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1 Editorial Visite o nosso site em: www.conf-quadros.pt A situação dos Quadros Técnicos na Administração Local A aplicação do actual regime de vínculos, carreiras e remunerações, decorrente da Lei 12-A/2008, de 27 de Feve- reiro, complementado com a subsequente regulamentação, confirmou em absoluto os efeitos altamente penalizadores que esta ofensiva provocou aos direitos anterior- mente conquistados pela generalidade dos trabalhadores. Este ataque estendeu-se e afectou também, naturalmente, o estatuto profissional dos quadros técnicos, por- quanto assentou em critérios que não tive- ram em conta nem as habilitações, nem as diversas categorias já detidas pelos traba- lhadores, nem as expectativas de progres- são profissional, nem ainda, as distintas res- ponsabilidades funcionais efectivas. Os técnicos superiores, ficando integrados em carreira uni-categorial – em categoria única, viram-lhes sonegados um dos mais elementares direitos dos trabalhadores, o direito de ascensão na carreira. Ficando eli- minadas as legítimas expectativas de as- cenderem na carreira, viram também serem reduzidas substancialmente as possibilida- des de mudança de nível na categoria única que lhes foi imposta. Assim, à cristalização na carreira e categoria, acresceu a cristali- zação salarial, e a significativa desvalorização do nível remuneratório inicial. A transferência de novas competências para os Municípios, a política de descentra- lização seguida, o acentuar da liberalização e privatização de serviços públicos muni- cipais, e a multiplicidade nas opções poli- ticamente assumidas pelos Municípios, muitas vezes incoerentes do ponto de vista técnico e político, apresentam um quadro de crescente complexidade de intervenção e responsabilização destes trabalhadores. A exigência do exercício de vastíssimas fun- ções, com responsabilidade técnica directa, tendo em conta que o seu desempenho pode dar azo à atribuição de responsabili- Fechamos a preparação do presente nú- mero do QI já com o ano de 2010 a chegar ao seu termo; e como é costume nesta época, façamos também uma pequena e brevíssima resenha de balanço do ano. No que respeita a efemérides, foi um ano cheio de algumas relevantes, umas nacio- nais outras de nível mundial. Dos eventos de que celebrámos centenários destaca- mos o da IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA em Portugal (5 de Outubro de 1910), pelo profundo significado de progresso para o País, pelo que representou de ruptura com o caduco e corrupto regime monárquico. Pese embora o carácter burguês da revo- lução, o que cedo se manifestou com fero- zes ataques às classes laboriosas e ao exercíco dos direitos sindicais, que teve na ditadura pré-fascista de Sidónio Pais o seu apogeu, não há dúvida de que a implan- tação da República foi um avanço civili- zacional, pelas reformas que o novo regime promoveu e pelas perspectivas de moder- nização que se abriram. E a este propósito, chama-se a atenção para o próximo ano de 2011, em que faz 100 anos a reestru- turação da Universidade de Lisboa, uma das obras notáveis do novo regime. Com a nova universidade dá-se início à moder- nização da vida portuguesa no século XX, em todos os seus aspectos, pois a uni- versidade veio trazer jovens quadros para a vida pública, com novas mentalidades, novos conhecimentos e vontade de reformar o sistema. De âmbito mundial destacamos o CENTENÁRIO DO DIA DA MULHER (8 de Março), largamente celebrado por movimentos sociais progressistas em todo o mundo. A este assunto dedicamos maior desenvolvimento neste número do QI. Embora sem a natureza de centenário, e só de âmbito nacional, destacamos uma efeméride de importância extraordinária para os trabalhadores portugueses: a criação da CGTP-IN, há 40 anos. Essa nova estrutura do movimento sindical de classe português foi determinante para avanços significativos na capacidade de luta dos tra- balhadores portugueses, pela defesa dos seus direitos, mas também, de forma mais (Continua na página 2) (Continua na página 2) A situação dos Quadros Técnicos na Administração local Encontro sobre “Direitos dos Jovens Quadros” Algumas reflexões sobre vínculos contratuais Sindicalismos Pela paz contra o militarismo No Dia Internacional da Mulher Alarga-se o uso de bolseiros como docentes não remunerados Licenciados e mestres (antes e depois de Bolonha) SUMÁRIO:

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Editorial

Visite o nosso site em:www.conf-quadros.pt

A situação dosQuadros Técnicos naAdministração Local

A aplicação do actual regime devínculos, carreiras e remunerações,

decorrente da Lei 12-A/2008, de 27 de Feve-reiro, complementado com a subsequenteregulamentação, confirmou em absoluto osefeitos altamente penalizadores que estaofensiva provocou aos direitos anterior-mente conquistados pela generalidade dostrabalhadores. Este ataque estendeu-se eafectou também, naturalmente, o estatutoprofissional dos quadros técnicos, por-quanto assentou em critérios que não tive-ram em conta nem as habilitações, nem asdiversas categorias já detidas pelos traba-lhadores, nem as expectativas de progres-são profissional, nem ainda, as distintas res-ponsabilidades funcionais efectivas.Os técnicos superiores, ficando integradosem carreira uni-categorial – em categoriaúnica, viram-lhes sonegados um dos maiselementares direitos dos trabalhadores, odireito de ascensão na carreira. Ficando eli-

minadas as legítimas expectativas de as-cenderem na carreira, viram também seremreduzidas substancialmente as possibilida-des de mudança de nível na categoria únicaque lhes foi imposta. Assim, à cristalizaçãona carreira e categoria, acresceu a cristali-zação salarial, e a significativa desvalorizaçãodo nível remuneratório inicial.A transferência de novas competênciaspara os Municípios, a política de descentra-lização seguida, o acentuar da liberalizaçãoe privatização de serviços públicos muni-cipais, e a multiplicidade nas opções poli-ticamente assumidas pelos Municípios,muitas vezes incoerentes do ponto de vistatécnico e político, apresentam um quadrode crescente complexidade de intervençãoe responsabilização destes trabalhadores.A exigência do exercício de vastíssimas fun-ções, com responsabilidade técnica directa,tendo em conta que o seu desempenhopode dar azo à atribuição de responsabili-

Fechamos a preparação do presente nú-mero do QI já com o ano de 2010 a chegarao seu termo; e como é costume nestaépoca, façamos também uma pequena ebrevíssima resenha de balanço do ano.No que respeita a efemérides, foi um anocheio de algumas relevantes, umas nacio-nais outras de nível mundial. Dos eventosde que celebrámos centenários destaca-mos o da IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICAem Portugal (5 de Outubro de 1910), peloprofundo significado de progresso para oPaís, pelo que representou de ruptura como caduco e corrupto regime monárquico.Pese embora o carácter burguês da revo-lução, o que cedo se manifestou com fero-zes ataques às classes laboriosas e aoexercíco dos direitos sindicais, que teve naditadura pré-fascista de Sidónio Pais o seuapogeu, não há dúvida de que a implan-tação da República foi um avanço civili-zacional, pelas reformas que o novo regimepromoveu e pelas perspectivas de moder-nização que se abriram. E a este propósito,chama-se a atenção para o próximo anode 2011, em que faz 100 anos a reestru-turação da Universidade de Lisboa, umadas obras notáveis do novo regime. Coma nova universidade dá-se início à moder-nização da vida portuguesa no século XX,em todos os seus aspectos, pois a uni-versidade veio trazer jovens quadros paraa vida pública, com novas mentalidades,novos conhecimentos e vontade dereformar o sistema.De âmbito mundial destacamos oCENTENÁRIO DO DIA DA MULHER (8 deMarço), largamente celebrado pormovimentos sociais progressistas em todoo mundo. A este assunto dedicamos maiordesenvolvimento neste número do QI.Embora sem a natureza de centenário, esó de âmbito nacional, destacamos umaefeméride de importância extraordináriapara os trabalhadores portugueses: acriação da CGTP-IN, há 40 anos. Essa novaestrutura do movimento sindical de classeportuguês foi determinante para avançossignificativos na capacidade de luta dos tra-balhadores portugueses, pela defesa dosseus direitos, mas também, de forma mais

(Continua na página 2)

(Continua na página 2)

A situação dos Quadros Técnicos naAdministração localEncontro sobre “Direitos dos JovensQuadros”Algumas reflexões sobre vínculoscontratuais

SindicalismosPela paz contra o militarismoNo Dia Internacional da MulherAlarga-se o uso de bolseiros como docentesnão remuneradosLicenciados e mestres (antes e depois deBolonha)

SUMÁRIO:

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QI QUADROS INFORMAÇÃO

ampla, foi determinante para dar mais forçaà resistência de todo o povo ao regimefascista. Neste particular, a criação daCGTP-IN em Outubro de 1970 foi um enor-me contributo para a conquista da liber-dade em 25 de Abril de 1974.E de importância e dimensão mundial refira-se a passagem dos 120 anos sobre a come-moração do primeiro 1º DE MAIO comoDIA INTERNACIONAL DO TRABALHA-DOR, pelo que esta data significa de lutasdos trabalhadores pela defesa dos seusdireitos e contra a exploração capitalista.Recordar que a escolha desta data comoreferência das lutas do proletariado foidecidida na reunião da Segunda Inter-nacional Socialista, reunida em Paris, emJunho de 1889, pelos delegados de movi-mentos socialistas de vários países, emmemória da repressão policial que se aba-teu, em Maio de 1886, em Chicago, sobreos que lutavam pelo horário de trabalhode 8 horas. A decisão foi tomada sobreproposta de Raymond Lavigne, sindicalistafrancês, de convocar anualmente umamanifestação com o objectivo de lutar pelajornada de 8 horas, em 6 dias de trabalho.Em França, o horário de 8 horas só foi apro-vado em 1919, tendo o senado o dia 1 deMaio como feriado. E na Rússia revolu-cionária o 1º de Maio foi adoptado comoferiado nacional em 1920. Em Portugal aslutas foram ainda mais duras, primeirocontra a resistência da república burguesa,

depois contra a ditadura fascista, a tal pontoque só o 25 de Abril tornou possível come-morar o Dia do Trabalhador em liberdade,nesse inesquecível 1º de Maio de 1974.Mas 2010 foi também um ano de grandeslutas para os trabalhadores portugueses, peladefesa dos seus direitos, contra as políticasanti-sociais do Governo e das maiorias par-tidárias que as apoiaram em sede parla-mentar. E aqui cabe uma referência especialà GREVE GERAL do dia 24 de Novembro,greve a todos os títulos memorável, querpela dimensão alcançada (admite-se que trêsmilhões de trabalhadores estiveram envol-vidos), quer pela amplidão e diversidade desectores de actividade atingidos, do públicoao privado, do sector dos serviços à activi-dade produtiva.O ano de 2010 foi, portanto, mais um anopéssimo para os que vivem da venda dasua força de trabalho, ou da venda dos seusconhecimentos técnicos e científicos. Mas, deforma geral, foi também péssimo para a mai-oria da população com recursos modestos epara os setecentos mil desempregados, entreos quais algumas dezenas de milhar dejovens com qualificações académicas, ouprofissionais, que potenciam capacidadestécnicas de que Portugal muito beneficiariase fossem aproveitadas. Infelizmente nãose perspectivam dias melhores: as medidasdos PEC surgidos no presente ano de 2010(medidas propostas pelo Governo JoséSócrates e aprovadas na Assembleia da

República pelo PS e PSD) não permitem terdúvidas: vem aí uma profunda recessão eco-nómica, com tudo o que isso significa demais falências e mais desemprego.É verdade que o problema não é só dePortugal, é de muitos países, inclusive dealguns considerados ricos, como é o casodos Estados Unidos da América, mas é issoprecisamente que os trabalhadores têm queconsciencializar: o problema não é conjun-tural, é do sistema capitalista. Sabemos hámuito que o sistema tem crises cíclicas, masa que se vive hoje é uma crise profundíssima,que muitos analistas comparam à que omundo viveu na sequência do célebre crashda Bolsa de Nova York, em 1929. “Curiosa-mente” as duas crises, a dos anos 20 e ade agora, com o rebentamento da bolha bol-sista especulativa do subprime, foram ge-radas no mesmo país: os USA. Parece nãohaver lugar para grandes dúvidas: trata-sede uma verdadeira agonia do modelo.Uma coisa é certa: o que está acontecendonão é uma fatalidade; a situação é reversívelse soubermos lutar de forma organizada esustentada, no seio das organizações própriasdos trabalhadores e com legitimidade paraos representar, portanto sindicatos e comis-sões de trabalhadores. Só unidos teremosforça. Com essa convicção, a CPQTC con-tinuará a fazer o que estiver ao seu alcancepara que, no seio do MSU, os problemasespecíficos e legítimas aspirações dos QTCsejam tidas em devida consideração.

(Continuação da 1ª página)

dades civis extra-contratuais, por aplica-ção da Lei 67/2007, de 31 de Dezembro,deixa hoje os quadros técnicos particu-larmente expostos e vulneráveis a muitassituações, actos e omissões, passíveis depoderem ser consideradas ilícitas.Nas últimas três décadas, diversas tarefase alguns dos serviços historicamentedesempenhadas pelos municípios, comoa captação, tratamento e abastecimentode água, a recolha e tratamento de resí-duos sólidos urbanos foram abertos àparticipação e intervenção de operadoresprivados, num processo que tem assumidodiversas formas: concessão, contratos deprestação de serviços, contratos de ges-tão, criação de empresas municipais, ope-rações de alienação de activos, etc. O novoregime jurídico do Sector Empresarial Local(Lei nº 53-F/2006), constitui em si mesmoum convite expresso ao estabe-lecimentode parcerias público-privadas, formalizadasem regra, por via da constituição de socie-dades comerciais de capitais minori-tariamente públicos.

Por estas razões e sendo conhecida anecessidade de incorporar mais ciência etécnica nos processos de trabalho da admi-nistração local, com vista a elevar mais ele-vados níveis de produtividade, mormenteem actividades que possam integrar osmilhares de jovens com qualificações aca-démicas que estão no desemprego ou emcondições da mais absoluta precariedade, esendo também conhecido o papel centralque a qualificação da força-de-trabalho atodos os níveis assume para este objectivo,continua a ser marginalizado o conhecimentono processo decisório, o subaproveitamentoe desfasamento de funções dos quadrostécnicos, a subalternização da formaçãotécnica e académica, a par do aumento daresponsabilização civil, bem como a imposiçãode objectivos tecnicamente irrealistas nosprocessos de avaliação de desempenho.Procurando conhecer melhor estes profis-sionais e os seus problemas e interessesespecíficos, o STAL, dando expressão prá-tica ao seu Plano de Actividades para 2009,organizou durante este ano um conjunto

de Seminários Regionais de QuadrosTécnicos da Administração Local:- 27 de Abril, “Seminário Regional QTAL doSul” em Beja;- 29 de Abril, “Seminário Regional QTAL doNorte” no Porto;- 7 de Julho, “Seminário Regional QTAL doCentro” em Viseu.Apesar de existirem cada vez mais quadrosem situação de grande precariedade e dedesemprego, e de trabalharem, em geral,em situações de horário flexível, a taxa desindicalização cresceu ao longo do ano de2009, embora aquém da generalidade dosrestantes trabalhadores, pelo que o reforçoda organização sindical junto dos QTCcontinuará a ser uma orientação prioritáriano desenvolvimento do nosso trabalho, poiscontinuará a ser no contexto mais geral daslutas dos trabalhadores que melhor se evi-denciam os seus problemas específicos.

A situação dos Quadros Técnicos na Administração Local

José Joaquim Correia(da direcção Regional de Évora do STAL

e membro da DN da CPQTC)

Editorial(Continuação da 1ª página)

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QI QUADROS INFORMAÇÃO

Encontro sobre: “Direitos dos Jovens Quadros:Mudar o Presente, Rumar ao Futuro”Em 16 de Abril, em Lisboa, a Confederaçãolevou a cabo um encontro-debate sobre agrave situação que afecta hoje milhares dejovens portugueses com preparação escolarem domínios técnicos e científicos. A sessãodecorreu na sede do Sindicato dosTrabalhadores da Administração Local(STAL). A falta de emprego e a precariedade,assim como os estágios não remunerados,foram referidos pela maioria dos participantese estiveram entre as questões maisdebatidas.Segundo Joaquim Correia, presidente daCPQTC, a situação dos jovens quadros tem-se agravado de ano para ano, seja na difi-culdade de acesso ao emprego, seja fra-gilidade do tipo de contrato, seja na falta decorrespondência entre o posto de trabalhoconseguido e a formação académica.Acrescentou ainda que a actual vaga deemigração de jovens com qualificaçõeselevadas, designadamente com os graus deMestre e de Doutor, leva à perda, para opaís, de recursos humanos valiosos. Defacto, é já da ordem de muitos milhares aquantidade de jovens quadros compelidos aemigrar para países com maior capacidadede aproveitar as suas competências e a suainteligência. É um fenómeno novo emPortugal este de exportar “massa cinzenta”,um fenómeno de que não nos deviamosorgulhar mas antes pelo contrário, pois é maispróprio de países do chamado “terceiromundo” do que de um país europeu.Como oradores convidados intervieram o Dr.José Torres, advogado do STAL, e o Prof.Doutor Sérgio Ribeiro, economista e ex-deputado europeu.A intervenção do Dr. Torres incidiu, pre-dominantemente, sobre a legislação aplicávelaos quadros superiores da AdministraçãoPública, mormente no caso da AdministraçãoLocal.O Doutor Sérgio Ribeiro fez um percursohistórico sobre a exploração do trabalho nomundo e destacou, no caso dos quadros, ointervalo entre os salários mais baixos e ossalários mais elevados. A este propósitoreferiu um documento apre-sentado pelaConfederação ao Encontro, onde se salientaque, em 2009, o poder de compra entre osjovens trabalhadores caiu 2,8 por cento, eque no caso dos bolseiros de investigação,sem qualquer acesso a subsídio dealimentação, de férias e de Natal, as bolsasnão sofrem qualquer actualização desde2002, o que corresponde a uma perda de20 por cento no poder de compra no períodoconsiderado.Esta realidade, acrescentada à de milharese milhares de jovens que estão submetidosà condição dos “falsos recibos verdes”, é a

realidade de cerca de 60 por cento dos jovenscom menos de 25 anos. Mais de 900 miljovens vivem com um vínculo precário emque esta condição implica grandes dis-criminações salariais, pois uma hora detrabalho de um trabalhador precário custaquase metade do que custa uma mesmahora de um trabalhador efectivo.Sobre os responsáveis por esta situação, osparticipantes foram claros e indicaram ossucessivos governos PS, PSD e CDS.Não sendo o encontro visto como o pontofinal de um processo mas antes como umponto de partida para análises e discussõesfuturas, foram apontadas já algumas pers-pectivas; assim, destacou-se a necessidadede se modernizar a economia e de seaumentar a competitividade, não desper-diçando a actual juventude portuguesa, hojemuito mais preparada técnica e cienti-ficamente do que no passado, portanto emmelhores condições para contribuir para odesenvolvimento do país. Valter Lóios,representante da Interjovem, interveio parafrisar a necessidade de se encontraremsoluções de combate à exploração e àprecariedade através da luta política e sindical.No final, tomou a palavra Carlos Calado, daComissão Executiva da Confederação, paraapresentar onze reivindicações que corres-pondem à análise que a Direcção Nacionalda Confederação faz da situação e que teve

em consideração aspectos con-clusivos dodebate realizado durante o encontro. Sãoelas:1. Necessidade de uma politica quegaranta as funções sociais do Estado,tal como determina a Constituição daRepública.2. Reforço da capacidade técnico--científica da Administração Pública.3. Fim das situações de precariedadeno emprego, desde logo todos os“falsos recibos verdes” na Admi-nistração Pública.4. Uma politica que valorize epromova o conhecimento científico,a tecnologia e a inovação, base ecimento da economia, da qualidade devida dos portugueses e de um desen-volvimento harmonioso da sociedade.5. Uma política para as áreas da Ciên-cia e Tecnologia, quer em inves-tigação aplicada, quer fundamental,a par do que se faz na União Europeia.6. Valorização das remunerações dostécnicos e trabalhadores científicos,de forma que estejam de acordo como grau de complexidade e dificuldadedo trabalho que desenvolvem.7. Igualdade de tratamento salarialpara níveis de formação académicaequivalentes.8. Estágios remunerados, e fim dosestágios não remunerados.9.Estímulos para a inserção detrabalhadores qualificados em PME.10. Mais oportunidades de formaçãocontínua em horário laboral.11. Bolsas de estudo e de inves-tigação ajustadas às necessidadesdos bolseiros e devidamente actuali-zadas.

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1. A PROBLEMATICA DO INGRESSONO MUNDO DO TRABALHODOS JOVENS COM FORMAÇÃOSUPERIOR E AS RELAÇÕESDE TRABALHO ESTABELECIDAS

Tendo por lema “Direito dos JovensQuadros: Mudar o presente, Rumar aofuturo”, a iniciativa tem por objecto nãosó o problema dos jovens com formaçãosuperior e, eventualmente, com forma-ção profissional adequada em sede deestágios profissionais no acesso ao me-rcado de trabalho, mas também asituação dos jovens quadros já integra-dos, a exercerem actividade profissional.Tanto num como noutro caso, torna-senecessária a celebração de contratos oude trabalho ou de prestação de serviço,este correntemente designado na suaforma retributiva por “recibo verde”.Se a actual situação económica e socialque configura uma grave crise, emgrande parte derivada de execução depolíticas desajustadas da responsa-bilidade do Governo, constitui obstáculo,em tantos casos insuperáveis, ao acessoao emprego, nomeadamente ao pri-meiro emprego, por parte de largosmilhares de jovens com formação supe-rior, não é menos certo que igualmentese projecta negativamente nas relaçõesde trabalho estabelecidas com jovens eoutros quadros técnicos há muito inse-ridos no mundo do trabalho.No tocante ao ingresso, importa terpresente o volume de desemprego comque o País se confronta, com mais de700 mil desempregados, abrangendolargos milhares de quadros.No relativo aos quadros e jovens quadrosa exercerem actividade profissional, ascondições concretas em que, emgrande número, são obrigados a prestartrabalho, nomeadamente no tocante ànatureza das funções a seu cargo,tempos de trabalho, mobilidade geo-gráfica, nível retributivo, natureza dovínculo contratual e direitos sociais, apro-ximam-se cada vez mais das condiçõesde trabalho da generalidade dos tra-balhadores, cuja tónica comum traduz-se na progressiva perda de direitos.Daí ser corrente a afirmação de que osquadros técnicos e científicos vêmperdendo gradualmente o estatuto profis-

sional que no âmbito de uma gestão vertical,os situava na órbita das direcções ouadministrações das empresas, mas que porforça do tipo de gestão horizontal lar-gamente implementada em função do sis-tema económico e financeiro globalizado,estão hoje em posição subalterna, a cha-mada proletarização dos quadros.

2. O DIREITO AO TRABALHOE Á SEGURANÇA NO EMPREGOCOMO DIREITOS FUNDAMENTAISCONSAGRADOS NOS ARTIGOS 53ºE 58º DA CONSTITUIÇÃO DAREPÚBLICA PORTUGUESA (CRP).

Dimana dos dispositivos constitucionais cita-dos a proibição dos despedimentos sem justacausa ou por motivos políticos ou ideológicos.Ora, para garantir os direitos ao trabalho e àsegurança no emprego, a CRP, no âmbitoda alínea a) do nº2 do artigo 58º, prevê aincumbência por parte do Estado de pro-mover determinadas medidas, nomeada-mente políticas de pleno emprego. Só queas medidas e políticas adoptadas peloGoverno estão longe de garantir, na prática,a efectivação destes importantes direitos.

3. NOÇÕES DO CONTRATODE TRABALHO E DO CONTRATODE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOE SEUS EFEITOS.

Sendo realidades jurídicas distintas, comode seguida iremos ver, surgem, com fre-quência, de modo deliberado, confundidas,visando por parte do patronato a supres-são de direitos de quem trabalha.Estabelece o artigo 11º do Código do Tra-balho que o contrato de trabalho é aquelepelo qual uma pessoa singular se obriga,mediante retribuição, a prestar a sua acti-vidade a outra ou outras pessoas, no âmbi-tode organização e sob a autoridade destas.Por seu turno, a noção de contrato de pres-tação de serviço consta expressamente doartigo 1154º do Código Civil, em que umadas partes outorgantes se obriga a pro-porcionar à outra certo resultado do seutrabalho intelectual ou manual, com ou semretribuição.Partindo dos dois instrumentos cotratuais,em termos práticos, significam que nocontrato de trabalho, o quadro técnico oucientífico é integrado na organização e

desempenha a sua actividade profissionalsob a autoridade da entidade patronal,mantendo-se ao seu serviço de acordo coma natureza do vínculo contratual, duradouraou precária, em que foi contratado e tendocomo contrapartida uma remuneração.Enquanto no contrato de prestação deserviço, o jovem futuro quadro contratadonão integra a organização da empresa ouda Administração Pública, não actua sob aautoridade da entidade patronal (1ºoutorgante), não dispõe de vínculo contratualtípico de contrato individual de trabalho,incumbindo-lhe, isso sim, assegurar ao 1ºoutorgante certo resultado da actividadepara que foi contratado.No contrato de trabalho, os direitos egarantias e os deveres funcionais dos qua-dros técnicos e científicos e dos trabalha-dores em geral encontram-se regulados,quanto aos sectores público e privado, noCódigo do Trabalho, nos instrumentos deregulamentação colectiva de trabalho – AE,CCT e ACT – e ainda nos contratos indi-viduais de trabalho sem termo ou por tempoindeterminado quando tomam a formaescrita.Já no sector da Administração Pública, oscontratos de trabalho são regulados pelasLeis nºs 12-A/2008, de 27-02, e 59/2008,de 11/09, que aprovaram os Regimes deContrato de Trabalho em Funções Públicas,aplicados à esmagadora maioria dostrabalhadores com vínculo à Função Públi-ca por nomeação nos quadros, o qual foiconvertido numa relação de contrato detrabalho em Funções Públicas (RCTFP).A ligação do jovem quadro ao posto detrabalho através de um contrato de pres-tação de serviço de todo o afasta das leislaborais, em particular dos direitos e garantias,pelo que as condições da prestação deserviço constam do contrato celebrado comforma escrita e, subsidiariamente, sãoreguladas pelo Código Civil.O princípio da celebração do contrato deprestação de serviço não é posto em causanas situações em que o recurso a este tipode contrato é correcto.Visa, no fundamental, por parte do segun-do outorgante assegurar ao primeiro outo-rgante um certo resultado, o que faz noâmbito da sua especialidade e compe-tência,com autonomia técnica e jurídica, tendo

NOTA DA REDACÇÃO: o texto que se segue é parte da comunicação apresentada pelo Dr. Joaquim Correia,presidente da Direcção da Confederação, no encontro que teve como lema “Direito dos Jovens Quadros:Mudar o Presente, Rumar ao Futuro”, promovido pela Confederação.

Algumas reflexões sobre vínculos cone contratos no ambito laboral

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QI QUADROS INFORMAÇÃO

como contrapartida a retribuição ajustadapreviamente pelas partes interessadas soba forma de avença, com recibo verde. Oproblema reside no facto das entidades patro-nais impor também a milhares de jovens acelebração de contratos de prestação deserviço quando em presença de verdadeirasrelações de trabalho subordinado. São os“falsos recibos verdes”, com largas vanta-gens para o patronato já que paga saláriosmais baixos, não desconta para a segurançasocial sobre os “independentes”, sendo

encargo destes, não lhes reconhece direitoslaborais, nem requer qualquer compensaçãoa título da cessação do contrato outorgadovisto poder cessar mediante aviso prévio.

4. A RELAÇÃO EXISTENTE ENTREPOSTO DE TRABALHO PERMANENTEE CONTRATO DE TRABALHOSEM TERMO OU POR TEMPOINDETERMINADO.EMPREGO PRECÁRIO E EMPREGODURADOURO.CRITÉRIO DE DISTINÇÃO.

Ainda hoje emerge da nossa legislação laboralo princípio legal consubstanciado na relaçãodirecta entre a natureza e durabilidade doposto de trabalho e o contrato de trabalhocelebrado para o preenchimento daquele.Por força desse princípio, ao preen-chimentode um posto de trabalho permanente eduradouro deveria corresponder a celebraçãode um contrato de trabalho sem termo oupor tempo indeterminado. Daí ter o legisladorprevisto, designadamente nos artigos 139º,140º, 141º, 142º, 143º e 144º do Códigodo Trabalho, as situações contratuais em que

podem recorrer-se à adopção de vínculosprecários, os chamados contratos de tra-balho a termo resolutivo, certo ou incerto.De igual modo, constava da nossa lei oprincípio da maior favorabilidade do traba-lhador, quadro ou não quadro, justamentepor configurar a parte mais débil do contratode trabalho.Sucede, todavia, que tais princípios vêmsendo esbatidos sucessivamente em sededo Código do Trabalho, quer na sua versãooriginária, quer nas suas revisões periódicas

que o governo vem promovendo. Isto paradizer que o quadro actual no mundo dotrabalho, através das causas mais diversas,em parte já abordadas, tende a converteros princípios da estabilidade relativa dasrelações de trabalho e da maior favo-rabilidade do trabalhador na precariedade doemprego como regra e numa relação deparidade contratual entre as partes docontrato de trabalho, como se estivesse empresença de contratos de natureza civil.Contribuíram igualmente para o agra-vamento progressivo do trabalho precárioos institutos jurídicos do trabalho temporário,do teletrabalho, do trabalho intermitente edo trabalho a tempo parcial regulados,respectivamente, nos artigos 172º a 192º;165 a 171º; 150º a 156º do Código doTrabalho.Quando se diz, com propriedade, que alegislação laboral descaracterizou o contratode trabalho, nomeadamente nos segmen-tos normativos da maior relevância caracte-rizadores e protectores da relação de tra-balho subordinado, da durabilidade docontrato de trabalho, da natureza e níveldas funções desempenhadas, dos tempos

e horários de trabalho e sua compaginaçãocom os tempos disponíveis e de lazer dosquadros técnicos e científicos e da genera-lidade dos trabalhadores, pretende-sesignificar e imputar a maior quota deresponsabilidade aos governos do PS porterem sido os autores da legislação maisrecente e mais gravosa para os traba-lhadores, pondo, assim, em causa acomponente social.

5. O BINÓMIO DAS HABILITAÇÕESACADÉMICAS DE NÍVEL SUPERIOR(Bacharelato, Licenciaturas,Pós-Graduação, Mestrado eDoutoramento) E A INTEGRAÇÃOFUNCIONAL DOS JOVENSE QUADROS TÉCNICOS.

A agravar a situação descrita nas ante-riores reflexões, os jovens futuros quadrose quadros técnicos já integrados naorganização das empresas, em vez deposicionados nas suas áreas do saber edos estágios frequentados, portanto, emconsonância com as suas habilitaçõesacadémicas de nível superior e quali-ficações profissionais, estão, em grandeparte, confinados ao desempenho defunções e tarefas de natureza meramen-te executiva.Casos existem de sub-aproveitamento ede marginalização funcionais, de todoinaceitáveis num país como é o nosso,carenciado da formação de novos quadros.O seu enquadramento funcional nasrespectivas áreas do saber e conhe-cimento, a par da sua realização profis-sional e pessoal, constitui uma mais-valiae importante factor para o desenvol-vimento e progresso do País.Nesta linha, impõe-se a criação de postosde trabalho estáveis, de carácter perma-nente que assegurem o acesso dos jovenscom formação superior a emprego estávele duradouro, que não precário, absorvendoa mão-de-obra qualificada e especializada.De outro modo, iremos continuar a assistirà saída do País de parte significativa dejovens quadros, em particular para outrospaíses da Comunidade Europeia, colo-candoao seu serviço as suas capacidades epotencialidades científicas e tecno-lógicas,de que o nosso País tanto carece para oseu desenvolvimento económico, social,ambiental e cultural e aproximação do níveldos países desenvolvidos

Joaquim CorreiaJurista, Presidente da Direcção da CPQTC.

ntratuais

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SindicalismosQI QUADROS INFORMAÇÃO

NOTA DA REDACÇÃO: O texto quese segue é uma versão reduzidado publicado em 24 de Janeiro de 2008,com o mesmo título, no jornal digital–“http://www.diario.info” —www.diario.info.A decisão de o reeditar justifica-sedada a pertinência do tema nostempos que correm, embora o poucoespaço do nosso boletim nos tenhaobrigado a encurtá-lo. O que, tevea devida autorização do autor.O leitor poderá ler a versão originalcom o mesmo título, no endereçoacima referido.

“Independentemente de outrasdiferenças, mais ou menos rele-

vantes, na teoria e na prática da acçãosindical, é a colocação, ou não, doobjectivo de superação do capitalismo– hoje na sua fase imperialista, com adominação universal da oligarquiafinanceira – através da luta de classese com o fim da exploração do trabalho,que distingue os dois conceitos básicosde sindicalismo: sindicalismo refor-mista e sindicalismo de classe, ourevolucionário”

A afirmação de que os Sindicatos sãoorganizações de trabalhadores paradefesa dos seus interesses e direitos nãomerecerá contestação, mesmo daquelescontra quem tal defesa se desenvolve.Mas se àquela afirmação acrescentarmosesta outra de que esses interesses edireitos só serão plenamente alcançadose salvaguardados numa sociedade ondenão haja a exploração do homem pelohomem e é com esse objectivo final queos Sindicatos deverão lutar, então o casomuda de figura; a controvérsia instala-se– também dentro do movimento operárioe sindical – e surgem diferentes e maisou menos elaboradas produções teóricasa contraditar tal postulado.De facto, os Sindicatos que, além da lutapela defesa dos interesses e direitos dostrabalhadores, não colocam também comoobjectivo o fim da exploração do homempelo homem – que pressupõe a luta declasses e o seu papel de motor da história[1] – integram-se (ou acabam por inte-grar-se) no sistema capitalista, porque nãotêm a perspectiva de o superar e confi-nam-se aos seus limites; isto é, lutam pormelhores condições de vida, mas semporem causa a continuidade da apropri-ação individual, por uma minoria de capita-listas, do produto do trabalho colectivo

de muitos milhões de trabalhadores.Independentemente de outras diferenças,mais ou menos relevantes, na teoria e naprática da acção sindical, é a colocação, ounão, do objectivo de superação do capi-talismo – hoje, na sua fase imperialista, coma dominação universal da oligarquiafinanceira –, através da luta de classes ecom o fim da exploração do trabalho, quedistingue os dois conceitos básicos de sindi-calismo: sindicalismo reformista e sindica-lismo de classe, ou revolucionário. É claroque dentro de cada um destes dois con-ceitos fundamentais há diversas correntesou concepções, resultantes de diferençasde ordem táctica, estratégica ou, mesmo,

ideológica; mas, tomando por base a ques-tão central de saber se se entende que aluta sindical se deve desenvolver dentro dosistema capitalista, sem o contestar comosistema, ou se deve contestá-lo e colocartambém como objectivo a sua superação,todas as diversas concepções se podemsubsumir a um daqueles dois conceitosbásicos.Do que se disse não pode, porém, deduzir-se que é objecto dos Sindicatos com umafilosofia de classe assumir a luta pela tomadado poder político e, posteriormente, exerceresse poder, na prossecução dos objectivosque defendem.A luta pela tomada do poder é o papel dospartidos políticos. Há, de facto, uma natu-reza diferente entre Sindicatos e partidospolíticos e, por isso, as suas responsabili-dades político-sociais são diferentes [2].

Mas é papel fundamental dos Sindicatos declasse ganhar os trabalhadores, organizá-los e mobilizá-los para lutarem por cedênciasdo sistema capitalista, que melhorem as suascondições de vida e de trabalho – sobretudoatravés da contratação colectiva, do au-mento dos salários e da conquista de direitos– bem como, no decurso da luta, procederao esclarecimento que os eleve à compre-ensão e consciencialização de que a explo-ração individual do trabalho colectivo (baseda exploração do homem pelo homem) po-derá ser maior ou menor, mas existirá sem-pre com o capitalismo e só desaparecerácom a sua superação.É esta a filosofia adoptada pelo movimentosindical unitário e de classe em Portugal,conforme se pode constatar nas seguintestranscrições da Declaração de Princípios eObjectivos Programáticos dos Estatutos daCGTP-IN: “…a CGTP-IN assume-se comouma organização sindical de classe…porquereconhece o papel determinante da luta declasses na evolução histórica da huma-nidade…”; e “A CGTP-IN…desenvolve a suaacção, visando, em especial:…Desenvolverum sindicalismo de intervenção e trans-formação, com a participação dos traba-lhadores, na luta pela sua emancipação epela construção de uma sociedade maisjusta e fraterna, sem exploração do homempelo homem.”.As profundas alterações verificadas nosistema socioeconómico do capitalismo apartir dos finais do século passado, emespecial na última década, com a derrotada URSS e o desenvolvimento de novas erevolucionárias tecnologias de forma cadavez mais acelerada, provocou uma alteraçãoradical da correlação de forças, com oimperialismo a tentar impor o seu domínioeconómico, político, ideológico e militar a todoo mundo. Estas mudanças radicais intro-duziram mudanças, também radicais, nacomposição social das sociedades e dasclasses trabalhadoras e, com a globalizaçãoimperialista, tenta-se apresentar este sis-tema como “o fim da história”, sem alter-nativa. A pressão ideológica que, assim, seabate sobre os trabalhadores é brutal e oimperialismo utiliza todos os meios para“encarreirar” o movimento sindical no refor-mismo, com a sua desagregação e desar-ticulação e destruindo a sua natureza declasse. A justificação ideológica que vemsendo apresentada para este efeito, compressões cada vez maiores, é a da neces-sidade da integração mundial do movimentosindical, para combater os males da glo-balização. Desta forma, através de umainstância sindical supranacional, comoinstrumento de integração dos Sindicatos no

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sistema capitalista, a assumir decisõesobrigatórias para os movimentos sindicaisdos respectivos países e o afastamento dosanseios e aspirações dos trabalhadores nosseus locais de trabalho e das suas poten-cialidades de luta, assistiríamos, também emPortugal, àquilo que temos visto acontecerna Itália, Alemanha, Reino Unido, etc.: ostrabalhadores a lutarem à margem e muitasvezes contra as organizações sindicais queos representam ou a protestarem pelaassinatura de acordos em que não serevêem.A “integração reformista” do movimentosindical seria a concretização, quase trêsquartos de século depois, de uma teseexpressa de forma exemplar por umsocialista holandês (que entrou em rupturacom Lénine), Anton Pannekoek [3] , quecontinua hoje a ter defensores, e com aqual concordaríamos se o autor a tivesselimitado aos dirigentes sindicais reformistas.Escreveu ele, em 1936: “No plano econó-mico, já não podem (os dirigentes sindicais)ser considerados como proletários. Elescaminham ao lado dos capitalistas, nego-ceiam com eles os salários e as horas detrabalho, cada parte fazendo valer os seus

próprios interesses, rivalizando do mesmomodo que duas empresas capitalistas.Apreendem a conhecer o ponto de vistados capitalistas tão bem como o dostrabalhadores; preocupam-se com os“interesses da indústria”; procuram agircomo mediadores. Pode haver excepçõesao nível dos indivíduos, mas regra geral,não podem ter esse sentimento de perten-cerem a uma classe como têm os operá-rios, pois que estes não procuram com-preender nem tomar em consideração osinteresses dos capitalistas, mas lutam pelosseus próprios interesses. Por conseguinteos sindicalistas entram necessariamente emconflito com os operários” – assim é para omovimento sindical reformista; mas espe-ramos que nunca o venha a ser para omovimento sindical de classe.A solução que apontava, apesar de sereclamar do marxismo, seguia em confor-midade com a sua tese: defendia que “Étacteando, deixando exprimir o seu instintoe a sua espontaneidade” que a classeoperária vencerá o capitalismo. Sendo hojebem evidente que não é pelo “instinto” oupela “espontaneidade” que é possíveldefender os interesses e direitos dos traba-

lhadores e contribuir para a luta por umasociedade onde não exista a exploraçãodo homem pelo homem, como os Esta-tutos da CGTP-IN defendem, como pre-servar a natureza de classe do movimentosindical unitário português? Este é ogrande desafio com que se confrontamos trabalhadores portugueses e ao qualtêm de dar resposta.O movimento operário e sindical estáconfrontado com uma situação complexae difícil. Mas também é nas alturas difíceisque se reforça a resistência e a capacidadede luta e se amadurecem e potenciamas condições para êxitos futuros.

Notas:[1] Ao contrário do que muitas vezes se afirma,não foi Marx que descobriu as classes nem a lutade classes, como ele próprio escreve, em 1852,em carta a Weydemeyer: “Muito antes de mim,historiadores burgueses tinham exposto o desen-volvimento histórico desta luta das classes, eeconomistas burgueses a anatomia económica dasmesmas. O que de novo eu fiz, foi: 1. demonstrarque a existência das classes está apenas ligada adeterminadas fases de desenvolvimento históricoda produção; 2. que a luta das classes conduznecessariamente à ditadura do proletariado; 3. queesta mesma ditadura só constitui a transição paraa superação de todas as classes e para umasociedade sem classes…” – transcrição das ObrasEscolhidas de Marx e Engels, Edições Avante, TomoI (pg. 555).[2] Esta visão não é, praticamente, contestadapelas diversas correntes sindicais: no caso doreformismo, não poderia ser de outro modo, poisnão põe em causa o sistema; mas mesmo ascorrentes sindicais que defendem o derrube docapitalismo, destacando-se aqui a correntemarxista, entendem de igual modo. No final de1901, Lenine escrevia: “A luta política … é muitomais ampla e mais complexa do que a lutaeconómica dos operários contra os patrões e oGoverno. Do mesmo modo (e como consequênciadisto), a organização de um partido…revolucionáriodeve ser, inevitavelmente, de um género diferenteda organização dos operários para a luta económica”– Que Fazer? – Obras Escolhidas de V.I.Lénine,Edições Avante, Tomo 1 (pg. 158).[3] Artigo “O Sindicalismo”, de 1936

Alexandrino Saldanha Jurista da Federação Nacional dos Sindicatos da

Função Pública (FNSFP)e Presidente da Mesa da Assembleia-Geral do

Sindicato dos Trabalhadores da ActividadeFinanceira (SINTAF)

A DEFESA DOS NOSSOS DIREITOS COMO TRABALHADORES PASSAPELO ASSOCIATIVISMO COM OUTROS TRABALHADORES.PODES COLHER ALGUMAS VANTAGENS SÓZINHO, MAS SÓ

AS CONQUISTAS COLECTIVAS SÃO DURADOURAS.

INSCREVE-TE NUM SINDICATODO MOVIMENTO SINDICAL UNITÁRIO E PARTICIPA!

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Faleceu, no passado dia 4 de Março,o professor universitário e investigador

Rogério Fernandes. Tinha 76 anos. Foi umdos pioneiros em Portugal na área daHistória da Educação. Era licenciado emCiências Histórico Filosóficas pela Faculdadede Letras de Lisboa e doutorado emEducação (História e Filosofia da Educação)pela Universidade de Lisboa. À data dofalecimento era Professor CatedráticoJubilado da Faculdade de Psicologia e de

Rectificação:O artigo A ESTRUTURAÇÃO DASNOVAS CARREIRAS MÉDICAS:PONTO DA SITUAÇÃO, publicadoem Dezembro último (QI n.º 5),que saiu sem identificação daautoria, é do Dr. João Valente,da Direcção do Sindicato dosMédicos da Zona Sul (SMZS).Pedimos desculpa pelo lapso,ao autor e aos nossos leitores.

Promovida pela Associação de Bol-seiros de Investigação Científica,

realizou-se no passado dia 26 de Novem-bro, na cidade do Porto, no auditório daFundação Eng António de Almeida, a IVCONFERÊNCIA DE EMPREGO CIENTÍ-FICO. Tal como as conferências anterio-res, procurou reunir a comunidade cien-tífica nacional na reflexão e discussão dasproblemáticas sobre emprego científico.Esta quarta edição foi subordinada aotema CIÊNCIA E DESENVOLVIMENTO.Os interessados podem ver as apre-sentações e vídeos realizados durante aconferência acedendo ao portal da ABIC(“http://www.abic-online.org” —www.abic-online.org) no item “conferencia” —páginado programa”.

Emprego Científico

Vai haver eleições para a Presidênciada República no próximo dia 23 de

Janeiro, um momento extremamente im-portante para a nossa vida colectiva.Embora a definição das políticas não sejacompetência do Presidente, mas sim aoGoverno e aos partidos que o apoiam naAssembleia da República, a verdade é quenão é indiferente para os trabalhadores quemvenha a estar no lugar. Para os trabalhadoresé preciso que para Belém vá quem nãotransija com as políticas anti-sociais que têmsido seguidas pelo Governo Sócrates, comotem transigido o actual presidente CavacoSilva. Ou seja, é preciso votar em quem dêgarantias de respeito pela direcção socialistatraçada pela Constituição da RepúblicaPortuguesa.

Eleiçõespresidenciais

Professor Rogério Fernandes

Ciências da Educação da Universidade deLisboa.Como “castigo” pela sua luta anti-fascistachegou a estar proibido de leccionar porSalazar, pelo que se dedicou então aojornalismo (Seara Nova, Vértice, República,A Capital, O Professor). Foi um dosimpulsionadores das primeiras reformas doensino primário no pós-25 de Abril.Autor e co-autor de várias obras e ensaios,foi tradutor e consultor editorial. A partir de1969 intensifica a sua actividade cívica,política e cultural; nesse âmbito envolve-senas campanhas eleitorais pela oposição aoregime (campanhas de 1969 e 1973) bemcomo nos II e III Congressos da OposiçãoDemocrática de Aveiro.Foi professor visitante nas Universidades deSão Paulo, na Pontifícia Universidade Católicade São Paulo, na Universidade MetodistaMacKenzie e na Universidade Federal deMinas Gerais. Foi coordenador do projectoMuseu Vivo da Escola Primária, na cidadedo Porto.Entre a sua vasta obra destacamos “OsCaminhos do ABC. Sociedade Portuguesa eo Ensino das Primeiras Letras” (Porto Editora,1994), “Uma experiência de Formação deAdultos na I República. A universidade Livrepara a Educação Popular 1911-1917”(Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa).

Visite o nosso siteem:“http://www.conf-quadros.pt”e informe-se sobre a CPQTCe veja dados estatísticossobre emprego e desempregode quadros.

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Consciente do sentir profundamentehumanista e pacifista da maioria dos

técnicos e cientistas portugueses, a Confe-deração patrocinou no corrente ano duasacções pela paz mundial e contra o militaris-mo promovidas pelo Concelho Mundial paraa paz e Cooperação (CPPC). Uma, que tevepor lema “POR UM MUNDO LIVRE DE ARMASNUCLEARES!” foi motivada pela realizaçãoda Conferência de Revisão do Tratado deNão Proliferação Nuclear, em Maio, em NovaIorque. Acção tomou a forma de apelo dirigidoaos órgãos de soberania nacionais e àsNações Unidas, onde se apelava:- A que os Estados detentores de armasnucleares declarem que não ameaçarão ouutilizarão a arma nuclear contra qualqueroutro Estado;- À total interdição dos ensaios nucleares edo desenvolvimento de armas nucleares;- À proibição da militarização do espaço;- A um compromisso universal e à concretização de acções efectivas e coerentes pelodesarmamento nuclear;- À interdição absoluta e à destruição detodas as armas nucleares e de destruiçãomassiva, armas de terror e de extermínioem massa de populações;- À aplicação de medidas que promovam asegurança mundial, com a desmilitarizaçãodas relações internacionais e o desarma-mento global e controlado.A outra acção, a “Campanha PAZ SIM, NATONÃO”, motivada pela anunciada cimeira da-quela organização em Novembro, em Lisboa,

consistiu numa Petição dirigida ao Presidenteda Assembleia da República, petição a queaderiu uma centena de organizções sociaise mais de 13 mil subscritores. Teve o seuepílogo com uma grandiosa manifestação deprotesto em Lisboa, no dia 20 de Novembro.A petição tinha o seguinte teor:A Organização do Tratado do Atlântico Norte(NATO) anunciou a realização de uma cimeiraem Portugal, onde prevê rever o seu conceitoestratégico no sentido de alargar o seu cam-po de actuação geográfica, como já sucedenos Balcãs, no Afeganistão e no Paquistão eos pretextos de intervenção.A realização desta Cimeira em Portugalsignifica a confirmação do envolvimento dopaís nos propósitos militaristas deste bloco

Pela Paz e contra o militarismo

político-militar, que constituem uma ameaçaà paz e à segurança internacional.O empenhamento do governo portuguêsna NATO colide com princípios fundamentaisinscritos na Constituição da República Portu-guesa e na Carta das Nações Unidas, deque Portugal é signatário – soberania, inde-pendência, não ingerência, não agressão,resolução pacífica dos conflitos e igualdadeentre Estados; abolição do imperialismo,do colonialismo e de quaisquer outrasformas de agressão, domínio e exploração;desar-mamento, dissolução dos blocospolítico-militares.Preocupados com os objectivos esignificado desta cimeira as e os abaixo-assinados expressam a sua oposição àrealização da Cimeira da NATO em Portugale aos seus objectivos belicistas ereclamam das autoridades portuguesas:- A retirada das forças portuguesas envol-vidas em missões militares da NATO;- O fim das bases militares estrangeiras edas instalações da NATO em territórionacional;- A recusa da militarização da UniãoEuropeia, que a transforma no pilareuropeu da NATO;- A efectiva realização de uma políticaexterna portuguesa em consonância comos princípios consagrados na Constituiçãoda República Portuguesa e na Carta dasNações Unidas, incluindo a promoção deiniciativas em prol do desarmamento e dadissolução dos blocos político-militares.

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No Centenáriodo Dia Internacional da Mulher (1910-2010)

No passado dia 8 de Março come-morou-se o 100º aniversário do Dia

Internacional da Mulher. Trata-se de umadata com um grande significado históricopara a luta das mulheres trabalhadoras,porque se transformou numa jornada, anível mundial, da luta das mulheres pelosseus direitos específicos e contra todas asformas de discriminação.No início do séc. XX as mulheres aindatrabalhavam em condições deploráveis,pelo que travaram duras lutas em defesade condições de trabalho dignas, porsalários iguais aos dos homens, por horáriosmais reduzidos, contra a pobreza, a faltade protecção social e a desvalorização dasua condição de trabalhadoras. Por isso,em 1910, na 2.ª Conferência da Inter-nacional das Mulheres (Copenhaga) porproposta de CLARA ZETKIN, destacadadirigente do movimento comunista alemão,foi aprovada a comemoração de um DiaInternacional da Mulher trabalhadora, emcada ano, em todo o mundo, dia de mani-festação pela emancipação das proletárias,pelo sufrágio universal e pela paz.Um dos factos históricos que contribuiupara a ideia da proposta relaciona-se coma luta, em 1857, de um conjunto de mulhe-res que reivindicaram a jornada de 8 horasde trabalho.Outro dos acontecimentos que marcaramprofundamente a situação da mulher tra-balhadora foi o triunfo da Revolução Socia-lista de Outubro de 1917 que permitiu quea vida das mulheres trabalhadoras sofresseuma transformação radical: o primeiroEstado socialista do mundo, dois mesesdepois da sua existência, decretou aabolição de todas as leis que consagravamum estatuto discriminatório das mulheresrussas e decretou a igualdade jurídica entrehomens e mulheres. Com a RevoluçãoSocialista as mulheres ascenderam aosmais diversos sectores da sociedade,obtiveram protecção legal efectiva notrabalho, na família e na sociedade. Aparticipação e a intervenção das mulheresfizeram ruir tabus e preconceitos cen-tenários.Em Março de 1972, HERTA KUUSINEN –destacada comunista finlandesa, 2ªPresidente da Federação DemocráticaInternacional de Mulheres (FDIM) – propôsà Comissão para o Estatuto das Mulheres(CSW) que a ONU proclamasse um “AnoInternacional da Mulher” com o objectivode chamar a atenção do mundo para asituação e necessidades específicas dasmulheres. Nesse sentido, a CSW reco-mendou à Assembleia-Geral a procla-

mação do ano de 1975 como Ano Inter-nacional da Mulher, o que aconteceu logoem Dezembro daquele mesmo ano de 1972.Em 1975, a ONU passa a assinalar o 8 deMarço como DIA INTERNACIONAL DAMULHER.O dia 25 de Abril de 1974, em Portugal, éigualmente uma data histórica para asmulheres portuguesas, pois abriu umprocesso de profunda transformação dassuas vidas. Com efeito, a Revolução de Abrilpermitiu às mulheres a conquista de umconjunto de aspirações e reivindicações pelasatisfação das quais milhares de mulhereslutaram durante décadas. Com a conquistada liberdade, as mulheres passaram a exer-cer massivamente os seus direitos cívicos,políticos e sindicais – o direito de voto, dereunião, de manifestação, de organização,de expressão do pensamento.Dois anos após a Revolução de Abril iniciou-se, em Portugal, um conjunto de ofensivascontra as conquistas democráticas daRevolução de Abril que têm vindo a agravara situação das mulheres e a limitar muitosdos seus direitos. A ofensiva contra os tra-balhadores (despedimentos, desvalorizaçãodos salários, precariedade dos postos detrabalho, liquidação de benefícios sociais)atinge duramente a mulher trabalhadora. Arecuperação capitalista conduziu ao encer-ramento de numerosas empresas, ao

desemprego de milhares de mulheres e aoafastamento da gestão de mulheres que neladeram provas de iniciativa e capacidade.A nível da contribuição das mulheres para acriação da riqueza em Portugal verifica-seque, apesar de ser cada vez maior, as desi-gualdades de género não diminuem. Segun-do o economista Eugénio Rosa, entre 2001e 2008 a participação da mulher na criaçãode riqueza em Portugal, medida através doemprego, aumentou de 45% da populaçãoempregada para 46,2%. Se essa análise forfeita por níveis de escolaridade conclui-se quea participação é tanto maior quanto maiselevado é o nível de escolaridade considerado(a nível de ensino superior atingia 59,1% doemprego com este nível de escolaridade).Ainda segundo o estudo referido, verifica-seque, apesar das mulheres representaremmenos de metade da população activa(46,8% em 2008), o desemprego femininocorrespondia, em 2008, a 54,5% dodesemprego total. Se a análise for feita porníveis de escolaridade, verificamos que, em2008, as mulheres representavam 50,2%dos desempregados com o ensino básico;59% dos que tinham o ensino secundário e71% dos que tinham o ensino superior. Se fizermos uma análise mais apurada combase nas qualificações e na escolaridadeverificamos que a discriminação a que asmulheres continuam a estar sujeitas se tornamais chocante: em 2007, a nível de “quadrossuperiores”, o ganho médio das mulheresera 0,5% inferior ao dos homens; em -19,5%a nível de quadros médios” ; e em -16,0%a nível de profissionais altamente qualificados;em -15,7% a nível de “ profissionais qua-lificados”; em -19,8% a nível de”profissionaisnão qualificados; e em -8,3% a nível de“praticantes e aprendizes”. Portanto, adesigualdade de ganhos é tanto maior quantomais elevada é a qualificação da mulher.Segundo dados do “Eurofound”, entre 28países, Portugal é o País onde a discriminaçãode remunerações com base no género é amaior.Esta política determina elevados lucros paraas entidades patronais e tem contribuído parao aumento da discriminação das mulheres.Mas, não é só nos salários que essas desi-gualdades se têm feito sentir: as políticasdos últimos governos têm acentuado essasdesigualdades e, tal como no séc. XIX,obstaculizam a emancipação da mulher,retirando-lhe direitos e criando, assim,condições para que a mulher volte a viverem condições degradantes, numa sociedadeque o grande patronato quer que seja deretrocesso social.

(Continua na página 11)

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Bolseiros de Investigação

Alarga-se o uso de bolseiroscomo docentes não remunerados

Em finais do passado mês de Outubroa Direcção da ABIC veio denunciar

publicamente a tendência que se observanas Universidades Portuguesas de consa-grar, em Regulamentos Universitários, ouRegulamentos de Bolsas de Investigação dasUniversidades, o recurso a bolseiros de inves-tigação para prestação de serviço docentenão remunerado. Tal já se encontra emprática em algumas Universidades, e temsido proposto em edições recentes de Regu-lamentos internos de algumas destasInstituições, como é o caso da Universidadede Aveiro. Esta tendência visa abranger nãosó os bolseiros de investigação mas tambémoutros investigadores, nomeadamente osque foram contratados ao abrigo dos pro-gramas Ciência.Na opinião da direcção da ABIC esta prática,que aproveita a precariedade dos bolseirosde investigação e o seu interesse em for-talecer o seu curriculum e as suas possibi-lidades de um futuro mais estável, cons-tituiu uma forma de exploração da com-petência intelectual dos bolseiros ao prevertrabalho qualificado não remunerado.Embora reconhecendo “que a prática docentepode constituir uma componente daformação de um investigador” a Direcçãoda ABIC não considera aceitável que asuniversidades venham por mais esta viacolmatar necessidades permanentes ouocasionais dos seus quadros através dorecurso a bolseiros. E acrescenta: o recursoa bolseiros é um abuso da condição dobolseiro de investigação, esta prática constituium ataque ao Estatuto de Carreira deDocente Universitária, Estatuto de Carreirado Pessoal Docente do Ensino SuperiorPolitécnico, e Estatuto de Carreira deInvestigador Científico, promovendo adegradação destas Carreiras e dos seusmembros, e contribuindo para, na prática,limitar as efectivas oportunidades de ingresso

nestas Carreiras. Salientamos a este res-peito o parecer do SNESup: “O desempenhode funções [docentes] a título gratuito nãoestá abrangido pela previsão do Artigo 32º-A do ECDU, sendo portanto ilegal.” ADirecção da ABIC alerta para o facto deesta pratica contribuir para a degradaçãoda qualidade pedagógica das cadeirasuniversitárias e do serviço prestado aosdiscentes; para a falta de transparência nocritério de escolha do docente de umacadeira; e para diminuir a capacidade dobolseiro garantir a realização do seu planode trabalhos de bolsa, que deve constituira prioridade em termos da sua actividade.Apelamos aos bolseiros que sejam instadosa exercer funções de docência não-remuneradas, na base do voluntariado, quenão tenham apenas em consideração a

perspectiva ilusória de melhoria do seucurrículo, e contactem a ABIC. A anuênciaa este tipo de práticas, sob a máscarade uma oportunidade, além de constituiruma forma de exploração, conduzirá amédio prazo ao agravamento das suaspossibi-lidades de emprego docente.No entanto, a ABIC considera aceitávelque:a) “No caso de programas de doutora-mento, em que a prática docente sejaencarada como uma componente neces-sária para o cumprimento dos requisitospara a obtenção do grau, deve ser con-sagrado um modo de compensação pelaactividade docente (e.g., remuneraçãoconsoante o número de horas, reduçãode propinas, verbas para a investigaçãorealizada pelo bolseiro, etc.) e as horasde serviço docente devem ser tambémtraduzidas em unidades de crédito do pro-grama doutoral. Neste contexto, a do-cência deve ser encarada como exce-pcional e o número de unidade curricularesdeve ser limitado.”b) “Nos restantes casos, a prática docentenunca deverá ser considerada obrigatória:o bolseiro deve ter a possibilidade de optarpela sua prática. No caso de exercício dedocência, os bolseiros devem ser con-tratados, remunerados, e, enquadradosno âmbito do Estatuto de CarreiraDocente aplicável.”A direcção da ABIC reitera o compromissode apoiar os bolseiros, defender melhorescondições, e lutar por uma melhor e maisjusto Sistema Nacional de Ciência e Tecno-logia. Pode-se acompanhar este assuntoem – “http://www.petitiononline.com/t r a b p a g o / p e t i t i o n . h t m l ” —www.petitiononline.com/trabpago/petition.html. e – “http://www.abic-online.org/documentos/comunicados/comunicadodocencia.pdf” —www.abic-online.org/documentos/comunicados.

No Centenário do Dia Internecional da Mulher (1910-2010)

Almira Machado Santos(da Comissão Executiva da CPQTC)

(Continuação da página 10)

As mulheres com funções de “quadro-técnico”, tal como as outras mulheres,continuam a ser alvo de discriminações noacesso ao emprego, nos salários, nos cargosde chefia e no direito a participar na vidacívica. Muitas dessas discriminações, queforam ultrapassadas na legislação, emborana prática, muitas vezes, sem ser respeitadapela entidade patronal, estão a voltar, deforma sub-reptícia, através da desregu-

lamentação das leis do trabalho, sem queos mass media lhe dêem o devido relevo. Econtinuam a dar relevo a formas este-reotipadas da mulher e a fazer a apologia,mesmo no Dia Internacional da Mulher, doque consideram o modelo de mulher “mo-derna”: a super-mulher. Nenhuma destas artimanhas irá apagar overdadeiro significado do Dia Internacional daMulher que estará sempre presente na sua

luta reivindicativa, enquanto símbolo deluta das mulheres. Em Portugal, a lutade hoje, tal como a de ontem, tem comoimperativo a defesa de pressupostosfundamentais para a concretização, nalei e na vida, da igualdade de direitos e deoportunidades enquanto cidadãs,trabalhadoras e mães.

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Confederação Portuguesa de Quadros Técnicos e CientíficosRua Ferreira Lapa, 32 - 3º Dtº - 1150-159 LISBOATelef: 213562942 - Fax: 213151180 - E-mail: [email protected]

Participa na actividadeda Confederação.Defende os teus interesses agora.

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A designação dos níveis deformação universitária “tradicionais”

em Portugal sofreu uma alteração com aadesão à reforma de Bolonha; essaalteração está a causar perturbações nomercado de trabalho, em particular nahora de estabelecer equivalências dehabilitações para efeito de carreiras esalários. Já há casos de avaliaçõesinjustas, mormente em serviços daAdministração Pública. Sobre esta matéria,por iniciativa do CONSELHO NACIONALDAS ORDENS PROFISSIONAIS (CNOP),foi recentemente posta a correr na internetuma petição on-line, em que os signatáriosdo abaixo-assinado requerem que sejadada equivalência de Mestre aos titularesdas anteriores licenciaturas com formaçãode 5/6 anos, na designação anterior àreforma de Bolonha. A petição é dirigidaao Presidente da Assembleia da República,no sentido de que esta produza legislaçãoadequada.Da cuidada fundamentação da petiçãoextraímos o seguinte:Nos termos dos acordos do processo deBolonha, de que Portugal é desde oprimeiro momento signatário, ocorreurecentemente no nosso País umareestruturação profunda do quadro legaldo sistema do ensino superior. O Decreto-Lei n.º 74/2006, de 24 de Março, alteradopelo Decreto-Lei n.º 107/2008, de 25 deJunho, tendo como referência a segundaalteração à Lei de Bases do SistemaEducativo adoptada pela Lei n.º 49/2005de 30 de Agosto, estabelece, na pers-pectiva da preparação para a generalidadedas profissões, dois graus académicos deformação superior principais:a) O grau de licenciado, correspondenteao 1º ciclo de estudos do Espaço Europeudo Ensino Superior, acordado pelosministros do ensino superior na suareunião em Bergen, Noruega, em Maiode 2005, no âmbito do processo deBolonha - cf. especialmente o artigo 5.ºdo Decreto-Lei n.º 74/2006, de 24 deMarço, alterado pelo Decreto-Lei n.º 107/2008, de 25 de Junho, supra-citado.b) O grau de mestre, correspondente ao2º ciclo de estudos do Espaço Europeudo Ensino Superior, acordado pelosministros do ensino superior na reunião

de Bergen, supra-mencionada - cf.especialmente o artigo 15.º do referidoDecreto-Lei n.º 74/2006, de 24 de Março,alterado pelo Decreto-Lei n.º 107/2008.Entendeu o poder político adoptar adesignação de licenciatura para os novosprimeiros ciclos de formação. Esta decisão,dificilmente entendível, mas que natu-ralmente se respeita no quadro democrático,levantou desde o primeiro momento, emmuitos cidadãos, uma grande preocupaçãosobre futuras confusões entre designaçãoe competências associadas, com acorrespondente injustiça que se poderiaperspectivar.As licenciaturas anteriores à reformacorrespondiam, na generalidade, a forma-ções acumuladas correspondentes a cicloslongos, que conferiam qualificações de basereconhecidas pela Sociedade comoadequadas para o início de exercício deprofissões com responsabilidade e níveis decomplexidade elevadas.A portaria n.º 782/2009 adopta no seuAnexo III um alinhamento de reco-nhecimento de qualificações de ‘Bacharelatose Licenciaturas’, sem qualquer reco-nhecimento da diferença inequívoca dequalificações entre as novas licenciaturas,primeiros ciclos que têm de facto relaçãocom os antigos bacharelatos, e as antigas

licenciaturas, que representam um nívelacima do dos bacharelatos.Não é curial que, fazendo o Anexo III, ebem, menção expressa a um grau doanterior sistema, o bacharelato, não façaigualmente menção expressa ao outro graudesse mesmo sistema, a licenciatura. Nãopode ser omitido que o termo “licenciado”se refere a níveis de formação académicamarcadamente diferentes, consoante digarespeito ao sistema anterior, ou ao que estáactualmente em vigor.A realidade é que, tal facto, é inacei-tavelmente lesivo dos direitos dos titularesde licenciaturas anteriores à presentereforma.É necessário que fique claro, para osempregadores e para a sociedade em geral,que apesar de se estar a adoptar, por de-cisão legal, a mesma designação, estáefectivamente a referir-se a níveis dequalificação diferentes, sendo adequado quea actual licenciatura esteja associada ao nível6 (no mesmo nível do antigo bacharelato)e a antiga licenciatura dos regimes de ciclolongo anteriores ao Decreto-Lei n.º 74/2006,de 24 de Março, de que são titulares muitascentenas de milhares de licenciados, figureno nível imediatamente superior, nível 7, nívelcom correspondência ao do actual mes-trado

Licenciados e mestres(antes e depois de Bolonha)