não como confirmação de concepções próprias,mas esperar, com paciência, até ler por completo o que oAutor tem a dizer.

Com esta atitude sempre em mente, podemos considerara teoria política e social da Ordem Mundial de Bahá’u’lláh, aqual opera através das provisões e instituições definidas naÚltima Vontade e Testamento de ‘Abdu’l-Bahá. Está resumidana palavra Teocracia, ou, como dito em uma Dispensação dopassado: “O próprio Deus irá governar Seu povo.” Tal sistema

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não pode ser inteiramente democrático, nem aristocrático, enem autocrático. Deve, e o faz, fundamentar-se nas diferentessanções e operar através de diferentes canais, sem, contudo,descartar o que representa os acervos positivos da experiênciahumana.

Nenhum povo moderno jamais pensaria em Deus comoum Ser encarnado, administrando os assuntos deste mundoe atuando de alguma capital terrena. A concepção deTeocracia, portanto, em seu verdadeiro sentido de governançapela Vontade de Deus, não é uma nova imaginação e esperançado ser humano, mas é, defintivamente, uma nova (emboraainda pouco conhecida) experiência consciente. Os maioresesforços das pessoas, seja no exemplo do outrora poderososistema da cristandade, fundamentado no primadoindubitável de Pedro e reforçado pelo que o gênio romanotinha para oferecer, ou no vagaroso e empírico crescimentoda Constituição do império britânico, ou ainda nosincansáveis esforços dos criadores da Constituição norte-americana – de nenhum deles pode-se dizer que tiveram aestampa da perfeição que caracteriza a Teocracia. Nem,realmente, pode-se esperar que tal Sistema seja unicamentepraticável em uma sociedade madura em sua generalidade. Ea humanidade, mesmo agora, permanece somente no portalde entrada daquela condição, incapaz de abandonar suajuventude e avançar com alegria e destemor em seu destino.

O que se comprova, no entanto, é que os atributos deDeus se expressam de forma perfeita nesta Manifestação.“Quem viu a Mim, viu o Pai”; “quando contemplo, ó MeuDeus, os laços que a Ti me unem, sou levado a proclamar atodas as coisas: ‘verdadeiramente, sou Deus!’; e quandoconsidero meu próprio ser, sinto-me inferior à própria argila!”Portanto, durante o tempo em que o Manifestante divinoreside entre os homens, a Vontade de Deus pode ser conhecida

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sem temor à poluição oriunda de qualquer canal através doqual ela é revelada. Somente muito raramente, porém, é oManifestante obrigado a administrar a ordem social que SuaRevelação cria.*

O problema, portanto, é proteger a Palavra e encontrar oscanais adequados e seguros para um fluxo contínuo deorientação divina após a ascensão do Profeta. Esta é umacondição essencial da Teocracia, condição sine qua non, sema qual, qualquer ordem, não importando quão boa seja,carecerá da sanção final da interpretação autêntica do “Livro”.Não é de se admirar ter Muhammad caracterizado Seu Livroe Sua Família (tendo ‘Alí como seu sucessor designado) comoos dotes maiores por Ele deixado a Seus seguidores. É noLivro, na palavra Escrita, e em sua interpretação conformeautorizada por Seu Autor, que um estado teocrático devefundamentar-se.

O aspecto singular e incomparável da Revelação Bahá’í éque, pela primeira vez na história, uma provisão completa einegável foi concebida para a proteção da Palavra e para acontinuidade da guia divina, sem, de forma alguma, restringira força criativa latente em toda alma humana, e que, quandoevocada pela Palavra de Deus, é o poder motivador e impulsorda civilização. Longe de impedir a operação desta forçapoderosa, a Ordem Mundial de Bahá’u’lláh provê oselementos necessários para a sua expressão completa, eeliminando o temor “econômico”, oferece uma abrangênciamaior e um período mais longo de atuação efetiva dessa força.Além disso, provê os canais adequados para sua direção e aorientação completa do Convênio, de forma a que os excessose desperdícios, bem como a confusão comum dos primeirosdias de uma nova vitalidade, sejam evitados. Referência é feita,

*Notavelmente no caso de Muhammad.

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como comparação, a tempos como os da Renascença, ou,numa escala menor, à colonização no Oeste norte-americano.

A instituição provida pela Revelação Bahá’í para protegero Livro de interpolações e para mantê-la aberta ao canal daOrientação divina, são a Guardiania e a Casa Universal deJustiça, os “pilares gêmeos” da Ordem Mundial de Bahá’u’lláh.O Guardião, como intérprete do que se encontra no Livro, ea Casa Universal de Justiça, como legisladora sobre assuntosnão providos no Livro, estão “ambos sob a proteção e cuidadosda Beleza de Abhá, sob o abrigo da guia infalível de SuaSantidade, o Excelso”. O relacionamento espiritual íntimoexistente entre essas duas instituições é comentadoposteriormente, embora seja evidente ser este um dos aspectosda Ordem Mundial de Bahá’u’lláh no presente ainda envoltoem mistério, um mistério que a experiência e a passagem dotempo esclarecerão a seu tempo muito mais do que estapresente meditação.

A Guardiania é outro mistério cujo significado completosomente será descoberto por futuras gerações. Para nós,significa, de nossa própria experiência, unidade, preservação,e uma autoridade suprema, mas para futuras gerações poderáser tanto mais como menos. Menos, porque a Casa Universalde Justiça estará inteiramente estabelecida e ativa, e tambémo exercício daquelas funções que agora cabem ao Guardião;mais, em virtude do apriomoramento da instituição atravésdo desenvolvimento completo de todos os outroscomponentes da Ordem Mundial Bahá’í e devido à expansãode suas atividades decorrente da guia inspiradora, defensorae amada de uma pequena mas operosa comunidade mundial,no exercício completo de seus deveres e prerrogativas comoum dos pilares gêmeos, sustentáculos de uma ordem socialúnica no planeta. Mas podemos dizer algo sobre a importânciadesta poderosa instituição à luz da experiência histórica. Em

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qualquer estado moderno, altamente desenvolvido e,portanto, complexo, alguma forma de garantia teve de sercriada ou desenvolvida para a proteção da constituição. NaInglaterra, a constituição (elusiva e indefinida) é garantidapela monarquia. O rei é quem provê a garantia dos direitos eliberdades do indivíduo, sendo também o apoiador daautoridade constitucional. Na América do Norte, a CorteSuprema cumpre esta função.*

É um fato comprovado que os povos mais politicamentemaduros deram-se conta da necessidade e buscaram prover anecessária salvaguarda da base de suas sociedades. Decorrenteda experiência histórica, onde cada convênio existente foieventualmente quebrado, e toda ordem vigente corrompida,o ser humano continua buscando uma base segura e umacasa construída sobre uma rocha.

Esta necessidade básica é atendida na Ordem deBahá’u’lláh através da instituição inigualável da Guardiania.Não somente é o Guardião o canal da Guia divina, mas étambém o protetor, o “Guardião da Causa de Deus”. O Livro– o “Livro Mater” – do qual procede esta poderosa decisão,afirma ser ele seu guardião e intérprete, e ninguém mais podeexercer tal função. O Guardião está sob a proteção doManifestante de Deus e, portanto, através dele “a poderosafortaleza da Causa permanecerá inexpugnável e segura”.

O autor não deseja estender-se além deste esclarecimentono momento, pois outros comentários sobre a Guardianianeste estágio certamente pareceriam nebulosos para umaexpressão clara e segura do que se quer esclarecer.

Entendamos, neste ponto, com base na sanção inviolávelda Palavra de Deus, a guia divina dada ao ser humano comrelação à interpretação do que foi já revelado e como deverãoser decididas quaisquer outras adições ao Livro, quando

*Esta é a única similaridade das instituições.

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necessárias, para a correta condução de seus assuntos. Aflexibilidade da Ordem Administrativa decorre dessas funçõescomplementares das duas instituições gêmeas. Pois ainterpretação do Guardião pode variar quanto à aplicação(nunca quanto aos princípios), enquanto que a Casa Universalde Justiça tem oficialmente a prerrogativa de cancelar oumodificar suas próprias leis, quando não fazem parte do Livro.

Os vários órgãos que deverão levar às almas humanas aenergia gerada pela ação da Palavra criativa são tratados aseguir. É importante enfatizar que a orientação e a energiacoexistem também nessas instituições e operam através delas.Este é o processo espiritual implícito quando se diz que asinstituições bahá’ís não são apenas religiosas, jurídicas, sociaisou políticas. São tudo isso ao mesmo tempo, uma Ordemorgânica, complexa, altamente desenvolvida, com instituiçõesmaduras e, portanto, muito difícil de serem estabelecidas, esua misteriosa operação mais difícil ainda de entender, algoque a atual comunidade mundial dos bahá’ís conhece bem,tanto com os sofrimentos como com as alegrias queproporcionam.

A energia é gerada pelas massas, a orientação é difundidado alto; as duas, misturadas em seu fluxo pelas artérias destaordem orgânica e se espraiando através de seu sistema nervoso,constituem sua força vital.

Deve-se ter em mente que a Última Vontade e Testamentoé uma parte inseparável das Escrituras da Fé Bahá’í, nãopodendo ser dissociada do restante das elocuções de ‘Abdu’l-Bahá, como de qualquer outra parte da Palavra criativa detoda a Revelação. Deve ser lembrado, também, que outrasdeclarações do Mestre sobre as funções das Casas de Justiça,sobre consulta, sobre a condução geral dos assuntosrelacionados aos direitos e obrigações dos crentes, são todasde igual importância na Ordem Mundial de Bahá’u’lláh. Mas

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a Última Vontade e Testamento é a Carta Magna, clara eautêntica, desta Ordem; estabelece suas instituições e defineseus relacionamentos.

Através deste documento, os direitos de todos estãoprotegidos, e definidos a autoridade e os direitos de cadaum. Deve ser considerado como um estatuto da civilizaçãomundial, o Rol de Direitos de toda a humanidade.

Na Ordem Mundial de Bahá’u’lláh, o poder e a iniciativasão da alçada das pessoas. O poder se expressa através docontrole de todos os assuntos locais pela Casa Local de Justiça– um corpo eleito pelos residentes adultos em todas aslocalidades, cuja instituição deve apresentar seus relatóriosperiodicamente (a cada 19 dias) e buscar os conselhos,opiniões e comentários da comunidade à qual serve. A inicitivadecorre da injunção direta de Bahá’u’lláh sobre cada pessoade engajar-se em “alguma ocupação, como arte, manufatura,comércio, profissão, e outras”, pois, “fizemos disso, vossaocupação, idêntica à adoração a Deus, o Verdadeiro”.

É também um ensinamento básico de Bahá’u’lláh quetudo o que foi revelado por Deus – Sua Revelação, Guia,Conhecimento – está em proporção direta com a capacidadede entendimento e absorção pela humanidade na época daRevelação. Portanto, em alguma extensão, dentro do períodode uma Dispensação, o ser humano é o árbitro de seu própriodestino. Pois os dons e graças disponíveis a ele são conferidasde acordo com seus próprios esforços. “Aquele que se esforçaem Nossa busca, a ele concederemos o espírito defidelidade...” Por isso, o único limite imposto à expressãoexterna da soberania do Manifestante divino é o estágio dedesenvolvimento do poder humano em responder aochamado da Palavra de Deus. Este poder é a mais elevadafaculdade do ser humano e nesta Dispensação alcança suacompleta maturidade. Tal poder motivador da sociedade,

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surgindo de cada indivíduo, permanece indelével nas pessoasatravés da atuação de suas instituições e das prescrições deBahá’u’lláh.

O Manifestante de Deus é a Fonte de tudo. Através dEle,são evocados o poder e as iniciativas das massas da humanidde.Através de Seu Convênio, especificamente centrado em‘Abdu’l-Bahá, a interpretação e a proteção são concedidas.Através da Última Vontade e Testamento de ‘Abdu’l-Bahá oConvênio é preservado e estendido por toda a duração daDispensação. Autoridade e guia divina estão sob a alçada daCasa de Justiça, e a garantia e a orientação divina estão sob aresponsabilidade do Guardião. Um estreito relacionamentoexiste entre as partes componentes e inseparáveis daComunidade Mundial Bahá’í.

Isso significa Teocracia. Poder e iniciativa evocados pelaPalavra de Deus; autoridade conferida pela Palavra de Deus;garantia e guia dadas e mantidas pela Palavra de Deus. Tudocom base na Palavra criativa com o próprio Deus governandoSeu povo.

Tal sistema, abrangente e inquestionável, está agorapassando pela experiência humana. Nem a Fé cristã, nem aislâmica, podem alegar possuir autoridade escrita einsofismável da autoridade do Manifestante de Deus paraqualquer sistema dentro de suas congregações de fiéis.Conseqüentemente, socialmente seu poder criativo éparalizado pelo espírito da crítica moderna, sendo incapazesde fazer qualquer contribuição significaiva para areorganização da sociedade mundial. Sincero e altruísta é odesejo de muitas pessoas dentro dessas religiões, e outrastantas em outros grandes sistemas religiosos do mundo,aqueles mesmos sistemas que dirigem a visão de seus membrospor suas própria fronteiras, o que torna pequenas as chancesde suas aspirações serem realizadas, salvo através do Convênio

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Maior cuja promessa está entesourada em seus LivrosSagrados.

A Última Vontade e Testamento de ‘Abdu’l-Bahá estádividida em três partes, cada uma delas aparentemente escritaem tempos diferentes, as últimas duas algum tempo depoisda primeira. É um ponto de inferência que as Segunda eTerceira Partes tenham sido adicionads pelo Mestre após duasparticularmente flagrantes violações de parte de membrostraidores de Sua própria Família. A Primeira Parte tem aseguinte nota em seu final:

“Por muito tempo este manuscrito havia sido guardadodebaixo da terra, sendo assim afetado pela umidade, poiscertos trechos se mostravam danificados. Foi o que se verificouao trazê-lo para luz, mas foram deixados intocados diantede lamentáveis fatos ocorridos na Terra Santa.”

As Segunda e Terceira Partes mencionam as novasviolações do Convênio e enfatizam a importância dapreservação da Fé. O Guardião e a Casa Universal de Justiçasão mencionados em ambas as partes.

Alguma noção das provações que ‘Abdu’l-Bahá teve deenfrentar pode ser obtida com apenas uma rápida leitura doTestamento; como na seguinte frase:

“Ó amigos ternamente amados! Estou agora em grandeperigo e a esperança de até mesmo uma só hora de vida estáperdida para mim.”

Sob tais condições, o único pensamento do Mestre erapara os amigos e para a preservação da Fé. Ele ora por ambos,envia Seu amor e confere Suas bênçãos, e conclui com mençãoao Guardião.

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Vamos agora ao próprio texto. O parágrafo de aberturaserve como introdução ao tema principal que é transcrito aseguir e revela seu esboço principal, que é o Convênio deBahá’u’lláh:

“Todo louvor Àquele [Bahá’u’lláh] que, com a proteção deSeu Convênio, resguardou o Templo de Sua Causa contra osdardos da dúvida,...”

O Convênio, que protege a Fé de divisões internas etambém dos rompedores, é inseparável do nome de ‘Abdu’l-Bahá, cuja Última Vontade e Testamento é uma parte essencialdele, como o é a Última Vontade e Testamento de Bahá’u’lláh.

O tema principal do Convênio versa sobre a proteção daPalavra e sobre a continuidade da guia divina. No Testamentode Bahá’u’lláh este tema tem uma expressão única e bemdefinida: ‘Abdu’l-Bahá, o Supremo Ramo, o Centro doConvênio. Na Última Vontade e Testamento de ‘Abdu’l-Bahátem duas expressões, a Guardiania e a Casa Universal deJustiça.

Esta segunda referência merece uma meditação maisaprofundada. É em si mesma uma declaração completa,perfeitamente construída e ajustada devidamente à ÚltimaVontade e Testamento como uma unidade integral. Começacom o Guardião e termina com o Guardião, mas não antesde incluir cada membro da grande ordem mundial, destinadaa construí-la:

“Saudações e louvor, bênção e glória cubram aquele ramoprimaz do Loto Sagrado e Divino, que brotou abençoado,tenro, verdejante e florescente, das Santas Árvores Gêmeas,...”

O “ramo primaz” é Shoghi Effendi ; o Loto Sagrado eDivino é o Manifestante de Deus (especificamente Bahá’u’lláh

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neste caso), e as Árvores Gêmas são Bahá’u’lláh e o Báb,Shoghi Effendi sendo descendente de ambas as casas, a doBáb através de seu pai, e de Bahá’u’lláh através de sua mãe.

Esta é a primeira menção do Guardião e é feitaimediatamente após o louvor a Bahá’u’lláh e a Seu Convênio.Observem a delicada e amorosa linguagem que o Mestre usa,e então considerem a próxima parte desta longa menção:

“...a mais maravilhosa pérola, inestimável e sem igual, quecintila dos encapelados mares Gêmeos;...”

Este é o testemunho de ‘Abdu’l-Bahá ao primeiroGuardião. Os Mares Gêmeos que surgem novamentereferem-se a Bahá’u’lláh e ao Báb. Podemos observar aquique através das Escrituras Bahá’ís, o Loto Sagrado, o Oceano,o Rouxinol, são símbolos do Manifestante de Deus, e quesempre os símbolos gêmeos são mencionados, referência éfeita aos dois Manifestantes desta Dispensação, Bahá’u’lláh eo Báb.

A declaração agora continua com a menção de outros naFé, sobre os quais “saudação e louvor” são invocados. “Osramos da Árvore de Santidade”, isto é, os filhos de Bahá’u’lláh;“Os rebentos da Árvore Celestial” são os descendentes emembros de Sua família e da família do Báb; e a menção:

“...aqueles que se mantiveram firmes e fiéis no Convênio,no Dia da Grande Divisão;...”

Esta refere-se à ascensão de Bahá’u’lláh quando muitostentaram a liderança e violaram explicitamente o Convênioescrito. A grande divisão foi entre aqueles que eram fiéis e oviolador, e não faz referência alguma a um cisma. Conformecomprovado pelo tempo, o Convênio floresceu e os violadores

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reduzidos a nada. A seguir, encontram-se as Mãos (pilares)da Causa de Deus, aqueles que espalharam a Mensagem esimbolizando “a retidão neste mundo e ateado o Fogo doAmor de Deus nos próprios corações e almas de Seus servos”.Finalmente, a menção:

“...aqueles que acreditaram e se compenetraram, ficandofirmes em Seu Convênio e seguindo a Luz que, após meufalecimento, brilha da Aurora da Guia Divina – pois ei-lo! –ele é o ramo abençoado, sagrado, que brotou das SantasÁrvores Gêmeas.”

Aqui se encontra uma afirmativa definitiva que após opassamento de ‘Abdu’l-Bahá a guia divina será dada atravésdo Guardião, uma declaração por escrito feita ainda maisexplicitamente mais tarde, sem precedente na história religiosado mundo.

Quão grande é esta passagem, quão perfeita suacomposição, quão bela sua apresentação. Abrindo com o temada Guardiania, continuando com o inteiro corpo de crentes,volta de forma fácil e graciosa ao tema, desenvolve-o numcrescendo, pára, e então conclui com aquele acordeestrondoso:

“Bem-aventurado quem procura abrigar-se à sua sombra,que ampara toda a humanidade.”

Algum comentário é oportuno que se faça à expressão“toda a humanidade”. Não somente os crentes, mas todo serhumano está sob a proteção do Guardião. Isso não é difícilde entender quando se é consciente de que o Manifestantede Deus é a Árvore da qual todos os seres humanos são asfolhas. Todos pertencemos àquela Árvore, conscientemente,

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APÊNDICE II

inconscientemente, ou mesmo contra a própria vontade. OManifestante é o Senhor da Era e “todos os demais são Seusservos e obedecem ao Seu Mandamento”. Diretamente doManifestante, por Sua vontade explícita, através do Centrodo Convênio, a luz da guia divina continua a brilhar atravésdo Guardião e assim será até que Deus se manifeste umaoutra vez “na nobre forma do templo humano”.

Todo desenvolvimento real é o do espírito. Os marcos doprogesso – que chamamos de eventos – são alcançadosprimeiro no mundo espiritual e mais tarde objetivado emassuntos humanos. Assim, a soberania de Cristo foi um fatoespiritual no tempo de Sua Manifestação, mas houve uminterregno de algumas centenas de anos até que a consciênciahumana o entendesse como tal. O mesmo ocorre em nossosdias com a soberania de Bahá’u’lláh e, portanto, também coma Guardiania de Shoghi Effendi.

‘Abdu’l-Bahá continua instando aos bahá’ís paraprotegerem a Fé Divina, um dever que pode ser realizado,como Ele afirmou mais tarde, nas palavras “obediência a eleque é o Guardião da Causa de Deus”. ‘Abdu’l-Bahá mencionao martírio dos primeiros crentes e algumas das aflições querecaíram sobre Bahá’u’lláh e o Báb. “Dez mil almas...”; umaleitura atenta dos escritos de ‘Abdu’l-Bahá leva o leitor a sentirque a menção feita não menciona exatamente, mas significaum grande número.

O Testamento continua com um relato sobre aignominiosa traição de Yahyá, o meio-irmão de Bahá’u’lláh,uma história bem conhecida por aqueles que choraram porcausa das aflições sofridas pela Abençoada Beleza. Essahistória sombria não está completa, porém, há tambémMuhammad ‘Alí, o “centro de sedição”, o “promotor primazdo mal”; Badí’u’lláh, por demais fraco para ser constantena fé ou mesmo na traição; Shu’a’u’lláh, que “junto com

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outros” conspiraram, arquitetaram e executaram um planotraiçoeiro com todas as suas forças, motivados pelo profundoódio existente em suas míseras naturezas que os impelirama se oporem à Luz de Deus e a tentar destruir o Centro doConvênio. A história de suas incontáveis maquinações écertamente sem paralelo. Não é difícil imaginar porque‘Abdu’l-Bahá procurou refúgio com Seu Pai, Todo-Poderoso, cuja Luz encontrou tão perfeita expressão em Suapessoa:

“...Misericordiosamente ajuda-me, por meu amor a Ti, afim de que eu possa sorver profundamente do cálice quetransborda de fidelidade a Ti e que está repleto de Tuasgenerosas dádivas;... Senhor! Defende desses rompedores doConvênio a poderosíssima Fortaleza de Tua Fé e protegeTeu Santuário secreto contra a investida dos ímpios. Tu és,em verdade, o Poderoso, o Potentíssimo, o Misericordioso,o Forte.”

Ele em seguida proclama que ‘Alí Muhammad foi “cortadoda Árvore Sagrada”; expelido da comunidade dos crentes,para quem revela uma oração:

“Ó Deus, meu Deus! Guarda Teus servos fiéis contra os malesdo egoísmo e da paixão; protege-os, com os olhos vigilantesda Tua benevolência, contra todo rancor, ódio e inveja;abriga-os na fortaleza inexpugnável de Tua Causa; e, imunesàs setas da dúvida, torna-os manifestantes de Teus gloriosossinais. Ilumina suas faces com os raios refulgentes emanadosda Aurora de Tua Divina Unidade; alegra seus corações comos versículos revelados de Teu Santo Reino; fortalece-os comTeu poder, que a tudo estremece, vindo da região da TuaGlória. Tu és o Todo-Generoso, o Protetor, o Onipotente, oMisericordioso!”

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APÊNDICE II

Agora, tendo estabelecido a Guardiania e exposto osvioladores (cujos crimes Ele ocultou quando afetavamsomente a Ele), Ele exorta os crentes, em linguagem muitovigorosa, a se engajarem no ensino da Causa o maisamplamente possível:

“...Não devem descansar, nem que seja por um momento,nem buscar repouso. Devem se dispersar por todas as terras,passar por todas as plagas e viajar através de todas as regiões....e uma vasta assembléia, por todo o Oriente e todo oOcidente, reúna-se à sombra do Verbo de Deus, a fim deque as doces fragrâncias da santidade possam ser difundidas,as faces brilhem radiantemente, os corações sejam imbuídosdo Espírito Divino e as almas tornem-se celestiais.”

E no meio de tais atividades, Ele deseja que os amigos“devem ganhar renome no mundo, onde quer que forem”.Em outra ocasião Ele diz:

“Eu desejo para vós distinção.”

Também, no Testamento cita o exemplo:

“Os discípulos de Cristo esqueceram-se de si mesmos e detodas as coisas terrenas, abandonaram toda preocupação etudo o que lhes pertencia, purificaram-se do egoísmo e dapaixão e, com desprendimento absoluto, espalharam-se portoda parte, ocupando-se em chamar os povos do mundopara a Guia Divina, até que, finalmente, conseguiramtransformar o mundo em outro mundo, iluminando a faceda Terra. Até sua última hora, deram provas de sua abnegaçãono caminho dAquele Amado de Deus e, por fim, em diversasterras, sofreram martírio glorioso. Que os homens de açãosigam suas pegadas!”

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O restante da Primeira Parte delineia as característicasprincipais da Ordem Administrativa. O Guardião recebealguns epítetos e é oficialmente designado. Todos os “ramos”,“brotos”, “mãos” e os crentes devem “voltar-se para ShoghiEffendi... pois ele é o sinal de Deus, o ramo escolhido, oGuardião da Causa de Deus”. Assim, a autoridade dointérprete, ‘Abdu’l-Bahá, é conferida ao Guardião (a sucessãoé ampliada mais tarde):

“...É o expositor das palavras de Deus e a ele sucederão osprimogênitos de seus descendentes diretos.”

Imeditamente após, o Guardião é declarado estar:

“...sob o amparo e a proteção da Beleza de Abhá[Bahá’u’lláh], sendo abrigados e guiados infalivelmente peloExcelso [O Báb]...”

A determinação de obediência ao Guardião e à CasaUniversal de Justiça, que está também sob a mesma proteçãoe guia, é tão forte e enfática como qualquer outra afirmativados Escritos do Mestre, e tais textos exigem uma leituraconstante para que a plenitude de sua força se incorpore napessoa.

A sucessão é estabelecida, trazendo à luz outra instituição,a das Mãos da Causa de Deus. O Guardião devia, ainda emvida, nomear seu sucessor (previamente designado como seuprimogênito). As Mãos da Causa de Deus teriam de elegernove dentre seus membros, e este corpo de nove, por votaçãosecreta, aprovar a designação indicada pelo Guardião, porunanimidade ou por maioria de votos. Se não aprovassem, oGuardião deveria designar “outro ramo para sucedê-lo”. Issosignifica um descendente de Bahá’u’lláh.

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APÊNDICE II

As Mãos da Causa são todas designadas pelo Guardião,homens e mulheres de caráter espiritual elevado. ‘Abdu’l-Baháassim os descreve, definindo seus deveres:

“...difundir as Fragrâncias Divinas, elevar as almas doshomens, promover a educação, aperfeiçoar o caráter de todosos homens e ser, em todos os tempos e sob quaisquercondições, santificadas e desprendidas das coisas terrenas.Pela sua conduta, pelas suas maneiras, suas palavras e suasações, devem elas manifestar temor a Deus.”

O inteiro corpo das Mãos da Causa está sob “a direçãodo Guardião da Causa de Deus”, mas o pequeno número denove que eles elegem dentre eles próprios, “as quais seocuparão continuamente com os importantes serviços a cargodo Guardião da Causa de Deus”. Assim, o Guardião contacom a ajuda de um corpo de colaboradores, eleitos daaristocracia espiritual da humanidade, e tem também sob suadireção pessoas de elevado carácter, altamente espiritualizadas,podendo ser de qualquer parte do planeta, sempre que eledecidir designá-las.

Nada existe na Última Vontade e Testamento de cuja mençãopoder-se-ia inferir que as Mãos da Causa têm qualquerprivilégio político, social ou econômico. Eles são conselheirosespirituais e instrutores da Causa e devem obedecer as Casasde Justiça como qualquer outro crente. Pode-se concluir,porém, que as Mãos da Causa podem ser ajudadasfinanceiramente pelo Huquq’u’lláh, já que esse dinheiro podeser gasto “para que seja aplicada na difusão das FragrânciasDivinas e na exaltação da Sua Palavra, para fins benévolos e obem-estar comum” que são os deveres primordiais das Mãosda Causa. Conforme a interpretação do Guardião, sua decisãofoi que, a manutenção do caráter não eclesiástico da Fé, adireção dos assuntos, a administração da Casa de Adoração,

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as reuniões e as comemorações dos festivais e dos aniversários,permanecerão como direito inviolável das Casas de Justiçaem cada localidade.*

O propósito para o qual essas forças deverão sermobilizadas é:

“...pois é o meio de transformar o mundo existente no Paraísode Abhá, de tornar celestial a face da Terra, de fazerdesaparecer o conflito entre os seres humanos, raças, naçõese governos, e os habitantes da Terra virem a ser como um sópovo, uma só raça, e o mundo todo, um lar. Caso surjamdivergências, deverão estas ser ajustadas, amigável econcludentemente, pelo Supremo Tribunal composto porrepresentantes de todos os governos e povos do mundo.”

Aqui se encontra a primeira e única menção destaimportante instituição na Última Vontade e Testamento. UmaCorte Mundial de arbítrio, um Tribunal Supremo, formadopor membros de todas as nações, irá, conforme o Guardiãojá escreveu:

“...adjudicar toda e qualquer disputa que surja entre os várioselementos que constituem esse sistema universal, sendoirrevogável a sua decisão.”3

Em todo o teor da Última Vontade e Testamento, naverdade em todos os escritos de ‘Abdu’l-Bahá, sente-se ainconfundível expressão daquele ideal de amor ilimitado, dereconciliação, amizade e universalidade, do qual Ele foi o

*A nomeação de um número de Mãos em 1951 que foi seguida de outras, foium assunto de interesse supremo para o mundo bahá’í. As Mãos, em cadacontinente, eram assistidas por um Corpo Auxiliar, membros que eramnomeados pelas próprias Mãos. Quatro Mãos residentes em Haifa, serviam aoGuardião e eram membros do Conselho Internacional Bahá’í.

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Exemplar perfeito. Tais qualidades são ainda mais aparentesnesta poderosa Carta magna, na parte que trata das intrigas edos ódios dos rompedores do Convênio, os quais teve deexpor, e o fato do organismo ter sido mantido sadio comsuas expulsões. Embora forte e veemente que tenha sido adenúncia do Mestre sobre os rompedores do Convênio,existem apenas oração e perdão para os mais agressivosopressores de ‘Abdu’l-Bahá. Os rompedores do Convênioforam deixados à ira de Deus, mas para esse mesmo povo, osdesprezíveis inimigos de ‘Abdu’l-Bahá, existe apenas isso:

“...Ó meu Senhor! Tem piedade deles, protege-os de qualqueraflição, nesses tempos de dificuldades, e permite que todasas provações e dificuldades sejam destinadas a este Teu servo,caído nesta cova tenebrosa. ...Ó Deus, meu Deus! Humilde,suplicante e prostrado diante de Ti, imploro-Te, com todo oardor de minha invocação, que perdoes a quem quer que metenha injuriado, que absolva aquele que conspirou contramim e me ofendeu, e apagues as más ações daqueles queforam injustos para comigo. ...”

Suas orações pelos crentes e pela Causa são fervorosas esimples. Igualmente as orações de proteção contra o ego e apaixão, e de segurança contra os rompedores. Ele agora osexorta:

“Ó vós amados do Senhor! Nesta sagrada Dispensação, oconflito e a contenda de modo algum são permitidos. Todoagressor priva-se das graças de Deus. Incumbe a cada umdemonstrar o máximo grau de amor, retidão de conduta,sinceridade e verdadeira benevolência para com todos ospovos e raças da Terra, quer amigos, quer estranhos. Tãointenso deve ser o espírito de amor e bondade, que o estranhosinta-se um amigo e o inimigo, um verdadeiro irmão, não

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existindo entre eles qualquer diferença. Pois a universalidadeé Divina e toda limitação, terrena. Portanto, deve o homemesforçar-se para que sua realidade manifeste virtudes eperfeições cuja luz irradie sobre todos. A luz do sol brilhasobre o mundo inteiro, e as chuvas misericordiosas da DivinaProvidência caem sobre todos os povos. A brisa vivificadoraanima toda criatura vivente e todos os seres dotados de vidaobtêm seu quinhão à Sua mesa celestial. De igual modo, oafeto e a bondade daqueles que servem ao Deus, Uno eVerdadeiro devem-se estender generosa e universalmente atodo o gênero humano. A esse respeito, não se pode, emabsoluto, permitir qualquer restrição ou limitação.Deveis, pois, ó meus amorosos amigos, associar-vos a todosos povos, a todas as raças e religiões do mundo, com a maiorsinceridade, retidão, fidelidade, benevolência, boa vontadee amizade, para que todo o mundo existente receba,copiosamente o santo êxtase das graças de Bahá, e assim,desvaneçam do mundo a ignorância, a inimizade, o ódio e orancor, e a escuridão da desconfiança entre as nações e raçasceda lugar à Luz da Unidade. Se membros de outros povos enações vos forem infiéis, mostrai-lhes vossa fidelidade; sevos forem injustos, tratai-os com justiça; se afastarem-se devós, procurai atraí-los; se vos mostrarem inimizade, sedeamigos para com eles; se envenenarem vossas vidas, adoçaisuas almas; se vos ferirem, sede um bálsamo para suas feridas.Tais são os atributos dos sinceros! Tais são os atributosdaqueles que dizem a verdade.”

Esta citação servirá para nos lembrar que a OrdemMundial de Bahá’u’lláh não é um mero sistema a serestabelecido em uma sociedade em decomposição. Sua forçamotivadora, sua vida, seu alento, são o amor e o serviço aDeus; a Ordem Administrativa é o esquema divinamentecriado através do qual a manifestação madura de tal forçaespiritual encontrará sua mais elevada expressão.

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‘Abdu’l-Bahá a seguir menciona a Casa de Justiça,explicando que se referia à Casa Universal de Justiça:

“...que Deus ordenou como a fonte de todo o bem e isentade todo o erro,...”

Isso quer dizer o seu estabelecimento pelo próprioBahá’u’lláh e que ela está sob a mesma proteção e guiaconcedidas ao Guardião:

“...esta deve ser eleita por sufrágio universal,…”

Uma determinação, mais tarde especificada, que osmembros das Casas Nacionais de Justiça devem constituir ocorpo eleitor da suprema Casa Universal de Justiça. O Mestreespecifica as qualidades que os eleitores devem considerar aoelegerem este governo mundial.

“Seus membros devem ser manifestações do temor a Deus eauroras do conhecimento e da compreensão; devem serconstantes na Fé Divina e benévolos para com toda ahumanidade.”

O estreito e indissolúvel relacionamento entre os dois“Pilares” da Ordem Mundial de Bahá’u’lláh, as instituiçõesgêmeas da Guardiania e da Casa Universal de Justiça, é entãomais claramente esclarecido do que anteriormente, quandoEle menciona que estavam unidos “sob o amparo e a proteçãoda Beleza de Abhá, sendo abrigados e guiados infalivelmentepelo Excelso”.

O Guardião, cujo direito de interpretação já havia sidoestabelecido, é designado como membro líder permanenteda Casa Universal de Justiça. Deve participar de suasdeliberações ou enviar alguém em seu nome para representá-

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lo. “Ficará a critério do Guardião da Causa de Deus aexpulsão” de qualquer membro que cometa um delito“prejudicial ao bem comum”. Este comentário óbvio é que aguia dada à instituição não se estende aos indivíduos que pordireito dela são membros. Somente o Guardião tem estaproteção e prerrogativa individual. A Casa de Justiça, porém,tem suas próprias funções claramente definidas, as quais oGuardião não pode transgredir:

“...Esta Casa fará todas as leis e todos os regulamentos quenão foram previstos explicitamente no Texto Sagrado.Resolverá todos os problemas difíceis,... Esta Casa de Justiçadecreta as leis, e o governo tem a seu cargo fazer cumpri-las.”

A Casa de Justiça delibera sobre todos os assuntos nãoconstantes no Livro, e legisla por votação da maioria. OGuardião tem direito apenas a um voto e não possui o direitode veto. Se ele julgar que uma decisão tomada é contrária aoespírito da Fé, certamente poderá pedir que sejareconsiderada, sendo impossível imaginar-se que a Casa deJustiça não irá buscar a verdadeira base espiritual do assuntoem consulta com o Guardião.

É digno de nota, também, que recebendo as duasinstituições a mesma atenção e proteção divinas, o Guardião,em virtude de sua condição de membro permanente,compartilha da autoridade outorgada à Casa de Justiça,embora não tenha individualmente poder de legislar.

Esses dois pilares da Ordem Mundial de Bahá’u’lláh,agindo em estreita harmonia, embora dentro de esferasclaramente definidas, asseguram a continuidade da guiadivina, não somente com relação à interpretação da Palavrarevelada, mas também com respeito à aplicação prática dosprincípios espirituais da Fé para assuntos mundanos, e

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APÊNDICE II

igualmente legislam sobre aqueles assuntos que Bahá’u’lláh“deliberadamente deixou de mencionar”, fora do “corpo deSuas determinações legislativas e administrativos”. Aautoridade, portanto, é investida à Casa de Justiça de acordocom o Testamento de Bahá’u’lláh e A Última Vontade eTestamento de ‘Abdu’l-Bahá. A garantia, ou a Guardiania, vemdo Guardião em virtude de sua interpretação da Palavra deDeus, a base fundamental sobre a qual a inteira estrutura éerguida. Já vimos que o poder e a iniciativa residem com amassa de crentes – no povo – que constitui a sementeira dodesenvolvimento humano.

Este parágrafo sobre a Casa de Justiça se encerra com umadeclaração que penetra fundo na confusão e balbúrdia damoderna administração no mundo em geral, e ainda assimmantém a marca de profunda sabedoria e simplicidade:

“O corpo legislativo deve reforçar o executivo, e o executivo,por sua vez, deve apoiar e auxiliar o legislativo, de modoque, pela estreita união e harmonia dessas duas forças, asbases da retidão e justiça tornem-se fortes e firmes, e assimtodas as regiões do mundo se transformem no próprioParaíso.”*

O corpo executivo é composto, ainda com limitações, pelasCasas Nacionais e Locais de Justiça, mas haverá sem dúvidaum serviço executivo permanente, como já existe em algunspaíses, exemplo a Liga das Nações e seus comitês sobrenutrição, drogas e tráfico de escravos brancos, padrõessalariais, educação, e no secretariado de seu próprio conselho.

O mandato da Casa Universal de Justiça é claro edefinitivo. Deve deliberar “sobre questões obscuras e assuntos

*Para um estudo mais profundo do relacionamento entre essas duas funções,ver Seu ensaio sobre política, publicado em O Segredo da Civilização Divina.

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não expressamente tratados no Livro”. O que quer que decidatem o mesmo efeito do próprio texto. Mas, a despeito de talautoridade indiscutível que lhe é concedida, suas decisõesnão estão no mesmo nível da Palavra de Deus, uma distinçãoque o Mestre claramente mantém e sobre a qual mostra suasimplicações. As decisões e leis formuladas pela Casa Universalde Justiça podem ser ab-rogadas pela própria Casa Universalde Justiça, enquanto que o texto do Livro permanece supremoe inviolável por toda a Dispensação.

Os membros da Casa de Justiça mudarão, mas a instituiçãoé criação de Bahá’u’lláh. O Guardião, em virtude de suacondição de membro permanente, dá a ela aquelacontinuidade de visão e abnegada que são fortes característicasda monarquia.

A Casa Nacional de Justiça, ou Casa “secundária”conforme denominada no Testamento, é uma contribuiçãodo próprio ‘Abdu’l-Bahá às instituições da ordem mundial.A Casa Universal de Justiça e as Casas Locais de Justiça foramdesignadas por Bahá’u’lláh, mas foi o Mestre que instituiu ocorpo secundário ou intermediário:

“...em todos os países deve ser instituída uma Casa de Justiçasecundária, e estas Casas de Justiça secundárias devem elegeros membros da Casa Universal.”

“Huquq”, ou o pagamento de dinheiro com normasestabelecidas, determindo por Bahá’u’lláh, deve ser feito:

“...Deve ser feita por intermédio do Guardião da Causa deDeus, para que seja aplicada na difusão das FragrânciasDivinas e na exaltação da Sua Palavra, para fins benévolos eo bem-estar comum.”

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O valor não é mencionado aqui (na realidade é umpercentual de 19% da renda da pessoa após ter deduzidotodas as despesas), mas o Mestre menciona aos amigos queDeus é independente de todas as coisas criadas e que estaoferta é um favor por Ele concedido para tornar “o povofirme e constante, e também, trazendo-lhe o acréscimoDivino”.

As maquinações de Muhammad-‘Alí e seus companheirosconspiradores foram uma fonte constante de perigo para oMestre, e uma vez Ele foi obrigado a escrever o seguinte:

“Este injuriado jamais alimentou, nem alimenta, rancor, demodo algum, contra qualquer pessoa; para com ninguémnutre ele malevolência e nenhuma palavra pronuncia quenão seja para o bem do mundo. Minha suprema obrigação,no entanto, impele-me, forçosamente, a guardar e preservara Causa de Deus. Assim, com o maior pesar, aconselho-vos,dizendo: ‘Guardai a Causa de Deus, protegei Sua Lei e tendereceio profundo de qualquer discórdia. É esse o fundamentoda crença do povo de Bahá (seja minha vida sacrificada poreles). Sua Santidade, o Excelso (o Báb), é a manifestação daUnidade Divina e o Precursor da Antiga Beleza. SuaSantidade, a Beleza de Abhá (seja minha vida um sacrifíciopor Seus amigos fiéis), é o Supremo Manifestante de Deus ea Aurora de Sua Mais Divina Essência. Todos os demais sãoSeus servos e fazem o que Ele ordena.’”

A sentença final é um repúdio direto à acusação que osrompedores fizeram contra ‘Abdu’l-Bahá, que diziam ter Eleafirmado estar no mesmo grau do Manifestante, e com issoprovava ser um impostor, de acordo com as palavras explícitasdo Testamento de Bahá’u’lláh, onde é afirmado claramenteque após Ele nenhum Manifestante surgiria antes que secompletasse mil anos de Sua Revelação. (É interessanteobservar terem os rompedores do Convênio recorrido ao

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antigo método de usar determinadas sentenças para finsdeturpados, ignorando totalmente o conteúdo básico dafrase). Foram apenas alguns dos próprios seguidores doMestre, os quais, em sua imaturidade e em incontido amor,inocentemente apoiaram aquela acusação, insistindo namesma posição de ‘Abdu’l-Bahá com a de Cristo e a deBahá’u’lláh, porém ‘Abdu’l-Bahá, a Quem viram e a Quemhaviam entregue seus corações, estando remoto, nem sequerpodia imaginar, perfeito Mestre que era, igualar-Se a Eles.Entende-se tal sentimento. A criança compara seu Pai celestial,desconhecido, com a figura de seu próprio pai, e muitas aconfundiram como realidade. Endende-se que isso tenhaocorrido, apesar das repetidas afirmativas contrárias doMestre, pois não é raro que as pessoas se apegueminabalavelmente aos seus sentimentos, mantendo suasopiniões mesmo ao custo de sacrifícios pessoais. Achavamque as afirmativas de humildade de ‘Abdu’l-Bahá eram feitaspara levantar véus sobre Sua posição de Centro do Convênio,a fim de impedir que pessoas indignas e maldosas alcançassemum entendimento que somente iria prejudicá-Lo. Seja comofor, o que ocorreu foi que deram sem querer apoio aosrompedores, que não perdiam tempo para levantar acusaçõescontra ‘Abdu’l-Bahá, em especial ao ter sido comparado comCristo. Assim, a Causa de Deus sofreu muito, devido “à faltade inteligência de seus amigos”, como o Guardião menciona,não apenas do ódio de seus inimigos.

O Testamento se encerra com uma reafirmação de seu temaprincipal – a Guardiania de Shoghi Effendi:

“Ó vós, fiéis amados de ‘Abdu’l-Bahá! Incumbe-vos cuidarao máximo de Shoghi Effendi, o broto que ramificou e ofruto que foi concebido pelas duas sagradas e divinas Árvores-de-Lótus, para que o pó do desânimo e da tristeza não lhemacule a natureza radiante, para que dia a dia lhe aumentem

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o contentamento, o júbilo e a espiritualidade, e assim elecresça e se torne uma árvore frutífera.”

Pois ele é, segundo ‘Abdu’l-Bahá, o Guardião da Causade Deus; e os Afnán, as Mãos da Causa de Deus e os amadosdo Senhor, todos devem obedecê-lo e voltar-se para ele.Aquele que não o obedece, não obedeceu a Deus; aquele quevolta as costas a ele, afastou-se de Deus, e aquele que o nega,terá negado ao Ser Verdadeiro. Estejamos atentos, para evitarque alguém possa interpretar falsamente essas palavras, oucomo aqueles que romperam o Convênio após o Dia daAscensão (de Bahá’u’lláh), e por algum pretexto espúriolevante a bandeira da revolta, mostre-se obstinado e abra depar em par a porta da falsa interpretação. A ninguém é dadoo direito de externar sua própria opinião, ou expressar suasconvicções particulares sobre este ponto. Todos devem seguira orientação oficial e voltar-se para o Centro da Causa e paraa Casa Universal de Justiça. Quem se volta para qualqueroutro que seja:

“...terá, em verdade, cometido um erro lastimável. Estejasobre vós a Glória das Glórias!”

E a frase abaixo, não pode ser tirada de seu contexto eaplicada a tudo o mais além da sucessão:

“A ninguém é concedido o direito de difundir sua própriaopinião ou expressar suas convicções particulares.”

Na verdade, tal afirmativa, aplicada em qualquer outrocontexto, estaria em direta contradição com o princípio bahá’ída consulta e seria uma negação total do direito outorgadopor Deus de livre expressão. Refere-se apenas à designaçãodo primeiro Guardião, sobre o que ninguém deve questionar.

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COMENTÁRIOS SOBRE A ÚLTIMA VONTADE E TESTAMENTO

Pelo momento, naturalmente, toda probabilidade deeventual dúvida ou alguma negação ser levantada é algosuperado, pertence ao passado, mas as lamentáveis provaçõessofridas por ‘Abdu’l-Bahá provaram somente, e de formamuito clara, como a obscuridade existente na naturezahumana está sempre atenta a tirar vantagem de uma súbitaoportunidade, causando, como, no caso, os transtornos quecausaram, na ausência da presença física de Figuras como oBáb e Bahá’u’lláh. Ele queria evitar a repetição daqueles diastenebrosos. A História prova que Ele conseguiu, e que oConvênio, que O envolvia, não foi quebrado, embora o abalosofrido. Violado por muitos, como são contados os traidores,mas graça aos fiéis, embora não muito numerosos na época,a poderosa fortaleza do Convênio permaneceu “inexpugnávele segura”, firme e intacta em sua eficácia como um abrigopara toda a humanidade. Melhor dizendo, ganhou em forçaatravés da eliminação de elementos inorgânicos, embora aocusto de muitas tribulações impostas aos Fundadores da Fé,tribulações como somente os Seres Sagrados podem suportar.

Podemos imaginar o que acontece ao “Judas” em cadaDispensação. A cena do povo gritando “crucifiquem-No”;que se junta sobre os telhados das casas em Tabríz para verSua execução; que brame por sangue e dificilmente se satisfazcom a cena de Seu bastinado; o turba que junta pedras dochão para arremessá-las contra a Majestade acorrentada. Essasqualidades são vistas em todas as revelações, e devem ocorrer,para provar mais uma vez e sempre a vitória da vida sobre amorte, naquelas transcendentes “almas puras e imaculadas”dos Manifestantes de Deus. Os instrumentos das trevas semdúvida destruiram-se para que a Luz pudesse adentrar. “Pai,perdoa-lhes pois não sabem o que fazem.”

Para aqueles que cometem pecado contra o Espírito Santo– que é reconhecer a Verdade e receber sua luz, e então colocar-

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APÊNDICE II

se contra ele, utilizando-se erradamente do poder que lhesfoi dado – está escrito no Evangelho não existir perdão. Paraum bahá’í, a eternidade significa a duração de umaDispensação, ao fim da qual existe um “novo céu e uma novaterra” e “todas as coisas são renovadas”. Talvez um sertorturado, consciente de Deus mas excluído do “céu”, é dadaoutra chance no Dia do Julgamento, quando o Senhor daEra purifica todas as coisas.

Quanto mais freqüentemente alguém ler A Última Vontadee Testamento, mais e mais ficará intrigado e deliciado ao mesmotempo diante de suas qualidades artística e estética. Suaconstrução, a forma, a estrutura e a unidade, tudo proclamatratar-se de uma obra criativa, majestosamente fruto de umamente equilibrada que sabe como harmonizar os valoressubjetivos e as formas objetivas de expressão. Escrito sobpressão e dificuldades, jamais perdeu aquela qualidade queeleva uma obra de arte, música ou pintura, ao reino da arteverdadeira.

Em resumo, o objetivo primário é o reino de Deus naTerra; o tema, definido imediatamente após a Introdução, éa proteção e a guia divinas, um tema que tem duas fases, aGuardiania e a Casa Universal de Justiça, um tema que érepetido em cada parte do trabalho, que é perceptível nasmuitas variações (princípios de ação e instituições subsdiárias)e se expande e desenvolve no corpo central do documento.Provê a frase final do documento. Drama e contraste sãoprovidos pela oposição dos rompedores, uma sombra tãoescura e forte que chegou a “ameaçar subverter o próprioEdifício Divino”. Acima de tudo está a glória de Bahá’u’lláh,e em toda a obra, a repetição dos temas maiores e menores,nas provações e perseguições dos Seres Superiores, no amorilimitado derramado igualmente sobre amigos e opositores,exala o espírito de harmonia e elevado drama, o Dia e a Noite

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COMENTÁRIOS SOBRE A ÚLTIMA VONTADE E TESTAMENTO

do cosmos, que, pela criação dá forma em madeira ou pedra,pintura ou música, linguagem ou ordem social, e nós,humanos, esforçamo-nos perpetuamente para entesourar.

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APÊNDICE III

O Término da GuardianiaInstaurada na Última Vontadee Testamento de ‘Abdu’l-Bahá

POR DAVID HOFMAN1

Quando, em novembro de 1957, o Guardião da Fé Bahá’ífaleceu súbita e prematuramente sem deixar um herdeiro, omundo bahá’í viu-se diante de uma situação inesperada aoconstatar ser inaplicável uma das provisões básicas da ÚltimaVontade e Testamento de ‘Abdu’l-Bahá.

Decidi desta forma fazer um relato histórico sobre aquelesportentosos anos entre o passamento do Guardião e a eleiçãoda Casa Universal de Justiça, e o papel de supremaimportância desempenhado pelas Mãos da Causa de Deusnaquele interregno. Aqueles momentosos e emocionantestempos se passaram, enquanto que as esperanças, os temorese as especulações que engendraram são desconhecidos dagrande maioria dos novos bahá’ís. A Casa Universal de Justiçaemitiu suas declarações oficiais sobre a nova situação e suaresolução a respeito, mas o relato sintético feito nestasconsiderações finais registra algo do aspecto subjetivo daquelesdias e como o Convênio de Bahá’u’lláh preservou a unidadee a própria vida de Sua Causa. A despeito de tão desastroso

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golpe como aquele que abalou a infante Fé, tirando a vida,subitamente, daquele centro da Guia divina e da autoridademáxima no qual todos inabalavelmente confiavam [ShoghiEffendi], os princípios fundamentais da Ordem Mundial deBahá’u’lláh não foram alterados, Seu Convênio manteve-seinviolável, e A Última Vontade e Testamento de ‘Abdu’l-Bahápermaneceu como a Carta Magna da Nova Ordem Mundial.

A súbita e inesperada morte do Guardião da Fé emnovembro de 1957 foi um golpe que abalou profundamentea comunidade mundial bahá’í. O choque foi também ummotivo de apreensão que atingiu às próprias bases da Fé, jáque Shoghi Effendi não deixou nenhum testamento eninguém sabia como seria mantida agora a característicasuprema e sem paralelo da Ordem Mundial de Bahá’u’lláh –a continuidade da guia divina, que a Fé havia usufruídoininterruptamente por noventa e quatro anos.

O tema da Última Vontade e Testamento de ‘Abdu’l-Bahá,“guia e proteção divina, a Guardiania e a Casa Universal de Justiça”tornara-se um baluarte de segurança no coração e na alma detodo bahá’í. Mas o Guardião se fora e não havia sucessor; a CasaUniversal de Justiça não havia ainda sido formada. A validadedo Convênio de Bahá’u’lláh estava em jogo.

Agora, se alguma vez isso ocorreu no passado, mais quenunca era um momento propício para divisão, dúvidas edesintegração. Mas o que ocorreu foi exatamente o contrário;houve consolidação, renovação do vigor e resolução mais fortede continuar levando avante as tarefas determinadas peloGuardião, bem como o aumento da conscientização doprivilégio de ser bahá’í. O amor pelo Guardião tornou-se afonte de maior dedicação, sacrifício e serviços à Causa, e oscrentes no mundo inteiro tornaram-se ainda mais conscientesde sua unidade. O poder misterioso do Convênio, exercendosua influência protetora, benigna e vitalizadora, tornou-se

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APÊNDICE III

bem visível no curso da década seguinte à do passamento doGuardião, e sua operação é o tema que trataremos a seguir.

Não precisamos enfatizar o doloroso e esmagadorsentimento de tragédia daquele tempo. Alguma menção,porém, deve ser feita ao relacionamento entre os crentes e oseu Guardião, para facilitar o entendimento dos elementosda crise e os acontecimentos que dela decorreram.

Shoghi Effendi assumiu a Guardiania em 1921, um jovemde vinte e quatro anos de idade em seu segundo ano estudandono Colégio Balliol, em Oxford. Rapidamente assumiu aposição definida por ‘Abdu’l-Bahá e, durante os anos que seseguiram, por sua inabalável devoção aos interesses da Causa,por sua capacidade de tornar visível aos bahá’ís seus horizontesiluminados, por seus atenciosos e amorosos cuidados com oentendimento ainda inadequado e imaturo quanto à supremagrandeza da Revelação de Bahá’u’lláh, por seus poderososescritos, por seu constante desafio aos crentes, mobilizando-os e direcionando vitoriosamente suas capacidades latentespara os serviços à Fé, por estas e por todas as ações de suavida, Shoghi Effendi tornou-se o “amado Guardião”, oreconhecido “Sinal de Deus” na Terra, e como seu ilustreancestral, descrito por E. G. Browne, o “objeto de umadevoção e amor que reis bem invejariam e imperadoresdesejariam em vão”.

O amor pelo Guardião, fé em Bahá’u’lláh e a gestão dosIntendentes-Chefes da Fé, foram fatores primordiais paralevar a comunidade bahá’í durante o hiato entre o fim deuma das fontes de guia divina e o início de outra. As poderosasforças construtivas geradas por esses três fatores atuaram, soba abrangente proteção do Convênio, para fortalecer a infanteFé a absorver o choque e em seguida restaurá-la para ser ocanal prometido e autêntico da guia divina, seu aspectodistintivo supremo.

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Referência já foi feita à designação, em 1951, do “primeirocontingente” das Mãos da Causa de Deus. Durante ospróximos anos imediatos, o Guardião aumentou o númerode Mãos para dezenove, mantendo esse número até menosde dois meses antes do seu falecimento, quando, em umacarta geral dirigida ao mundo bahá’í, o número dessesmembros de alto nível da Fé foi elevado para vinte e sete. Namesma carta, as Mãos da Causa de Deus foram designadascomo “Intendentes-Chefes da embriônica ComunidadeMundial” de Bahá’u’lláh.2

Em 1953, o Guardião da Fé havia lançado o primeiroPlano global de Ensino na história bahá’í. Conhecido comoo Plano de Dez Anos ou como a Cruzada Mundial de DezAnos, seu objetivo era implantar a bandeira da Fé em todasas partes do mundo e elevar o número de AssembléiasEspirituais Nacionais – os pilares que sustentam a CasaUniversal de Justiça – de doze para mais de cinqüenta. Todasas comunidades no mundo bahá’í receberam suas metas nesseempreendimento grandioso de expansão da Fé e estavamativamente empenhadas no trabalho quando ocorreu oinesperado golpe.

O anúncio do falecimento do Guardião foi feito ao mundobahá’í por sua viúva, a Mão da Causa de Deus, Amatu’l-Bahá Rúhíyyih Khánum. Imediatamente após o funeral, emLondres, que envolveu uma procissão de mais de sessentacarros desde Kensington até o Cemitério North London, emSouthgate, onde um grande número de crentes lá já seencontrava, Rúhíyyih Khánum convocou amigos bahá’ís detodas as partes do mundo para se juntarem às Mãos da Causa,para orar por elas e voltar-se a elas, para receberem suasorientações sobre a continuidade do Plano e do andamentogeral da Causa.

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Dentro de poucos dias após o funeral, os “Intendentes-Chefes” realizaram seu primeiro conclave, na Mansão deBahá’u’lláh em Bahjí, junto ao Seu Santuário – para os bahá’íso lugar mais sagrado em todo o planeta.

O tão ansiosamente esperado anúncio procedente daquelareunião compara-se a todos os outros importantesdocumentos da Fé. Reconhecendo a natureza da crise,conscientes de suas próprias responsabilidades e a obrigaçãosuprema de proteger e preservar a unidade da Causa, as Mãosda Causa chamaram a atenção para as magnificentesrealizações do Guardião ao estabelecer firmemente a Fé atravésdo mundo, desta forma assentando as estruturas para aformação da Casa Universal de Justiça e com a criação dainstituição* que iria gerir os assuntos da Fé até a eleição doCorpo Supremo da Causa, e ainda dentro dos objetivos daCruzada Mundial de Dez Anos, guiar o progresso da Causaaté 1963. Eles declararam oficialmente que o Guardião nãodeixara nenhum Testamento e não designara nenhumherdeiro.

Assumindo seu papel designado de Intendentes-Chefes,as Mãos da Causa cuidaram da infante Fé até a eleição daquelaInstituição, através da qual a prometida guia divina fluirianovamente. Anunciaram que o plano do Guardião devia serseguido sem interrupção e sem desvios de qualquer natureza,e que elas (as Mãos) decidiriam e anunciariam a data para aeleição da Casa Universal de Justiça, na forma definida peloMestre em Sua Última Vontade e Testamento:

“Quando aquele corpo divinamente ordenado veio a existir,todas as condições da Fé podiam novamente ser examinadas,e as medidas necessárias para suas futuras operaçõesdeterminadas em consulta com as Mãos da Causa.”3

*O Conselho Internacional Bahá’í.

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O objetivo das Mãos era claro, nobre e imediatamenteatendeu às expectativas dos crentes. Todas as AssembléiasEspirituais Nacionais existentes naquela época telegrafarame enviaram mensagens às Mãos da Causa de Deus,reconhecendo-as como a verdadeira autoridade e Direçãoprincipal da Fé naquele tempo, hipotecando total lealdade eobediência em seus nomes e nos das comunidades querepresentavam. A unidade da Fé era irrepreensível.

Seguindo tão fielmente quanto possível a intenção de‘Abdu’l-Bahá determinada em Sua Última Vontade eTestamento, as Mãos da Causa selecionaram entre seuspróprios membros (27 Mãos da Causa) um corpo de novepara servirem como “As Mãos da Causa residentes na TerraSanta” para atuarem como a direção central da Fé. Essas nove,que se tornaram conhecidas como os Custódios, obtinhamsua autoridade do inteiro corpo de Mãos da Causa de Deus,cuja autoridade havia sido conferida pelo próprio Bahá’u’lláhem muitas passagens de Seus Escritos, confirmada por‘Abdu’l-Bahá em Sua Última Vontade e Testamento, e cadauma delas havia sido designada por Ele como os “Intendentes-Chefes da embriônica Comunidade Mundial”.

Em todos os tempos da História, o Convênio de Deus,revelado pelos Profetas, foi objeto de ataques daqueles quedesejavam destruí-lo. Nesta Dispensação, o próprioManifestante de Deus e subseqüentemente ‘Abdu’l-Bahá e oGuardião tiveram de confrontar-se com as tentativas deviolação do Convênio e subversão da unidade da fé. Noperíodo entre o passamento do Guardião e a formação daCasa Universal de Justiça, as Mãos da Causa foram compelidasa tratar com mais uma dessas tentativas. Mason Remey, umaMão da Causa, designado para presidente do ConselhoInternacional Bahá’í pelo Guardião, signatário da primeira edas posteriores declarações das Mãos da Causa após o

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passamento do Guardião, anunciou a si mesmo como osegundo Guardião hereditário da Fé. Fez esta extraordináriaafirmativa com base no fato de ter sido escolhido parapresidente do Conselho Internacional Bahá’í pelo próprioGuardião, julgando-se, por isso, como o líder da CasaUniversal de Justiça. Para os bahá’ís, a pretensão de Remeyfoi julgada inacreditável, algo ridículo e risível, a aberraçãode um homem idoso. Porém, um pequeno grupo de crentesacreditou nele e o seguiu, para terminarem em completaobscuridade.* A violação não foi tão séria como as anteriorestentativas, embora tenha causado enorme pesar às Mãos daCausa que se viram forçadas a expulsar da Fé um de seuspróprios membros.

As Mãos na Terra Santa, baseando sua autoridade emtextos escritos e apoiadas pelos representantes eleitos de todasas comunidades bahá’ís no mundo, foram reconhecidas pelogoverno de Israel como a liderança mundial da Fé em sucessãoà sua eminência Shoghi Effendi Rabbani e tambémautorizadas a tomar posse de todas as propriedades bahá’ís etodos os bens em nome de Shoghi Effendi em Israel. Aintegridade legal e constitucional da Fé no Centro Mundialestava preservada, e as Mãos da Terra Santa foram capazes deatuar desde aquele Centro como a Autoridade máxima deuma reconhecida religião independente.

Dentro da comunidade bahá’í a liderança espiritual dasMãos na Terra Santa foi gratamente recebida com totalaceitação, e foi o primeiro bálsamo para seu doloroso golpesofrido com a perda do Guardião. E então ocorreu algo,maravilhoso e sem precedente na história da humanidade, oqual demonstrou mais claramente que nunca o podermajestoso do Convênio de Bahá’u’lláh para preservar Sua Fé

*Eles fracassaram fragorosamente nos tribunais de Illinois em sua reivindicaçãopara a posse do Templo-Mater do Ocidente e outras propriedades bahá’ís.

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e levantar em seus serviços homens e mulheres incorruptíveis,mesmo no exercício de poder absoluto. As Mãos da Causade Deus, “Intendentes-Chefes da embriônica ComunidadeMundial” de Bahá’u’lláh, concordaram com a aclamaçãoexpressa da inteira comunidade mundial bahá’í à autoridadesuprema na condução dos assuntos da Fé. Além disso, asMãos da Causa na Terra Santa receberam todo o amor eveneração dos bahá’ís, que os reconheceram como membrosdesignados pelo próprio Guardião. Devemos lembrar que osmais antigos de uma Fé, investidos com tal poder e apoiadoscom tanto amor, não pensaram em si mesmos, em suareputação ou fama, suas próprias idéias, seu conforto ouimportância. Tudo foi superado pelos cuidados da Causa deDeus, seguindo fielmente o plano do Guardião. Foi umtriunfo do amor. O Guardião havia determinado um cursode ação para a Fé, para levá-la a um destino definido quandodo Ridván de 1963. A meio caminho daquela viagem, ele, ocapitão, foi abatido e momentaneamente o navio ficou semliderança. As Mãos da Causa assumiram o leme, resolutosem seu único propósito de seguir o curso definido peloGuardião e chegar ao porto seguro com a eleição da CasaUniversal de Justiça.

A posição era clara: o plano do Guardião devia sercompletado sob a direção central de seus próprios membrosdesignados e quando aquela tarefa fosse feita, ou a vitóriaprevista, consideração devia ser dada à eleição da CasaUniversal de Justiça.

Os bahá’ís partiram para o trabalho firmemente decididos.Com um único objetivo em mente, e unidos como nuncaantes, seguiram avante para ganhar, para seu amado há poucopartido, as metas cuja realização ele tanto gostaria depresenciar. Viajaram como pioneiros para cidades grandes epequenas, para vilas e aldeias, em seus próprios países ou no

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exterior, para áreas remotas e inóspitas, para ilhas, florestas edesertos, estabelecendo-se, muitas vezes sozinhos, algumasvezes com parentes e familiares, para implantar a bandeira deBahá’u’lláh e cumprir com algumas das metas definidas peloGuardião e até então não alcançadas, transformando parasempre algumas regiões no estrangeiro em uma pátria bahá’í.Em muitos desses postos pioneiros começaram a ser formadasgradualmente comunidades de crentes nativos, que mais tardeelegeriam suas próprias Assembléias Espirituais Locais e ainda,combinadas com outras comunidades locais, elegeriam suasAssembléias Espirituais Nacionais, os pilares sustentáculosda Casa Universal de Justiça. Assim, por exemplo, no inícioda Cruzada Mundial de Dez Anos, em 1953, haviam duasAssembléias Espirituais Nacionais na América Latina. No finalda Cruzada, em abril de 1963, eram vinte e duas asAssembléias Nacionais existentes nessa área, cujos membrosforam eleitores da Casa Universal de Justiça.

Não existe falta de evidência para mostrar que o Guardiãoconstantemente tinha em mente a eleição da Casa Universalde Justiça. Referiu-se a ela durante todo o seu ministério;escreveu sobre sua própria participação em suas deliberações;e em uma carta à Assembléia Espiritual Nacional das IlhasBritânicas, datada de 25 de março de 1951, indicou aconclusão da Cruzada de Dez Anos como o tempo apropriadopara a sua formação.4 Em janeiro de 1951 anunciou oprimeiro passo para o seu estabelecimento. Foi a designaçãodo Conselho Bahá’í Internacional, o qual, escreveu, iria evoluirde um corpo designado através dos estágios de uma CorteBahá’í (para tratar de assuntos relacionados a status pessoalna Terra Santa), em um corpo eleito, e finalmente florescerem a Casa Universal de Justiça, a Instituição Suprema sobrea qual disse:

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“A posteridade considerá-la como um último refúgio parauma civilização cambaleante.”

Ele designou oito, e depois nove, membros do Conselho.Cinco Mãos da Causa estavam entre os escolhidos, uma delascomo membro de ligação entre o Guardião e o Conselho,uma como presidente, outra como vice-presidente, aindaoutra como secretário-geral, e uma última como membrosem um cargo especial. As Mãos da Causa convocaram umaeleição deste corpo, em 1961, limitando seus membros anove, podendo ser eleitos bahá’ís de qualquer parte do mundoexceto as próprias Mãos da Causa. (Mais tarde afirmariamaos bahá’ís sua preferência em não serem eleitos para a CasaUniversal de Justiça). E assim o Conselho Bahá’í Internacionalentrou em seu “estágio final precedente a eleição da CasaUniversal de Justiça”; serviu por um período de dois anossob a direção das Mãos da Causa de Deus residentes na TerraSanta e deixou de existir com a eleição da Casa Universal deJustiça. Na mensagem de seu conclave em 1959, as Mãos daCausa asseguraram aos crentes que:

“...todos os esforços foram feitos para estabelecer uma CorteBahá’í na Terra Santa anterior à data definida para essaeleição. Devemos, porém, ter em mente que o próprioGuardião amorosamente indicou essa meta, devido à fortetendência à secularização das cortes religiosas nesta parte domundo podia não ser realizada.”

Foi de fato confirmado não ser aconselhável, se nãoimpossível, conforme o Guardião previu, estabelecer tal cortede justiça.

Portanto, de acordo com a intenção claramente expressado Guardião, como também dentro da autoridade dos

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Intendentes-Chefes, organizar a eleição da instituiçãolegislativa suprema da Ordem Mundial de Bahá’u’lláh, a“fonte de todo o bem e livre de todo erro”.*

O brilhante sucesso das Mãos da Causa de Deus é umassunto de destaque para a história da Fé. A celebração doRidván em 1963 foi marcada por tal júbilo, por tãoportentosos acontecimentos, tão grande sentimento damisericórdia divina, que lembrou o primeiro Ridván, quandoo próprio Rei dos Reis, na véspera de Seu segundo banimentofizera o primeiro anúncio público de Sua Revelação. NoCentro Mundial da Fé, membros das cinqüenta e seisAssembléias Espirituais Nacionais então existentes no mundoreuniram-se na Casa de ‘Abdu’l-Bahá, e em reverentesolenidade depositaram seus votos para a eleição dos 9membros da Casa Universal de Justiça. Em Londres, nograndioso Albert Hall, sete mil bahá’ís de todas as partes doplaneta, alguns em seus trajes típicos, coloridos, das regiõesonde residiam, reuniram-se para comemorar o centésimoaniversário da Declaração de Bahá’u’lláh e para celebrar avitória completa da Cruzada Mundial de Dez Anos. Os novemembros da Casa Universal de Justiça, recém-eleitos, estavampresentes ao Congresso.

A Casa Universal de Justiça, assim que eleita,imediatamente estabeleceu sua sede em Haifa, em um edifíciodo lado oposto à Casa do Mestre e do Guardião.Gradualmente foi formando a equipe de colaboradores e emsucessivas reuniões com as Mãos da Causa residentes na TerraSanta foram feitas as transferências da direção administrativa,do Fundo Bahá’í Internacional e das propriedades da Fé. AsMãos da Causa haviam já preparado o esboço de um novo

*O próprio ‘Abdu’l-Bahá, em um momento sombrio de Sua vida ameaçadainstruiu por escrito Hájí Mírzá Táqí Afnán; primo do Báb e principal encarregadoda construção do Templo de ‘Ishqábád, para organizar a eleição da Casa Universalde Justiça se materializassem-se as ameaças que pesavam contra Ele.

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plano e este, depois de uma análise bem detalhada e muitasconsultas, tornou-se o Plano de Nove Anos, lançado noRidván de 1964. Seu objetivo foi uma vasta expansão da Féem todas as partes do mundo com a meta específica, entremuitas outras, de aumentar o número das 56 AssembléiasEspirituais Nacionais que havia eleito a primeira CasaUniversal de Justiça para 108 em 1973, o ano centenário darevelação do Livro Sacratíssimo, O Kitáb-i-Aqdas.* Além destecrescimento em tamanho, o Plano de Nove Anos tinha comoobjetivo desenvolver a coesão da já grande e mundialmenteespalhada comunidade bahá’í, para que rapidamente setornasse, com seu desenvolvimento, uma sociedade orgânicaúnica e unificada. “Participação Universal” na vida bahá’í foio grande tema, com a meta de todo bahá’í engajar-se em tãoimportantes atividades como a oração diária obrigatória,participação nas Festas de Dezenove Dias, ensino da Fé,contribuição aos fundos bahá’ís, obediência às leis bahá’ísdo casamento, observação do Jejum anual e comemoraçãodos nove Dias Sagrados nos quais o trabalho deve sersuspenso. Além desses, 219 projetos que exigiam a cooperaçãomútua de duas ou mais Assembléias Espirituais Nacionaisforam incluídos no Plano.† Após o Plano de Nove Anos,seguiu-se o Plano de Cinco Anos, para o período de 1974 a1979, durante o qual o vigor e a ação decidida da comunidademundial bahá’í foram canalizados para a realização dosobjetivos do Plano seguinte, de Sete Anos, concluído em1983.

*Foram eleitas 114 assembléias em 1973.†Por exemplo, a Assembléia Espiritual Nacional da África Ocidental, que deviaser dividida em três Assembléias Espirituais Nacionais independentes, recebeua meta de adquirir três terrenos para a construção de seus respectivos TemplosBahá’ís e três Hazíratu’l-Quds, com a ajuda das Assembléias Espirituais Nacio-nais do Alasca, Burma, Alemanha, Índia, Pérsia e Estados Unidos.

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Mas em 1963, a questão abrasadora e vital para os bahá’ísera a Guardiania. Inevitavelmente havia especulaçõesparticulares, pessoas ansiosas por declarações oficiais queesclarecessem em definitivo este assunto tão importante. Nogeral, porém, os crentes em todas as partes mostravam-seconfiantes e pacientes com relação ao tempo quando adivinamente inspirada Casa Universal de Justiça oficialmenteesclareceria tudo o que ainda, para alguns, era motivo degrande ansiedade.

Durante o mês de outubro, no mesmo ano de sua eleição,a Casa Universal de Justiça consultou muito, em várias sessõescom as Mãos da Causa de Deus residentes na Terra Santa,sobre os assuntos vitais da Fé. Após essas consultas, reuniu-se por sete vezes consecutivas no salão central de Bahjí.Daquelas reuniões resultou a seguinte declaração:

“Após orações e cuidadoso estudo dos Textos sagrados sobrea questão de apontar um sucessor para Shoghi Effendi comoGuardião da Causa de Deus, e após prolongada consultaque incluiu considerações das propostas das Mãos da Causade Deus residentes na Terra Santa, a Casa Universal de Justiçadeliberou que não seria possível apontar ou legislar apossibilidade de apontar um segundo Guardião para sucederShoghi Effendi.”

Esta declaração definitiva, cuidadosamente redigida,embora esperada, agiu como força catalisadora em todos ospensamentos dúbios e especulações que os bahá’ís tinhamem mente, ou até mesmo já formados ou expressos. A posição,embora difícil de exercer, era agora clara. Tanto quanto amente humana podia conceber, a Ordem Mundial deBahá’u’lláh teria de se desenvolver, por um tempo indefinido,sem um Guardião.

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A comunidade bahá’í, reconhecendo sua incapacidadede avaliar a sabedoria do decreto da Providência, aceitou asituação, cada qual dentro dos recursos espirituais que possuía.Os pilares gêmeos da Ordem Administrativa de Bahá’u’lláhtorna-se um único pilar, e a Casa Universal de Justiça eraagora o único centro da Causa e a autoridade à qual todosdeviam voltar-se. Com a sabedoria decorrente do fatoincontestável compreendeu não haver texto algum queafirmasse claramente que a Guardiania continuaria; por outrolado, provisão foi deixada pelo próprio Bahá’u’lláh no casoda linha dos Aghsán (e com ela a linha da Guardiania) chegara um fim.* Foi também reconhecido que Bahá’u’lláh, emSeu Livro Sacratíssimo, tinha especificamente criado a CasaUniversal de Justiça e confirmado a ela a guia divina. Algoconfirmado pelo texto da Última Vontade e Testamento de‘Abdu’l-Bahá, que deixa claro que a guia conferida a cada umdos “pilares gêmeos” é independente da guia conferida aooutro, o que ficou demonstrado pelo ministério do Guardião,que um pilar podia existir e funcionar por si mesmo.

A despeito de tais considerações, a comunidade mundialbahá’í sabia que passara por um forte abalo; e seu únicorecurso era voltar-se para a luz da guia divina que brilhavanovamente, desta vez da Casa Universal de Justiça, e dedicar-se integralmente aos serviços de seu Senhor. Isso os amigosfizeram, e gradualmente, à medida que novas vitórias eramconquistadas e a Fé se expandia em números e em suadistribuição geográfica, com os novos contingentes depioneiros partindo para suas metas e a Causa de Deus sendo

*Por exemplo, no Kitáb-i-Aqdas Bahá’u’lláh estabeleceu o direito dEle próprio,“o Revelador dos Sinais” receber “as doações dedicadas à caridade”, e continua:“Após Ele, a decisão estaria afeta aos Aghsán (Ramos) e depois deles, a Casa deJustiça – se já tiver sido estabelecida no mundo – de forma a que possam usaressas doações para benefício dos Lugares sagrados desta Causa, e para tudoaquilo que lhes foi ordenado por Deus, o Onipotente, o Todo-Poderoso.”

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ainda vista como realmente uma bênção divina, vasto númerode jovens, encontrando nela algo real para seus ideais, diantede um mundo em declínio que somente podia frustrar oureprimir tal idealismo, entraram na Fé decididamente, fazendocom que o espírito de alegria e todo o entusiasmo que haviadistinguido o Grande Congresso do Jubileu em 1963continuassem a inspirar os seguidores de Bahá’u’lláh.

As Mãos da Causa de Deus sofreram certamente maisprofundamente do que todos os outros crentes com o choquedo passamento do Guardião. Elas foram designadas por elecomo seus representantes e muitos como companheirosdiretos de trabalho; nove deles bem próximos, poderiam tersido informados de sua designação do sucessor, dando suaaprovação à mesma. Qual era sua posição? Como“Intendentes-Chefes”, de forma brilhante e devotadadesincumbiram-se de suas funções durante aquele interregnoaté a eleição da Casa Universal de Justiça. Agora, o segundocanal de guia divina, estabelecido no Texto sagrado, viera àexistência sob sua proteção. Poderia a autoridade do Guardião,ou qualquer parte dela, recair sobre elas? Poderiam elasdesignar novas Mãos a fim de perpetuar a Instituição?

Estas e outras questões relevantes foram gradualmentesendo consideradas pela Casa Universal de Justiça edeclarações francas de uma natureza geral foram emitidas.Foi rapidamente aceito e gradualmente entendido que a CasaUniversal de Justiça, embora impedida de interpretar a PalavraRevelada, era agora o único líder da Fé, com total autoridadepara promover e estabelecer a Ordem Mundial de Bahá’u’lláh.Era o canal da guia divina, o centro ao qual todos deviamvoltar-se. Em uma carta dirigida às Mãos da Causa, datadade 27 de março de 1964, esclarecendo a relação entre aInstituição das Mãos da Causa e a Casa Universal de Justiça,esta escreveu que:

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“A autoridade indiscutível e a segurança da guia divinaconferida sobre a Casa Universal de Justiça nas EscriturasSagradas, a faz, neste momento, a suprema e a instituiçãocentral da Fé, a qual todos devem se dirigir e, também, oúnico corpo investido de autoridade e inspiração requerida,capaz de guiar a Causa de Deus e manter inquebrantável oConvênio de Baha’u’llah.”

As Mãos da Causa, desde o momento da eleição da CasaUniversal de Justiça, resolveram fazer tudo o que pudessempara apoiar e ajudar a instituição mais elevada da OrdemAdministrativa. Eles agora, de forma amorosa e mesmo comgratidão, aceitaram esta decisão em assuntos de autoridade.Gradualmente foi reconhecido pelos bahá’ís que um dosnovos aspectos da Ordem de Bahá’u’lláh é que, diferente dopassado, posição não é necessariamente acompanhada deautoridade. Os membros da sagrada família, parentes do Báb,e determinadas pessoas designadas usufruiam de posiçõessuperiores à generalidade da massa de crentes. Mas sempre, aautoridade está restrita somente às instituições da OrdemMundial.

As Mãos da Causa de Deus foram reconhecidas comoocupando a posição mais elevada da Ordem Administrativa,acima de todos os outros membros, com exceção da CasaUniversal de Justiça - não seus membros, mas a Instituição –o “órgão supremo” da Comunidade Bahá’í Mundial.

Em novembro de 1964, um conclave das Mãos da Causafoi realizado na Terra Santa com a duração de quatorze dias.A Casa Universal de Justiça aproveitou a oportunidade paraconsultar com elas, após o que foi preparada uma carta gerale enviada ao mundo bahá’í, que incluía o seguinte:

“Estando de acordo, a Casa Universal de Justiça deu suainteira atenção a este assunto e após estudar os Textos sagrados

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e ouvir os pontos de vista das Mãos da Causa, chegou aseguinte decisão:

Não existem maneiras de apontar ou de se legislar apossibilidade de apontar Mãos da Causa de Deus. Aresponsabilidade em decidir os assuntos de nomenclaturasgerais que afetam a instituição das Mãos da Causa, a qualfoi formalmente exercida pelo amado Guardião, agora sevolve para a Casa Universal de Justiça como a instituiçãosuprema e central da Fé, para a qual todos devem se dirigir.”

O próprio Bahá’u’lláh havia designado algumas Mãos daCausa; ‘Abdu’l-Bahá esclareceu suas funções e deveresespecíficos e referiu-se a alguns outros bahá’ís como Mãosda Causa; o Guardião designou alguns postumamente, eoutros ainda em vida, vinte e sete dos quais estavam ematividade quando de seu falecimento; ele instituiu os CorposAuxiliares, cujos membros eram nomeados pelas Mãos daCausa e atuavam como seus “representantes, conselheiros eajudantes”. Ele também instituiu o Fundo Continental paracobrir financeiramente, em cada continente, as despesas comseu trabalho. No entanto, de acordo com o Texto Sagrado epor desígnio da Providência, nenhuma nova Mão da Causapoderia ser designada, a Casa Universal de Justiça havia desdelogo se conscientizado da importância vital desta instituiçãoao anunciar como uma meta do Plano de Nove Anos o“desenvolvimento da Instituição das Mãos da Causa, emconsulta com o corpo de Mãos da Causa, com vistas à extensãono futuro de suas funções designadas de proteção epropagação”.

Com o desenrolar do Plano de Nove Anos e o crescimentoda Ordem Administrativa, tornou-se aparente que o númerocada vez menor de Mãos da Causa iria cada vez menos poderprover seus serviços vitais à inteira comunidade bahá’í, e aimplementação desta meta tornava-se cada vez mais urgente.

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Alguma instituição, cujos membros seriam designados, nãoeleitos, e que estariam se dedicando fundamentalmente aobem-estar espiritual da Fé, incluindo a de suas instituiçõesadministrativas, foi julgado ser imperativo, e na verdade comouma parte integral da textura da Ordem Mundial deBahá’u’lláh. A Casa Universal de Justiça, após longasdeliberações, estabeleceu em 1968 onze Corpos Continentaisde Conselheiros e determinou a eles a direção dos CorposAuxiliares e o controle dos Fundos Continentais. Designouos membros Conselheiros e solicitou às Mãos da Causa deDeus ajudarem esses novos servidores a assumirem suasfunções, anunciando que, a partir de então, as Mãos da Causa,liberadas da rotina diária da administração dos CorposAuxiliares, “serão capazes de concentrar suas energias nasresponsabilidades primordiais de proteção e propagação geral,‘preservando a saúde espiritual das comunidades bahá’ís’ e ‘avitalidade da Fé dos bahá’ís em todo o mundo’”.

As Mãos da Causa, como sempre, responderam com todasas suas energias a esta nova decisão. Uma avaliação de seupapel atual inevitavelmente faz lembrar os apóstolos deantigamente, os quais, nas palavras da Última Vontade eTestamento de ‘Abdu’l-Bahá:

“...abandonaram toda preocupação e tudo o que lhespertencia, purificaram-se do egoísmo e da paixão e, comdesprendimento absoluto, espalharam-se por toda parte,ocupando-se em chamar os povos do mundo para a GuiaDivina,... Até sua última hora, deram provas de suaabnegação no caminho dAquele Amado de Deus...”

Alguns em trabalhos de erudição, outros cuidando dosperegrinos em visita ao Centro Mundial, outros “iluminandoos caminhos do ensino em toda a superfície do planeta”,outros ainda, em constante estímulo e visitas às Assembléias

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Espirituais, tanto as nacionais como as locais, nos continentesonde residiam, recebendo o amor, a reverência e o carinhodos amigos que nelas buscavam inspiração, orientação e aajuda infalível. Freqüentemente, também representavam aCasa Universal de Justiça em ocasiões importantes, comoquando da eleição de novas Assembléias Espirituais Nacionais,ou na realização de Conferências Intercontinentais, e algumasvezes contatando oficialmente Chefes de Estado ouimportantes personalidades, e também sempre querepresentantes de alto nível da Fé se faziam necessários emvárias oportunidades e eventos nacionais e internacionais.Desta forma, as Mãos da Causa, mesmo com a diminuiçãogradativamente de seu número, continuaram a prestarinestimáveis serviços à vida da Causa em seu contínuocrescimento.

As Mãos da Causa tiveram um papel vital saliente novitorioso estabelecimento, consolidação e desenvolvimentodos Corpos Continentais de Conselheiros, e com issocompensando em boa parte a grande perda para a OrdemMundial de Bahá’u’lláh que foi o passamento do amadoGuardião. As funções das Mãos da Causa, vitais para aComunidade Bahá’í Mundial, foram preservadas através deuma instituição que se mostrou capaz de desenvolver aexpansão e a evolução da própria Ordem. De fato, o rápidodesenvolvimento desta nova instituição, desde a sua criaçãoem 1968, foi um dos pontos altos da história da Fé duranteaqueles quatorze anos.

Apesar do grande aumento no número dos membros dosCorpos Auxiliares, tornou-se logo aparente que asnecessidades de contato e apoio direto aos amigos e àsinstituições administrativas de uma comunidade em sólidaexpansão, somente poderiam ser atendidas devidamente porum corpo muito grande de Conselheiros e seus membros

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auxiliares. Os Corpos de Conselheiros podiam apoiar,aconselhar e estimular as Assembléias Espirituais Nacionais,e os membros do Corpo Auxiliar fazer o mesmo com asAssembléias Espirituais Locais, mas o crescente corpo decrentes necessitava de aprofundamento espiritual eencorajamento por amigos bem experientes e aprofundadosna Fé. Para atender a esta necessidade vital, a Casa de Justiçaadicionou um novo componente à Instituição. Os membrosdo Corpo Auxiliar foram autorizados a designar Ajudantes,os quais podiam agir em seus nomes e como seusrepresentantes nas comunidades locais. Esta ação abriu umanova porta através da qual a influência benigna desteimportante e grande braço da Ordem Administrativa podiaatuar em toda a estrutura da sociedade bahá’í. Seu trabalhode encorajamento, o apoio aos planos e diretrizes dasinstituições legislativas, e a ajuda em superar os constantesdesafios à essência espiritual da vida bahá’í - são um poderosofator para a manutenção da unidade, provendo um vigormissionário e uma visão universal à comunidade bahá’í – emoutras palavras, garantindo a proteção e a propagação da Fé.

Dois importantes desenvolvimentos consolidaram aindamais e facilitaram o trabalho deste pilar da Fé. Em 1973, aCasa Universal de Justiça estabeleceu o Centro Internacionalde Ensino como a instituição responsável e orientadora dotrabalho dos Corpos Continentais de Conselheiros. Sua sedeé no Centro Mundial da Fé e é uma daquelas “instituições deâmbito mundial, de direcionamento mundial e de repercussãomundial” previstas pelo Guardião, operando do grande arcono Monte Carmelo, juntamente com outros monumentos einstituições em construção no Monte Carmelo, nasproximidades do Santuário sagrado do Báb e de outrasinstituições administrativas da crescente Fé Mundial. As Mãosda Causa são seus membros fundadores, e seu núcleo

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executivo em Haifa é composto por essas Mãos residentes naTerra Santa e pelos Conselheiros designados pela CasaUniversal de Justiça. O estabelecimento desta augustainstituição reforçou imensamente o prestígio, a capacidade ea eficácia deste braço designado da Ordem Administrativada Fé.

Em 1981, a Casa de Justiça reduziu o número de CorposContinentais de Conselheiros para cinco, conforme adesignação geográfica dos continentes.

O número de Conselheiros não diminuiu, mas cada Corpofoi fortalecido e recebeu a autoridade de organizar seu trabalhoabrangendo todo o continente. O Centro Internacional deEnsino permaneceu como elo entre os Corpos Continentaisde Conselheiros e a Casa Universal de Justiça. Estes foram osprincipais desenvolvimentos na Ordem Administrativa desdeo passamento do Guardião, e correu paralelo com umaexpansão da própria Fé, que agora possui 132 AssembléiasEspirituais Nacionais e 23.600 Assembléias EspirituaisLocais.* O vigor, o entusiasmo e a unidade da co-munidadebahá’í crescem a cada dia que passa e demonstram a ummundo em crescente deterioração o poder socialmenmtecurador e construtivo da Revelação de Bahá’u’lláh.

Uma palavra pode ser dita agora sobre a relação entre os“pilares gêmeos” da Ordem Mundial de Bahá’u’lláh. Noensaio original foi comentado que “...este é um dos aspectosda Ordem Mundial de Bahá’u’lláh no momento envolto emmistério, um mistério que a experiência e a passagem dotempo irão esclarecer, muito mais que esta meditação”. Talclarificação irá, Deus o permita, não mais ser feita com relaçãoà pessoa do Guardião, mas sobre o braço de um organismodo qual ele era a cabeça, com todos os seus componentes deMãos da Causa, e depois dos Conselheiros, membros do

*No Ridván de 1982.

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Corpo Auxiliar e ajudantes, e possivelmente ainda outros atéagora não revelados – mostrando que existem e estão emoperação por alguns anos, enquanto que a Casa Universal deJustiça também está, até esta data, em ativa supremacia da Fépor cerca de duas décadas

Uma das interessantes características da OrdemAdministrativa Bahá’í pode ser chamada à existência, aqualquer tempo, para servir a uma instituição administrativacujos membros serão eleitos, Na realidade, é certamenteseguro afirmar que os dias da Ordem Administrativa estãoapenas se iniciando, a maioria dos crentes podendo servir emuma Assembléia Espiritual Local. Os membros designadosda Fé são inevitavelmente menores em números. É a tarefada presente geração de bahá’ís compreender o relacionamentooperacional entre esses dois braços da Ordem Administrativa– o eleito e o designado – e ao mesmo tempo buscar entenderos princípios subjacentes nesse relacionamento.

Na Ordem Mundial de Bahá’u’lláh todos os bahá’ís e suasinstituições buscam os mesmos fins, a saber, o estabelecimentodaquela Ordem Mundial e a promoção de “uma civilizaçãoem permanente evolução”. Não existe competição deinteresses, nenhum luta por poder, nenhum membro eleitoou designado deseja assumir o peso da autoridade eresponsabilidade das instituições administrativas (os“governantes”, como Bahá’u’lláh as chamou), e nenhumainstituição eleita tem qualquer coisa a perder ou temer dosmembros designados (chamados os “eruditos”) nodesempenho de suas funções. Ambos apóiam e completamo trabalho um do outro, e quanto mais estreita e amorosa fora cooperação entre os membros eleitos e os designadosmaiores serão os benefícios da sociedade à qual ambos servem.

Neste aspecto da Ordem Mundial de Bahá’u’lláh pode-sever ainda outro exemplo daquela presciência que harmoniza

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e complementa pragmatismo com idealismo, evitando osperigos aos quais qualquer um dos dois, sozinhos, estariamsujeitos, e ao mesmo tempo assegura para a sociedade osbenefícios inegáveis que podem fluir da combinação deambos. A designação dos “eruditos” provê à sociedade as altasqualificações dos membros escolhidos, sem se afastar, pormínimo que seja, do direito indubitável dos corpos eleitos –os “governantes” – conferido a essas instituições nos Textossagrados. Na Ordem Mundial de Bahá’u’lláh não existemlinhas cruzadas. A autoridade administrativa está investidanas instituições eleitas; essas instituições e os crentes em geralsão guiados e estimulados pelos membros eleitos no sentidodos supremos objetivos da Fé, sejam de natureza imediataou de longo prazo, como a conquista das metas dos planosde ensino e o desenvolvimento do caráter e das qualidadesdivinas inatas em cada ser humano, a par do aprofundamentodo conhecimento e compreensão das Palavras de Deus.

A tarefa específica dos membros designados para proteçãoe propagação da Fé é também uma responsabilidade dasAssembléias Espirituais – locais e nacionais – mas estas sãoautônomas na tomada de decisões administrativas, norecebimento e aplicação dos recursos contribuídos aos seusrespectivos fundos, e na condução dos assuntos gerais de suascomunidades. O relacionamento compartilhado entre essesdois braços da Ordem Administrativa, atuando com vistas afins idênticos, envolve constante troca de informações, deforma a que as Mãos da Causa e os Corpos Continentais deConselheiros possam, sempre que julgarem necessário,chamar a atenção das instituições administrativas para todosos assuntos que afetem o bem-estar da Fé e que precisam daatenção das mesmas, seja internamente no trabalho da própriainstituição, ou na comunidade em geral. As AssembléiasEspirituais receberão constantemente total ajuda tanto das

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Mãos da Causa, como dos Conselheiros e dos membros doCorpo Auxiliar, com vistas a um aproveitamento máximodas energias dos crentes na execução de suas diretrizes.

Neste estágio inicial no crescimento da Fé, novasAssembléias Espirituais estão sendo formadas anualmente eo valor de um amoroso aconselhamento e ajuda de parte dosmembros designados da Fé é algo de inestimável valor emseu desenvolvimento. Apenas algumas das atuais AssembléiasEspirituais Nacionais, e ainda menos Assembléias EspirituaisLocais podem ser chamadas de veteranas.

Mas mesmo nos estágios de maturidade da civilizaçãobahá’í, quando todas as instituições administrativas estiveremestabelecidas, inteiramente desenvolvidas e com experiênciaprática de atuação, as funções dos “eruditos” serão essenciaise fatores primordiais para o bem-estar geral das comunidades.

A administração bahá’í é uma experiência divina naaplicação das leis e dos princípios espirituais nos assuntoshumanos, ou, conforme texto escrito em nome do Guardião,em 1933, em carta dirigida a um novo crente:

“A administração bahá’í é... em verdade, um laboratórioindispensável onde você pode colocar em prática oconhecimento que adquire dos Ensinamentos.”

As leis e princípios espirituais são constantementelembrados e promovidos na sociedade bahá’í pelos membrosdesignados; e a aplicação dessas leis e princípios é feita pelasinstituições eleitas, cujos membros são livremente escolhidos,em votação secreta, pelos bahá’ís adultos de cada comunidade.A guia divina, com sua infalibilidade, flui através da supremaCasa Universal de Justiça para todas as instituições da OrdemMundial de Bahá’u’lláh, assegurando os meios para arealização completa do propósito de Deus para a humanidade.

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O Convênio de Bahá’u’lláh, incessantemente ativo napromoção da unidade humana, tem demonstrado seu poderde proteção da Fé durante as tempestades de provações pelasquais passou, expurgando tudo o que poderia afetar essaunidade e fortalecendo-a em todos os sentidos para mantersempre renovado o vigor e a dedicação de seus membros. Ecomo a vida orgânica desta Ordem divinamente concebidase desenvolve, os poderes benéficos e as influênciasentesouradas no embrião pelo Testamento de seu Autor irãoinevitavelmente exercer seu papel criativo até que alcance oestágio de maturidade e este mundo torne-se, efetivamente,o há muito prometido Reino de Deus, descortinando emsua plenitude a beleza e a visão dos Profetas do passado e arealidade das sublimes elocuções de Bahá’u’lláh.

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Introdução1. Seleção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá, p. 287.2. ‘Abdu’l-Bahá citado em A Ordem Mundial de Bahá’u’lláh, p.

276.3. ‘Abdu’l-Bahá citado em Bahá’u’lláh e a Nova Era, p. 239.4. Sem tradução prévia para o português.5. Excertos deste texto encontram-se traduzidos em A Presença de

Deus, p. 417.6. Ibid.7. Ibid.8. Seleção dos Escritos de ‘Abdu’l-Bahá, p. 288.9. Sem tradução prévia para o português.10. ‘Abdu’l-Bahá citado em Bahá’u’lláh e a Nova Era. p. 60.11. Orações Bahá’ís. 11ª ed., pp. 441-3.

A Última Vontade e TestamentoPrimeira Parte1. Seleção dos Escritos de Bahá’u’lláh. Seção CLXV.2. Bahá’u’lláh, O Kitáb-i-Aqdas; versículo 37.

ApêndicesApêndice II1. Ensaio originalmente publicado no The Bahá’í World, vol. IX

1940-44 (Wilmette: Bahá’í Publishing Committee, 1945).2. Shoghi Effendi, A Ordem Mundial de Bahá’u’lláh, p. 186.3. A Ordem Mundial de Bahá’u’lláh, p. 274.

Apêndice III1. Prefácio e Epílogo de A Commentary on the Will and Testament

of ‘Abdu’l-Bahá. George Ronald, edição revisada, 1982.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

2. O Kitáb-i-Aqdas. p. 205.3. Proclamação feita pelas Mãos da Causa aos Bahá’ís do Oriente

e do Ocidente, em 25 de novembro de 1957. (Ver The Bahá’íWorld, Vol. XIII, pp. 341-345).

4. Ver Unfolding Destiny , p. 261. London: Bahá’í Publishing Trust,1981.

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