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A SEGUNDA INSPIRAÇÃO

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UM MOMENTO COM A EQUIPE DA CARTA MENSAL

Setembro é o mês da Bíblia, e assim sendo, o tema central desta edição de nossa Carta Mensal é a Escuta da Palavra, como vocês poderão constatar ao ler as matérias aqui inseridas.

Desejamos, contudo, aproveitar este "momento" com vocês para comentar alguns resultados da Pesquisa Internacional que foi realizada entre março e maio deste ano, com o objetivo de M radio­grafar" o nosso Movimento, neste limiar de sua Segunda Inspira­ção. Não temos, por enquanto, informações mais amplas, a nível internacional, mas gostaríamos de nos deter sobre alguns pontos referentes às equipes brasileiras.

Mais de 60% dos equipistas devolveram os formulários dentro do prazo. Dizem os entendidos que é um excelente retorno. Mas sentimos não ter recebido nada dos outros 40% .. .

Para começar, a imensa maioria dos equipistas (81 %) declara estar no Movimento à procura de um caminho para a santidade. E mais de 80% dos de nós, que ingressaram antes de 1980, afir­mam continuar nas Equipes porque estas preenchem uma verda­deira necessidade em suas vidas.

No que diz respeito às nossas reuniões de equipe, quase todas praticam com regularidade (90%) uma partilha bem participada (87%). A grande maioria dos equipistas tem o hábito de responder por escrito ao tema de estudos e 81% acham que o tempo dedi­cado à oração na reunião é suficiente. Mas apenas 55% acham que a reunião está sendo bem preparada ...

As dificuldades dos equipistas brasileiros parecem estar con­centradas em três Pontos Concretos de Esforço: 56% têm proble­mas com o Dever de Sentar-se; 49% com a Oração Conjugal/Fa­miliar e 28% com a Regra de Vida. E as dificuldades levam muitos a desistir: o grau de falhas observadas em relação aos Pontos Concretos obedece esta mesma classificação. Mas é curioso constatar, em relação à Oração Conjugal/Familiar, que ao mesmo tempo em que é uma dificuldade para uns, é o Ponto Concreto que ·custa menos" para quase 30% dos equipistas. Indagados a res­peito do progresso na vida espiritual que os Pontos Concretos de Esforço lhes proporcionam, 85% dos equipistas responderam posi­tivamente, afirmando que foram ajudados por esses meios.

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Um questionamento mais específico a respeito dos Pontos Concretos de Esforço revela que mais da metade de nós (55%) não consegue praticar com regularidade o Dever de Sentar-se. Isto se aplica também a mais de 40% dos equipistas a respeito da Oração Conjugal. Quanto à prática da Oração junto com os filhos, um terço a faz regularmente, um terço "de vez em quando" e um terço. . . nunca. Os demais Pontos são praticados com regula­ridade por mais de 70% dos equipistas.

Como estamos engajados no Movimento e na -Igreja? Mais de um terço (35%) dos que responderam, já participaram de uma Sessão de Formação e 40%, de outras atividades do Movimento. As respostas quanto ao engajamento fora do Movimento foram bastante animadoras: quase dois terços (64%) informaram estar engajados em alguma atividade de Igreja. Os engajamentos mais freqüentes dizer respeito a algum tipo de trabalho de pastoral (na ordem: Família, Catequese, Batismo, Juventude, Liturgia, Saúde, Vocações; englobando 20% das respostas) ou outros serviços_liga­dos à paróquia (15%).

Alguns quesitos da pesquisa permitiram levantar uma espécie de "retrato falado" do casal equipista brasileiro. Ele tem em torno de 20 anos de matrimônio e está no Movimento há cerca de 8 anos. Tem 3 filhos ; a esposa, quando não é professora, cuida do lar, enquanto o marido é profissional liberal, pequeno empresário ou funcionário.

Os resultados da pesquisa poderiam nos levar a muitas outras considerações; infelizmente, o espaço não o permite. Mas estamos à disposição daqueles que quiserem saber mais: escrevam para o Secretariado e teremos prazer em responder.

Fraternalmente

A -Equipe da Carta Mensal

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EDITORIAL

"ESCUTAI-O"

Os Evangelhos, que nos oferecem inúmeras palavras de Cristo, só nos relatam três palavras do Pai. Como deveri;lm ser elas preciosas para nós! Uma delas é um conselho: o único conselho do Pai aos seus filhos. Com que infinita, filial reverência devemos recebê-lo, com que solicitude atendê-lo! Tal conselho, que contém o segredo de toda santidade, é sim­ples e pode ser expresso numa só palavra: "Escutai-o" (Mat. 17, 5), diz o Pai, ao mesmo tempo que nos aponta o seu Filho Bem-amado.

Meditar, é, assim, o grande ato de obediência ao Pai. ~. como Ma­dalena, sentarmo-nos aos pés de Cristo para escutar a sua palavra. ~ com efeito a Ele, mais ainda que às suas palavras, que devemos estar atentos.

Entregar-se à meditação a partir de uma.página do Evangelho é muito recomendável; com a condição de lermos, não como professores de lite­ratura, mas como a noiva que, nas cartas que recebe, para além das palavras escuta o pulsar do coração de seu amado.

Saber escutar é sem dúvida uma grande arte. O próprio Cristo nos adverte: "Cuidai, pois, na maneira de escutar" (Lc. 8, 18). Se formos beira do caminho, rochedo, ou terreno espinhoso·, a Sua Palavra não poderá crescer em nós. Precisamos ser a terra boa onde as sementes en­contram o que lhes é necessário para brotar, desenvolver-se, amadurecer.

Escutar, aliás, não é somente atribuição da inteligência. ~ nosso ser por inteiro, alma e corpo, inteligência e coração, imaginação, memó­ria e vontade que devem estar atentos à Palavra de Cristo, abrir-se a ela, ceder-lhe o lugar, deixar-se por ela penetrar, invadir, apossar, dar-lhe ade­são sem reserva.

Compreendeis agora porque emprego a palavra escutar de preferência a meditar. Tem uma ressonância mais evangélica e designa um encontro, um diálogo, um contato de coração a coração: e nisto consiste essencial­mente a meditação.

Na verdade, sem a graça, ninguém poderia escutar o Cristo, pois somos todos surdos de nascença, filhos de uma raça de surdos. Mas, ao sermos batizados, Cristo pronunciou a palavra que, depois da cura do surdo-mudo da Decápole, abriu os ouvidos de milhões de discípulos: "Ephetha!, isto é, abre-te!" (Me. 7, 34).

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Quando, através da meditação, abrimos o nosso íntimo para que nele tenha acesso a Palavra de Cristo, ela nos converte, nos "faz passar da morte para a vida" (Jo. 5, 24), nos ressuscita; torna-se em nós, para nós, fonte impetuosa, vida eterna.

·Contudo, escutar a Palavra não é suficiente: "Feliz, diz o Cristo, aque1e que ouve a palavra de Deus e a guarda" (Lc. 11, 28), com ela se rejubila, dela se alimenta, leva-a consigo como Maria a criança que havia concebido e que era a Palavra substancial. Através de Maria, Jesus san­tificava aqueles com quem sua Mãe se encontrava, fazia estremecer de alegria o Batista no seio de Isabel. Assim quer ele fazer por nosso inter­médio.

Não é ainda o suficiente. Esta Palavra ouvida, guardada, importa que "seja posta ativamente em prática" (Tiago 1, 25). Quer isto dizer que é preciso, ao longo do dia, estar atento à sua presença atuante em nós, aberto às suas sugestões, aos seus impulsos. B o seu dinamismo que nos levará a multiplicar as obras boas, trabalhar, afadigar-nos, viver, morrer, pelo advento do Reino do Pai. E se formos fiéis, grande será a nossa alegria, pois Jesus disse: "Aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática é que são minha mãe e meus irmãos" (Lc. 8, 31).

Henri Caffarel (*)

("'} Editorial retomado da Carta Mensal de setembro de 1984.

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A PALAVRA DO PAPA

No exercício do poder político ê fundamental o espírito de serviço, único capaz de, ao lado da necessária competência e eficiência, tornar "transparente" ou "limpa" a atividade dos homens políticos, como aliás o povo justamente exige. Isso pressupõe a luta aberta e a decidida supe­ração de certas tentações, tais como o recurso à deslealdade e à mentira, o desperdício do dinheiro público em vantagem de uns poucos e com miras de clientela, o uso de meios equívocos ou ilícitos para a todo custo conquistar, conservar e aumentar o poder.

Os fiéis leigos empenhados na política devem certamente respeitar a autonomia das realidades terrenas, retamente entendida, como lemos na Constituição Gaudium et spes: "~ de grande importância, sobretudo onde existe uma sociedade pluralista, que se tenha uma concepção exata das relações entre a comunidade política e a Igreja, e ainda que se distingam claramente as atividades que os fiéis, isoladamente ou em grupo, desempe­nham em próprio nome como cidadãos guiados pela sua consciência ' de cristãos, e aquelas que eles exercem em nome da Igreja e em união com os seus pastores. A Igreja que, em razão da sua missão e competência, de modo algum se confunde com a sociedade nem está ligada a qualquer sistema político determinado, é, ao mesmo tempo, o sinal e salvaguarda da transcendência da pessoa humana. Simultaneamente - e . hoje sen­te-se-o com urgência e responsabilidade -, os fiéis leigos devem dar testemunho daqueles valores humanos e evangélicos que estão intima­mente ligados à própria atividade política, como a liberdade e a justiça,

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a solidariedade, a dedicação fiel e desinteressada ao bem de todos, o estilo simples de vida, o amor preferencial pelos pobres e pelos últimos. Isso exige que os fiéis leigos sejam cada vez mais animados por uma real participação na vida da Igreja e iluminados pela sua doutrina social. Para isso poder-lhes-á ser de apoio e de ajuda a familiaridade com as co­munidades cristãs e com os seus pastores.

Exortação Apostólica sobre a "Vocação e a Missão dos Leigos na Igreja e no Mundo", n.0 42.

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A família é a célula primária da sociedade e deve ser recordado que a influência educativa do lar sobre os indivíduos é muito maior do que a de qualquer outro grupo. A autoridade moral e religiosa e as virtudes sociais de que precisa cada sociedade são primeiramente aprendidas nesta comunidade fundamental. Em nenhum outro. lado são tão universalmente sentidas a força e a intimidade do amor. E neste ponto de partida que as dimensões individual e comunitária da vida são consolidadas. E na famí­lia que as pessoas aprendem o salutar respeito de si mesmas. E no lar que a arte da comunicação começa e deve ser alimentada. E acima de tudo no lar que as . v~rdades da religião são assimiladas e que se desen­volve uma re.lação pessoal com Deus. Nenhum plano pastoral pode des­curar a prioridade que deve ser dada à família como célula fundamental da sociedade e da própria Igreja.

João Paulo 11, em discurso a um grupo de bispos da fndia, no dia 13 de abril de 1989.

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A ECIR CONVERSA COM VOCES

A INTERVENÇÃO DE DEUS NA lllSTóRIA DO HOMEM

Eis o que nos relata a Bíblia, com palavras simples e claras, às vezes um pouco duras. Contém toda a manifestação do amor de Deus, que criou o Homem livre, inteligente, capaz de amar e depois o vê utilizar mal esses dons maravilhosos e servir-se deles para não ir até o seu Cria­dor, mas para afastar-se dele e até negá-lo.

Enfraquecido pelo pecado, o homem não foi capaz de chegar até Deus pelo conhecimento das coisas criadas. Ao contrário, afastou-se do Deus único e passou a adorar a criação - as criaturas, os astros, a si mesmo.

Deus, que é pai, condoeu-se dos desvários dos homens e resolveu falar-lhes não só pela sua obra, mas por palavras e atos e pelo teste­munho de um povo escolhido.

E Abraão entrou na História e a Bíblia começou a ser escrita.

O povo hebreu, a quem Deus diz: "Vós sereis o meu povo e eu serei o vosso Deus", recebeu a missão de proclamar o Deus único, sua grandeza, sua sabedoria, seu amor. E, por meio de Moisés, Deus o instrue: "Que estas palavras que hoje te ordeno, estejam em teu coração. Tu as inculcarás aos teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa, andando em teu caminho, deitado ou de pé." (Deut. 6, 6-7).

E, por esse povo, Deus falou à humanidade. Falou pela sua história, pelos seus reis, pelos seus profetas e pelos seus mártires, que também os houve e não foram poucos.

Depois veio o Cristo - a encarnação da Palavra, e nos revelou melhor e mais profundamente o Pai que nos escolheu e nos amou primeiro.

Eis aí a Bíblia- a História -da sabedoria e do amor de Deus único, do Pai que procura perseverantemente, com paciência a misericórdia, por esses filhos que se extraviaram nos caminhos do mundo, para os regenerar e salvá-los.

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Quando recebemos, assim, a Bíblia, é fácil lê-la e meditá-la. Por ela Deus nos fala ainda hoje, como outr'ora ao povo hebreu e depois pelo Cristo, nas terras da Palestina.

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Temos que despir o conteúdo profundo das Palavras da Bíblia, das roupagens com que a época e as circunstâncias as revestiram. E, depois, inclinarmo-nos humildemente diante delas , procurando compreeender, aceitar e viver os seus ensinamentos. E deixar que a Palavra se aposse de nossa inteligência e do nosso coração e nos transforme nesses filhos pródigos que o Pai espera tão ansiosamente.

Nancy C. Moncau

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SEGUNDA INSPIRAÇÃO

SINAL EFICAZ DA GRAÇA

Voltamos a falar a vocês, caros casais equipistas, sobre a Segunda Inspiração, este momento vivido pelas E.N.S. hoje.

Nosso retomo ao assunto se deve, evidentemente, ao valor que damos a este momento e, principalmente, à esperança que colocamos nele.

Acreditamos vivencialmente nesta Segunda Inspiração, como mo­mento que nos revela a presença do Espírito Santo, a motivar e nortear sempre a caminhada do nosso Movimento. Vivemos em Pentecostes, e sua eficácia, por vontade de Deus, depende da nossa aceitação e do nosso comprometimento . Assim, a Segunda Inspiração não é simplesmente uma idéia a mais ou uma invenção de alguns espíritos irrequietos ou "avan­çados" , nem a expressão de um gosto de mudar por mudar ou de retomar por retomar. Ela quer nos levar a examinar aquilo que é necessário mudar, que é necessário retomar, levando-se em conta as necessidades do nosso hoje, da hora que vivemos, da realidade que encontramos, especialmente em relação ao matrimônio e ·ao amor, mesmo que seja apenas pela elabo­ração de alternativas para a continuidade de nossa caminhada.

Trata-se de nos dispormos a buscar os passos que devem ser dados, no contexto da realidade mais próxima que nos envolve. Temos que saber escutar a Palavra do Senhor, para que possamos agir em conformidade com ela e que, com fidelidade e coragem, proclamemos essa Palavra ao mundo.

I! necessário que o fim que nos propomos esteja bem definido para cada um de nós. O fim que nos propomos é o Reino, através da santifi­cação do casal.

Esse é o primeiro passo. Somos chamados a aprofundar esta reali­dade, num esforço conjunto de todos, partindo sempre da finalidade

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evangelizadora da Igreja. E as E.N.S. são uma parcela desta Igreja, com essa missão específica: a santificação do casal.

Torna-se necessário que haja comprometimento de cada um de nós na participação neste esforço. A Segunda Inspiração será o resultado da participação, do esforço de cada um de nós, aquilo que sustentará a cami­nhada das E.N .S. segundo a vontade do Senhor e segundo as necessida­des da Igreja.

Aqui, gostaríamos de citar a carta de Paulo aos colossenses (1, 24-28): "Eu me tornei ministro da Igreja quando Deus me deu esse serviço para o bem de vocês: completar o anúncio da Palavra de Deus. Esta Palavra é o mistério escondido durante os séculos e as gerações do pas­sado, mas agora revelado a seu Povo Santo. A este quis Deus manifestar qual é entre os gentios a riqueza da glória deste mistério que é Cristo em vocês, a esperança da glória. Nós o anunciamos, advertindo a todos os homens e ensinando a todos os homens o melhor que sabemos, para fazer de todos os homens cristãos perfeitos ."

Trata-se de escolha de valores de vida, que deverão estar presentes em nós de forma operante, principalmente em relação ao Matrimônio, ao Amor, à Família. E a segunda Inspiração será construída em comu­nidade, onde os valores serão partilhados entre os membros, na percepção da realídade em que a Igreja e o mundo vivem. Será a busca da verdade sobre: o que é preciso transformar? que valores devem ser transmitidos e de que forma? ~ evidente que é o querer da comunidade que definirá os rumos desta busca.

Viver a Segunda Inspiração é esta busca incessante de verdades, que, alimentada pela reflexão e pelo aprofundamento, nos leva ao en­contro da grande Verdade.

A Segunda Inspiração é essencialmente dinâmica, no sentido de que os dons que cada um de nós traz, em honra do Senhor e em amor ao outro, possam servir para a salvação de todos. Ela realmente nos propõe um ideal a ser atingido e uma caminhada a ser percorrida. Para tal, ne­cessitamos de uma vida intensa de oração e de troca de experiências e idéias, num espírito de abertura em equipe, permanecendo fiéis à intuição inicial do Movimento e buscando respostas e alternativas para os casais e as famílias de hoje, apoiando-os em sua caminhada para a realização de cada cônjuge como pessoa humana, para a unidade do casal, para a comunhão com o outro e para o encontro com Deus.

Nesta perspectiva, é preciso aprofundar e trabalhar: o amor conju­gal, o sentido do corpo, a fidelidade, a renúncia, o relacionamento sexual, a fecundidade, a generosidade, a unidade, o respeito, a ternura, a comple­mentariedade homem-mulher e a abnegação, mas não apenas para buscar definições e sim para tomar consciência da profundidade e das exigências deste amor que deve envolver todo ser humano e orientar a sua vida.

Deve ser esta a busca da evangelização da sexualidade.

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~ preciso que tenhamos consc1encia de que o Matrimônio é um sinal eficaz da graça. ~ a única de todas as relações humanas a receber tal consagração. E esse sinal, no Matrimônio, é a vontade manifesta de cada um dos cônjuges em querer pertencer ao outro em amor e fidelidade, por livre escolha, para que, através da ternura, do apoio mútuo, da deli­beração em conjunto, seu amor se torne fonte de graça, de presença de Cristo, do Espírito Santo. E para que este amor se amplie em direção o próximo.

Interessante seria reler o Cântico dos Cânticos (1, 12-17; 6, 4-8) que nos fala, com termos e atitudes da época, do amor de dois seres livres, num diálogo apaixonado que escapa a toda pressão, alegórico ao amor de Deus, à fidelidade de Deus para com seu povo.

Gostaríamos, para terminar, de fazer uma oração com todos vocês: Senhor Deus, permanecei junto a nós todos, vosso povo iniciado por Vós, nos sacramentos do vosso Reino, e especificamente junto a este povo das E.N.S., comprometido pelo Sacramento do Matrimônio a fim de que, des­pojando-nos do homem velho passemos a uma vida nova, com coragem, com esperança, com alegria, com entusiasmo, com fé, com "garra", como nos pede a Segunda Inspiração.

Olguinha e Toninha

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SEGUNDA INSPIRAÇÃO

MAIS PISTAS PARA REFLEXÁO

No mesmo espírito do mês passado, apresentamos aqui mais algumas sugestões para maior aprofunda­mento do documento sobre a Segunda Inspiração. Os tópicos abaixo seguem o texto e foram preparados pelo Pe. Paulo D'Elboux, C.E. do Setor B da Região São Paulo Sul I. Ele adverte: "As perguntas não es­gotam o assunto nem serão necessariamente as mais adequadas a todas as equipes. Cada uma tem seu rit­mo e características dentro da criatividade que lhe é peculiar."

1. O CARISMA - (pág. 3/5)

I. Quais os pontos mais importantes do carisma das ENS essenciais ao Movimento e que não devem ser esquecidos ou modificados?

2. A Segunda Inspiração fala em abnegação, sexualidade, contribuição do Movimento pata a Igreja. Onde se quer chegar em cada uma dessas colocações? Está havendo falha ou omissão?

2. A BOA NOVA - (pág. 6/7)

1. A vida matrimonial está cheia de contradições atualmente. Quais os pontos positivos que os casais têm alcançado em relação ao pas­sado e quais os sinais de deteriorização surgidos nos relacionamen­tos anteriormente menos despercebidos?

2. Aprofundando o sentido da sexualidade, qual a característica do amor cristão em relação ao prazer, satisfação, procriação, feminili­dade e masculinidade, o papel do homem e da mulher na harmonia conjugal.

3. Em última análise em que consiste o sacramento do matrimônio? Qual a sua essência, a graça sacramental?

3. ESPIRITUALIDADE CONJUGAL - (pág. 8/12)

1. O que está acontecendo com as famílias nas grandes cidades? Ve­rificar o lado afetivo, autoridade, comunicação/comunidade fami­liar, relacionamento entre as pessoas e gerações.

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2. Como as ENS têm-se constituído numa "escola" de formação e apoio para as famílias do Movimento? Pontos fortes de sua orga­nização e estrutura que acabam ajudando o casal?

3. Aspectos já desgastados ou envelhecidos que precisam de revitali­zação.

4. VIVER EM COMUNHÃO- (pág. 13/16)

1. A verdadeira espiritualidade implica em partilhar o que se recebeu. Vocês acham que o Movimento está fechado? isolado? sem entro­samento com outros? elitista?

2. Conservando o carisma de sua origem, em que pontos a equipe deveria concretamente se renovar na espiritualidade e estrutura do Movimento?

3. Que pensa o Conselheiro Espiritual da renovação de sua equipe? Quais suas críticas e como ele se propõe a ajudar?

5. UM PROJETO OU PLANO A SER ESTUDADO

1. A nível pessoal: o que preciso fazer para melhorar na espirituali­dade, sexualidade, na alegria de viver.

2. A nível de casal: dois ou trfs pontos práticos de ação na linha da . espiritualidade, sexualidade, (relacionamento global afetivo) e bem

estar familiar (clima em casa).

3. A nível de equipe: práticas religiosas, leituras, estudo, atividade de serviço (individual ou comunitário) apostolado.

4. A nível de Igreja: participação, debates, reunião com outros mo­. vimentos afins, testemunho e presença representativa.

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A PALAVRA DE DEUS

Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, repreender, corrigir e educar para uma vida justa. Seguindo-a o homem de Deus se torna perfeito, capacitado para toda obra boa.

11 Tim. 3,16-17

Com esta recomendação a seu discípulo Timóteo, "filho caríssimo", São Paulo apóstolo nos indica a base segura da nossa fé. Não pode ser outra senão a Palavra de Deus, revelada aos profetas, escritores sagrados e apósto­los escolhidos por ele.

Todo o conjunto da Sagrada Escritura compõe a mensagem de Deus Pai aos seus filhos para lhes revelar carinhosamente todo o plano da sua criação, com o objetivo de atraí-los ao convite de uma comunhão de vida com ele. O convite inclui, como é óbvio, as normas que devem ser seguidas para tor­nar-se possível essa comunhão, não só com Deus mas também entre os irmãos. Esse é o conteúdo principal que deve ser procurado pelos que lerem a Escritura, ou ouvirem sua leitura.

Por outro lado, os livros da Bíblia contém o relato dos acontecimentos históricos que acompanharam a realização do projeto de Deus, particular­mente as peripécias do povo que ele escolheu para ser o anunciador do seu plano aos demais povos c testemunhar a promessa do Pai de enviar seu pró­prio Filho ao mundo, na carne humana, como Salvador e Redentor dos homens. Os chamados livros históricos, portanto, não têm por finalidade di­dática ensinar geografia ou mesmo cronologia dos acontecimentos. Apenas relatam os fatos na medida em que revelam e confirmam o conteúdo da men­sagem de Deus ou repreendem e corrigem a conduta do seu povo, quando infiel aos seus compromissos.

Levando-se em conta a variedade dos estilos de cada escritor e a precari­dade das informações que podiam ter no seu tempo, pode haver certas inexa­tidões na descrição de alguns fatos. Não há, porém, nos livros sagrados ne­nhum desvio ou incoerência na veracidade da mensagem que transmitem. Contudo, sendo esta transmitida em linguagem humana, o relato apresenta sempre uma roupagem cultural correspondente às condições do meio e da época em que foi escrito. A garantia da inspiração divina, que S. Paulo nos assegura no texto acima citado, não se refere a esses condicionamentos e sim ao conteúdo da mensagem.

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Esta é a norma fundamental que deve orientar nossa leitura da Bíblia. Deste modo, saberemos encontrar sempre nos seus livros urna apropriada iluminação dos nossos caminhos para conservarmos uma coerência com a opção da nossa fé. Daí a importância de uma freqüente leitura da Palavra de Deus acompanhada com os auxílios dos mais entendidos nessa matéria.

Com essa finalidade de um permanente contato com os textos sagrados, a Igreja distribui os mais adequados ao entendimento dos mistérios do plano de Deus, durante a celebração da Santa Missa nas várias etapas do ano litúr­gico. Estabelece, assim, uma íntima união entre a celebração do principal mistério da vida de Cristo e a iluminação da Palavra que nos dá o sentido da celebração. Esse momento das leituras assume uma importância funda· mental, devendo ser realizado com o maior cuidado para que as pessoas ou­çam claramente e entendam a palavra que deve ser luz para a sua vida.

Fique de todas estas considerações a .convicção de que sem uma fre­qüente leitura das Escrituras, o cristão não conseguirá manter a integridade da sua fé, correndo o risco de esvaziá-la progressivamente. Ao contrário, alimentando sempre nossa fé com o pão da Palavra, teremos maior firmeza na vida com Deus e ainda estaremos em condições de partilhar esse ali­mento com os irmãos.

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D. Candido Padin

Bispo de Bauru

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A PEQUENA FAMíLIA, SINAL DA GRANDE FAMíLIA DE DEUS

Reproduzimos a seguir um trecho do trabalho levado pelo casal responsável da ECIR, lgar e Cidinha, à última reunião do Pontificio Conselho para a Famí­lia, do qual fazem parte.

( . .. ) Pensamos ser útil uma pequena reflexão sobre a pequena fa­mília dentro dos planos de Deus revelados por Jesus Cristo. Ela deve ser sinal da Grande Família. Deus está na origem de tudo. Então podemos concluir que a sexualidade é um dinamismo que Deus implantou em cada ser humano, visando a realização humana através da concretização do amor compartilhado. Por sua própria natureza, o ser humano deve ser fecundo, no sentido profundo da palavra: aberto à vida. Isso não apenas através da geração biológica de filhos, mas através do amor.

Esse amor não encontra a razão de ser numa dimensão horizonta­lista, que se fecha em si mesma. Pelo contrário, o amor humano verda­deiro se abre para Deus.

Os planos salvíficos de Deus passam, pois, por esse amor humano. Mas esse amor só assume uma dimensão salvífica na medida em que for sintonizado com os grandes projetos de Deus.

Deus não quer casais e famílias aprisionados em seu próprio amor e em sua própria felicidade . Ele quer casais e famílias que sejam sinais de outra realidade, a Grande Família de Deus.

Ele quer que todos os povos, todas as raças e todas as culturas se fecundem em suas diferenças, fazendo surgir uma única Grande Família: a família dos filhos e filhas de Deus .

Como na pequena, assim na Grande Família deve reinar a comunhão, o amor, a participação.

E à pequena família , que é edificada a partir de um Dom de Deus -o Dom do Amor-, é confiada a tarefa de participar da construção da Grande Família .

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MARIA - MODELO

Maria, nossa Mãe, é a fonte de nossa alegria. Ninguém apren­deu tão bem como Maria a humildade.

Ela era a serva. "Ser serva" significa ser utilizada com alegria segundo o beneplácito das pessoas. A alegria era a força da Virgem Santíssima.

Só a alegria lhe podia dar a força para se dirigir apressada­mente para as colinas da Judéia, para fazer um trabalho de serva. Nossa Senhora caminhou pressurosa em direção à montanha e alí permaneceu três meses para fazer o trabalho de criada da sua prima.

Assim também tem de ser conosco. Nós devemos possuir antes de dar. Quem tem a missão de distribuir deve primeiro crescer no conhecimento de Deus e encher-se desse conhecimento e dessa alegria.

Como Maria, também nós fazemos tantas coisas todos os dias : coisas pequenas, como ela, com grande amor. Também Jesus quis ficar numa coisa pequena: o Pão. Se O reconhecermos quando se faz Pão, descobri-Lo-emas também quando está nu, quando expulso e humilhado, quando Ele é alguém em necessidade. Ele está fa­minto não só de pão, mas d€ amor; está humilhado não só em si mesmo, mas nos irmãos. r; ,.

Maria ama-O todo e sempre: em Belém e na Cruz, no céu e' nos sótãos, na Igreja e nos hospitais, na família e nas oficinas ...

Ela ajuda-nos a fazer o mesmo, difundindo a alegria e a espe­rança, dando amor e ternura, com atos mais do que com palavras, com o coração aberto a todos.

Deus escolheu Maria, uma mulher, para manifestar melhor o seu amor pelos homens; ela compreendeu isso muito bem, pois começou logo a dar o que tinha acabado de receber. Por outras palavras, distribuiu a Eucaristia. De fato, na Anunciação do Anjo, Deus fez-se homem nela. E ela, o que fez? Corre depressa a levá-Lo a Isabel e a João ainda escondido no seio de sua mãe. João O reconhece e pula de alegria.

Este é o nosso dom : levar a alegria, a vida. E ... depressa! Por isso Maria, ·que nas bodas de Caná disse a Jesus: "Não têm vinho!", obtém para todos que se mude a água na alegria dos brindes, com o vinho melhor que há !

Gracinha e José Augusto

Equipe 01 - Recife , PE.

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CAMINHANDO COM A IGREJA

INSTRUÇÃO SOBRE A LIBERDADE CRISTÃ E A LIBERTAÇÃO

Introdução (n.o 1 a 4)

A chamada "teologia da libertação" permanece um assunto de atualidade. Na sua mensagem aos Bispos do Brasil, em 9/4/86, o Papa João Paulo li lhes pedia de "velar para que a correta e necessária teo­logia da libertação se desenvolva no Brasil e na Amé­rica Latina de modo homogêneo e não heterogêneo em relação à teologia de todos os tempos, e em plena fidelidade à doutrina social da Igreja". Por essas palavras sancionava a "Instrução sobre a Liberdade Cristã e a Lbertação", assinada pelo Cardeal Ratzin­ger aos 22 de março do mesmo ano, e da qual apre­sentamos a seguir as principais perspectivas.

A consciência da liberdade e da dignidade do homem e a afirmação dos direitos inalienáveis da pessoa e dos povos são características predo­minantes de nosso tempo. Liberdade e libertação têm uma evidente di­mensão ecumênica pois, por sua Cruz e Ressurreição, Cristo nos libertou do pecado e da morte.

I. A situação da liberdade no mundo de hoje (n.0 5-24)

A busca da liberdade, a aspiração à libertação, a afirmação da •igual­dade e da fraternidade de todos os homens e de seu direito qe pensar e querer livremente são uma herança cristã.

Mas, de fato, a desigualdade permanece entre os detentç:>res do saber e aqueles que simplesmente o utilizam. Na área social e política, a ideo­logia individualista afastou os trabalhadores do acesso aos bens essenciais, ao mesmo tempo que entre os povos se procura a segurança e a paz através da ameaça recíproca.

Não obstante, os progressos realizados no campo da ciência, da técnica e da economia poderiam servir de base para a conquista da liber­dade. Abre-se diante de nós uma nova fase da história da liberdade.

11. Vocação do homem à liberdade e drama do pecado. (n.0 25-42)

A verdadeira liberdade é a de fazer o bem em harmonia com a natu­reza humana. Ao criar o homem livre, Deus imprimiu nele a sua imagem

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e semelhança. A liberdade humana é, pois, uma participação finita e falível à liberdade divina. A libertação do homem será o conjunto dos processos necessários para garantir o exercício dessa liberdade.

Cada pessoa humana pertence a diversas comunidades, familial, pro­fissional, política; é no seio delas que deve exercer sua liberdade de modo responsável. Na área social, a liberdade se exprime através da liberdade de associações criadas para defender os direitos do homem.

O domínio da natureza é dado ao homem através de atividades científicas e técnicas, que só são humanas quando subordinadas aos valo­res morais que devem reger a vida humana.

O pecado do homem, a sua ruptura com Deus, é a causa de todas as tragédias humanas. Por ele, o homem nega a sua própria verdade, cultuando ídolos, riqueza, poder, prazer, em lugar do verdadeiro Deus.

111. Libertação e liberdade cristã. (n.o 43-60)

O Evangelho é uma mensagem de liberdade e uma força de liberta­ção . No Antigo Testamento, a mesma mensagem foi transmitida sucessi­vamente, através da história do t!xodo, das Alianças, do ensinamento dos Profetas, das súplicas dos "pobres de lahweh". No limiar do Novo Tes­tamento, o Magnificat de Maria traduz uma atitude ao mesmo tempo re­lativa à salvação e à ética. ~ à luz do Novo Testamento que se deve ler o Antigo Testamento.

A Evangelização dos pobres é apresentada por Jesus como sinal da autenticidade de sua missão, sintetizada no Sermão da Montanha.

O amor a Deus implica o amor do próximo, estendendo-se até aos inimigos e aos perseguidores . Tem sua fonte no amor de Cristo que deu sua vida por nós. Daí o direito de cada pessoa a que seja respeitada sua dignidade e seu direito à vida: não existe corte entre o amor do próximo e a vontade de justiça. Progresso humano e Reino de Deus não são idên­ticos mas são interligados.

IV. A missão libertadora da Igreja (n .o 61-70)

A Igreja pretende responder à inquietude do homem de hoje, opri­mido e sequioso de liberdade: as bemaventuranças oferecem a resposta. Ao fazê-lo, a Igreja será fiel à sua missão, denunciando os erros, as servi­dões e as opressões de que os homens são vítimas.

A Igreja sempre se preocupou em aliviar os sofrimentos dos pobres, em defendê-los, em libertá-los. Nessa perspectiva, as novas comunidades eclesiais de base são um motivo de grande esperança para a Igreja. Da mesma maneira, uma reflexão teológica desenvolvida a partir de uma experiência particular pode constituir uma contribuição muito positiva.

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V. A doutrina social da Igreja por uma práxis cristã da libertação (n.0 71-96)

A doutrina social da Igreja nasceu do encontro das extgencias da mensagem evangélica com os problemas que vêm da vida da sociedade: ela opõe-se tanto a todas as formas de individualismo social ou político como ao coletivismo. A prioridade reconhecida à liberdade e à conversão do coração não elimina de forma alguma a necessidade de mudança das estruturas injustas, nem de lutar por essa finalidade.

Deve-se condenar com o mesmo vigor a violência contra os pobres exercida pelos ricos, a cumplicidade do poder público, o arbítrio policial, como também toda forma de violência transformada em sistema de go­verno. Uma firme luta pela justiça, sem ódio, é pois, necessária, indo desde a não-violência ativa até a luta armada. Deve começar por uma educação para uma civilização do trabalho, para a solidariedade, para o acesso de todos à cultura, visando a eliminação do analfabetismo e o exer­cício responsável da liberdade.

Deve ser respeitada a prioridade do trabalho sobre o capital, Os empresários têm o dever de justiça de tomar em consideração o bem dos trabalhadores antes do aumento dos lucros. O direito à propriedade pri­vada não é concebível sem o cumprimento de seus deveres para com o bem comum. O acesso de todos os bens essenciais para uma vida digna individual e familiar é uma exigência básica da justiça social.

Somente a solidariedade pode fazer com que seja respeitada a desti­nação universal dos bens materiais . Trata-se de uma exigência de ordem moral, tanto no plano nacional como internacional.

Conclusão (n.0 97-100)

O Magnificat de Maria exprime as exigências de justiça e paz de nosso tempo .

Fr. J. P. Barruel de Lagenest O.P .

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ELEIÇÕES/89

O voto solidário

Em matéria anterior tivemos a oportunidade de abordar este tema à luz dos textos da exortação apostólica "Christifideles Laici" e do do­cumentd da CNBB "Exigências Bticas da Ordem Democrática" e procura­mos ressaltar a importância do nosso voto consciente na próxima eleição.

Permitam-nos retomar o assunto tendo, agora, como pano de fundo uma reflexão sobre a atual situação social do nosso país, acossado por uma grave crise.

O Brasil de hoje é a oitava economia do assim chamado "mundo capitalista" e, ao mesmo tempo um país que se defronta com seríssimos problemas econômicos e sociais. Temos a maior dívida externa dentre os países do "terceiro mundo" e índices de inflação que na América Latina só vinham sendo suplantados pelos da Nicarágua, coletivista e do Perú, populista. Não há quem desconheça o contraste chocante entre o nível global de desenvolvimento da economia brasileira e o resultado de nossos indicadores sociais. Estatísticas de alguns anos atrás mostravam que quin­ze por cento das famílias brasileiras viviam na miséria absoluta e trinta e cinco por cento, aí incluídas as precedentes, encontravam-se na mais estrita pobreza. Mais de um tero da força de trabalho ganhava menos de um piso nacional de salários. Nossa distribuição de renda é absurdamente desigual. Os cinqüenta por cento mais pobres do país detém 13,6 por cento da renda nacional, enquanto o um por cento mais rico detém par­ticipação praticamente igual (13,1 por cento) ou seja, a parcela mais rica tem cinqüenta vezes a renda "per capita" da metade mais pobre.

A miséria e a pobreza afetam particularmente as crianças o que além do escândalo moral que representa, indica o quanto já estão perigosa­mente inseridas as condições do futuro agravamento da deterioração so­cial do país.

Recente estudo publicado pelo IBGE ("Perfil estatístico de crianças e mães no Brasil" n .0 7), revelou mais um retrato trágico do País. De um total de 57,7 milhões de crianças e adolescentes entre zero e 17 anos de idade, 43,1%, ou seja, 24,8 milhões integram famílias com renda "per capita" de até meio salário mínimo, situação definida como de carência. Dentre estas, 11 ,5 milhões vivem em condições de pobreza absoluta (o estudo não esclarece as estatísticas quanto às crianças que não integram nenhuma família e vivem, simplesmente, abandonadas pelos ruas) .

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As autoras do trabalho situam a pesquisa entre os períodos de 1981 a 1986. Nesses seis anos aumentou o índice de analfabetismo entre as crianças e adolescentes, de 31,7% em 1981 para 33,8% em 1986. (Na área rural este índice alcançou 47,9% no Nordeste) . Também a evasão escolar na faixa etária de 7 a 9 anos cresceu de 70,7% para 83,6% e entre 10 e 14 anos de 78,% para 81,6% .

A presença de crianças e adolescentes entre a população que tra­balha, também é muito grande. Cerca de 30% na faixa entre 10 e 17 anos trabalham, percentagem que aumenta para 50% na faixa entre 15 e 17 anos. Apenas 24% deles tem carteira assinada, ficando a maior parcela inserida no mercado informal de trabalho.

A toda essa miséria e pobreza corresponde um baixíssimo grau de instrução. O analfabetismo afeta cerca de 20 por cento da população total. Metade da população de 15 anos ou mais têm menos de quatro anos de escolaridade, não havendo completado o curso primário.

A qualidade de vida de nossa população, em tais condições, é bai­xíssima e os índices de pobreza, de ignorância e de má qualidade de vida distribuem-se muito desigualmente pelas regiões do país, sendo sempre piores no Nordeste que abriga 48,6 por cento da pobreza total e sua área rural contém 68 por cento da miséria rural brasileira.

Neste quadro sombrio de contrastes entre o crescimento econômico e as carências sociais, resulta uma sociedade de "pés de barro": o atraso social limita o alcance da modernização da economia e gera insatisfação crescente no povo que percebe o escândalo moral da desigualdade que se superpõe à prosperidade dos setores mais modernizados da sociedade.

A nós equipistas (portanto cristãos adultos e responsáveis) não é lícito ficar indiferentes a este panorama que tanto agride a ética cristã de igualdade entre os homens, cujos conceitos de solidariedade são tão bem expostos e abordados na última enciclíca de João Paulo 11, a "Solli­citudo Rei Socialis".

No dizer de um sacerdote amigo nosso ao se referir ao "Magnificat" quando Deus " despede os ricos sem nada", não é por que Ele tenha algo contra os ricos, mas sim porque os ricos de nada precisam se comparados os milhões de criaturas humanas que nada ou quase nada têm.

A "opção preferencial pelos pobres", tantas vezes mal compreendida t\ várias vezes " instrumentalizada" por ideologias radicais ou mal opera­cionalizada por "inocentes úteis", nada mais é do que uma exortação da Santa Madre Igreja para que não cometamos o pecado de nos omitir diante do contundente quadro de desigualdade social que aí está.

A eleição para Presidente da República é algo muito sério que deve merecer da nossa parte uma profunda reflexão para que o nosso voto, além de consciente, seja "solidário" com os nossos irmãos menos favore­cidos. Que a nossa escolha recaia naquele que, segundo nossa consciência e nosso julgamento, esteja mais imbuído do propósito de governar com

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seriedade, austeridade e probidade; com firmeza e coerência em suas decisões; que decide tendo a Justiça como fonte inspiradora; que tenha experiência administrativa de alto nível; que conheça os problemas nacio­nais; que saiba escolher seus auxiliares; que seja, enfim, aquele mais solidário com os cidadãos de nosso país e mais comprometido em traba­lhar, pela via pacífica e democrática, para resgatar a "dívida social" que temos para com uma parcela tão ampla de nossos irmãos brasileiros.

Que o Espírito Santo nos ilumine neste 15 de novembro de 1989!

Maria Thereza e Carlos Heitor Seabra

Equipe 04/B -São Paulo, Capital

• AS VIOV AS E O DEVER DE SENTAR-SE

"Somos duas viúvas, numa equipe que tem mais três casais. Uma de nós faz parte das Equipes desde 1950 e a outra deste 1954. Uma é viúva desde 1978 e a outra desde 1983. Em conseqüência de diversas modificações, somos as únicas que estão na equipe . desde o início.

Bem integradas à equipe, muito vinculadas a ela e com vários enga· jamentos fora dela, nem uma nem outra temos o desejo ou o tempo de fazer parte de uma equipe de viúvas . Esforçamo-nos por observar os pontos concretos de esforço. Mas um deles nos coloca diante de um verdadeiro problema: o dever de sentar-se. Os três casais da equipe re­solveram fazê-lo num dia fixo, no dia 8 de cada mês, em união de espírito uns com os outros. E nós duas, o que deveríamos fazer nessas noites? Uma de nós assumiu o hábito fácil de não fazer nada, a outra procura fazer uma espécie de exame de consciência.

Gostaramos de saber se, através da Carta Mensal, alguém teria algum testemunho a nos dar. O que fazem as viúvas para substituir o dever de sentar-se dos casais? ...

Madeleine e Rachei

(da Carta Mensal francesa)

Amigas viúvas - e amigos viúvos também - que experiência vocês têm a respeito? Mandem-nos seu testemunho.

A Equipe da Carta Mensal.

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PASTORAL DA FAMILIA

NOTICIAS

Realizou-se em Brasília, nos dias 16 a 18 de junho passado, a I Reunião da Coordenação Nacional de Pastoral da Família, que contou com a participação de 12 bispos e de mais 80 outros par­ticipantes, entre padres, religiosas e casais.

O objetivo principal era o de reunir os representantes e coordenadores da Pastoral da Família das 15 Regionais da CNBB, procurando ao mesmo tempo uma troca de experiências e uma reflexão sobre como tornar realidade o destaque família na ação pastoral da Igreja no Brasil.

Os participantes acentuaram a necessidade de se criar um Conselho Nacional da Família e/ou uma Coordenação Nacional de Pastoral Familiar e de se elaborar um Diretório de Pastoral Fa­miliar para uma melhor coordenação e implementação desta pas­toral, dentro da pastoral orgânica .

Foram coordenadores da reunião Mons. Pierre Primeau, As­sessor Nacional da Pastoral Familiar e C.E. das E.N.S. de Brasília e o casal Mariola e Elizeu, da Equipe 19-A, também de Brasília.

RESPONSÁVEIS

Para melhor informação dos casais equipistas, damos a seguir a relação dos bispos responsáveis nas Regionais da CNBB pela Pastoral da Família: Norte I - D. Gutemberg Freire Regis, Coari, AM. Norte 11 - D. Fr. José Luis Azcona Hermoso, Soure, PA. Nordeste 11 - D. Hilário Moser, Recife, PE. Nordeste 111 - D. Mario Zanetta, Paulo Afonso, BA. Nordeste IV - D. Serafim Spreafico, Grajaú, MA. Sul I - D. Eusébio Oscar Scheid, S. José dos Campos, SP. Sul 11 - D. Pedro Antonio Marchetti Fedalto, Curitiba, PR.

Sul 11 - D. Bruno Maldaner, Frederico Westphalen, RS. Sul IV - D. Gregório Warmeling, Joinville, SC. Centro-Oeste -D. Manoel Pestana Filho, Anápolis, GO. Oeste 11 - D. Pedro Fré, Corumbá, MS. (As demais Regionais ainda não designaram responsável).

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ATUALIDADE

Iniciamos nesta seção, na Carta Mensal de maio pas­sado, a apresentação de alguns textos trazidos pelos meios de comunicação, referentes a assuntos ligados à espiritualidade conjugal e familiar. Selecionamos, para este número, alguns trechos referentes ao abor­to. Voltamos a frisar que os textos publicados não representam, necessariamente, a opinião das Equipes de Nossa Senhora. Procuram, isto sim, despertar a reflexão e os debates dos equipistas em torno de te­mas de atualidade e da maneira como são apresenta­dos pelos meios de comunicação.

(Da revista "Veja", trechos de artigo do Dr. José A. Pinotti, Secretário da Saúde do Estado de São Paulo, publicado em 22/3/ 89).

( ... ) Disçutir o processo de nor­matização do aborto provocado, sem antes implantar um programa de pla­nejamento familiar que oferecesse aos casais a regulação da sua própria fertilidade de maneira segura e efi­ciente, significaria apontarmos com clareza que somos a favor do aborto como método de anticoncepção. Ab­solutamente esse não é o caso. So­mos contra o aborto como método anticoncepcional. Ninguém, em sã consciência, é favorável a ele. E o primeiro passo na direção de preve­nir o aborto provocado em condições ilegais é o estabelecimento de um programa de planejamento familiar eficiente. Esse programa já está em fase adiantada de implantação na rede estadual de saúde.

Não pretendo, portanto, iniciar uma cruzada a favor da legalização do aborto, mas convidar a sociedade a uma reflexão consciente e franca a respeito de um tema cujo debate tem sido mascarado por tabus, obs­truído por radicalismos e escondido por hipocrisias.

Sentimo-nos à vontade para ini­ciar essa discussão, pois, se somos contra o aborto, somos muito mais contrários à manutenção da situação hipócrita que aí está. Sabe-se que são

feitos, "na clandestinidade", milhões de abortos por ano no Brasil. Tem-se conhecimento dos índices de morta­lidade e morbidade causados por essa prática, assim como do grande pre­juízo psicológico e emocional cau­sado às mulheres. E, no entanto, fin­ge-se que a questão não existe. Pre­fere-se manter o status quo perver­so a discutir a questão, expondo-se com coragem.

~ preciso que essa realidade seja desnudada e que o problema do abor­to seja amplamente discutido por to­dos os setores da sociedade. A sua normalização no país deve ser feita, não com o propósio de incrementar a sua prática mas com o de diminuí­la. Não com o propósito de banali­zar a questão do aborto, que de fato é uma agressão física e psíquica à mulher e a extinção de uma vida em formação. Mas evitando que recaia como uma penalidade, em que a úni­ca criminosa é a mulher que o pra­tica e que o fez porque foi privada de educação reprodutiva e acesso a meios eficientes e seguros de anticon­cepção.

Devemos discutí-lo, não para obrigar os médicos a praticá-lo e, muito menos, para facilitar sua prá­tica pelas mulheres. Mas sempre acei-

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tando a questão da objeção de cons­ciência, seja por razões éticas, mo­rais, culturais ou religiosas, proveni­entes do médico ou da mulher.

A discussão é também importan­te para evitar que o aborto no Brasil seja legalizado por pressões interna­cionais controlistas interferindo na

nossa política demográfica, mas, ao contrário, possa ser normatizado, para que saia do ambiente de selva­geria onde se encontra, diminua gra­dativamente, perca seu alto risco de morbo-letalidade, despenalizando a mulher por sua prática. Não podemos fugir a este debate.

(Os dois textos seguintes foram publicados numa página especial do jornal "O Estado de São Paulo" sobre o assunto, em 26/4189. O primeiro é assinado pelo jornalista Luiz Roberto de Sousa Queiroz:).

Não tendo conseguido autoriza­ção judicial para interromper a gra­videz, uma aidética de 26 anos pro­curou uma clínica em Campinas. Es­condeu a doença, fez um aborto por NCz$ 600,00 e colocou em risco de contaminação o médico e as enfer­meiras que tiveram contato com seu sangue.

Esse caso recente é usado como exemplo pelo Comitê pró-Legalização do Aborto, no Brasil, que se empe­nha em conseguir as três mil assina­turas necessárias para encaminhar uma emenda popular à Constituição do Estado, ped~ndo maior abrangên­cia nos casos em que a gravidez pode ser legalmente interrompida.

Reunidas na segunda-feira na Câmara Municipal, as integrantes do movimento ouviram da médica sani­tarista Simone Diniz que a Organiza­ção Mundial da Saúde (OMS) calcula que ocorram a cada ano no Brasil entre quatro a cinco milhões de abor­tos clandestinos. "Para cada gravidez que chega a bom termo, são realiza­dos dois abortos", garante Simone. Por serem clandestinas e com defici­ência de assepsia, essas operações re­sultam na morte de um número de mulheres que ainda não foi possível calcular.

"O aboro não é problema algum para a classe média e alta, que con­ta com clínicas especializadas, onde

a intervenção é rápida e segura", diz Ivany Buzzo do Coletivo Feminista de Sexualidade e Saúde.

Três clínicas, localizadas nos bairros paulistanos de Santo Amaro, Pinheiros e Santana, cobravam ontem entre NCz$ 400,00 e NCz$ 2.000,00 pela operação clandestina, prometen­do liberar a paciente depois de duas horas, no máximo. "A cliente não vai nem se atrasar para o almoço, e ninguém perceberá nada", garantia uma recepcionista.

Os métodos de aborto variam desde a curetagem - raspagem da superfície do útero, acompanhada de anestesia - até o moderno sistema de sucção mecânica ou seringa de Karman, que implica na aspiração do conteúdo do útero.

O risco real para a vida da mulher, segundo a União de Mulheres, come­ça numa faixa mais baixa de renda. Sem dinheiro, a adolescente grávida procura uma "parteira" que lhe in­troduza no útero uma Sonda n.0 16, uma cânula de borracha, encontrada em farmácias. A sonda perfura o saco amniótico e faz o líquido escoar, pro­vocando a mort" do feto. Muitas ve­zes ele não é expulso, e a sonda contamina o organismo da mulher, que vai parar num hospital público, onde se submete à curetagem e tem a infecção controlada.

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O Grupo de Saúde da Mulher, da Secretaria da Saúde, confirma a realização da curetagem nesses casos. Como uma espécie de "castigo" para

as mulheres que se valem da sonda, os médicos de alguns hospitais públi­cos fazem questão de curetar sem usar anestesia.

(O segundo texto vem de Roma, sob assinatura de Marielza Agnelli).

A polêmica a respeito da. legali­zação do aborto na Itália levou mais de cem mil pessoas às rua's de Roma, há duas semanas. Elas protestavam contra a ameaça de anulação da Lei 194, que disciplina essa prática no país. O minisro da Saúde, Carlo Do­nar Cattin, pretendia tornar a legis­lação mais rigorosa, sob a alegação de que os dispositivos em vigor não coíbem abusos.

"Nós queremos escolher" era o principal slogan da marcha que os grupos feministas conduziram no cen­tro histórico da capital italiana. Os manifestantes defendiam a Lei 194, de junho de 78, que concede às mu­lheres grávidas o direito de optar pelo aborto até 90 dias após o início da gravidez. A lei também permite o cha­mado "aborto terapêutico" em qual-

quer período, desde que recomendado por médico.

No Vaticano, todas as manifesta­ções pró-aborto são respondidas com energia, como ocorreu desta vez: o cardeal Castillo Lara Rosalina José, presidente da Comissão Vaticano so­bre a Interpretação do Código Canô­nico, foi categórico nas declarações à imprensa: "O aborto é assassinato. Quem o pratica é homicida e merece a excomunhão da Igreja Católica". Mas .a posição da Igreja não alterou a firmeza das mulheres. "Levamos anos para conseguir uma lei justa des­tinada a disciplinar o aborto e é lógi­co que defendamos com unhas e den­tes a nossa conquista", ressaltou a deputada Alma Cappiello, do Partido Socialista Italiano.

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NOTICIA BREVE

Foi realizado em Curitiba um Curso de Pastoral Familiaç de âmbito regional, animado e assessorado por uma equipe de especialistas Iatino-aD?-e­ricanos, entre os quais o Frei Estevão Nunes, C.E. de Equipe naquela cidade. O curso foi dividido em duas etapas, sendo a primeira para sacerdotes, reli­giosos. e leigos e a· segunda para casais.

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NOTICIAS E INFORMAÇÕES

Novas Equipes

- Votuporanga/SP Equipe n.0 1, N. S. Aparecida C. E. - Pe. Nino Carta C.P. - Rosinha e Anésio (Eq. 1 de

São José do Rio Preto) Equipe n.0 2, N. S. Mãe da Paz C.E. - Pe. Nino Carta C.P . - Therezinha e Nelson (Eq 1

de São José do Rio Preto) - São José do Rio Preto/SP

Equipe n.0 10, N. S. Mãe dos Pastorinhos

C. E. - Pe. Cesarino Pietra C.P. - Cristina e Donizete Equipe n.0 11, N. S. Mãe das Flores C. E. - Pe. Cesarino Pietra C.P. - Soninha e Vicente Equipe n.0 12, N. S. Mãe do Pilar C. E. - Pe. Cesarino Pietra C.P. - Neuza e Gaspar

Obs.: As 5 equipes acima, ligadas ao setor de S. J do Rio Preto, SP., tive­ram sua origem na Experiência Comu­nitária das ENS.

Volta ao Pai

- Maria da Conceição Bernardes Dias, Eq. 3, N. S. do Carmo, de Marília/SP, em 18/05/89. (Recebemos de seus irmãos de equipe, Eunice e Flávio V. Guimarães, uma crônica destacando o testemunho de vida de Maria da Con­ceição durante os seus 28 anos de equipe, o exemplo para seus familia­res e companheiros do Movimento e o seu intenso engajamento apostólico e pastoral.)

- Yolanda Paoli Ramo;s (esposa do Ruy) da equipe 4/B, de São Paulo/SP, em 17/07/89.

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TIA RITA, óTIMO PRESENTE PARA CRIANÇAS

TIA RITA é um livro maravilhoso. Conta 21 estorinhas que ressal­tam os valores da vida: o amor, a amizade, a alegria . . . Até uma criança de seis anos entende as estórias que Tia Rita conta. Além disso, traz também atividades e lazeres do jeitinho que a criança­da gosta: palavras cruzadas, ca­ça-palavras, frases para montar, desenhos para completar e co­lorir . . .

O autor é o Pe. Luiz Cechinato, C.E. da equipe 4 de São Carlos. SP. Editado pela Editora Vozes.

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BALANÇO

Demonstração comparativa 1987 I 1988

Descrição

RECEITAS Contribuição Recuperação de despesas Receitas patrimoniais Total receitas

DESPESAS Despesas com Encontros Carta Mensal Impressos doutrinários Salários e encargos Despesas com a sede Telefone Correio e fretes diversos Material de expediente Diversos Total despesas

RESUMO

Fundo patrimonial - Exercício Anterior + Receitas do exercício

Despesas do exercício Saldo no fim do exercício

Contas a pagar em 31/12 Aquisição de ativos Fundo patrimonial em 31/12

Valor em OTN de 31/12

Contribuição/equipe/mês Valor de um dia de trabalho/casal Salário médiomensal/casal ·

-28 ~ .

Valor 1987 (em OTN

médio)

11.158,49 2.143.60 6.644,22

19.946,31

3.011,19 1.806,75

821,41 1.608,13 1 .027,36

111 ,21 702,21 396,02 451,92

9. 936,20

Cz$

781 .030,80 5. 983.890,34 2 . 980 .866,42 3. 784 .054,72

49 .745,23 277.190,00

3 .457.119,49

6.610,30

OTN médio , 1,47 2,03

60,92

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Valor 1988 Variação % s/total (em OTN % s/total

médio) 1988/1987

55,94% 10.134,27 50,42% -9,18%

10,75% 2.134,37 10,62% -0,43%

33,31% 7.829,81 38,96% 17,84%

100,00% 20.098,45 100,00% 0,76%

30,31% 3 . 734,50 30,17% 24,02%

18,18% 2. 855,30 23,06% 58,04%

8,27% 455,32 3,68% -44,57%

16,18% 2. 264,91 18,29% 40,84%

10,34% 1 .298,53 10,49% 26,39% 1,12% 165,75 1,34% 49,04% 7,07% 980,19 7,92% 39,59% 3,99% 317,36 2,56% -19,86% 4,55% 308,28 2,49% -31,78%

100,00% 12.380,14 100,00% 24,60%

Cz$

3 .457 . 119,49 38 .592.038,77 23.771 . 725,82 18.227.432,44 383,01%

3 . 481 . 791 '15 25.260,00

14 . 770 . 381,29 327,25%

3.083,01 -53,36%

OTN médio 1,33 -9,94%

1,84 -9,31%

55,25 -9,31%

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COMENTÁRIOS

1. Para uma- base de comparação mais correta, utilizou-se, tanto para 1987 como para 1988, o valor médio da OTN para cada ano.

2. Verifica-se que o valor das contribuições continua caindo. Sua participação no total das receitas, nos últimos três anos, foi de:

1986 . . . . . . . . . . . . . . . . . 83,3% 1987 . . . . . . . . . . . . . . . . . 55,9% 1988 . . . . . . . . . . . . . . . . . 50,4%

O valor da contribuição por equipe, no mesmo período, foi de:

1986 1987 .... .......... . . . 1988 ..... ..... ... ... .

2,0 OTN 1,5 OTN 1,5 OTN

Segundo estes cálculos, o valor de um dia de trabalho de cada casal do Movimento foi de:

1986 1987 1988

2,6 OTN 2,0 OTN 1,8 OTN

3. Conforme mostra o gráfico 1, em relação ao total das despesas, a contribuição representou:

X

1 9 9 9

o T N

15.9 14.9 13.9 12.9 11.9 19.9 9,9 8.9 7.9 6,9

Em 1986 Em 1987 Em 1988

140,6% 112,3% 77,3%

CONTRIBUIÇ~O X DESPESA

r r r r r r-r-r r

-~----~---~-

5,9 86 .;-CONTRIB 87

~-DESPESA

ANOS

-30-

as

GRl

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4. Uma das conseqüências desta queda das contribuições é que o Fundo Patrimonial, que deveria servir de reserva para os meses em que não há contribuição, vai desaparecendo aos poucos, conforme mostra o gráfico 2.

FUNDO PATRIMONIAL <OTN DE 31/12)

10,0

9,0

X 8,0

1 0

7,0

0 0

6,0

o 5,0 T 4,0 N

3,0

2,0

1. 0 86 87 a a ANOS GR2

NUMA SITUAÇÃO DE INFLAÇÃO COMO A QUE ESTAMOS VI­VENDO, E INDISPENSAVEL QUE OS CALCULOS DA CONTRI­BUIÇÃO MENSAL SEJAM REFEITOS CADA ME.S! NÃO SE ESQUE­ÇAM DE INCLUIR TODAS AS RECEITAS DO CASAL!

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úLTIMA PAGINA

Senhor, a quem tudo pertence, dou-te minhas mãos ou o que sobra delas. Agradeço-te por aqueles que cuidam de mim e que me tocam com suas mãos pensando te tocar a ti mesmo. Peço-te perdão por aqueles que possuem duas mãos e com elas fazem o mal. Dou-te minhas mãos, Senhor. Um dia virá em que serão refeitas, novinhas. Então baterei palmas sem fim para te dizer minha alegria, a ti, que fizeste bem todas as coisas.

Oração de um leproso

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MEDITANDO EM EQUIPE

TEXTO DE MEDITAÇÃO (Lc. 10,38-42)

Estando em, viagem, entrou numa aldeia e certa mulher, chamada Marta, recebeu-o em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, ficou sentada aos pés do Senhor, escutando-lhe a palavra. Marta estava ocupada pelo muito serviço: Parando, por fim disse: "Senhor, a ti não importa que minha irmã me deixe assim sozinha a fazer o serviço? Dize-lhe, pois, que me ) ljude." O Senhor, porém, respondeu: "Marta, Marta, tu te in­quietas e te agitas por muitas coisas; no entanto, pouca coisa é necessária até mesmo ~nia só. Maria, com efeito, escolheu a melhor parte, que não lhe· será' tirada."

ORAÇÃO LITúRGICA (Liturgia das horas - 29 de setembro, Festa dos Santos Arcanjos)

Peçamos ao Senhor que nos torne mais prontos em ouvir-lhe a voz, como os anjos que fazem sua vontade. E lhe demos graças, dizendo:

R.: Nós vos pedimos, escutai-nos, Senhor!

Por intermédio dos anjos, como perfume, subam nossas orações até a vossa presença.

R.: N6s vos pedimos, escutai-nos, Senhor!

Por intermédio do vosso anjo, em vosso sublime altar, sejam oferecidas as nossas oblações.

R.: Nós vos · pedimos, escutai-nos, Senhor!

Com a multidão celeste, possamos cantar: Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens!

R.: N6s vos pedimos, escutai-nos, Senhor!

No fim de nossa vida, os anjos nos recebam e nos conduzam à pátria do paraíso.

R.: Nós vos pedimos, escutai-nos, Senhor!

Que o arcanjo São Miguel leve as almas dos fiéis falecidos à luz santa do paraíso.

R.: Nós vos pedimos, escutai-nos, Senhor!

Oremos: ó Deus, que organizais de modo admirável o serviço dos anjos e dos homens, fazei que sejamos protegidos na terra por aqueles que vos servem no céu. Por N. S. Jesus Cristo . . .

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Um momento com a equipe da Carta mensal . . .............. . .

Editorial ................. ~ .' . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

A Palavra do Papa ....... . ............. : .... ~ . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

A ECJR conversa com vocês 7

Segunda Inspiração:

Sinal eficaz da graça 8 Mais pistas para reflexão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

A Palavra de Deus - D. Cândido Pâdln . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

A pequena família, sinal da Grande Famrtla de Deus . . . . . . . . . . . 15

Marfa - Modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

Instrução sobre a Liberdade Cristã e a Libertação . . . . . . . . . . . . . . 17

Eleições 89 - O voto solidário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

As viúvas e o dever de sentar-se . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

Pastoral da Famrtla . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

Atualidade - Aborto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

Notícias e Informações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

Balanço 1988 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

llltima página . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

Meditando em equipe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

EQUIPES DE NOSSA SENHORA

01050 Rua João Adoifo.1 18 · 9' · cj. 90J·Tel. 34 8833

São Paulo · SP