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IX SEMANA ACADÊMICA DE

sempre por verossimilhança devido ao fato de que os  pronunciamentos se

estruturam sempre narrativamente. A narratividade em Ricoeur constitui toda a

compreensão e de toda inteligibilidade mesmo a um nível ante-predicativo ou de

 pré-compreensão, pois que a narratividade incoativa que estrutura a experiênciacotidiana sob a forma de histórias ainda não contadas, ou histórias que estão

incrutradas, são as proto-histórias de onde são abstraídas e constituídas todas as

histórias narradas e com elas o narrador. Este neste, ínterim, é absorto num excesso

de narrativas e de sentidos das ações que constituem o mundo, não havendo

experiência possível na realidade imediata reflexiva pré-semiótica.

Deste modo, é a prefiguração que revela ao narrador a estrutura semântica das

meta-narrativas identitárias que este utiliza implícita ou explicitamente, consciente ou

inconscientemente quando interpreta e avalia o sentido das pré ou proto-histórias de vida,

 particular ou coletiva, apreendendo as tensões hegemônicas ou polêmicas, coerentes ou

contraditórias, aliadas a ambivalências e ambigüidades polissêmicas. Assim a tensão

 permanente constitutiva da poética narrativa deriva da pré-compreensão da ação, aqui

apresentada enquanto esforço de leitura da singularidade da experiência que possibilita

que esta seja representada ou imitada, pois, imitar ou representar a ação é pré-

compreender os símbolos e a linguagem do agir humano, sua semântica, semiótica e

temporalidade que tornam a experiência simbolizável e comunicável.

Ricoeur afirma que é sempre pela pré ou proto-compreensão da ação do

homem no tempo que se apresenta a tessitura da intriga e também a mimética

textual e literária. Assim a pré-narração ou quase-texto contém de forma implícita

os elementos das estruturas narrativas inteligíveis da experiência e que será

configurado simbolicamente pela imitação inventiva ou metafórica, poética e

mitificante, configuradora da ação pela composição narrativa em mímese II.

A mímese II é a configuração em enredo do campo da ação e tem por

atribuição mediar o mundo prático mímese I e o mundo do leitor mímese III,

 permitindo o acesso ao mundo da metáfora, do como se. Realiza a conciliação do

mythos e da mímese configurando a sucessão de episódios, o enredo consegue,

então dar forma e extensão à experiência vivida, atribuindo sentido aos atos que,

isoladamente, nada representam.

Ricoeur destaca que a composição do enredo na mímese II segue uma

lógica e fornece linearidade a ser seguida, pois coloca ordem, configura os eventos

episódicos e promove a composição e a mediação de elementos heterogêneos tais

como agentes, intenções, circunstâncias, meio e fim e faz com que estes sejam

inteligíveis, constituindo uma síntese do heterogêneo numa estrutura na qual a

concordância prevalece sobre a discordância.

ANAIS - PROBLEMAS FILOSÓFICOS DA CONTEMPORANEIDADE

 UNICENTRO 2010 - ISSN 2178-9991

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O enredo também faz com que estes eventos particulares ou individuais sejam

inseridos em uma história mais abrangente considerada como um todo, atuando

enquanto mediador de elementos temporais considerando a dimensão episódica da

narrativa e faz com que toda pluralidade de episódios constitua-se em uma sínteseconfigurante, estabelecendo sucessões e relações de causalidade a toda série de

eventos caracterizando a história enquanto conjunto de acontecimentos.

 Na configuração elaborada em mímese II, Ricoeur salienta a dupla dimensão

do tempo observável quando os episódios são representados de forma linear, um

após o outro, sem distinção de tempo para os acontecimentos físicos e humanos; e

quando da configuração da ação, o tempo se encontra em uma perspectiva

completamente diferente do tempo linear dos episódios. Para então determinar de

modo definitivo a função mediadora do enredo que faz com que os eventos isolados

ultrapassem a mera sucessão episódica e ganhem um sentido no tempo através da

configuração.

Em mímese III se dá a refiguração do campo de experiência. É quando ocorre o

encontro entre o mundo do autor, o mundo do texto, e o do leitor mímese I, II e III

respectivamente. A mímese é aqui entendida enquanto apreensão da experiência

vivida entremeada pela imaginação, não sendo a imitação do vivido. A refiguração

do mundo e da experiência dos ouvintes ou leitores, é que dá sentido à narrativa para

que esta se revele simbolicamente eficaz. O leitor ou ouvinte não é apenas um

receptor de informações, mas sim um co-autor, um sujeito que tem sua experiência

modificada pelo reconhecimento que encontra na narrativa e tende a desencadear

outra mímese II que reinicia a tríplice mímese de modo a formar um círculo, que

está longe de ser vicioso, como afirma Ricoeur e para que a circularidade mimética

entre tempo e narrativa ocorra esta deve ser mediada pela vivência e

reconhecimento.

A investigação de Ricoeur sobre narrativa em Temps et Récit é moldada pelos

conceitos aristotélicos do mythos e mímesis, e deve ser entendida como a atividade

dinâmica de organização e imitação ou representação dos eventos respectivamente.

A Sua inovação semântica da narrativa surge a partir da síntese do heterogêneo, pelo

qual os objetivos, causas e oportunidade são reunidas na unidade temporal da ação

configuradora descrita em mimese II e que se relaciona com a mimese I e mimese

III, estabelecendo a mediação entre tempo e narrativa, permitindo que esta seja

compreendida. Ora, se a mimese é a representação ou imitação, ainda que criadora,

e considerando a identificação já estabelecida entre mimese e mythos,

necessariamente a mise en intrigue ou tecer dessas atividades só pode ter como

referencia um mundo que seja narrável.

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Referências

ARISTÓTELES. Poética. São Paulo: Abril Cultural, 1979. (Os pensadores)

LEAL, I.A. História e Ação na Teoria da Narratividade em Paul Ricoeur.Rio de

Janeiro: Relume Dumará. 2002

RICOUER, P. Temps et Récit I, Paris, Seuil. 1983.