a troca de saberes para multiplicar as boas experiências de convivência com o semiárido

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1540 Julho/2014 Orgulhoso por cada experiência exitosa cultivada em sua propriedade, o agricultor José Carlos Alves Lopes, mais conhecido como Zé Carlos, está entusiasmado com as práticas de convivência com o semiárido que vem desenvolvendo em sua propriedade, a 7 Km de Afogados da Ingazeira, no Sertão do Pajeú. Juntamente com a esposa, Francelina Lucio Lopes e os filhos Andréa e André, vem planejando uma produção saudável e preservando a caatinga com ações ambientais economicamente viáveis. Eles se integram a outras 29 famílias agricultoras do Assentamento Riacho da Onça, numa área de 821 hectares. Desde 2010, com o apoio do Projeto Dom Helder Câmara (PDHC) e com assessoria técnica da Cooperativa dos Profissionais em Atividades Gerais (COOPAGEL), a família de Zé Carlos vive uma nova realidade. A troca de saberes e experiências oferece novas oportunidades. O agricultor destaca o saldo positivo dos momentos de capacitação, orientação técnica e intercâmbios que vem participando. Em maio deste ano esteve no III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA) e já está aplicando os conhecimentos. “Quando começou tudo era difícil. A gente não tinha nenhuma noção. Agora, no momento em que você vai num canto, vai no outro, um planta de um jeito outro ara do outro, você vai conhecendo o jeito melhor de fazer aquilo, e vamos aprendendo ao longo do tempo", reforça. Após a chegada da assistência técnica da COOPAGEL ao assentamento Riacho da Onça a produção de grãos e sua qualidade tem melhorado bastante. O agricultor Zé Carlos é um dos beneficiados através desta assessoria e tem inovado na sua forma de produzir, com adequações na forma de plantio através de consórcios agroecológicos e com o uso de curva de nível e plantio em faixas. O técnico em agropecuária Paulo Charles Lopes ressalta que “com essa adequação de técnicas e de forma completamente sustentável para o semiárido e sem o uso de insumos químicos, o agricultor produz saudavelmente seus alimentos, assegura o manejo agroflorestal da caatinga e consegue viabilizar alimentação para os caprinos e ainda fazer melhorias nas cercas dos seus roçados tudo economicamente viável e sem Afogados da Ingazeira A troca de saberes para multiplicar as boas experiências de convivência com o Semiárido

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O agricultor Zé Carlos vem planejando uma produção saudável e preservando a caatinga com ações ambientais economicamente viáveis em sua propriedade, a 7 Km de Afogados da Ingazeira, no Sertão do Pajeú de Pernambuco. A produção de algodão herbáceo em condições de sequeiro, sem veneno e em regime agroecológico, é um destaque na propriedade.

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1540

Julho/2014

Orgulhoso por cada experiência exitosa cultivada em sua propriedade, o agricultor José Carlos Alves Lopes, mais conhecido como Zé Carlos, está entusiasmado com as práticas de convivência com o semiárido que vem desenvolvendo em sua propriedade, a 7 Km de Afogados da Ingazeira, no Sertão do Pajeú. Juntamente com a esposa, Francelina Lucio Lopes e os filhos Andréa e André, vem planejando uma produção saudável e preservando a caatinga com ações ambientais economicamente viáveis. Eles se integram a outras 29 famílias agricultoras do Assentamento Riacho da Onça, numa área de 821 hectares. Desde 2010, com o apoio do Projeto Dom Helder Câmara (PDHC) e com assessoria técnica da Cooperativa dos Profissionais em Atividades Gerais (COOPAGEL), a família de Zé Carlos vive uma nova realidade. A troca de saberes e experiências oferece novas oportunidades. O agricultor destaca o saldo positivo dos momentos de capacitação, orientação técnica e intercâmbios que vem participando. Em maio deste ano esteve no III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA) e já está aplicando os conhecimentos. “Quando começou tudo era difícil. A gente não tinha nenhuma noção. Agora, no momento em que você vai num canto, vai no outro, um planta de um jeito outro ara do outro, você vai conhecendo o jeito melhor de fazer aquilo, e vamos aprendendo ao longo do tempo", reforça.Após a chegada da assistência técnica da COOPAGEL ao assentamento Riacho da Onça a produção de

grãos e sua qualidade tem melhorado bastante. O agricultor Zé Carlos é um dos beneficiados através desta assessoria e tem inovado na sua forma de produzir, com adequações na forma de plantio através de consórcios agroecológicos e com o uso de curva de nível e plantio em faixas. O técnico em agropecuária Paulo Charles Lopes ressalta que “com essa adequação de técnicas e de forma completamente sustentável para o semiárido e sem o uso de insumos químicos, o agricultor produz saudavelmente seus alimentos, assegura o manejo agroflorestal da caatinga e consegue viabilizar alimentação para os caprinos e ainda fazer melhorias nas cercas dos seus roçados tudo economicamente viável e sem

Afogados da Ingazeira

A troca de saberes para multiplicar as boas experiências de convivência com o Semiárido

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Pernambuco

agredir de forma severa a caatinga. A propriedade de 25 hectares é cenário para sonhos e conquistas. Há 10 anos a família desenvolve o manejo sustentável da caatinga em 2 hectares de terra sem queimada e com o barramento natural da água com galhos de plantas de marmeleiro e jurema preta, permitindo o acúmulo de matéria orgânica e o aumento da infiltração da água no solo, diminuindo a erosão por meio da obstrução da chuva e a retenção de sementes de plantas nativas. “Com o manejo vejo a riqueza da caatinga aflorando e a certeza que é possível conviver com o nosso semiárido”, enfatiza o agricultor entusiasmado ao apresentar cada atividade desenvolvida. Como resultado está a preservação e o desenvolvimento da

biodiversidade da fauna e flora da região.A produção de algodão herbáceo em condições de sequeiro, sem veneno e em regime agroecológico é um destaque na propriedade. Com iniciativas simples a família vêm fazendo a diferença e garantindo a sobrevivência. A exemplo do controle de pragas e o regime consorciado com outras culturas, como o gergelim, milho e feijão. O produto é todo colhido à mão e apresenta uma boa qualidade. A pluma é comprada por empresas europeias e a semente comercializada pelo agricultor. O recente plantio feito em março deste ano começa a apresentar os resultados. Zé Carlos relembra o problema enfrentado na última estiagem quando pragas atacaram a lavoura de algodão. Para combater os danos ele pulveriza o plantio com biofertilizante

produzido no local. As barreiras de vento auxiliam para conter a intensidade e consequentemente a queda das plumas. Como reconhecimento por essas iniciativas o agricultor recebeu da Associação Agroecológica do Pajeú, uma declaração de conformidade orgânica, comprovando sua produção sem realizar queimadas e com sustentabilidade ambiental.A água utilizada para o consumo é armazenada na cisterna de 16 mil litros construída pela Articulação no Semiárido (ASA). Para outras atividades é usada a água das últimas chuvas represada em um pequeno açude, que pode durar de novembro a dezembro deste ano. A família receberá em 2014 uma cisterna calçadão. A expectativa é usar a água para cultivar um quintal produtivo e usar as hortaliças para melhorar a alimentação e qualidade de vida, ampliar a renda e a comercialização da produção. Graças a caprinocultura o casal vem aproveitando o potencial de 16 animais que garantem a alimentação e auxiliam no sustento familiar a partir do desenvolvimento em bases sustentáveis. Isso por meio de algumas estratégias como o armazenamento do alimento para os animais para uso no período de estiagem, o melhor aproveitamento da pastagem nativa e a cultura forrageira adaptadas, como a gliricídia para produção de silagem e fenos de qualidade a baixos custos. Zé Carlos ressalta que para o agricultor se manter no semiárido é preciso investir na variedade da criação. “Ele tem que ter a cabra, o boi, o porco, ou seja, uma variedade de sistemas produtivos. Porque na hora que não tem de uma coisa você tem de outra. Quando uma coisa não está valendo muito, a outra compensa”, orienta. É plantando sonhos que a família de Zé Carlos segue otimista com a vida no semiár ido e conf iando em novas oportunidades que surgirão com o acesso e o desenvolvimento de políticas de convivência com esta região.

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