a revolução de 30 - nilson.pro.brnilson.pro.br/revoluÇÃo de 1930.pdfa revolução de 30 a...

5
A Revolução de 30 A Revolução de 1930, que pôs fim à Primeira República, foi, para muitos historiadores, o movimento mais importante da história do Brasil do século XX. Foi ela quem, acabou com a “hegemonia da burguesia do café, desenlace inscrito na própria forma de inserção do Brasil, no sistema capitalista internacional”. Na Primeira República, o controle político e econômico do país estava nas mãos de fazendeiros, mesmo se as atividades urbanas eram o pólo mais dinâmico da sociedade. Entre 1912 e 1929, a produção industrial cresceu cerca de 175%. No entanto, a política econômica do governo continuava privilegiando os lucros das atividades agrícolas. Mas, com a crise mundial do capitalismo em 1929, a economia cafeeira não conseguiu manter-se. O Presidente Washington Luís (1926-1930), com algumas medidas, tentou conter a crise no Brasil, mas em vão. Em 1929, a produção brasileira chegava a 28,941 milhões, mas só foram exportados 14,281 milhões de sacas, e isto num momento em que existiam imensos estoques acumulados. O maior partido de oposição ao partido republicano de Washington Luís era a Aliança Liberal. Era liderado pelo então governador do Rio Grande do Sul, Getúlio Dorneles Vargas. Mesmo sendo apoiado por muitos políticos que tinham sido influentes na Primeira República, como os ex-presidentes Epitácio Pessoa e Artur Bernardes, seu programa apresentava um certo avanço progressista: jornada de oito horas, voto feminino, apoio às classes urbanas. A Aliança Liberal foi muito influenciada pelo tenentismo, que foi um movimento de jovens militares que defendiam a moralização administrativa e cujo slogan era “representação e justiça”. Nas eleições de 1930, a Aliança Liberal perdeu, vencendo o candidato republicano Júlio Prestes. Mas, usando como pretexto o assassinato do aliancista João Pessoa por um simpatizante de Washington Luís, João Dantas, Getúlio Vargas e seus partidários organizaram um golpe que, em outubro de 1930, tirou Washington Luís do poder. Getúlio Vargas tomou posse do governo no dia 3 de novembro 1930, data que ficou registrada como sendo o fim da Primeira República. No início de seu governo, com a centralização do poder, Vargas iniciou a luta contra o regionalismo. A

Upload: vannguyet

Post on 07-Sep-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: A Revolução de 30 - nilson.pro.brnilson.pro.br/REVOLUÇÃO DE 1930.pdfA Revolução de 30 A Revolução de 1930, ... republicano de Washington Luís era a Aliança Liberal. ... na

A Revolução de 30

A Revolução de 1930, que pôs fim à Primeira

República, foi, para muitos historiadores, o movimento

mais importante da história do Brasil do século XX.

Foi ela quem, acabou com a “hegemonia da burguesia do

café, desenlace inscrito na própria forma de inserção

do Brasil, no sistema capitalista internacional”.

Na Primeira República, o controle político e

econômico do país estava nas mãos de fazendeiros,

mesmo se as atividades urbanas eram o pólo mais

dinâmico da sociedade. Entre 1912 e 1929, a produção

industrial cresceu cerca de 175%. No entanto, a

política econômica do governo continuava privilegiando

os lucros das atividades agrícolas. Mas, com a crise

mundial do capitalismo em 1929, a economia cafeeira

não conseguiu manter-se. O Presidente Washington Luís

(1926-1930), com algumas medidas, tentou conter a

crise no Brasil, mas em vão. Em 1929, a produção

brasileira chegava a 28,941 milhões, mas só foram

exportados 14,281 milhões de sacas, e isto num momento

em que existiam imensos estoques acumulados.

O maior partido de oposição ao partido

republicano de Washington Luís era a Aliança Liberal.

Era liderado pelo então governador do Rio Grande do

Sul, Getúlio Dorneles Vargas. Mesmo sendo apoiado por

muitos políticos que tinham sido influentes na

Primeira República, como os ex-presidentes Epitácio

Pessoa e Artur Bernardes, seu programa apresentava um

certo avanço progressista: jornada de oito horas, voto

feminino, apoio às classes urbanas. A Aliança Liberal

foi muito influenciada pelo tenentismo, que foi um

movimento de jovens militares que defendiam a

moralização administrativa e cujo slogan era

“representação e justiça”. Nas eleições de 1930, a

Aliança Liberal perdeu, vencendo o candidato

republicano Júlio Prestes. Mas, usando como pretexto o

assassinato do aliancista João Pessoa por um

simpatizante de Washington Luís, João Dantas, Getúlio

Vargas e seus partidários organizaram um golpe que, em

outubro de 1930, tirou Washington Luís do poder.

Getúlio Vargas tomou posse do governo no dia 3 de

novembro 1930, data que ficou registrada como sendo o

fim da Primeira República.

No início de seu governo, com a centralização do

poder, Vargas iniciou a luta contra o regionalismo. A

Page 2: A Revolução de 30 - nilson.pro.brnilson.pro.br/REVOLUÇÃO DE 1930.pdfA Revolução de 30 A Revolução de 1930, ... republicano de Washington Luís era a Aliança Liberal. ... na

administração do país tinha que ser única e não, como

ocorria na República Velha, ser dividida pelos

proprietários rurais. Muitas medidas que tomou “no

plano econômico financeiro não resultaram de novas

circunstâncias, mas das circunstâncias impostas pela

crise mundial”. O Brasil dependia demais do comércio

do café para que o novo presidente o abandonasse. Para

controlar a superprodução e a crise no Brasil, Vargas

mandou destruir todos os estoques de café. Mesmo, com

a crise mundial, conhecida como “crash de 1929”, houve

uma intensa aceleração do desenvolvimento industrial.

Entre 1929 e 1939, a indústria cresceu 125%, enquanto

na agricultura o crescimento não ultrapassou 20%. Esse

desenvolvimento deu-se por causa da diminuição das

importações e da oferta de capitais, que trocaram a

lavoura tradicional em crise, pela indústria. Mas, foi

a participação do Estado, com tarifas protecionistas e

investimentos, que mais influiu nesse crescimento

industrial. Diferentemente do que ocorreu na República

Velha, começaram a surgir planos para a criação de

indústrias de base no Brasil. Esses planos realizar-

se-iam com a inauguração da usina siderúrgica de Volta

Redonda em 1946.

A partir de 1930, a sociedade brasileira viveu

importantes mudanças. Acelerou-se o processo de

urbanização e a burguesia começa a participar cada vez

mais na vida política. Com o progresso da

industrialização, a classe operária cresceu muito.

Vargas, com uma política de governo dirigida aos

trabalhadores urbanos, tentou atrair o apoio dessa

classe que era fundamental para a economia, pois tinha

em mãos o novo motor do Brasil: a indústria. A criação

do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, em

1930, resultou numa série de leis trabalhistas. Parte

delas visava ampliar direitos e garantias do

trabalhador: lei de férias, regulamentação do trabalho

de mulheres e crianças.

Todo esse processo de desenvolvimento, no Brasil,

foi acompanhado por uma verdadeira revolução cultural

e educacional que acabou garantindo o sucesso de

Vargas na sua tentativa de transformar a sociedade.

Como disse Antônio Cândido, “não foi o movimento

revolucionário que começou as reformas [do ensino];

mas ele propiciou a sua extensão para todo o país”. Em

1920, reformas promovidas separadamente por Sampaio

Dória, Lourenço Filho, Anísio Teixeira e Fernando

Campos já buscavam a renovação pedagógica. A partir de

1930, as medidas para a criação de um sistema

educativo público foram controladas oficialmente pelo

Page 3: A Revolução de 30 - nilson.pro.brnilson.pro.br/REVOLUÇÃO DE 1930.pdfA Revolução de 30 A Revolução de 1930, ... republicano de Washington Luís era a Aliança Liberal. ... na

governo. Esta vontade de centralizar a formação e de

torná-la acessível aos mais pobres ficou clara com a

criação do Ministério da Educação e Saúde em novembro

de 1930. Seu primeiro ministro foi Francisco Campos

(1930-1932). Com a difusão da instrução básica, Vargas

acreditava poder formar um povo mais consciente e mais

apto às exigências democráticas, como o voto, e uma

elite de futuros políticos, pensadores e técnicos. Em

1931, o governo decretou a obrigatoriedade do ensino

religioso nas escolas públicas. Esta aproximação entre

Estado e Igreja também foi marcada pela inauguração, a

12 de outubro de 1931, da estátua do Cristo Redentor

no Corcovado. Em relação ao ensino superior, o governo

procurou estabelecer as bases do sistema

universitário, investindo nas áreas de ensino e

pesquisa. Foram contratados jovens professores

europeus como Claude Lévy-Strauss que se tornaria,

mais tarde, o criador da antropologia estruturalista.

Além de haver um desenvolvimento educacional,

houve uma verdadeira revolução cultural em relação à

República Velha. O modernismo, tão criticado antes de

1930, tornou-se o movimento artístico principal a

partir do golpe de Vargas. A Academia de Letras, tão

admirada antes, não tinha mais nenhum prestígio. A

cultura predominante era a popular que, com o rádio,

desenvolveu-se por todo o Brasil, “nos anos 30 e 40,

por exemplo, o samba e a marcha, antes praticamente

confinados aos morros e subúrbios do Rio, conquistaram

o país e todas as classes, tornando-se um pão-nosso

quotidiano de consumo cultural”.

No entanto, foram os intelectuais partidários da

Revolução de 1930, como Caio Prado Júnior, quem

tiveram um papel essencial no processo de

desenvolvimento cultural do Brasil. Sérgio Buarque de

Holanda, com Raízes do Brasil principalmente,

influenciou muito o desenvolvimento do nacionalismo no

Brasil. Em este ensaio, Sérgio Buarque de Holanda

buscou entender como se fez o processo da formação do

Brasil como nação. Analisou a história desde a chegada

dos ibéricos à América até os anos 1930. Este

livro,formou a mentalidade de muitos estudantes a

partir de 1936, quando foi publicado.

Raízes do Brasil demonstrou que a independência

do Brasil não se fez em 1822, pois a formação de uma

nação não só se devia entender em relação à

administração. O Brasil, só seria independente quando

não houvesse mais marcos, a não ser o passado, da era

colonial.

Page 4: A Revolução de 30 - nilson.pro.brnilson.pro.br/REVOLUÇÃO DE 1930.pdfA Revolução de 30 A Revolução de 1930, ... republicano de Washington Luís era a Aliança Liberal. ... na

Conclusão

Para se compreender a Revolução de 30, necessário se faz

conhecer os fatos que a antecederam. Importante é o texto

acerca de Washington Luís para entender a situação nacional

de então.

Dentre os fatores que levaram à Revolução de 30, válido

seria ressaltar alguns. Em primeiro lugar, a emergência de

uma classe média, do tenentismo, de uma principiante

burguesia e do movimento operário, todos insatisfeitos com

a República Velha, contribuiu de maneira excessiva para a

destruição do regime.

Além disso, os demais Estados da Federação estavam

insatisfeitos com a exclusão que São Paulo e Minas lhes

impunha. Os outros setores econômicos - charqueadores,

produtores de açúcar, de cacau, de borracha, de arroz, os

industriais, etc - não viam com bons olhos a política de

priorização do café. Os incentivos que lhes eram oferecidos

eram parcos.

A crise de 29 tornou-se a insatisfação desses setores. A

valorização do café havia atingido níveis absurdos, a ponto

de o Brasil produzir quase duas vezes mais do que a

capacidade de absorção do mercado mundial.

Mesmo os membros da situação, que por anos estiveram

unidos, começaram a desentender-se desde o início da

década, tentando atingir seu ponto mais alto no racha das

oligarquias para a sucessão de 30. De um lado, na Aliança

Liberal, Getúlio Vargas; do outro, na Concentração

Conservadora, Júlio Prestes. Parte da elite que por anos

esteve unida estava agora na chapa oposicionista, aliada

aos demais setores sociais.

Com a eleição de Júlio Prestes, parecia ter passado o

"momento revolucionário". Entretanto, ao reabrir-se o

Congresso, a 3 de maio, verificaram-se sérias divergências

entre parlamentares da oposição e a maioria governista.

Um fato imprevisto agravou a crise que se havia reacendido:

foi assassinado a 26 de julho, numa confeitaria do Recife,

o governador da Paraíba, João Pessoa. Embora o assassino

estivesse motivado por questões da política local, João

Pessoa figurava como candidato à Vice-presidência,

juntamente com Getúlio Vargas, o que fez da sua morte uma

grande comoção nacional. Estava fornecido o pretexto para o

Page 5: A Revolução de 30 - nilson.pro.brnilson.pro.br/REVOLUÇÃO DE 1930.pdfA Revolução de 30 A Revolução de 1930, ... republicano de Washington Luís era a Aliança Liberal. ... na

aparecimento da Revolução, cujas causas, já se sabe, eram

mais profundas.

Preparou-se a revolução. No dia determinado, 5 de outubro

de 1930, Osvaldo Aranha e Flores da Cunha iniciam o

movimento tomando, com apenas 50 homens, o Quartel-general

de Porto Alegre. Simultaneamente aparecia a revolução em

Minas Gerais e na Paraíba.

Iniciando o levante no Recife, Juarez Távora pôs em fuga o

governador de Pernambuco, Estácio Coimbra. Em breve o Norte

e o Nordeste do país estavam em poder dos revolucionários.

Seguro da vitória da revolução naquelas regiões, empreendeu

Juarez Távora sua marcha em direção à região Sudeste

atravessando Alagoas, Sergipe e atingindo a Bahia.

No Sul, as forças revolucionárias comandadas por Getúlio

Vargas depois de enfrentar pequena resistência no Rio

Grande do Sul, encaminharam-se em direção a Santa Catarina

e Paraná. Quando se preparavam para atacar Itararé, posição

bem defendida e considerada imprescindível para a ocupação

de São Paulo, um grupo de generais e almirantes sediados no

Rio, decidiu atuar, depondo o Presidente Washington Luís.

Estabeleceu-se assim uma Junta Pacificadora composta pelo

general Mena Barreto, general Tasso Fragoso e almirante

Isaías Noronha. Não se sabe ao certo se a Junta

Pacificadora estava comprometida com os revolucionários, se

desejava mudar o encaminhamento da revolução ou se,

patrioticamente, agiu para evitar mais derramamento de

sangue e as conseqüências de uma guerra civil. Admitiu, sem

resistência, a liderança de Getúlio Vargas, que, chegando

ao Rio a 3 de novembro de 1930, assumiu provisoriamente o

governo da República como delegado da Revolução, em nome do

Exército, da Marinha e do "Povo", por quem eles se julgavam

legitimados. Estava vitorioso o movimento.