a saga dos ogm's: uma reflexão polémica

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VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 Outubro de 2007 A SAGA DOS OGM’s: uma reflexão polémica Ana Firmino Universidade Nova de Lisboa – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas Av. de Berna, 26-C 1069-061 Lisboa Tel. 21 790 83 00 [email protected] “O limite da ética do conhecimento era invisível, a priori, e nós transpusemo-lo sem saber; é a fronteira para lá da qual o conhecimento traz com ele a morte generalizada: hoje, a árvore do conhecimento científico corre o risco de cair sob o peso dos seus frutos, esmagando Adão, Eva e a infeliz serpente.” Morin, Edgar (1994, p. 30) Palavras-Chave: OGM´s, Biodiversidade, Segurança Alimentar, Princípio da Precaução, Agricultura Biológica, Coexistência. Preâmbulo A introdução dos Organismos Geneticamente Modificados (vulgo OGM´s) na União Europeia é bastante recente (Directiva 2001/18/EC). Não temos, portanto, o conhecimento suficiente para, duma forma inequívoca, garantirmos que, a médio ou longo prazo, estes não poderão vir a causar problemas ao ambiente e, até mesmo, à saúde dos consumidores, dado que a comercialização destes produtos se iniciou sem que tivesse decorrido um período suficientemente lato de experimentação.

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Page 1: A SAGA DOS OGM's: uma reflexão polémica

VI Congresso da Geografia Portuguesa Lisboa, 17-20 Outubro de 2007

A SAGA DOS OGM’s: uma reflexão polémica

Ana Firmino

Universidade Nova de Lisboa – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

Av. de Berna, 26-C

1069-061 Lisboa

Tel. 21 790 83 00

[email protected]

“O limite da ética do conhecimento era invisível, a

priori, e nós transpusemo-lo sem saber; é a fronteira

para lá da qual o conhecimento traz com ele a morte

generalizada: hoje, a árvore do conhecimento científico

corre o risco de cair sob o peso dos seus frutos,

esmagando Adão, Eva e a infeliz serpente.”

Morin, Edgar (1994, p. 30)

Palavras-Chave: OGM´s, Biodiversidade, Segurança Alimentar, Princípio da Precaução,

Agricultura Biológica, Coexistência.

Preâmbulo

A introdução dos Organismos Geneticamente Modificados (vulgo OGM´s) na União Europeia

é bastante recente (Directiva 2001/18/EC). Não temos, portanto, o conhecimento suficiente

para, duma forma inequívoca, garantirmos que, a médio ou longo prazo, estes não poderão vir

a causar problemas ao ambiente e, até mesmo, à saúde dos consumidores, dado que a

comercialização destes produtos se iniciou sem que tivesse decorrido um período

suficientemente lato de experimentação.

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Os testes em laboratório e os ensaios de campo são muito limitados na avaliação dos possíveis

impactes de plantações em maior escala e não há grupos de controlo para verificar se as

pessoas que consomem OGM´s estão a padecer de doenças como enfraquecimento do sistema

imunitário, alergias e doenças crónicas, como alguns suspeitam. Situações de polinização

cruzada, que poderão contribuir para a diminuição da biodiversidade e contaminação de

produções em que os OGM’s não são autorizados (agricultura biológica) e a fuga de 100 000

salmões geneticamente modificados para o mar, durante um temporal que destruiu os tanques

de aquicultura onde eram produzidos no Maine (EUA) são alguns dos riscos cujas

consequências poderão ser irremediáveis. Existem também receios quanto à transparência na

rastreabilidade e rotulagem dos produtos, que contribuem para a desconfiança do consumidor

europeu em relação a esta inovação.

O texto que se segue pretende motivar a reflexão sobre um produto biotecnológico que,

segundo o princípio da precaução, vigente na Lei de Bases do Ambiente da União Europeia,

deveria primeiro dar provas da sua inocuidade, para o ambiente e para o consumidor, antes de

ser lançado no mercado.

Por fim serão discutidas as repercussões negativas em modos de produção sustentáveis, como

é o caso da agricultura biológica (em que não é permitido utilizar OGM’s mas que recente

legislação da União Europeia aceita venha a ser contaminada por estes até 0,9%) e os efeitos

que esta situação poderá causar na imagem dos produtos de qualidade, em geral, se os

esforços que estão a ser desenvolvidos, visando a adopção de medidas que permitam uma

coexistência segura, não surtirem efeito.

A Saga dos OGM’s

Uma saga é uma narrativa na qual a história está deturpada pela tradição, mas onde há sempre

um fundo de verdade. A polémica e altercações que o tema dos Organismos Geneticamente

Modificados tem gerado assemelham-se a uma saga, pois por entre deturpações e argumentos

falaciosos sempre haverá alguma verdade. Neste caso a história remonta aos anos 80, quando

foi criado o primeiro OGM (uma planta de tabaco criada em 1983) como resultado dum

conhecimento cada vez mais profundo da cadeia de ADN, que tem vindo a permitir identificar

as características correspondentes aos seus diferentes genes.

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Se bem que, na Natureza, as espécies sofram igualmente alterações que, ao longo dos séculos,

lhes permitiram adaptar-se a alterações climáticas ou mesmo criar espécies novas (caso da

pêra Rocha, que resultou duma árvore obtida por semente ocasional, como explica Matta,

1932) esta evolução natural é muito lenta e processa-se sem qualquer controlo por parte do

Homem.

Finegold et al (2004, p. 349) afirmam que “durante centenas de anos os agricultores têm

praticado a reprodução selectiva de culturas com vista a obterem certas propriedades

desejáveis, tais como maior produtividade ou resistência a insectos”.

João Gregório Mendel, um notável religioso e botânico austríaco, que viveu no século XIX,

ficou conhecido pelas suas experiências de hibridação das plantas e hereditariedade nos

vegetais, de que resultaram as leis que têm o seu nome. Abriu caminho a um processo de

libertação das leis naturais, em que o divino presente no agradecimento dos agricultores pela

colheita obtida, como registou Millet no seu quadro “The Angellus” (Fig. 1) deu lugar à

exultação da ciência com a criação das sementes “milagre” (miracle seeds) variedades

híbridas usadas na Revolução Verde e, posteriormente, dos organismos geneticamente

modificados.

Fig. 1 - Millet, Jean-François (1857-1859) The Angellus, Oil on Canvas

(Fonte : www.paintingall.com/product.php?productid=15058)

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Curiosamente, a exemplo do que sucede com os OGM´s, também a revolução verde prometia

acabar com a fome e melhorar as condições sócio-económicas das populações mais

desfavorecidas. Contudo, apesar da produção agrícola mundial ter aumentado cerca de 300%

entre 1950-2000, existem no mundo cerca de 800 milhões de pessoas que sofrem de fome

crónica. A questão da distribuição de riqueza parece ser a razão mais plausível para esta

situação, a par da destruição das formas tradicionais de agricultura, que poderiam, pelo

menos, contribuir para o auto-abastecimento das populações mais carenciadas. Para o prémio

Nobel da economia, Amartya Senn, a solução para a fome no Mundo não é, pois, tecnológica

mas política.

O que é um Organismo Geneticamente Modificado?

Ao contrário do que se verificava nos híbridos, em que se iam cruzando os meristemas das

variedades que apresentavam as qualidades que se pretendiam reunir numa nova planta, até se

obterem os resultados desejados, a biotecnologia evoluiu para um processo mais rápido e

preciso em que se conseguem introduzir os genes pretendidos, utilizando uma bactéria que

funciona como veículo de transporte e irá colocar o gene que se isolou na célula da planta

(Fig. 2). Esta técnica permite que não só se altere duma forma permanente a sequência de

ADN da nova planta, que será transmitida às suas descendentes (caso que não se verificava

com os híbridos que tendem a degenerar e permitem recuperar as variedades que lhes deram

origem) como também que se criem produtos que fogem à racionalidade naturalista, isto é,

que comportam em si material vegetal e animal (exemplo do tomate com células de porco).

Que Vantagens e Riscos decorrem da Utilização dos OGM´s?

A grande pressão a que o sector agrícola tem vindo a ser submetido, confrontado que está

com a necessidade de alimentar uma população que não pára de crescer (crê-se que venha a

duplicar até 2050, in LRD, 2003, 12) dispondo dum efectivo de agricultores cada vez mais

reduzido, constitui um desafio enorme para a ciência. O crescente interesse pelas energias

alternativas, baseadas na produção de biodiesel, contribui para agravar a situação, por se pedir

aos produtores que assegurem não só os alimentos para a população humana e animal e as

fibras para a indústria têxtil, como ainda disponibilizem quantidades não displicentes de

matérias-primas para a produção energética.

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Estão criadas as condições para abrir caminho a toda a biotecnologia que prometa colheitas

abundantes e, dados os investimentos vultuosos que são necessários para criar os novos

organismos, quanto mais cedo estes forem comercializados melhor para a empresa que os

patenteou. Segundo Gilles-Eric Séralini (LRV, 2007, 9 -10) os interesses comerciais em jogo

são fabulosos e por isso as pressões são também muito fortes para que os produtos

biotecnológicos sejam aceites, nomeadamente junto da Commision du Génie Biomoléculaire

que, segundo aquele investigador, tem uma estrutura concebida para facilitar a

comercialização dos OGM´s (idem, 11).

Os organismos geneticamente modificados são criados com várias finalidades. Destacam-se:

a) resistir a certos insectos (colza e milho); b) tolerar os herbicidas (soja e milho); c) melhorar

a conservação (tomate); d) diminuir a quantidade de nitratos na planta (alface); e) enriquecer a

planta em vitamina A (arroz – “golden rice”, enriquecido em betacaroteno) (adaptado de

Charvet, 2004, p.48). Também se podem criar cultivares que sejam resistentes a condições

particulares de secura, salinização, etc., entre muitas outras criações, algumas raiando a

excentricidade (tomates quadrados, por exemplo). Tendo em conta que o sector alimentar

Fonte: ROBERT, O. (2005) Clonage et OGM – quels risques, quels espoirs?, Petite Encyclopédie Larousse, Montréal, Quebeque, p.48

Fig. 2 – Princípio de fabrico dos OGM’s

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explora a inovação, como forma de se manter actual e ganhar novos mercados, fácil será

imaginar que, de futuro, possam vir a ser lançados no mercado produtos que nos deixam

perplexos, como ilustra a imagem abaixo (Fig. 3) publicada na capa da revista Science &

Avenir, nº 116 (1998).

Os riscos que este tipo de biotecnologia pode trazer para o Homem e para o ambiente radicam

essencialmente na suspeita de: a) os genes tóxicos que se introduzem nas plantas, para as

tornar resistentes aos insectos, poderem vir a afectar a saúde do ser humano; b) alergias aos

alimentos à base de OGM´s; c) aparecimento de plantas resistentes aos herbicidas e de

insectos que resistam às toxinas; c) poluição da água e do solo, visto que os OGM´s são

resistentes aos herbicidas e, portanto, toleram quantidades mais elevadas de agrotóxicos; d)

disseminação dos OGM´s, através dos grãos e pólens (adaptado de Charvet, 2004, p. 48). Na

literatura aparecem ainda referências à possibilidade de contaminação de sementes não

modificadas durante o transporte, armazenamento e distribuição, pelo contacto com materiais

que contiveram anteriormente OGM’s, a eventual ocorrência de fenómenos de resistência

(que me foi referida pelo responsável pelos ensaios de campo com OGM’s, Prof. Andreas

Schier, durante uma visita de estudo ao Instituto Superior de Nürtingen, Oberboihingen, na

Alemanha) e a diminuição da biodiversidade (S&V, hors série, 238, mars 2007, p. 135).

No Journal of Agriculture and Food Chemistry (2005) 53 (23) p. 9023-9030, refere-se que a

proteína de feijão transferida para uma ervilha provocou alergia em ratos e, investigadores da

Universidade de Cornell, Estados Unidos da América, concluíram num estudo publicado na

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revista Nature, que o pólen de algumas variedades de milho Bt podia causar mortalidade

elevada em larvas de borboleta monarca (Losey, 1999). Rosa (2000, p. 46 – 52) alude

igualmente a este e outros casos no seu artigo “Ética e modificação genética de organismos”.

Não há, porém, unanimidade entre os cientistas e os resultados contraditórios de alguns testes

não nos permitem ter certezas, o que agrava o sentimento de desconfiança, sentido sobretudo

pelo consumidor europeu. O facto de, em termos visuais, não haver diferença entre uma

planta geneticamente modificada e uma convencional (Fig. 3) tendo de se recorrer a testes

laboratoriais para as distinguir, contribui para a estigmatização dum produto que pode

facilmente ser introduzido no meio duma produção convencional, violando-se assim o

legítimo direito do consumidor saber o que está a comprar.

Fig. 4 – A identificação dos OGM´s só é possível através de testes de ADN

Fonte: http://www.europarl.europa.eu/news/public/story_page/

A Opinião dos Consumidores

Para quem acompanha regularmente as notícias relativas aos OGM’s deverá parecer caricato

que o consumidor europeu exprima temores tão acentuados quanto à produção e consumo

destes produtos enquanto os americanos, por exemplo, não parecem muito preocupados com o

assunto. Contudo, nos EUA entre 70 e 75% dos produtos alimentares, de fabrico industrial,

contêm OGM´s, como se indica num trabalho publicado por Charvet (2004, p. 49-50). Este

autor apresenta os resultados duma sondagem, segundo a qual um quarto dos americanos

pensa que os alimentos resultantes das biotecnologias são totalmente seguros, e outro quarto

considera-os perigosos. Os restantes não se pronunciaram. Cerca de 60% dos americanos

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afirmaram não ter ainda consumido este tipo de alimentos, o que é bastante improvável, tendo

em conta que três quartos dos produtos alimentares consumidos nos EUA contêm ingredientes

transgénicos.

Pelo contrário, na Europa, 86% dos franceses são contra os OGM´s (S&V, 238, 2007, p. 132,

que cita uma sondagem CSA, de Setembro de 2006). Segundo um inquérito do

“Eurobarómetro” 74% dos dinamarqueses (Finegold et al, 2004, p. 354) e 55% dos

portugueses “concordavam fortemente ou tendiam a concordar com a afirmação que a

alimentação transgénica é uma ideia horrível” (Lassen et al, 2004, p. 240). Este último autor

escreve que “países como Portugal, Espanha, Finlândia e Itália revelaram muito mais apoio às

culturas e aos alimentos GM em geral, do que a Grécia, Áustria, Luxemburgo, Suécia e

Dinamarca” e que, “a explicação comum de que a resistência do público à engenharia

genética é simplesmente o resultado de um baixo nível de informação, e a ideia conexa de que

a solução para a sua hostilidade é disseminar mais informação, surge assim como incorrecta”

(Lassen, 2004, p. 238-9).

Outros estudos referem receios, por parte dos próprios agricultores, face a um possível

fenómeno de resistência e que esta biotecnologia possa conduzir ao aparecimento de “super-

pragas”, que tornem os seus herbicidas e insecticidas ineficientes. Neste estudo, realizado em

Inglaterra, alguns agricultores mencionaram ainda temer que o valor das suas explorações

agrícolas diminua por cultivarem OGM´s nas suas terras (ORESZCZYN, 2005, p. 7).

Na Europa gerou-se uma controvérsia em torno da “percepção de alguns de que as culturas Bt

acentuariam a tendência para deslocar ainda mais a agricultura familiar, de pequena escala ou

biológica, para uma agricultura industrial dominada por firmas americanas, ou que a

percepção de que é anti-natural o ser humano inserir DNA de uma espécie noutra espécie”

(Finegold et al, 2004, p. 354). Em vários países europeus têm-se realizado manifestações

contra os OGM’s, fomentadas por movimentos ecologistas e plataformas constituídas para

lutar contra estes produtos biotecnológicos, ou simplesmente por populações que sentem as

suas produções ameaçadas pela presença dos OGM´s nas imediações das suas explorações

agrícolas, tendo resultado por vezes em acções conducentes a destruir campos semeados com

OGM’s, que acusam de estar a contaminar as suas produções, mesmo que estes pertençam a

instituições que os cultivam apenas com o intuito de proceder a investigação (destruição do

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campo de milho geneticamente modificado pertencente ao Instituto Superior de Nürtingen,

em Tachenhausen, na Alemanha, em 30.07.2007).

Sendo certo que a violência deve ser evitada a todo o custo, cabe aos poderes políticos zelar

pelos interesses de todos os cidadãos e proceder a um estudo sério dos prós e contras da

comercialização de um produto, ou adopção de uma determinada tecnologia, tomando

medidas que mitiguem ou revertam os inconvenientes inerentes a essas práticas. Infelizmente,

não é a primeira vez que escutamos os ministros afirmarem não haver qualquer inconveniente

no consumo deste ou daquele produto, para poucas semanas volvidas, por vezes por

imperativo da União Europeia, estes serem proibidos, como aconteceu durante a crise das

“vacas loucas” com o consumo de mioleira, criando assim, entre o público, ainda maior

desconfiança quanto aos interesses que os movem.

Pretendo com isto afirmar, que a denúncia de situações que possam por em perigo a saúde das

pessoas, o equilíbrio dos ecossistemas ou a segurança alimentar, é um acto de cidadania que

se reveste da maior importância por contribuir para uma tomada de consciência por parte dos

restantes concidadãos que, não estando tão esclarecidos acerca do problema, não tomam

qualquer medida para se protegerem. Foi o que sucedeu no caso do gene terminator, que de

início era introduzido nos OGM’s com a função de garantir a esterilidade das sementes

resultantes das plantas geneticamente modificadas, para que o agricultor todos os anos fosse

obrigado a adquirir novas sementes, como está previsto no contrato que celebra com as

empresas fabricantes dos OGM’s. O trabalho dos grupos ecologistas que, entre outros,

chamaram repetidamente a atenção para o perigo em que se incorria, por as plantas que

contêm pólen poderem contaminar as plantas convencionais e esterilizar também as sementes

destas, levou a que o assunto chegasse à Santa Sé, que se pronunciou contra esta prática, e o

gene terminator deixou de ser utilizado.

Na verdade, existe uma atitude cultural diferente entre europeus e americanos no que respeita

o progresso biotecnológico, que justifica a necessidade de provar a ausência de nocividade

dum produto tecnológico antes de passar à sua comercialização na União Europeia, enquanto

nos EUA todo o progresso científico é autorizado desde que a sua nocividade não seja

demonstrada, como explica Charvet (idem, p. 50). Na sequência da adopção do Princípio da

Precaução, a União Europeia impôs uma moratória no final dos anos 90, condicionando a

comercialização de alguns OGM’s no seu território, que viria a dar origem a um vivo conflito

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comercial entre os EUA e a Europa no seio da Organização Mundial de Comércio. Note-se

que, algumas das maiores empresas do ramo alimentar (Gerber, Ovaltine, Wendy’s,

McDonald’s, Burger King e Nestlé) recusaram utilizar culturas transgénicas nos seus produtos

como resposta à opinião pública negativa, e este movimento causou aos produtores de milho

dos EUA a perda de cerca de 200 milhões de dólares anuais só em exportações para a Europa,

segundo informa Finegold et al (2004, p. 357).

O Princípio da Precaução

O Princípio da Precaução foi formulado em 1992 na Declaração de Ambiente e

Desenvolvimento da Cimeira do Rio e faz parte da Lei de Bases do Ambiente da União

Europeia. Preconiza o seguinte: “… na dúvida sobre a perigosidade de uma certa actividade

para o ambiente, decide-se a favor do ambiente e contra o potencial poluidor” (Gomes

Canotilho, 1998, p. 49). Este princípio é válido mesmo “ quando ainda não se verificaram

quaisquer danos decorrentes dessa actividade, mas se receia, apesar da falta de provas

científicas, que possam vir a ocorrer … impondo ao potencial poluidor o ónus da prova de

que um acidente ecológico não vai ocorrer e de que adoptou medidas de precaução

específicas” (idem). Este princípio foi criado como consequência lógica da evolução da

sociedade e dos riscos que a evolução tecnológica pode acarretar. Silva, V. P. (2002, p. 21)

escreve que “a consideração do direito do ambiente como direito do Homem resulta da

necessidade de repensar a posição do indivíduo na comunidade perante os novos desafios

colocados pelas modernas sociedades”.

Assim sendo, e no caso concreto dos OGM´s, Canotilho (1998, p. 49) afirma o seguinte:

“Actualmente receia-se que o milho geneticamente modificado possa ser prejudicial à saúde.

Todavia, ainda não decorreu tempo suficiente nem se fizeram investigações suficientes para

se poder afirmar sequer qual o tipo de danos que podem vir a ocorrer em pessoas ou animais

… Qualquer medida que se tome, nomeadamente a interdição da produção e importação de

milho geneticamente modificado, funda-se no princípio da precaução”.

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Ética e OGM’s

As restrições levantadas à livre circulação dos OGM´s em território europeu, com base no

princípio da precaução, são postas em causa por Comstock (2004, p. 203-233) que depois de

tecer várias considerações quanto à validade deste princípio conclui ter mudado de opinião

sobre a aceitabilidade moral das culturas geneticamente modificadas, passando a aceitá-las,

quando considerou três reflexões:

i) o direito das pessoas nos diversos países de escolherem adoptar a biotecnologia

(uma reflexão que cai no princípio dos direitos humanos);

ii) o balanço dos prováveis benefícios ultrapassando os prejuízos para os

consumidores e para o ambiente (uma reflexão utilitarista); e

iii) a sabedoria de encorajar a descoberta, a inovação e a regulamentação cuidadosa da

engenharia genética (uma consideração relacionada com a ética das virtudes).

Contudo, condiciona a sua aceitação dos OGM’s ao pressuposto de que “actuaremos com

responsabilidade e com a precaução apropriada” (idem, p. 231).

Pois é precisamente aqui que radica o problema. Os interesses comerciais e a falta de ética

sobrepõem-se, muitas vezes, aos interesses generalizados da Humanidade, minando a

confiança que nos deveriam merecer as instituições. Como corolário desta afirmação, cito o

comentário do Dr. De Boer, fundador da empresa holandesa Genetwister, que se dedica a

“identificar e influenciar os genomas das plantas”, quando afirma que acredita nas vantagens

dos OGM´s e pensa que estes deveriam ser discutidos abertamente, dando atenção às

potencialidades e não aos problemas (“it should be discussed openly, looking at the

possibilities instead of the problems”, VEILBRIEF, 2007, p. 17).

Os riscos inerentes à utilização deste produto da biotecnologia são, na verdade, o que mais

move os que a ela se opõem, embora se ponham outros, como afirma o Prof. Humberto Rosa

(2000, p.52): “As considerações morais, técnicas e científicas que envolvem os OGM são

pertinentes e complexas, e devem em geral ser apreciadas numa aproximação caso a caso, sob

o signo da precaucionaridade. Quer para os que se revêem numa concepção mais

antropocêntrica e “interventiva”, quer nos que antes a têm mais ecocêntrica e “naturalista”,

creio que a modificação genética de organismos não tem de ser vista sempre como amiga,

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nem sempre como inimiga. Talvez possa antes ser uma aliada potencial para certos fins

eticamente legítimos, desde que possa ser devidamente avaliada e controlada”.

Do que anteriormente foi dito saliento duas questões fundamentais: a primeira é a de que

existem problemas com a utilização dos OGM’s, o que em geral é desvalorizado ou mesmo

negado; e a segunda é a do controlo das consequências que, como desenvolverei em seguida,

não se verifica no que toca a contaminação do ambiente, pondo em causa a biodiversidade e a

liberdade, eventualmente a sobrevivência, de outros agricultores, a quem é negada pelo

caderno de normas a utilização dos OGM’s - caso dos produtores biológicos (o que não deixa

de ser caricato quando nos tentam convencer das virtudes e segurança alimentar dos OGM’s).

Agricultura Biológica e Coexistência

Entre os argumentos éticos esgrimidos em favor da aceitação dos OGM’s, perfila-se o do

“direito das pessoas nos diversos países de escolherem adoptar a biotecnologia (uma reflexão

que cai no princípio dos direitos humanos)”, como afirma Comstock (2004, 231).

Parece que aos agricultores biológicos e consumidores dos produtos deste segmento de

mercado não são reconhecidos direitos, pois serão porventura os mais afectados pela

expansão das culturas geneticamente modificadas. E, contudo, a biotecnologia não anda

arredada do modo de produção biológico, pois é permitida a luta genética (por exemplo,

largadas de insectos estéreis para controlo de populações).

Por que razão, então, não é permitido ao modo de produção biológico usar os Organismos

Geneticamente Modificados se, como alguns sugerem, estes são seguros e oferecem tantas

vantagens? Não que eu o advogue (Rosa, 2000, 56, diz inclusive que “seria bizarro que o

fizesse) mas esta proibição leva-me a questionar a recente alteração introduzida na legislação

da União Europeia, que permite às culturas em modo de produção biológico serem

contaminadas pelos OGM´s até 0,9%, apesar de lhes ser vedado o uso daquelas plantas,

quando o que distingue esta agricultura das restantes é precisamente a segurança alimentar, a

utilização de variedades tradicionais e o controlo apertado da produção, segundo as directrizes

do caderno de normas, que deverá garantir a rastreabilidade da produção e, por isso, muitos

produtores, que utilizam a soja e o milho como matérias-primas, exibem na sua rotulagem a

menção “isento de OGM’s”. Como será possível continuar a garantir estas características dos

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Fig. 5 – Zonas Livres de OGM´s em Portugal

Fonte: www.stopogm.net/?q=node/37

produtos provenientes da agricultura biológica em Portugal se, tão pouco, o Estado

português aceita a demarcação de zonas livres de OGM´s, como a plantação de milho

transgénico no Algarve, em 2007, veio demonstrar. Contudo, em 2004, a Junta Metropolitana

tinha declarado aquela província a primeira zona livre de transgénicos em Portugal, e vários

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concelhos do país seguiram o seu exemplo, como se constata no mapa das zonas livres de

OGM´s (Figura 5) a exemplo do que tem sucedido noutras áreas da Europa, em especial onde

se produzem alimentos de alta qualidade e de origem controlada.

A União Europeia apenas reconheceu a contaminação por culturas OGM´s, e a necessidade de

estabelecer medidas de coexistência, em 2002, apesar das denúncias, sempre negadas ou

desvalorizadas, que há bastante tempo vinham sendo feitas sobretudo por organizações não

governamentais. Segundo estimativas de Margarida Silva (2003, 97) os custos da produção

para os agricultores convencionais e biológicos podem aumentar até 41%, devido às medidas

que terão de ser tomadas, nomeadamente, plantação de sebes vivas, sementeiras diferidas no

tempo para a floração não acontecer ao mesmo tempo que nos campos de OGM´s, aluguer de

maquinaria certificada, etc. É o fim provável da agricultura biológica, como aliás vaticinou

também o Prof. Andreas Schier, responsável pelos ensaios de milho transgénico no Instituto

Superior de Nürtingen, Alemanha, durante a visita de estudo anteriormente mencionada.

Stavros Dimas, membro da Comissão Europeia e responsável pelo Ambiente, afirmava em

2006, que seria difícil garantir a co-existência de culturas transgénicas e em modo de

produção biológico se a área das primeiras continuasse a aumentar (DIMAS, 2006, 2), o que

na verdade se tem vindo a verificar (Fig. 6). Acrescentou ainda que a criação de zonas livres

de OGM´s é legal, no âmbito da legislação internacional e comunitária de comércio, sempre

que os agricultores decidam voluntariamente não cultivar plantas transgénicas, pois estes

deverão ser livres de se opor ao cultivo de OGM´s (idem, 5).

Reflexão Final

A saga dos OGM´s não se esgota nesta breve apresentação. A situação que se vive neste

sector reflecte, afinal, a incoerência da nossa sociedade face a um momento difícil de

mudança de paradigmas, em que os novos padrões e valores se vão lenta e por vezes,

preclitantemente, instalando. A controvérsia suscitada em torno desta nova tecnologia e dos

seus impactes nos três principais pilares do desenvolvimento sustentável - ambiente, econo-

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Fig. 6 – Superfícies plantadas com OGM´s no Mundo

mia e sociedade, reflecte afinal a incoerência das medidas políticas que são tomadas. Cito,

como exemplo, o levantamento da moratória que protegia o mercado europeu da importação

de alguns OGM´s, quando o consumidor europeu se mostra avesso ao consumo destes

produtos, e o encarniçamento em abrir todo o território ao cultivo destas plantas, criando

problemas aos restantes agricultores, convencionais ou biológicos, alguns dos quais têm feito

um trabalho muito meritório na conservação de variedades antigas, que são curiosamente a

matéria prima onde os cientistas vão recolher o germoplasma que utilizam na criação das

plantas transgénicas. Não faz também qualquer sentido que, num mercado tão selectivo como

é o europeu, a rotulagem não abranja os produtos de origem animal – leite, ovos, carne,

enchidos, que provenham de animais alimentados com rações à base de OGM´s.

Em simultâneo, fomenta-se o aumento da área em modo de produção biológico, expresso nos

apoios financeiros disponibilizados pela União Europeia e nos objectivos traçados no Plano

de Acção Europeu para os Alimentos e a Agricultura Biológica, em 2004, que mais não fazem

do que tentar corresponder a uma procura crescente destes produtos no mercado mundial

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(38,6 milhões de dólares em 2006, o dobro do valor registado em 2006) e, em particular, no

europeu e americano que, em conjunto, são responsáveis por 97% do total das vendas (Willer,

et al, 2008).

Seguindo esta tendência, multiplicam-se as Cimeiras para garantir a Diversidade Biológica

(Cimeira Mundial sobre a Diversidade sem OGM´s, Maio de 2008, em Bona) exigir a

reversão da perda de biodiversidade até 2010 (Estratégia de Gotemburgo) ou defender a

biosegurança (Protocolo de Cartagena).

De alguma forma, esta disputa entre OGM´s e agricultura biológica, assemelha-se à contenda

entre fumadores e não fumadores em que a legislação, embora reconhecendo direitos a ambos,

acabou por proteger os que não fumam. De referir que, neste caso, também se pelejou durante

muitos anos para que fossem reconhecidas as consequências nefastas do fumo não só para os

fumadores directos como para os passivos.

Como parece existir mercado para todos, por que não facilitar as coisas e respeitar as áreas

livres de OGM´s criadas pelas autarquias, a exemplo do que se fez com as áreas para

fumadores e não fumadores na restauração, deixando aos responsáveis pelos municípios a

decisão de gerir os seus territórios da maneira que considerem mais adequada aos interesses

das suas populações?

Desta forma seria mais fácil conter eventuais problemas relacionados com os OGM´s, sem

impor aos restantes membros da comunidade uma vizinhança indesejável, embora persista o

risco de contaminação se não se acautelarem as medidas de segurança relativas ao uso de

equipamentos, armazenamento e transporte daqueles produtos. Não é todavia simples fazer

esta gestão do espaço, por implicar restrições aos respectivos proprietários e gestores das

explorações. Resta-me desejar que impere o bom senso e exortar os “agricultores, jardineiros

e consumidores a celebrar a diversidade das nossas sementes, da nossa alimentação, das

nossas culturas e a sua liberdade de existir sem contaminação pelos OGM´s, sem patentes e

sem apropriação pelas empresas”, como se propôs na 3ª Conferência sob as Regiões sem

OGM´s na Europa (www.gmo-free-regions.org, Abril, 2007) !

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