a tardinha - capa dia do Índio

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Salvador, SÁBADO, 19 de abril de 2008 4 e 5 Pegadas HAROLDO ABRANTES | AG. A TARDE Davi Simões, 10, brinca de arco e flecha, no Colégio Batista Brasileiro ANDRÉA LEMOS E MIRELA PORTUGAL [email protected] e [email protected] Gustavo Loyola, 7, já brincou de arco e flecha e andou em canoa. Ele contou que o arco e a flecha não eram de verdade, como os dos índios. Serviam apenas para a diversão. A canoa, ele conheceu em um passeio com os pais, não lembra bem onde, mas diz que ficou com um pouco de medo de que a embarcação virasse e ele caísse no rio. Gustavo sabe que canoa vem da cultura indígena. Fernando Rodrigues, 10, que estuda no Colégio Batista Brasileiro, assim como No Brasil, existem cerca de 750 mil índios. Costumes e heranças estão presentes nas cidades e no jeito de quem vive no País Canoa é um instrumento utilizado por pescadores na Baía de Todos os Santos e em todo o Brasil. Foi criada pelos índios de origem Tupi. A canoa é um tronco de madeira inteiro, escavado no meio, e serve para se locomover no rio ou no mar. Canoa e pesca Era costume nas aldeias usar as plantas e animais apenas na medida do necessário para a sobrevivência. Os índios têm um laço sagrado com a natureza. Os bichos são vistos como seres fantásticos. Com a natureza Foi graças aos índios que plantas como cacau puderam ser cultivadas em fazendas que hoje fornecem o produto para fazer chocolate. A batata-doce, a banana-da-terra, a mandioca e receitas gostosas que dá para fazer com eles (beiju, fubá) também são indígenas. Comida boa O uso da água para limpeza do corpo e o costume de lavar objetos vieram dos índios. Eles tomavam muitos banhos por dia, e os portugueses estranharam esse hábito. No frio da Europa, isso não era comum. Gosto pelo banho Índios participaram da construção da cidade de Salvador. Levantaram casas, igrejas, edifícios e fortificações como a do Santo Antônio e a do Monte Serrat, nos bairros de mesmo nome. Ajudantes de construção Alguns nomes de bairros de Salvador vêm do Tupi, como Pituba, Itapuã, Periperi e Paripe. Também são Tupi expressões como xará, de Xe (meu) e Rera (nome); jacaré, de Îakaré; capoeira, de Ko (roça) e Pûera (pretérito) e pipoca, de Pira (pele) e Oka (tirar). Palavras O 19 de abril foi criado em 1940, em um congresso que reuniu lideranças indígenas da América, no México. Este exato dia foi escolhido porque é o aniversário de Marechal Rondon, fundador do Serviço de Proteção ao Índio. Dia do índio Os índios dançam em círculo. Não dá para afirmar que as brincadeiras de roda vieram daí, porque os europeus também têm esse costume. Mas a peteca, sim, é uma invenção Tupi. Brincadeiras Gustavo, em Salvador, também sabe que algumas brincadeiras que ele gosta foram ensinadas pelos índios. Ele não foi em nenhuma aldeia para aprender isso, mas nem precisou. Tem coisas que a gente conhece que nasceram no passado e foram transmitidas de geração para geração, até chegar ao presente. Fernando acha que foi isso o que aconteceu com as brincadeiras de roda, por exemplo: Elas foram inventadas pelos índios há muito tempo. Será? Quando Hannah Boechat, 9, lembra de natureza, ela também lembra de índios. Hannah acha que eles têm mais sabedoria do que a maioria das pessoas, porque “não poluem o meio ambiente, não destroem as árvores e não matam as plantas. Todo mundo acha que só porque temos educação escolar somos educados. Mas os índios são mais educados que a gente”. Assim como Gustavo, Fernando e Hannah, o que você sabe sobre a cultura dos índios? Você faz idéia do quanto existe de indígena no seu dia-a-dia? Essas são algumas perguntas que esta reportagem tenta responder hoje, no Dia do Índio. de índio Quem eram os povos Os índios que moravam onde hoje é Salvador e Itaparica pertecem à nação Tupinambá. Povos chamados de Caeté, Potiguara e Tupiniquim fazem parte dessa nação. É como se os Tupinambá fossem os brasileiros e os outros fossem os nordestinos, os sulistas etc . Todos eles falavam a mesma língua, o Tupi, e mantinham hábitos parecidos, apesar de terem chefes diferentes. Os chefes eram os mais velhos e os mais sábios da tribo. Isso até o começo do século 16, quando os portugueses chegaram aqui. Em Salvador, os europeus usaram os índios na construção da cidade e nas fazendas de gado e açúcar, principalmente até o século 17. Os jesuítas eram um grupo de europeus da Igreja Católica que tentavam facilitar a aproximação com os índios. Havia aldeias Tupinambá por toda a cidade. O Passeio Público, na Avenida Sete, e os bairros do Rio Vermelho, São Bartolomeu e Itapuã, por exemplo, já foram centros de aldeias. Os Tupinambá valorizavam a coragem e a valentia. Havia guerras entre tribos por disputa de território. Os portugueses aproveitavam a rivalidade e faziam alianças com certos grupos, ajudando-os a combater os outros. Quando venciam, os portugueses usavam os prisioneiros indígenas na construção e na lavoura. Muitos índios fugiram das aldeias, foram tirados da cidade e morreram com doenças como o sarampo, que se espalhou entre os índios de Salvador por volta de 1563. As maiores comunidades Tupinambá da Bahia estão atualmente em Olivença, e perto de Belmonte e Serra do Padeiro, no extremo sul do Estado. FONTES | José Augusto Sampaio, antropólogo da Uneb; Maria Hilda Baqueiro, antropóloga da Ufba; e Consuelo Pondé, professora de Tupi da Ufba ELÓI CORRÊA | AG. A TARDE XANDO P. | AG. A TARDE RENATA CARVALHO | AG. A TARDE

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Reportagem de capa do suplemento semanal infantil do jornal A Tarde

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Page 1: A Tardinha - Capa Dia do Índio

Salvador, SÁBADO, 19 de abril de 2008

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PegadasHAROLDO ABRANTES | AG. A TARDE

Davi Simões, 10, brinca dearco e flecha, no ColégioBatista Brasileiro

ANDRÉA LEMOSE MIRELA [email protected] e

m p o r t u g a l @ g r u p o a t a rd e . c o m . b r

Gustavo Loyola, 7, já brincoude arco e flecha e andou emcanoa. Ele contou que o arcoe a flecha não eram deverdade, como os dos índios.Serviam apenas para adiversão. A canoa, eleconheceu em um passeiocom os pais, não lembra bemonde, mas diz que ficou comum pouco de medo de que aembarcação virasse e elecaísse no rio. Gustavo sabeque canoa vem da culturaindígena.

Fernando Rodrigues, 10,que estuda no ColégioBatista Brasileiro, assim como

No Brasil, existem cerca de 750 mil índios. Costumes e herançasestão presentes nas cidades e no jeito de quem vive no País

Canoa é um instrumentoutilizado por pescadoresna Baía de Todos osSantos e em todo o Brasil.Foi criada pelos índios deorigem Tupi. A canoa éum tronco de madeirainteiro, escavado no meio,e serve para se locomoverno rio ou no mar.

Canoa e pesca Era costume nas aldeiasusar as plantas e animaisapenas na medida donecessário para asobrevivência. Os índiostêm um laço sagrado coma natureza. Os bichos sãovistos como seresfantásticos.

Com a natureza

Foi graças aos índiosque plantas comocacau puderamser cultivadasem fazendasque hoje fornecemo produto para fazerchocolate. A batata-doce, abanana-da-terra, a mandiocae receitas gostosas que dápara fazer com eles (beiju,fubá) também são indígenas.

Comida boa

O uso da água paralimpeza do corpo e ocostume de lavar objetosvieram dos índios. Elestomavam muitos banhospor dia, e os portuguesesestranharam esse hábito.No frio da Europa, issonão era comum.

Gosto pelo banho

Índios participaram da construção dacidade de Salvador. Levantaram casas,igrejas, edifícios e fortificações como ado Santo Antônio e a do MonteSerrat, nos bairros de mesmo nome.

Ajudantes de construção

Alguns nomes de bairrosde Salvador vêm do Tupi,como Pituba, Itapuã,Periperi e Paripe. Tambémsão Tupi expressões comoxará, de Xe (meu) e Rera(nome); jacaré, de Îakaré;capoeira, de Ko (roça) ePûera (pretérito) e pipoca,de Pira (pele) e Oka (tirar).

Palavr as

O 19 de abril foi criado em1940, em um congressoque reuniu liderançasindígenas da América, noMéxico. Este exato dia foiescolhido porque é oaniversário de MarechalRondon, fundador doServiço de Proteção aoÍndio.

Dia do índioOs índios dançam em círculo.Não dá para afirmar que asbrincadeiras de roda vieramdaí, porque os europeustambém têm esse costume.Mas a peteca, sim, é umainvenção Tupi.

Br incadeiras

Gustavo, em Salvador,também sabe que algumasbrincadeiras que ele gostaforam ensinadas pelos índios.Ele não foi em nenhumaaldeia para aprender isso,mas nem precisou. Tem coisasque a gente conhece quenasceram no passado eforam transmitidas degeração para geração, atéchegar ao presente.Fernando acha que foi isso oque aconteceu com asbrincadeiras de roda, porexemplo: Elas foraminventadas pelos índios hámuito tempo. Será?

Quando Hannah Boechat,9, lembra de natureza, elatambém lembra de índios.Hannah acha que eles têmmais sabedoria do que a

maioria das pessoas, porque“não poluem o meioambiente, não destroem asárvores e não matam asplantas. Todo mundo achaque só porque temoseducação escolar somoseducados. Mas os índios sãomais educados que a gente”.

Assim como Gustavo,Fernando e Hannah, o quevocê sabe sobre a cultura dosíndios? Você faz idéia doquanto existe de indígena noseu dia-a-dia? Essas sãoalgumas perguntas que estareportagem tenta responderhoje, no Dia do Índio.

deíndioQuem eram os povosOs índios que moravam onde hoje é Salvadore Itaparica pertecem à nação Tupinambá.Povos chamados de Caeté, Potiguara eTupiniquim fazem parte dessa nação. É comose os Tupinambá fossem os brasileiros e osoutros fossem os nordestinos, os sulistas etc .Todos eles falavam a mesma língua, o Tupi, emantinham hábitos parecidos, apesar deterem chefes diferentes. Os chefes eram osmais velhos e os mais sábios da tribo. Isso atéo começo do século 16, quando osportugueses chegaram aqui.

Em Salvador, os europeus usaram os índiosna construção da cidade e nas fazendas degado e açúcar, principalmente até o século17. Os jesuítas eram um grupo de europeusda Igreja Católica que tentavam facilitar aaproximação com os índios. Havia aldeiasTupinambá por toda a cidade. O PasseioPúblico, na Avenida Sete, e os bairros do RioVermelho, São Bartolomeu e Itapuã, porexemplo, já foram centros de aldeias.

Os Tupinambá valorizavam a coragem e avalentia. Havia guerras entre tribos pordisputa de território. Os portuguesesaproveitavam a rivalidade e faziam aliançascom certos grupos, ajudando-os a combateros outros. Quando venciam, os portuguesesusavam os prisioneiros indígenas naconstrução e na lavoura. Muitos índiosfugiram das aldeias, foram tirados da cidadee morreram com doenças como o sarampo,que se espalhou entre os índios de Salvadorpor volta de 1563. As maiores comunidadesTupinambá da Bahia estão atualmente emOlivença, e perto de Belmonte e Serra doPadeiro, no extremo sul do Estado.

FONTES | José Augusto Sampaio,antropólogo da Uneb; Maria HildaBaqueiro, antropóloga da Ufba; eConsuelo Pondé, professora de Tupi daUfba

ELÓI CORRÊA | AG. A TARDE

XANDO P. | AG. A TARDE

RENATA CARVALHO | AG. A TARDE