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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO A RESSOCIALIZAÇÃO DO APENADO EM FACE DA FALÊNCIA DA PENA DE PRISÃO JULIANA SODRÉ D´AVILA ITAJAÍ, NOVEMBRO DE 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A RESSOCIALIZAÇÃO DO APENADO EM FACE DA FALÊNCIA DA PENA DE PRISÃO

JULIANA SODRÉ D´AVILA

ITAJAÍ, NOVEMBRO DE 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A RESSOCIALIZAÇÃO DO APENADO EM FACE DA FALÊNCIA DA PENA DE PRISÃO

JULIANA SODRÉ D´AVILA

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em

Direito. Orientadora Professora Msc. Adriana Maria Gomes de Souza Spengler

ITAJAÍ, NOVEMBRO DE 2008

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CAPÍTULO 3

A RESSOCIALIZAÇÃO DO APENADO EM FACE DO SISTEMA PRISIONAL ATUAL

3.1 INTRODUÇÃO

Neste terceiro capítulo, estudar-se-á a Lei n. 7.210/84,

Lei de Execução Penal, observando sua natureza, objeto e os direitos

assegurados pelos presos mediante esta lei.

Para poder iniciar sobre o objeto desta lei, é

imprescindível destacarmos o art. 1º da LEP que menciona:

Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as

disposições de sentença ou decisão criminal e

proporcionar condições para a harmônica integração

social do condenado e do internado.

Fica claro de que o art. 1º, da LEP, não se trata apenas

de um direito voltado à execução das penas e medidas de segurança

privativas de liberdade, é voltado também, para as medidas assistenciais,

curativas e de reabilitação do condenado, o que leva a crer que nosso

ordenamento jurídico o critério de autonomia de um Direito de Execução

Penal ao invés do restrito Direito Penitenciário.173

173 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal. p. 27

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3.2 HISTÓRICO

No Brasil a primeira tentativa de codificar a respeito

das normas de execução penal foi com um projeto de Código

Penitenciário da República de 1933, elaborado por Cândido Mendes,

Lemos der Brito e Heitor Carrilho.174

A necessidade de uma Lei era grande, pois o código

penal (1940) e o código de processo penal não previam a necessidade

de lugares adequados para um regulamento da execução das penas e

medidas privativas de liberdade.175

Um projeto de lei (1951), proposta pelo Deputado

Carvalho Neto, resultou na aprovação da Lei n. 3.274, de 2 de outubro de

1957, que dispôs sobre as normas do regime penitenciário.176

Porém, tal diploma carecia de eficácia por não prever

sanções de descumprimento das normas, e tornou-se letra morta no

ordenamento jurídico do país.177

Depois de várias tentativas de anteprojetos de código

Penitenciário, finalmente no ano de 1981, uma comissão constituída pelo

ministro da justiça e vários professores conceituados, foi apresentado o

anteprojeto da nova Lei de Execução Penal, publicado pela Portaria n.

429, de 22 de julho de 1981, para receber sugestões e entregue com estas,

à comissão revisora.

Em 1983 o Presidente da República encaminhou o

projeto ao Congresso Nacional e sem qualquer alteração, foi aprovada a

174 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal. p. 28 175 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal. p. 28 176 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal. p. 28 177 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal. p. 28

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Lei de Execução Penal, que levou o n. 7.210, promulgada em 11 de julho

de 1984.178

3.3 OBJETO DA EXECUÇÃO PENAL

A execução penal tem como objetivo a efetiva

eficácia da sentença condenatória como dispõe o art. 1º da referida lei.

O ordenamento jurídico brasileiro repeliu as teorias

absolutas, tendo em vista que a Lei de Execução Penal prevê a

reintegração social do condenado e internado, visto que a sanção penal

terá um fim maior do que o castigo.179

No entanto a penalogia foi construída em cima das

idéias de retribuição como demonstra JÚNIOR180:

Infelizmente, pouco se avançou, pois, em que pese termos

uma das melhores leis de execução penal do mundo,

temos um sistema penitenciário semelhante ao de qualquer

país de terceiro mundo, violando direitos fundamentais da

pessoa humana, direitos esses resguardados na própria

Constituição Federal, que prevê que nenhum preso

receberá tratamento degradante. Todavia o que se vê é a

colocação de pessoas em presídios superlotados e loucos

sendo “internados” em presídios, sem a mínima assistência médica ou psicológica.

A violação de tais preceitos desrespeita a própria

CONSTITUIÇÃO181, visto que ali encontramos, no art. 5º, o seguinte:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de

qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à

178 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal. p. 29 179 JÚNIOR, Sidio Rosa de Mesquita. Manual de Execução Penal. p.65 180 JÚNIOR, Sidio Rosa de Mesquita. Manual de Execução Penal. p. 65 181 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil 1988.

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vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade, nos termos seguintes:

XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade

física e moral;

Além de proporcionar condições para a harmônica

integração social do preso ou do internado, procura-se no diploma legal

não só cuidar do sujeito passivo de execução, como também da defesa

social e ainda, à declaração universal dos direitos do preso, conforme

Organizações das Nacões Unidas editadas em 1958.182

Nesse sentido, MIRABETE183 menciona:

O sentido imanente da reinserção social, conforme o

estabelecido na lei de execução, a assistência e ajuda na

obtenção dos meios capazes de permitir o retorno do

apenado e do internado ao meio social em condições

favoráveis para sua integração, não se confundindo “com

qualquer sistema de ‘tratamento’ que procure impor um

determinado número e hierarquia de valores em contrastes

com os direitos da personalidade do condenado”.

A pena era tida apenas como retribuição ou

prevenção criminal, passou-se a entender que sua finalidade precípua, na

fase executória era a de reeducar o criminoso, dera mostras de

inadaptabilidade social com a prática da infração penal.184

Para uma melhor explanação, MIRABETE185 ensina que:

Surgiram assim os sistemas penitenciários fundados na idéia

de que a execução penal deve promover a transformação

182 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. p. 62 183 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. p. 62 184 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. p. 63 185 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. p. 63

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do criminoso em não criminoso, possibilitando-se a métodos

coativos para operar-se a mudança de suas atitudes e de

seu comportamento social.

Dispõe o art. 10, da Lei de Execução Penal:

Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do

Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à

convivência em sociedade.

Parágrafo único. A assistência estende-se ao egresso.

Os sistemas penitenciários objetiva que o preso tenha

a intenção e capacidade de viver, respeitando a lei penal, procurando-se

na medida do possível, desenvolver no “reeducando” uma atitude de

apreço por si mesmo e de responsabilidade individual e social com

respeito à sua família, ao próximo e à sociedade.187

3.4 DOS DIREITOS PROPRIAMENTE DITOS

Os direitos dos presos estão elencados no art. 41 da

Lei de Execução Penal.

Menciona o referido artigo da Lei de Execução Penal:

Art. 41 - Constituem direitos do preso:

I - alimentação suficiente e vestuário;

II - atribuição de trabalho e sua remuneração;

III - Previdência Social;

IV - constituição de pecúlio;

V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o

trabalho, o descanso e a recreação;

187 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. p. 63 189 JÚNIOR, Sidio Rosa de Mesquita. Manual de Execução Penal. p. 115

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VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais,

artísticas e desportivas anteriores, desde que compatíveis

com a execução da pena;

VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional,

social e religiosa;

VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;

IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;

X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e

amigos em dias determinados;

XI - chamamento nominal;

XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências

da individualização da pena;

XIII - audiência especial com o diretor do

estabelecimento;

XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em

defesa de direito;

XV - contato com o mundo exterior por meio de

correspondência escrita, da leitura e de outros meios de

informação que não comprometam a moral e os bons

costumes.

XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente,

sob pena da responsabilidade da autoridade judiciária

competente. (Incluído pela Lei nº 10.713, de 13.8.2003).

Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV

poderão ser suspensos ou restringidos mediante ato

motivado do diretor do estabelecimento.

Não obstante, apesar de a Lei de Execução Penal

estabelecer vários direitos ao preso, a situação fática é bastante

dramática, sendo que o panorama atual reflete o descaso que as

autoridades e a sociedade tratam as pessoas provenientes das camadas

inferiores e estas, são as que estão em maiores números no presídio.189

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3.4.1 Alimentação suficiente e vestuário

A alimentação e o vestuário, também são um direito

do preso e estão presentes na Lei de Execuções Penais.

O art. 12, da Lei menciona:

Art. 12. A assistência material ao preso e ao internado

consistirá no fornecimento de alimentação, vestuário e

instalações higiênicas.

Nesse sentido, JÚNIOR190 menciona:

A alimentação balanceada e de boa qualidade é

importante não só porque é direito do preso, mas também

porque possibilita a preservação da disciplina interna do

estabelecimento penitenciário. São freqüentes as rebeliões

decorrentes da insatisfação dos presos com a alimentação

que lhes é oferecida.

O inciso I, do art. 41, da Lei de Execução Penal,

também trata sobre a alimentação e vestuário.

Art. 41 - Constituem direitos do preso

I - alimentação suficiente e vestuário;

Nesse sentido, MIRABETE 191menciona:

Deve a administração, assim, de um lado, proporcionar ao

preso alimentação controlada, convenientemente

preparada e que corresponda em quantidade e qualidade

às normas dietéticas e de higiene, tendo em conta o seu

estado de saúde e, de outro, vestuário apropriado ao

clima, para que não lhe seja disposto nas Regras Mínimas

da ONU (nºs 20.1 e 20.2) e é regulado no artigo 12, que

dispõe sobre a assistência material (item 2.15).

190 JÚNIOR, Sidio Rosa de Mesquita. Manual de Execução Penal. p. 79 191 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. p. 117.

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Apesar de ser fornecida a alimentação aos presos,

permite-se a entrada de pequenas quantidades de produtos alimentícios

nos estabelecimentos penais trazidas por familiares nos dias de visitas. O

fato de ser permitida a entrada de alimentação, não deve ser entendida

como uma desobrigação do Estado e fornecer alimentação aos presos,

pois não deve ser transferida, essa obrigação, aos familiares. 192

3.4.2 Atribuição de trabalho e sua remuneração

A Constituição Federal, em seu art. 6º, define o

trabalho como um dos “direitos sociais”:

Dispõe o referido artigo:

Art. 6º: São direitos sociais a educação, a saúde, o

trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência

social, a proteção à maternidade e à infância, a

assistência aos desamparados, na forma desta

Constituição.

O objetivo da instituição prisional de aplicar as

atividades que desenvolva a habilidade dos presos através do trabalho é

em relação a responsabilidade à vida deles, uma obrigação

constitucional.193

COSTA194 menciona ainda:

Desenvolver significa também ajudar a capacidade natural

de cada um a crescer, remover obstáculos para permitir

que o indivíduo leve sua capacidade ao limite máximo.

Desenvolver significa elevar a capacidade dos presos e

promover sua automotivação.

192 JÚNIOR, Sidio Rosa de Mesquita. Manual de Execução Penal. p. 79. 193 COSTA, Alexandre Marino. O trabalho prisional e a reintegração do detento. Florianópolis: Insular,1999 p. 71. 194 COSTA, Alexandre Marino. O trabalho prisional e a reintegração do detento. p. 71.

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Há três métodos diferentes de se iniciar este processo.

O primeiro é examinar os níveis de capacidade dos presos em suas

posições atuais e acrescentar novas tarefas aos seus serviços, antes que se

tornem rotineiros ou sem desafios. O segundo é levantar o nível de

habilidade, colocando-o em posições diferentes. E o terceiro é ao colocá-

los em novas posições, dar-lhe a oportunidade de crescimento profissional.

MIRABETE195 ensina que:

Como o preso, por seu status de condenado em

cumprimento de pena privativa de liberdade, não pode

exercer a atividade laborativa em decorrência da

limitação imposta pela sanção, incube ao Estado o dever

de atribuir-lhe o trabalho que deve realizar no

estabelecimento prisional.

SÁ196 também menciona sobre o assunto:

A difusão da pena privativa de liberdade e a conseqüente

proliferação das prisões fazem surgir, simultaneamente,

políticas e práticas penais para reeducar vadios, infratores

e delinqüentes. E entre as técnicas disciplinares inclui-se o

trabalho prisional.

O ponto principal no desenvolvimento do preso é

confiar-lhe responsabilidade. As pessoas aprendem através da tentativa

de erro, e ampliam a sua habilidade.197

3.4.3 Proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o

descanso e a recreação:

Os momentos de repouso são necessários, pois depois

da atividade laborativa, no caso do trabalho, exige esforço, e a

195 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal. p. 117 196 SÁ. Geraldo Ribeiro de. A prisão dos excluídos. p. 26. 197 COSTA, Alexandre Marino. O trabalho prisional e a reintegração social do dentento. p. 69.

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intensidade ou a duração dele produz um estado físico ou psíquico de

tensão e fadiga.198

A recreação entra quando o preso não ocupa seu

tempo como deveria, nesse caso MIRABETE199 explica:

Mesmo provendo uma jornada normal de trabalho entre

seis horas e considerando também os períodos de

descanso, o preso dispõe de bastante tempo livre nas

prisões, normalmente destinado ao ódio. Este, considerado

a “mãe de todos os vício” produz efeitos deletérios

(indolência, preguiça, egoísmo, desocupação, jogo,

contágio moral, desequilíbrio), num conteúdo antiético que

pode lançar por terra as esperanças do reajustamento

social do condenado. Deve-se portanto, ocupar o tempo

livre do preso, impedindo o ócio, através da recreação.

A recreação é o lazer-distração, atividade que

repousa ou que proporciona salutar fadiga propícia para o repouso. Ela é

recomendada para o bem-estar físico e mental dos presos.200

Entre os meios de recreação destaca-se o esporte, a

ginástica, pois contribui também para a disciplina e a elevação moral do

preso, para o desenvolvimento de virtudes individuais e sociais, tais como

lealdade, serenidade, espírito de equipe ou colaboração, etc201.

3.4.4 Assistência material, à saúde , jurídica, educacional, social e religiosa

O condenado ou qualquer pessoa é passível de

contrair doenças.

A prisão vista como instituição de execução da pena

privativa de liberdade ou da medida de segurança pretende cercar os

198 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. p. 119. 199 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. p. 119 200 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. p 119 201 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. p. 119

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sentenciados dos cuidados necessários à satisfação das mínimas

exigências, requeridos pelos padrões de vida de um cidadão comum.202

Nesse sentido, MIRABETE203 menciona que “É possível,

também, que uma doença esteja latente e venha manifestar-se após a

prisão, seja pela sua natural evolução, seja o ambiente do

estabelecimento penal influi, no todo ou em parte, para a sua eclosão ou

desencadeamento”.

Atualmente, com a incidência da AIDS, a situação nos

presídios tem-se agravado, pois além de não haver estabelecimento

adequado a esse tipo grave de doença, não existe também pessoal

especializado para cuidar dos doentes.

É conhecida como psicose carcerária, constituída de

sintomas, síndromes e estados patológicos provocados ou

desencadeados pela própria natureza da situação carcerária da qual

fazem parte: atmosfera opressiva, resultante dos sentimentos negativos

como rancor, raiva, vingança tristeza, como também, as más condições

de higiene, alimentação, vestuário, etc.205

A assistência médica prevê dois aspectos: um

preventivo e outro curativo. O primeiro relaciona-se com as medidas de

higiene, dietas alimentícias e controle dos presos submetidos aos regimes

disciplinares. O segundo refere-se à assistência médica diária para o

diagnóstico e tratamento dos enfermos da prisão ou hospital

psiquiátrico.206

202 SÁ. Geraldo Ribeiro de. A prisão dos excluídos. p. 120. 203 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. p.70 205 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. p.70 206 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. p.71

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Já sobre a assistência jurídica, MIRABETE207 ensina que:

Nos casos em que a ação penal em andamento, o

advogado poderá interferir diretamente no andamento do

processo e contribuir para uma sentença absolutória e, em

havendo sentença condenatória, poderá propor e

encaminhar devidamente a apelação.

Nesse sentido, dispõe os arts. 15 e 16 da Lei de

Execução Penal:

Art. 15. A assistência jurídica é destinada aos presos e aos

internados sem recursos financeiros para constituir

advogado.

Art. 16. As Unidades da Federação deverão ter serviços de

assistência jurídica nos estabelecimentos penais.

A assistência jurídica deve ser prestada não só aos

presos e aos internados, mas principalmente aos acusados, na fase

probatória ou instrutória de processo-crimes. A grande maioria da

população carcerária não possui advogado particular e fica esquecida

nos estabelecimentos penitenciários.

A assistência educacional compreenderá a instrução

escolar e a formação profissional, com o ensino de primeiro grau sendo

obrigatório.

Assim, dispõem os artigos 17, 18, 19, 20 e 21 da Lei de

Execução Penal:

Art. 17. A assistência educacional compreenderá a

instrução escolar e a formação profissional do preso e do

internado.

207 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. p.73-74. 210 JÚNIOR, Sidio Rosa de Mesquita. Manual de Execução Penal. p. 91-92.

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Art. 18. O ensino de 1º grau será obrigatório, integrando-se

no sistema escolar da Unidade Federativa.

Art. 19. O ensino profissional será ministrado em nível de

iniciação ou de aperfeiçoamento técnico.

Parágrafo único. A mulher condenada terá ensino

profissional adequado à sua condição.

Art. 20. As atividades educacionais podem ser objeto de

convênio com entidades públicas ou particulares, que

instalem escolas ou ofereçam cursos especializados.

Art. 21. Em atendimento às condições locais, dotar-se-á

cada estabelecimento de uma biblioteca, para uso de

todas as categorias de reclusos, provida de livros instrutivos,

recreativos e didáticos.

Já a assistência social é disciplinada nos artigos 22 e 23

da Lei de Execução Penal:

Art. 22. A assistência social tem por finalidade amparar o

preso e o internado e prepará-los para o retorno à

liberdade.

Art. 23. Incumbe ao serviço de assistência social:

I - conhecer os resultados dos diagnósticos ou exames;

II - relatar, por escrito, ao Diretor do estabelecimento, os

problemas e as dificuldades enfrentadas pelo assistido;

III - acompanhar o resultado das permissões de saídas e

das saídas temporárias;

IV - promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis,

a recreação;

V - promover a orientação do assistido, na fase final do

cumprimento da pena, e do liberando, de modo a facilitar

o seu retorno à liberdade;

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VI - providenciar a obtenção de documentos, dos

benefícios da Previdência Social e do seguro por acidente

no trabalho;

VII - orientar e amparar, quando necessário, a família do

preso, do internado e da vítima.

A aplicação do serviço social no campo penitenciário

tem por fins paliativo, curativo, preventivo e construtivo. O paliativo é

quando procura aliviar os sofrimentos advindos do status de condenado.

Já o curativo busca propiciar condições para que o preso viva

equilibradamente e, quando recuperada a liberdade, não volte a

delinqüir. O preventivo visa esclarecer os obstáculos para a reinserção dos

egressos no meio social e por fim, o construtivo visa melhorar as condições

de vida dentro e fora da prisão.210

A LEP preceitua:

Art. 24. A assistência religiosa, com liberdade de culto, será

prestada aos presos e aos internados, permitindo-se-lhes a

participação nos serviços organizados no estabelecimento

penal, bem como a posse de livros de instrução religiosa.

§ 1º No estabelecimento haverá local apropriado para os

cultos religiosos.

§ 2º Nenhum preso ou internado poderá ser obrigado a

participar de atividade religiosa.

Sobre a assistência religiosa, JÚNIOR211 comenta:

A religião exerce uma significativa influência no presídio,

contribuindo para a reintegração de muitos condenados.

Outrossim, em face da esperança de que haverá um futuro

211 JÚNIOR, Sidio Rosa de Mesquita. Manual de Execução Penal. p. 93.

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feliz e eterno, a disciplina do condenado que se torna

seguidor de alguma religião é significamente melhor. Não

bastasse, há uma proteção dos membros dos grupos

religiosos àqueles que se unem ao grupo. Tal proteção faz

com que o ambiente interno do estabelecimento prisional

se torne melhor, mais pacífico.

MIRABETE212 também menciona:

Como o homem é um ser ético, tem necessidade espirituais

das quais pode ou não ter consciência. Se tiver essa

consciência, deverá satisfazê-la e o Estado deverá atendê-

lo; se não tiver, podem ser-lhe oferecidos os socorros

espirituais ou da religião, permitindo-se que os aceite ou

recuse.

A tentativa de reformar o preso através da religião é

antiga, pois foi encontrada desde a época do Império Romano. A idéia

de que clérigos ou monges fossem recolhidos às suas celas nos mosteiros

da Idade Média para se dedicarem à meditação e a se arrependerem da

falta cometida.

Ainda sobre o assunto MIRABETE213 menciona:

Em pesquisa efetuada nos diversos institutos penais

subordinados à Secretaria de Justiça do Estado de São

Paulo por um grupo de trabalho instituído pelo então

secretário Manoel Pedro Pimentel, concluiu-se que a

religião tem, comprovadamente, influência altamente

benéfica no comportamento do homem encarcerado e é

a única variável que contém em si mesma, em potencial a

faculdade de transformar o homem encarcerado ou livre.

212 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. p. 85. 213 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. p. 86.

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Para que as finalidades do serviço de assistência

religiosa alcance os seus objetivos, é preciso que se integrem na

organização de todos os serviços penitenciários, razão pela qual devem

ser eles organizados pelo próprio estabelecimento penal, impedindo

assim, que o trabalho penitenciário seja pertubado.214

3.5 ASPECTOS ESTRUTURAIS DA PENITENCIÁRIA

A pena de prisão teve sua origem nos mosteiros da

Idade Média, fazendo com que os “condenados” se recolhessem às suas

celas para se dedicarem, em silêncio, à meditação.215

Quanto à pena privativa de liberdade, é apontada

três sistemas penitenciários: Sistema Filadélfia (pensilvânico, belga ou

celular), o de Auburn e o Sistema Progressivo (Irlandês ou Inglês).216

Conforme a Lei de Execução Penal, em seus artigos 87

ao 90, mencionam sobre as espécies de estabelecimentos penais

brasileiros e seus aspectos estruturais:

Art. 87. A penitenciária destina-se ao condenado à pena

de reclusão, em regime fechado.

Parágrafo único. A União Federal, os Estados, o Distrito

Federal e os Territórios poderão construir Penitenciárias

destinadas, exclusivamente, aos presos provisórios e

condenados que estejam em regime fechado, sujeitos ao

regime disciplinar diferenciado, nos termos do art. 52 desta

Lei.

Art. 88. O condenado será alojado em cela individual que

conterá dormitório, aparelho sanitário e lavatório.

Parágrafo único. São requisitos básicos da unidade celular:

214 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. p. 87. 215 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. p.249.

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a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores

de aeração, insolação e condicionamento térmico

adequado à existência humana;

b) área mínima de 6,00m2 (seis metros quadrados).

Art. 89. Além dos requisitos referidos no artigo anterior, a

penitenciária de mulheres poderá ser dotada de seção

para gestante e parturiente e de creche com a finalidade

de assistir ao menor desamparado cuja responsável esteja

presa.

Art. 90. A penitenciária de homens será construída, em

local afastado do centro urbano, à distância que não

restrinja a visitação.

Por razões de segurança, determina-se que a

penitenciária de homens seja construída em local afastado do centro

urbano. A possibilidade de motins e fugas exige que assim seja para a

segurança da comunidade que, de outra forma, estaria envolvida em

acontecimentos que poderiam causar-lhes sérios perigos. No entanto a

possibilidade de visitas é fundamental para o processo de reinserção

social.

3.6 RESSOCIALIZAÇÃO OU REINSERÇÃO DO APENADO

Alguns elementos culturais predominantes na prisão

facilita a atividade criminal.

A ressocialização ou reinserção social é um instituto

do Direito Penal, que se insere no espaço próprio da Política Criminal (pós

cárcere), voltada a reintrodução do ex-convicto no contexto social

visando criar o modus vivendi entre este e a sociedade.”218

216 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. p.249 218 FALCONI, Romeu. Sistema Presidial: reinserção Social? São Paulo: Ícone,1998, p. 122.

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A partir do século XVIII, a natureza da prisão se

modificou, pois os resquícios de prisões medievais não existiam

preocupação com a qualidade do recinto nem com a própria saúde do

prisioneiro. A prisão tornou-se então, a essência do sistema punitivo.219

Nesse sentido, FILHO salienta220:

A finalidade do encarceramento passa a ser isolar e

recuperar o infrator. O cárcere infecto, capaz de fazer

adoecer seus hóspedes e matá-los antes da hora, simples A

prisão acessórios de um processo punitivo baseado no

tormento físico, é substituído pela idéia de um

estabelecimento público, severo, regulamentado,

higiênico, intransponível, capaz de prevenir o delito e

ressocializar quem o comete.

Ainda sobre o assunto, SÁ221 comenta:

Constituído por normas práticas de comportamento

criadas, recriadas, testadas e selecionadas no cotidiano

das relações prisionais, o código de conduta contribui para

a “ordem” no universo carcerário, definindo e firmando o

grau de prestígio de seus personagens, estabelecendo

hierarquias, criando sistemas de auto e heteroproteção,

consolidando liderança e fixando mecanismos de adesão

ao mundo delinqüente.

Especialistas acreditam que a qualidade de vida é

obtida, pelas pessoas, através de qualidade e motivação.222

COSTA 223 menciona:

219 FILHO. Luis Francisco Carvalho. A prisão. São Paulo: Publifolha, 2002. p. 21. 220 FILHO. Luis Francisco Carvalho. A prisão. p. 21 221 Sá. Geraldo Ribeiro de. A prisão dos excluídos. p. 174. 222 COSTA. Alexandre Marino. O trabalho prisional e a reintegração social do detento. p. 73.

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No caso do presídio de Florianópolis, o principal tipo de

qualidade que motiva os presos é a qualidade de vida, ou

seja, boa alimentação, educação, condições de estadia e,

principalmente, o trabalho.

BITENCOUT224 também menciona:

As mazelas da prisão não são privilégios apenas de países

de terceiro mundo. De modo geral, as deficiências

prisionais compendiadas na literatura especializada

apresentam muitas características semelhantes: maus-

tratos verbais (insultos, grosserias, etc.) ou de fato (castigos

sádicos, crueldades injustificadas e vários métodos sutis de

fazer o recluso sofrer sem incorrer em evidente violação do

ordenamento etc.);

A superpopulação carcerária leva a uma drástica

redução do aproveitamento de outras atividades que o centro penal

deve proporcionar (a população excessiva reduz a privacidade do

recluso, facilita grande quantidade de abusos sexuais e de condutas

inconvenientes).225

A falta de higiene e grande quantidade de insetos e

parasitas, podem significar uma inaceitável exploração dos reclusos ou o

ócio completo.

A deficiência nos serviços médicos, assistência

psiquiátrica deficiente ou abusiva , o regime alimentar deficiente; elevado

índice de consumo de drogas, muitas vezes originado pela venalidade e

corrupção de alguns funcionários penitenciários que permitem ou até

realizam o tráfico internacional de drogas; reiterados abusos sexuais nos

223 COSTA. Alexandre Marino. O trabalho prisional e a reintegração social do detento. p. 73. 224 BITENCOURT. César Roberto. Falência da pena de prisão. p. 156.

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quais normalmente levam a pior os jovens reclusos recém-ingressos, sem

ignorar, evidentemente, os graves problemas de homossexualismo e

onanismo; ambiente propício à violência, em que impera a utilização de

meios brutais, onde sempre se impõe o mais forte.

O crime é o comportamento humano ao qual

corresponde uma modalidade de punição, no entanto, a Lei de

Execução Penal “promete” muitos direitos.226

Nesse sentido, FILHO227 menciona:

Ela promete alimentação, vestuário, e instalações

higiênicas, atendimento médico, assistência jurídica,

assistência educacional e preservação dos direitos não

atingidos pela perda da liberdade. Vejamos, no entanto,

algumas das principais causas de rebelião nos presídios

brasileiros: “deficiência da assistência judiciária”, “violências

ou injustiças praticadas dentro do estabelecimento

prisional”, “superlotação carcerária”, falta ou má

qualidade da alimentação e de assistência médico-

odontológico”

Sobre os argumentos que indicam a ineficácia da

pena privativa de liberdade, BITENCOURT228 menciona partindo de duas

premissas:

a) Considera-se que o ambiente carcerário, em razão de

sua antítese com a comunidade livre, converte-se em meio

artificial, antinatural, que não permite realizar nenhum

trabalho reabilitador sobre o recluso. Não se pode ignorar a

dificuldade de fazer sociais aos que, de forma simplista,

225 BITENCOURT. César Roberto. Falência da pena de prisão. p. 156. 226 FILHO. Luis Francisco Carvalho. A prisão. p. 51. 227 COSTA. Alexandre Marino. O trabalho prisional e a reintegração social do detento. p. 74 228 BITENCOURT. César Roberto. Falência da pena de prisão. p. 154

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chamamos de anti-sociais, se os dissocia da comunidade

livre e ao mesmo tempo se os associa a outros anti-sociais.

Nesse sentido manifesta-se Antônio Garcia Pablos y

Molina229, afirmando que a “pena não ressocializa, mas estigmatiza, que

não limpa, mas macula, [...] que é mais difícil ressocializar a uma pessoa

que sofreu uma pena do que outra que não teve essa amarga

experiência [...].

b) Sob o outro ponto de vista, menos radical, porém

igualmente importante, insiste-se que maior parte das

prisões do mundo as condições materiais e humanas

tornam-se inalcançável o objetivo reabilitador. Não se trata

de uma objeção que se origina na natureza ou na

essência da prisão, mas que se fundamenta no exame das

condições reais e, que se desenvolve a execução da pena

privativa de liberdade.

COSTA230 explica:

É a motivação que faz o ciclo da quantidade fluir

livremente de modo que o presídio possa não só funcionar

adequadamente, assegurando a sobrevivência, a

integridade e o processo de ressocialização do preso, mas,

sobretudo juntamente com estes, assegurar o contínuo

aprimoramento da instituição através da flexibilidade e

adaptabilidade à conjuntura do meio-ambiente.

Quando se fala da falência da prisão é o seu efeito

criminógeno, nesse sentido BITENCOURT231 afirma que:

229 BITENCOURT, apud MOLINA. Antônio Garcia Pablos y. La ressocialización Del delincuente. P. 91 230 COSTA. Alexandre Marino. O trabalho prisional e a reintegração social do detento. p. 74 231 BITENCOURT. César Roberto. Falência da pena de prisão. p. 157.

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Considera-se que a prisão, em vez de frear a delinqüência,

parece estimulá-la, convertendo-se em instrumento que

oportuniza toda a espécie de desumanidade. Não traz

nenhum benefício ao apenado, possibilita toda a sorte de

vícios e degradações.

Os fatores sociais no ambiente criminológico ocasiona

uma desadaptação tão profunda que resulta difícil conseguir a reinserção

social do delinqüente. O isolamento profundo e sofrido juntamente com a

chantagem que poderiam fazer os antigos companheiros de cela, são

fatores decisivos para a incorporação no mundo criminal.232

FILHO233 salienta:

Um dos desafios do Brasil é justamente elaborar uma

política criminal que delimite com clareza e racionalidade

o futuro de suas prisões. Apesar de avanços recentes

relacionados com a punição de delitos menos graves, a

tendência das autoridades, pressionadas pela opinião

pública e pela mídia, tem sido a de recrudescer.

O sentimento de impunidade que percorre toda a

esfera social também estimula os Tribunais a agir com mais rigor. Jovens

“trombadinhas” estão sendo punidos como assaltantes violentos, perigosos

e ameaçadores. Vão para a prisão, saem daqui a alguns anos sem

perspectiva, e muito mais preparados para agir como assaltantes violentos

e ameaçadores.234

BITECOURT 235ensina:

232 BITENCOURT. César Roberto. Falência da pena de prisão. p. 159. 233 FILHO. Luis Francisco Carvalho. A prisão. p. 72. 234 FILHO. Luis Francisco Carvalho. A prisão. p. 73. 235 BITENCOURT. César Roberto. Falência da pena de prisão. p. 161.

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Um dos dados freqüentes referidos como de efetiva

demonstração do fracasso da prisão são os altos índices de

reincidência, apesar da presunção de que durante a

reclusão os internos são submetidos a tratamento

reabilitador. As estatísticas de diferentes países são pouco

animadores, tal como refletem as seguintes: nos Estados

Unidos as cifras de reincidência oscilam entre 40 e 80%. Na

Espanha, o percentual médio de reincidência entre 1957 e

1973, foi de 60,3%. Na Costa Rica, mais recentemente, foi

encontrado o percentual de 48% de reincidência.

Apesar dos dados estatísticos, é inquestionável que a

delinqüência não diminui e que o sistema penitenciário tradicional não

consegue reabilitar o delinqüente, ao contrário, serve apenas para

reforçar os valores negativos do condenado.236

Conclui-se, dessa forma, que a ressocialização do

apenado torna-se inexitosa devido a não aplicação dos preceitos

constantes na Lei de Execução Penal.

236 BITENCOURT. César Roberto. Falência da pena de prisão. p. 161