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A Teologia Pactual de Benjamin Keach e a Justificação

Tom Hicks

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Traduzido do original em Inglês

Benjamin Keach’s Covenant Theology and Justification

By Tom Hicks

Via: Founders.org

-

Tradução por Camila Rebeca Almeida Teixeira

Revisão e Capa por William Teixeira

1ª Edição: Dezembro de 2016

Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida

Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

Traduzido e publicado em Português pelo website oEstandarteDeCristo.com, com a devida

permissão do Ministério Founders Ministries (Founders.org), sob a licença Creative Commons

Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International Public License.

Você está autorizado e incentivado a reproduzir e/ou distribuir este material em qualquer formato,

desde que informe o autor, as fontes originais e o tradutor, e que também não altere o seu conteúdo

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Teologia Pactual de Benjamin Keach e Justificação

Por Tom Hicks

Benjamin Keach (1640-1704), um de nossos primeiros pais Batistas ingleses, ensinava que

a doutrina da justificação estava intimamente ligada com a doutrina bíblica dos pactos, e

especialmente com o Pacto da Graça. De acordo com Austin Walker: “O Pacto da Graça

assumiu um lugar central no pensamento de Keach, de tal forma que não é possível

apreciar tanto o Calvinismo de Keach quanto o próprio homem sem uma apreciação correta

de sua compreensão”.1 Também é verdade que é impossível entender a doutrina da

justificação de Keach sem compreender a sua doutrina dos pactos. The Everlasting

Covenant [A Aliança Eterna] (1693) é uma série de dois sermões que foram posteriormente

editados e impressos em um livreto de quarenta e quatro páginas.

Originalmente, Keach pregou o primeiro desses sermões à sua congregação na Horsly-

down no funeral de um companheiro ministro do Evangelho, o Sr. Henry Forty, que era o

pastor de uma igreja em Abingdon. A passagem do sermão é 2 Samuel 23:5: “Ainda que a

minha casa não seja tal para com Deus, contudo estabeleceu comigo uma aliança eterna,

que em tudo será bem ordenado e guardado”. O texto diz que estas foram as “últimas

palavras de Davi” (v.1). Keach acreditava que assim como o pacto eterno da graça consolou

Davi e deu-lhe esperança no leito de morte, assim o Pacto da Graça é a única esperança

de qualquer pecador ao morrer. Ele escreveu: “Os homens podem falar de sua justiça

própria e de santidade evangélica, ainda assim, estou convencido que eles não ousarão

pleiteá-los na questão da justificação, em seus leitos de morte, nem no dia do Juízo. Não,

não, ‘nada, senão Cristo... pode dar alívio a uma consciência ferida e angustiada”.2 O

1 Walker, Benjamin Keach, 107. Veja também J. Barry Vaughn, “Benjamin Keach”, em Baptist

Theologians [Teólogos Batistas], ed. Timothy George e David Dockery (Nashville: Broadman, 1990),

58. Para mais informações sobre a teologia pactual entre os Batistas, veja Paul Fiddes, “Walking

Together’: The Place of Covenant Theology in Baptist Life Yesterday and Today” [Caminhando

Juntos: O Lugar da Teologia Pactual na Vida Batista Ontem e Hoje], em Pilgrim Pathways: Essays

in Baptist History in Honour of B.R. White [Caminho dos Peregrinos: Tratados Sobre a História

Batista em Homenagem a B.R. White] (Macon: Mercer, 1999), 44-74.

2 Benjamin Keach, The Everlasting Covenant, A Sweet Cordial for a Drooping Soul or, The Excellent

Nature of the Covenant of Grace Opened in a Sermon Preached January the 29th at the Funeral of

Mr. Henry Forty [A Aliança Eterna: Um Doce Tônico Para uma Alma Caída ou A Natureza Excelente

do Pacto da Graça, Introduzido em um Sermão Pregado em 29 de Janeiro no Funeral do Sr. Henry

Forty] (Londres: np, 1693), extraído do prefácio.

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principal propósito dos dois sermões foi demonstrar que não há distinção entre o Pacto de

Redenção e o Pacto da Graça. De acordo com Keach, o Pacto da Graça é o Pacto da

Redenção, e preservar a unidade dos dois serve para salvaguardar a doutrina da

justificação pela fé somente no fundamento da justiça de Cristo somente.3

Na primeira parte da obra, Keach explicou que ele já tinha sido convencido de uma distinção

entre o Pacto da Graça e o Pacto da Redenção, mas a partir de um estudo mais

aprofundado, ele estava convencido de que eles são o mesmo pacto.4 Há um Pacto da

Graça com duas partes distintas. Uma parte do Pacto da Graça é feito com Cristo, o

Mediador e a outra parte é feita com todos os eleitos nEle. Keach acreditava que separar

estas duas partes do Pacto da Graça em dois pactos diferentes tende a separar Cristo da

redenção de Seu povo e abre o caminho para que os homens confiem em sua própria

santidade para a justificação. Ele, portanto, buscou mostrar que a doutrina de um eterno

Pacto da Graça é bíblica, que isso permanece contra todas as objeções, que está

interligado com o restante da doutrina bíblica e que traz grande conforto para as almas dos

crentes.

Argumento básico

Keach argumentou a partir da Escritura que o Pacto da Redenção e do Pacto da Graça são

o mesmo pacto. De acordo com Keach, a Bíblia nunca reconhece três pactos abrangentes,

porém apenas dois: o pacto com Adão e o pacto com Cristo. Romanos 5 contrasta somente

esses dois cabeças pactuais (Romanos 5:12-21), e assim como há um pacto com Adão e

todos os que estão nele, assim também existe uma aliança com Cristo e todos os que estão

nEle.5

3 Ibid.

4 Ibid., 6. Os itálicos estão no original.

5 Embora Keach não argumente explicitamente, a consistência parece exigir que os seus

adversários admitam que se a Aliança com Cristo e aqueles nEle consistir em dois pactos separados

porque é feito tanto com a Cabeça do pacto quanto com aqueles que estão na Cabeça pactual,

então o pacto com Adão e aqueles nele deve ser dois pactos distintos também. O Pacto das Obras

teria que ser dividido em dois pactos. Mas, seus adversários, evidentemente, não argumentam

assim.

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Keach afirmou que a Bíblia revela duas administrações do Pacto de Obras. A primeira

administração foi evidenciada no jardim antes da Queda de Adão. Esse pacto no jardim

prometeu a vida eterna a Adão sob a condição de sua perfeita obediência à lei de Deus e

ameaçou de morte eterna pelo pecado.6 Além dessa primeira edição do Pacto de Obras,

Keach escreveu que “houve outra edição ou administração deste, dado a Israel, que era

um pacto de obras, ou seja, “Faça isso e viva”, ainda assim, não foi dado pelo Senhor para

o mesmo fim e propósito... Não foi dado para justificá-los”.7 Referenciando a obra de John

Owen, Keach argumentou que o pacto mosaico dado à nação israelita serve para revelar a

perfeita santidade de Deus.8 Ele também serve para provar que os pecadores, os quais não

têm esta santidade perfeita, nunca podem ser justificados diante de Deus. Portanto, uma

função do pacto mosaico é conduzir os homens para fora de si mesmos, afastá-los de sua

justiça própria e leva-los a buscarem pela justiça de Cristo para a sua justificação (Romanos

3:19-20; Gálatas 3:21-22).

Então, Keach argumentou que o Antigo Testamento aponta para Cristo como o único

fundamento para justificação. Gênesis 3:15 revela a primeira promessa do Evangelho a

Adão no protoevangelium. Esta promessa “relaciona-se principalmente a Cristo, como a

semente da mulher, e assim, a nós nEle”.9 O pacto com Abraão faz o mesmo quando Deus

declara a Abraão em Gênesis 12:3 e 22:18: “E em tua descendência serão benditas todas

as nações da terra”. De acordo com o Novo Testamento, o próprio Cristo é a descendência

prometida (Gálatas 3:16), e esta promessa garante bênçãos para os homens de todas as

nações que estão nEle (Gálatas 3:28-29). Da mesma forma, Keach argumentou que o pacto

com Davi “relaciona-se a Cristo, e também a nós nEle” (Salmos 89:20, 28, 29).10 O pacto

com Davi e sua descendência apontava para Cristo e era um tipo do pacto com Cristo e

6 Para o desenvolvimento da doutrina do Pacto de Obras na Teologia Reformada, veja Robert

Letham, “The Foedus Operum: Some Factors Accounting for its Development” [Foedus Operum:

Alguns Fatores Considerados para o seu Desenvolvimento], The Sixteenth Century Journal 4,4

(1983): 457-67. Letham argumenta que o Pacto das Obras desenvolveu-se em uma metodologia

Ramista em que a lei foi vista como fundamental para e causadora da graça. A lei fortalece a graça

na teologia federal clássica.

7 Keach, A Aliança Eterna, 7.

8 Ibid.

9 Ibid., 10. Itálicos estão no original.

10 Ibid.

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com aqueles nEle. Assim, todos os pactos do Antigo Testamento são promessas que fluem

de uma única aliança com Cristo e aqueles que estão nEle.11 O Antigo Testamento não

revela dois pactos distintos, de redenção e da graça. A estrutura da Bíblia é, portanto, bi-

pactual, e não tri-pactual (1 Coríntios 15:22).

Objeções Respondidas

O sermão, depois, começa a responder a uma série de acusações à doutrina de Keach de

um eterno Pacto da Graça. Keach não especificou a fonte ou fontes das seguintes

acusações, mas eram objeções reais levantadas por aqueles que se opunham à

perspectiva de Keach. Alguns alegaram que devido ao propósito salvífico divino envolver

partes distintas, deve haver dois pactos. Eles argumentaram que as obrigações e

promessas de Cristo são diferentes das obrigações e promessas que Deus fez aos eleitos;

portanto, há dois pactos. Keach respondeu afirmando que a situação não é tão clara. A

aliança de Deus com Cristo foi um pacto que envolvia os eleitos, pois toda a Sua obra

redentora deveria ser no lugar deles e para proteger as suas bênçãos. Assim, o pacto de

Deus com os eleitos foi uma aliança com eles em Cristo e não separada dEle.12

Outro argumento de oposição afirmava, a saber, que desde que Deus eternamente entrou

em aliança com Cristo antes da Queda e uma vez que Deus temporalmente entra em

aliança com o eleito depois da Queda, deve haver uma separação entre os dois pactos.

Keach respondeu que o Pacto da Graça foi feito com Cristo e os eleitos nEle antes da

fundação do mundo. Mesmo que os eleitos ainda não houvessem sido criados, Deus ainda

pactuou com Cristo e com eles nEle para redenção deles. Da mesma forma, quando Deus

realizou essa mesma aliança eterna através da encarnação, vida, morte e ressurreição de

Cristo, Ele o fez com Cristo e com os eleitos nEle. O Mediador e os eleitos são partes da

aliança eterna tanto eterna quanto temporalmente. A esperança de Davi, prestes a morrer,

exposta no texto do sermão (2 Samuel 23:5) é a “eterna” e perpétua aliança da graça, e

não uma mera aliança temporal e Keach aponta que o mesmo é verdade em outras

11 Keach não se referiu à aliança com Noé. Talvez ele não considere este pacto como estando na

mesma categoria dos outros.

12 Keach, A Aliança Eterna, 10-11.

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passagens da Escritura (Salmos 89:19, 20, 26, 29).13 Separar Cristo do Seu povo, numa

aliança da graça temporal e, depois, enfatizar a aliança temporal com os eleitos acima da

aliança eterna com Cristo torna a teologia pactual centrada no homem em vez de centrada

em Cristo, e isso abre o caminho para destacar as obras do homem para a justificação, em

vez da obra de Cristo.

Uma outra objeção insistia que desde que Cristo cumpre um conjunto de condições e os

eleitos cumprem um conjunto diferente de condições, deve haver dois pactos diferentes.

Os oponentes de Keach diziam que a condição do Pacto de Obras era a perfeita obediência

para a justificação, mas somente a fé é a condição da justificação no Pacto da Graça.

Portanto, deve haver dois pactos diferentes. No entanto, Keach respondeu apontando que

a aliança com Cristo assegura e fornece todas as “condições” do pacto com os eleitos.

Cristo não Se limitou a viver, morrer e ressuscitar apenas para ficar inerte à mão direita de

Deus. Em vez disso, Cristo permanece ativamente como o Mediador dos eleitos,

intercedendo por eles e adquirindo para eles a benção da fé. Assim, quando os opositores

insistiam que a fé deve ser uma condição do Pacto de Graça, já que “Cristo não creu por

nós”, Keach respondia: “Quem diz que Ele o faz? Mas... Ele não obteve a graça para nós,

para nos capacitar a crer? Ele não é o autor e consumador da nossa fé?”.14 Ainda que Cristo

não creia pelos eleitos, Keach argumentou que Ele faz com que os eleitos creiam por Sua

obra de mediação no Pacto. Assim, é errado separar a fé dos eleitos do fato de Cristo dar

a fé aos eleitos. Na aliança, Cristo, tanto adquire fé para os eleitos por Sua vida, morte e

ressurreição, quanto aplica a fé aos eleitos por Sua intercessão pactual.

Keach não fala sobre a fé como uma “condição” do Pacto da Graça como alguns fizeram;

em vez disso, ele preferiu chamar a fé de uma “bênção” que flui a partir dos méritos de

Cristo.15 Aqueles que queriam distorcer o Pacto da Graça, rasgando-o em dois pactos,

estabeleceram a fundação tanto do Neonomianismo quanto do Arminianismo, porque em

ambos os sistemas, a fé é vista principalmente como uma responsabilidade que os

membros da aliança devem cumprir, em vez de um dom comprado e eficazmente aplicado

pela obra de Cristo (João 6:37; 10:16; Filipenses 1:6; 2:13).16 Esta centralidade do homem

13 Ibid., 11-12.

14 Ibid., 16.

15 Ibid., 12-14.

16 Ibid., 15-17.

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no Neonomianismo e no Arminianismo transforma o Pacto da Graça em um Pacto de Obras

porque enfatiza a obra dos homens sobre a obra de Cristo. A esperança do rei Davi, no

entanto, era que Deus poderosamente agia em seu favor: “Clamarei ao Deus altíssimo, ao

Deus que por mim tudo executa” (Salmos 57:2).

Keach passou a dizer que separar o Pacto da Redenção do Pacto da Graça tornava

possível a eclesiologia Neonomiana Pedobatista. O Neonomianismo ensina que os filhos

dos crentes entram no Pacto da Graça através do batismo infantil. Eles disseram que todos

neste pacto devem crer e obedecer para a sua justificação no último dia. Keach escreveu:

Eu temo que alguns homens andem se desviando. Pois, parece que alguns homens

querem nos fazer crer que o Pacto da Graça em sua abrangência, é apenas aquela

misericordiosa e condicional Aliança da Fé e Santidade Evangélica, que Deus Se

agrada em entrar conosco, e nós com Ele, em nosso Batismo, e se nós cumprirmos

esse Pacto até o fim, seremos justificados e salvos; não, e até nós de fato agirmos em

obediência sincera, somente então, alcançaremos a justificação; e se for este o

conceito destes homens e nisso que devemos acreditar, como eles creem, então, digo

eu, não estamos debaixo da graça, mas sob uma lei que nos manterá em dúvidas e

escravidão enquanto nós vivermos; e se não temos outra justiça além dessa, que

esteja tanto dentro de nós ou seja operada por nós, certamente cairemos no inferno

quando viermos a morrer.17

Os crentes e seus filhos entram no Pacto da Graça através do batismo e na medida em que

eles creem, eles já são justificados, mas a justificação completa, de acordo com o

entendimento de Keach sobre o Neonomianismo, é reservada para o Dia do Juízo. Keach

cria que a essência deste erro é separar o povo da aliança de Deus da justiça de sua

Cabeça pactual, fazendo uma distinção entre o Pacto da Redenção e o Pacto da Graça.18

17 Ibid., 17-18.

18 Muitos teólogos pactuais ortodoxos distinguem entre o Pacto da Redenção e o Pacto da Graça,

sem se encaminharem para os extremos defendidos pelos Neonomianos. Para uma descrição

Batista Reformada da distinção, veja Fred A. Malone, The Baptism of Disciples Alone [O Batismo

de Discípulos Somente], rev. and exp. (Cape Coral, FL: Founders, 2007), 50-52. Para uma

discussão Pedobatista Reformada, veja Francis Turretin, Institutes of Elenctic Theology [Compêndio

de Teologia Apologética – Cultura Cristã], ed. James T. Dennison, Jr., trans. George Musgrave

Giger (n.p., 1696; reprint, Phillipsburg, NJ: P&R, 1994), 2:184-86 (as citações de página são da

reedição). Para a história desta distinção entre os teólogos pactuais ortodoxos, veja John Murray,

“Covenant Theology” [Teologia do Pacto], em Collected Writings of John Murray [Coletânea de

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A Natureza do Pacto da Graça

Tendo respondido a várias objeções, Keach a seguir, demonstrou a natureza do Pacto da

Graça. Em primeiro lugar, Keach argumentou que este é um Pacto de Obras e méritos para

Cristo, mas, para os eleitos é um pacto de graça. Em segundo lugar, Keach disse que é um

pacto absoluto. Não há condições de entrada para os eleitos. Eles são unidos a Cristo

eternamente e incondicionalmente no decreto divino, e eles são feitos beneficiários efetivos

com uma participação real em todas as suas bênçãos e privilégios quando o Espírito de

Cristo eficaz e incondicionalmente opera a fé neles. Em terceiro lugar, Keach explicou que

o eterno Pacto da Graça é uma aliança bem-ordenada (2 Samuel 22:5).19

O Pacto da Graça é “bem ordenado” de várias maneiras. É bem-ordenado com relação aos

atributos de Deus. Ele revela muitos dos atributos de Deus, incluindo a soberania de Deus,

mostrando que Deus tem o direito de escolher aqueles a quem Ele quer dar os seus

benefícios salvíficos. O pacto ainda demonstra a infinita sabedoria de Deus na concepção

de tal pacto, o Seu amor por Seu povo, a Sua justiça na defesa de Sua santa lei, o Seu

poder em efetivamente chamar os eleitos, e Sua fidelidade em guardá-los até o fim.20

Keach disse que o Pacto é bem ordenado na medida em que magnifica a glória de toda a

Trindade. A glória do Pai é magnificada porque Ele é a causa eficaz da graça redentora. O

Pai envia o Filho, e tudo o que o Filho faz no Pacto, em última análise, resulta na glória de

Deus o Pai. O Pacto da Graça também magnifica a glória de Jesus Cristo como a Cabeça

Pacto. Cristo é glorificado por Sua vontade amorosa de sofrer e interceder pelos inimigos

de Deus e de ser seu sumo sacerdote eternamente, tendo comprado e garantido a

justificação para os eleitos. O Pacto também magnifica a glória do Espírito Santo, o qual

demonstra a Sua divindade e personalidade distinta. Ele tem Seus próprios termos a

cumprir, convencendo do pecado, vivificando os eleitos com base na obra de Cristo,

revestindo-os da justiça de Cristo pela fé somente, santificando-os completamente e

Escritos de John Murray] (Carlisle, PA: Banner of Truth, 1982), 4:223-34; e John von Rohr, The

Covenant of Grace in Puritan Thought [O Pacto da Graça no Pensamento Puritano] (Atlanta:

Scholars Press, 1986), 63-77.

19 Keach, A Aliança Eterna, 20-21.

20 Ibid., 22-24.

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preservando-os com segurança até sua glorificação. Assim, Keach disse que o Pacto da

Graça é bem ordenado por glorificar toda a Trindade.21

Além disso, o Pacto da Graça é bem ordenado porque honra a santa e justa lei de Deus.

Para Keach, isso não é algo irrelevante. A lei é parte da própria essência do Pacto da Graça.

Desde que Keach entendia que os Neonomianos ensinavam que Deus mudou a lei de

perfeita obediência para uma lei-Evangelho flexível, que é mais suave e mais fácil de

guardar, Keach insistia que a Escritura mostra Deus confirmando e honrando a lei por meio

do Pacto da Graça. Keach escreveu:

Deus não se arrependeu, Ele deu a Lei de perfeita obediência; pois, o isso se adequaria

melhor à pureza de Sua natureza santa; nem qualquer justiça, senão a Justiça perfeita

poderia nos justificar: Ele, portanto, não intencionou a mediação e obediência de Cristo

para destruírem a Lei, ou aceita qualquer recompensa no lugar dela, o que de todos os

modos não corresponderia ao que a justiça exigia e não faria expiação pela violação da

mesma: portanto, pela fé (que é) por ter a perfeita justiça de Cristo imputada a nós, em Sua

explícita conformidade à lei, por Sua Obediência ativa e passiva, estabeleceu a lei e a

tornou gloriosa. Se por qualquer Lei, tendo Deus como Reitor ou Governador, a Justificação

ou a Vida eterna deve ser obtida, ela deve ser uma lei de perfeita obediência, pois, a Santa

e Justa Natureza de Deus o exigem; e nenhuma Lei de Obediência imperfeita, embora seja

sinceramente cumprida, pode corresponder à justiça de Deus, nem ser agradável à Pureza

de Sua natureza, infinita Sabedoria e Santidade.22

Isto é importante porque demonstra que Keach cria na relação entre a lei de Deus e o Seu

caráter. Keach insistia, contra os Neonomianos, que a lei de Deus é determinada e

estabelecida pelo caráter imutável de Deus. Deus não pode justamente desconsiderar a

Sua lei, nem Deus pode justamente aceitar a obediência imperfeita como a base de

justificação parcial, porque qualquer justificação requer perfeita obediência à lei de Deus.

Keach disse que Cristo teve que guardar a lei do original Pacto de Obras em nome dos

eleitos como o Substituto deles, para que fossem absolutamente justificados. Porque os

Neonomianos negavam isso, Keach acreditava que eles desonravam tanto a lei de Deus e

21 Ibid., 24-27.

22 Ibid., 28-29. As palavras “explícita” e “poderia” são incertas devido à ilegibilidade das cópias

existentes desta obra.

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Sua santidade.23 Mas, o verdadeiro Pacto da Graça é bem ordenado porque honra e afirma

a lei e santidade de Deus.

Keach, a seguir, argumentou que o Pacto da Graça é bem ordenado para o bem dos eleitos.

Este é o fundamento e causa de sua reconciliação, vivificação, justificação, adoção,

santificação e salvação do inferno. É um pacto confiável, seguro e ordenado em todos os

aspectos. Cristo cumpre todos os seus termos. O pacto foi formado no decreto eterno e

imutável de Deus e por isso é seguro. É um juramento e promessa para os eleitos. Foi

confirmado pelo sangue de Cristo e executado pelo Espírito Santo. Este Pacto foi

testemunhado pelos poderosos milagres e atestado pelos Apóstolos. Portanto, os eleitos

podem confiar que este é um pacto firme, para o seu bem.24

Aplicação da Doutrina

Finalmente, Keach aplicou os seus dois sermões. Sua aplicação incluiu tanto “repreensão”

quanto “exortação”. Keach começou por reprovar a vida licenciosa. A morte de Cristo foi

necessária para redimir os homens de seus pecados, o que mostra a seriedade do pecado.

Longe de promover o Antinomianismo, o Pacto da Graça corretamente entendido leva os

homens a compreenderem o grande mal do pecado e faz com que o odeiem e se desviem

dele. Keach também reprovou aqueles que misturavam a sua própria santidade com a

justiça de Cristo, uma vez que nada menos do que a perfeita justiça de Cristo pode merecer

qualquer justificação para homens pecadores. Ele repreendeu ainda mais os Neonomianos

e Arminianos, os quais falam da Aliança da Graça como se ela fosse um Pacto de Obras,

pois depreciam a obra de Cristo e não reconhecem a extensão do que Ele realizou. Keach

também advertiu a todos que tentam reformar a sua vida por meio de esforços morais e

legais, uma vez que estes nunca podem obter a salvação. Apenas aqueles que olham para

Cristo e descansam nEle e em Sua justiça podem ter paz com Deus e alívio devidamente

fundamentado para as suas consciências angustiadas.25

23 Ibid., 29-30.

24 Ibid., 31-34.

25 Ibid., 38-41.

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Keach, em seguida, exortou. Ele exortou os ímpios a tremerem por seus pecados e ofensa

infinita que fazem a Deus. Ele disse aos pecadores quebrantados que olhassem para Cristo

buscando consolo e os exortou a abraçarem a livre graça de Deus no Evangelho, e

encontrarem alívio em Jesus Cristo.26 Para Keach, o Pacto da Graça e a justificação por

meio desse pacto é a mais elevada ou alta especulação da mente. É a própria essência do

Evangelho com ricas e profundas implicações práticas para todos os homens em todos os

lugares, mas especialmente para aqueles a quem o Pai escolheu para a salvação.

Sola Scriptura!

Sola Gratia!

Sola Fide!

Solus Christus!

Soli Deo Gloria!

26 Ibid., 42-43.

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10 Sermões — R. M. M’Cheyne

Adoração — A. W. Pink

Agonia de Cristo — J. Edwards

Batismo, O — John Gill

Batismo de Crentes por Imersão, Um Distintivo

Neotestamentário e Batista — William R. Downing

Bênçãos do Pacto — C. H. Spurgeon

Biografia de A. W. Pink, Uma — Erroll Hulse

Carta de George Whitefield a John Wesley Sobre a

Doutrina da Eleição

Cessacionismo, Provando que os Dons Carismáticos

Cessaram — Peter Masters

Como Saber se Sou um Eleito? ou A Percepção da

Eleição — A. W. Pink

Como Ser uma Mulher de Deus? — Paul Washer

Como Toda a Doutrina da Predestinação é corrompida

pelos Arminianos — J. Owen

Confissão de Fé Batista de 1689

Conversão — John Gill

Cristo É Tudo Em Todos — Jeremiah Burroughs

Cristo, Totalmente Desejável — John Flavel

Defesa do Calvinismo, Uma — C. H. Spurgeon

Deus Salva Quem Ele Quer! — J. Edwards

Discipulado no T empo dos Puritanos, O — W. Bevins

Doutrina da Eleição, A — A. W. Pink

Eleição & Vocação — R. M. M’Cheyne

Eleição Particular — C. H. Spurgeon

Especial Origem da Instituição da Igreja Evangélica, A —

J. Owen

Evangelismo Moderno — A. W. Pink

Excelência de Cristo, A — J. Edwards

Gloriosa Predestinação, A — C. H. Spurgeon

Guia Para a Oração Fervorosa, Um — A. W. Pink

Igrejas do Novo Testamento — A. W. Pink

In Memoriam, a Canção dos Suspiros — Susannah

Spurgeon

Incomparável Excelência e Santidade de Deus, A —

Jeremiah Burroughs

Infinita Sabedoria de Deus Demonstrada na Salvação

dos Pecadores, A — A. W. Pink

Jesus! – C. H. Spurgeon

Justificação, Propiciação e Declaração — C. H. Spurgeon

Livre Graça, A — C. H. Spurgeon

Marcas de Uma Verdadeira Conversão — G. Whitefield

Mito do Livre-Arbítrio, O — Walter J. Chantry

Natureza da Igreja Evangélica, A — John Gill

OUTRAS LEITURAS QUE RECOMENDAMOS Baixe estes e outros e-books gratuitamente no site oEstandarteDeCristo.com.

— Sola Fide • Sola Scriptura • Sola Gratia • Solus Christus • Soli Deo Gloria —

Natureza e a Necessidade da Nova Criatura, Sobre a —

John Flavel

Necessário Vos é Nascer de Novo — Thomas Boston

Necessidade de Decidir-se Pela Verdade, A — C. H.

Spurgeon

Objeções à Soberania de Deus Respondidas — A. W.

Pink

Oração — Thomas Watson

Pacto da Graça, O — Mike Renihan

Paixão de Cristo, A — Thomas Adams

Pecadores nas Mãos de Um Deus Irado — J. Edwards

Pecaminosidade do Homem em Seu Estado Natural —

Thomas Boston

Plenitude do Mediador, A — John Gill

Porção do Ímpios, A — J. Edwards

Pregação Chocante — Paul Washer

Prerrogativa Real, A — C. H. Spurgeon

Queda, a Depravação Total do Homem em seu Estado

Natural..., A, Edição Comemorativa de Nº 200

Quem Deve Ser Batizado? — C. H. Spurgeon

Quem São Os Eleitos? — C. H. Spurgeon

Reformação Pessoal & na Oração Secreta — R. M.

M'Cheyne

Regeneração ou Decisionismo? — Paul Washer

Salvação Pertence Ao Senhor, A — C. H. Spurgeon

Sangue, O — C. H. Spurgeon

Semper Idem — Thomas Adams

Sermões de Páscoa — Adams, Pink, Spurgeon, Gill,

Owen e Charnock

Sermões Graciosos (15 Sermões sobre a Graça de

Deus) — C. H. Spurgeon

Soberania da Deus na Salvação dos Homens, A — J.

Edwards

Sobre a Nossa Conversão a Deus e Como Essa Doutrina

é Totalmente Corrompida Pelos Arminianos — J. Owen

Somente as Igrejas Congregacionais se Adequam aos

Propósitos de Cristo na Instituição de Sua Igreja — J.

Owen

Supremacia e o Poder de Deus, A — A. W. Pink

Teologia Pactual e Dispensacionalismo — William R.

Downing

Tratado Sobre a Oração, Um — John Bunyan

Tratado Sobre o Amor de Deus, Um — Bernardo de

Claraval

Um Cordão de Pérolas Soltas, Uma Jornada Teológica

no Batismo de Crentes — Fred Malone

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14

2 Coríntios 4

1 Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;

2 Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem

falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,

na presença de Deus, pela manifestação da verdade. 3 Mas, se ainda o nosso evangelho está

encoberto, para os que se perdem está encoberto. 4 Nos quais o deus deste século cegou os

entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória

de Cristo, que é a imagem de Deus. 5 Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo

Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. 6 Porque Deus,

que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,

para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. 7 Temos, porém,

este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. 8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.

9 Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;

10 Trazendo sempre

por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus

se manifeste também nos nossos corpos; 11

E assim nós, que vivemos, estamos sempre

entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na

nossa carne mortal. 12

De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. 13

E temos

portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,

por isso também falamos. 14

Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará

também por Jesus, e nos apresentará convosco. 15

Porque tudo isto é por amor de vós, para

que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de

Deus. 16

Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o

interior, contudo, se renova de dia em dia. 17

Porque a nossa leve e momentânea tribulação

produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; 18

Não atentando nós nas coisas

que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se

não veem são eternas.