a teoria de jonh rawls

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Liberdade e justiça social Uma sociedade para ser justa (justiça social ou distributiva) deve dar prioridade à liberdade ou à igualdade. Duas perspetivas: Liberalismo Perspetiva segundo o qual é incorreto o Estado interferir na vida das pessoas sem o seu consentimento, retirando- lhes parte do que têm para redistribuir pelos que têm menos de modo a reduzir as desigualdades sociais. Igualitarismo Perspetiva segundo o qual a igualdade é um valor prioritário, um bem comum acima dos interesses pessoais. Considera que se justifica a intervenção do Estado no sentido de uma melhor distribuição dos bens sociais, mesmo que isso se faça à custa da limitação da liberdade. Para os igualitaristas as desigualdades sociais põem em causa o bem comum e são uma fonte de injustiças que o Estado tem obrigação de combater pois quando as pessoas vivem abaixo de certo nível ficam à merce dos outros. Uma sociedade em que, devido às desigualdades, uns acabam por ficarem nas mãos dos outros, não é justa porque nem sequer é formada por cidadãos verdadeiramente livres, já que os muito pobres não estão em condições de escolher o que fazer. Liberdade Segundo Isaiah Berlin existem dois sentidos de liberdade: Liberdade negativa: é a ausência de coerção (nada ou ninguém nos impede de fazer o que quisermos). Liberdade positiva: é o controlo efetivo sobre a nossa própria vida (isto é, quando se faz escolhas que contribuem para a sua realização pessoal). Os liberais tendem a pensar que a liberdade negativa é o que realmente interessa e que o conceito de liberdade positiva pode tornar-se perigoso, na medida em que convida o Estado a interferir abusivamente na vida das pessoas.

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Page 1: A Teoria de Jonh Rawls

Liberdade e justiça social

Uma sociedade para ser justa (justiça social ou distributiva) deve dar prioridade à liberdade ou à igualdade.

Duas perspetivas:

LiberalismoPerspetiva segundo o qual é incorreto o Estado interferir na vida das pessoas sem o seu consentimento, retirando-lhes parte do que têm para redistribuir pelos que têm menos de modo a reduzir as desigualdades sociais.

IgualitarismoPerspetiva segundo o qual a igualdade é um valor prioritário, um bem comum acima dos interesses pessoais. Considera que se justifica a intervenção do Estado no sentido de uma melhor distribuição dos bens sociais, mesmo que isso se faça à custa da limitação da liberdade.

Para os igualitaristas as desigualdades sociais põem em causa o bem comum e são uma fonte de injustiças que o Estado tem obrigação de combater pois quando as pessoas vivem abaixo de certo nível ficam à merce dos outros.

Uma sociedade em que, devido às desigualdades, uns acabam por ficarem nas mãos dos outros, não é justa porque nem sequer é formada por cidadãos verdadeiramente livres, já que os muito pobres não estão em condições de escolher o que fazer.

Liberdade

Segundo Isaiah Berlin existem dois sentidos de liberdade:

Liberdade negativa: é a ausência de coerção (nada ou ninguém nos impede de fazer o que quisermos).

Liberdade positiva: é o controlo efetivo sobre a nossa própria vida (isto é, quando se faz escolhas que contribuem para a sua realização pessoal).

Os liberais tendem a pensar que a liberdade negativa é o que realmente interessa e que o conceito de liberdade positiva pode tornar-se perigoso, na medida em que convida o Estado a interferir abusivamente na vida das pessoas.

Os igualitaristas tendem a pensar que o conceito de liberdade mais rico e importante é o da liberdade positiva, justificando assim a intervenção do Estado de modo a criar as condições para que todos os cidadãos sejam capazes de se realizarem pessoalmente, o que implica o Estado adotar uma certa perspetiva sobre o que é bom ou mau para as próprias pessoas.

Page 2: A Teoria de Jonh Rawls

O problema da justiça social – o que é uma sociedade justa?

Para os liberais é uma sociedade em que se dá prioridade à liberdade individual, mantendo a vida das pessoas livre de intromissão do Estado.

Para os igualitaristas é uma sociedade sem grandes desigualdades, graças à intervenção do Estado e ao papel imprescindível deste na redistribuição dos bens sociais.

A teoria de jonh rawls

Na opinião de rawls os princípios em que uma sociedade deve assentar têm de conduzir a decisões justas acerca de casos concretos. Assim, uma teoria baseada em princípios cuja aplicação permita a escravatura e impeça a liberdade de expressão, por exemplo, não será boa. Que princípios são e como os encontramos?

As pessoas têm em conta os seus interesses pessoais e tendem a propor princípios que lhes sejam pessoalmente vantajosos.

Será possível encontrarmos princípios de justiça corretos? Para rawls sim, e para isso temos de nos abstrair das nossas circunstâncias pessoais e imaginar que estamos numa situação inicial hipotética (posição original), na qual vamos ter de escolher os princípios da sociedade que iremos viver. Só que nessa posição estamos sob um véu de ignorância, que nos impede de saber várias coisas acerca de nos próprios (sexo, etnia, inteligência…), do lugar que iremos ocupar na sociedade (profissão, riqueza…) e até sobre o nosso projeto de vida (o que queremos ser/ fazer…).

Contudo, isso não implica que cada um desconheça os factos gerais da vida nem o funcionamento da sociedade em geral, ou seja cada um sabe que haverá pessoas mais ricas que outras, outras mais inteligentes ou mais fortes e que haverá um Estado com diversas instituições, regras e leis.

Assim todos os membros da sociedade avaliam os princípios de justiça numa situação de igualdade. Optando por princípios que garantem que, por pior que viesse ser a nossa condição social, ela nunca fosse tao má que nos impedisse de ter acesso a bens primários: liberdades básicas, oportunidades para melhorar a nossa condição e um nível de rendimento mínimo aceitável.

Na posição original acabaríamos por chegar a um acordo hipotético que visa garantir três coisas:

Os mesmos direitos e deveres básicos para todos; As desigualdades só seriam admissíveis se todos beneficiassem com isso, em especial os

mais desfavorecidos; Ninguém seria beneficiado ou prejudicado pela sorte natural ou pelas circunstâncias sociais.

Para garantir estas três coisas, aceitamos dois princípios de justiça.

O primeiro é o princípio da liberdade (toda a gente tem direito as liberdades básicas) e tem prioridade sobre os restantes, visto que rawls considera que não se devem obter vantagens sociais ou económicas á custa do sacrifício das liberdades básicas.

Page 3: A Teoria de Jonh Rawls

As liberdades básicas são constituídas pelos direitos cívicos (liberdade de opinião, de expressão e de reunião), pelos direitos políticos (direito ao voto e participação na vida pública) e pelos direitos das pessoas (direito à integridade física e psicológica).

A primeira parte do segundo princípio é o princípio da diferença de acordo com o qual, apesar de se favorecer uma distribuição equitativa da riqueza, se admitem as desigualdades que favoreçam os mais pobres. Ou seja, uma sociedade sem desigualdades, mas que todos são pobres é menos justa do que uma sociedade com desigualdades mas que ninguém vive realmente mal.

A segunda parte do segundo princípio é o princípio da oportunidade justa, de acordo com o qual nenhuma desigualdade é aceitável se resultar de uns terem oportunidades que outros não têm (por serem pobres não têm dinheiro para a escola, ex). nestes casos o Estado deve interferir para garantir que todos tenham as mesmas oportunidades.

Rawls é um liberal moderado, o estado só deve interferir só se necessário.

Que razão temos para aceitar os princípios de justiça propostos por rawls?

Sob o véu de ignorância o mais racional é jogar pelo seguro, ou seja, adotar princípios de acordo com os quais o pior que nos possa acontecer seja o melhor possível. É isto que dá origem a regra maximin: uma estratégia de decisão que, numa condição de incerteza, permita maximizar o mínimo.

Esta regra é muito diferente do que defendem os utilitaristas (maximizar a felicidade em geral), visto que é possível haver mais felicidade geral numa sociedade que há uma minoria que vive muito mal para que a maioria das pessoas possam viver muito bem, do que numa sociedade em que todos vivem moderadamente bem. A primeira sociedade viola os princípios da liberdade e da diferença, logo é inaceitável para Rawls.

Critica libertarista de Nosick

Robert Nozick defende o libertarismo (forma mais radical do liberalismo), em que as funções do Estado são apenas a defesa perante ameaças externas (exercito), a segurança dos cidadãos e dos seus bens (policia) e o cumprimento dos contratos e das leis (tribunais). Fora isso só se justifica a intervenção do Estado para evitar um eventual horror social, o mais importante é preservar a autonomia das pessoas para fazerem livremente as suas próprias escolhas, exercendo direitas e liberdades individuais que Nozick considera invioláveis. A esta conceção de Estado chama-se “Estado mínimo”.

Sendo liberal, Nozick aceita quase completamente o principio da liberdade, contudo critica o principio da diferença.

Nozick pensa que a teoria da justiça de Rawls assenta numa conceção padronizada de justiça, e esta não consegue manter uma distribuição dos bens segundo o padrão adotado, a não ser à custa da constante intervenção do Estado e do sacrifício eticamente intolerável dos direitos das pessoas.

Page 4: A Teoria de Jonh Rawls

Umas pessoas investiriam e reproduziriam os seus rendimentos iniciais, outras se limitariam a guardar o que lhes tinha cabido e outras esbanjavam tudo, passado algum tempo ter-nos-íamos afastado do padrão e esta teria de ser reposto por meio da intervenção do Estado, cobrando impostos a uns para redistribuir por outros.

Isto é uma intromissão abusiva do Estado na vida individual, tratando os bens das pessoas como se não fossem delas. Se o Estado parte desses bens (que não foram adquiridos de forma fraudulenta) aos seus justos titulares sem o seu consentimento, estará a violar os seus direitos de propriedade.

Para sabermos se uma sociedade é justa, não precisamos de ver se a riqueza está igualmente ou desigualmente distribuída, mas se o modo como ela foi adquirida e transferida de pessoa para pessoa.

Como defensor da ética deontológica, Nozick considera que tirar a uns para dar aos outros sem o consentimento dos primeiros é tratar as pessoas como elas não fossem pertenças de si própria, isto é, trata-las como meios e não como fins, como diria Kant.

É uma forma de instrumentalização das pessoas, violando a sua autonomia e, portanto, os seus direitos mais básicos.

Critica comunitarista de Sandel

Para comunitaristas como Michael Sandel o bem comum é onde se avaliam as preferências individuais, ou seja o bem comum tem prioridade moral sobre as preferências das pessoas.

Segundo os comunitaristas as pessoas não se autodeterminam porque só a comunidade permite encontrar em conjunto o modo de vida que define uma vida boa (o bem comum).

É na vida social comunitária que construímos a nossa própria identidade, logo pertencemos não só a nós próprios, mas também à nossa comunidade.

Para Sandel o modelo de Rawls para encontrarmos os princípios da justiça está errado, principalmente o véu de ignorância.

Avaliar uma escolha como boa ou má é uma questão moral, mas o véu de ignorância coloca as pessoas numa posição anterior a qualquer moral, visto que as escolhas têm de ser feitas por seres racionais que têm em conta os seus interesses pessoais, logo a noção do que é bom não pode ser dada pelas preferências individuais de seres que não pertencem a uma comunidade.

Concluindo, exigir que as pessoas se esqueçam dos laços sociais concretos é o mesmo que exigir-lhes que se desprendam de si mesmas.

Experiência estética

Kant sustentou que a experiência estética é caracterizada por um sentimento de prazer, não um prazer qualquer, mas um prazer estético que se distingue por um prazer desinteressado.

Page 5: A Teoria de Jonh Rawls

O prazer é desinteressado quando nada mais interessa a não ser a mera contemplação da coerência e harmonia das formas observadas. Não estamos interessados em aprender seja o que for ou em satisfazer qualquer necessidade pratica.

Esta caracterização de experiência estética tem levantado dúvidas.

Em primeiro lugar, há exemplos de experiências ditas estéticas cujo prazer parece não ser desinteressado.

Em segundo lugar, é muito difícil encontrar exemplos indiscutíveis de prazer estético que seja completamente desinteressado.

Em terceiro lugar, tem de haver algo sem ser o próprio prazer estético para explicar porque razão as mesmas coisas umas vezes nos proporcionam prazer estético e outras vezes não.

Atitude estética

A nossa atitude tanto pode ter um caráter pratico como um caráter estético, pelo que podemos olhar para as coisas de perspetivas diferentes e com intuitos diferentes.

Se encararmos um dado objeto ou situação de um ponto de vista prático, iremos prestar atenção a certos aspetos (utilidade, solidez…) mas se, pelo contrário, dotarmos uma atitude estética, a nossa atenção centra-se em aspetos como a harmonia, a coerência, a pureza das suas formas…

Consoante o tipo o tipo de atitude, assim é o tipo de atenção, e consoante o tipo de atenção, assim dirigimos o nosso olhar para aspetos diferentes. A atitude estética diferencia-se da atitude prática por se basear numa atenção desinteressada, sem interesses de caráter prático.

Prestar atenção a diferentes coisas não significa que haja diferentes tipos de atenção, além disso o defensor da atitude estética não consegue explicar por que razão temos tendência a adotar essa atitude em relação a certas coisas (obras de arte…) e não em relação a outras (caixotes do lixo…).

Propriedades estéticas

Há certas características ou propriedades dos próprios objetos, as propriedades estéticas que provocam em nós certo tipo de experiencias, experiencias estéticas.

Tudo depende das propriedades que os objetos têm e não da nossa atitude.

São os objetos que têm, eles próprios a capacidade de causar em nós experiências estéticas.

As propriedades estéticas são coisas como a harmonia, o equilíbrio, a delicadeza, a graciosidade, entre outras.

Page 6: A Teoria de Jonh Rawls

Onde está a beleza?

Os juízos estéticos têm um caráter subjetivo ou objetivo?

Há quem defenda que a beleza não está nas coisas mas naquilo que as pessoas sentem quando as observam.

Outros acreditam que a beleza está nas próprias coisas e que elas são bonitas ou não independentemente do que cada um sente ao observá-las.

Chama-se subjetivistas aqueles que respondem que apenas conta o que cada sujeito sente: a justificação dos juízos estéticos tem um caráter subjetivo.

“a flor é bonita porque sinto prazer quando olho para ela.”

Chama-se objetivistas aos que respondem que tudo o que conta são as características dos próprios objetos: afirmamos que um objeto é bonito ou feio porque tem certas características que o tornam realmente bonito ou realmente feio.

“a flor é bonita devido às suas cores intensas, à forma elegante do seu caule…”

Gostos não se discutem

A perspetiva que parece mais atraente aos olhos do senso comum é o subjetivismo. É até muito frequente ouvirmos que a beleza é subjetiva. A razão é que, se sujeitos diferentes gostam de coisas diferentes, então cada um é que sabe do que gosta e do que não gosta. Sendo assim qualquer discussão sobre a beleza acaba por ser disparatada. Não faz sentido discutir o que não pode estar errado. Trata-se de uma forma radical do subjetivismo

Criticas ao subjetivismo radical

O problema do subjetivismo radical é que passamos o tempo a discutir se certas coisas são bonitas ou não e não a discordar de juízos estéticos proferidos por outros.

Isto sugere que parece até mais razoável discutir juízos de gosto do que juízos de facto. O que se verificará é que, mesmo que os juízos estéticos sejam uma questão de gosto, na prática não procedemos como se os gostos não se discutissem.