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A sessão como trabalho de arte e procedimento de investigação do outro Silmar Pereira Mestrando no ppgav-Udesc, graduado em artes visuais bacharelado pela mesma univesrisdade. Artista e educador. Pesquisa, pratica e atua nas areas de performance arte, estudos do corpo e artes. Resumo: O artigo apresenta e discute o projeto SESSãO. O procedimento está inserido nas artes, no campo de estudos/práticas da performance, artes do corpo, LIVE-art, ação e arte de ação. Neste texto os itens que apresentam o universo deste trabalho, que atualmente está em processo, abordam algumas pistas para o entendimento do assunto corpo, como categoria multifocal e objeto de pesquisa tanto em discussões em torno da arte, da filosofia, dos estudos da performance e antropologia. Ao longo do texto são também apresentadas formulações conceituais que estruturam a justificativa para a realização do projeto SESSãO. Na seção N1, são problematizados o corpo e a experiência do procedimento, a percepção do espaço-tempo durante a sessão como categoria do pensamento. A seção N2 discute o corpo como duplo na relação com o outro, a prática e o trabalho do corpo. Seção N3 são mapeadas as estratégias de geratividade para o acontecimento. Por fim a seção N4 aponta os desejos de fluxo do projeto. Palavras-chave: sessão; performance; corpo Sessão as a work of art and procedure to investigate de other Abstract: The paper presents and discusses the project SESSãO. The procedure is embedded in the arts, in the field of study / practice of performance, body arts, LIVE- art, action and action art. This text items that present the universe of this work, which is currently in process, address some clues to understanding the body subject, as a multifocal category and object of research both in discussions about art, philosophy of performance studies and anthropology. Throughout the text are also presented conceptual formulations that structure the rationale for conducting the project SESSãO. In section N1, are problematized the body and the experience of the procedure, the perception of space-time during the session as a category of thought. The N2 section discusses how the body double in relation to the other, the practice and the work of the body. Section N3 are mapped strategies generativity for the event. Finally the N4 section points out the wishes of the project flow. Keywords : session; performance art; body 1

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A sessão como trabalho de arte e procedimento de investigação dooutro

Silmar PereiraMestrando no ppgav-Udesc, graduado em artes visuais bacharelado pela mesma univesrisdade. Artista eeducador. Pesquisa, pratica e atua nas areas de performance arte, estudos do corpo e artes.

Resumo: O artigo apresenta e discute o projeto SESSãO. O procedimento está inseridonas artes, no campo de estudos/práticas da performance, artes do corpo, LIVE-art, açãoe arte de ação. Neste texto os itens que apresentam o universo deste trabalho, queatualmente está em processo, abordam algumas pistas para o entendimento do assuntocorpo, como categoria multifocal e objeto de pesquisa tanto em discussões em torno daarte, da filosofia, dos estudos da performance e antropologia. Ao longo do texto sãotambém apresentadas formulações conceituais que estruturam a justificativa para arealização do projeto SESSãO. Na seção N1, são problematizados o corpo e aexperiência do procedimento, a percepção do espaço-tempo durante a sessão comocategoria do pensamento. A seção N2 discute o corpo como duplo na relação com ooutro, a prática e o trabalho do corpo. Seção N3 são mapeadas as estratégias degeratividade para o acontecimento. Por fim a seção N4 aponta os desejos de fluxo doprojeto. Palavras-chave: sessão; performance; corpo

Sessão as a work of art and procedure to investigate de other

Abstract: The paper presents and discusses the project SESSãO. The procedure isembedded in the arts, in the field of study / practice of performance, body arts, LIVE-art, action and action art. This text items that present the universe of this work, which iscurrently in process, address some clues to understanding the body subject, as amultifocal category and object of research both in discussions about art, philosophy ofperformance studies and anthropology. Throughout the text are also presentedconceptual formulations that structure the rationale for conducting the project SESSãO.In section N1, are problematized the body and the experience of the procedure, theperception of space-time during the session as a category of thought. The N2 sectiondiscusses how the body double in relation to the other, the practice and the work of thebody. Section N3 are mapped strategies generativity for the event. Finally the N4section points out the wishes of the project flow.Keywords : session; performance art; body

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seção N1 SOBRE ((SESSãO))

Figura1 - Imagem produzida no procedimento SESSãO – (arquivo do artista)

SESSãO é nomeação para o projeto/processo de trabalho em desenvolvimento que

pretende pesquisar os acontecimentos possíveis durante determinado período de tempo-

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espaço, em que o corpo do outro, a partir de proposições é implicado/engajado como

agente, na busca de estados psicofísicos para gerar performance, desempenhando

determinado circuito de ações e acordos que possibilitam a geração de imagem

fotográfica. O corpo do participador será denominado de CONVIDADO. A SESSãO de

trabalho surge do encontro/jogo entre o OPERADOR(propositor) e o outro. Nesta

interação é estabelecido algo semelhante ao que se conhece por roteiro. Por método de

sorteio, através do jogo de cartas de divinação/adivinhação(cartas de tarô) surge a

figura/persona que direcionará, por meio da ideia de arquétipo, os seguimentos para

montagem dos elementos constituintes da presença na performance, que acontece entre

o corpo, os objetos, o espaço-tempo e o angulo da imagem a ser captada, é nesta

intersecção que surge o significado do acontecimento. Marcamos dia/horário, de acordo

com as exigências da imagem, essa etapa é denominada ACORDO, onde se efetua o

planejamento das condições climáticas ideais, segundo os quesitos de intensidade de

luz, local e elementos da paisagem para a composição. Durante a SESSãO utilizamos

objetos, adereços e artefatos que são selecionados/escavados e adquiridos em lojas

conhecidas popularmente como artigos de quinquilharia/bugiganga que compõe a

categoria ARQUEOLOGIA SIMBOLICA.

O vocábulo SESSãO encontra usos diversos: sessão de fotografia, sessão de tarô

(baralhos diversos, runas, I Ching, leituras da aura, da mente, e todos os tipo de

momentos destinados ao esoterismo/autoconhecimento), sessão de trabalho, sessão de

terapia, sessão de piquenique, sessão de jogo(s), sessão de arte, sessão de performance,

sessão de conciliação, sessão ao vivo, iniciar uma sessão(linguagem de computador).

Também se refere a espécies de agremiações/agrupamentos quando participantes

alinhavados em consenso sobre algum assunto/interesse se reúnem para deliberar,

discutir, gerar possibilidades para determinações da vida em comunidade. A palavra

engloba todas as formas de nomear determinado espaço-tempo que tem começo,

desenrolar e final, a reunião de duas ou mais pessoas, ações definidas para cada

participante incluindo o propositor. Em visão panorâmica, as consciências-

participantes(CONVIDADO, OPERADOR e PAISAGEM) em encontro, tornam-se a

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mesma consciência, dividem espaço, são simultâneos, acontecem ao mesmo tempo,

retomam a experiência da unidade sem individualidade. O ritual/fazer em SESSãO é

recombinação das estruturas de memória ancestral/arquetípica trazida pelo

CONVIDADO, que vivencia ações/comportamentos.

A palavra SESSãO é acompanhada da imagem de pessoas, ao pensa-la como conceito,

este se apresenta como visualidade-visibilidade, sempre habitada pelo outro, logo se

insere e está inserida no campo da percepção(consciência). O corpo-consciência é o

território da experiência durante a SESSãO. Nesse sentido o sujeito que vivencia o

corpo, atravessa o envoltório do eu(singular) para ser articulado junto as dimensões(em

cima, em baixo e lateralidades) na trama do esquecimento deste mesmo eu, sem no

entanto abandona-lo, condição esta que é princípio para o entendimento da consciência

como percepção flutuante(desfocada). A consciência deixa de ser vinculada/apontada

para algo ou fenômeno, ou seja, é descolada da concepção da consciência do corpo e

vai, por migração para a consciência (corpo- consciência) como um todo, unificado e

que vaga através da percepção de si-próprio (corpo próprio) (Merleau-Ponty, 1999). A

percepção é ir ao mundo (fora) para promover espaços de desabituação das

sensações/sentidos, tanto de seu corpo como vidente no movimento, quanto de si

mesmo(interior) como sujeito movente e movedor, sendo percebido pela consciência

intrínseca dos "outros" seres, das coisas e do espaço-tempo. No mesmo momento que

percebo, também recorre sobre mim a percepção sensório-cognitiva do mundo entorno,

repleto de capacidade de significação.

O tema da consciência no procedimento SESSãO é vinculado ao campo de estudo das

artes porque estar consciente no/do/para o tempo-espaço é algo que escapa de

linearidades e reclama um modo de pensar/sentir em espiral, em que as racionalidades

cientificistas (tentativa de explicação e comprovação) só podem existir na convergência

dos contextos da ciência, arte e filosofia para cultivar o entendimento das

coisas/fenômenos do corpo e do mundo em seus universos simbólicos, históricos e

culturais. Logo a consciência, enquanto objeto de pesquisa, é sempre fragmentada,

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esburacada, fugidia, é esse algo para além que só aceita locomoção nesse

circundar/especular tão caros aos modos de operar da arte e da filosofia.

Dissemos que as partes do espaço segundo a largura, a altura ou aprofundidade não são justapostas, que elas coexistem porque estão todasenvolvidas no poder único do nosso corpo sobre o mundo, e essa relação já seiluminou quando mostramos que ela era temporal antes de ser espacial. Ascoisas coexistem no espaço porque estão presentes ao mesmo sujeitoperceptivo e envolvidas na mesma onda temporal. Mas a unidade e aindividualidade de cada vaga temporal só é possível se ela está espremidaentre a precedente e a seguinte, e se a mesma pulsação temporal que a fazjorrar retém ainda a precedente e contém antecipadamente a seguinte. É otempo objetivo que é feito de momentos sucessivos. O presente vividoencerra em sua espessura um passado e um futuro. Nós conhecemos ummovimento e um movente sem nenhuma consciência das posições objetivas,assim como conhecemos um objeto à distância e sua grandeza verdadeira semnenhuma interpretação, e assim como a cada momento sabemos o lugar deum acontecimento na espessura de nosso passado sem nenhuma evocaçãoexpressa. (Merleau-Ponty, 1999, p. 371)

SESSãO é espaço-tempo de natureza interdisciplinar. Em sua sonoridade na língua

portuguesa, é grafado de quatro modos possíveis, diferentes, sendo uma terminologia

com quatro possibilidades de entendimento, duplicidade de homônimos. Em definição

técnica possível, a palavra-conceito SESSÃO pode ser uma atividade praticada durante

algum tempo, onde a consciência da demarcação do início e final é pré-estabelecida,

mesmo que por fluxo próprio do segmento da vida de indivíduo. Os envolvidos no

encontro sabem acerca da duração/durabilidade do estar junto, se faz presente então, à

sensação de unidade entre consciências. A contradição, em SESSãO é a suposição da

possibilidade de viver/experimentar lugares que não podemos ter a imagem/ideia

precisa gravadas na memória ou na experiência. O mesmo sujeito gerativo das

condições de existência/ambiente, sem sensação precisa da paisagem por vivenciar toda a

SESSãO sem contar com o apoio do sentido da visão, sendo o CONVIDADO sempre

vendado durante o procedimento, sente o desejo, talvez em pulsação semelhante a

qualquer outro desejo da ordem de alcance das experiências comuns da percepção, de

estar em outro lugar, assim como constantemente somos impelidos a desejar o que não

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está, o que falta, o que não se faz presença, o inexistente. O CONVIDADO e o

OPERADOR são seres caminhantes direcionados a sessões de repetição do

preenchimento-esvaziamento, o ar que entra e sai do corpo, o tocar o outro e ser

simultaneamente tocado, a solidão e o estar em companhia.

O indivíduo, sempre, foi formado, cotidianamente e incansavelmente nocoletivo, do coletivo. Certamente, estamos de acordo com Guatarri quanto auma certa homogeneização gerada pelas tecnologias da informação.Lembremos, dizer tecnologias de comunicação ou meios de comunicação demassa é camuflar a univocidade dessa “comunicação”. Para que hajacomunicação é imprescindível o diálogo. Guattari propõe o termo “divíduo”para evitar a conotação de invisibilidade do sujeito. Esse termo nos parecemuito acertado: somo todos divíduos. Os únicos indivíduos seriam oseremitas que vivem absolutamente sós e por si só. (MEDEIROS, 2005,p.120)

seção N2 ARQUEOLOGIA (o corpo em SESSãO)

A escavação é procedimento utilizado nas práticas arqueológicas, realizado a partir da

técnica do escavador de abrir determinados lugares no tempo-espaço do mundo

manejando ferramentas capazes de sutileza e precisão que requerem atenção e

curiosidade no aprofundamento/penetração dos interiores. A atividade é semelhante ao

ato de meditar, quando utilizando técnicas, os escombros/substâncias do interior do

corpo são percorridos e para a consciência só interessa chegar ao ponto mínimo, na

menor partícula indivisível que se encontra sempre em movimento seguindo a

respiração. O lugar e suas dimensões são o preenchimento, pela ação do movimento das

coisas no tempo-espaço quem encobre/sepulta objetos, indícios, corpo e vestígios da

presença. A escavação é a retirada deste acumulo sobre a memória, trazendo à tona os

símbolos, o invisível na experiência/existência do corpo. O tempo de duração pode ser

incalculável, à medida que são removidos/movimentados materiais de ocupação dos

espaços, o espaço interior vai sendo produzido/resgatado numa revelação/aparição do

que estava oculto/encoberto.

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Como possibilidade de sobressaltar o perigo de realizar a tautologia do trabalho de arte,

e adentrar em definições e explicações, a escavação é estratégia de discussão teórica. É

preciso escavar os processos que constituem o trabalho com leveza, profundidade e

atenção já que o espaço escrito é essa espécie de receptáculo vazio, onde estão

gravados(grafados) as circunstâncias possivelmente obscuras, aquilo que não havíamos

visto/percebido sobre o trabalho durante seu desenrolar prático, por isso o recolhimento

do escritor. Nesse sentido a teoria é uma arqueologia da cultura, daquilo que tem sido a

sensibilidade de uma época, marcada pelos atravessamentos do tempo, dos hábitos, das

sensações e sentimentos em determinadas experiência de vida. A escavação como

procedimento de leitura e reflexão acerca da prática desenvolvida é interlocução que

pretende se sobrevoo marcado, onde o fluir da escrita traz a superfície as evidencias da

pesquisa como fala que se faz junto ao texto sem encerra-lo em um regime de

descrição/transcrição.

Essas mesmas ossadas/artefatos ocultados pela ação dos agentes no mundo, e que são

descobertas/(re)presentificadas no procedimento arqueológico são substancias referentes

a memória da experiência de unidade dos seres viventes e também de seus rastros,

aquilo que foi produzido em suas ações, para facilitar as atividades cotidianas, conectar

com as forças/pulsações de outras dimensões perceptivas ou mesmo ritualizar os

momentos significativos do percurso de vida do sujeito ou da comunidade, é exemplo

os objetos para ritos funerários, de casamentos, cerimônias de passagens dos ciclos da

vida. O corpo praticado em SESSãO e as abordagens encontradas nas teorias que são

convocadas para conversar com o trabalho, não são nem os fosseis/caveiras/ossaturas

nem os objetos encontrados, mas são algo entre a ação da ferramenta utilizada na

técnica corpórea do escavador e a massa de matéria removida que possibilita o retorno

da forma reconhecível do que estava oculto. Assim a leitura oferece noções, amparos,

colo maternal para o adensamento crítico do trabalho em desenvolvimento. O corpo

apresentado e discutido em SESSãO é sujeito tramado ao mundo dotado de sentidos,

que através das sensações produz a percepção. É fenômeno imbricado na cultura, na

natureza, anatomia e na relação com o outro para divergir do pensamento que elabora o

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corpo enquanto individuo apenas, feixe de funções sobre o mundo, que tem uma

perspectiva de olhar(perceber) a experiência de mundo como visão do fora. A

corporeidade é tramada ao mundo, vejo meu corpo agindo e vejo a ação se desenvolver

sobre as coisas ao mesmo tempo, ao tocar sou simultaneamente tocado, o corpo

senciente.

O enigmático número de itens possíveis para abordar o assunto do corpo é tão

impressionante quando a quantidade de atravessamentos, por entre, identidades que este

mesmo corpo é sujeito. O corpo é esse complexo espaço-tempo-energia em conexão,

comunicação e interação com outros corpos na mesma complexidade, manifestados

tanto em outros seres humanos, na natureza, nas cidades, nos habitantes outros da

paisagem, nas forças medíveis da gravidade, da largura e da profundidade do entorno,

nas forças não alcançadas pela percepção, naquilo que nos acontece que chamamos de

inesperado, acaso, futuro ou destino, sorte, desígnio, entre tudo aquilo que somos

capazes de nomear, experimentar, nos misturar e conviver/dividir a presença, que são as

coisas/objetos. Em muito da história do mundo encontramos o corpo humano vivo ou

morto rodeado de suas coisas, desde o nascimento até o pós-morte, o tumulo, na

tradição ocidental, em muitas sociedades, ainda é mantido com coisas especificas que

simbolizam, expressam, conferem presença a morte, são flores, lapides com epitáfios

escritos, imagens de seres celestiais e toda a sorte de objetos intencionais que tratam de

efetuar comunicação entre o enterrado e o vivo. Esses rituais conferem sentido de

unidade à trama entre cadáveres em estado de decomposição retornando a terra, e seu

involucro que guarda a existência de pessoa, pois reconhecemos que o morto já foi vivo,

porem agora habitando a sensação de imobilidade tanto de si quanto do

mundo(enterrado), é preciso então escavar o corpo no movimento interior ao exterior e

vice-versa. Em SESSãO o corpo nasce da morte, por isso sua relação intima com a

imagem como forma de retenção da presença e material de envoltura do acontecimento.

A intenção do projeto SESSãO é utilizar algumas categorias que circundam o universo

do corpo como assunto. A ideia da palavra sessão é proposta neste texto, como

mecanismo de acesso aos arquivos/dados/conexões, feitas durante a realização das

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primeiras experiências deste trabalho. O procedimento surgiu do processo de

investigação/invenção em performances praticadas por mim e endereçadas a câmera

fotográfica ao qual foram produzidos imagens que apresentam meu corpo próprio

circunscrito a uma gramatica de objetos e ações acionadas em determinada parcela do

tempo(sessões)para buscar procedimentos capazes de fazer sentir corpo, os quais são

identificados a ocorrência de ALTERAÇÃO e DUPLICAÇÃO.

El performance nos ha dado una lección extremadamente importante quedesafía a todos los esencialismos: No estamos atrapados en la camisa defuerza da la identidad. Tenemos un repertorio de identidades múltiples ydeambulamos constantemente entre ellas. Sabemos muy bien que con el usode elementos de utilería, maquillaje, acessorios y vestuario, en realidadepodemos reinventar nuestra identidad ante los ojos de los otros, y nos fascinaexperimentar con este tipo de conocimento. De hecho, el juego de invertir lasestruturas sociales, étnicas y de género es parte intrínseca de nuestra práxiscotidiana, y asimismo lo es el travestismo cultural. En el performance, alasumir la personalidad de otras culturas y al problematizar el processo mismode representar a otro o de hacerse pasar por el otro puede ser una estrategiaefectiva de “antropología inversa”. (Gomez-penã, 2005, p. 207)

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Figura 2 - xamanismo-doméstico: ritual de fertilidade (arquivo do artista)

ALTERAÇÃO-DUPLICAÇÃO é a modificação do tempo-espaço percebido sem

abando nem da consciência da prática da sessão, nem do corpo que se tem naquele

momento, nada se perde no procedimento, o entorno e o interno vão colaborando para a

produção de estados simultâneos/paralelos de consciência que são todos o mesmo

individuo, sob procedimento de (re)partição.

A alteração é a continuidade dos estados de percepção absolutamente arraigados a uma

espécie de unidade, como uma partícula solta no interior do corpo que segura/centraliza

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o corpo no espaço durante a realização de uma ação simbólica que partilha a imagem do

indivíduo que será agora (re)partido, novamente dividido, na sua duplicação, a

consciência entre o corpo-próprio e o espelhamento, a bipartição. A alteração-

duplicação é algo que é causa e ao mesmo tempo sofre o efeito de sua própria

ação/acontecimentos, é todo o corpo empregado em fazer algo que é movimento entre o

mundo através das sensações, produzindo percepções em instantaneidade, é uma

comunicação do mundo com o corpo-alterado-duplicado e também é a

comunicabilidade do interior, dos processos de encontro da ancestralidade da formação

do corpo com seus revestimento que atualizam o sistema durante qualquer/todo

percurso pelo tempo-espaço, é o encontro da pele através dos musculo com os ossos. A

Alteração-Duplicação pode ser: a cópia, a transformações da unidade em dois outros

indivíduos mantidas ou não a semelhança com a matriz, pode conter os gêmeos, os

espelhos, o casal, a formação de ecossistemas composto por dois sistemas que

sobrevivem separados podendo ser iguais ou diferentes, ser alterado e ser duplicado são

possibilidades de estudo e pontos de vista acerca do corpo como categoria de

investigação.

seção N3 ARQUITETURA/GEOGRAFIA de SESSãO

CONVITE: a primeira ação parte do OPERADOR e consiste em acionar os

participantes, constituir o CONVIDADO. Início sugerido: planificando a proposta:

antes do momento de realização, o OPERADOR apresenta a SESSãO como prática,

fornece informações sobre os mecanismos referencias - tarô e arquétipo, e também

sobre as etapas do trabalho em geral. Nesse momento geralmente acontece uma intensa

troca de ideias e sensibilidades. Também nessa fase joga-se o tarô e retira-se a carta-

guia da SESSãO.

VISUALIDADE/VISIBILIDADE: Momento de encontrar nos processos sensórios-

perceptivos a imagem a qual insere-se o CONVIDADO.

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N E G O C I A Ç Ã O : e s s a f a s e p o d e s e r r e a l i z a d a p o r m e i o s d e

comunicação(email/telefone), consiste em marcar o dia, hora, local e definir as

necessidades físicas para o ENCONTRO.

ENCONTRO: trata-se da fase que marca o começo da SESSãO, quando o OPERADOR

e o CONVIDADO partilham suas presenças (consciências) com a PAISAGEM. É o

tempo destinado a armar a ARQUEOLOGIA SIMBOLICA, experimentar o lugar,

preparar a câmera. Iniciar a realização ritualística da performance.

ARQUEOLOGIA SIMBÓLICA: São os objetos escolhidos para a inter-relação do

CONVIDADO com o entorno com a função de religar ou (re)constituir a realidade

percebida projetando/conduzindo as consciências participantes para outras

dimensões/consciências.

PAISAGEM: é o lugar marcado para o acontecimento. Em geral são espaços abertos,

onde os elementos são demarcações das forças da natureza ou mesmo daquilo que já

existe no espaço escolhido antes da ocupação pelos participantes.

ACORDOS: São as negociações que surgem no encontro onde os participantes são

conscientes de todas as decisões tomadas para a realização da SESSãO.

AÇÃO(AÇÕES): As energias empregadas em fazer algo por parte dos participantes.

GERATIVIDADE: de material visual, a fotografia. É a produção da imagem, o

estabelecimento de relações dimensionais e de presença no ambiente bidimensional da

imagem.

DESENLASSE: separação, momento em que OPERADOR e CONVIDADO retornam a

consciência de indivíduo.

OPERADOR: pessoa que propõe a SESSãO

CONVIDADO: pessoa que vivência os aspectos de ALTERAÇÃO-DUPLICAÇÃO,

geralmente é o corpo apresentado na imagem.

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seção N4 Desdobramento

O procedimento SESSãO é parte do projeto para a construção de um oraculo que

pretende funcionar como jogo de divinação permitindo aos futuros consulentes a

manipulação do agrupamento de cartas que serão subproduto das imagens geradas em

SESSãO. O projeto do oraculo pretende ser composto de quarenta e quatro imagens que

poderão gerar significado, funcionando para leituras em que se utiliza mais de um

arcano ou mesmo para leituras de arcanos individuais.

Também o projeto pretende investigar abordagens possíveis para a aproximação do

corpo do outro ao trabalho de arte, abordando categorias de pensamento do corpo, da

performance. Esse trabalho propõe aproximar as bordas entre o corpo e a imagem como

consequência e condição para a existência e exercício da consciência corporificada, ou

seja, se vejo e sou visto e se vejo meu corpo no espaço e ainda vejo as coisas desde meu

referencial de unidade no espaço, sou também esse algo no espaço, significado e sentido

pelo entorno e seu conteúdo, a isso que envolve minha atenção, percepção, agencia,

tomada de decisões e decorrência/duração temporal é o acompanhamento simultâneo ao

corpo vidente-visível de Merleau-Ponty, que como subcategoria desse corpo,

poderíamos denomina-la ação. O corpo-consciência desempenhando ação(ões) é, entre

outros, principio para os fazeres artísticos que pressupõem a determinação da

presença/ausência do corpo sujeito dos acontecimentos e desencadeamentos dos

fenômenos da percepção.

Esse escrito visa apresentar um roteiro de estudo para cercar a problemática emergente

no trabalho Sessão que é formado a partir da arquitetura de conceitos, programas de

ações, invenção de visualidades e estratégias de pesquisa sobre o envolvimento de

outras pessoas/corpos como sujeitos/performancistas. SESSãO, no seu sentido de

substantivo oferece a compreensão/percepção de intervalo entre os fluxos de tempo-

espaço em que as forças de concentração e realização estão empregadas no

desencadeamento de atividades que a partir do engajamento do corpo, é um circuito de

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ações desenvolvidas para pesquisar os acontecimentos possíveis quando o corpo(mente-

incorporada) é involucrada na restauração de comportamentos entre seres que

compartilham a consciência da (in)corporação- (ex)corporação das ideias.

Bibliografia Gomez-Peña, Guillermo. En defesa del arte del performance. Porto Alegre: HorizontesAntropologicos. 2005. Merleau-Ponty, Maurice. (1994). Fenomenologia da percepção (C. Moura, Trad.). SãoPaulo: Martins Fontes. (Texto original publicado em 1945). Medeiros, Maria Beatriz. Aisthesis, estética, educação e cultura. Chapecó: Argos. 2005.

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