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1 A Transição da Saúde entre Populações Ameríndias Brasileiras 1 Laércio Fidelis Dias DSA-UNESP/São Paulo Resumo: Os dados e resultados apresentados neste artigo são preliminares, e fazem parte de um projeto de pesquisa mais amplo cujo objetivo geral é avaliar as respostas bioculturais das populações indígenas do Uaçá, diante das mudanças socioculturais e ambientais que atravessam, a partir do perfil de agravos não transmissíveis. A maioria dos agravos crônicos, associada à transição de estilos de vida ligados à subsistência tribal para estilos urbanos das cidades, como a obesidade, decorre em grande parte de mudanças na dieta e nos níveis de atividade física. O problema central desse projeto de pesquisa é saber se no quadro transicional no qual se encontram as populações indígenas do Uaçá, as taxas de sobrepeso e obesidade da população adulta seriam expressão da ocidentalização e modernização dos estilos de vida destas populações. O pressuposto é o de que este tipo de agravo não infeccioso seria mais prevalente em localidades com estilos de vida mais próximos dos de centros urbanos. E seria menos prevalente onde predominam as atividades de subsistência tradicionais indígenas. Do ponto de vista metodológico trata-se de uma pesquisa descritiva que se vale de dados de pesquisa documental em bancos de dados oficiais, pesquisa bibliográfica e etnográfica: dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) e Casa de Saúde do Índio (CASAI-Amapá), além do Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE). Especificamente em relação a este artigo, o objetivo é apresentar e analisar o perfil nutricional de indígenas brasileiros de vinte a sessenta anos cadastrados no banco de dados do SISVAN. Palavras-chave: Antropologia Médica; Antropologia Nutricional; Obesidade; Transição da Saúde; Índios sul-americanos. 1 “Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de agosto de 2014, Natal/RN.”

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Page 1: A Transição da Saúde entre Populações Ameríndias Brasileiras1 · 2014-06-06 · 1 A Transição da Saúde entre Populações Ameríndias Brasileiras1 Laércio Fidelis Dias DSA-UNESP/São

1

A Transição da Saúde entre Populações Ameríndias Brasileiras1

Laércio Fidelis Dias

DSA-UNESP/São Paulo

Resumo: Os dados e resultados apresentados neste artigo são preliminares, e fazem

parte de um projeto de pesquisa mais amplo cujo objetivo geral é avaliar as respostas

bioculturais das populações indígenas do Uaçá, diante das mudanças socioculturais e

ambientais que atravessam, a partir do perfil de agravos não transmissíveis. A maioria

dos agravos crônicos, associada à transição de estilos de vida ligados à subsistência

tribal para estilos urbanos das cidades, como a obesidade, decorre em grande parte de

mudanças na dieta e nos níveis de atividade física. O problema central desse projeto de

pesquisa é saber se no quadro transicional no qual se encontram as populações

indígenas do Uaçá, as taxas de sobrepeso e obesidade da população adulta seriam

expressão da ocidentalização e modernização dos estilos de vida destas populações. O

pressuposto é o de que este tipo de agravo não infeccioso seria mais prevalente em

localidades com estilos de vida mais próximos dos de centros urbanos. E seria menos

prevalente onde predominam as atividades de subsistência tradicionais indígenas. Do

ponto de vista metodológico trata-se de uma pesquisa descritiva que se vale de dados de

pesquisa documental em bancos de dados oficiais, pesquisa bibliográfica e etnográfica:

dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) e Casa de Saúde do

Índio (CASAI-Amapá), além do Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE).

Especificamente em relação a este artigo, o objetivo é apresentar e analisar o perfil

nutricional de indígenas brasileiros de vinte a sessenta anos cadastrados no banco de

dados do SISVAN.

Palavras-chave: Antropologia Médica; Antropologia Nutricional; Obesidade;

Transição da Saúde; Índios sul-americanos.

1 “Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de

agosto de 2014, Natal/RN.”

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Introdução

As populações ameríndias que habitam a Amazônia brasileira tem sofrido o

impacto de grandes mudanças no meio ambiente, na ecologia, organização social e

econômica desde o período colonial, passando pelo Império, até a República dos dias

atuais. Por isso a região é um campo privilegiado para estudar como estas populações

respondem à transição de um estilo de vida predominantemente baseado em atividades

de subsistência, para outro estilo mais “ocidentalizado”, tomando como referência o

processo saúde e doença. Este processo caracteriza uma das facetas de um sistema

maior no qual os indivíduos interagem com diferentes fatores ambientais e

socioculturais durante a rotina diária de vida. Os fatores sociocultuais atuam como

mediadores entre indivíduos e o meio ambiente, e podem favorecer ou impedir o

adoecimento de indivíduos ou populações. Neste sentido, o quadro epidemiológico de

uma população pode ser visto como resultante da interação entre uma gama de fatores

de ordem biológica, ambiental e sociocultural.

As intensas mudanças socioculturais pelas quais as sociedades ameríndias têm

passado devem-se, especialmente, às políticas oficiais para desenvolver e integrar

economicamente a região ao Centro Sul brasileiros, desde o século XVIII. São

mudanças que alteram os modos de vida dessas populações, seja pela introdução de

novos patógenos que ocasionam graves epidemias; seja por usurpar territórios,

dificultando ou inviabilizando a subsistência; e/ou devido à perseguição e morte de

indivíduos ou mesmo comunidades inteiras. Atualmente outros desafios à saúde

indígena também emergem: doenças crônicas não-transmissíveis, contaminação

ambiental, dificuldades de sustentabilidade alimentar etc. (SANTOS e COIMBRA JR. 2005:

13). O processo saúde e doença representa um registro importante para avaliar a

qualidade dos ajustes e das respostas populacionais a estas novas realidades. (SANTOS e

COIMBRA JR. 2005: 13; SILVA 2007).

Entretanto, o perfil epidemiológico das populações indígenas brasileira é muito

pouco conhecido. As razões para a carência de conhecimento podem ser creditadas: aos

poucos estudos sobre a temática; à ausência de inquéritos e censos e à imensa

precariedade dos sistemas de informação sobre morbidade e mortalidade. Qualquer

discussão sobre o processo saúde e doença de populações indígenas, além de considerar

as dinâmicas epidemiológicas e demográficas, também precisa levar em conta a extensa

diversidade sociocultural destes povos, bem como a diversidade de experiências

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históricas de interação com as frentes de expansão da sociedade nacional. (SANTOS e

COIMBRA JR. 2005: 13).

Os dados atuais disponíveis não permitem traçar um perfil epidemiológico

satisfatório acerca dos povos indígenas brasileiros, sobretudo porque faltam dados

quantitativos demográficos e de morbidade e mortalidade que sustentem análises

abrangentes e satisfatórias (idem). Com base nos poucos dados disponíveis, não

obstante, é possível afirmar que as condições de saúde das populações indígenas

brasileiras são precárias e essas populações se encontram em situação ainda mais crítica

que a de outros segmentos da sociedade nacional (COIMBRA JR. & SANTOS, 2000;

COIMBRA JR. et al., 2002; FUNASA, 2002; SANTOS & COIMBRA JR., 1994; SANTOS &

ESCOBAR, 2001)2.

O impacto das mudanças socioculturais, econômicas e ambientais, que resulta da

expansão e consolidação de frentes demográficas e econômicas da sociedade nacional,

pode ser percebido no perfil epidemiológico, demográfico, nutricional (subsistência e

segurança nutricional) e nos recursos terapêuticos. Cada um destes quatro aspectos

podem ser estudos separadamente. Porém, uma abordagem sistêmica revela o quanto

cada um deles está interligado ao outro. Por exemplo: quando há um incremento na

incidência de uma doença, o que representa uma mudança epidemiológica, a taxa de

óbito entre as crianças pode ser maior que em outros grupos etários, levando, assim, a

uma mudança demográfica (MCELROY&TOWNSEND 1996: 287). Dependendo da doença

que cresce, o tratamento xamânico e o uso de remédios caseiros podem não ser

eficiente, o que conduz indivíduos e a população a recorrer a outros tratamentos,

provocando alterações nos recursos terapêuticos (idem).

Tanto no Brasil como em outras partes do mundo, as doenças infecciosas têm

ocupado lugar de destaque no perfil epidemiológico indígena. Estas doenças infecciosas

continuam a ser prevalentes, mas existem fortes indícios de que os agravos à saúde não

transmissíveis, como obesidade, hipertensão e diabetes mellitus, vêm se expressando

com mais intensidade, configurando um quadro de sobreposição de perfis

epidemiológicos (SANTOS e COIMBRA JR. 2005: 8). A hipótese explicativa para este

fenômeno aponta para as mudanças nos estilos de vida indígena. Com relação à

alimentação, o consumo de alimentos processados implica uma dieta mais calórica, rica

2 O 1º Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Povos Indígenas, realizado entre 2008 e 2009,

confirma este quadro. O Levantamento revela, por exemplo, que a família indígena típica tem mãe obesa

e que 8 em 10 bebês são anêmicos (COIMBRA JR. 2009).

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em sódio e açúcar, e pobre em fibras. Estas mudanças nos hábitos alimentares,

associadas a níveis menos intensos de atividade física favorecem o surgimento da

obesidade, doenças cardiovasculares e metabólicas (COIMBRA JR. 2009; FIALHO,

MORENO E VIEIRA 2011: 78). Além disso, alguns estudos indicam a existência de

suscetibilidade indígena à obesidade, dislipidemia e diabetes (MCELROY&TOWNSEND

1996: 233; FIALHO, MORENO E VIEIRA 2011: 78-79).

Assim sendo, o problema central deste artigo é dar os primeiros passos para

enfrentar para a seguinte questão: no quadro transicional no qual se encontram s

populações indígenas do Uaçá, as taxas de sobrepeso e obesidade da população adulta

seriam expressão da ocidentalização (westernized) (SPONSEL 1995) e modernizado

(modernization) dos estilos de vida destas populações (MCELROY e TOWNSEND 1996:

334)? O pressuposto é o de que este tipo de agravo não infeccioso, estreitamente ligado

à dieta e atividade física, seria mais prevalente nas localidades com estilos de vida mais

ocidentalizados, próximos aos centros urbanos e mais integrados à vida cotidiana da

cidade. E seria menos prevalente onde predominam as atividades de subsistência

tradicionais indígenas.

Com relação à hipertensão e diabetes mellitus, por exemplo, o Relatório

Preliminar, elaborado por FIALHO, MORENO e VIEIRA (2012: 79), aponta prevalência de

hipertensão no pólo Manga (Karipuna) na ordem de 18,8/1000 habitantes. Esta aldeia é

uma das mais próximas do Oiapoque, e a relação com a vida da cidade é bastante

intensa. No polo Kumenê (Palikur), por outro, que é um dos mais distantes de

Oiapoque, a prevalência é de diabetes melittus, 9,9/1000 habitantes. Esses dados sobre

hipertensão e diabetes mellitus são relevantes porque são doenças fortemente

correlacionadas à obesidade.

A relevância de uma pesquisa como esta pode ser dividida em dois grupos: um

teórico, na medida em que possibilita aprofundar o conhecimento dos mecanismos

bioculturais de adaptação das populações humanas em diferentes ecossistemas

(BAKER&LITTLE 1976; SILVA&CREWS 1995; COIMBRA JR. e SANTOS 2005); e outro

prático intervencionista, já que pode proporcionar informações úteis a programas de

promoção de saúde (MCELROY e TOWNSEND 1996; HAHN 1999).

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PROCESSO SAÚDE DOENÇA NO UAÇÁ

Karipuna, Galibi-Marworno, Palikur e Galibi Kali´na fazem uso de vários

recursos terapêuticos, tanto nas aldeias quanto nas cidades vizinhas próximas das Terras

Indígenas (TIs). Nas aldeias, recorrem a tratamentos à base de ervas; às enfermarias,

onde são assistidos por auxiliares de enfermagem indígenas; e a especialistas

terapêuticos indígenas denominados de benzedores, sopradores e xamãs. Também

utilizam, como mais um recurso terapêutico, as promessas aos santos padroeiros das

aldeias. Fora das áreas, todos recorrem, principalmente, à Casa de Saúde do Índio de

Oiapoque (CASAI) e aos postos de saúde e hospitais da rede pública de saúde.

A escolha de qualquer um desses tratamentos não significa que outro seja

preterido, isto é, com bastante freqUência esses tratamentos se sobrepõem. Ao menos

abertamente, Palikur e Galibi Kali´na não fazem, hoje em dia, uso de recursos

terapêuticos ligados ao universo xamânico e aos sopradores. No caso dos Palikur,

também não realizam as festas de santos padroeiros nem recorrem a eles para solicitar

interseções terapêuticas porque são neo-pentecostais desde a década de 60 do século

XX.

A CASAI, fundada em 1988, era administrada pela Fundação Nacional do Índio

(FUNAI). Na época, havia muitas carências em vários setores: espaço físico,

medicamentos, exames laboratoriais, transporte insuficiente para os indígenas,

profissionais qualificados e alimentação. As enfermidades mais prevalentes neste

período eram as doenças diarreicas, infecções respiratórias e malária. Muitos casos

evoluíam para óbitos por causa da carência de recursos.

Entre os anos de 1997 e 1999, ocorreram mudanças que prenunciavam melhoras:

houve contratação de profissionais qualificados para suprir toda a área indígena. Esses

profissionais receberam capacitação antropológica para conhecerem os grupos indígenas

com os quais trabalhariam e, assim, realizarem o trabalho com mais eficácia. De

qualquer forma, até 1999, essa iniciativa teve poucos efeitos por causa da alta

rotatividade dos profissionais contratados, sem contar os salários defasados e,

frequentemente, atrasados.

A partir de 1999, o controle da CASAI foi passado para a Fundação Nacional de

Saúde (FUNASA)/Associação dos Povos Indígenas do Oiapoque (APIO) e várias

mudanças foram implementadas: convênios, mais recursos foram disponibilizados para

a contratação de profissionais, ampliação do espaço físico da CASAI, melhora no

suprimento de medicamentos, melhoria do transporte terrestre para remoção de

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pacientes, mais barcos tipo voadeira para o transporte fluvial, contratação de mais

motoristas, aprimoramento do sistema de comunicação via radiofonia entre a CASAI e

as aldeias, formação de pólos-base nas aldeias principais – Manga (Karipuna),

Kumarumã (Galibi-Marworno) e Kumenê (Palikur) - que passaram a contar com uma

equipe de enfermeiros, auxiliares de enfermagem, técnicos de laboratório, agentes

indígenas de saúde (AIS), agentes indígenas sanitários (AISAN) e odontólogos.

Exceção aos AIS e AISAN, os demais trabalham em regime itinerante: trinta dias em

atividade na Terra Indígena e quinze dias de descanso. Em atividade, eles realizam

visitas, tratamentos, vacinação e orientação por meio de palestras. Também recolhem

dados e encaminham pacientes em casos de emergência.

As implementações ocorridas a partir de 1999 estão inseridas na implantação dos

Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) através da Medida Provisória nº 1.911-

8 de 29 de julho de 1999, que transferiu para a FUNASA a responsabilidade exclusiva

da gestão da saúde indígena. Nos últimos seis meses daquele ano, coube à FUNASA

informar aos profissionais de saúde e aos índios da criação dos DSEIs. E até o fim de

1999, em todo o país, 34 Distritos Sanitários rapidamente tinham sido criados, bem

como, para o seu devido funcionamento, foram mobilizados recursos financeiros e

recursos humanos - médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem para o

atendimento das populações indígenas.

Os DSEIs têm organização independente das divisões estaduais e municipais,

assim como variam em tamanho e a composição étnica dos grupos que assistem. Cada

DSEI é composto por uma equipe de funcionários da FUNASA, a quem cabe a

administração e o repasse dos recursos financeiros às agências governamentais

(municípios) e não-governamentais conveniadas para que: 1) formulem e administrem

os programas específicos dentro das TI; e 2) estabeleçam uma rede de referência com os

municípios, hospitais e outras instituições para a provisão de serviços específicos dentro

e fora das áreas. (LANGDON 2004: 37-8).

De qualquer forma, apenas em 2002, houve para a CASAI-Oiapoque a

contratação de uma médica para atendimento diário, avaliação, encaminhamentos e alta.

Após dez anos da criação dos DSEIs, entretanto, não existe uma avaliação ampla do

atual modelo de saúde indígena que considere sobre seu êxito em satisfazer os

princípios da Política de Saúde Indígena Brasileira, em especial no que tange ao respeito

às diferenças culturais e à atenção diferenciada.

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Entretanto, as mudanças que visam à melhoria das condições de saúde das

populações do Uaçá esbarram, quase sempre, nos mesmos obstáculos: a alta

rotatividade dos profissionais não-indígenas, que, frequentemente, deixam as áreas sem

assistência de agentes qualificados, atraso de salário, falta de medicação adequada, falta

de transporte, de combustível, etc. Além disso, somam-se o crescimento populacional e

o aumento do fluxo de saída e entrada de índios das áreas que levam ao aparecimento de

novas doenças, nem sempre fáceis de serem controladas, sendo as mais preocupantes as

doenças sexualmente transmissíveis, com especial atenção para a AIDS.

O Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena (SIASI), criado em

1999, foi concebido, segundo a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos

Indígenas, para “subsidiar os órgãos gestores e de controle social quanto à indispensável

compatibilidade entre o diagnóstico situacional dos problemas de saúde identificados e

as prioridades estabelecidas nos níveis técnico, social e político, visando à coerência

entre ações planejadas e efetivamente executadas”.

O SIASI não tem atingido os seus fins, entretanto, devido aos problemas

estruturais e de funcionamento. Como consequência, monitorar as condições de saúde

nas aldeias indígenas torna-se uma tarefa precária (SOUSA 2007).

Nesse contexto de funcionamento precário do SIASI, em 2006, a FUNASA cria

o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) por meio da portaria N.

986. Como gestora da Saúde Indígena no subsistema do Sistema Nacional de Saúde

(SUS), cabe à FUNASA descrever e acompanhar as tendências nutricionais e

alimentares e seus fatores determinantes, colaborando com o planejamento, execução e

avaliação de políticas, programas e ações voltados para a promoção e adequação da

situação alimentar e nutricional dos povos indígenas (BRASIL 2006; BRASIL 2009).

Para compreender como os diferentes recursos terapêuticos disponíveis são

mobilizados pelas populações indígenas da região, é fundamental considerar os

contextos culturais específicos nos quais os eventos de doença são experimentados. A

grande maioria dos itinerários terapêuticos percorridos pelas populações começa a partir

de tratamentos com remédios caseiros preparados à base de ervas. Outra opção é tratar-

se com os auxiliares de enfermagem nas enfermarias das aldeias. Essa opção de

tratamento se deve ao fato de que os remédios caseiros e as enfermarias são os recursos

de acesso mais fácil, se comparados com os serviços de saúde públicos disponíveis nas

cidades.

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Persistindo as queixas iniciais, em linhas gerais, dois caminhos podem ser

tomados: aqueles que iniciaram tratamento com remédios caseiros tendem a recorrer aos

remédios das farmácias. E a recíproca também é verdadeira: malogrado o tratamento

inicial com os remédios da farmácia, a segunda opção quase sempre é o remédio

caseiro.

O tratamento oferecido pelos serviços públicos de saúde acaba sendo procurado

quando as queixas são persistentes. De qualquer forma, dependendo das queixas e das

interpretações dadas por paciente, familiares e pelo grupo, uma interpretação mais

abstrata pode ser dada. Nesses casos, a tendência é recorrer a outros especialistas

terapêuticos como os benzedores, os sopradores e os xamãs; muito raramente também

procuram centros de Umbanda nas cidades. Porém, a escolha de qualquer um destes

tratamentos não implica necessariamente o abandono do tratamento anteriormente

escolhido.

Objeto e objetivos

A pesquisa está em andamento, por isso os objetivos todos ainda não foram

atingidos. O que se realizou até o momento foi o diagnóstico do perfil nutricional de

indígenas brasileiros de vinte a sessenta anos cadastrados no banco de dados do

SISVAN.

De todo modo, no contexto mais amplo no qual se inserem os dados

preliminares que neste artigo são apresentados, o objeto da pesquisa é o perfil

epidemiológico dos agravos não transmissíveis e o objetivo geral é avaliar as respostas

bioculturais das populações indígenas do Uaçá, diante das mudanças socioculturais e

ambientais que atravessam, a partir do perfil de agravos não transmissíveis. A maioria

dos agravos crônico, associada à transição de estilos de vida ligados à subsistência tribal

para estilos urbanos das cidades, como a obesidade, decorre em grande parte de

mudanças na dieta e nos níveis de atividade física.

Os objetivos específicos são: verificar a distribuição das doenças crônicas não

transmissíveis; verificar a distribuição do sobrepeso e a obesidade3 na população adulta,

a partir dos dados disponíveis no SISVAN e na CASAI-Oiapoque e CASAI-Macapá.

3 Segundo dados do SISVAN, há seis categorias utilizadas para classificar o status nutricional: magreza

acentuada; magreza; eutrofia; sobrepeso; obesidade (BRASIL 2013). Essas categorias são utilizadas como

referência no presente artigo.

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A área de estudo faz parte do Distrito Sanitário Indígena (DSEI) do Amapá e

Norte do Pará, na qual habitam as quatro populações indígenas: Karipuna, Galibi-

Marworno, Palikur e Gali Kali´na.

Fundamento teórico

Na história da antropologia, os estudos sobre religião, magia, rito, feitiçaria,

feiticeiros, xamãs e pajés praticamente se confundem com a própria história da

disciplina. Os trabalhos de FRAZER (1890[1980]) e TYLOR (1871) sobre religião,

EVANS-PRITCHARD (1937) sobre etiologia, MALINOWSKI (1948) e MAUSS e HUBERT

(1902-3[2003]) sobre magia, e especificamente d e MAUSS (1902-3[2003]), a respeito

das técnicas corporais, apresentam as primeiras discussões sobre os temas na

antropologia. O traço predominante dessas discussões era a ausência de uma orientação

teórica que visasse à construção de um campo epistêmico acerca do tema xamanismo na

antropologia, e que desse destaque à dimensão terapêutica desta atividade. A

preocupação em descrever religião, magia, rito, feitiçaria, era, fundamentalmente,

comparar modos de pensamento “primitivo“ com os ditos civilizados (LANGDON 1994a:

3). KLEINMAN (1980: 25), POLLARK-ELTZ (1987: 12) e LANGDON (1994a) apontam que

os primeiros estudos a este respeito tinham a preocupação de salientar as diferenças

entre as “medicinas primitivas” e a biomedicina.

RIVERS (1924) é apontado por KLEINMAN (1980: 25), POLLARK-ELTZ (1987: 12)

e LANGDON (1994a), entre outros, como o primeiro antropólogo a empreender uma

pesquisa na “área da saúde” em antropologia, e neste sentido dar os primeiros passos

para construção de um campo epistêmico próprio, que tenta caracterizar a “medicina

primitiva” segundo “categorias de pensamento mágico, religioso ou naturalista”, à

época, estabelecidas por FRAZER (1890[1980]) e TYLOR (1871). O autor (RIVERS:1924:

7) acreditava que o tratamento e o diagnóstico na “medicina primitiva” eram deduzidos

a partir da etiologia, da mesma forma como ocorre na biomedicina. Assim, RIVERS

(1929: 29;51) entendia as “medicinas primitivas” como expressões particulares de

modos de pensamento lógico, uma vez que o tratamento da doença estaria imbricado à

identificação de sua causa. Por conseguinte, apoiando-se nas categorias de pensamento

estabelecidas por FRAZER (1890[1980]) e TYLOR (1870), as crenças envolvidas na

“medicina mágica” atribuiriam como causas das doenças a manipulação mágica

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realizada por feiticeiros, xamãs e pajés. Os tratamentos e as técnicas empregados para

atuarem sobre essas causas seriam designados como “manipulações mágicas” (feitiçaria,

malefício). Na “medicina religiosa”, por sua vez, as doenças seriam provocadas por

causas sobrenaturais, sendo os tratamentos de cura empregados também sobrenaturais.

Por fim, a “medicina naturalista” operaria em termos empíricos, já que as causas das

doenças seriam resultado da ação de forças naturais, e os tratamentos basear-se-iam no

uso de técnicas naturais como ervas, cirurgias etc.

LANGDON (1996a: 3) considera a abordagem de RIVERS (1924) relativista por

causa do suposto de que o sistema médico está interligado à cultura mais abrangente,

sendo necessário fazer referência aos outros aspectos culturais para entendê-lo. Esse

princípio de RIVERS (1924) continua válido atualmente, bem como a identificação da

etiologia como entrada destacada para a compreensão dos procedimentos de diagnóstico

e terapia.

Mas o teor evolucionista ao estilo do século XIX da antropologia de RIVERS

(1924: 120) está presente na afirmação de que os modos de pensar da “medicina

primitiva” eram qualitativamente opostos aos da biomedicina. A dinâmica reconhecida

atualmente como essencial à noção simbólica de cultura (GEERTZ 1989), na perspectiva

de RIVERS (idem), cedia lugar a uma visão folclórica e estática de “medicina primitiva”.

As mudanças que porventura ocorressem nessa medicina dever-se-iam à difusão de

elementos empíricos e racionais provenientes da biomedicina, que, de qualquer forma,

tendiam a se degenerar numa interpretação mágica ou religiosa.

Realizando estudos comparativos sobre os conceitos de doença na “medicina

primitiva” a partir das crenças etiológicas, CLEMENTS (1932) é apontado por Langdon

(1996a) como outro pioneiro dos estudos de saúde em antropologia. Com o objetivo de

mapear a distribuição dessas crenças entre os “povos primitivos”, CLEMENTS (1932)

reduziu as crenças etiológicas a cinco categorias causais: feitiçaria, quebra de tabu,

intrusão de um objeto no corpo, intrusão do espírito e perda da alma. A partir daí, o

antropólogo fez uma reconstrução histórica de como essas categorias de crenças

apareciam nas diferentes culturas, apoiando-se numa perspectiva difusionista.

Traçando paralelos de uma cultura para outra, desconsiderando o princípio

importante estabelecido anteriormente por RIVERS (1924) de que os diferentes

elementos estão articulados com a cultura e sociedade em geral, a pesquisa de

CLEMENTS (1932) assume ares demasiado descritivos, e a reconstrução histórica que ele

faz é unilinear, à semelhança dos evolucionistas do século XlX.

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LANGDON (1996a: 5), por sua vez, identifica na lógica interna dos conceitos

etiológicos de CLEMENTS (1932) certa confusão conceptual, uma vez que as cinco

categorias identificadas pelo autor contêm crenças sobre “causalidade e mecanismo”,

representando tanto o “porquê” quanto o “como” da doença. CLEMENTS (1932) conserva

ainda a ideia presente nos trabalhos de RIVERS (1924) de que a “medicina primitiva” é

qualitativamente diferente da biomedicina.

ACKERKNECHT (1942,1946,1947b), como RIVERS (1924) e CLEMENTS (1932),

também distingue a “medicina primitiva” da biomedicina em termos qualitativos.

Considerado o fundador da antropologia médica nos Estados Unidos, ACKERKNECHT foi

bastante influenciado pela noção de “configuração cultural” de BENEDICT (1983). A

contribuição para os estudos de saúde em antropologia se deu através da análise de

dados etnográficos sobre cirurgia primitiva, xamanismo, psicopatologia, conhecimentos

anatômicos, diagnósticos e tratamentos, a relação entre os sistemas médicos com a

cultura em sociedades específicas (LANGDON 1996a).

ACKERKNECHT (1947a) trabalhou com a noção de que a doença não é um

fenômeno puramente biológico, mas que o seu reconhecimento, por parte do próprio

doente e sua família, o diagnóstico e o tratamento, depende de fatores socioculturais.

Mas na medida em que mantém a perspectiva evolucionista de seus predecessores,

classificou a “medicina primitiva” como primariamente “mágico-religiosa”, e a

biomedicina como empírica. A lógica estaria presente na “medicina primitiva” porque o

tratamento é escolhido em função da causa que se atribui à doença. Mas o qualitativo

“racional” não se aplicaria a esta medicina porque a lógica na qual se pauta não se funda

em premissas empíricas de observação e teste, procedimentos próprios da ciência e da

biomedicina.

LANGDON (1996a: 9) chama a atenção para o fato de que as críticas endereçadas

aos trabalhos de RIVERS (1979), CLEMENTS (1924) e ACKERKNECHT

(1942a,1942b,1946,1947a,1947b,1971) não diminuem as contribuições importantes que

eles trouxeram para a constituição de um campo específico de estudos sobre saúde em

antropologia e para uma abordagem adequada do xamanismo. Na medida em que foram

“homens de sua época”, a antropologia que fizeram incorporou os conceitos, métodos,

as teorias e preocupações próprias de um período em que o “outro” era apreendido

como atrasado, ignorante, cujo pensamento se encontrava obliterado por crenças

mágicas e religiosas, sem fundamento empírico (LANGDON 1996a).

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O principal legado de RIVERS (1924), CLEMENTS (1932) e ACKERKNECHT

(1942a,1942b,1946,1947a,1947b,1971) aos estudos de saúde e doença em antropologia

foi o reconhecimento de que os contextos socioculturais específicos são o palco onde as

práticas e as crenças ligadas aos cuidados com a saúde assumem feições de um sistema

lógico conceitual articulado entre si. Além disso, RIVERS (1924), CLEMENTS (1932),

ACKERKNECHT (1942a,1942b,1971), segundo BUCHILLET (1991a: 25), e EVANS-

PRITCHARD (1937), já haviam enfatizado a diferença significativa existente entre as

concepções de doença ocidental, indígena e tradicional. No primeiro caso, a doença

seria pensada como resultado de uma anomalia da estrutura e/ ou função de um órgão

ou de um determinado sistema orgânico. Os sinais da anomalia ou disfunção,

apresentados pelos pacientes como queixas, seriam indicadores de doença. No segundo

caso, a aparição de uma doença, assim como o advento de um infortúnio individual ou

coletivo, inscrever-se-ia num dispositivo de explicação que remete ao conjunto de

representações do homem, de suas atividades em sociedade e com seu meio natural. A

doença nas sociedades indígenas e tradicionais não seria pensada fora de sua

singularidade pessoal e fora do contexto específico que preside.

A expressão antropologia médica desenvolveu-se principalmente nos países de

origem anglo-saxônica, em especial Estados Unidos, Inglaterra e Canadá, para designar

pesquisas sobre saúde humana, abordadas a partir de uma perspectiva antropológica.

Sob essa designação genérica, concebida como uma subdivisão da antropologia,

constituíram-se quatro linhas de pesquisas com implicações teóricas distintas

(BUCHILLET 1991a:22; FABREGA 1972; GENEST 1978; MCELROY e TOWNSEND 1996:

64-69).

A primeira linha de pesquisa refere-se aos estudos da relação entre a incidência e

a distribuição das doenças epidêmicas ou endêmicas e as variantes ambientais e/ ou

socioculturais. Esse tipo de pesquisa possui uma vocação prática bastante acentuada, na

medida em que a constatação de que existe relação entre certos hábitos e doenças

específicas possibilita o fornecimento de subsídios a programas de intervenção.

A segunda está ligada aos estudos dos cuidados oferecidos nas instituições

médicas: hospitais, postos de saúde etc. Esses estudos procuram analisar as relações

entre médicos e pacientes, entre as diferentes categorias de pessoal que fazem parte da

instituição médica, e entre os pacientes e a organização dos cuidados médicos

oferecidos.

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13

Uma terceira linha de pesquisa é representada pelos estudos de problemas de

saúde de populações específicas como idosos, mulheres, crianças, homossexuais etc.

Dessa forma, o foco principal da abordagem recai sobre os comportamentos dos

indivíduos (BUCHILLET 1991a:23). Estariam inseridos nessa linha de pesquisa

problemas sanitários contemporâneos como a AIDS.

Uma quarta linha de pesquisa, designada de etnomedicina, preocupa-se em

estudar as práticas, as crenças e os conhecimentos terapêuticos relativos às etiologias,

aos métodos de diagnósticos e aos tratamentos das doenças produzidos por populações

autóctones que não se filiam ao quadro conceptual da biomedicina (HUGHES 1968). Por

procurar estabelecer relações entre as representações ligadas às doenças e à organização

social das populações consideradas, a etnomedicina apresenta-se como a tendência mais

antropológica dentre as várias linhas de pesquisa que englobam a designação genérica

de “antropologia médica” (BUCHILLET 1991a:23). O enfoque dessa abordagem recai na

identificação e classificação das doenças segundo o grupo estudado, reconhecendo que

as queixas que as definem, assim como as diferentes maneiras de classificá-las

representam signos de doenças que podem variar de cultura para cultura, não

correspondendo, necessariamente, às categorias da biomedicina (LANGDON 1996a:12;

LANGDON e MACLENNAN 1979).

A antropologia médica ecológica, na qual se insere este projeto de pesquisa, faz

parte da primeira linha de pesquisa apresentada anteriormente. Ela ganha destaque a

partir dos anos de 1970, notadamente por causa dos resultados de pesquisa de ALLAND

(1970). Os trabalhos deste autor avaliam o impacto global sobre a variabilidade cultural

do comportamento humano enquanto uma resposta evolutiva na forma de adaptação

eco-ambiental. Neste sentido, ALLAND (1970) direciona as suas investigações para

avaliar os impactos do processo saúde/doença na cultura, na constituição orgânica

humana e no meio ambiente.

A abordagem médica ecológica integra-se, originalmente, nos estudos sobre

epidemiologia humana. Como resultado desta inserção teórica, o princípio teórico

metodológico essencial que a orienta é o de que a adaptação humana ao meio se dá por

meio de recursos bioculturais. Ou seja, biologia e cultura são os termos que fundam o

idioma da adaptação humana. É neste sentido que compreende, conforme alerta HAHN

(1995), o porquê das teorias ambientais estarem alicerçadas na utilização da abordagem

ecológica sobre o tema da doença tomando em consideração os elementos culturais.

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Dentro desta abordagem médica ecológica, segundo MCELROY e TOWNSEND

(1996a) a noção de adaptação define que são as mudanças comportamentais e biológicas

existentes individual ou coletivamente que garantem a sobrevivência dentro de certo

quadro de mudanças ecológicas e socioculturais, sobretudo por meio de estratégias

adaptativas sociais e culturais. Neste artigo de síntese teórica, MCELROY (1996a)

sustenta que a abordagem ecológica, ou ecologia médica, permite determinar padrões de

doenças tanto no plano biológico quanto cultural. Já que, assim como os processos

adaptativos de domínio fisiológico ou genético, os conhecimentos e as práticas culturais

são vistos como recursos de respostas bioculturais a problemas de adaptação ambiental.

Juntamente com transformações de natureza eminentemente biológica, a cultura

atua como parte de uma estratégia que contribuiu para a sobrevivência humana nos

diferentes ambientes terrestres. Por meio de variados mecanismos de atuação

individuais e coletivos, a humanidade adaptou-se ao meio. Notadamente devido à

plasticidade adaptativa da ecologia humana (MORAN 1994: 25), entre outras vias,

devido à produção de mecanismos sociais e simbólicos, que possibilitou a progressão

demográfica humana e seu bem-estar, principalmente por causa do controle sobre o

meio, como tentativas de interpretação e domínio da natureza (LEAL 2009:71).

Em síntese, segundo MCELROY e TOWNSEND (1996b:12) a teoria ecológica

possuiu três premissas analíticas e uma orientação metodológica básica: 1) a saúde é

indicador de boa qualidade adaptativa, por conseguinte, a doença revela desequilíbrio

adaptativo; 2) a evolução das doenças humanas acompanha a evolução biocultural; 3) a

categoria doença é universal, assim sendo há possibilidade de comparação de suas taxas

no espaço e no tempo, além de correlacionar tais taxas a mudanças adaptativas nos

padrões de vida e subsistência (MCELROY e TOWNSEND (1996b:7; LEAL 2009: 71).

Metodologia

É pesquisa de natureza descritiva, que observa, registra, analisa e relaciona fatos

ou fenômenos, sem que haja manipulação, controle ou interferência das possíveis

variáveis interferentes na ocorrência estudada (JARDELINO, ROSSI e SANTOS 2000: 36).

Este tipo de pesquisa conta com dois tipos básicos de apoio: pesquisa

documental e pesquisa bibliográfica. Em relação à documental, são utilizados

principalmente os dados disponíveis na CASAI-Amapá e SISVAN, entre outras fontes

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de informação disponíveis e necessárias, como, por exemplo, o Instituto Brasileiro de

Estatística e Geografia (IBGE).

Dos indivíduos são consideradas as medidas de altura e peso para o cálculo do

Índice de Massa Corpórea (IMC) que, frequentemente, é utilizado para classificar

adultos acima de 20 anos com sobrepeso e obesidade (CALLIARI & KOCHI 2010).

Este índice é obtido pela divisão do peso pelo quadrado da altura, e “pessoas com IMC

inferior a 18,5 kg/m2 têm déficit de peso, e uma população é caracterizada como

desnutrida quando 5% de seus integrantes encontram-se abaixo desse índice. Já o

excesso de peso e a obesidade são definidos por IMC iguais ou superiores a 25 kg/m2 e

30 kg/m2, respectivamente” (IBGE 2010).

Resultados

Com relação ao estado nutricional dos adultos (20 e 60 anos), entre 2008 e 2012,

os dados encontrados foram os seguintes: aumento de sobrepeso, de 30,44%, em 2008,

para 35,25%, em 2012, o que representa um aumento de 4,81%. A obesidade, no

mesmo período, também teve variação ascendente, de 14,24% para 19,33%, subindo

5,09%. No mesmo período houve uma redução da eutrofia (peso ideal), que passou de

46,44%, em 2008, para 41,89%, em 2012, decrescendo 4,55%. O baixo peso (que

agrega as categorias magreza e magreza acentuada) variou de 8,87%, em 2008, para

2,21%, em 2012, diminuindo 6,66%. Os dados apresentados nas tabelas 1 e 2, a seguir,

não deixam dúvidas acerca da trajetória ascendente das taxas de sobrepeso e obesidade

em populações indígenas brasileiras.

Tabela 1. Quantidade e valores percentuais de IMC de adultos (20-60 anos), Brasil, 2008.

Abrangência

Nacional

IMC

Baixo peso Adequado

ou Eutrófico Sobrepeso Obesidade

Total

Quantidade % Quantidade % Quantidade % Quantidade %

BRASIL 2219 8.87 11621 46.44 7617 30.44 3564 14.24 25021

Fonte: http://dabsistemas.saude.gov.br/sistemas/sisvan/relatorios_publicos/relatorio-acomp-nutri.view.php

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Tabela 2. Quantidade e valores percentuais de IMC de adultos (20-60 anos), Brasil, 2012.

Abrangência Nacional

IMC

Baixo peso Adequado

ou Eutrófico Sobrepeso Obesidade

Total

Quantidade % Quantidade % Quantidade % Quantidade %

BRASIL 685 2.21 13005 41.89 10943 35.25 6415 20.66 31048

Fonte: http://dabsistemas.saude.gov.br/sistemas/sisvan/relatorios_publicos/relatorio-acomp-nutri.view.php.

Com relação às tabelas a seguir, que apresentam dados por regiões do país, dois

aspectos chamam a atenção das tabelas 3 e 4: 1) exiguidade ou mesmo ausência de

registros na maior parte das regiões nos anos de 2006 e 2007 (esse dado, sem dúvidas,

revela as condições precárias de funcionamento e subnotificações do SISAI, conforme

apontado anteriormente, mesmo tendo sido instituído em 1999); 2) o aumento

expressivo do sobrepeso e da obesidade quando se comparam os dados de 2008 e 2012

(Tabelas 5 e 6 ).

A partir de 2008, os dados começam a apresentar alguma consistência,

possivelmente reflexos positivos do SISVAN, criado em 2006. A tabela 5 revela que

àquele ano de 2008 o sobrepeso estava em 30,26% e a obesidade em 14,58%. Em 2012,

as taxas, respectivamente, subiram para 34,94% e 20,94%. Essa variação representa um

aumento de 4,68% nos índices de sobrepeso e 6,36% nos de obesidade.

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Tabela 4. Quantidade e valores percentuais de IMC de adultos (20-60 anos), Região, 2006.

Abrangência

Regional IMC

Região

Baixo peso Adequado

ou Eutrófico Sobrepeso Obesidade

Total

Quantidade % Quantidade % Quantidade % Quantidade %

CENTRO-

OESTE 0 - 0 - 0 - 0 - 0

NORDESTE 0 - 0 - 1 100 0 - 1

NORTE 0 - 0 - 7 77.78 2 22.22 9

SUDESTE 0 - 1 100 0 - 0 - 1

SUL 0 - 0 - 0 - 0 - 0

TOTAL

BRASIL 0 - 1 9.09 8 72.73 2 18.18 11

Fonte: http://dabsistemas.saude.gov.br/sistemas/sisvan/relatorios_publicos/relatorio-acomp-nutri.view.php

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Tabela 4. Quantidade e valores percentuais de IMC de adultos (20-60 anos), Região, 2007.

Abrangênci

a Regional IMC

Região

Baixo peso Adequado

ou Eutrófico Sobrepeso Obesidade

Tota

l Quantidad

e %

Quantidad

e %

Quantidad

e %

Quantidad

e %

CENTRO-

OESTE 0 - 1 50 0 - 1 50 2

NORDESTE 2 13.3

3 10 66.67 2 13.33 1 6.67 15

NORTE 0 - 1 33.33 0 - 2 66.67 3

SUDESTE 0 - 2 50 2 50 0 - 4

SUL 0 - 1 10 6 60 3 30 10

TOTAL

BRASIL 2 5.88 15

44.1

2 10

29.4

1 7

20.5

9 34

Fonte: http://dabsistemas.saude.gov.br/sistemas/sisvan/relatorios_publicos/relatorio-acomp-nutri.view.php

Tabela 4. Quantidade e valores percentuais de IMC de adultos (20-60 anos), Região, 2008

Abrangênci

a Regional IMC

Região

Baixo peso Adequado

ou Eutrófico Sobrepeso Obesidade

Total Quantidad

e %

Quantidad

e %

Quantidad

e %

Quantidad

e %

CENTRO-

OESTE 1134

16.6

4 2209 32.41 2179 31.97 1294 18.98 6816

NORDESTE 698 6.81 5585 54.46 2811 27.41 1162 11.33 10256

NORTE 470 4.64 5452 53.86 3163 31.25 1037 10.25 10122

SUDESTE 123 5.13 1222 50.94 649 27.05 405 16.88 2399

SUL 41 1.52 877 32.49 971 35.98 810 30.01 2699

TOTAL

BRASIL 2466 7.64 15345

47.5

2 9773

30.2

6 4708

14.5

8

3229

2

Fonte. http://dabsistemas.saude.gov.br/sistemas/sisvan/relatorios_publicos/relatorio-acomp-nutri.view.php

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Tabela 1. Dados Indígenas do Índice de Massa Corporal - IMC (adulto), SISVAN, 2012.

Abrangência

Regional IMC

Região

Baixo peso Adequado

ou Eutrófico Sobrepeso Obesidade

Total Quantida

de %

Quantidade

% Quantida

de %

Quantidade

%

CENTRO-OESTE 216 1.57 4254 30.83 5294 38.37 4033 29.23 13797

NORDESTE 664 3.3 8952 44.49 6785 33.72 3722 18.5 20123

NORTE 513 2.12 11738 48.58 8567 35.46 3344 13.84 24162

SUDESTE 163 3.2 2397 46.99 1477 28.96 1064 20.86 5101

SUL 52 0.94 1378 24.86 1887 34.04 2226 40.16 5543

TOTAL

BRASIL 1608 2.34 28719 41.79 24010 34.94 14389 20.94 68726

Fonte: http://dabsistemas.saude.gov.br/sistemas/sisvan/relatorios_publicos/relatorio-acomp-nutri.view.php

Discussão

Estar com sobrepeso e mesmo ser obeso é considerado problema de saúde

pública que atinge praticamente a população humana de todo o planeta: homens,

mulheres, crianças de todos os segmentos sociais e idades e culturas. Seus efeitos

podem ser correlacionados com doenças cardiovasculares, dislipidemias, elevação e

intolerância à glicemia, osteomusculares e neoplásicas (Kümpel et. alli. 2011). As

populações indígenas do Brasil já não caçam, pescam e cultivam seu alimento com a

mesma intensidade e frequência com a qual faziam antigamente. Além disso, consomem

alimentos industrializados e com muito carboidrato e açúcar à semelhança das

populações não indígenas. Tal variação nos estilos de vida contribui sobremaneira para

a ocorrência do sobrepeso e obesidade e do incremento de doenças correlatas. Os dados

apresentados na seção resultados são o reflexo dessa realidade.

No DSEI Amapá e Norte do Pará, por exemplo, há casos de Hipertensão e

Diabetes, conforma está ilustrado na figura 1.

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Figura 1. Coeficiente de prevalência o DSEI Amapá e Norte do Pará – Hipertensão e Diabetes,

2011.

O pólo Manga, aldeia Karipuna que dista 25 KM do município de Oiapoque,

apresentou as maiores prevalências de Hipertensão (18,8/1000 hab.). O diabetes

melittus é mais prevalente no pólo Kumenê (9,9/1000 hab.), uma das mais distantes

aldeia do centro urbano de Oiapoque. Porém, muitos casos são sub-diagnosticados e/ou

não tratados e, de acordo com I Inquérito Nacional dos Povos Indígenas, a

subnotificação ocorre principalmente na região Norte e Centro-Oeste FIALHO, MORENO

e VIEIRA (2012: 79), o que sugere que os casos podem ser maiores.

Como já alertado anteriormente, os dados apresentados no artigo são

preliminares. É preciso levantar dados sobre a região amazônica especificamente e

dados específicos das populações em questão para que os casos particulares possam ser

inseridos em contextos mais amplos, sejam regionais, nacionais e, mesmo, mundiais.

Evidentemente que um perfil nutricional e epidêmico de uma população não

pode ser analisado apenas com dados secundários e um único índice como IMC.

Questões de ordem culturais, sociais e econômicas são igualmente cruciais e precisam

ser enfrentas por meio de, por exemplo, questionários semiestruturados, a fim de obter

informações acerca da dieta, preferências alimentares, atividades físicas ligadas à

subsistência e ao lazer das pessoas.

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21

Considerações finais

O objetivo específico deste artigo foi apresentar e analisar o perfil nutricional de

indígenas brasileiros adultos cadastrados no banco de dados do Sisvan. Esse artigo

apresenta dados preliminares de um projeto de pesquisa cujo objetivo geral é avaliar as

respostas bioculturais das populações indígenas do Uaçá, diante das mudanças

socioculturais e ambientais que atravessam, a partir do perfil de agravos não

transmissíveis encontrados principalmente no banco de dados do Sistema de Vigilância

Alimentar e Nutricional (SISVAN) e Casa de Saúde do Índio (CASAI-Amapá).

Os resultados encontrados evidenciam claramente a alta tendência a sobrepeso e

obesidade das populações indígenas brasileiras em todas as regiões do país. O dado

revela, por lado, a eficácia do SISVAN em apresentar radiografar um dos aspectos do

perfil de saúde indígena, a saber: o status nutricional da população. Por isso, o sistema

merece ser aprimorado. Evidentemente que os dados quantitativos apresentados revelam

um perfil geral da saúde nutricional, e neste sentido, mais pesquisa de natureza

etnográfica são necessárias para se possam aprender as dimensões socioculturais e

econômicas do fenômeno.

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