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A sequência evolutiva da vestimenta humana foi exatamente essa. Primeiro as folhas vegetais e, posteriormente, as peles de animal. Como nos diz a Bíblia Sagrada, no antigo Testamento, o ser humano cobriu o corpo pelo caráter de pudor. Todavia, há outras interpretações seculares que dizem ter os seres da condição humana coberto o corpo pelo caráter de adorno e, também, pelo de proteção. Qualquer que tenha sido a sua intenção, cobrir o corpo foi uma necessidade. Sob o ponto de vista de adorno, foi uma maneira que o ser humano encontrou de se impor aos demais, inclusive mostrar bravura ao exibir dentes e garras de ferozes animais, além de ter a pele para cobrir o corpo com tangas e/ou sarongues e carne para a alimentação. Há ainda o caráter de magia, ao associar os seus objetos de uso a poderes fora dos normais. O outro aspecto, o de proteção, está associado á questão de sobrevivência com relação às intempéries, principalmente o frio. O ser humano protegeu o corpo com as peles das caças e encontrou abrigo em grutas e cavernas nas quais deixou registros iconográficos. Esses registros foram os que chegaram até nossos dias, visto que as folhas e peles, por serem materiais biológicos, se deterioraram com o tempo. As peles, inicialmente usadas com o próprio pêlo do animal, eram normalmente de urso ou rena e passaram por processos de mastigação para serem amaciadas. Posteriormente, passou a ser normal untar essa pele com óleos ou gorduras animais para atribuir-lhe uma certa impermeabilidade e maciez, o que dava à peça uma maior durabilidade. Na sequência de uso de recursos, utilizava-se um

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A sequência evolutiva da vestimenta humana foi exatamente essa. Primeiro as folhas vegetais e, posteriormente, as peles de animal. Como nos diz a Bíblia Sagrada, no antigo Testamento, o ser humano cobriu o corpo pelo caráter de pudor. Todavia, há outras interpretações seculares que dizem ter os seres da condição humana coberto o corpo pelo caráter de adorno e, também, pelo de proteção. Qualquer que tenha sido a sua intenção, cobrir o corpo foi uma necessidade. Sob o ponto de vista de adorno, foi uma maneira que o ser humano encontrou de se impor aos demais, inclusive mostrar bravura ao exibir dentes e garras de ferozes animais, além de ter a pele para cobrir o corpo com tangas e/ou sarongues e carne para a alimentação. Há ainda o caráter de magia, ao associar os seus objetos de uso a poderes fora dos normais. O outro aspecto, o de proteção, está associado á questão de sobrevivência com relação às intempéries, principalmente o frio. O ser humano protegeu o corpo com as peles das caças e encontrou abrigo em grutas e cavernas nas quais deixou registros iconográficos. Esses registros foram os que chegaram até nossos dias, visto que as folhas e peles, por serem materiais biológicos, se deterioraram com o tempo. As peles, inicialmente usadas com o próprio pêlo do animal, eram normalmente de urso ou rena e passaram por processos de mastigação para serem amaciadas. Posteriormente, passou a ser normal untar essa pele com óleos ou gorduras animais para atribuir-lhe uma certa impermeabilidade e maciez, o que dava à peça uma maior durabilidade. Na sequência de uso de recursos, utilizava-se um elemento advindo de certas cascas de árvores ricas nessa substância, que realmente beneficiava com mais apuro a pele do animal: era o tanino, liberado dessas cascas ao serem mergulhadas em água. Tornou-se uma técnica de grandes resultados no tratamento das peles, que eram presas ao corpo com as próprias garras dos animais ou mesmo atando-as umas às outras com nervos, tendões ou até fios da crina ou rabo de cavalos. Com a fixação do ser humano ao solo, ele deixou de ser nômade caçador/ colhetor para se estabelecer com a criação de gado e a prática da agricultura. Isso também beneficiou a indumentária, visto que o vegetal linho lhe proporcionou, a principio, a técnica de feltragem e, posteriormente, num processo evolutivo, a própria tecelagem. Com o fabrico de tecido, mesmo de maneira primitiva e artesanal, houve um grande avanço em técnica e aprimoramento. Com esses tecidos, já se foi capaz de produzir saiotes e outras peças e ornamentá-los com franjas, conchas, sementes, pedras coloridas, garras e dentes de animais etc. Isso tudo aconteceu ainda na Idade do Bronze.

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Antiguidade Oriental Mesopotâmia

Região situada entre os rios Eufrates e Tigre, no atual Oriente Próximo, no atual Oriente Próximo, na qual desenvolveram diversas culturas no IV milênio a. C., entre elas as principais foram a sumeriana, a assíria e a babilônica. Essa região, não à sua época, mas posteriormente, foi denominada de Mesopotâmia pelos gregos e o nome quer dizer “entre rios”. De clima quente e solo fértil, a Mesopotâmia foi considerada o berço das civilizações humanas, tendo os sumerianos até mesmo sido os que desenvolveram a escrita, a cuneiforme, em aproximadamente 3500 a.C. No que diz respeito à indumentária local, especialmente a dos sumerianos, usava-se um saiote de pele com pêlo do animal chamado kaunakés, caracterizado pelos tufos de lã visíveis externamente na peça. Podemos notar que os mesopotâmicos já conheciam a tecelagem, entretanto, ainda há características bem primitivas na maneira de se vestirem. Sendo a base de suas roupas a própria pele do animal ou mesmo um tecido artesanal, esses tufos acabaram se deslocando para as extremidades e se transformando em franjas, que, além de serem utilizados como adorno, também serviam de acabamento para o tecido. Os homens usavam seus kaunakés um pouco curtos, chegando à panturrilha, e algumas vezes com o torso nu, ao passo que as mulheres vestiam seus trajes longos e cobriam o colo. Normalmente esses trajes, que cobriam todo o corpo de ambos os sexos, eram enrolados, dando a aparência de uma roupa espiralada, como vemos nas esculturas e pinturas da arte mesopotâmica. Com o tempo, esses trajes foram sendo substituídos, especialmente pelos homens mais simples, por uma espécie de túnica com mangas. O tecido predominante usado na região, para ambos os sexos, no apogeu de suas respectivas culturas, foi o algodão – produzido na própria região ou vindo da Índia -, além da lã e do linho; com o passar do tempo, tiveram acesso à seda da China. A suntuosidade das roupas e seus complementos, como normalmente em qualquer outra cultura, indicava a posição de prestígio do usuário. Homens e mulheres costumavam ter os cabelos longos; e cacheá-los era muito natural; inclusive os homens o faziam também com a própria barba, além de já usarem brincos.

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As cabeças, à exceção das coroadas, não eram muito ornamentadas, porém o uso de um gorro, chamado pelos gregos de gorro ou barrete frígio, era adotado pelos homens. Como calçados, era comum o uso de um tipo de bota de couro com o bico ligeiramente levantado, o que era uma característica oriental.

Egito Como também na Mesopotâmia, no Egito o clima era muito quente; todavia, suas roupas eram bem mais sucintas do que aquelas usadas pelos vários povos que formaram a cultura mesopotâmica. Como roupas e complementos sempre foram, são e poderão ser diferenciadores sociais, no Egito, elas também cumpriam essa função e ganhavam a conotação de distinção de classes em que nobre e mais privilegiados se diferenciavam em opulência daqueles de classes sociais menos favorecidas materialmente, que, muitas vezes, andavam nus. Pouca coisa mudou na indumentária egípcia no longo período de apogeu de sua cultura faraônica, que durou aproximadamente 3.000 anos. Essas mudanças só foram significativas quando ocorreram as invasões de outros povos em seu território, especialmente os romanos. O traje típico da indumentária egípcia era o chanti, uma espécie de tanga masculina, e o kalasíris,a túnica longa, tanto masculina quanto feminina. A cor predominante era o branco e a base têxtil era sempre a fibra natural vegetal, especialmente o linho; todavia, o algodão também se fazia presente. A fibra animal natural era considerada impura e, portanto, proibida pela religião local. Essas roupas pareciam estar bem próximas ao corpo, porém talvez seja o padrão estético da própria arte que dê essa característica à indumentária; contudo, acredita-se também que essas roupas seriam costuradas nas laterais, dando à peça uma espécie de elasticidade e maior aproximação ao corpo. Havia também cones de cera colocados sobre uma peruca, que, com o calor, derretiam e untavam a cabeleira e a roupa, aderindo o tecido ao corpo. Um outro hábito comum entre os egípcios era o de raspar a cabeça, visto o piolho ser uma das pragas locais e, por questões higiênicas, fazia-se necessário ter os cabelos raspados. O que se vê de cabeleira na iconografia da arte egípcia são perucas, comuns, em um primeiro momento, como proteção devido ao sol causticante que, mais tarde, ganharam a conotação cerimonial e de status social. Essas perucas podiam ser de cabelo natural ou de fibras vegetais, tais como o linho e a palmeira.

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Para a dignidade faraônica e sua ostentação, tornou-se comum o uso do claft, pedaço de tecido amarrado sobre a cabeça, cujas laterais lhe emolduravam a face. Tinha a barba postiça de cerâmica, já que os pêlos do corpo, juntamente com o cabelo, eram raspados. Como adornos, os egípcios comuns usavam brincos, braceletes, colares mais simples e, para os nobres, o famoso e requintado peitoral, uma espécie de colar enorme que cobria o peito e, às vezes, também a parte superior das costas; feito de pedras e metal precioso, além do uso de contas de vidro colorido, pois os nativos dominavam essa técnica. Para os pés, eram comuns as sandálias ditas de dedos, feitas em palha trançada, para protegê-los da areia escaldante. Todavia, também era hábito andar descalço.

Antiguidade Clássica Creta, Grécia, Etrúria e Roma Creta Creta é a maior ilha situada no Mar Mediterrâneo. Teve o apogeu de sua cultura entre 1750 a.C. e muito influenciou em sua época inclusive à cultura grega. Pouco era sabido de sua história, a não ser especialmente pela mitologia, quando, na segunda metade do século XIX, o arqueólogo inglês Sir Arthur Evans descobriu o sítio arqueológico de Creta e, com isso, pode-se conhecer e estudar melhor as questões minóicas. No que diz respeito à indumentária local à época de seu apogeu, nota-se uma considerável diferença entre as roupas masculinas e femininas. Os homens, com roupas simplificadas de características ainda primitivas, usavam uma espécie de tanga com um cinto e o torso normalmente nu; as mulheres, bem diferentes, usavam saias longas no formato de sino com babados sobrepostos, uma espécie de avental na frente e nas costas sobre a saia (lembrando a tanga masculina) e, na parte superior do corpo, portavam um tipo de blusa costurada nos ombros, de mangas curtas, porém deixando os seios à mostra – podendo ser associado à questão da fertilidade e fartura. As menos favorecidas usavam só a saia. Acredita-se que essas roupas fossem de linho, lã ou couro. Havia grandes diferenças entre as roupas masculinas e femininas, contudo, em seus hábitos, havia pontos em comum. Um deles era o de afunilar muito a cintura: homens e mulheres, desde crianças, assim o faziam com um cinto; outro aspecto foi o dos cabelos longos em cachos, também usados por ambos os sexos.

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Como adornos, tanto eles quanto elas usavam ornamentos como chapéus e turbantes. Para os pés, em dias mais quentes, eram comuns as sandálias, e nos dias mais frios era comum o uso de botas. Os cretenses também trabalharam muito bem o metal, e o uso de jóias como alfinetes, colares, brincos etc. era habitual. Grécia A Grécia está situada na Península Balcânica, de litoral muito recortado, com inúmeras ilhas e de clima quente. No período de apogeu de sua cultura, teve como centro de sua organização política as Cidades-Estados, a crença politeísta e um apurado padrão estético, que não só influenciou a seu tempo como até hoje o faz em grande parte do mundo ocidental. Falar da cultura grega, cuja maior prosperidade se deu entre os séculos VII a. C., é falar de filosofia, de arte, de democracia, de conhecimento e de tantas outras referências de cunho positivo. A indumentária grega foi muito peculiar e o que mais podemos notar como característica são os drapeados, muito elaborados e marcantes. Os gregos preocupavam-se mais com os valores estéticos de suas roupas do que com o caráter de erotismo. Um retângulo de tecido era suficiente para criar a peça mais característica de sua indumentária: o quíton. Homens e mulheres usavam-no, sendo os dos homens longos, para momentos mais cerimoniosos, ou curtos para o dia-a-dia; e o feminino era sempre longo. O quíton, ou melhor, esse retângulo de tecido, tratava-se da túnica dos gregos, colocada no corpo presa sobre os ombros e embaixo dos braços, sendo uma das laterais fechada e a outra aberta, que pendia em cascata. Prendia-se sobre os ombros com broches ou alfinetes e,

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na cintura, amarrado por um cinto ou mesmo um cordão. Largo e comprido, possibilitava criar o panejamento que vemos na maior parte das esculturas, inclusive o efeito blusonado, ou seja, puxavam o tecido sobre o cinto para conseguir o aspecto de tecido mais solto. A palavra quíton quer dizer “túnica de linho”, sendo de fato o tecido mais usado para a sua elaboração; porém, a lã também servia como base têxtil da peça. No que diz respeito ao tingimento, os quítons eram de diversas cores e não como sempre imaginamos, brancos ou da cor natural da fibra utilizada. Com o passar do tempo, o quíton deixou de ser uma peça de um único retângulo de tecido para ser composto de duas partes costuradas, muitas vezes possuindo mangas. Com relação aos trajes complementares, os gregos usavam mantos. Os masculinos eram dois: a clâmide, mais curta, feita de lã grossa e considerada a capa militar, ao passo que a himation era uma roupa civil, mais ampla e especialmente usada em dias mais frios. O manto feminino, por sua vez, denominado de peplo, era bem mais longo, chegando aos pés. Para os gregos, no princípio de sua civilização, antes do século V a. C. era comum o uso da barba, que com o tempo passou a ser símbolo de seriedade e até de senilidade; por isso, os mais jovens passaram a raspar suas respectivas barbas. Já os cabelos masculinos eram curtos. Para as mulheres, além do cabelo solto, era comum serem amarrados com fitas ou com chinós, espécie de suporte que prendia o cabelo na nuca. Entre os gregos, o hábito de andar descalço não era demérito algum, mesmo quando houve o apogeu de sua civilização, portanto, dentro de casa, sempre andavam dessa forma. Quando usavam calçados no dia-a-dia, eram sandálias, presas por tiras amarradas aos pés e às pernas. As jóias também faziam parte dos adornos das gregas; braceletes, colares, brincos, anéis, alfinetes, broches e mesmo diademas complementavam suas roupas. Com o passar do tempo, a indumentária grega foi se tornando luxuosa e ostensiva, chegando mesmo a excessos, que não foi a característica de suas roupas no período de maior prosperidade de sua cultura. Etrúria A Etrúria localizava-se na região da atual Toscana, Itália, e teve seu momento de apogeu cultural por volta dos séculos VII a. C. e VI a. C. Os etruscos podem ser considerados os antecessores dos romanos, que

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deixaram fortes marcas nos povos da Península Itálica. Por não terem a escrita, o conhecimento de sua cultura veio pela iconografia, especialmente a encontrada em seus túmulos. Acredita-se que esse povo tenha vindo em migrações da Ásia Menor e ali se instalou. Isso fica claro até mesmo na indumentária local, visto que inúmeras imagens nos mostram nítidas referências orientais, além de alguns traços das roupas gregas. Havia algumas semelhanças entre as roupas de ambos os sexos, porém elas apresentavam diferenças não só na forma como também no comprimento. Os homens usavam uma túnica e, por cima, drapeada nos ombros e no tórax, a tabena, tipo de capa em formato semicircular, retangular ou mesmo semelhante a uma lua crescente. Pode-se até considerar que essa capa tenha sido a que originou a peça que vai ser a grande característica da indumentária romana: a toga. As túnicas longas eram usadas pelos dois sexos, ao passo que as curtas somente os homens vestiam. Era comum utilizarem cores em seus tecidos, e adornar as

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bordas das tabenas também era habitual. AS mulheres, que sempre vestiam suas túnicas longas, também a adornavam com cercaduras decorativas, e o manto, semelhante à capa masculina, podia ser passado sobre a cabeça. Os homens calçavam botas com o bico ligeiramente levantado, de influência oriental, e sandálias, de influência grega. Uma grande característica da arte e da indumentária etruscas foi a joalheria. Essas peças em metal precioso e pedras preciosas, tais como alfinetes, colares, braceletes, anéis, fivelas, coroas e outras até mesmo com caráter de proteção, são verdadeiros objetos de arte, que demonstram apurado domínio de técnica aliado ao extremo bom gosto. Roma A cidade de Roma, segundo a lenda de Rômulo e Remo, foi fundada no ano de 753 a.C. Com o passar do tempo, a cidade tornou-se a Roma republicana e posteriormente, no seu apogeu, a Roma imperial. Seu declínio começou no século V da Era Cristã, e a principal causa de sua queda foi a invasão dos povos bárbaros, não só na maior extensão do território romano como também na própria cidade de Roma. Se Atenas se impôs pelo saber, Roma se impôs pela força; todavia, nítidas referências a valores gregos estiveram presentes no contexto da estética romana. Assim como a Grécia recebeu influências cretenses, Roma recebeu influências etruscas; inclusive na maneira de vestir. No que tange à indumentária romana, podemos salientar que não só sofreu influências etruscas, como também que as principais linhas de suas roupas foram adaptadas da dos gregos. A peça característica da indumentária romana foi a toga, que nos permite fazer a correspondência com o himation grego. Entretanto, vale notar que a toga também foi uma evolução da tebena etrusca. Os romanos usavam a túnica e, por cima dela, a toga, que era extremamente volumosa e denunciadora do status social daquele que a portava. Quanto maior fosse, ou mesmo a sua cor, denunciava a condição de prestígio ou a função de usuário. Era normalmente de lã e no formato de um semicírculo, o que favorecia o denso e rico drapeado. Pessoas mais simples, como os trabalhadores e até mesmo os soldados do exército, muitas vezes usavam só a túnica. As roupas de campanha, por sua vez, eram compostas da túnica curta, do saiote e da couraça, uma espécie de escudo de metal, no formato do peito para proteger o tórax,e, nos pés, a calligae, um tipo e bota fechada.

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As mulheres usavam a túnica longa e, muitas vezes, a stola sobre ela, que era outro tipo de túnica, cujas principais características eram as mangas. A peça para as mulheres correspondentes à toga era a pella, uma espécie de manto que tinha o formato retangular, sendo esse detalhe a maior diferença em relação à correspondente masculina. Uma grande variação na moda feminina estava na mudança contínua de penteados. O luxo, em um certo momento, atingiu um esplendor tal que os excessos se tornaram características da indumentária romana. Jóias de diversos tipos, como pulseiras, anéis, colares, brincos etc., eram comuns para as mulheres. Para os Pés, predominavam as sandálias. Roma atingiu uma estrutura tamanha que o gigantismo do Império fugia do controle dos governantes. As influências vindas de outras culturas, principalmente as orientais, muito contribuíram para os excessos marcantes na indumentária romana, antes mesmo da queda daquela que foi a sede do maior império da História ocidental.

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A Idade Média Povos Bárbaros, Bizâncio, Europa Feudal e Europa Gótica Os trajes usados na Idade Média baseavam-se nos tipos que se tinham desenvolvido próximo a meados do primeiro milênio, resultantes da mistura de modas nativas com aquelas do final da Antiguidade. Povos Bárbaros O ano de 476 marcou a queda do Império Romano do Ocidente, terminando assim o período da Idade Antiga e dando início ao da Idade Média. O marco foi a deposição do imperador romano Rômulo, sendo colocado um germano no seu lugar. A maior causa, porém não a única, da queda do Império Romano do Ocidente foi a invasão dos povos bárbaros, principalmente os germânicos, no território de Roma. Esse período de invasões e migrações se deu desde o fim do século IV, quando tribos asiáticas passaram a pressionar tribos européias, tornando mais delicado o problema das fronteiras do Império, o que culminou no século V. Habitantes do norte e do leste da Europa, esses povos moravam em regiões de condições climáticas bem desfavoráveis, onde o frio era intenso.

Em relação às roupas, esses povos trabalhavam muito a lã, mas também o linho, o cânhamo e o algodão, para elaborar seus tecidos, criar túnicas, mantos e espécies de calças.

Para os homens, as túnicas podiam ser mais curtas, de couro ou de tecido; eles usavam calções curtos denominados de braies, ou mesmo as calças longas atadas às pernas por bandas de tecido abaixo dos joelhos. Essas calças eram presas por um cinto que envolviam o corpo por intermédio de passantes, cumprindo uma dupla função protetora, pois, devido à sua condição de nômade, locomoviam-se sobre o lombo do animal, precisando assim de uma proteção contra o atrito e também contra o frio, em virtude das condições climáticas um tanto quanto hostis. Por cima, como proteção maior, usavam um manto que podia ser de couro ou de pele animal, preso ao corpo por broche ou alfinetes. As mulheres vestiam-se com uma túnica longa presa por broches e atada ao corpo por cintos, cujas fivelas se compunham de discos duplos de metal ocos, nos quais levavam seus pertences. Sobre a túnica, usavam um xale também presa por broche ou fivelas. Por baixo da túnica, costumavam trajar uma camisa geralmente de linho com abertura frontal até o peito.

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Homens e mulheres tinham cabelos longos e, para se protegerem usavam toucas. Para os pés, eram comuns calçados fechados ou também sandálias em couros atadas por correias e cadarços para ambos os sexos. Com o tempo, essas tribos, devido ao contato com os povos das culturas romanas e bizantinas, acabaram também se romanizando, passando a ter um gosto maior por adornos e cores mais vistosas. Bizâncio Roma estava enfraquecida e a capital do Império foi transferida para uma antiga colônia grega situada no Bósforo, que se chamava Bizâncio e cuja capital passou a ser Constantinopla no século IV. Com o passar do tempo, já em fins do mesmo século, o Império foi dividido em Império Romano do Ocidente e Império Romano Oriente. A região Oriental estava mais fortificada em razão de diversos fatores socioeconómico-culturais, além da destruição da situação geográfica privilegiada, servindo de entreposto entre o Oriente e o Ocidente. O apogeu da cultura Bizantina ocorreu no século VI durante o governo do Imperador Justiniano, cuja esposa era Teodora. A religião vigente era Cristã, toda via se distanciando consideravelmente da Igreja Romana e, em meados do século XI (1054), houve de fato a cisão entre a cristandade em Católica Romana e Ortodoxa Oriental. O Oriente estava em condições gerais bem superiores às do Ocidente, principalmente no que se diz respeito à economia. O luxo oriental sempre foi mais ostensivo do que o ocidental e, em Bizâncio, não era diferente. No que se refere às roupas locais, nunca na história da indumentária houve uma aproximação tão grande entre roupas civis e religiosas. A seda foi o principal tecido utilizado em Bizâncio, tendo sua produção sido desenvolvido no próprio império, não sendo preciso, com isso, importá-la da Índia e da China. Sua fabricação era monopólio do governo. Esse tecido normalmente só poderia ser usado pelos altos funcionários da corte, e os tecidos mais opulentos e suntuosos eram de uso exclusivo da família imperial. Como se não bastasse todo esse esplendor, as roupas ainda eram bordadas com fios de ouro e prata, pérolas e pedras preciosas, refletindo luxo e fazendo eco aos mosaicos das construções locais, que foi a arte maior entre os bizantinos. A lã, o algodão e o linho também faziam parte da indumentária de Bizâncio. As influências recebidas pelas suas roupas eram diversas, em uma mistura evidente de referências romanas, persas e árabes e, graças a todo esse gosto requintado e luxuoso, ostensivo em cores e elementos pingentes, Bizâncio também influencio a indumentária da Europa Ocidental.

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As cores estavam muito presentes não só para o casal imperial como também para os mais privilegiados materialmente, além do uso da complementação ornamental em bordados com cenas religiosas, motivos florais e até mesmo animais. Como em outras culturas, a roupa bizantina também foi um diferenciador social. Eram verdadeiramente hierárquicos e, quanto maior o prestigio do portador, mais ornamentada se apresentava. Não havia nas peças um compromisso de sedução, muito menos de utilidade, visto que a principal característica era de fato esconder o corpo, isso também claramente evidenciado pelas formas amplas do corte que envolviam o corpo do usuário. Pode-se perceber que essas roupas eram totalmente diferentes daquelas usadas no período da Antiguidade Clássica, tanto na Grécia quanto em Roma. Apesar das diferenças, a influência do corte do manto era nitidamente romana, todavia, evoluiu ganhando maior comprimento. Esses mantos eram presos nos ombros por broches os fivelas – verdadeiras jóias. A roupa em si, era muito semelhante para os dois sexos, pois ambos vestiam túnicas com mangas longas até os punhos e, com isso, o aspecto de orientalização ficou cada vez mais evidente. Para os sapatos, não era diferente o excesso de ornamentação, normalmente em seda, tendo também aplicações de pérolas e pedras. Ainda hoje, os patriarcas da Igreja Ortodoxa em suas cerimônias religiosas trajam paramentos muito parecidos com as roupas usadas pelos imperadores bizantinos. O Império Romano do Oriente vai perdurar até 1453, data em que os turcos otomanos tomaram Constantinopla e a saquearam, resultando assim no fim da Idade Média.

Europa Feudal Como dito anteriormente, a invasão dos povos bárbaros em território do Império Romano Ocidental foi a principal causa de sua queda. Houve, com isso, um considerável êxodo urbano para começar daí uma nova proposta de vida ligada ao campo. Os centros urbanos, que passavam por grandes crises econômicas, a decadência do comercio, devido aos baixos rendimentos; o declínio da autoridade centralizada e o deslocamento para o campo fizeram aparecer um novo sistema político-económico associado a um senhor e as suas respectivas propriedades rurais. Assim serviram os feudos, que não eram todos iguais, não obedeciam a uma mesma ordem, sendo, porém, semelhantes em determinados aspetos. O rendimento

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estava centralizado na produção agrícola e o poder político, nas mãos dos senhores das terras, que ganharam significativa autoridade. O sistema social que caracterizou a Europa ocidental na segunda metade do primeiro milênio da Era Cristã foi exatamente o feudalismo, com o senhor e seus vassalos. Estes prestavam serviços e obediência àqueles em troca da sobrevivência, que normalmente era um pedaço de terra para trabalhar. Houve uma grande queda na produção artístico-cultural neste, visto que as referencias greco-romanas foram substituídas pelos valores dos povos invasores, além do deslocamento para o campo e, consequentemente, a decadência cultural. Ocorreu a tentativa de unificar a Europa sob o comando de um governo católico, Carlos Magno, que privilegiava o ensino e as oficinas de arte. Esse sistema obteve sucesso enquanto ele esteve vivo. Depois de sua morte e da divisão do reino entre os herdeiros, o objetivo foi perdido, as oficinas por eles criadas foram de tremenda importância no que diz respeito a produção cultural, e antecederam às dos mosteiros que, após a desunificação europeia, passaram a dominar todo o tipo de produção intelectual, estando totalmente ligada às questões religiosas cristãs. No que tange às roupas, o próprio sistema do feudalismo/ vassalagem contribuiu para evidenciar as diferenças sociais entre senhor e empregado; todavia, qualquer que fosse o grau de prestígio na sociedade europeia ocidental, era bem inferior àquele luxo ostensivo. Possivelmente, a principal causa das roupas dos europeus ocidentais serem menos opulentas que as do Império Romano do Oriente fossem econômica. Assim como se perderam os valores culturais clássicos em privilégios daqueles dos povos bárbaros, isto também aconteceu no que se relacionam à indumentária. Foram surgindo singularidades isoladas que duraram até o inicio da Baixa Idade Média, quanto as diversas culturas europeias se reuniram em torno das Cruzadas passando assim a ver uma certa uniformidade na maneira de se vestir. A roupa usada pelos mais ou menos favorecidos materialmente falando, tinha como principal diferença ostensivo e ornamentos, já que o corte era muito semelhante para as distintas classes sociais. Até mesmo o tipo de fibra usada em suas túnicas, fossem a lã ou o linho, era a mesma, distinguindo-se uma das outras na qualidade técnica mais aprimorada de fiação para os privilegiados e aspetos brutos e fiados em casa para a vassalagem (sistema social e econômico, oferece fidelidade e trabalho em troca de proteção e um lugar no sistema de produção). Os mais favorecidos chegavam a usar até mesmo a seda.

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É claro que as roupas do dia-a-dia era menos suntuosa do que aquelas usadas em momentos mais cerimoniosos. Estas obviamente eram inspiradas na corte de Bizâncio. As silhuetas de quem as usavam não era o fator mais importante das roupas; o grande diferencial era a quantidade de tecido usada para elaborá-las, que é uma outra forma reguladora de diferenças sociais; assim como quanto às cores: os camponeses portavam tonalidades discretas e sóbrias, ao passo que os mais afortunados as usavam mais variadas e ostensivas. A bonelli, tipo de túnica usada pelos homens deste período, foi à altura das pantorrilhas para os mais endinheirados, não chegando aos joelhos para os menos favorecidos. Ela era presa ao corpo por um cinto. Por cima da túnica, havia uma capa semicircular atada ao ombro por um broche, sendo forrada de pele para os dias mais frios. Calções chamados de braies eram usados com meias por baixo das túnicas, longos ou curtos aos joelhos, e amarrados com bandas de tecidos sobre a perna do joelho para baixo. Capa com capuzes, herdadas dos romanos, também fizeram parte da indumentária desse período como forma de proteção contra as intempéries, uma vez que a vida rural deixava as pessoas mais vulneráveis às inclemências. Para as campanhas, era comum o uso do couro ou tecidos mais resistentes, inclusive túnicas, podendo ser cobertas por placas metálicas também com o fator de proteção. As túnicas femininas, com ou sem mangas, em função do clima, por sua vez recebiam o nome de estola e eram vestidas pela cabeça. Eram presas aos ombros por broches e atadas à cintura por um cinto. Sobre os ombros, Seja como adorno ou proteção, usavam um lenço denominado de palla; também usavam um manto longo que chegava ao comprimento da própria túnica. Os cabelos para ambos os sexos eram longos, porém normalmente presos para as mulheres. Os calçados, tanto para os homens quanto para as mulheres, eram de couros, dos quais saiam tiras para serem cruzadas e amarradas nas pernas.