a revoluÇÃo de 1820 e as dificuldades de implantaÇÃo da ordem liberal (1820-1834)

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A REVOLUÇÃO DE 1820 E AS DIFICULDADES DE IMPLANTAÇÃO DA ORDEM LIBERAL (1820-1834)

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Page 1: A REVOLUÇÃO DE 1820 E AS DIFICULDADES DE IMPLANTAÇÃO DA ORDEM LIBERAL (1820-1834)

A REVOLUÇÃO DE 1820 E AS DIFICULDADES DE IMPLANTAÇÃO DA ORDEM LIBERAL (1820-1834)

Page 2: A REVOLUÇÃO DE 1820 E AS DIFICULDADES DE IMPLANTAÇÃO DA ORDEM LIBERAL (1820-1834)

Razões da revolução de 1820

- Movimento das «Luzes»

- Ecos da Revolução Francesa

- Movimento maçónico e jacobino

- Exilados portugueses

- Revolução Industrial

Difusão do Liberalismo:

- Na economia

- Na sociedade

- Na organização política

- Na mentalidade

Conjuntura económica,

política e social

favorável:

- Depressão económica.

- Ruína do erário

público.

- Crise da burguesia.

- Clima de agitação

social

REVOLUÇÃO DE 1820

Invasões francesas e

dominação inglesa em

Portugal

- Destruições e

pilhagens

- Abertura dos portos

brasileiros em 1808

- Tratado comercial

com a Inglaterra em

1810

- Elevação do Brasil a

Reino

- Regência absolutista

de Beresford.

Portugal sofria uma grave crise:

Crise política: provocada pela permanência da família real e da corte no Brasil;

Crise económica: causada pela desorganização da economia devido às invasões francesas e, sobretudo, pela

independência económica do Brasil;

Crise social: todos os sectores da sociedade descontentes com a presença dos ingleses nos altos cargos políticos.

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Objectivos e características da revolução

O movimento ocorrido no Porto, a 4 de Agosto de 1820, foi essencialmente um pronunciamento militar com

larga participação de negociantes e magistrados. Entre os seus dirigentes, contam-se os nomes de brigadeiro

António Silveira, dos militares Cabreira e Sepúlveda, do deão Brederode e dos burgueses Manuel Fernandes

Tomás, José Ferreira Borges e José da Silva Carvalho, que entre outros, irão constituir a Junta Provisional do

Governo Supremo do Reino. Coube ao Manuel Fernandes Tomás a redacção do Manifesto de que se destacam

os seguintes conteúdos:

• A justificação do movimento pela necessidade nacionalista de regenerar a Pátria, afirmando-o como um

renascer da grandeza dos Portugueses e das instituições passadas, subvertidas pelo Absolutismo e pelas

eventualidades políticas dos últimos anos;

• A não hostilização do Rei, cuja reacção em face do movimento se ignorava, sendo de recear atitude

desfavorável dos que o rodeavam;

• O elogio ao exército pela parte decisiva que tivera no movimento;

• O apelo ao povo para que respeitasse a nova ordem;

• E, sobretudo, a afirmação do ”desejo burguês” de não cometer excessos revolucionários

A Revolução teve adesão imediata por todo o país. A 15 de Setembro, os liberais de Lisboa revoltam-se e

expulsam os regentes, constituindo um governo provisório presidido nominalmente por Freire de Andrade, decano

da Sé de Lisboa, num movimento autónomo, apoiado por burgueses e populares.

Entretanto, os liberais revolucionários do Porto marcham a caminho de Lisboa. Da fusão dos dois movimentos

– conseguida a 28 de Setembro, em Alcobaça – sairia uma no Junta Provisional presidida por Frei de Andrade e

na vice-presidência por António da Silveira.

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Objectivos e características da revolução

Conquistada a união do país e até do Brasil, restava aos revolucionários a gigantesca tarefa de regenerar o

país destroçado. As primeiras medidas visaram principalmente:

- Pôr imediato cobro à dominação inglesa, começando por expulsar Beresford (que era na altura o general das

tropas portuguesas) e os generais ingleses do exército e do país;

- Organizar eleições para as Cortes que haviam de elaborar a Constituição do Reino;

- Fazer regressar D. João VI, o que se afectou em Julho de 1821.

Estamos assim, na presença de uma acção de carácter nacionalista, burguês e liberal.

Nacionalista porque:

- Exaltava as glórias passadas da Pátria.

- Apelava a regeneração política, administrativa, social e económica.

- Pretendia, ainda, fazer regressar o Brasil à condição de colónia

Burguês na medida em que:

- Os revoltosos eram magistrados, negociantes, proprietários e militares.

- A composição social das Cortes Constituintes era fundamentalmente burguesa.

- Foram burgueses os membros predominantes das instituições directivas pós-revolução, no Reino e no

Ultramar.

Liberal porque:

- Decretou uma Constituição, que eliminava as estruturas do Absolutismo e construía uma nova ordem social

e política, assente na igualdade dos homens perante a lei e na soberania da Nação.

Fig.1_ D. João VI

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A Constituição de 1822

As Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa foram as responsáveis pela elaboração da

Constituição de 1822. Este, sendo o documento mais antigo constitucional português foi assinado pelos deputados a

23 de Setembro de 1822 e jurado pelo rei D. João VI a 1 de Outubro do mesmo ano. Caracterizou-se pelo seu

progressismo, pelo espírito liberal, excluindo inúmeros velhos privilégios feudais e pelo exemplo tomado pelas

Constituições Espanhola de Cádis (1812) e Francesas (1791,1793 e 1795). Estava dividida em seis títulos e 240

artigos, tendo por princípios fundamentais os seguintes:

- A consagração dos direitos e deveres individuais de todos os cidadãos Portugueses (a garantia da liberdade, da

igualdade perante a lei, da segurança, e da propriedade);

- A consagração da Nação como base da soberania nacional, a ser exercida pelas Cortes;

- A definição do território da mesma Nação (Continente, Ilhas Adjacentes, Reino do Brasil e Colónias na África, Ásia

e Oceânia);

- O não reconhecimento de qualquer privilégio ao Clero e à Nobreza;

- A separação de poderes políticos (Legislativo exercido pelas Cortes, Executivo pelo Rei e Judicial pelos Tribunais);

- A existência de Cortes eleitas pela Nação, responsáveis pela actividade legislativa do país;

- A supremacia do poder legislativo das Cortes sobre os demais poderes;

- A emanação da autoridade régia a partir da Nação;

- A existência, de uma Monarquia Constitucional com os poderes do Rei reduzidos;

- A ausência de liberdade religiosa (a Religião Católica era a única religião da Nação Portuguesa, existindo uma

censura prévia aos escritos eclesiásticos).

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A Constituição de 1822

CONSELHO

DE ESTADOaconselha REI

-Chefia do governo

-Execução das leis

-Nomeação de funcionários

-Veto suspensivo sobre as

Cortes

sanciona

CORTES LEGISLATIVAS

-Uma câmara

-Elaboração das leis

auxiliam SECRETARIAS DE ESTADO

fiscalizavam

TRIBUNAIS E JUÍZES

Elege os deputados e juízes

NAÇÃO

-Varões maiores de 25 anos

(que soubessem ler e escrever

não sendo mulheres, frades ou

servos)

- Base da soberania

Legenda:

Poder legislativo

Poder executivo

Poder judicial

Fig.2_Capa original da Constituição

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ARTIGO I (Dos direitos e deveres individuais dos portugueses)

11- - A Constituição política da Nação Portuguesa tem por objecto manter a liberdade, segurança, e propriedade de

todos os Portugueses. (…)

4- 4- Ninguém deve ser preso sem culpa formada, salvo nos casos, e pela maneira declarada no artigo 203, e

seguintes. A lei designará as penas, com que devem ser castigados, no só o Juiz que ordenar a prisão arbitrária e os

oficiais que a executarem, mas também a pessoa que a tiver requerido. (…)

6 - 6 - A propriedade é um direito sagrado e inviolável, que tem qualquer Português, de dispor sua vontade de todos os

seus bens, segundo as leis.

Quando por alguma razão de necessidade pública e urgente, for preciso que ele seja privado deste direito, será

primeiramente indemnizado, na forma que as leis estabelecerem.

7- 7- A livre comunicação dos pensamentos é um dos mais preciosos direitos do homem. Todo o Português pode

consequentemente, sem dependência de censura prévia, manifestar suas opiniões em qualquer matéria, contanto

que haja de responder pelo abuso desta liberdade nos casos, e pela forma que a lei determinar. (…)

9- 9- A lei é igual para todos. Não se devem portanto tolerar privilégios do foro nas causas cíveis ou crimes, nem

comissões especiais. Esta disposição não compreende as causas, que pela sua natureza pertencerem a juízos

particulares, na conformidade das leis. (…)

11- 11- Toda a pena deve ser proporcionada ao delito; e nenhuma passará da pessoa do delinquente. Fica abolida a

tortura, a confiscação de bens, a infâmia, os açoites, o baraço e pregão, a marca de ferro quente, e todas as mais

penas cruéis ou infamantes. (…)

16- 16- Todo o Português poderá apresentar por escrito às Cortes e ao poder executivo reclamações, queixas, ou

petições, que deverão ser examinadas. (…)

18- 18- O segredo das cartas é inviolável. A Administração do correio fica rigorosamente responsável por qualquer

infracção deste artigo.

19-19- Todo o Português deve ser justo. Os seus principais deveres são venerar a Religião; amar a pátria; defendê-la

com as armas, quando for chamado pela lei; obedecer à Constituição e às leis; respeitar as Autoridades públicas; e

contribuir para as despesas do Estado

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A Constituição de 1822

Demasiado progressiva para o seu tempo, a Constituição de 1822 foi fruto da fracção mais radical dos

deputados presentes às Cortes Constituintes, cuja acção se projectou no chamado Vintismo.

Vintismo: Tendência do liberalismo português, instituído na sequência da Revolução de 1820 e consagrada na

Constituição de 1822. Caracteriza-se pelo radicalismo das suas posições, ao instituir o dogma da soberania popular,

ao limitar os privilégios reais e ao não reconhecer qualquer situação de supremacia aos nobres e ao clero. Ameaçado

pelos golpes contra-revolucionários da Vila-Francada e da Abrilada, o Vintismo foi definitivamente vencido pela

tendência moderada do Cartismo (defensor da Carta Constitucional de 1826), que se implanta em 1834, após a

guerra civil entre liberais e absolutistas.

Desde o início da reunião da assembleia, tornou-se clara a existência da uma tendência moderada,

impregnada de respeito pela instituição monárquica e pela religião católica e que se inclinava para a adopção de uma

Constituição Conservadora, e de uma tendência radicalista, democrática, cujos principais líderes eram Fernandes

Tomás, Ferreira Borges e Borges Carneiro. Violentas e azedas polémicas desencadearam-se, mesmo em torno da

questão religiosa, da estrutura das câmaras e da natureza do veto régio.

Esta Constituição não vigorou por muitos anos, sendo demasiado democrática para o seu tempo. A concessão

do direito de voto a todos os varões minimamente instruídos e com mais de 25 anos punha em perigo os interesses

dos proprietários e dos homens de negócios. Não satisfazia a Nobreza, nem o Clero, nem o Rei, cujos poderes

ficavam praticamente reduzidos a nada. Não admira, pois, que só perdurasse menos de 2 anos na sua 1ª fase e mais

tarde, restabelecida provisória e teoricamente apenas entre Setembro de 1836 e Abril de 1838.

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A Constituição de 1822

NOTA: Além da elaboração da Constituição, foi notável a

obra legislativa das Constituintes no sentido de abater o Antigo

Regime:

- O tribunal da Inquisição foi extinto

- Direitos banais e tributos pessoais foram suprimidos

- A liberdade de ensino foi permitida

Fig.4_ D. João VI, onde é visível

a mão sobre a Constituição de

1822

Fig.5_28 de Setembro, quando é formada por vários revolucionários

uma Junta Provisional, presidida por Freire Andrade.

Fig.3 Manuel Fernandes

Tomás, um dos

principais líderes da

Constituição de 1822

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Precariedade da legislação vintista de carácter socioeconómico

A atitude declarada de rejeição do Liberalismo no seio da própria Família Real deu um grande alento à reacção

absolutista, mas não impediu que as Cortes Constituintes de 1821, compostas por uma maioria burguesa de

proprietários, comerciantes e burocratas, prosseguissem o seu objectivo principal: a elaboração de uma

constituição escrita. Entretanto, os deputados iam realizando a tarefa revolucionária de mudar instituições e abolir

privilégios, aprovando medidas importantes no domínio social, económico e político:

-- Estabelecimento da liberdade de imprensa;

-- Extinção de direitos senhoriais;

-- Abolição da Inquisição;

-- Nacionalização dos bens da Coroa (propriedades, capelas, direitos reais, comendas, das ordens militares) e a

sua venda em hasta pública.

Nos primeiros anos da implantação do Liberalismo, a economia portuguesa regista alguns progressos

significativos: a criação do Banco de Lisboa (1821); o início da utilização da máquina a vapor na indústria e nos

transportes fluviais e marítimos (1820-1821); a criação da Sociedade Promotora da Indústria Nacional (1822).

Todavia, uma boa parte do esforço de modernização das estruturas económicas e sociais do País, perder-se-ia

devido à grave situação das finanças públicas (invasões francesas, ocupação inglesa, gastos militares, crise

económica) e à persistência da instabilidade social e política gerada pela reacção absolutista, que culminará no

desfecho da guerra civil, nos primeiros anos da década de 30 do século XIX.

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Anexos

Fig.6_1º página da Constituição de

1822

Fig.8_Alegoria à Constituição de 1822

Fig.7_ Ferreira

Borges, um dos

dirigentes da

revolução de 1820

Fig.9_Marechall Beresford,

dirigente das tropas

portuguesas durante o

domínio inglês