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1 PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – USJ CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS SAMANTA FERREIRA A RESPONSABILIDADE CIVIL DO PROFISSIONAL DA ÁREA CONTÁBIL PERANTE O CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO São José/SC. 2011

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1

PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – USJ

CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

SAMANTA FERREIRA

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO PROFISSIONAL DA ÁREA CONTÁBIL

PERANTE O CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

São José/SC.

2011

2

PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – USJ

CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

SAMANTA FERREIRA

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO PROFISSIONAL DA ÁREA CONTÁBIL

PERANTE O CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

SÃO JOSÉ/SC.

2011

Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito final à aprovação no Curso de Ciências Contábeis do Centro. Universitário Municipal de São José - USJ. Orientador: Prof.Dr. Edson Telê Campos.

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SAMANTA FERREIRA

A RESPONSABILIDADE CIVIL DO PROFISSIONAL DA ÁREA CONTÁBIL

PERANTE O CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito final para a aprovação no Curso de Ciências Contábeis do Centro Universitário Municipal de São José – USJ.

Avaliado em 08 de dezembro de 2011 por:

_______________________________

Professor Dr. Edson Telê Campos Curso de Ciências Contábeis – USJ

Orientador

________________________________

Professor Msc.Ednaldo Vilela Curso de Ciências Contábeis – USJ

Membro Examinador

________________________________

Professora Msc.Andrea Maria Barbato Uniasselvi

Membro Examinador

4

Dedico este trabalho aos meus pais: minha mãe Maria da Glória e meu pai Moisés, os quais amo muito e pelo exemplo de vida! Aos meus irmãos, por tudo que me ajudaram até hoje e por acreditarem no meu potencial. Ao meu esposo Anderson, pelo amor, pelo estímulo, compreensão e companheirismo.

5

AGRADECIMENTOS

Agradecimentos de alguém que sempre precisou do “outro” para vir a ser ou

tornar-se mais.

Agradeço em primeiro lugar a Deus pelo dom da vida!Por ter me dado forças

e coragem para que pudesse concluir mais uma etapa de minha vida.

A toda minha família pelo apoio e compreensão! À minha mãe Maria da Glória

e meu pai Moisés, por acreditarem em minha capacidade e persistência durante os

anos de formação e, aos meus irmãos pelo carinho, atenção; sua força e coragem

são os meus exemplos na jornada da vida.

Agradeço ao meu esposo Anderson que, de forma especial e carinhosa, me

deu força e coragem, apoiando-me nos momentos de dificuldades. Tua postura firme

contribuiu para o meu crescimento.

Ao meu orientador, professor Edson Telê Campos, pelo ensinamento e

dedicação dispensados no auxilio à concretização deste trabalho. Seu compromisso

e seriedade profissional me deram segurança na caminhada!

A todos os professores do curso de Ciências Contábeis, pela paciência,

dedicação e ensinamentos, disponibilizados nas aulas; cada um de forma especial

contribuiu para a conclusão desse trabalho e, consequentemente, para minha

formação profissional. Obrigada, por terem acreditado na minha capacidade de

produção intelectual!

Aos meus amigos, pelo carinho e compreensão! Obrigada, por sua

sensibilidade e solidariedade!

Por fim, a todos que contribuíram direta ou indiretamente à realização deste

trabalho. Vocês, como irmãos de coragem e andarilhos da fé, obrigada, por suas

participações tão importantes na construção desta caminhada! Sem vocês, não seria

possível sedimentá-la!

6

Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.

Chico Xavier

7

RESUMO

No dia 10 de janeiro de 2002 o Congresso Nacional aprovou a Lei nº. 10.406, o atual Código Civil Brasileiro. Com ele, foram introduzidas algumas alterações nos procedimentos contábeis das empresas, bem como em relação à responsabilidade do contabilista. Isto pode auxiliar, em muito, o assessoramento contábil para os gestores das empresas. O presente trabalho de conclusão do curso de Ciências Contábeis teve seu objetivo pautado na demonstração da responsabilidade civil do profissional contábil no exercício de sua profissão, aliado ao seu comportamento ético, trazendo de forma clara a Responsabilidade Solidária, onde o Contabilista (preposto) e terceiros (preponentes) estão sujeitos a responderem por atos culposos e/ou dolosos. Situação essa, que demanda profissionais mais bem preparados. A pesquisa foi realizada através de levantamento bibliográfico, a fim de obter um resultado qualitativo. Desta forma, percebeu-se que as alterações pertinentes ao profissional contábil, consistem no tratamento do contabilista como preposto, fazendo com que o mesmo responda pessoal e solidariamente, perante a empresa e terceiros, inclusive, com o patrimônio pessoal. Destaca-se, também, as determinações quanto à escrituração contábil e fiscal. Essas mudanças implicam na melhoria da qualidade das informações de negócio, promovendo maior transparência, beneficiando os controles internos da corporação e valorizando a classe perante a sociedade como um todo. Palavras-chave: Responsabilidade civil; Ética profissional; Profissional contábil; Código civil brasileiro.

8

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 10

2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 12

3 PROBLEMÁTICA E OBJETIVOS .................................................................... 14

3.1 Pergunta de pesquisa ..................................................................................... 14

3.2 Objetivos ......................................................................................................... 14

3.2.1 Objetivo geral .................................................................................................... 14

3.2.2 Objetivos específicos ........................................................................................ 14

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ......................................................... 15

4.1 Modalidade da pesquisa ................................................................................ 15

4.2 Coleta de dados .............................................................................................. 16

4.3 Análise e interpretação .................................................................................. 16

4.4 Ambiente de pesquisa .................................................................................... 17

5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................ 18

5.1 A contabilidade ............................................................................................... 18

5.1.1 A contabilidade no Brasil .................................................................................. 19

5.1.2 O profissional contábil ....................................................................................... 24

5.2 Ética ................................................................................................................. 27

5.3 Responsabilidade civil ................................................................................... 30

5.3.1 Espécies de responsabilidade .......................................................................... 32

5.3.1.1 Responsabilidade Civil e Penal ................................................................. 33

5.3.1.2 Responsabilidade civil contratual e extracontratual .................................. 34

5.3.1.3 Responsabilidade civil objetiva e subjetiva ............................................... 36

5.3.2 Elementos da responsabilidade civil ................................................................. 38

6 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO PROFISSIONAL CONTÁBIL .................. 43

6.1 Responsabilidade do profissional contábil como preposto ....................... 45

9

6.2 Responsabilidade civil quanto à escrituração contábil e fiscal ................. 47

6.3 Responsabilidade civil quanto aos balanços e assinaturas em

documentos ............................................................................................................. 48

6.4 Responsabilidade civil quanto obrigatoriedade do livro diário .................. 49

6.5 A responsabilidade do profissional da contabilidade perante código civil

brasileiro .................................................................................................................. 49

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 51

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 54

ANEXO A - Código civil brasileiro – dos prepostos e da escrituração .............. 58

ANEXO B - Código de ética profissional do contador ......................................... 65

10

1 INTRODUÇÃO

Segundo o Conselho Federal de Contabilidade (2000) “a Globalização é

caracterizada por um novo tipo de arranjo social, por uma economia em escala

global e pela evolução do mercado capitalista. Também é conhecida como a “era da

informação”. Sua ascensão está fundamentada nos avanços da comunicação e pelo

estabelecimento de novos paradigmas de produtividade e competitividade.” A

necessidade de adaptação a esse mundo globalizado e aos avanços da sociedade

brasileira nos últimos anos, nos remete à utilização do Código Civil, enquanto lei

geral. É uma ferramenta muito antiga. Ela serve de base à sociedade para ser

administrada com respeito e igualdade para todos. Em conseqüência das grandes

transformações na sociedade, sob diversos e relevantes aspectos, temos que ter

uma base de parâmetros de acordo com a nossa realidade. Assim, se deu o projeto

de mudança do Código Civil, até mesmo pela complexidade e subjetividade trazida,

em vários momentos, pelo código de 1916.

O atual Código Civil entrou em vigor em 11 de janeiro de 2003 e, trouxe

várias alterações nas relações dos contabilistas com seus clientes, principalmente,

no que diz respeito a sua responsabilidade quando da elaboração de relatórios e

prestação de informações para tomada de decisão. O Código Civil (Lei 10.406/2002)

estabelece que o profissional de contabilidade poderá responder por culpa ou dolo

no desempenho de sua função.

Conforme disposto, percebe-se que as responsabilidades do contador

aumentaram. O Código traz dezoito artigos específicos, artigos 1.177 a 1.195 da

seção III "Do Contabilista e outros auxiliares", que tratam especificamente da

profissão do Contabilista e definem sua responsabilidade civil pelos atos relativos à

escrituração contábil e fiscal praticados por este e quando houver danos a terceiros.

Estes asseguram à categoria, suas prerrogativas profissionais, mostrando à

sociedade a responsabilidade dos contabilistas. O profissional da área contábil será

responsabilizado pessoal e solidariamente perante a empresa e terceiros, inclusive,

com o patrimônio pessoal. Responderá pessoalmente se praticar atos considerados

culposos e solidariamente em caso de prática de atos dolosos.

Assim, o contador é tratado como preposto do sócio numa sociedade e

responde à empresa ou ao Empresário pelos atos praticados com culpa, ou seja,

11

quando não há intenção de provocar o dano no exercício de sua atividade, mas o

provoca por imperícia, negligência ou imprudência ou com dolo, quando o contador

praticar atos com intenção ou assumindo o risco de danos, denominados dolosos.

Diante do exposto, a presente pesquisa vem tratar das questões relacionadas

à ética, ao comportamento e a postura do contador, demonstrando a

responsabilidade civil do profissional no exercer de suas atribuições com base no

atual Código Civil e leis pertinentes a profissão. Este assunto é de crescente

interesse no meio jurídico e contábil, pois além do aspecto técnico, a

responsabilidade do profissional contábil está inserida também no âmbito legal, no

que diz respeito às questões que envolvem crimes contra a ordem tributária e

previdenciária.

Ressalta-se que, para a verificação da efetiva ocorrência da

responsabilização civil do contador, há de se observar: a conduta antijurídica, a

existência de um dano e a relação de causalidade entre a conduta e o dano.

Contudo, para tal verificação, buscou-se com a presente pesquisa a conceituação

das espécies de responsabilidade civil quanto ao seu fato gerador (contratual e

extracontratual), quanto ao seu fundamento (objetiva e subjetiva) e seus elementos.

Para atingir o objetivo geral deste trabalho, que se delimita em demonstrar a

responsabilidade civil do profissional da área contábil perante o Código Civil

Brasileiro, a pesquisa realizada se caracteriza como básica, qualitativa, descritiva e

bibliográfica.

De acordo com os critérios propostos por Gil (2007), a metodologia de

pesquisa quanto aos fins é descritiva e com relação aos meios bibliográfica.

Descritiva, pois tem a pretensão de descrever as responsabilidades do profissional

contábil e bibliográfica, pois foi realizada através do estudo sistematizado de livros,

revista, redes eletrônicas, isto é, material acessível ao público em geral, os quais

fornecem base teórica para trabalho.

Por fim, a apresentação do atual Código Civil torna bastante oportuna à

reflexão e à avaliação das mudanças que repercutirão no dia-a-dia de todos os

cidadãos brasileiros, principalmente na rotina dos profissionais da área contábil. Por

isso, esta pesquisa apresenta dentro do contexto legal da contabilidade e do direito,

a definição de responsabilidade civil do profissional contábil diante da legislação

vigente.

12

2 JUSTIFICATIVA

A palavra responsabilidade “designa, em direito, a obrigação de responder

por ato praticado. Situação do indivíduo que viola uma norma ética ou jurídica e se

encontra exposto a sofrer as consequências de seu ato” (NOVA ENCICLOPÉDIA

BARSA, 1988, p.324).

De Plácido e Silva (1980), em seu Dicionário Jurídico, define que o termo

responsabilidade exprime a obrigação de responder por alguma coisa. Significa a

obrigação de executar o ato jurídico, que se tenha convencionado ou a obrigação de

satisfazer a prestação ou de cumprir o fato atribuído ou imputado à pessoa por

determinação legal.

Já o termo civil refere-se ao cidadão, considerado desta forma nas suas mais

diversas relações existentes com os demais membros da sociedade, cuja relação

resulta de direitos a exigir, bem como as obrigações a cumprir. (DE PLÁCIDO E

SILVA, 1980).

A Responsabilidade Civil é a obrigação que o agente tem de responder legal

ou moralmente por seus próprios atos ou por atos de outrem, ressarcir e reparar

danos materiais e morais ou prejuízos causados, através de uma indenização.

“A responsabilidade civil é de ordem patrimonial e decorre do artigo 186 do

Código Civil, que consagra a regra, aceita universalmente, segunda a qual todo

aquele que causa dano a outrem é obrigado a repará-lo”. (Di Pietro 2008, p. 577).

O artigo186 do Código Civil (lei 10.406, 2002) dispõe que: “Aquele que, por

ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano

a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Em complementação a

este, o artigo 927 do Código Civil (lei 10.406, 2002), menciona que aquele que

causar dano, independente de culpa, tem a obrigação de repará-lo.”

A Responsabilidade Civil tem uma função reparadora ou indenizatória e

também garante segurança ao lesado.

Quanto ao fato gerador, a responsabilidade civil do profissional contábil se

classifica como responsabilidade civil contratual, ou seja, surge como efeito de uma

obrigação entre as partes. A contratação dos serviços contábeis por escrito serve

como garantia para estabelecer os limites da responsabilidade profissional.

Destinado a regulamentar os interesses das partes envolvidas, o contrato é um

13

acordo em conformidade com a ordem jurídica. Tem a finalidade de comprovar os

limites e o desempenho das obrigações assumidas. De acordo com a resolução do

Conselho Federal de Contabilidade nº. 960/03 artigo 24 o profissional contábil que

deixar de cumprir essa formalidade será autuado:

Artigo 24. Constitui infração: XIV- Deixar de apresentar prova de contratação dos serviços profissionais, quando exigida pelo CRC, a fim de comprovar os limites e a extensão da responsabilidade técnica perante cliente ou empregador, ou ainda, e quando for o caso, servir de contraprova em denúncias de concorrência desleal. Parágrafo único. O CFC classificará as infrações segundo a freqüência e a gravidade da ação ou omissão, bem como os prejuízos dela decorrentes. Artigo 25. As penas consistem em: I- Multas; II- Advertência reservada; III- Censura reservada; IV- Censura publica; V- Suspensão do exercício profissional; VI- Cancelamento do registro profissional.

O contabilista será responsável no exercício de sua profissão, quando não

agir em conformidade com as regras relativas à sua profissão, devendo indenizar as

perdas e danos decorrentes de seus atos.

Diante disso, é necessário que o profissional contábil esteja preparado para

as normas estabelecidas pelo atual Código Civil Brasileiro, pois, no desempenho de

sua função, esta tão essencial para o mundo dos negócios, ele está sujeito a

equívocos, erros e omissões, que podem, eventualmente, responsabilizá-los, sejam

eles por culpa ou dolo.

A escolha do presente tema busca demonstrar para os profissionais

contábeis, como também à comunidade universitária e aos utilizadores deste

serviço, a responsabilidade civil do contabilista no exercício de sua função. Tem a

finalidade de alertar aos acadêmicos, profissionais e a sociedade das possíveis

sanções que a falta deste possa causar aos seus clientes e terceiros.

14

3 PROBLEMÁTICA E OBJETIVOS

3.1 Pergunta de pesquisa

Com o passar do tempo aumentou a necessidade da transparência das

informações prestadas pelo contador ao mercado. O Código Civil, promulgado pela

Lei 10.406 em 10 de janeiro de 2002, veio deixar mais claro as responsabilidades do

contador, classificando-as em atos culposos ou dolosos, dependendo da forma

como esse ato for praticado. Diante do tema apresentado, resta o seguinte problema

de pesquisa: Qual é a responsabilidade civil do profissional contábil no desempenho

das suas atribuições profissionais perante o Código Civil?

3.2 Objetivos

3.2.1 Objetivo geral

Entender a responsabilidade civil do profissional da área contábil no exercício

de sua profissão, diante do atual Código Civil Brasileiro.

3.2.2 Objetivos específicos

− Apresentar a evolução da profissão de contabilidade;

− Citar as atribuições do profissional contábil;

− Descrever as responsabilidades civis do profissional no exercício de sua

profissão, conforme Código Civil Brasileiro.

15

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para desenvolvimento da pesquisa fez-se, de acordo com os objetivos

traçados, a definição dos procedimentos metodológicos adotados.

A seguir classificam-se os procedimentos metodológicos que nortearam a

presente pesquisa quanto às modalidades de pesquisa, coleta de dados, análise e

interpretação e ao ambiente de pesquisa.

4.1 Modalidade da pesquisa

Quanto à natureza, esta pesquisa é do tipo básica, ou seja, busca-se o

conhecimento para fim intelectual. Portanto, está pesquisa não finda a aplicação

prática do conhecimento adquirido para a solução de um problema. A demonstração

da responsabilização civil do profissional contábil perante o Código Civil Brasileiro,

através da presente pesquisa, tem como finalidade a satisfação da necessidade

intelectual pelo conhecimento

A pesquisa básica objetiva produzir conhecimentos novos, úteis para o

avanço da ciência sem aplicação prática prevista. Envolve verdades e interesses

universais (GIL apud SILVA, 2007, p. 04).

Quanto à abordagem do problema, pode-se identificar a pesquisa como

qualitativa, pois a coleta de dados busca o aprofundamento de conhecimentos da

responsabilidade civil, limitado a área contábil. Para tal, não é necessário a

utilização de métodos e técnicas estatísticas; apenas a utilização de técnicas de

dados com busca e aprofundamento sobre o tema abordado. Conforme Neves

(1996, p. 01):

[...] A pesquisa qualitativa costuma ser direcionada, ao longo de seu desenvolvimento; além disso, não busca enumerar ou medir eventos e, geralmente, não emprega instrumental estatístico para análise dos dados; seu foco de interesse é amplo e parte de uma perspectiva diferenciada da adotada pelos métodos quantitativos.

16

Quanto à realização dos objetivos a presente pesquisa é descritiva, pois

pretende aprofundar-se em um determinado assunto, ou seja, visa aprofundar-se

nas questões relacionadas à responsabilidade civil do profissional da área contábil

perante o Código Civil Brasileiro. De acordo com GIL (2007, p.44) “as pesquisas

deste tipo têm como objetivo primordial a descrição de determinada população ou

fenômeno ou o estabelecimento de relações entre as variáveis”.

Quanto aos procedimentos técnicos para obtenção de dados esta pesquisa é

de cunho bibliográfico, pois se utilizou somente de material já publicado, ou seja,

livros, artigos e informações disponibilizadas na Internet na área de ciências

contábeis e de direito. Segundo GIL (2007, p.65) “a pesquisa bibliográfica é

desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e

artigos científicos.”

4.2 Coleta de dados

A principal forma de coleta de dados é a leitura, através de fontes

bibliográficas do tipo livros, artigos e informações disponibilizadas na internet no

campo contábil e de direito. Foi pesquisada a história da contabilidade, o

desenvolvimento da contabilidade no Brasil, o código de ética do profissional

contábil, os conceitos de responsabilidade civil, o código civil brasileiro, a

responsabilidade civil do contabilista, etc.

Gil (2007) afirma “que nas pesquisas bibliográficas o trabalho de consulta à

biblioteca tende a se tornar mais intenso, pois é justamente na biblioteca que se

processa as coleta de dados.”

4.3 Análise e interpretação

Após levantamento bibliográfico para conhecimento do tema, realizou-se a

análise dos dados com vista aos objetivos traçados; assim, pode-se constatar a

suficiência de informações. Posteriormente, fez-se a interpretação dos dados

reunidos a fim de responder a pergunta problema, ou seja, buscou-se esclarecer o

tema abordado, demonstrando através da pesquisa realizada a responsabilidade

civil do profissional contábil, conforme alterações do código civil, promulgado pela

Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002.

17

4.4 Ambiente de pesquisa

A literatura contábil e de direito formam o ambiente de pesquisa do atual

trabalho. É através de informações literárias e com a finalidade de se tornar fonte de

informação que esta pesquisa foi desenvolvida.

As mudanças ocorridas no Código Civil Brasileiro de 11 de janeiro de 2003

nortearam essa pesquisa, pois as mudanças instituídas através deste, ampliaram

severamente as responsabilidades do profissional contábil, podendo o profissional

contábil responder, pessoal e solidariamente, perante a empresa e terceiros. Essas

alterações se tornaram um assunto de crescente interesse no meio jurídico e

contábil, a partir do qual se realizou uma pesquisa qualitativa, a fim de aprofundar-se

no tema e, assim, definir tal responsabilização do profissional da área contábil

perante o Código Civil Brasileiro.

18

5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

5.1 A contabilidade

A contabilidade faz parte da evolução e do desenvolvimento do próprio ser

humano e da sociedade. A contabilidade surgiu da necessidade do homem

acompanhar e controlar a evolução de seu patrimônio; é tão antiga quanto à própria

história da civilização.

Segundo Iudícibus (2000, p. 29) descreve “que a contabilidade é tão antiga

quanto à origem do homem pensante. Historiadores remontam os primeiros sinais

da existência de contas, aproximadamente, há 4000 anos A.C. Entretanto, talvez

antes disto, o homem primitivo, ao inventariar o número de instrumentos de caça e

pesca disponíveis, ao contar seus rebanhos, já praticavam uma forma rudimentar de

contabilidade.

A origem da contabilidade está relacionada à necessidade de registros do

comércio, pois à medida que o homem começava a possuir maior quantidade de

seus bens e valores, preocupava-se em saber quanto poderia render e, qual a forma

mais simples de aumentar as suas posses. Como tais informações, eram cada vez

mais numerosas e de difícil memorização, surgiu a necessidade dos registros,

gerando os primeiros esboços para os estudos voltados à contabilidade.

Conforme Calderelli (apud HOOG, 2007, p. 31), “a contabilidade é uma das

mais antigas ciências sociais. Desde o homem primitivo, os acontecimentos eram

assinalados de forma rudimentar em: murais, pedras, placas, tábuas, etc., a fim de

evitar lapsos de memória no controle da riqueza”.

A contabilidade se tornou um sistema de informação que tem como objetivo

fornecer informações úteis aos diversos interessados, como: administradores,

acionistas, funcionários, sindicatos e todos aqueles interessados na continuidade da

Empresa, auxiliando-os para uma melhor tomada de decisão. O governo utiliza a

informação contábil na arrecadação de impostos; os administradores, para um

melhor planejamento; já os acionistas se interessam pelos lucros ou dividendos que

lhe cabem; para os funcionários, a informação contábil é útil nas suas reivindicações

19

salariais, através dos seus sindicatos. Deste modo, o objeto de estudo da

contabilidade é o patrimônio das entidades, sejam elas com ou sem fins lucrativos.

Segundo Padoveze (1996, p. 29), define a contabilidade “como o sistema de

informação que controla o patrimônio de uma entidade”.

A mensuração do patrimônio e a tomada de decisões são possíveis diante

dos dados fornecidos à empresa através das demonstrações contábeis.

Desta forma, a contabilidade procura entender as modificações sofridas pelo

patrimônio, qual a evolução do patrimônio, quais os mecanismos que contribuem

para essa evolução e, por meio de registros, balanços, auditorias e a divulgação das

demonstrações financeiras, auxiliar na escolha da melhor decisão. Segundo

Iudícibus (2000. p. 23), “Os objetivos básicos da contabilidade podem ser resumidos

no fornecimento de informações econômicas para os vários usuários, de forma que

propiciem decisões racionais”.

5.1.1 A contabilidade no Brasil

Extenso é o período de desenvolvimento contábil no Brasil; portanto, serão

apenas citados os fatos mais marcantes em todo o processo. Segundo Paulo

Schmidt (2000) “expõe que a Contabilidade brasileira pode ser dividida em dois

grandes momentos: o período que vai desde o Descobrimento do Brasil, até o ano

de 1964; e o período que se inicia em 1964, quando é introduzido um novo método

de ensino da Contabilidade no país.”

Sobre a primeira etapa, pode-se dizer que de 1500 até 1822; ano em que foi

proclamada a Independência do Brasil pelo príncipe regente D. Pedro I; o Brasil não

passou por grandes avanços. Esse período é conhecido na história como Colonial.

O Brasil passou pelo ciclo do pau-brasil, da cana-de-açúcar e da exploração

do ouro, durante o qual se iniciou um inédito movimento migratório que evidenciou a

necessidade de maior controle das riquezas. Assim, Furtado (1988) narra, que “em

1702 foi criada pelo Governo a Intendência de Minas que tinha como missão dirigir a

exploração, fiscalizar e cobrar tributos em todas as capitanias onde houvesse

mineração. É dessa época o estabelecimento de pagamento da quinta parte (o

quinto) da extração como taxação sobre o ouro. Para melhorar a cobrança de

tributos e tentar evitar a sonegação dos impostos, cuja carga era alta para os

20

mineradores, foram criadas as Casas de Fundição e da Moeda em Vila Rica, no ano

de 1719, onde o ouro era fundido e cunhado.”

Neste contexto histórico, uma das mais importantes manifestações contábeis

brasileiras ocorreu no ano de 1808, conforme Schmidt (2000), quando da chegada

da corte portuguesa ao país. Foi com a publicação de um alvará que obrigava os

Contadores Gerais da Real Fazenda a aplicar o método de partidas dobradas na

escrituração mercantil.

Considera-se, também, outro fato importante: em 1809, José da Silva Lisboa,

também conhecido como Visconde de Cairu, que foi um dos articuladores da

abertura dos portos brasileiros, apresentou o primeiro sistema de direito comercial e

realizou os primeiros estudos de economia política do Brasil, criando a primeira

Cadeira de Aula de Comércio no Rio de Janeiro. (SCHMIDT, 2000).

Já no período do Brasil Independente (de 1822 a 1889) Schmidt (2000) afirma

“que uma das primeiras grandes manifestações da legislação foi a criação, em 1850,

do Código Comercial que estabeleceu a obrigatoriedade da escrituração contábil e

da elaboração da demonstração do Balanço Geral, anualmente. Estabelecia que o

balanço deveria conter os bens, direitos e obrigações das empresas comerciais.

Segundo D’ Áuria (1948), o Código Comercial Brasileiro, de 1850, qualifica o

guarda-livros como preposto do comerciante. Salienta que somente nos últimos

anos a profissão de contador é considerada legalmente, tendo sido medida

complementar a criação do Conselho Federal de Contabilidade e seus registros, nos

Estados. Hoje é obrigatório o registro dos profissionais, para que possam exercer,

legalmente, a função de contador.

No âmbito da formação profissional, segundo Schmidt (2000), um dos

momentos mais marcantes foi a criação do Instituto Comercial do Rio de Janeiro no

ano de 1856, que a partir de 1863 passou a conter a disciplina de Escrituração

Mercantil para melhor qualificar seus alunos na prática dos registros contábeis.

O Código Comercial Brasileiro sofreu algumas correções através da lei nº

1083, dentre essas alterações, foi estipulado que às empresas deveriam publicar e

enviar ao Governo, em prazos determinados os balanços e as demonstrações

contábeis, e após várias tentativas de implantação do Imposto de Renda, no ano de

1867, este imposto readquiriu força, com base na Lei 514 de 28 de outubro de 1848.

21

Silva e Martins (2007), destaca que: “é revigorado o imposto de 3% sobre os

vencimentos e introduz o imposto de 1,5%sobre os benefícios que as sociedades

anônimas distribuíam, anualmente, aos acionistas.”

Após a Proclamação da República uma série de eventos influenciou o

desenvolvimento da Contabilidade no Brasil, dentre eles: a criação de um curso

regular que oficializava a profissão contábil pelo Grêmio dos Guarda-Livros de São

Paulo; fato digno de nota pelo momento em que ocorre visto que o Brasil passava

por um período de evolução do desenvolvimento agrícola e expansão inicial da

indústria. Em 1902 surge a Escola Prática de Comércio que conta com o apoio de

inúmeras personalidades e instituições sob a influência da escola italiana. Vale

ressaltar que Francisco D’Auria e Frederico Hermann Júnior foram alunos dessa

escola. Outro ponto de destaque foi o reconhecimento oficial dos cursos de Guarda-

Livros e de Perito-Contador da Escola Prática de Comércio em 1905. (SCHMIDT,

2000).

Fato que se observa é a publicação, em 1931, no Diário Oficial da União, do

Decreto nº. 20.158 que organizou o ensino comercial e regulamentou a profissão de

Contador. Somente em 1940 surge a primeira Lei das Sociedades por Ações,

publicada no Decreto-Lei nº. 2.627, que estabelecia procedimentos para a

Contabilidade nacional como regras para a avaliação dos ativos e apuração e

distribuição dos lucros, criação de reservas e padrões para a publicação do balanço

demonstração de lucros e perdas.

Seguindo a sequência cronológica, em 1946, ocorreram dois eventos

significativos para o desenvolvimento da Contabilidade no Brasil foram: a fundação

da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade de São

Paulo que instituiu o Curso de Ciências Contábeis e Atuariais e que foi de

fundamental importância porque surgia, assim, um centro de pesquisas totalmente

nacional e, a criação do Conselho Federal e dos Conselhos Regionais de

Contabilidade pelo Decreto-Lei nº. 9.295. “Essa primeira fase de desenvolvimento da

Contabilidade nacional foi marcada por dois aspectos relevantes: a intervenção da

legislação no desenvolvimento de procedimentos contábeis e a influência das

escolas italianas” (SCHMIDT, 2000, p.209).

Através do Decreto-Lei 9.295 de 27 de maio de 1946, foram criados os

Conselhos Federal e Regionais de Contabilidade, com a determinação de fiscalizar e

reger a profissão contábil. Definiu-se o perfil dos contabilistas, contadores eram os

22

graduados em cursos universitários de Ciências Contábeis; técnicos de

Contabilidade eram os de nível médio, das escolas comerciais; e guarda-livros não

tinham escolaridade formal, exerciam atividades de escrituração mercantil, passando

a ser técnico contábil com a regulamentação da Lei 3.384/58.

Paulo Schmidt (2000) afirma que “a segunda etapa do desenvolvimento da

Contabilidade no Brasil tem início em 1964, quando o professor José da Costa

Boucinhas introduziu um novo método de ensino contábil, seguindo a linha norte-

americana, baseado no livro Introductory Accounting, de Finney & Miller. José Carlos

Marion (apud SILVA, CARLI e PEREIRA, 1991, p.32) afirma que:

A mudança de enfoque da Escola Italiana, para a Escola Americana, deu-se em função da influência de algumas empresas de auditoria, que acompanhavam as multinacionais anglo-americanas. Estas, através de manuais de procedimentos e treinamento, formaram profissionais que preparariam as normas contábeis em nível governamental, influenciado, assim, as empresas menores, incluindo legisladores e outros.

Para Schmidt (2000) uma consequência dessa mudança de linha foi a

publicação do livro de Contabilidade Introdutória, em 1971, por um grupo de

professores da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da

universidade de São Paulo (FEAUSP), que passou a ser adotado pela maioria das

faculdades de Contabilidade do Brasil. É importante ressaltar que em 1966 surgira a

Escola de Correção Monetária, com a publicação da tese de doutoramento do

professor Sérgio de Iudícibus, uma das primeiras contribuições nacionais à

Contabilidade mundial, visando controlar o processo inflacionário vivido pelo país.

O ano de 1976 foi muito importante para a Contabilidade brasileira pela

publicação, em 15 de dezembro, da nova Lei das Sociedades por Ações. Segundo

Silva (apud SCHMIDT, 2000, p.213) afirma que “[…] mantendo a tradição, esta Lei

incorpora normas e práticas contábeis das mais sadias, representando um dos

maiores avanços à área da Contabilidade, incorporando definitivamente as

tendências da Escola Americana […]”. Para Iudícibus (apud SCHMIDT, 2000, p.214)

as principais contribuições dessa Lei são: “(1) clara separação entre Contabilidade

Comercial (Contabilidade ‘Contábil’) e Contabilidade para fins fiscais; (2)

aperfeiçoamento da classificação das contas no balanço; (3) introdução da

reavaliação a valor de marcado; (4) introdução do método de equivalência

23

patrimonial na avaliação de investimentos; (5) criação da reserva de lucros a

realizar; e (6) aperfeiçoamento do mecanismo de correção monetária.”

Mais adiante, no ano de 1981, o conselho Federal de Contabilidade emitiu a

Resolução nº. 529 que disciplinava as Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC).

Essa resolução foi substituída em 1993 pela Resolução CFC nº. 751 que dispõe

sobre as Normas Brasileiras de Contabilidade, por causa das mudanças sofridas

pelo país na década de 80. Dentre as normas técnicas, destaca-se a NBT-T-1,

baixada pela Resolução CFC nº 750-93, que substituíra a nº. 530-81, eu dispõe

sobre os Princípios Fundamentais de Contabilidade (PFC).

A década de 80 foi marcada pelas elevadas taxas inflacionárias no país,

apesar da adoção de mecanismos de correção monetária; foi um período durante o

qual as informações derivadas das Demonstrações Contábeis foram muito

prejudicadas. Uma das medidas adotadas pela melhorar o nível dessas informações

foi a obrigatoriedade da elaboração e da publicação das Demonstrações Contábeis

Complementares das companhias abertas, em moeda de poder aquisitivo constante,

estabelecida pela instrução CVM nº. 64, de 1987. Vale destacar que Eliseu Martins

era o diretor da CVM naquele ano, e que essa Instrução foi o ápice da Escola de

Correção Monetária. Em 1995, em função de um novo plano econômico, conhecido

como “plano real” e da queda da inflação que se materializou, a Lei nº. 9.249

revogou a correção monetária das Demonstrações Contábeis.

Em 2007, a Lei nº 11.638 trouxe algumas mudanças que alteraram a Lei

6.404/76, com o foco nas estruturas demonstrações contábil. Essa Lei teve,

principalmente, o objetivo de atualizar a legislação societária brasileira para

possibilitar o processo de convergência das práticas contábeis adotadas no Brasil

com aquelas constantes nas normas internacionais de contabilidade (IFRS) e

permitir que novas normas e procedimentos contábeis sejam expedidos pela

Comissão de Valores Mobiliários - CVM em consonância com os padrões

internacionais de contabilidade. (BRAGA; ALMEIDA, 2008)

Em síntese, o processo histórico do desenvolvimento da Contabilidade no

Brasil é bem mais recente, se comparado com a de outros países, principalmente,

em relação à história contábil européia e americana. O desenvolvimento Contábil

brasileiro acompanhou as doutrinas dos pensamentos contábeis, oriundos das

escolas italianas e americanas; foi fortemente influenciado pela ação governamental,

24

através de legislação específica no campo do exercício da profissão contábil,

principalmente, no campo dos aspectos tributários.

5.1.2 O profissional contábil

A profissão contábil, segundo Sá (2000, p. 130):

Consiste em um trabalho exercido habitualmente nas células sociais, com o objetivo de prestar informações e orientações baseadas na explicação dos fenômenos patrimoniais, ensejando o cumprimento de deveres sociais, legais, econômicos, tão como a tomada de decisões administrativas, além de servir de base de instrumentação histórica da vida da riqueza.

O profissional contábil lida com a área financeira, econômica e patrimonial.

Ele é responsável pela elaboração das demonstrações contábeis e pelo estudo dos

elementos que compõem o patrimônio monetário das companhias. Para o contador,

cada número tem seu significado, tudo é importante, pois cada dado avaliado traduz

a representatividade dos negócios de uma empresa. A partir disto, ele auxilia nas

tomadas de decisões que visam solucionar problemas financeiros.

O contador deve sempre estar atualizado com as leis que regem o patrimônio

das pessoas jurídicas (empresas) e físicas, bem como as datas e prazos das

obrigações fiscais e a interpretação correta dos dados coletados, para assim adotar

os procedimentos necessários para o crescimento da empresa ou instituição. Para

Echeverria (2000, p. 88), “[...] onde houver uma empresa, haverá um contador. Seja

na sua criação, ou no acompanhamento de seu desenvolvimento, a empresa

obrigatoriamente contará com este profissional.”

Na Lei nº. 9.295/46, especificamente nos artigos 25 e 26, estão contidas as

atribuições profissionais do contabilista. Conforme segue:

Artigo 25 - São considerados trabalhos técnicos de contabilidade: a) Organização e execução de serviços de contabilidade em geral; b) Escrituração dos livros de contabilidade obrigatórios, bem como de todos os necessários no conjunto da organização contábil e levantamento dos respectivos balanços e demonstrações; c) Perícias judiciais ou extrajudiciais, revisão de balanços e de contas em geral, verificação de haveres revisão permanente ou periódica de escritas, regulações judiciais ou extrajudiciais de avarias grossas ou comuns, assistências aos Conselhos Fiscais das sociedades anônimas e quaisquer outras atribuições de natureza técnica conferidas por lei aos profissionais de contabilidade.

25

Artigo 26 - Salvo direitos adquiridos "ex-vi" do disposto no art. 2º do Decreto nº. 21.033, de 8 de fevereiro de 1932, as atribuições definidas na línea "c" do artigo anterior são privativas dos contadores diplomados e daqueles que lhes são equiparados, legalmente.

A Contabilidade tem papel de destaque nas empresas, uma vez que ela

exercita a sua principal função ao tratar os fatos patrimoniais, transformando-os em

informações, porém o Contador não pode se limitar ao desempenho da função de

informante. Deve sim, estar preparado para a participação na tomada de decisões,

visando identificar e corrigir as dificuldades e adversidades que surgem ao longo do

caminho, através de ações pró-ativas, baseadas nas informações geradas pela

Contabilidade. Segundo Silva (2000, p. 26). “O mercado atual requer modernidade,

criatividade, novas tecnologias, novos conhecimentos e mudanças urgentes na visão

através dos paradigmas, impondo, com isso, um desafio: o de continuar

competindo.”

Para Marion (2007, p. 33):

Um profissional da área contábil é um agente de mudanças e como tal esse profissional deve mostrar suas diversas habilidades. O contador é o anjo da guarda de uma empresa, tornando-se seu profundo conhecedor, podendo, dessa forma, atuar em sua continuidade e crescimento.

No entanto, atualmente, o mercado não aceita profissional limitado em

guardar livros e elaborar pagamentos de impostos. No cenário atual, os empresários

buscam confiar a sua contabilidade nas mãos de profissionais capacitados, aptos a

transcrever as informações de seus patrimônios de forma clara e entendível para

auxiliar na tomada de decisões.

O contabilista pode atuar em várias frentes profissionais, além da própria

gestão contábil de empresas, entidades públicas e não-governamentais,

especializando-se em várias áreas, como:

Perícia Contábil Cada vez mais as sentenças judiciais e arbitrais buscam estar pautadas em laudos técnicos de especialistas contábeis – já que estes propiciam o rigor de investigação, a independência e a confiabilidade de cálculos e opiniões sobre controvérsias como apuração de haveres, lucros cessantes, impugnações fiscais e avaliação de patrimônio líquido.

Auditoria O profissional com formação acadêmica em Ciências Contábeis - Ensino Superior, inscrito no CRC (após exame de suficiência) poderá auditar e emitir o parecer de entidades como: - Companhias que tenham suas ações negociadas em Bolsa de Valor

26

(as chamadas de Capital Aberto). - Instituições financeiras (Bancos, Seguradoras, Consórcios, Corretoras de Títulos e Valores, as quais são regulamentadas e fiscalizadas pelo Banco Central e SUSEP). - Planos de saúde, regulamentados pela ANS. - Sociedades sem fins lucrativos, a partir de determinado valor de arrecadação. As entidades acima só podem ser auditadas por Contador, inscrito na CVM - Comissão de Valores Mobiliários.

Fiscal A fiscalização de contribuintes ou de contas de entes públicos é uma atividade complexa e extremamente técnica – com certeza o contabilista é o profissional mais adequado para realizar tais labores, já que possui um amplo leque de conhecimentos específicos (como domínio simultâneo das normas contábeis, fiscais, trabalhistas, previdenciárias, societárias e administrativas).

Gestão de Empresas

Esta não é uma atividade restrita a administradores, já que os contabilistas são conhecedores profundos de finanças, custos e fluxo de caixa e têm colocado suas capacidades à frente de grandes empreendimentos.

Gestão Pública Esta área tão carente de profissionais idôneos e tecnicamente à altura de um grande país como o Brasil, pode ser incrivelmente melhorada com a utilização das capacidades profissionais e criativas dos contabilistas.

Atuarial Parte da estatística ligada a problemas relacionados à teoria e o cálculo de seguros. Na terminologia técnico-comercial, atuário designa o contabilista especializado na contabilidade e na técnica dos seguros (previdenciários, patrimoniais e riscos complexos).

Consultoria Contabilistas que adquirem experiências específicas em determinados ramos de atividades (como planejamento tributário), e podem oferecer aos três setores da sociedade (iniciativa privada, governos e ONG´s) um leque de soluções para as complexas questões sociais, orçamentárias e de mercado a que tais entes se defrontam no dia a dia.

Ensino Universidades e centros de atualização profissional necessitam de ótimos professores com profundos conhecimentos contábeis, para formação de novos profissionais e aprimoramento de outros, em dezenas de disciplinas como Contabilidade Rural, Contabilidade de Custos ou Orçamento Público.

Pesquisa Um pesquisador contábil pode se estabelecer como um escritor de tempo integral, deixando um nobre legado de pesquisas e conhecimentos para muitas gerações

Quadro 1 – Áreas de atuação do profissional contábil

Fonte: elaborado pela autora, 2007

Portanto, a contabilidade proporciona alternativas que poucas profissões

oferecem. É uma atividade moderna e necessária; utilizando em larga escala a

Tecnologia da Informação, agiliza e simplifica processos; o conhecimento do

profissional é indispensável às interpretações dos negócios. Para isso, é preciso

primar pela ética, seriedade e comprometimento com seus clientes e usuários;

perceber as demandas da sociedade e atendê-las de forma ágil, simples, objetiva e

com visão dos negócios.

27

5.2 Ética

Quando o profissional age com dedicação, integridade, zelo e honestidade,

que são alguns dos princípios éticos, ele estará agindo com responsabilidade.

Assim, não se pode falar de responsabilidade sem citar a ética profissional.

Para Giovanni Vidari (apud SÁ, 2000, p. 44), “a ética é a ciência que tem por

objeto essencial o estudo dos sentimentos e juízos de aprovação e desaprovação

absoluta realizados pelo homem acerca da conduta e da vontade”.

Para Lisboa (1996, p. 30):

A ética como expressão única do pensamento correto, conduz à idéia da universalidade moral, ou ainda, a forma ideal universal do comportamento humano, expressa em princípios válidos para todo pensamento normal e sadio.

Todo profissional deve se basear no código de ética de sua profissão. Desta

forma, ele age de maneira coerente dentro das organizações, de acordo com os

princípios morais e com conduta, transmitindo lisura nos seus atos.

Lisboa (1996, p. 61) dispõe que:

Além de servir como guia à ação moral, o código de ética profissional possibilita que a profissão de contador declare seu propósito de: a) Cumprir as regras da sociedade; b) Servir com lealdade e diligência; c) Respeitar a si mesma.

O profissional contábil além de possuir uma boa formação, caráter, índole,

bons hábitos, conhecer seus direitos, deveres e limites, deve possuir um dos

atributos mais importantes no que diz respeito a sua conduta: a ética.

A ética é o ramo da filosofia que estuda o que é moralmente certo ou errado.

A ética profissional é um conjunto de normas que disciplina a conduta dos

integrantes de determinada profissão. Conforme Lisboa (1996), “a ética está

relacionada com o comportamento e a conduta das pessoas em geral.”

O Código de Ética Profissional do Contador (CEPC) foi aprovado pelo

Conselho Federal de Contabilidade, por meio da Resolução nº. 803 de 10 de outubro

de 1996; contempla a crescente preocupação da classe contábil com a sua conduta

profissional, inserindo em seu contexto a necessidade da contabilidade para com o

28

social. Assim, o CEPC, estabelece em seu artigo 2º. os deveres do profissional

contábil para com a sociedade, o qual figura aspectos relacionados às virtudes como

padrão de conduta ética.

Artigo 2º São deveres do contabilista: I –Exercer a profissão com zelo, diligência e honestidade, observada a legislação vigente e resguardados os interesses de seus clientes e/ou empregadores, sem prejuízo da dignidade e independência profissionais; II – Guardar sigilo sobre o que souber em razão do exercício profissional lícito, inclusive no âmbito do serviço público, ressalvados os casos previstos em lei ou quando solicitado por autoridades competentes; entre estas, os Conselhos Regionais de Contabilidade; III – Zelar pela sua competência exclusiva na orientação técnica dos serviços a seu cargo; IV – Comunicar, desde logo, ao cliente ou empregador, em documento reservado, eventual circunstância adversa que possa influir na decisão daquele que lhe formular consulta ou lhe confiar trabalho, estendendo-se a obrigação a sócios e executores; V – Inteirar-se de todas as circunstâncias, antes de emitir opinião sobre qualquer caso; VI – Renunciar às funções que exerce, logo que se positive falta de confiança por parte do cliente ou empregador, a quem deverá notificar com trinta dias de antecedência, zelando, contudo, para que os interesses dos mesmos não sejam prejudicados, evitando declarações públicas sobre os motivos da renúncia; VII – Se substituído em suas funções, informar ao substituto sobre fatos que devam chegar ao conhecimento desse, a fim de habilitá-lo para o bom desempenho das funções a serem exercidas; VIII – Manifestar, a qualquer tempo, a existência de impedimento para o exercício da profissão; IX – Ser solidário com os movimentos de defesa da dignidade profissional, seja propugnando por remuneração condigna, seja zelando por condições de trabalho compatíveis com o exercício ético profissional da Contabilidade e seu aprimoramento técnico.

Buscando maior credibilidade à sua imagem, o contabilista deve buscar

exercer suas tarefas com a maior perfeição possível. Nesse sentido, Sá (2000, p.

176) complementa que “o zelo ou cuidado com o que se faz, começa, portanto, com

uma responsabilidade individual, ou seja, fundamentada na relação entre o sujeito e

o objeto de trabalho”.

Sobre a honestidade, Fortes (2002, p.117) dispõe que “no exercício

profissional o contabilista não deve, em hipótese nenhuma, desviar-se da prática da

honestidade [...]”.

Segundo Sá (2000), ”A honestidade é compatível com a prática do bem com

a confiança depositada por terceiro em alguém. A desonestidade, por sua vez, é a

transgressão ao direito de terceiros, derivando de: arbitrariedade, abuso de

29

confiança, indução maliciosa, pressão ou por outro fator que venha trair ou subtrair

ao que tenha sido confiado.”

Além de salientar as virtudes já mencionadas a Resolução 803/96 em seu

artigo 3º. dispõe algumas delimitações no desempenho das atividades do

contabilista:

Artigo 3º. No desempenho de suas funções, é vedado ao contabilista: I – Anunciar, em qualquer modalidade ou veículo de comunicação, conteúdo que resulte na diminuição do colega, da Organização Contábil ou da classe, sendo sempre admitida a indicação de títulos, especializações, serviços oferecidos, trabalhos realizados e relação de clientes; II – Assumir, direta ou indiretamente, serviços de qualquer natureza, com prejuízo moral ou desprestígio para a classe; III – Auferir qualquer provento em função do exercício profissional que não decorra exclusivamente de sua prática lícita; IV – Assinar documentos ou peças contábeis, elaborados por outrem, alheio à sua orientação, supervisão e fiscalização; V – Exercer a profissão, quando impedido, ou facilitar, por qualquer meio, o seu exercício aos não habilitados ou impedidos; VI – Manter Organização Contábil sob forma não autorizada pela legislação pertinente; VII – Valer-se de agenciador de serviços, mediante participação desse, nos honorários a receber; VIII – Concorrer para a realização de ato contrário à legislação ou destinado a fraudá-la ou praticar, no exercício da profissão, ato definido como crime ou contravenção; IX – Solicitar ou receber do cliente ou empregador qualquer vantagem que saiba para aplicação ilícita; X – Prejudicar, culposa ou dolosamente, interesse confiado a sua responsabilidade profissional; XI – Recusar-se a prestar contas de quantias que lhe forem, comprovadamente, confiadas; XII – Reter abusivamente livros, papéis ou documentos, comprovadamente confiados à sua guarda; XIII – Aconselhar o cliente ou o empregador contra disposições expressas em lei ou contra os Princípios Fundamentais e as Normas Brasileiras de Contabilidade editadas pelo Conselho Federal de Contabilidade; XIV – Exercer atividade ou ligar o seu nome a empreendimentos com finalidades ilícitas; XV – Revelar negociação confidenciada pelo cliente ou empregador para acordo ou transação que, comprovadamente, tenha tido conhecimento; XVI – Emitir referência que identifique o cliente ou empregador, com quebra de sigilo profissional, em publicação em que haja menção a trabalho que tenha realizado ou orientado, salvo quando autorizado por eles; XVII –Iludir ou tentar iludir a boa-fé de cliente, empregador ou de terceiros, alterando ou deturpando o exato teor de documentos, bem como fornecendo falsas informações ou elaborando peças contábeis inidôneas; XVIII – Não cumprir, no prazo estabelecido, determinação dos Conselhos Regionais de Contabilidade, depois de regularmente notificado; XIX – Intitular-se com categoria profissional que não possua, na profissão contábil; XX –Elaborar demonstrações contábeis sem observância dos Princípios Fundamentais e das Normas Brasileiras de Contabilidade editadas pelo Conselho Federal de Contabilidade;

30

XXI – Renunciar à liberdade profissional, devendo evitar quaisquer restrições ou imposições que possam prejudicar a eficácia e correção de seu trabalho; XXII – Publicar ou distribuir, em seu nome, trabalho científico ou técnico do qual não tenha participado.

O contabilista que infringir as normas acima mencionadas e as demais

constantes no CEPC, poderá, por meio de um processo ético, sofrer sanções.

De acordo com a Resolução CFC nº. 803/96 as penalidades aplicadas

referentes ao processo ético podem ser:

− Advertência reservada, caso em que o contabilista será comunicado e alertado

sobre a falta ética pelo conselho da classe;

− Censura reservada, caso em que o conselho censurará de maneira reservada o

infrator; e

− Censura pública, caso em que toda a classe contábil fica conhecendo

publicamente quem cometeu a infração ética profissional.

Além de um conjunto de conhecimentos científicos necessários, a profissão

exige do contador um conjunto de preceitos éticos a serem observados. Por isso, é

necessário a tutela de um órgão de classe responsável pelo ingresso, registro e

fiscalização da conduta de seus profissionais, o que reforça a idéia da existência do

código de ético profissional como premissa básica de uma classe.

Enfim, quando a sociedade escolhe um profissional, ela espera não ter de se

preocupar com a qualidade do seu trabalho e, nem lhe negar a confiança devida. E

essa confiança cresce à medida que a conduta do profissional se enquadra na

conduta esperada, conforme dispõe o seu Código de Ética.

5.3 Responsabilidade civil

De Plácido e Silva (1980), em seu Dicionário Jurídico, apresenta a seguinte

definição:

RESPONSABILIDADE: Forma-se o vocábulo de responsável, de responder, do latim respondere, tomado na significação de responsabilizar-se, vir garantindo, assegurar, assumir o pagamento do que se obrigou ou do que praticou. Em sentido geral, responsabilidade exprime a obrigação de responder por alguma coisa. Significa a obrigação de satisfazer ou executar o ato jurídico, que se tenha convencionado, ou a obrigação de satisfazer a prestação ou de cumprir o fato atribuído ou imputado à pessoa por determinação legal.

31

O termo civil se refere ao cidadão, considerado desta forma nas suas mais

diversas relações existentes com os demais membros da sociedade, cuja relação

resulta de direitos a exigir, bem como as obrigações a cumprir.

Segundo Diniz (2006, p. 10 e 11):

A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesmo praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal.

Da mesma forma entende Rodrigues (2003, p. 06): “A responsabilidade civil é

a obrigação que pode incumbir uma pessoa a reparar o prejuízo, causado a outra,

por fato próprio ou por fato de pessoas ou coisas que dela dependam”.

Conforme o Código Civil artigo 186: “Aquele que, por ação ou omissão

voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda

que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

A Responsabilidade Civil tem uma função reparadora ou indenizatória e

também garante segurança ao lesado. A obrigação de ressarcir ou indenizar decorre

do ato ilícito, que é aquele praticado por meio de uma ação ou omissão do causador

do dano. Tal ação ou omissão pode ser tanto culposa quanto dolosa. A conduta

culposa ocorre quando o autor do dano não deseja o resultado final, mas age com

imprudência, imperícia ou negligência. O dolo, por sua vez, ocorre nas situações em

que o dano causado à vítima foi desejado pelo causador, que age ou omite-se

intencionalmente para que o evento prejudicial ocorra. Quando a conduta culposa ou

dolosa ocasiona dano à outra pessoa surge o dever de indenizar, responsabilizando-

se o causador dessa conduta.

No sistema legal brasileiro, a vítima de um ato ilícito que tenha sofrido

prejuízo tem o direito ao ressarcimento do dano, conforme determina o artigo 927 do

Código Civil:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (artigos 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

32

Daí o nome responsabilidade, que para ser diferenciada de outras espécies

de responsabilidade e por estar prevista nas normas de Direito Civil, é denominada

responsabilidade civil.

Ao definir a responsabilidade civil, Pereira (1992), dispõe que:

A responsabilização civil consiste na efetivação da reparabilidade abstrata em relação a um sujeito passivo da relação jurídica que se forma. Reparação e sujeito passivo compõem o binômio da responsabilidade civil, que então se enuncia como o princípio que subordina a reparação à sua incidência na pessoa do causador do dano.

Noronha (1993, p. 13) diz que a responsabilidade civil pode ser entendida de

duas formas, através de uma acepção ampla (tradicional) ou de uma restrita e mais

técnica. "Numa acepção bem ampla, ela consiste na obrigação de reparar quaisquer

danos antijuridicamente causados a outrem, isto é, resultantes da violação de

direitos alheios, de forma não permitida pelo ordenamento". Desta forma, em uma

visão mais ampla, a responsabilidade civil abrange tanto a obrigação de reparar

danos decorrentes de inadimplemento, de má execução ou de atraso no

cumprimento de obrigações negociais como a resultante de violação de outros

direitos alheios, sejam eles absolutos ou meros direitos de crédito. Por outro lado,

Noronha (1993, p. 13) explica que a responsabilidade civil:

[…] é a obrigação de reparar danos antijurídicos que sejam resultantes da violação do dever geral de neminem laedere (não lesar ninguém) ou, como também se diz, alterum non laedere (não lesar outrem). Ela tem a finalidade de tutelar o interesse de cada pessoa na preservação da sua esfera jurídica, através da reparação dos danos causados por outrem.

Em direito, a teoria da responsabilidade civil procura determinar em que

condições uma pessoa pode ser considerada responsável pelo dano sofrido por

outra pessoa e em que medida está obrigada a repará-lo. A reparação do dano é

feita por meio da indenização, que é quase sempre patrimonial pecuniária. O dano

pode ser à integridade física, à honra ou aos bens de uma pessoa.

5.3.1 Espécies de responsabilidade

33

A Responsabilidade Civil pode se identificada sob vários ângulos, dos quais

identificam-se seus tipos de espécies. A responsabilidade civil pode ser identificada

quanto a sua natureza, seu fundamento e seu fato gerador.

A Responsabilidade Civil, no tocante às suas espécies, pode, dependendo do

ângulo em que é feita a análise, ser dividida em: a) quanto à natureza, divide-se em

Responsabilidade Civil e penal; b) quanto ao seu fundamento, divide-se em

Responsabilidade Subjetiva e objetiva; c) quanto ao fato gerador, divide-se em

contratual e extracontratual. (GONÇALVES, 2003).

5.3.1.1 Responsabilidade Civil e Penal

Segundo Gonçalves (2003, p.18), na responsabilidade penal, o agente

infringe uma norma de direito público. O interesse lesado é o da sociedade. Na

responsabilidade civil, o interesse diretamente lesado é o privado. O prejudicado

poderá pleitear ou não a reparação.

Salienta Sampaio (2003, p.23), que ocorre diferenças entre a

Responsabilidade Civil e a Penal, como segue:

No caso da responsabilidade penal, essa conduta humana (dolosa ou culposa) constitui fato definido por lei como crime ou contravenção. E esse mesmo comportamento, por representar um desvalor à sociedade, justifica a aplicação, por parte do Estado (ius puniendi) de uma sanção penal. Em outras palavras, diante de uma infração penal (infração de norma de direito público), visa-se impor a seu autor determinada sanção, restringindo-lhe, de certa forma, um direito. Trata-se, portanto, de uma reação da sociedade. De outra sorte, na responsabilidade civil visa-se, com seu reconhecimento, impor a determinada pessoa à obrigação de reparar um dano causado à vítima, justamente em função de um comportamento humano violador de um dever legal ou contratual (ato ilícito). Percebe-se aqui que a preocupação está voltada ao restabelecimento de uma situação anterior, atendendo-se, assim, ao interesse particular da vitima. [...] Em suma, com a responsabilidade civil, objetiva-se a reparação dos prejuízos suportados pela vítima, restabelecendo-se uma situação de equilíbrio. Outrossim, não se tem como escopo principal à aplicação ao autor da conduta de uma pena.

Enquanto a responsabilidade civil tem um caráter reparatório, a

responsabilidade penal tem um caráter punitivo. Na responsabilidade penal o agente

comete um delito ou um crime, tendo assim um dever jurídico de responder por essa

ação delituosa com o cumprimento de uma pena. Na responsabilidade civil o agente

tem como punição o dever de indenizar, caso o prejudicado requeira uma reparação.

34

De acordo com o Código Civil (Lei nº 10.406/2002), e o Código Penal (Lei nº

2.848/1940), a responsabilidade do profissional contábil é: moral (valores pessoais);

social (bem estar coletivo); ética (o bem da corporação); civil (direito individual,

indenização por dano); penal (ordem pública); e, filosófica (notória sabedoria,

transcendem o conhecimento contábil).

5.3.1.2 Responsabilidade civil contratual e extracontratual

A responsabilidade civil se pode apresentar sob diferentes espécies quanto

ao fato gerador. São elas: responsabilidade contratual e responsabilidade

extracontratual. A contratual surge como efeito de uma obrigação entre as partes;

decorrente de um vínculo pré-existente, ao passo que pela extracontratual não há

relação pré-existente entre as partes, constituindo-se em fonte de uma obrigação

nova.

Entretanto, em ambos os casos, o efeito será o mesmo. A obrigação nascida

da culpa tem por objeto a reparação do dano causado, qualquer que seja a sua

origem, o resultado sempre será o mesmo – o dever de indenizar o lesionado.

Para Cavalieri Filho (2005, p. 38), tanto a responsabilidade extracontratual

como na contratual, há um dever jurídico preexistente. Haverá responsabilidade

contratual quando o dever jurídico violado estiver previsto no contrato, sendo que a

norma já define o comportamento dos contratantes e o dever específico cuja

observância ficam adstritos. E haverá responsabilidade extracontratual se o dever

jurídico violado não estiver previsto no contrato, mas sim, na lei ou na ordem

jurídica.

Gonçalves (2003, p. 25-27), define assim: “responsabilidade civil contratual e

extracontratual:

Quando a responsabilidade não deriva de contrato, diz-se que ela é extracontratual. Neste caso, aplica-se o disposto no artigo 186 do Código Civil. Todo aquele que causa dano a outrem, por culpa em sentido estrito ou dolo, fica obrigado a repará-lo. É a responsabilidade derivada de ilícito extracontratual, também chamada aquiliana. Na responsabilidade extracontratual, o agente infringe um dever legal, e na contratual, descumpre o avençado, tornando-se inadimplente. Nesta existe uma convenção prévia entre as partes, que não é cumprida. Na responsabilidade extracontratual, nenhum vínculo jurídico existe entre a vítima e o causador do dano, quando este pratica o ato ilícito. […] diz respeito ao ônus da prova. Se a responsabilidade é contratual, o credor só está obrigado a demonstrar que a prestação foi descumprida. O devedor só não será condenado a reparar o dano se provar a ocorrência de alguma das excludentes admitidas

35

em lei: culpa exclusiva da vítima, caso fortuito ou força maior. Incumbe-lhe, pois, o ônus probandi. No entanto, se a responsabilidade for extracontratual, o autor da ação é que fica com o ônus de prova que o fato se deu por culpa do agente […].

Em resumo, a responsabilidade contratual é derivada de contrato, sendo que

sua indenização é um substitutivo da prestação contratada. Ela ocorre, quando há

violação de um vínculo jurídico pré-existente entre o lesado e o responsável. Vínculo

este que pode ser gerado tanto pela vontade das partes, como pela lei e não tão

somente pela vontade das partes.

Conforme Gagliano (2006, p. 18) na responsabilidade contratual “o ônus da

prova caberá ao devedor, que deverá provar, ante o inadimplemento, a presença de

qualquer excludente do dever de indenizar ou mesmo a inexistência de sua culpa,

conforme prevê os artigos. 389 e 393 do Código Civil vigente.”

Diz ainda Gagliano (2006, p. 18):

Na responsabilidade contratual a culpa, é de regra, presumida, invertendo-se o ônus da prova, cabendo à vítima comprovar, apenas que a obrigação não foi cumprida, restando ao devedor o onus probandi, por exemplo, de que não agiu com culpa ou que ocorreu alguma causa excludente do elo de causalidade.

Assim, o devedor precisa provar que não foi culpado para eximir-se da culpa

e assim, do dever de indenizar.

Por sua vez, a responsabilidade extracontratual está relacionada à reparação

por danos causados a pessoas não ligadas por negócio jurídico ou mesmo que

ligadas, em que o dano não tenha se originado da violação desse negócio jurídico

que as une. A responsabilidade extracontratual é compreendida como a obrigação

de reparar danos resultantes da violação dos deveres gerais de abstenção ou

omissão como os que correspondem aos direitos reais, de personalidade ou de

autos e aos deveres genéricos de não lesar ou causar dano a alguém.

Diniz (2006, p. 131) destaca que:

Responsabilidade extracontratual ou aquiliana se resulta do inadimplemento normativo, ou melhor, da prática de um ato ilícito por pessoa capaz ou incapaz, visto que não há vinculo anterior entre as partes, por não estarem ligadas por uma relação obrigacional ou contratual. A fonte dessa responsabilidade é a inobservância da lei, ou melhor, é a lesão a um direito, sem que entre o ofensor e ofendido preexista qualquer relação jurídica.

36

Na contabilidade, a responsabilidade civil do profissional se classifica como

responsabilidade civil contratual, ou seja, surge como efeito de uma obrigação entre

as partes. Destinado a regulamentar os interesses das partes envolvidas, o contrato

é um acordo em conformidade com a ordem jurídica. De acordo com a resolução do

CFC nº 960/03 artigo 24, o profissional contábil que deixar de cumprir essa

formalidade será autuado:

Artigo 24. Constitui infração: XIV- Deixar de apresentar prova de contratação dos serviços profissionais, quando exigida pelo CRC, a fim de comprovar os limites e a extensão da responsabilidade técnica perante cliente ou empregador, ou ainda, e quando for o caso, servir de contraprova em denúncias de concorrência desleal. Parágrafo único. O CFC classificará as infrações segundo a freqüência e a gravidade da ação ou omissão, bem como os prejuízos dela decorrentes. Art.25. As penas consistem em: I- Multas; II- Advertência reservada; III- Censura reservada; IV- Censura publica; V- Suspensão do exercício profissional; VI- Cancelamento do registro profissional.

A relação existente entre o Profissional Contábil e o cliente é sempre de

natureza contratual, cuja obrigação é de meio, nunca de resultado.

5.3.1.3 Responsabilidade civil objetiva e subjetiva

Em relação ao seu fundamento a responsabilidade civil pode ser: objetiva e

subjetiva.

Sampaio (2003, p. 26), define que a responsabilidade objetiva é fruto da

evolução das relações sociais, voltada a possibilitar aquele que, prejudicado em

razão de determinado comportamento humano, possa ver seu dano reparado,

restabelecendo-se uma situação de equilíbrio.

Tal espécie de responsabilidade é conhecida por “teoria do risco”. Segundo

Cavalieri Filho (2005, p. 143):

[…] na busca de um fundamento para a responsabilidade objetiva, os juristas, principalmente na França, conceberam a Teoria do Risco, justamente no final do século XIX, quando o desenvolvimento industrial agitava o problema da reparação dos acidentes de trabalho. Risco é perigo, é probabilidade de dano, importando, isso, dizer que aquele que exerce uma atividade perigosa deve-lhe assumir os riscos e reparar o dano dele decorrente.

37

Desta forma, pode-se afirmar que a doutrina do risco pode ser assim

resumida: todo prejuízo deve ser atribuído ao seu autor e reparado por quem o

causou, independentemente de ter ou não agido com culpa. (CAVALIERI FILHO,

2005)

A característica dominante da doutrina objetiva é que o dano pode ser

resultado de uma conduta eximida do elemento culpa. Portanto, o dever de indenizar

não se vincula a idéia de comportamento culposo.

Conforme tal pensamento, parte-se da idéia inicial da responsabilidade civil,

ou seja, a reparação do dano à vítima. Assim, se alguém pratica um ato ilícito e esse

vem a causar um dano, este deve suportar o ônus de sua atividade. Assim, cada um

deve responder pelos riscos que sua atividade pode vir a produzir. Adequadamente

a este princípio que o Código Civil adotou, o artigo 927, parágrafo único afirma:

Artigo 927. Aquele que, por ato ilícito (artigos 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Na teoria subjetiva, a idéia central é a da culpa. Sem ela, não há ilícito, não

há responsabilidade.

Para Gonçalves (2003, p.23), “quando há a idéia de culpa do agente, há

também a responsabilidade subjetiva, que passa a ser pressuposto necessário do

dano indenizável, configurando-se somente se o causador do dano agiu com dolo ou

culpa. Trata-se da teoria clássica, também chamada teoria da culpa ou subjetiva.”

Coelho (2004, p.297) diz que a responsabilidade subjetiva “é a obrigação

derivada do ato ilícito. O sujeito que incorre na ilicitude é devedor da indenização

pelos prejuízos decorrentes de sua conduta e o prejudicado, o credor”.

Deste modo, tem-se como responsabilidade subjetiva aquela que depende do

comportamento do sujeito, em que a culpa do agente passa a ser pressuposto

necessário do dano indenizável. Dentro desta concepção, a responsabilidade do

causador do dano somente se configura se agiu com dolo, pleno conhecimento do

mal e direta intenção de o praticar ou culpa, violação de um dever que o agente

poderia conhecer e acatar. A doutrina clássica que se baseia no princípio da culpa é

38

a da responsabilidade civil subjetiva. Assim, nesse âmbito de percepção, o

comportamento do sujeito é o elemento determinante da obrigação de indeniza.

(GONÇALVES, 2003).

Como relata Rodrigues (2003, p.11), “não se pode afirmar serem a

responsabilidade civil objetiva e subjetiva espécies diversas de responsabilidade,

mas sim maneiras diferentes de encarar a obrigação de reparar dano.”

O Contabilista, enquanto profissional liberal, é um fornecedor de serviços, nos

termos do artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor, especificamente em seu

parágrafo 4º., onde de forma clara e objetiva determina que a responsabilidade

pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa,

evidenciando, assim, a responsabilidade subjetiva.

Artigo 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. § 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I – O modo de seu fornecimento; II - O resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - A época em que foi fornecido. § 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas. § 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: I - Que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II - A culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. § 4°. A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.

Dessa forma, o Contabilista, que é um profissional liberal, não está sujeito à

teoria do risco (responsabilidade objetiva). Submete-se, no seu labor, à

responsabilidade subjetiva.

5.3.2 Elementos da responsabilidade civil

Na redação legal é possível identificar os elementos essenciais da

responsabilidade civil, ou seja, seus pressupostos. São eles: ação ou omissão –

comportamento humano; culpa ou dolo do agente; relação de causalidade entre a

ação e o dano; dano causado à vítima.

39

a) Ação ou omissão do agente

Segundo Canezin (2001), a prática de uma ação ou omissão contra o Direito,

com ou sem intenção manifestada de prejudicar, mas que cause prejuízo ou dano a

outrem, podendo constituir-se de ato único ou de série de atos ou de conduta ilícita,

pode acarretar dano indenizável, se o prejuízo atingir bem legitimamente tutelado,

entendendo-se por bem não somente aqueles materiais, mas tudo que é passível de

propriedade, inclusive, direitos.

Não há que se discutir aqui se o agente, ao praticar a ação ou omissão, tinha

a intenção de causar um dano. Pela Responsabilidade Civil jurídica, o simples fato

da ação ou omissão ter causado um dano reparável acarreta o dever da reparação,

ou seja, a responsabilidade jurídica pelo dano causado por ação ou omissão pode

basear-se tanto na culpa como no risco, muito embora a conduta, comissiva ou

omissiva, produzida dolosamente, também, enseja a reparação do dano por ela

causado.

O ponto que se deve ressaltar é o de que tanto uma conduta comissiva como

uma conduta omissiva são hábeis a instaurar o dever de restaurar o status quo ante

– dever de indenizar.

Em termos obrigacionais, portanto, pode-se entender que as condutas

comissivas são aquelas em que há a prática efetiva do agente, ou seja, constituem-

se nas modalidades de “dar” e “fazer”. Diversamente, as condutas omissivas nem se

exteriorizam por serem, simplesmente, uma não–ação, ausência de prática que

deveria existir, o que se exterioriza são as conseqüências danosas da sua

verificação. Constitui-se, pelo prisma das obrigações, em uma atitude de “não-fazer”

(CANEZIN, 2001).

b) Culpa ou dolo do Agente:

Sempre que um evento danoso é causado de forma deliberada e alcançado

voluntariamente por aquele que lhe deu causa, diz-se que houve dolo, também

conhecido como culpa lato sensu. O dolo é, portanto, “o pleno conhecimento do mal

e a perfeita intenção de o praticar” (GONÇALVES, 2003).

Se, ao contrário, o autor do dano não o quis, mas lhe deu causa através de

seu comportamento negligente ou imprudente, diz-se então que houve culpa stricto

sensu, ou simplesmente culpa, Gonçalves (2003, p.10) a conceitua como “violação

40

de um dever que o agente podia conhecer e observar, segundo os padrões do

comportamento médio”.

O Código Civil, entretanto, não faz distinção entre dolo e culpa […] para fins de reparação do dano. Tenha o agente agido com dolo ou culpa levíssima, existirá sempre a obrigação de indenizar, obrigação essa que será calculada exclusivamente sobre a extensão do dano. Em outras palavras, mede-se a indenização pela extensão do dano e não pelo grau de culpa. Adotou o legislador a norma romana, segundo a qual a culpa, ainda que levíssima, obriga a indenizar. (GONÇALVES, 2001, p.51)

A culpa é um elemento necessário à responsabilidade civil subjetiva. Não

basta para a caracterização da responsabilidade o cometimento de um ato contrário

ao direito, sendo necessário o elemento culpa.

A responsabilidade, sendo vista sob o ponto de vista objetivo, a culpa deixa

de ser fundamental à sua caracterização, pois admite a responsabilização do agente

infrator pelo simples prejuízo que trouxe à vítima, sem perquirir seu elemento volitivo

de culpa lato sensu.

Atendendo estes parâmetros, a teoria do risco elimina a idéia de culpa do

conceito de responsabilidade civil. Seguindo a tendência determinada por algumas

leis esparsas especializadas o Código Civil no artigo 927, o parágrafo único impõe:

Parágrafo Único - Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Assim, a regra é que a responsabilidade seja subjetiva, dependendo do

elemento culpa, proveniente da vontade do agente causador do dano. Quando a lei

determinar ou quando a atividade praticada pelo autor do dano apresentar riscos, a

responsabilidade se torna objetiva.

c) Nexo de Causalidade

Para Stoco (2004), o nexo causal constitui um dos elementos essenciais da

responsabilidade civil.

Não se define a responsabilidade pelo fato de cometer um erro de conduta. Não basta, ainda que a vítima sofra um dano, que é o elemento objetivo do dever de indenizar, pois se não houver um prejuízo a conduta antijurídica não gera obrigação de indenizar. É necessário, além da ocorrência dos dois

41

elementos precedentes, que se estabeleça uma relação de causalidade entre a antijuridicidade da ação e o mal causado.

A obrigação de reparação civil só surge quando há uma relação de

causalidade entre a ação ou omissão do agente e o dano sofrido pela vítima. Torna-

se obrigatório que o dano seja decorrência clara e explícita da atitude danificadora

do agente.

No mesmo sentido, entende Diniz:

Nexo de causalidade entre o dano e a ação (fato gerador da responsabilidade), pois a responsabilidade civil não poderá existir sem o vínculo entre ação e o dano. Se o lesado experimentar um dano, mas este não resultar da conduta do réu, o pedido de indenização será improcedente. Será necessária a inexistência de causa excludente de responsabilidade, como p. ex., por culpa exclusiva da vitima; por culpa concorrente da vitima, caso em que a indenização é devida por metade ou diminuída proporcionalmente; por culpa comum da vitima e do agente; por força maior ou caso fortuito, cessando, então, a responsabilidade, porque esses fatos eliminam a culpabilidade ante a sua inevitabilidade.

O Código Civil Brasileiro em seu artigo 186 deixa clara a exigência de nexo

causal, como é possível conferir em seu texto: “aquele que, por ação ou omissão

voluntária, negligência ou imprudência, violar direito ou causar dano a outrem, ainda

que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

A questão traz dificuldades quando não é possível identificar o elo de

causalidade entre o ato de uma pessoa e o dano causado, principalmente quando

há presença de vários comportamentos, que de alguma forma, contribuíram para a

produção do resultado danoso.

Destacam-se, ainda, as excludentes de responsabilidade que são as

seguintes: a culpa exclusiva da vítima, o fato de terceiro, o caso fortuito ou força

maior e cláusula de não indenizar (correspondente à responsabilidade civil

contratual). São situações em que não há obrigação de indenizar por parte do autor

do ilícito, pois sua conduta, apesar de danosa não foi a causa direta do prejuízo

sofrido pela vítima.

d) Dano

O dano é um elemento fundamental à imposição da obrigação de indenizar,

sem o prejuízo, um comportamento ilícito pode passar desapercebido pelo mundo

42

jurídico. O principal argumento para tal afirmativa está na finalidade exclusiva da

indenização imposta ao autor da conduta ilícita: repara o dano sofrido.

O elemento dano da responsabilidade civil serve igualmente para o conceito

de responsabilidade objetiva como para a subjetiva, já que significa lesão a qualquer

direito, podendo ser material ou moral.

Entende Gonçalves (2007, p. 35):

Sem a prova do dano, ninguém pode ser responsabilizado civilmente. O dano pode ser material ou simplesmente moral, ou seja, sem repercussão na órbita financeira do ofendido. O Código Civil consigna um capitulo sobre a liquidação do dano, ou seja, sobre o modo de apurarem os prejuízos e a indenização cabível. A existência de dano é óbice à pretensão de uma reparação, alias, sem objetivo. [...] A responsabilidade é uma reação provocada pela infração a um dever preexistente. No entanto, ainda mesmo que haja violação de um dever jurídico e que havido culpa, e ate mesmo dolo, por parte do infrator, nenhuma indenização será devida, uma vez que não se tenha verificado prejuízo.

Ressalta Hoog, Petrenco (2001, p.32) que para a verificação da efetiva

ocorrência da responsabilização civil do profissional de contabilidade, há de se

observar três requisitos preliminares, quais sejam: a conduta antijurídica, a

existência de um dano e a relação de causalidade entre a conduta e o dano. O

Código de Defesa Consumidor, cujas normas são de ordem pública e interesse

social, ou seja, são normas imperativas, inderrogáveis pela vontade particular,

estabelece quanto à Responsabilidade Civil.

Assim sendo, Responsabilidade Civil Subjetiva, está ancorada a um dano

causado diretamente pelo Profissional Contábil, em função de ato doloso ou

culposo, onde devem estar presentes os seguintes rudimentos: a ação praticada

pelo Contabilista deve estar comprovada ou a sua omissão comprovada. Exemplo:

deixar de entregar o laudo no prazo sem motivo ou laudo errado induzindo a uma

sentença errada. O dano deve estar provado, mensurado e fundamentado com um

elo de ligação, causalidade entre ação, omissão e dano. O dolo ou a culpa deve

estar presente (HOOG, PETRENCO, 2001).

43

6 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO PROFISSIONAL CONTÁBIL

O atual Código Civil Brasileiro trouxe várias alterações nas relações dos

contabilistas com seus clientes, principalmente, no que diz respeito à sua

responsabilidade quando da elaboração de relatórios e prestação de informações

para tomada de decisão. Os artigos 1.177 e 1.178 do Código Civil (Lei 10.406/2002)

estabelecem que:

Artigo 1.177. Os assentos lançados nos livros ou fichas do preponente, por qualquer dos prepostos encarregados de sua escrituração, produzem, salvo se houver procedido de má-fé, os mesmos efeitos como se o fossem por aquele. Parágrafo único. No exercício de suas funções, os prepostos são pessoalmente responsáveis, perante os preponentes, pelos atos culposos; e, perante terceiros, solidariamente com o preponente, pelos atos dolosos. Artigo 1.178: Os preponentes são responsáveis pelos atos de quaisquer prepostos, praticados nos seus estabelecimentos e relativos à atividade da empresa, ainda que não autorizados por escrito. Parágrafo único: Quando tais atos forem praticados fora do estabelecimento, somente obrigarão o preponente nos limites conferidos por escrito, cujo instrumento pode ser substituído pela certidão ou cópia autenticada do seu teor.

O artigo 1.177 discorre sobre os lançamentos contábeis nos livros ou fichas

da empresa e tais procedimentos têm validade como se fossem feitos pelo

preponente, na hipótese de não haver erro. Caso contrário, o contabilista será

responsabilizado. O artigo 1.178, trata da autorização dada pela empresa para que o

contabilista proceda à escrituração. A contabilidade realizada no estabelecimento do

preponente é de responsabilidade do próprio preponente. Na escrituração realizada

fora do estabelecimento do preponente, a responsabilidade será do contabilista,

devendo o mesmo fazer um contrato escrito de prestação de serviços contábeis,

limitando, assim, a responsabilidade do profissional e determinando o trabalho de

cada um.

Fica explicita a responsabilidade profissional do Contabilista, que sendo

considerado preposto em suas atribuições responde pessoalmente perante o seu

cliente, quando praticar com culpa; e, solidariamente com o cliente, perante

terceiros, se comprovado que praticou com dolo, podendo, inclusive, responder com

seus bens patrimoniais.

De acordo com Silva (2004, p. 22):

44

A responsabilidade do contabilista foi severamente ampliada com a entrada em vigor do Novo Código Civil, podendo o mesmo responder, pessoal e solidariamente, perante a empresa e terceiros, inclusive, com patrimônio pessoal. Responderá pessoalmente quando agir com culpa. Tal qual no ramo do direito penal: age com culpa aquele que age com negligência, imprudência ou imperícia, onde o agente embora pratique o ato desconhece ou não espera o resultado, ou seja, resultado é alheio a vontade do agente. Sob a responsabilidade pessoal. O contabilista responderá solidariamente quando agir com dolo o agente que almeja o resultado e assume o risco de produzi-lo.

O Código Penal Brasileiro de 1940, em seu artigo 18, define ato culposo

como aquele praticado por imprudência, negligência ou imperícia. É quando o

profissional no exercício de suas funções não os pratica de má-fé, mas por descuido

ou aplicação indevida da legislação vigente, vem trazer resultados diferentes do

esperado. Nesta hipótese, o contador responderá perante o titular da empresa,

sócios, diretores, administradores, etc., e estes responderão perante terceiros pelos

danos causados. Já os atos dolosos são aqueles os quais o agente quis o resultado

ou assumiu o risco de produzi-lo, ou seja, praticados propositalmente e

indevidamente. Neste caso, o Contabilista responderá solidariamente com o titular

da empresa, sócios, diretores, administradores e outros implicados, perante terceiros

e, na eventualidade de um processo judicial, são tão responsáveis quanto o dono da

empresa tendo o seu patrimônio disponível para quitar dívidas pelos atos praticados.

Barbosa (2010) fala que na responsabilidade solidária implantada pelo Código

Civil, o preponente assume, juntamente com o seu preposto, a responsabilidade

pelos atos ilícitos praticados por este na administração da empresa. Ambos poderão

responder tanto de forma civil como criminal.

Após a conceituação técnica é imprescindível registrar que quem vai exigir a

responsabilidade dos contabilistas com base no Código Civil Brasileiro é seu

contratante ou o credor deste. Silva (2004. p. 28) ressalta que:

Isso nos leva a concluir que, salvo melhor juízo, doravante o contabilista poderá ser severamente responsabilizado em qualquer hipótese, haja ele com culpa ou dolo, pois em função dessa norma não poderá alegar praticamente nada a seu favor. Eis que se alegar desconhecimento profissional, por exemplo, terá agido com culpa (negligência, imperícia ou imprudência), se errar tendo o conhecimento necessário, terá agido com dolo, portanto, esperava o resultado.

45

O nosso Código de Defesa do consumidor, Lei 8.078/90, cujas normas são de

ordem pública e interesse social, ou seja, são normas imperativas, inderrogáveis

pela vontade particular, estabelece quanto à responsabilidade civil o seguinte:

Artigo 14: " O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos." Parágrafo 4º: A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.

Desta forma, pelo que se extrai das normas trazidas pela Lei nº. 10.406/02 e

pelo que dispõe o Código de Defesa do Consumidor a responsabilidade do

contabilista está vinculada a teoria subjetiva, pois na teoria subjetiva a ideia central

é à da culpa. Sem ela, não há ilícito, não há responsabilidade.

6.1 Responsabilidade do profissional contábil como preposto

Quando os representantes das empresas não podem participar de forma

efetiva de determinados atos administrativos, operacionais, financeiros ou jurídicos,

podem optar pela figura do preposto, como sendo uma pessoa que substitui o titular

da empresa em seus atos a serem praticados e age como se fosse o próprio.

De Plácido e Silva (1980) dispõe em seu Dicionário Jurídico que:

Preposto: designa a pessoa ou o empregado que, além de ser um locador de serviços, está investido no poder de representação de seu chefe ou patrão, praticando atos concernentes à locação, sob direção e autoridade do preponente ou empregador.

O preposto deve exercer suas funções com muito zelo e diligência, pois

embora pratique seus atos em nome do titular, o mesmo pode responder pelo uso

inadequado da preposição.

Nesse contexto, os artigos 1.177 e 1.178 do Código Civil enquadram o

contabilista, que nas suas relações com seus clientes ou como empregado, são

considerados prepostos, ficando assim, submetidos às determinações expressas do

código.

De acordo com Fortes (2003. p. 2):

46

O Novo Código Civil veio de forma frontal, responsabilizar também o contabilista que age de forma voluntária, conivente e dolosa junto com o preponente. Isto reforça a posição de que o profissional, deverá atuar com zelo, diligência e observância às normas legais, contábeis e de forma ética, sob pena de, em alguns pontos, eximir o empresário das responsabilidades e quando não, respondendo solidariamente pelos seus atos imprudentes ou ilícitos.

Há ainda, dois pontos importantes sobre a responsabilidade do contabilista na

sua condição de preposto; se o trabalho estiver sendo feito dentro do

estabelecimento do preponente ou empresário e se foram realizados de forma

adequada, o preponente ou empresário é responsável pelos atos dos prepostos,

sejam eles contabilistas ou auxiliares, desde que praticados no estabelecimento e

que sejam relativos à atividade da empresa, ainda que não autorizados por escrito.

Já nas hipóteses em que os trabalhos ou tais atos forem praticados ou realizados

pelo contabilista fora do estabelecimento, ou seja, no escritório do profissional ou em

outro local, somente obrigarão o preponente nos limites dos poderes conferidos por

escrito (OLIVEIRA, 2005).

Como se sabe, a condição de subordinação, não raras vezes, coloca o

Contabilista na posição de submissão, o que leva à prática de atos indevidos,

culposos ou dolosos. Essa regra é muito importante para classe contábil, pois

evitará que os contadores venham a ser submetidos a eventuais pressões de

qualquer natureza para modificar a realidade contábil da empresa, já que, antes,

contavam somente com Código de Ética do Profissional Contábil e, agora, estão

também amparados pelo Código Civil.

É bom lembrar que a condição de preposto é personalíssima, conforme o

artigo 1.169 do Código Civil, não podendo, sem autorização escrita do preponente,

fazer-se substituir no desempenho da preposição. Na hipótese em que o preposto

põe outra pessoa em seu lugar para atuar como tal, sem o consentimento expresso,

será pessoalmente responsável pelos atos do substituto e pelas obrigações que este

venha a contrair.

Desta forma, se faz indispensável o contrato de prestação de serviços

contábeis por escrito, devidamente assinado pelas partes e subscrito por duas

testemunhas. Neste instrumento deverão constar de forma inequívoca os direitos e

obrigações das partes.

Deve, portanto, o contabilista, na condição de preposto do contratante,

contribuir para que o cliente atenda ao princípio da legalidade, fixado no sentido de

47

que ninguém será obrigado a fazer ou a deixar de fazer alguma coisa senão em

virtude de lei, não lhe sendo permitido alegar desconhecimento.

6.2 Responsabilidade civil quanto à escrituração contábil e fiscal

A escrituração contábil nas empresas, em sentido amplo, é o processo de

registro das operações envolvendo recursos financeiros, bens, direitos e obrigações.

É materializado através da execução dos serviços de escrituração de todos os livros

e produção de demonstrativos e relatórios contábeis vinculados à movimentação

financeira no campo fiscal e contábil, em todas as modalidades específicas,

conhecidas por denominações que informam sobre o ramo da atividade,

contabilidade comercial, industrial, imobiliária, contabilidade de serviços,

contabilidade pública, dentre outras, constituindo-se em um direito e ao mesmo

tempo uma obrigação dos contabilistas, não importando o porte ou regime de

tributação da empresa ou entidade (FRANCO, 1997)

A Lei nº. 10.406/2002, artigos 1.179 a 1.195 inseriu em seu texto uma seção

abordando a escrituração contábil, bem como dos contabilistas como os

profissionais responsáveis pela produção e trato da informação contábil. Foi

estabelecido que a contabilidade do empresário individual e das sociedades

empresariais, que tem por base a escrituração dos livros, deve ser elaborada, com

observância de critérios e métodos uniformes, devendo ser registrado de forma

manualmente, ou de forma mecanizada ou por processamento eletrônico de dados.

(FIÚZA, 2005)

No que diz respeito à escrituração, o Código Civil determina, em seus artigos

1.179 e 1.180, que o empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir

um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração

uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, e a

levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico. E, além dos

demais livros exigidos por lei, é indispensável o livro Diário, que pode ser substituído

por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica.

Quando for adotado o sistema de fichas de lançamentos em uma empresa, o

livro Diário poderá ser substituído pelo livro Balancetes Diários e Balanços, como

menciona o artigo 1.185 do Código Civil. Entretanto, o livro Balancetes Diários e

Balanços deve registrar, conforme artigo 1.186, inciso I e II, a posição diária de cada

48

uma das contas ou títulos contábeis, pelo respectivo saldo, em forma de balancetes

diários; e o balanço patrimonial e o de resultado econômico, no encerramento do

exercício.

O Contabilista deve, portanto, cumprir as determinações previstas nos artigos

1.179 a 1.195 do Código Civil, observando o que dizem os princípios fundamentais

da contabilidade e as normas brasileiras de contabilidade emitidas pelo Conselho

Regional de Contabilidade, em conformidade com a Lei nº. 6.404/76.

Conforme Silva e Brito (2003, p. 53),

A escrituração ficará sob a responsabilidade de Contabilista legalmente habilitado, salvo se nenhum houver na localidade, e será efetuada em idioma e moeda corrente nacionais e em forma contábil, por ordem cronológica de dia, mês e ano, sem intervalos em branco, nem entrelinhas, borrões, rasuras, emendas ou transportes para as margens.

O empresário é obrigado a manter em boa conservação toda a escrituração,

correspondência e mais papéis concernentes à sua atividade, enquanto não ocorrer

prescrição ou decadência no tocante aos atos neles consignados. Já que agora

deverá obedecer não só os prazos de Direito Trabalhista, Previdenciário e Tributário,

mas também os prazos do Direito Civil que pode ser de até 10 anos.

A escrituração contábil, quando formalmente elaborada, observando-se os

princípios contábeis e requisitos essenciais de registro, tem valor probante para

todos os efeitos judiciais e extrajudiciais, apresentando os mesmos efeitos como se

o fossem por aquele, salvo se houver procedido de má-fé.

6.3 Responsabilidade civil quanto aos balanços e assinaturas em documentos

Conforme o disposto nos artigos 1.188 e 1.189 do Código Civil Brasileiro, o

balanço patrimonial deverá exprimir, com fidelidade e clareza, a situação real da

empresa e, atendidas as peculiaridades desta, bem como as disposições das leis

especiais, indicará, distintamente, o ativo e o passivo. Já o balanço de resultado

econômico, ou demonstração da conta de lucros e perdas, acompanhará o balanço

patrimonial e dele constarão crédito e débito, na forma da lei especial.

Cabe ao profissional contábil, legalmente habilitado, assinar o Diário e o

Balanço Patrimonial, conforme o artigo 1.174 “a escrituração fiscal ficará sob a

49

responsabilidade de um contabilista legalmente habilitado, salvo se nenhum houver

na localidade”.

6.4 Responsabilidade civil quanto obrigatoriedade do livro diário

O Código Civil de 2002, dispõe em seu artigo 1.180, que as organizações

estão obrigadas a manter o uso do Diário. No entanto autoriza substituí-lo por fichas

no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica. Porém, parágrafo único do

mesmo artigo, diz que a adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado

para o lançamento do balando patrimonial e do resultado econômico.

Ressalvada a obrigatoriedade do Livro Diário, o número e a espécie de livros

ficam a critério dos interessados.

Conforme parágrafo segundo do artigo 1.179 do Código Civil de 2002, o

empresário rural e o pequeno empresário são dispensados das exigências de

manutenção de sistema de contabilidade, mas não ficam desobrigados, para registro

de suas operações, do uso do Livro Diário ou fichas, no caso de escrituração

mecanizada ou eletrônica.

Os livros obrigatórios e as fichas, antes de postos em uso, devem ser

autenticados no Registro Público de Empresas Mercantis, salvo disposição especial

de lei. A autenticação não se fará sem que o empresário, ou a sociedade

empresária, esteja inscrito no mesmo órgão. Assim estabelece o artigo 1.181 do

Código Civil de 2001.

6.5 A responsabilidade do profissional da contabilidade perante código civil

brasileiro

As mudanças trazidas pelo Código Civil implicaram na melhoria da qualidade

das informações de negócio, promovendo mais transparência, beneficiando os

controles internos da corporação. Essa regra é importante para classe contábil,

porque além de protegê-la, valoriza os princípios morais e éticos e evita que os

contabilistas venham a ser submetidos a eventuais pressões de qualquer natureza

para modificar a realidade contábil da empresa. Antes amparados somente pelo

Código de Ética do Profissional Contábil, os Contabilistas podem contar também

com o Código Civil Brasileiro.

50

Observou-se que o Profissional Contábil, enquanto no exercício de suas

funções, deve ter domínio da legislação pertinente as que envolvam a profissão,

sempre pautado na fundamentação de suas ações para a boa fé e observação das

questões pertinentes ao Código de Ética da profissão. Agindo com zelo, diligência e

observância às normas legais, contábeis e de forma ética, sob pena de, em alguns

pontos, eximir o empresário das responsabilidades e quando não, responder

solidariamente pelos seus atos imprudentes ou ilícitos.

A responsabilidade civil perante os atos de escrituração contábil aumentou,

valorizando assim o Contabilista que executa sua atividade dentro das regras e

condutas éticas, porém o profissional da área contábil precisa tomar os cuidados

necessários, deixando claro ao seu contratante até onde vai a sua responsabilidade,

mediante um contrato de prestação de serviços contábeis. O Contabilista deve

primar sempre pela ética e pela moral e precisa estar mais atento, pois a

responsabilidade expressa no Código Civil Brasileiro poderá penalizar o profissional

da Contabilidade.

51

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo teve como tema, a Responsabilidade Civil do Profissional

Contábil e o objetivo principal foi entendê-la diante das recentes alterações do

Código Civil Brasileiro.

Percebe-se que o Código Civil, realmente, quebrou paradigmas,

principalmente o de uma cultura adversa da transparência das demonstrações

contábeis. As mudanças, ocorridas com o advento da Lei nº.10.406/02, foram

significativas no que diz respeito às responsabilidades do profissional contábil. Estas

mudanças foram favoráveis ao fortalecimento dos aspectos morais e éticos da

profissão contábil e, também, trouxeram maior transparência aos balanços, livros

diários e razão, escrituração contábil e fiscal, pois a responsabilidade expressa na

Lei poderá penalizar o profissional da Contabilidade.

A continuidade na legalidade e as novas regras de éticas foram

estabelecidas. O Código Civil trouxe uma importante inovação no que diz respeito ao

profissional contábil, reconhecendo a importância deste profissional no contexto da

empresa, devido a sua estreita ligação com aspecto tão relevante que é a

escrituração, que nada mais é do que a tradução, em números, de toda a vida nas

organizações.

A relação existente entre o Profissional Contábil e o cliente é sempre de

natureza contratual. Sua responsabilidade é subjetiva, tem que estar provado o dolo

ou a culpa nos atos por ele praticados no exercício da profissão.

O Profissional Contábil assume responsabilidades a partir do momento da

contratação dos serviços com o seu cliente, sendo que a partir deste momento já

está obrigado a proceder de forma leal, com cuidado, diligência, entre outros

procedimentos necessários ao exercício da profissão, de acordo com a legislação

vigente e o Código de Ética Profissional do Contador. O Profissional Contábil é

responsável pelos danos causados ao cliente no desempenho do mandato, desde

que, evidentemente, por culpa ou dolo, a obrigação a que estava submetido seja

descumprida.

A pesquisa evidenciou alguns requisitos necessários ao entendimento da

responsabilização civil do Profissional Contábil, são eles: a ação ou omissão; a

demonstração da culpa ou dolo; o nexo de causalidade e o dano sofrido pelo cliente.

52

Está claro, portanto, que a responsabilização do profissional contábil em suas

atribuições está sujeita a teoria subjetiva, o que pode levar o fato consumado ficar

sujeito a opiniões pessoais que podem variar de acordo com o conhecimento técnico

daquele que o fizer. Ressalte-se, em todo caso, que as responsabilidades devem ser

estabelecidas mediante a confecção de contrato de prestação de serviços é

soberana no sentido de dar clareza às responsabilidades de prepostos e

preponentes, visando estabelecer limites na prestação do serviço e sua conseqüente

responsabilidade.

Portanto, cabe ao profissional contábil, como sempre fez e, agora ainda mais,

preocupar-se em prestar melhores serviços junto a seus clientes, organizações, a

terceiros e ao fisco, devendo ainda, ocupar-se de renovar seus conhecimentos

técnicos e de todos aqueles que com ele trabalham no caso das empresas de

serviços contábeis, visando à melhoria contínua na orientação e solução de

questões inerentes à profissão contábil, pois ele é o alicerce da administração,

fornecendo informações transparentes e precisas para a tomada de decisão.

O atual contexto determina que o profissional contábil agregue novos

conhecimentos à sua formação com o objetivo de pensar em novos rumos para

prevenção de fraudes e outras conseqüências contra as organizações. Além disso, é

necessário determinar como melhor documentar, certificar e localizar recursos que

teriam sido apropriados indebitamente. Todo esse conhecimento dará, com certeza,

ao profissional contábil, condições de propor alternativas, penalidades para se

prevenir à atos ílicitos dentro das organizações. Tanto o sistema de informação

contábil, quanto o profissional que o administra não estão aptos a fornecer os

elementos de prova necessários para se caracterizar a ocorrência de um crime.

A sociedade está à procura de pessoas que possam resolver os problemas

de corrupção. Este será um profissional requisitado e procurado por todo o tipo de

entidade, seja ela privada ou pública. Uma coisa é certa: o Código Civil deve

desencadear uma nova cultura dos profissionais contábeis, no que se refere ao

controle. Estamos otimistas para que ela flua bem. Acima de tudo, sabemos que

fazemos parte de uma profissão útil a toda a sociedade, imprescindível para o

desenvolvimento do país.

Por fim, o profissional contábil deve ter em mente que para execução das

suas tarefas deve estar atento ao seu aprendizado e em constante atualização

frente a novas alterações e mudanças na legislação que rege as tarefas contábeis

53

que aparecerão no seu dia-a-dia. A legislação existe para ser aplicada e respeitada,

basta, portanto, o profissional respeitar e seguir as normas existentes para não ser

responsabilizado civil e criminalmente no futuro.

Diante de todo o exposto, nota-se que os objetivos de pesquisa foram

alcançados, pois a presente pesquisa apresenta a evolução da profissão de

contabilidade, as atribuições do profissional contábil e as responsabilidades civis do

profissional no exercício de sua profissão. Se fazendo entender a responsabilidade

civil do profissional da área contábil no exercício de sua profissão, diante do atual

Código Civil Brasileiro.

54

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responsabilidade civil profissional. Portal da Contabilidade. Disponível em:

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2000.

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STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6.ed. São Paulo: RT, 2004.

58

ANEXO A - Código civil brasileiro – dos prepostos e da escrituração

59

CAPÍTULO III

Dos Prepostos

Seção I

Disposições Gerais

Art. 1.169. O preposto não pode, sem autorização escrita, fazer-se substituir

no desempenho da preposição, sob pena de responder pessoalmente pelos atos do

substituto e pelas obrigações por ele contraídas.

Art. 1.170. O preposto, salvo autorização expressa, não pode negociar por

conta própria ou de terceiro, nem participar, embora indiretamente, de operação do

mesmo gênero da que lhe foi cometida, sob pena de responder por perdas e danos

e de serem retidos pelo preponente os lucros da operação.

Art. 1.171. Considera-se perfeita a entrega de papéis, bens ou valores ao

preposto, encarregado pelo preponente, se os recebeu sem protesto, salvo nos

casos em que haja prazo para reclamação.

Seção II

Do Gerente

Art. 1.172. Considera-se gerente o preposto permanente no exercício da

empresa, na sede desta, ou em sucursal, filial ou agência.

Art. 1.173. Quando a lei não exigir poderes especiais, considera-se o gerente

autorizado a praticar todos os atos necessários ao exercício dos poderes que lhe

foram outorgados.

Parágrafo único. Na falta de estipulação diversa, consideram-se solidários os

poderes conferidos a dois ou mais gerentes.

Art. 1.174. As limitações contidas na outorga de poderes, para serem opostas

a terceiros, dependem do arquivamento e averbação do instrumento no Registro

Público de Empresas Mercantis, salvo se provado serem conhecidas da pessoa que

tratou com o gerente.

Parágrafo único. Para o mesmo efeito e com idêntica ressalva, deve a

modificação ou revogação do mandato ser arquivada e averbada no Registro

Público de Empresas Mercantis.

60

Art. 1.175. O preponente responde com o gerente pelos atos que este

pratique em seu próprio nome, mas à conta daquele.

Art. 1.176. O gerente pode estar em juízo em nome do preponente, pelas

obrigações resultantes do exercício da sua função.

Seção III

Do Contabilista e outros Auxiliares

Art. 1.177. Os assentos lançados nos livros ou fichas do preponente, por

qualquer dos prepostos encarregados de sua escrituração, produzem, salvo se

houver procedido de má-fé, os mesmos efeitos como se o fossem por aquele.

Parágrafo único. No exercício de suas funções, os prepostos são

pessoalmente responsáveis, perante os preponentes, pelos atos culposos; e,

perante terceiros, solidariamente com o preponente, pelos atos dolosos.

Art. 1.178. Os preponentes são responsáveis pelos atos de quaisquer

prepostos, praticados nos seus estabelecimentos e relativos à atividade da empresa,

ainda que não autorizados por escrito.

Parágrafo único. Quando tais atos forem praticados fora do estabelecimento,

somente obrigarão o preponente nos limites dos poderes conferidos por escrito, cujo

instrumento pode ser suprido pela certidão ou cópia autêntica do seu teor.

CAPÍTULO IV

Da Escrituração

Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir

um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração

uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva e a

levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico.

§ 1o Salvo o disposto no art. 1.180, o número e a espécie de livros ficam a

critério dos interessados.

§ 2o É dispensado das exigências deste artigo o pequeno empresário a que

se refere o art. 970.

Art. 1.180. Além dos demais livros, exigidos por lei, é indispensável o Diário,

que pode ser substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou

eletrônica.

61

Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado

para o lançamento do balanço patrimonial e do de resultado econômico.

Art. 1.181. Salvo disposição especial de lei, os livros obrigatórios e, se for o

caso, as fichas, antes de postos em uso, devem ser autenticados no Registro

Público de Empresas Mercantis.

Parágrafo único. A autenticação não se fará sem que esteja inscrito o

empresário, ou a sociedade empresária, que poderá fazer autenticar livros não

obrigatórios.

Art. 1.182. Sem prejuízo do disposto no art. 1.174, a escrituração ficará sob a

responsabilidade de contabilista legalmente habilitado, salvo se nenhum houver na

localidade.

Art. 1.183. A escrituração será feita em idioma e moeda corrente nacionais e

em forma contábil, por ordem cronológica de dia, mês e ano, sem intervalos em

branco, nem entrelinhas, borrões, rasuras, emendas ou transportes para as

margens.

Parágrafo único. É permitido o uso de código de números ou de abreviaturas,

que constem de livro próprio, regularmente autenticado.

Art. 1.184. No Diário serão lançadas, com individuação, clareza e

caracterização do documento respectivo, dia a dia, por escrita direta ou reprodução,

todas as operações relativas ao exercício da empresa.

§ 1o Admite-se a escrituração resumida do Diário, com totais que não

excedam o período de trinta dias, relativamente a contas cujas operações sejam

numerosas ou realizadas fora da sede do estabelecimento, desde que utilizados

livros auxiliares regularmente autenticados, para registro individualizado, e

conservados os documentos que permitam a sua perfeita verificação.

§ 2o Serão lançados no Diário o balanço patrimonial e o de resultado

econômico, devendo ambos deverão ser assinados por técnico em Ciências

Contábeis, legalmente habilitado e pelo empresário ou sociedade empresária.

Art. 1.185. O empresário ou sociedade empresária que adotar o sistema de

fichas de lançamentos poderá substituir o livro Diário pelo livro: Balancetes Diários e

Balanços, observadas as mesmas formalidades extrínsecas exigidas para aquele.

Art. 1.186. O livro Balancetes Diários e Balanços será escriturado de modo

que registre:

62

I - a posição diária de cada uma das contas ou títulos contábeis, pelo

respectivo saldo, em forma de balancetes diários;

II - o balanço patrimonial e o de resultado econômico, no encerramento do

exercício.

Art. 1.187. Na coleta dos elementos para o inventário serão observados os

critérios de avaliação a seguir determinados:

I - Os bens destinados à exploração da atividade serão avaliados pelo custo

de aquisição, devendo, na avaliação dos que se desgastam ou depreciam com o

uso, pela ação do tempo ou outros fatores, atender-se à desvalorização respectiva,

criando-se fundos de amortização para assegurar-lhes a substituição ou a

conservação do valor;

II - Os valores mobiliários, matéria-prima, bens destinados à alienação, ou

que constituem produtos ou artigos da indústria ou comércio da empresa, podem ser

estimados pelo custo de aquisição ou de fabricação, ou pelo preço corrente, sempre

que este for inferior ao preço de custo, e quando o preço corrente ou venal estiver

acima do valor do custo de aquisição ou fabricação e os bens forem avaliados pelo

preço corrente, a diferença entre este e o preço de custo não será levada em conta

para a distribuição de lucros, nem para as percentagens referentes a fundo de

reserva;

III - O valor das ações e dos títulos de renda fixa pode ser determinado com

base na respectiva cotação da Bolsa de Valores; os não cotados e as participações

não acionárias serão considerados pelo seu valor de aquisição;

IV - Os créditos serão considerados de conformidade com o presumível valor

de realização, não se levando em conta os prescritos ou de difícil liquidação, salvo

se houver, quanto aos últimos, previsão equivalente.

Parágrafo único. Entre os valores do ativo podem figurar, desde que se

preceda, anualmente, à sua amortização:

I - As despesas de instalação da sociedade, até o limite correspondente a dez

por cento do capital social;

II - Os juros pagos aos acionistas da sociedade anônima, no período

antecedente ao início das operações sociais, à taxa não superior a doze por cento

ao ano, fixada no estatuto;

III - A quantia efetivamente paga a título de aviamento de estabelecimento

adquirido pelo empresário ou sociedade.

63

Art. 1.188. O balanço patrimonial deverá exprimir, com fidelidade e clareza, a

situação real da empresa e, atendidas as peculiaridades desta, bem como as

disposições das leis especiais, indicará, distintamente, o ativo e o passivo.

Parágrafo único. Lei especial disporá sobre as informações que

acompanharão o balanço patrimonial, em caso de sociedades coligadas.

Art. 1.189. O balanço de resultado econômico, ou demonstração da conta de

lucros e perdas, acompanhará o balanço patrimonial e dele constarão crédito e

débito, na forma da lei especial.

Art. 1.190. Ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma autoridade, juiz

ou tribunal, sob qualquer pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para verificar

se o empresário ou a sociedade empresária observam, ou não, em seus livros e

fichas, as formalidades prescritas em lei.

Art. 1.191. O juiz só poderá autorizar a exibição integral dos livros e papéis de

escrituração quando necessária para resolver questões relativas à sucessão,

comunhão ou sociedade, administração ou gestão à conta de outrem ou em caso de

falência.

§ 1o O juiz ou tribunal que conhecer de medida cautelar ou de ação pode, a

requerimento ou de ofício, ordenar que os livros de qualquer das partes ou de

ambas, sejam examinados na presença do empresário ou da sociedade empresária

a que pertencerem, ou de pessoas por estes nomeadas, para deles se extrair o que

interessar à questão.

§ 2o Achando-se os livros em outra jurisdição, nela se fará o exame, perante

o respectivo juiz.

Art. 1.192. Recusada a apresentação dos livros, nos casos do artigo

antecedente, serão apreendidos judicialmente e, no do seu § 1o, ter-se-á como

verdadeiro o alegado pela parte contrária para se provar pelos livros.

Parágrafo único. A confissão resultante da recusa pode ser elidida por prova

documental em contrário.

Art. 1.193. As restrições estabelecidas neste Capítulo ao exame da

escrituração, em parte ou por inteiro, não se aplicam às autoridades fazendárias, no

exercício da fiscalização do pagamento de impostos, nos termos estritos das

respectivas leis especiais.

Art. 1.194. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a

conservar em boa guarda toda a escrituração, correspondência e mais papéis

64

concernentes à sua atividade, enquanto não ocorrer prescrição ou decadência no

tocante aos atos neles consignados.

Art. 1.195. As disposições deste Capítulo aplicam-se às sucursais, filiais ou

agências, no Brasil, do empresário ou sociedade com sede em país estrangeiro.

65

ANEXO B - Código de ética profissional do contador

66

RESOLUÇÃO CFC Nº 803/96

Aprova o Código de Ética Profissional do Contador – CEPC

O CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, no exercício de suas

atribuições legais e regimentais,

CONSIDERANDO que o Código de Ética Profissional do Profissional da

Contabilidade, aprovado em 1970, representou o alcance de uma meta que se

tornou marcante no campo do exercício profissional;

CONSIDERANDO que, decorridos 26 (vinte e seis) anos de vigência do

Código de Ética Profissional do Profissional da Contabilidade, a intensificação do

relacionamento do Profissional da Contabilidade com a sociedade e com o próprio

grupo profissional exige uma atualização dos conceitos éticos na área da atividade

contábil;

CONSIDERANDO que, nos últimos 5 (cinco) anos, o Conselho Federal de

Contabilidade vem colhendo sugestões dos diversos segmentos da comunidade

contábil a fim de aprimorar os princípios do Código de Ética Profissional do

Profissional da Contabilidade – CEPC;

CONSIDERANDO que os integrantes da Câmara de Ética, do Conselho

Federal de Contabilidade, após um profundo estudo de todas as sugestões

remetidas ao órgão federal, apresentou uma redação final.

RESOLVE:

Art. 1º. Fica aprovado o anexo Código de Ética Profissional do Contador.

Art. 2º. Fica revogada a Resolução CFC nº 290/70.

Art. 3º. A presente Resolução entra em vigor na data de sua aprovação.

Brasília, 10 de outubro de 1996.

Contador JOSÉ MARIA MARTINS MENDES

Presidente

67

CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO CONTADOR

CAPÍTULO I

DO OBJETIVO

Art. 1º Este Código de Ética Profissional tem por objetivo fixar a forma pela

qual se deve conduzir os Profissionais da Contabilidade, quando no exercício

profissional e nos assuntos relacionados à profissão e à classe.

(Redação alterada pela Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

CAPÍTULO II

DOS DEVERES E DAS PROIBIÇÕES

Art. 2º São deveres do Profissional da Contabilidade:

(Redação alterada pela Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

I – Exercer a profissão com zelo, diligência, honestidade e capacidade

técnica, observada toda a legislação vigente, em especial aos Princípios de

Contabilidade e as normas brasileiras de Contabilidade e, resguardados os

interesses de seus clientes e/ou empregadores, sem prejuízo da dignidade e

independência profissionais;

(Redação alterada pela Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

II –Guardar sigilo sobre o que souber em razão do exercício profissional lícito,

inclusive no âmbito do serviço público, ressalvados os casos previstos em lei ou

quando solicitado por autoridades competentes, entre estas os Conselhos Regionais

de Contabilidade;

III – Zelar pela sua competência exclusiva na orientação técnica dos serviços

a seu cargo;

IV – Comunicar, desde logo, ao cliente ou empregador, em documento

reservado, eventual circunstância adversa que possa influir na decisão daquele que

lhe formular consulta ou lhe confiar trabalho, estendendo-se a obrigação a sócios e

executores;

V – Inteirar-se de todas as circunstâncias, antes de emitir opinião sobre

qualquer caso;

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VI – Renunciar às funções que exerce, logo que se positive falta de confiança

por parte do cliente ou empregador, a quem deverá notificar com trinta dias de

antecedência, zelando, contudo, para que os interesse dos mesmos não sejam

prejudicados, evitando declarações públicas sobre os motivos da renúncia;

VII – Se substituído em suas funções, informar ao substituto sobre fatos que

devam chegar ao conhecimento desse, a fim de habilitá-lo para o bom desempenho

das funções a serem exercidas;

VIII – Manifestar, a qualquer tempo, a existência de impedimento para o

exercício da profissão;

IX – Ser solidário com os movimentos de defesa da dignidade profissional,

seja propugnando por remuneração condigna, seja zelando por condições de

trabalho compatíveis com o exercício ético-profissional da Contabilidade e seu

aprimoramento técnico.

X – Cumprir os Programas Obrigatórios de Educação Continuada

estabelecidos pelo CFC;

(Criado pelo Art. 5º, da Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

XI – Comunicar, ao CRC, a mudança de seu domicílio ou endereço e da

organização contábil de sua responsabilidade, bem como a ocorrência de outros

fatos necessários ao controle e fiscalização profissional.

(Criado pelo Art. 6º, da Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

XII – auxiliar a fiscalização do exercício profissional.

(Criado pelo Art. 7º, da Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

Art. 3º No desempenho de suas funções, é vedado ao Profissional da

Contabilidade:

(Redação alterada pela Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

I – anunciar, em qualquer modalidade ou veículo de comunicação, conteúdo

que resulte na diminuição do colega, da Organização Contábil ou da classe, em

detrimento aos demais, sendo sempre admitida a indicação de títulos,

especializações, serviços oferecidos, trabalhos realizados e relação de clientes;

(Redação alterada pela Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

II – assumir, direta ou indiretamente, serviços de qualquer natureza, com

prejuízo moral ou desprestígio para a classe;

III – auferir qualquer provento em função do exercício profissional que não

decorra exclusivamente de sua prática lícita;

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IV – assinar documentos ou peças contábeis elaborados por outrem, alheio à

sua orientação, supervisão e fiscalização;

V – exercer a profissão, quando impedido, ou facilitar, por qualquer meio, o

seu exercício aos não habilitados ou impedidos;

VI – manter Organização Contábil sob forma não autorizada pela legislação

pertinente;

VII – valer-se de agenciador de serviços, mediante participação desse nos

honorários a receber;

VIII – concorrer para a realização de ato contrário à legislação ou destinado a

fraudá-la ou praticar, no exercício da profissão, ato definido como crime ou

contravenção;

IX – solicitar ou receber do cliente ou empregador qualquer vantagem que

saiba para aplicação ilícita;

X – prejudicar, culposa ou dolosamente, interesse confiado a sua

responsabilidade profissional;

XI – recusar-se a prestar contas de quantias que lhe forem,

comprovadamente, confiadas;

XII – reter abusivamente livros, papéis ou documentos, comprovadamente

confiados à sua guarda;

XIII – aconselhar o cliente ou o empregador contra disposições expressas em

lei ou contra os Princípios de Contabilidade e as Normas Brasileiras de

Contabilidade editadas pelo Conselho Federal de Contabilidade;

(Redação alterada pela Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

XIV – exercer atividade ou ligar o seu nome a empreendimentos com

finalidades ilícitas;

XV – revelar negociação confidenciada pelo cliente ou empregador para

acordo ou transação que, comprovadamente, tenha tido conhecimento;

XVI – emitir referência que identifique o cliente ou empregador, com quebra

de sigilo profissional, em publicação em que haja menção a trabalho que tenha

realizado ou orientado, salvo quando autorizado por eles;

XVII – iludir ou tentar iludir a boa-fé de cliente, empregador ou de terceiros,

alterando ou deturpando o exato teor de documentos, bem como fornecendo falsas

informações ou elaborando peças contábeis inidôneas;

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XVIII – não cumprir, no prazo estabelecido, determinação dos Conselhos

Regionais de Contabilidade, depois de regularmente notificado;

XIX – intitular-se com categoria profissional que não possua, na profissão

contábil;

XX – executar trabalhos técnicos contábeis sem observância dos Princípios

de Contabilidade e das Normas Brasileiras de Contabilidade editadas pelo Conselho

Federal de Contabilidade;

(Redação alterada pela Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

XXI – renunciar à liberdade profissional, devendo evitar quaisquer restrições

ou imposições que possam prejudicar a eficácia e correção de seu trabalho;

XXII – publicar ou distribuir, em seu nome, trabalho científico ou técnico do

qual não tenha participado;

XXIII – Apropriar-se indevidamente de valores confiados a sua guarda;

(Criado pelo Art. 12, da Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

XXIV – Exercer a profissão demonstrando comprovada incapacidade técnica.

(Criado pelo Art. 13, da Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

XXV – Deixar de apresentar documentos e informações quando solicitado

pela fiscalização dos Conselhos Regionais.

(Criado pelo Art. 14, da Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

Art. 4º O Profissional da Contabilidade poderá publicar relatório, parecer ou

trabalho técnico-profissional, assinado e sob sua responsabilidade.

(Redação alterada pela Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

Art. 5º O Contador, quando perito, assistente técnico, auditor ou árbitro,

deverá;

I – recusar sua indicação quando reconheça não se achar capacitado em face

da especialização requerida;

II – abster-se de interpretações tendenciosas sobre a matéria que constitui

objeto de perícia, mantendo absoluta independência moral e técnica na elaboração

do respectivo laudo;

III – abster-se de expender argumentos ou dar a conhecer sua convicção

pessoal sobre os direitos de quaisquer das partes interessadas, ou da justiça da

causa em que estiver servindo, mantendo seu laudo no âmbito técnico e limitado aos

quesitos propostos;

IV – considerar com imparcialidade o pensamento exposto em laudo

submetido à sua apreciação;

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V – mencionar obrigatoriamente fatos que conheça e repute em condições de

exercer efeito sobre peças contábeis objeto de seu trabalho, respeitado o disposto

no inciso II do art. 2º;

VI – abster-se de dar parecer ou emitir opinião sem estar suficientemente

informado e munido de documentos;

VII – assinalar equívocos ou divergências que encontrar no que concerne à

aplicação dos Princípios de Contabilidade e Normas Brasileiras de Contabilidade

editadas pelo CFC;

(Redação alterada pela Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

VIII – Considerar-se impedido para emitir parecer ou elaborar laudos sobre

peças contábeis, observando as restrições contidas nas Normas Brasileiras de

Contabilidade editadas pelo Conselho Federal de Contabilidade;

IX – Atender à Fiscalização dos Conselhos Regionais de Contabilidade e

Conselho Federal de Contabilidade no sentido de colocar à disposição desses,

sempre que solicitado, papéis de trabalho, relatórios e outros documentos que

deram origem e orientaram a execução do seu trabalho.

CAPÍTULO III

DO VALOR DOS SERVIÇOS PROFISSIONAIS

Art. 6º. O Profissional da Contabilidade deve fixar previamente o valor dos

serviços, por contrato escrito, considerando os elementos seguintes:

(Redação alterada pela Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

I – A relevância, o vulto, a complexidade e a dificuldade do serviço a executar;

II – O tempo que será consumido para a realização do trabalho;

III – A possibilidade de ficar impedido da realização de outros serviços;

IV – O resultado lícito favorável que para o contratante advirá com o serviço

prestado;

V – A peculiaridade de tratar-se de cliente eventual, habitual ou permanente;

VI – O local em que o serviço será prestado.

Art. 7º O Profissional da Contabilidade poderá transferir o contrato de serviços

a seu cargo a outro profissional, com a anuência do cliente, sempre por escrito, de

acordo com as normas expedidas pelo Conselho Federal de Contabilidade.

(Redação alterada pela Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

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Parágrafo único. O Profissional da Contabilidade poderá transferir

parcialmente a execução dos serviços a seu cargo a outro profissional, mantendo

sempre como sua a responsabilidade técnica.

(Redação alterada pela Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

Art. 8º. É vedado ao Profissional da Contabilidade oferecer ou disputar

serviços profissionais mediante aviltamento de honorários ou em concorrência

desleal.

(Redação alterada pela Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

CAPÍTULO IV

DOS DEVERES EM RELAÇÃO AOS COLEGAS E À CLASSE

Art. 9º. A conduta do Profissional da Contabilidade com relação aos colegas

deve ser pautada nos princípios de consideração, respeito, apreço e solidariedade,

em consonância com os postulados de harmonia da classe.

(Redação alterada pela Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

Parágrafo único. O espírito de solidariedade, mesmo na condição de

empregado, não induz nem justifica a participação ou conivência com o erro ou com

os atos infringentes de normas éticas ou legais que regem o exercício da profissão.

Art. 10 O Profissional da Contabilidade deve, em relação aos colegas,

observar as seguintes normas de conduta:

(Redação alterada pela Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

I – Abster-se de fazer referências prejudiciais ou de qualquer modo

desabonadoras;

II – Abster-se da aceitação de encargo profissional em substituição a colega

que dele tenha desistido para preservar a dignidade ou os interesses da profissão ou

da classe, desde que permaneçam as mesmas condições que ditaram o referido

procedimento;

III – Jamais se apropriar de trabalhos, iniciativas ou de soluções encontradas

por colegas, que deles não tenha participado, apresentando-os como próprios;

IV – Evitar desentendimentos com o colega a que vier a substituir no exercício

profissional.

Art. 11 O Profissional da Contabilidade deve, com relação à classe, observar

as seguintes normas de conduta:

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(Redação alterada pela Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

I – Prestar seu concurso moral, intelectual e material, salvo circunstâncias

especiais que justifiquem a sua recusa;

II – Zelar pelo prestígio da classe, pela dignidade profissional e pelo

aperfeiçoamento de suas instituições;

III – Aceitar o desempenho de cargo de dirigente nas entidades de classe,

admitindo-se a justa recusa;

IV – Acatar as resoluções votadas pela classe contábil, inclusive quanto a

honorários profissionais;

V – Zelar pelo cumprimento deste Código;

VI – Não formular juízos depreciativos sobre a classe contábil;

VII – Representar perante os órgãos competentes sobre irregularidades

comprovadamente ocorridas na administração de entidade da classe contábil;

VIII – Jamais se utilizar de posição ocupada na direção de entidades de

classe em benefício próprio ou para proveito pessoal.

CAPÍTULO V

DAS PENALIDADES

Art. 12 A transgressão de preceito deste Código constitui infração ética,

sancionada, segundo a gravidade, com a aplicação de uma das seguintes

penalidades:

I – Advertência reservada;

II – Censura reservada;

III – Censura pública.

§ 1º. Na aplicação das sanções éticas, podem ser consideradas como

atenuantes:

(Redação alterada pela Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

I – Ação desenvolvida em defesa de prerrogativa profissional;

(Redação alterada pela Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

II – Ausência de punição ética anterior;

(Redação alterada pela Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

III – Prestação de relevantes serviços à Contabilidade.

(Redação alterada pela Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

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§ 2º. Na aplicação das sanções éticas, podem ser consideradas como

agravantes:

(Criado pelo Art. 25, da Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

I – Ação cometida que resulte em ato que denigra publicamente a imagem do

Profissional da Contabilidade;

(Criado pelo Art. 25, da Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

II – Punição ética anterior transitada em julgado.

(Criado pelo Art. 25, da Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

Art. 13 O julgamento das questões relacionadas à transgressão de preceitos

do Código de Ética incumbe, originariamente, aos Conselhos Regionais de

Contabilidade, que funcionarão como Tribunais Regionais de Ética e Disciplina,

facultado recurso dotado de efeito suspensivo, interposto no prazo de quinze dias

para o Conselho Federal de Contabilidade em sua condição de Tribunal Superior de

Ética e Disciplina.

(Redação alterada pela Resolução CFC nº 950, de 29 de novembro de 2002)

§ 1º. O recurso voluntário somente será encaminhado ao Tribunal Superior de

Ética e Disciplina se o Tribunal Regional de Ética e Disciplina respectivo mantiver ou

reformar parcialmente a decisão.

(Redação alterada pela Resolução CFC nº 950, de 29 de novembro de 2002)

§ 2º. Na hipótese do inciso III do art. 12, o Tribunal Regional de Ética e

Disciplina deverá recorrer ex officio de sua própria decisão (aplicação de pena de

Censura Pública).

(Redação alterada pela Resolução CFC nº 950, de 29 de novembro de 2002)

§ 3º. Quando se tratar de denúncia, o Conselho Regional de Contabilidade

comunicará ao denunciante a instauração do processo até trinta dias após esgotado

o prazo de defesa.

(Renumerado pela Resolução CFC nº 819, de 20 de novembro de 1997)

Art. 14 O Profissional da Contabilidade poderá requerer desagravo público ao

Conselho Regional de Contabilidade, quando atingido, pública e injustamente, no

exercício de sua profissão.

(Redação alterada pela Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

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CAPÍTULO VI

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

(Criado pelo Art. 27, da Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)

Art. 15 Este Código de Ética Profissional se aplica aos Contadores e Técnicos

em Contabilidade regidos pelo Decreto-Lei nº. 9.295/46, alterado pela Lei nº.

12.249/10.

(Criado pelo Art. 28, da Resolução CFC nº 1.307/10, de 09/12/2010)