a tradição das panelas de barro das mulheres da acasa

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Realização Apoio As mulheres de Conceição, povoado de Capela do Alto Alegre escreveram sua história com o trabalho de suas próprias mão com o barro, retirado da terra, amassado, moldado, transformaram em panelas, moringas, caqueiros, que elas saiam para vender, cada uma da sua maneira negociava como podia, mas sempre voltavam com o dinheiro para complementar a renda da casa. Hoje elas estão unidas, fazem parte da Associação Casa das Panelas de Barro, trocam experiências e construoem vínculo de amizade. Quem começa contanto essa história é Dona Eristina Santos de Souza, uma das mais antigas neste trabalho. “Minha mãe já me pariu dentro do barro, desde que nasci estou ligada com isso. Tive nove filhos, vendia as panelas, comprava roupa, sapato, comida com esse trabalho, e eles venceram na vida. Eu tinha parado quando me aposentei, mas resolvi voltar para ensinar a nova geração. Eu me sinto bem de ensinar. Se alguém não sabe fazer e precisa, pois ter seu dinheirinho é bom. Alguns jovens estão interessados em aprender. Aprendi com a minha avó, com as tias, com a minha mãe. Na minha época a gente vendia a peça bruta, melhorou por que pintada fica mais bonita, dá mais valor”, recorda Dona Eristina. Outra que desde cedo trabalha com o artesanato de barro é Dona Marinalva Pereira de Souza, assim como Dona Eristina, ela também aprendeu com os antepassados. “Nasci na comunidade desde cedo eu sei fazer, aprendi com minha mãe, irmãos, avó. Produzia para sobreviver, vendia no comércio para comprar alimento, casei e criei sete filhos com o dinheiro de louça. Saia 4 horas da manhã para vender e voltava no fim do dia. Trabalho na parte de roça também, planto milho, feijão. Todas as famílias foram criadas com dinheiro do barro”. Maria Vilma de Jesus lembra que desde os 08 anos já trabalhava vendendo a louça de barro. “Cada uma fazia no quintal de sua casa, vendia, e tinha também o atravessador. Mais tem aquelas que vendiam fora, eu andava com uma tia minha desde 08 anos. Aprendi com minha mãe que aprendeu com a mãe dela. Criei filhos com as panelas, troquei muita panela por banana, manga, e voltava no fim do dia com sacola cheia. Hoje eu tenho minha cisterna e também planto minhas hortaliças. Desde 2002 que existe essa casa e agora tá reunindo todo mundo para trabalhar junto. O resultado é a nossa associação. E agora graças a Deus tá dando certo, e quase todas estão produzindo”, conta Maria Vilma de Jesus. A associação e o fortalecimento do trabalho das mulheres Ailson Gonçalves é um dos colaboradores do trabalho que as mulheres de Conceição desenvolvem desde que a ACASA foi fundada, ele conta como nasceu a ideia. “Essa casa é a chamada Casa das Panelas, criada em 2002, ficou muito tempo parada. Através de um projeto com a União das Associações e o Projeto Barro Vermelho, conseguimos o Projeto Saber, Fazer e Empreender, buscado no Departamento de Cultura no de 2012 que vai até 2014. Isso deu animo para voltar a trabalhar, pois garante a capacitação, e a compra de materiais. O grupo tá aprendendo a fazer a gestão, a comprar materiais, a comercializar corretamente. A diretoria também está sendo capacitada em gestão, produção, cooperativismo, associativismo. Não tem recurso para reforma e ampliação do espaço”. O trabalho realizado pelas mulheres da ACASA conta com algumas parcerias que ajudam o grupo a perceber o valor do trabalho enquanto artesão. “A CESOL, o Armazém Arco Central, o Instituto Mauá, são espaços que apoiam e divulgam. Vai alavancar a produção e a valorização. Antes o que era vendido por 2 reais, hoje a gente já vende por 20,00 reais. A gente não sabia dá o valor ao nosso trabalho, o grupo tá começando a se valorizar como artesão. Algumas feiras que a gente participou o objetivo não foi a venda e sim a troca de experiência”, diz Ailson Gonçalves. Para Maria Vilma é importante valorizar o trabalho para que o jovem se interesse em manter viva essa tradição. “O jovem não quer sair daqui pegar o barro e vender a louça por 1 real ou 2 reais. Precisava valorizar mais para que eles venham. Antes a gente só fazia a louça, hoje já temos quem pinte e fica muito mais bonito, isso atrai o jovem e valoriza o produto. Meus dois filhos estão no Rio e não querem assar louça, se esse trabalho valorizar tem como o jovem não sair daqui”, refletiu Maria Vilma de Jesus. Atualmente com o trabalho de pintura, o caqueiro, panela, a muringa para levar água para roça, o pote, virou objetos de decoração. É possível encontrar peças de preços variados. O valor o produto se inicia desde a retirada do barro, depois disso é preciso amassar, moldar a peça, alisar, queimar, pintar. As mulheres da ACASA já entendem que é preciso valorizar cada etapa do trabalho para que no final cada peça tenha um valor justo.

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Page 1: A tradição das panelas de barro das mulheres da ACASA

Realização Apoio

As mulheres de Conceição, povoado de Capela do Alto Alegre escreveram sua história com o trabalho de suas próprias mão com o barro, retirado da terra, amassado, moldado, transformaram em panelas, moringas, caqueiros, que elas saiam para vender, cada uma da sua maneira negociava como podia, mas sempre voltavam com o dinheiro para complementar a renda da casa. Hoje elas estão unidas, fazem parte da Associação Casa das Panelas de Barro, trocam experiências e construoem vínculo de amizade. Quem começa contanto essa história é Dona Eristina Santos de Souza, uma das mais antigas neste trabalho.

“Minha mãe já me pariu dentro do barro, desde que nasci estou ligada com isso. Tive nove filhos, vendia as panelas, comprava roupa, sapato, comida com esse trabalho, e eles venceram na vida. Eu tinha parado quando me aposentei, mas resolvi voltar para ensinar a nova geração. Eu me sinto bem de ensinar. Se alguém não sabe fazer e precisa, pois ter seu dinheirinho é bom. Alguns jovens estão interessados em aprender. Aprendi com a minha avó, com as tias, com a minha mãe. Na minha época a gente vendia a peça bruta, melhorou por que pintada fica mais bonita, dá mais valor”, recorda Dona Eristina.

Outra que desde cedo trabalha com o artesanato de barro é Dona Marinalva Pereira de Souza, assim como Dona Eristina, ela também aprendeu com os antepassados. “Nasci na comunidade desde cedo eu sei fazer, aprendi com minha mãe, irmãos, avó. Produzia para sobreviver, vendia no comércio para comprar alimento, casei e criei sete filhos com o dinheiro de louça. Saia 4 horas da manhã para vender e voltava no fim do dia. Trabalho na parte de roça também, planto milho, feijão. Todas as famílias foram criadas com dinheiro do barro”.

Maria Vilma de Jesus lembra que desde os 08 anos já trabalhava vendendo a louça de barro. “Cada uma fazia no quintal de sua casa, vendia, e tinha também o atravessador. Mais tem aquelas que vendiam fora, eu andava com uma tia minha desde 08 anos. Aprendi com minha mãe que aprendeu com a mãe dela. Criei filhos com as panelas, troquei muita panela por banana, manga, e voltava no fim do dia com sacola cheia. Hoje eu tenho minha cisterna e também planto minhas hortaliças. Desde 2002 que existe essa casa e agora tá reunindo todo mundo para trabalhar junto. O resultado é a nossa associação. E agora graças a Deus tá dando certo, e quase todas estão produzindo”, conta Maria Vilma de Jesus.

A associação e o fortalecimento do trabalho das mulheres

Ailson Gonçalves é um dos colaboradores do trabalho que as mulheres de Conceição desenvolvem desde que a ACASA foi fundada, ele conta como nasceu a ideia. “Essa casa é a chamada Casa das Panelas, criada em 2002, ficou muito tempo parada. Através de um projeto com a União das Associações e o Projeto Barro Vermelho, conseguimos o Projeto Saber, Fazer e Empreender, buscado no Departamento de Cultura no de 2012 que vai até 2014. Isso deu animo para voltar a trabalhar, pois garante a capacitação, e a compra de materiais. O grupo tá aprendendo a fazer a gestão, a comprar materiais, a comercializar corretamente. A diretoria também está sendo capacitada em gestão, produção, cooperativismo, associativismo. Não tem recurso para reforma e ampliação do espaço”.

O trabalho realizado pelas mulheres da ACASA conta com algumas parcerias que ajudam o grupo a perceber o valor do trabalho enquanto artesão. “A CESOL, o Armazém Arco Central, o Instituto Mauá, são espaços que apoiam e divulgam. Vai alavancar a produção e a valorização. Antes o que era vendido por 2 reais, hoje a gente já vende por 20,00 reais. A gente não sabia dá o valor ao nosso trabalho, o grupo tá começando a se valorizar como artesão. Algumas feiras que a gente participou o objetivo não foi a venda e sim a troca de experiência”, diz Ailson Gonçalves.

Para Maria Vilma é importante valorizar o trabalho para que o jovem se interesse em manter viva essa tradição. “O jovem não quer sair daqui pegar o barro e vender a louça por 1 real ou 2 reais. Precisava valorizar mais para que eles venham. Antes a gente só fazia a louça, hoje já temos quem pinte e fica muito mais bonito, isso atrai o jovem e valoriza o produto. Meus dois filhos estão no Rio e não querem assar louça, se esse trabalho valorizar tem como o jovem não sair daqui”, refletiu Maria Vilma de Jesus. Atualmente com o trabalho de pintura, o caqueiro, panela, a muringa para levar água para roça, o pote, virou objetos de decoração. É possível encontrar peças de preços variados. O valor o produto se inicia desde a retirada do barro, depois disso é preciso amassar, moldar a peça, alisar, queimar, pintar. As mulheres da ACASA já entendem que é preciso valorizar cada etapa do trabalho para que no final cada peça tenha um valor justo.