a transição da saúde entre populações ameríndias brasileiras1 · 2014-06-06 · 1 a...
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A Transição da Saúde entre Populações Ameríndias Brasileiras1
Laércio Fidelis Dias
DSA-UNESP/São Paulo
Resumo: Os dados e resultados apresentados neste artigo são preliminares, e fazem
parte de um projeto de pesquisa mais amplo cujo objetivo geral é avaliar as respostas
bioculturais das populações indígenas do Uaçá, diante das mudanças socioculturais e
ambientais que atravessam, a partir do perfil de agravos não transmissíveis. A maioria
dos agravos crônicos, associada à transição de estilos de vida ligados à subsistência
tribal para estilos urbanos das cidades, como a obesidade, decorre em grande parte de
mudanças na dieta e nos níveis de atividade física. O problema central desse projeto de
pesquisa é saber se no quadro transicional no qual se encontram as populações
indígenas do Uaçá, as taxas de sobrepeso e obesidade da população adulta seriam
expressão da ocidentalização e modernização dos estilos de vida destas populações. O
pressuposto é o de que este tipo de agravo não infeccioso seria mais prevalente em
localidades com estilos de vida mais próximos dos de centros urbanos. E seria menos
prevalente onde predominam as atividades de subsistência tradicionais indígenas. Do
ponto de vista metodológico trata-se de uma pesquisa descritiva que se vale de dados de
pesquisa documental em bancos de dados oficiais, pesquisa bibliográfica e etnográfica:
dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) e Casa de Saúde do
Índio (CASAI-Amapá), além do Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE).
Especificamente em relação a este artigo, o objetivo é apresentar e analisar o perfil
nutricional de indígenas brasileiros de vinte a sessenta anos cadastrados no banco de
dados do SISVAN.
Palavras-chave: Antropologia Médica; Antropologia Nutricional; Obesidade;
Transição da Saúde; Índios sul-americanos.
1 “Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de
agosto de 2014, Natal/RN.”
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Introdução
As populações ameríndias que habitam a Amazônia brasileira tem sofrido o
impacto de grandes mudanças no meio ambiente, na ecologia, organização social e
econômica desde o período colonial, passando pelo Império, até a República dos dias
atuais. Por isso a região é um campo privilegiado para estudar como estas populações
respondem à transição de um estilo de vida predominantemente baseado em atividades
de subsistência, para outro estilo mais “ocidentalizado”, tomando como referência o
processo saúde e doença. Este processo caracteriza uma das facetas de um sistema
maior no qual os indivíduos interagem com diferentes fatores ambientais e
socioculturais durante a rotina diária de vida. Os fatores sociocultuais atuam como
mediadores entre indivíduos e o meio ambiente, e podem favorecer ou impedir o
adoecimento de indivíduos ou populações. Neste sentido, o quadro epidemiológico de
uma população pode ser visto como resultante da interação entre uma gama de fatores
de ordem biológica, ambiental e sociocultural.
As intensas mudanças socioculturais pelas quais as sociedades ameríndias têm
passado devem-se, especialmente, às políticas oficiais para desenvolver e integrar
economicamente a região ao Centro Sul brasileiros, desde o século XVIII. São
mudanças que alteram os modos de vida dessas populações, seja pela introdução de
novos patógenos que ocasionam graves epidemias; seja por usurpar territórios,
dificultando ou inviabilizando a subsistência; e/ou devido à perseguição e morte de
indivíduos ou mesmo comunidades inteiras. Atualmente outros desafios à saúde
indígena também emergem: doenças crônicas não-transmissíveis, contaminação
ambiental, dificuldades de sustentabilidade alimentar etc. (SANTOS e COIMBRA JR. 2005:
13). O processo saúde e doença representa um registro importante para avaliar a
qualidade dos ajustes e das respostas populacionais a estas novas realidades. (SANTOS e
COIMBRA JR. 2005: 13; SILVA 2007).
Entretanto, o perfil epidemiológico das populações indígenas brasileira é muito
pouco conhecido. As razões para a carência de conhecimento podem ser creditadas: aos
poucos estudos sobre a temática; à ausência de inquéritos e censos e à imensa
precariedade dos sistemas de informação sobre morbidade e mortalidade. Qualquer
discussão sobre o processo saúde e doença de populações indígenas, além de considerar
as dinâmicas epidemiológicas e demográficas, também precisa levar em conta a extensa
diversidade sociocultural destes povos, bem como a diversidade de experiências
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históricas de interação com as frentes de expansão da sociedade nacional. (SANTOS e
COIMBRA JR. 2005: 13).
Os dados atuais disponíveis não permitem traçar um perfil epidemiológico
satisfatório acerca dos povos indígenas brasileiros, sobretudo porque faltam dados
quantitativos demográficos e de morbidade e mortalidade que sustentem análises
abrangentes e satisfatórias (idem). Com base nos poucos dados disponíveis, não
obstante, é possível afirmar que as condições de saúde das populações indígenas
brasileiras são precárias e essas populações se encontram em situação ainda mais crítica
que a de outros segmentos da sociedade nacional (COIMBRA JR. & SANTOS, 2000;
COIMBRA JR. et al., 2002; FUNASA, 2002; SANTOS & COIMBRA JR., 1994; SANTOS &
ESCOBAR, 2001)2.
O impacto das mudanças socioculturais, econômicas e ambientais, que resulta da
expansão e consolidação de frentes demográficas e econômicas da sociedade nacional,
pode ser percebido no perfil epidemiológico, demográfico, nutricional (subsistência e
segurança nutricional) e nos recursos terapêuticos. Cada um destes quatro aspectos
podem ser estudos separadamente. Porém, uma abordagem sistêmica revela o quanto
cada um deles está interligado ao outro. Por exemplo: quando há um incremento na
incidência de uma doença, o que representa uma mudança epidemiológica, a taxa de
óbito entre as crianças pode ser maior que em outros grupos etários, levando, assim, a
uma mudança demográfica (MCELROY&TOWNSEND 1996: 287). Dependendo da doença
que cresce, o tratamento xamânico e o uso de remédios caseiros podem não ser
eficiente, o que conduz indivíduos e a população a recorrer a outros tratamentos,
provocando alterações nos recursos terapêuticos (idem).
Tanto no Brasil como em outras partes do mundo, as doenças infecciosas têm
ocupado lugar de destaque no perfil epidemiológico indígena. Estas doenças infecciosas
continuam a ser prevalentes, mas existem fortes indícios de que os agravos à saúde não
transmissíveis, como obesidade, hipertensão e diabetes mellitus, vêm se expressando
com mais intensidade, configurando um quadro de sobreposição de perfis
epidemiológicos (SANTOS e COIMBRA JR. 2005: 8). A hipótese explicativa para este
fenômeno aponta para as mudanças nos estilos de vida indígena. Com relação à
alimentação, o consumo de alimentos processados implica uma dieta mais calórica, rica
2 O 1º Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Povos Indígenas, realizado entre 2008 e 2009,
confirma este quadro. O Levantamento revela, por exemplo, que a família indígena típica tem mãe obesa
e que 8 em 10 bebês são anêmicos (COIMBRA JR. 2009).
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em sódio e açúcar, e pobre em fibras. Estas mudanças nos hábitos alimentares,
associadas a níveis menos intensos de atividade física favorecem o surgimento da
obesidade, doenças cardiovasculares e metabólicas (COIMBRA JR. 2009; FIALHO,
MORENO E VIEIRA 2011: 78). Além disso, alguns estudos indicam a existência de
suscetibilidade indígena à obesidade, dislipidemia e diabetes (MCELROY&TOWNSEND
1996: 233; FIALHO, MORENO E VIEIRA 2011: 78-79).
Assim sendo, o problema central deste artigo é dar os primeiros passos para
enfrentar para a seguinte questão: no quadro transicional no qual se encontram s
populações indígenas do Uaçá, as taxas de sobrepeso e obesidade da população adulta
seriam expressão da ocidentalização (westernized) (SPONSEL 1995) e modernizado
(modernization) dos estilos de vida destas populações (MCELROY e TOWNSEND 1996:
334)? O pressuposto é o de que este tipo de agravo não infeccioso, estreitamente ligado
à dieta e atividade física, seria mais prevalente nas localidades com estilos de vida mais
ocidentalizados, próximos aos centros urbanos e mais integrados à vida cotidiana da
cidade. E seria menos prevalente onde predominam as atividades de subsistência
tradicionais indígenas.
Com relação à hipertensão e diabetes mellitus, por exemplo, o Relatório
Preliminar, elaborado por FIALHO, MORENO e VIEIRA (2012: 79), aponta prevalência de
hipertensão no pólo Manga (Karipuna) na ordem de 18,8/1000 habitantes. Esta aldeia é
uma das mais próximas do Oiapoque, e a relação com a vida da cidade é bastante
intensa. No polo Kumenê (Palikur), por outro, que é um dos mais distantes de
Oiapoque, a prevalência é de diabetes melittus, 9,9/1000 habitantes. Esses dados sobre
hipertensão e diabetes mellitus são relevantes porque são doenças fortemente
correlacionadas à obesidade.
A relevância de uma pesquisa como esta pode ser dividida em dois grupos: um
teórico, na medida em que possibilita aprofundar o conhecimento dos mecanismos
bioculturais de adaptação das populações humanas em diferentes ecossistemas
(BAKER&LITTLE 1976; SILVA&CREWS 1995; COIMBRA JR. e SANTOS 2005); e outro
prático intervencionista, já que pode proporcionar informações úteis a programas de
promoção de saúde (MCELROY e TOWNSEND 1996; HAHN 1999).
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PROCESSO SAÚDE DOENÇA NO UAÇÁ
Karipuna, Galibi-Marworno, Palikur e Galibi Kali´na fazem uso de vários
recursos terapêuticos, tanto nas aldeias quanto nas cidades vizinhas próximas das Terras
Indígenas (TIs). Nas aldeias, recorrem a tratamentos à base de ervas; às enfermarias,
onde são assistidos por auxiliares de enfermagem indígenas; e a especialistas
terapêuticos indígenas denominados de benzedores, sopradores e xamãs. Também
utilizam, como mais um recurso terapêutico, as promessas aos santos padroeiros das
aldeias. Fora das áreas, todos recorrem, principalmente, à Casa de Saúde do Índio de
Oiapoque (CASAI) e aos postos de saúde e hospitais da rede pública de saúde.
A escolha de qualquer um desses tratamentos não significa que outro seja
preterido, isto é, com bastante freqUência esses tratamentos se sobrepõem. Ao menos
abertamente, Palikur e Galibi Kali´na não fazem, hoje em dia, uso de recursos
terapêuticos ligados ao universo xamânico e aos sopradores. No caso dos Palikur,
também não realizam as festas de santos padroeiros nem recorrem a eles para solicitar
interseções terapêuticas porque são neo-pentecostais desde a década de 60 do século
XX.
A CASAI, fundada em 1988, era administrada pela Fundação Nacional do Índio
(FUNAI). Na época, havia muitas carências em vários setores: espaço físico,
medicamentos, exames laboratoriais, transporte insuficiente para os indígenas,
profissionais qualificados e alimentação. As enfermidades mais prevalentes neste
período eram as doenças diarreicas, infecções respiratórias e malária. Muitos casos
evoluíam para óbitos por causa da carência de recursos.
Entre os anos de 1997 e 1999, ocorreram mudanças que prenunciavam melhoras:
houve contratação de profissionais qualificados para suprir toda a área indígena. Esses
profissionais receberam capacitação antropológica para conhecerem os grupos indígenas
com os quais trabalhariam e, assim, realizarem o trabalho com mais eficácia. De
qualquer forma, até 1999, essa iniciativa teve poucos efeitos por causa da alta
rotatividade dos profissionais contratados, sem contar os salários defasados e,
frequentemente, atrasados.
A partir de 1999, o controle da CASAI foi passado para a Fundação Nacional de
Saúde (FUNASA)/Associação dos Povos Indígenas do Oiapoque (APIO) e várias
mudanças foram implementadas: convênios, mais recursos foram disponibilizados para
a contratação de profissionais, ampliação do espaço físico da CASAI, melhora no
suprimento de medicamentos, melhoria do transporte terrestre para remoção de
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pacientes, mais barcos tipo voadeira para o transporte fluvial, contratação de mais
motoristas, aprimoramento do sistema de comunicação via radiofonia entre a CASAI e
as aldeias, formação de pólos-base nas aldeias principais – Manga (Karipuna),
Kumarumã (Galibi-Marworno) e Kumenê (Palikur) - que passaram a contar com uma
equipe de enfermeiros, auxiliares de enfermagem, técnicos de laboratório, agentes
indígenas de saúde (AIS), agentes indígenas sanitários (AISAN) e odontólogos.
Exceção aos AIS e AISAN, os demais trabalham em regime itinerante: trinta dias em
atividade na Terra Indígena e quinze dias de descanso. Em atividade, eles realizam
visitas, tratamentos, vacinação e orientação por meio de palestras. Também recolhem
dados e encaminham pacientes em casos de emergência.
As implementações ocorridas a partir de 1999 estão inseridas na implantação dos
Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) através da Medida Provisória nº 1.911-
8 de 29 de julho de 1999, que transferiu para a FUNASA a responsabilidade exclusiva
da gestão da saúde indígena. Nos últimos seis meses daquele ano, coube à FUNASA
informar aos profissionais de saúde e aos índios da criação dos DSEIs. E até o fim de
1999, em todo o país, 34 Distritos Sanitários rapidamente tinham sido criados, bem
como, para o seu devido funcionamento, foram mobilizados recursos financeiros e
recursos humanos - médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem para o
atendimento das populações indígenas.
Os DSEIs têm organização independente das divisões estaduais e municipais,
assim como variam em tamanho e a composição étnica dos grupos que assistem. Cada
DSEI é composto por uma equipe de funcionários da FUNASA, a quem cabe a
administração e o repasse dos recursos financeiros às agências governamentais
(municípios) e não-governamentais conveniadas para que: 1) formulem e administrem
os programas específicos dentro das TI; e 2) estabeleçam uma rede de referência com os
municípios, hospitais e outras instituições para a provisão de serviços específicos dentro
e fora das áreas. (LANGDON 2004: 37-8).
De qualquer forma, apenas em 2002, houve para a CASAI-Oiapoque a
contratação de uma médica para atendimento diário, avaliação, encaminhamentos e alta.
Após dez anos da criação dos DSEIs, entretanto, não existe uma avaliação ampla do
atual modelo de saúde indígena que considere sobre seu êxito em satisfazer os
princípios da Política de Saúde Indígena Brasileira, em especial no que tange ao respeito
às diferenças culturais e à atenção diferenciada.
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Entretanto, as mudanças que visam à melhoria das condições de saúde das
populações do Uaçá esbarram, quase sempre, nos mesmos obstáculos: a alta
rotatividade dos profissionais não-indígenas, que, frequentemente, deixam as áreas sem
assistência de agentes qualificados, atraso de salário, falta de medicação adequada, falta
de transporte, de combustível, etc. Além disso, somam-se o crescimento populacional e
o aumento do fluxo de saída e entrada de índios das áreas que levam ao aparecimento de
novas doenças, nem sempre fáceis de serem controladas, sendo as mais preocupantes as
doenças sexualmente transmissíveis, com especial atenção para a AIDS.
O Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena (SIASI), criado em
1999, foi concebido, segundo a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos
Indígenas, para “subsidiar os órgãos gestores e de controle social quanto à indispensável
compatibilidade entre o diagnóstico situacional dos problemas de saúde identificados e
as prioridades estabelecidas nos níveis técnico, social e político, visando à coerência
entre ações planejadas e efetivamente executadas”.
O SIASI não tem atingido os seus fins, entretanto, devido aos problemas
estruturais e de funcionamento. Como consequência, monitorar as condições de saúde
nas aldeias indígenas torna-se uma tarefa precária (SOUSA 2007).
Nesse contexto de funcionamento precário do SIASI, em 2006, a FUNASA cria
o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) por meio da portaria N.
986. Como gestora da Saúde Indígena no subsistema do Sistema Nacional de Saúde
(SUS), cabe à FUNASA descrever e acompanhar as tendências nutricionais e
alimentares e seus fatores determinantes, colaborando com o planejamento, execução e
avaliação de políticas, programas e ações voltados para a promoção e adequação da
situação alimentar e nutricional dos povos indígenas (BRASIL 2006; BRASIL 2009).
Para compreender como os diferentes recursos terapêuticos disponíveis são
mobilizados pelas populações indígenas da região, é fundamental considerar os
contextos culturais específicos nos quais os eventos de doença são experimentados. A
grande maioria dos itinerários terapêuticos percorridos pelas populações começa a partir
de tratamentos com remédios caseiros preparados à base de ervas. Outra opção é tratar-
se com os auxiliares de enfermagem nas enfermarias das aldeias. Essa opção de
tratamento se deve ao fato de que os remédios caseiros e as enfermarias são os recursos
de acesso mais fácil, se comparados com os serviços de saúde públicos disponíveis nas
cidades.
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Persistindo as queixas iniciais, em linhas gerais, dois caminhos podem ser
tomados: aqueles que iniciaram tratamento com remédios caseiros tendem a recorrer aos
remédios das farmácias. E a recíproca também é verdadeira: malogrado o tratamento
inicial com os remédios da farmácia, a segunda opção quase sempre é o remédio
caseiro.
O tratamento oferecido pelos serviços públicos de saúde acaba sendo procurado
quando as queixas são persistentes. De qualquer forma, dependendo das queixas e das
interpretações dadas por paciente, familiares e pelo grupo, uma interpretação mais
abstrata pode ser dada. Nesses casos, a tendência é recorrer a outros especialistas
terapêuticos como os benzedores, os sopradores e os xamãs; muito raramente também
procuram centros de Umbanda nas cidades. Porém, a escolha de qualquer um destes
tratamentos não implica necessariamente o abandono do tratamento anteriormente
escolhido.
Objeto e objetivos
A pesquisa está em andamento, por isso os objetivos todos ainda não foram
atingidos. O que se realizou até o momento foi o diagnóstico do perfil nutricional de
indígenas brasileiros de vinte a sessenta anos cadastrados no banco de dados do
SISVAN.
De todo modo, no contexto mais amplo no qual se inserem os dados
preliminares que neste artigo são apresentados, o objeto da pesquisa é o perfil
epidemiológico dos agravos não transmissíveis e o objetivo geral é avaliar as respostas
bioculturais das populações indígenas do Uaçá, diante das mudanças socioculturais e
ambientais que atravessam, a partir do perfil de agravos não transmissíveis. A maioria
dos agravos crônico, associada à transição de estilos de vida ligados à subsistência tribal
para estilos urbanos das cidades, como a obesidade, decorre em grande parte de
mudanças na dieta e nos níveis de atividade física.
Os objetivos específicos são: verificar a distribuição das doenças crônicas não
transmissíveis; verificar a distribuição do sobrepeso e a obesidade3 na população adulta,
a partir dos dados disponíveis no SISVAN e na CASAI-Oiapoque e CASAI-Macapá.
3 Segundo dados do SISVAN, há seis categorias utilizadas para classificar o status nutricional: magreza
acentuada; magreza; eutrofia; sobrepeso; obesidade (BRASIL 2013). Essas categorias são utilizadas como
referência no presente artigo.
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A área de estudo faz parte do Distrito Sanitário Indígena (DSEI) do Amapá e
Norte do Pará, na qual habitam as quatro populações indígenas: Karipuna, Galibi-
Marworno, Palikur e Gali Kali´na.
Fundamento teórico
Na história da antropologia, os estudos sobre religião, magia, rito, feitiçaria,
feiticeiros, xamãs e pajés praticamente se confundem com a própria história da
disciplina. Os trabalhos de FRAZER (1890[1980]) e TYLOR (1871) sobre religião,
EVANS-PRITCHARD (1937) sobre etiologia, MALINOWSKI (1948) e MAUSS e HUBERT
(1902-3[2003]) sobre magia, e especificamente d e MAUSS (1902-3[2003]), a respeito
das técnicas corporais, apresentam as primeiras discussões sobre os temas na
antropologia. O traço predominante dessas discussões era a ausência de uma orientação
teórica que visasse à construção de um campo epistêmico acerca do tema xamanismo na
antropologia, e que desse destaque à dimensão terapêutica desta atividade. A
preocupação em descrever religião, magia, rito, feitiçaria, era, fundamentalmente,
comparar modos de pensamento “primitivo“ com os ditos civilizados (LANGDON 1994a:
3). KLEINMAN (1980: 25), POLLARK-ELTZ (1987: 12) e LANGDON (1994a) apontam que
os primeiros estudos a este respeito tinham a preocupação de salientar as diferenças
entre as “medicinas primitivas” e a biomedicina.
RIVERS (1924) é apontado por KLEINMAN (1980: 25), POLLARK-ELTZ (1987: 12)
e LANGDON (1994a), entre outros, como o primeiro antropólogo a empreender uma
pesquisa na “área da saúde” em antropologia, e neste sentido dar os primeiros passos
para construção de um campo epistêmico próprio, que tenta caracterizar a “medicina
primitiva” segundo “categorias de pensamento mágico, religioso ou naturalista”, à
época, estabelecidas por FRAZER (1890[1980]) e TYLOR (1871). O autor (RIVERS:1924:
7) acreditava que o tratamento e o diagnóstico na “medicina primitiva” eram deduzidos
a partir da etiologia, da mesma forma como ocorre na biomedicina. Assim, RIVERS
(1929: 29;51) entendia as “medicinas primitivas” como expressões particulares de
modos de pensamento lógico, uma vez que o tratamento da doença estaria imbricado à
identificação de sua causa. Por conseguinte, apoiando-se nas categorias de pensamento
estabelecidas por FRAZER (1890[1980]) e TYLOR (1870), as crenças envolvidas na
“medicina mágica” atribuiriam como causas das doenças a manipulação mágica
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realizada por feiticeiros, xamãs e pajés. Os tratamentos e as técnicas empregados para
atuarem sobre essas causas seriam designados como “manipulações mágicas” (feitiçaria,
malefício). Na “medicina religiosa”, por sua vez, as doenças seriam provocadas por
causas sobrenaturais, sendo os tratamentos de cura empregados também sobrenaturais.
Por fim, a “medicina naturalista” operaria em termos empíricos, já que as causas das
doenças seriam resultado da ação de forças naturais, e os tratamentos basear-se-iam no
uso de técnicas naturais como ervas, cirurgias etc.
LANGDON (1996a: 3) considera a abordagem de RIVERS (1924) relativista por
causa do suposto de que o sistema médico está interligado à cultura mais abrangente,
sendo necessário fazer referência aos outros aspectos culturais para entendê-lo. Esse
princípio de RIVERS (1924) continua válido atualmente, bem como a identificação da
etiologia como entrada destacada para a compreensão dos procedimentos de diagnóstico
e terapia.
Mas o teor evolucionista ao estilo do século XIX da antropologia de RIVERS
(1924: 120) está presente na afirmação de que os modos de pensar da “medicina
primitiva” eram qualitativamente opostos aos da biomedicina. A dinâmica reconhecida
atualmente como essencial à noção simbólica de cultura (GEERTZ 1989), na perspectiva
de RIVERS (idem), cedia lugar a uma visão folclórica e estática de “medicina primitiva”.
As mudanças que porventura ocorressem nessa medicina dever-se-iam à difusão de
elementos empíricos e racionais provenientes da biomedicina, que, de qualquer forma,
tendiam a se degenerar numa interpretação mágica ou religiosa.
Realizando estudos comparativos sobre os conceitos de doença na “medicina
primitiva” a partir das crenças etiológicas, CLEMENTS (1932) é apontado por Langdon
(1996a) como outro pioneiro dos estudos de saúde em antropologia. Com o objetivo de
mapear a distribuição dessas crenças entre os “povos primitivos”, CLEMENTS (1932)
reduziu as crenças etiológicas a cinco categorias causais: feitiçaria, quebra de tabu,
intrusão de um objeto no corpo, intrusão do espírito e perda da alma. A partir daí, o
antropólogo fez uma reconstrução histórica de como essas categorias de crenças
apareciam nas diferentes culturas, apoiando-se numa perspectiva difusionista.
Traçando paralelos de uma cultura para outra, desconsiderando o princípio
importante estabelecido anteriormente por RIVERS (1924) de que os diferentes
elementos estão articulados com a cultura e sociedade em geral, a pesquisa de
CLEMENTS (1932) assume ares demasiado descritivos, e a reconstrução histórica que ele
faz é unilinear, à semelhança dos evolucionistas do século XlX.
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LANGDON (1996a: 5), por sua vez, identifica na lógica interna dos conceitos
etiológicos de CLEMENTS (1932) certa confusão conceptual, uma vez que as cinco
categorias identificadas pelo autor contêm crenças sobre “causalidade e mecanismo”,
representando tanto o “porquê” quanto o “como” da doença. CLEMENTS (1932) conserva
ainda a ideia presente nos trabalhos de RIVERS (1924) de que a “medicina primitiva” é
qualitativamente diferente da biomedicina.
ACKERKNECHT (1942,1946,1947b), como RIVERS (1924) e CLEMENTS (1932),
também distingue a “medicina primitiva” da biomedicina em termos qualitativos.
Considerado o fundador da antropologia médica nos Estados Unidos, ACKERKNECHT foi
bastante influenciado pela noção de “configuração cultural” de BENEDICT (1983). A
contribuição para os estudos de saúde em antropologia se deu através da análise de
dados etnográficos sobre cirurgia primitiva, xamanismo, psicopatologia, conhecimentos
anatômicos, diagnósticos e tratamentos, a relação entre os sistemas médicos com a
cultura em sociedades específicas (LANGDON 1996a).
ACKERKNECHT (1947a) trabalhou com a noção de que a doença não é um
fenômeno puramente biológico, mas que o seu reconhecimento, por parte do próprio
doente e sua família, o diagnóstico e o tratamento, depende de fatores socioculturais.
Mas na medida em que mantém a perspectiva evolucionista de seus predecessores,
classificou a “medicina primitiva” como primariamente “mágico-religiosa”, e a
biomedicina como empírica. A lógica estaria presente na “medicina primitiva” porque o
tratamento é escolhido em função da causa que se atribui à doença. Mas o qualitativo
“racional” não se aplicaria a esta medicina porque a lógica na qual se pauta não se funda
em premissas empíricas de observação e teste, procedimentos próprios da ciência e da
biomedicina.
LANGDON (1996a: 9) chama a atenção para o fato de que as críticas endereçadas
aos trabalhos de RIVERS (1979), CLEMENTS (1924) e ACKERKNECHT
(1942a,1942b,1946,1947a,1947b,1971) não diminuem as contribuições importantes que
eles trouxeram para a constituição de um campo específico de estudos sobre saúde em
antropologia e para uma abordagem adequada do xamanismo. Na medida em que foram
“homens de sua época”, a antropologia que fizeram incorporou os conceitos, métodos,
as teorias e preocupações próprias de um período em que o “outro” era apreendido
como atrasado, ignorante, cujo pensamento se encontrava obliterado por crenças
mágicas e religiosas, sem fundamento empírico (LANGDON 1996a).
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O principal legado de RIVERS (1924), CLEMENTS (1932) e ACKERKNECHT
(1942a,1942b,1946,1947a,1947b,1971) aos estudos de saúde e doença em antropologia
foi o reconhecimento de que os contextos socioculturais específicos são o palco onde as
práticas e as crenças ligadas aos cuidados com a saúde assumem feições de um sistema
lógico conceitual articulado entre si. Além disso, RIVERS (1924), CLEMENTS (1932),
ACKERKNECHT (1942a,1942b,1971), segundo BUCHILLET (1991a: 25), e EVANS-
PRITCHARD (1937), já haviam enfatizado a diferença significativa existente entre as
concepções de doença ocidental, indígena e tradicional. No primeiro caso, a doença
seria pensada como resultado de uma anomalia da estrutura e/ ou função de um órgão
ou de um determinado sistema orgânico. Os sinais da anomalia ou disfunção,
apresentados pelos pacientes como queixas, seriam indicadores de doença. No segundo
caso, a aparição de uma doença, assim como o advento de um infortúnio individual ou
coletivo, inscrever-se-ia num dispositivo de explicação que remete ao conjunto de
representações do homem, de suas atividades em sociedade e com seu meio natural. A
doença nas sociedades indígenas e tradicionais não seria pensada fora de sua
singularidade pessoal e fora do contexto específico que preside.
A expressão antropologia médica desenvolveu-se principalmente nos países de
origem anglo-saxônica, em especial Estados Unidos, Inglaterra e Canadá, para designar
pesquisas sobre saúde humana, abordadas a partir de uma perspectiva antropológica.
Sob essa designação genérica, concebida como uma subdivisão da antropologia,
constituíram-se quatro linhas de pesquisas com implicações teóricas distintas
(BUCHILLET 1991a:22; FABREGA 1972; GENEST 1978; MCELROY e TOWNSEND 1996:
64-69).
A primeira linha de pesquisa refere-se aos estudos da relação entre a incidência e
a distribuição das doenças epidêmicas ou endêmicas e as variantes ambientais e/ ou
socioculturais. Esse tipo de pesquisa possui uma vocação prática bastante acentuada, na
medida em que a constatação de que existe relação entre certos hábitos e doenças
específicas possibilita o fornecimento de subsídios a programas de intervenção.
A segunda está ligada aos estudos dos cuidados oferecidos nas instituições
médicas: hospitais, postos de saúde etc. Esses estudos procuram analisar as relações
entre médicos e pacientes, entre as diferentes categorias de pessoal que fazem parte da
instituição médica, e entre os pacientes e a organização dos cuidados médicos
oferecidos.
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Uma terceira linha de pesquisa é representada pelos estudos de problemas de
saúde de populações específicas como idosos, mulheres, crianças, homossexuais etc.
Dessa forma, o foco principal da abordagem recai sobre os comportamentos dos
indivíduos (BUCHILLET 1991a:23). Estariam inseridos nessa linha de pesquisa
problemas sanitários contemporâneos como a AIDS.
Uma quarta linha de pesquisa, designada de etnomedicina, preocupa-se em
estudar as práticas, as crenças e os conhecimentos terapêuticos relativos às etiologias,
aos métodos de diagnósticos e aos tratamentos das doenças produzidos por populações
autóctones que não se filiam ao quadro conceptual da biomedicina (HUGHES 1968). Por
procurar estabelecer relações entre as representações ligadas às doenças e à organização
social das populações consideradas, a etnomedicina apresenta-se como a tendência mais
antropológica dentre as várias linhas de pesquisa que englobam a designação genérica
de “antropologia médica” (BUCHILLET 1991a:23). O enfoque dessa abordagem recai na
identificação e classificação das doenças segundo o grupo estudado, reconhecendo que
as queixas que as definem, assim como as diferentes maneiras de classificá-las
representam signos de doenças que podem variar de cultura para cultura, não
correspondendo, necessariamente, às categorias da biomedicina (LANGDON 1996a:12;
LANGDON e MACLENNAN 1979).
A antropologia médica ecológica, na qual se insere este projeto de pesquisa, faz
parte da primeira linha de pesquisa apresentada anteriormente. Ela ganha destaque a
partir dos anos de 1970, notadamente por causa dos resultados de pesquisa de ALLAND
(1970). Os trabalhos deste autor avaliam o impacto global sobre a variabilidade cultural
do comportamento humano enquanto uma resposta evolutiva na forma de adaptação
eco-ambiental. Neste sentido, ALLAND (1970) direciona as suas investigações para
avaliar os impactos do processo saúde/doença na cultura, na constituição orgânica
humana e no meio ambiente.
A abordagem médica ecológica integra-se, originalmente, nos estudos sobre
epidemiologia humana. Como resultado desta inserção teórica, o princípio teórico
metodológico essencial que a orienta é o de que a adaptação humana ao meio se dá por
meio de recursos bioculturais. Ou seja, biologia e cultura são os termos que fundam o
idioma da adaptação humana. É neste sentido que compreende, conforme alerta HAHN
(1995), o porquê das teorias ambientais estarem alicerçadas na utilização da abordagem
ecológica sobre o tema da doença tomando em consideração os elementos culturais.
14
Dentro desta abordagem médica ecológica, segundo MCELROY e TOWNSEND
(1996a) a noção de adaptação define que são as mudanças comportamentais e biológicas
existentes individual ou coletivamente que garantem a sobrevivência dentro de certo
quadro de mudanças ecológicas e socioculturais, sobretudo por meio de estratégias
adaptativas sociais e culturais. Neste artigo de síntese teórica, MCELROY (1996a)
sustenta que a abordagem ecológica, ou ecologia médica, permite determinar padrões de
doenças tanto no plano biológico quanto cultural. Já que, assim como os processos
adaptativos de domínio fisiológico ou genético, os conhecimentos e as práticas culturais
são vistos como recursos de respostas bioculturais a problemas de adaptação ambiental.
Juntamente com transformações de natureza eminentemente biológica, a cultura
atua como parte de uma estratégia que contribuiu para a sobrevivência humana nos
diferentes ambientes terrestres. Por meio de variados mecanismos de atuação
individuais e coletivos, a humanidade adaptou-se ao meio. Notadamente devido à
plasticidade adaptativa da ecologia humana (MORAN 1994: 25), entre outras vias,
devido à produção de mecanismos sociais e simbólicos, que possibilitou a progressão
demográfica humana e seu bem-estar, principalmente por causa do controle sobre o
meio, como tentativas de interpretação e domínio da natureza (LEAL 2009:71).
Em síntese, segundo MCELROY e TOWNSEND (1996b:12) a teoria ecológica
possuiu três premissas analíticas e uma orientação metodológica básica: 1) a saúde é
indicador de boa qualidade adaptativa, por conseguinte, a doença revela desequilíbrio
adaptativo; 2) a evolução das doenças humanas acompanha a evolução biocultural; 3) a
categoria doença é universal, assim sendo há possibilidade de comparação de suas taxas
no espaço e no tempo, além de correlacionar tais taxas a mudanças adaptativas nos
padrões de vida e subsistência (MCELROY e TOWNSEND (1996b:7; LEAL 2009: 71).
Metodologia
É pesquisa de natureza descritiva, que observa, registra, analisa e relaciona fatos
ou fenômenos, sem que haja manipulação, controle ou interferência das possíveis
variáveis interferentes na ocorrência estudada (JARDELINO, ROSSI e SANTOS 2000: 36).
Este tipo de pesquisa conta com dois tipos básicos de apoio: pesquisa
documental e pesquisa bibliográfica. Em relação à documental, são utilizados
principalmente os dados disponíveis na CASAI-Amapá e SISVAN, entre outras fontes
15
de informação disponíveis e necessárias, como, por exemplo, o Instituto Brasileiro de
Estatística e Geografia (IBGE).
Dos indivíduos são consideradas as medidas de altura e peso para o cálculo do
Índice de Massa Corpórea (IMC) que, frequentemente, é utilizado para classificar
adultos acima de 20 anos com sobrepeso e obesidade (CALLIARI & KOCHI 2010).
Este índice é obtido pela divisão do peso pelo quadrado da altura, e “pessoas com IMC
inferior a 18,5 kg/m2 têm déficit de peso, e uma população é caracterizada como
desnutrida quando 5% de seus integrantes encontram-se abaixo desse índice. Já o
excesso de peso e a obesidade são definidos por IMC iguais ou superiores a 25 kg/m2 e
30 kg/m2, respectivamente” (IBGE 2010).
Resultados
Com relação ao estado nutricional dos adultos (20 e 60 anos), entre 2008 e 2012,
os dados encontrados foram os seguintes: aumento de sobrepeso, de 30,44%, em 2008,
para 35,25%, em 2012, o que representa um aumento de 4,81%. A obesidade, no
mesmo período, também teve variação ascendente, de 14,24% para 19,33%, subindo
5,09%. No mesmo período houve uma redução da eutrofia (peso ideal), que passou de
46,44%, em 2008, para 41,89%, em 2012, decrescendo 4,55%. O baixo peso (que
agrega as categorias magreza e magreza acentuada) variou de 8,87%, em 2008, para
2,21%, em 2012, diminuindo 6,66%. Os dados apresentados nas tabelas 1 e 2, a seguir,
não deixam dúvidas acerca da trajetória ascendente das taxas de sobrepeso e obesidade
em populações indígenas brasileiras.
Tabela 1. Quantidade e valores percentuais de IMC de adultos (20-60 anos), Brasil, 2008.
Abrangência
Nacional
IMC
Baixo peso Adequado
ou Eutrófico Sobrepeso Obesidade
Total
Quantidade % Quantidade % Quantidade % Quantidade %
BRASIL 2219 8.87 11621 46.44 7617 30.44 3564 14.24 25021
Fonte: http://dabsistemas.saude.gov.br/sistemas/sisvan/relatorios_publicos/relatorio-acomp-nutri.view.php
16
Tabela 2. Quantidade e valores percentuais de IMC de adultos (20-60 anos), Brasil, 2012.
Abrangência Nacional
IMC
Baixo peso Adequado
ou Eutrófico Sobrepeso Obesidade
Total
Quantidade % Quantidade % Quantidade % Quantidade %
BRASIL 685 2.21 13005 41.89 10943 35.25 6415 20.66 31048
Fonte: http://dabsistemas.saude.gov.br/sistemas/sisvan/relatorios_publicos/relatorio-acomp-nutri.view.php.
Com relação às tabelas a seguir, que apresentam dados por regiões do país, dois
aspectos chamam a atenção das tabelas 3 e 4: 1) exiguidade ou mesmo ausência de
registros na maior parte das regiões nos anos de 2006 e 2007 (esse dado, sem dúvidas,
revela as condições precárias de funcionamento e subnotificações do SISAI, conforme
apontado anteriormente, mesmo tendo sido instituído em 1999); 2) o aumento
expressivo do sobrepeso e da obesidade quando se comparam os dados de 2008 e 2012
(Tabelas 5 e 6 ).
A partir de 2008, os dados começam a apresentar alguma consistência,
possivelmente reflexos positivos do SISVAN, criado em 2006. A tabela 5 revela que
àquele ano de 2008 o sobrepeso estava em 30,26% e a obesidade em 14,58%. Em 2012,
as taxas, respectivamente, subiram para 34,94% e 20,94%. Essa variação representa um
aumento de 4,68% nos índices de sobrepeso e 6,36% nos de obesidade.
17
Tabela 4. Quantidade e valores percentuais de IMC de adultos (20-60 anos), Região, 2006.
Abrangência
Regional IMC
Região
Baixo peso Adequado
ou Eutrófico Sobrepeso Obesidade
Total
Quantidade % Quantidade % Quantidade % Quantidade %
CENTRO-
OESTE 0 - 0 - 0 - 0 - 0
NORDESTE 0 - 0 - 1 100 0 - 1
NORTE 0 - 0 - 7 77.78 2 22.22 9
SUDESTE 0 - 1 100 0 - 0 - 1
SUL 0 - 0 - 0 - 0 - 0
TOTAL
BRASIL 0 - 1 9.09 8 72.73 2 18.18 11
Fonte: http://dabsistemas.saude.gov.br/sistemas/sisvan/relatorios_publicos/relatorio-acomp-nutri.view.php
18
Tabela 4. Quantidade e valores percentuais de IMC de adultos (20-60 anos), Região, 2007.
Abrangênci
a Regional IMC
Região
Baixo peso Adequado
ou Eutrófico Sobrepeso Obesidade
Tota
l Quantidad
e %
Quantidad
e %
Quantidad
e %
Quantidad
e %
CENTRO-
OESTE 0 - 1 50 0 - 1 50 2
NORDESTE 2 13.3
3 10 66.67 2 13.33 1 6.67 15
NORTE 0 - 1 33.33 0 - 2 66.67 3
SUDESTE 0 - 2 50 2 50 0 - 4
SUL 0 - 1 10 6 60 3 30 10
TOTAL
BRASIL 2 5.88 15
44.1
2 10
29.4
1 7
20.5
9 34
Fonte: http://dabsistemas.saude.gov.br/sistemas/sisvan/relatorios_publicos/relatorio-acomp-nutri.view.php
Tabela 4. Quantidade e valores percentuais de IMC de adultos (20-60 anos), Região, 2008
Abrangênci
a Regional IMC
Região
Baixo peso Adequado
ou Eutrófico Sobrepeso Obesidade
Total Quantidad
e %
Quantidad
e %
Quantidad
e %
Quantidad
e %
CENTRO-
OESTE 1134
16.6
4 2209 32.41 2179 31.97 1294 18.98 6816
NORDESTE 698 6.81 5585 54.46 2811 27.41 1162 11.33 10256
NORTE 470 4.64 5452 53.86 3163 31.25 1037 10.25 10122
SUDESTE 123 5.13 1222 50.94 649 27.05 405 16.88 2399
SUL 41 1.52 877 32.49 971 35.98 810 30.01 2699
TOTAL
BRASIL 2466 7.64 15345
47.5
2 9773
30.2
6 4708
14.5
8
3229
2
Fonte. http://dabsistemas.saude.gov.br/sistemas/sisvan/relatorios_publicos/relatorio-acomp-nutri.view.php
19
Tabela 1. Dados Indígenas do Índice de Massa Corporal - IMC (adulto), SISVAN, 2012.
Abrangência
Regional IMC
Região
Baixo peso Adequado
ou Eutrófico Sobrepeso Obesidade
Total Quantida
de %
Quantidade
% Quantida
de %
Quantidade
%
CENTRO-OESTE 216 1.57 4254 30.83 5294 38.37 4033 29.23 13797
NORDESTE 664 3.3 8952 44.49 6785 33.72 3722 18.5 20123
NORTE 513 2.12 11738 48.58 8567 35.46 3344 13.84 24162
SUDESTE 163 3.2 2397 46.99 1477 28.96 1064 20.86 5101
SUL 52 0.94 1378 24.86 1887 34.04 2226 40.16 5543
TOTAL
BRASIL 1608 2.34 28719 41.79 24010 34.94 14389 20.94 68726
Fonte: http://dabsistemas.saude.gov.br/sistemas/sisvan/relatorios_publicos/relatorio-acomp-nutri.view.php
Discussão
Estar com sobrepeso e mesmo ser obeso é considerado problema de saúde
pública que atinge praticamente a população humana de todo o planeta: homens,
mulheres, crianças de todos os segmentos sociais e idades e culturas. Seus efeitos
podem ser correlacionados com doenças cardiovasculares, dislipidemias, elevação e
intolerância à glicemia, osteomusculares e neoplásicas (Kümpel et. alli. 2011). As
populações indígenas do Brasil já não caçam, pescam e cultivam seu alimento com a
mesma intensidade e frequência com a qual faziam antigamente. Além disso, consomem
alimentos industrializados e com muito carboidrato e açúcar à semelhança das
populações não indígenas. Tal variação nos estilos de vida contribui sobremaneira para
a ocorrência do sobrepeso e obesidade e do incremento de doenças correlatas. Os dados
apresentados na seção resultados são o reflexo dessa realidade.
No DSEI Amapá e Norte do Pará, por exemplo, há casos de Hipertensão e
Diabetes, conforma está ilustrado na figura 1.
20
Figura 1. Coeficiente de prevalência o DSEI Amapá e Norte do Pará – Hipertensão e Diabetes,
2011.
O pólo Manga, aldeia Karipuna que dista 25 KM do município de Oiapoque,
apresentou as maiores prevalências de Hipertensão (18,8/1000 hab.). O diabetes
melittus é mais prevalente no pólo Kumenê (9,9/1000 hab.), uma das mais distantes
aldeia do centro urbano de Oiapoque. Porém, muitos casos são sub-diagnosticados e/ou
não tratados e, de acordo com I Inquérito Nacional dos Povos Indígenas, a
subnotificação ocorre principalmente na região Norte e Centro-Oeste FIALHO, MORENO
e VIEIRA (2012: 79), o que sugere que os casos podem ser maiores.
Como já alertado anteriormente, os dados apresentados no artigo são
preliminares. É preciso levantar dados sobre a região amazônica especificamente e
dados específicos das populações em questão para que os casos particulares possam ser
inseridos em contextos mais amplos, sejam regionais, nacionais e, mesmo, mundiais.
Evidentemente que um perfil nutricional e epidêmico de uma população não
pode ser analisado apenas com dados secundários e um único índice como IMC.
Questões de ordem culturais, sociais e econômicas são igualmente cruciais e precisam
ser enfrentas por meio de, por exemplo, questionários semiestruturados, a fim de obter
informações acerca da dieta, preferências alimentares, atividades físicas ligadas à
subsistência e ao lazer das pessoas.
21
Considerações finais
O objetivo específico deste artigo foi apresentar e analisar o perfil nutricional de
indígenas brasileiros adultos cadastrados no banco de dados do Sisvan. Esse artigo
apresenta dados preliminares de um projeto de pesquisa cujo objetivo geral é avaliar as
respostas bioculturais das populações indígenas do Uaçá, diante das mudanças
socioculturais e ambientais que atravessam, a partir do perfil de agravos não
transmissíveis encontrados principalmente no banco de dados do Sistema de Vigilância
Alimentar e Nutricional (SISVAN) e Casa de Saúde do Índio (CASAI-Amapá).
Os resultados encontrados evidenciam claramente a alta tendência a sobrepeso e
obesidade das populações indígenas brasileiras em todas as regiões do país. O dado
revela, por lado, a eficácia do SISVAN em apresentar radiografar um dos aspectos do
perfil de saúde indígena, a saber: o status nutricional da população. Por isso, o sistema
merece ser aprimorado. Evidentemente que os dados quantitativos apresentados revelam
um perfil geral da saúde nutricional, e neste sentido, mais pesquisa de natureza
etnográfica são necessárias para se possam aprender as dimensões socioculturais e
econômicas do fenômeno.
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